segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Quando os filhos mudam os pais

Pesquisa mostra que crianças bem orientadas a ter uma vida saudável conseguem mudar os hábitos de toda a família

Juliana Dal Piva

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EXERCÍCIO
Na família de Vinícius, todos aprenderam como sair do
sedentarismo. Hoje, eles andam de bicicleta e fazem hidroginástica

Os pequenos Lais Caires, 7 anos, e Vinícius Guedes, 10, desempenharam uma função importante para tão pouca idade: atuaram como “fiscais do coração” de suas famílias. Os dois, junto com outros colegas, participaram de uma pesquisa da cardiologista Luciana Fornari, da Universidade de São Paulo, feita em uma escola privada de Jundiaí, em São Paulo. A médica queria aferir se a orientação dada às crianças sobre a importância de uma vida saudável teria efeito sobre a saúde de toda a família. O resultado deixou claro o sucesso da abordagem: houve redução do risco para males como o infarto em todos os participantes.

A intervenção na escola foi feita no ano passado com 323 pais e 197 crianças com idades entre 6 e 10 anos. Parte das crianças recebeu material informativo em duas ocasiões no ano. O restante obteve o mesmo material e também frequentava sessões semanais de orientação sobre a saúde cardiovascular, o que incluía até a preparação de pratos saudáveis. Elas também eram incentivadas a levar as recomendações para os pais. Lais, por exemplo, ajudou a família a substituir as pizzas quase diárias por verduras e legumes, enquanto Vinícius confiscou os chocolates de sua casa. “Quando ganhei o crachá, falei para a minha mãe que eu era o fiscal”, diz.

A conclusão da pesquisa, apresentada no último congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia, mostrou que todos (pais e filhos) melhoraram seus índices de saúde (colesterol, pressão arterial, entre outros). Mas, entre os que receberam recomendações mais frequentemente, os resultados foram ainda mais importantes. Nesse grupo, 6,8% dos pais apresentavam mais de 10% de chance de sofrer um infarto nos dez anos seguintes. Ao final, 90% deles saíram da linha de risco. “Quando vemos a própria filha preocupando-se com a nossa saúde, damos mais atenção a isso”, diz Karina, mãe de Lais.

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domingo, 30 de outubro de 2011

Pesquisas criam artérias a partir de cana e porco

Equipes formadas por médicos, biomédicos e veterinários de universidades públicas do país desenvolvem há oito meses testes com dois tipos de prótese de artéria, ambas de origem biológica.

Enquanto pesquisadores de Pernambuco realizam implantes em cães com vasos derivados da cana-de-açúcar, especialistas do Rio usam uma artéria animal remodelada em ovelhas.

"O objetivo é diminuir a progressão da doença vascular e restabelecer a circulação onde haja obstruções e até risco de amputação ou infarto", afirma o cirurgião vascular Esdras Marques, da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), autor da nova técnica com base na cana.

Ele explica que, para criar a artéria, a cana-de-açúcar é moída para retirar o melaço. Nele se coloca uma bactéria, cultivada em laboratório, que "come" o melaço e gera, como subproduto, um biopolímero, espécie de membrana.

A partir dessa membrana, a artéria é construída por pesquisadores da UFRPE (Universidade Federal Rural de Pernambuco).
Depois de esterilizada, ela é introduzida nas artérias e veias femorais de cachorros, no Núcleo de Cirurgia Experimental da UFPE. "A prótese se mostrou muito resistente, adaptando-se perfeitamente ao organismo. Até agora, não tivemos problemas de rejeição", afirma Marques.

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular, Guilherme Pitta, há três itens importantes nesse estudo: a possibilidade de substituir os vasos sanguíneos, a tecnologia brasileira e o baixo custo. "É um grande estudo feito com metodologia adequada. É algo único no mundo e uma ideia brasileira", diz Pitta.


Editoria de Arte / Folhapress

VERSÃO SUÍNA

Pesquisadores da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) desenvolvem um trabalho com o mesmo objetivo, mas com material de origem suína. A artéria é retirada do porco e, por meio de técnicas de bioengenharia, as células do animal são eliminadas. Restam só as moléculas que constituem os vasos, minimizando a rejeição.

Na primeira fase da pesquisa, células humanas obtidas de placentas doadas foram adicionadas ao material, reconstituindo as artérias suínas. A etapa seguinte foi testar a prótese em ovelhas.

"Agora queremos saber se a artéria é resistente o suficiente", diz o cirurgião vascular André Marchiori, que lidera a pesquisa desde 2003 e investe no tema para seu doutorado na UFRJ.

Desde março, três ovelhas receberam os transplantes na carótida (artéria que passa através do pescoço), feitos na faculdade de Veterinária da UENF (Universidade Estadual do Norte Fluminense).

"A primeira [artéria] entupiu em dois dias por falta de anticoagulante. Já o transplante das outras duas foi um sucesso porque aplicamos anticoagulante antes e depois da operação", disse Marchiori, que também é membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Vascular.

sábado, 29 de outubro de 2011

Os limites do corpo

Um grupo especial de médicos enfrenta condições como frio ou calor intenso para investigar as reações do organismo às situações extremas

Luciani Gomes

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DIFICULDADE
Karina (de verde) realiza atendimento em montanha dos Estados Unidos

A resistência de esportistas e aventureiros que enfrentam os limites do corpo, submetendo-se a altas temperaturas ou diferentes pressões, por exemplo, impressionam. Mas, graças a médicos dedicados a investigar como o organismo responde a condições extremas – e a socorrer em situações adversas –, ficará mais fácil compreender o que acontece. Trata-se de uma área da medicina conhecida como medicina extrema, na tradução do termo em inglês “extreme medicine”. Ávidos por desvendar quanto o corpo pode aguentar, os profissionais pesquisam e atendem não somente em laboratórios ou hospitais. O trabalho de campo, essencial nesse tipo de estudo, acontece no topo de uma montanha, em uma viagem de mergulho ou em câmaras que simulam a microgravidade do espaço. “O que limita a performance física sob condições incomuns tem sido o interesse dessa área”, explicou à ISTOÉ Bruce Johnson, especialista no assunto, da Clínica de Medicina Mayo, nos Estados Unidos.

O pioneiro Centro de Microgravidade da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul é um expoente da pesquisa relacionada à Medicina Extrema no Brasil. Formado por sete laboratórios, o local foi idealizado e é coordenado pela especialista em medicina aeroespacial Thais Russomano. Apaixonada por astronomia desde criança, Thais formou-se em medicina, mas uniu as duas paixões especializando-se em medicina espacial nos EUA pela Wright State University. Hoje, pesquisa o treinamento e a manutenção da saúde dos aeronautas em missão espacial e sua readaptação física, mental, social e familiar no retorno à Terra.

As contribuições dos estudos nessa área para a saúde são várias. “Entre elas, estão as cadeiras para tetraplégicos comandadas pelo movimento do queixo”, explica Thais. “Na Lua, os astronautas usavam esse tipo de controle para conduzir os veículos lunares e ficar com as mãos livres para coletar rochas.” Outros resultados das pesquisas foram a miniaturização de aparelhos médicos (no espaço, tinham de ser leves e portáteis) e tênis esportivos com boa absorção de choque (tecnologia desenvolvida primeiro para as botas dos astronautas).

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GRAVIDADE
Cientista da PUC-RS avalia condições de equilíbrio


Vários médicos especializados são ex-atletas que decidiram continuar a trabalhar com grupos de elite. Johnson, da Clínica Mayo, por exemplo, é ex-remador e esquiador. Entre seus estudos, alguns realizados na Antártica, estão pesquisas sobre a melhor intensidade de treino para atletas com base nas trocas metabólicas de gás. A expedição mais recente foi ao Aconcágua, na Argentina. O objetivo era verificar a velocidade com que os alpinistas subiam a montanha e como eles se adaptavam a altitudes crescentes. “Muitas pessoas passam mal em altitude elevada. Estamos interessados em medidas preventivas que reduzem a suscetibilidade a isso”, diz.

Outra área da medicina extrema é o tratamento em condições difíceis. Existe apenas uma brasileira credenciada pela organização que regula essa especialidade, a americana Wilderness Medical Society, a paulista Karina Oilani, 29 anos, médica, instrutora de mergulho, corredora e especializada em medicina de montanha. “Para acompanhar uma equipe no Everest, por exemplo, você tem que ter conhecimento de escaladas”, diz. “Caso contrário, vira mais uma vítima da montanha.” Saber montar um kit de socorro específico para o ambiente que vai enfrentar também é fundamental. Quando sobe a montanha, Karina leva apenas seringas e remédios. “Se for um local com mais estrutura, podemos levar um estetoscópio, um desfribilador, por exemplo”, conta.

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sexta-feira, 28 de outubro de 2011

No SUS, máquina destrói câncer de pulmão sem cortes

Eliminar tumores de pulmão sem nenhum corte ou dor para o paciente já virou realidade no Instituto de Câncer do Estado de São Paulo (Icesp). A tecnologia, inédita no Sistema Único de Saúde (SUS), foi testada com sucesso ao longo deste ano em sete pessoas e, agora, é aplicada em indivíduos com contraindicação para a cirurgia tradicional, considerada um procedimento delicado, de recuperação dolorosa.

No procedimento novo, cuja denominação técnica é radioterapia estereotáxica extra-crânio (SDRT, na sigla em inglês), feixes finos e precisos de radiação elevada provocam a necrose das células tumorais. Três sessões de pouco mais de uma hora, aplicadas com intervalo de dois dias, são suficientes para destruir o câncer de pulmão, o tipo de neoplasia que mais mata no Brasil e no mundo, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca).

As sessões de radiocirurgia não provocam dor e o paciente pode sair direto para suas atividades cotidianas. Por enquanto, a técnica só é indicada para pacientes que não têm condições de passar por uma cirurgia tradicional, de acordo com o protocolo adotado internacionalmente para esse tipo de tratamento. Além disso, o tumor deve ter até 5 centímetros de diâmetro e estar afastado de regiões vitais, como o coração.

Enquanto a radioterapia convencional fraciona a radiação e oferece um tempo para o tecido saudável se recuperar, a nova técnica extermina o tecido atingido. “É como se fosse um tiro de bazuca no tumor”, diz o médico Rafael Gadia, radioterapeuta do Icesp. Daí a importância de que o tiro seja certeiro, o que só é possível graças às novas tecnologias. Uma desvantagem apontada pelo profissional é a impossibilidade de fazer uma análise detalhada sobre o tumor, já que suas células são completamente destruídas.

Nova aplicação. O princípio da radiocirurgia já era usado há mais tempo para tumores no crânio. O problema é que, em outras partes do organismo, ao contrário do que ocorre no crânio, eles tendem a se deslocar com o movimento natural do corpo, como o da respiração. E qualquer imprecisão na técnica pode destruir tecidos saudáveis e órgãos importantes próximos ao tumor.

Os médicos conseguiram aplicar a técnica no pulmão, mesmo com o movimento constante do ar entrando e saindo, graças ao recurso de radioterapia guiada por imagem (IGRT, na sigla em inglês). A física chefe do Icesp, Gisela Menegussi, explica que o primeiro passo do procedimento é a criação de um “paciente virtual” no computador, por meio de um software especializado.

A imagem desenvolvida é baseada em exames de imagem precisos: tomografia e PET-CT. A partir daí, a equipe multidisciplinar faz um estudo para cada paciente com o objetivo de encontrar as melhores rotas para a entrada dos feixes de radiação, que não devem passar por órgãos importantes. O software calcula, para cada rota simulada, o quanto de radiação que cada órgão envolvido receberá. “A gente sabe que cada órgão pode receber uma quantidade máxima de radiação. Trabalhamos dentro desses limites.”

A técnica também pode ser aplicada em casos de oligometástase no pulmão – quando o paciente apresenta um número limitado de recorrências isoladas do tumor. Atualmente, estuda-se a aplicação, com finalidade curativa, da técnica contra o câncer de próstata e, com fim paliativo, para outros tipos de metástase.

O risco a ser considerado é a proximidade do tumor com outros órgãos vitais, que podem receber radiação. Por causa da pouca experiência com a técnica, ainda não se sabe como esses órgãos evoluirão em longo prazo.

Método é restrito na rede particular. Na rede particular de saúde de São Paulo a aplicação da radiocirurgia para câncer de pulmão é restrita. O procedimento é oferecido pelo Hospital Sírio-Libanês, mas segundo a instituição, por se tratar de um procedimento novo, não conta com a cobertura de seguradoras de saúde. É realizado, portanto, apenas na modalidade particular. O hospital não informou o valor cobrado pelo tratamento.

O Hospital Israelita Albert Einstein também aplica a radiocirurgia contra tumores de pulmão. Mas o “procedimento ainda não é difundido e não existe uma tabela de valores”, segundo o médico Eduardo Weltman, radio-oncologista da instituição e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Radioterapia.

Também no Einstein, por enquanto, esse tipo de procedimento é indicado apenas quando o paciente não pode passar pela cirurgia convencional, já que ainda não foram concluídos estudos científicos comparando a eficácia de uma técnica em relação à outra.

Weltman diz que, na prática, tem observado um controle da doença semelhante ao obtido com a cirurgia convencional, com a vantagem de se tratar de uma técnica não invasiva. Após a aplicação, o paciente deve ser submetido a tomografias de controle a cada três meses no primeiro ano. “Temos visto resultados muito bons.”

CIRURGIA ANTIGA

link Alguns fatores interferem na contraindicação para a cirurgia tradicional usada contra o câncer de pulmão, com abertura torácica, que é de grande porte e com dolorosa recuperação. Alguns deles são:

link Função cardiopulmonar muito comprometida, quadro frequente em tabagistas (o público mais propenso a esse tipo de tumor)

link Enfarte recente, histórico de angina, isquemia, alguns tipos de arritmia, entre outras doenças

link Idade e condições clínicas gerais podem ser outros impeditivos

‘Saí da cirurgia e fui direto para uma festa’

A aposentada Sônia Sanches Ramos, de 72 anos, passou pela radiocirurgia para eliminar um câncer de pulmão há pouco mais de um mês. Segundo conta, ela saiu da maca robotizada do Instituto de Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) direto para uma festa.

O método, garante Sônia, é completamente indolor. “Não senti nada, nenhuma dor. Nem aflição”, diz. Foram três sessões que, contando com o tempo de preparação, duraram cerca de três horas cada. “Tem de ter paciência, demora um pouco e tem de ficar quietinha, sem se mexer.”

Desde a radiocirurgia, Sônia tem sido monitorada pelo Icesp e a avaliação preliminar, feita na última sexta-feira, demonstrou que a radiação não afetou nenhum órgão adjacente ao tumor.

O câncer que estava no pulmão de Sônia foi detectado precocemente quando ela fazia um exame de imagem para avaliar outro tumor, que estava em estágio mais avançado, localizado no reto. O diagnóstico da doença foi dado no fim do ano passado e, em março deste ano, após algumas sessões de rádio e quimioterapia, ela passou por uma cirurgia para retirar o tumor no reto.

Avaliada pelos médicos do Icesp, a aposentada foi identificada como uma potencial candidata à radiocirurgia para a retirada do tumor no pulmão. Fez uma série de exames e o procedimento foi marcado. Hoje, totalmente recuperada, ela garante já ter retomado todas as suas atividades, inclusive um trabalho voluntário. “Estou a mil por hora”, conta.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Vacina de gripe tem baixa eficácia, segundo pesquisa

Não é lá essas coisas, mas é melhor que nada. Um estudo rigoroso das vacinas anuais contra a gripe mostrou que a sua eficácia é bem menor do que se imaginava: 59% de proteção, em vez dos mais de 90% que se espera de uma vacina certinha.

O resultado diz respeito à vacina trivalente, fabricada com o vírus inativado. Esse é o tipo usado nas campanhas de vacinação de gripe sazonal no Brasil.

Mas "59% é bem melhor do que zero", diz o principal autor da análise, Michael Osterholm, da Universidade de Minnesota, Estados Unidos.


Editoria de Arte/Folhapress

Ele e seus colegas fizeram um meta-análise (revisão de estudos), publicada nesta quarta-feira na revista médica "Lancet Infectious Diseases".

A equipe foi atrás de ensaios clínicos de vacinas contra a gripe desde janeiro de 1967 até fevereiro de 2011. Mas, desses 5.707 artigos científicos, apenas 31 correspondiam a todas as exigências.

O fundamental era mostrar se havia uma relação direta entre a vacinação e a proteção contra o vírus da gripe. E provar isso com testes clínicos sem dúvidas. "Essa foi a mais abrangente revisão até agora da eficácia das vacinas contra a gripe", diz Osterholm.

O estudo afirma que, embora a vacina funcione e ainda deva ser recomendada, há dúvidas sobre sua eficácia, especialmente em relação aos maiores de 65 anos.

As campanhas de vacinação contra gripe sazonal no Brasil têm como público-alvo os maiores de 60 anos, os indígenas, as gestantes, os profissionais de saúde e as crianças com idade entre seis meses e dois anos.

CRIANÇAS PROTEGIDAS

As crianças são um reservatório tradicional do vírus da gripe e transmitem a doença para o resto da comunidade. Logo, a imunização infantil contra a gripe é importante.

De acordo com o estudo, seria mais vantajoso usar nas crianças a vacina com vírus vivo e atenuado, em vez da que usa vírus morto, mais comum. A eficácia dessa vacina em crianças com menos de sete anos foi de 83%.

NOVAS VACINAS

Ainda que falte comprovação para a proteção conferida pela vacina, os autores ressaltam que ela continua sendo a melhor forma de evitar a doença. Mas concluem: "É preciso desenvolver novas e melhores vacinas".

De acordo com o médico Rubens Baptista Junior, especialista em medicina preventiva e social e professor na EEP (Escola de Educação Permanente) do Hospital das Clínicas da USP, não há dúvida de que a vacina salva vidas. "É preciso estimar quantas seriam perdidas sem a vacinação", diz.

Para ele, o resultado, ainda que não ideal, é positivo. "Mas, na população em geral, existe a ideia de que, depois da vacinação, um simples resfriado mostraria que não houve efeito. Vacina é para certos casos, como a gripe sazonal; não é para curar resfriados", lembra o médico.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Menino morre com tipo mais grave de meningite na Capital Fortaleza-Ce

Neste ano, já foram contabilizados 65 casos da doença no Estado. Um aumento de 109,6% em comparação com 2010

O menino J.R.F., 10 anos, morador do bairro Conjunto São Cristóvão, foi a 15ª vítima de meningite em Fortaleza neste ano. A criança foi acometida pelo tipo mais grave da doença e, em menos de 24 horas, veio a óbito no último domingo, dia 23.

Segundo dados da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), até o momento, já foram registrados 65 casos de meningite em todo o Ceará em 2011, e 18 pessoas morreram por conta da patologia. Deste total, 46 ocorreram na Capital, que contabiliza 15 óbitos. Em comparação com o ano passado, que confirmou 31 ocorrências e quatro mortes, 2011 já registra um crescimento de 109,6% no número de casos da doença no Estado.

Duas crianças próximas a J.R.F, uma irmã e uma vizinha da vítima, estão internadas no Hospital São José com suspeitas de estarem com a doença.

Para impedir que mais casos de meningite surjam, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) realiza bloqueio de transmissão na comunidade. Conforme Antônio Lima, coordenador da vigilância epidemiológica do órgão, quando se identifica uma ocorrência de meningite, é obrigatório que se faça este bloqueio, o qual acontece por meio da quimioprofilaxia, medida de prevenção contra a doença.

Neste caso do Conjunto São Cristóvão, Antônio Lima informa que já foram realizados aproximadamente 100 bloqueios. A intervenção acontece por meio da prescrição de antibióticos para as pessoas que mantiveram contatos próximos com a criança, como familiares, professores, vizinhos e colegas.

"Estaremos concluindo hoje este bloqueio na comunidade e orientando a população local sobre a doença. A meningite tem um comportamento sazonal. Não se concentra em um só local. Por conta disso, é difícil evitar a sua ocorrência", relata.

Gravidade

Manoel Fonseca, coordenador de Promoção e Proteção à Saúde da Sesa, explica que mesmo com o crescimento no número de casos não se pode falar ainda em uma possível epidemia ou surto de meningite no Ceará. "Os casos registrados são esporádicos. Estamos avaliando se é necessário realizar um outro encontro com os médicos para alertar sobre a importância do diagnóstico precoce e dos sintomas", afirma.

J.R.F foi acometido pela meningite meningocócica. A doença é provocada por uma bactéria que dá origem a uma infecção generalizada. Dentre os sintomas da patologia estão febre alta, forte dor de cabeça, vômitos e rigidez na nuca.

Segundo o infectologista e diretor do Hospital São José, Anastácio Queiroz, todos os tipos de meningite são muito agressivos. No caso da meningocócica, a mais grave, o óbito pode acontecer em menos de 24 horas, pois a bactéria compromete rapidamente órgãos importantes. Neste ano, conforme o médico, foram atendidas na unidade 29 pessoas vítimas de meningite meningocócica.

"Esse número está dentro do esperado, mas todo caso de meningite é preocupante. Todo aumento de uma doença que leva ao óbito preocupa, por isso a importância das ações de bloqueio e da medicação às pessoas que tiveram contato com a vítima para que não ocorram casos secundários", enfatiza.

O Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza gratuitamente a vacina contra a meningite meningocócica tipo C para crianças com três meses de idade. A imunização é realizada em três etapas.

JÉSSICA PETRUCCI
REPÓRTER

Calazar: mitos e verdades

Fortaleza Cães tratados e com todos os cuidados necessários do proprietário, definitivamente, não tornam-se reservatório para a transmissão da leishmaniose, ou calazar. O Brasil é o único país no mundo que a eutanásia é obrigatória no caso do animal ter o exame positivo para a doença. O alerta é feito pelo médico veterinário Ricardo Henz, da Clínica São Francisco, na Capital. Ele faz coro com número cada vez mais crescente de profissionais e pesquisadores que aprofundam os conhecimentos sobre a doença, especialmente nos cães, as principais vítimas no atual contexto. Muitos deles são sacrificados quando acometidos pela enfermidade.

Para transformar este contexto, foi criado em junho passado o Brasileish, uma associação científica que reúne médicos veterinários para o estudo da leishmaniose em animais. Nos próximos dias 29 e 30, a instituição estará promovendo no plenário da Câmara Municipal de Belo Horizonte o VIII Simpósio Internacional de leishmaniose visceral canina, com a participação de nomes expoentes no assunto no Brasil e na Europa.

Ricardo Henz pretende formar no Ceará um núcleo da Brasileish. Ele explica que duas perguntas são essenciais diante das zoonoses: é seguro tratar? O animal continua sendo um risco para o ambiente? No caso da leishmaniose visceral, a avaliação é a mesma tanto para cães como para seres humanos.

Cura clínica

Não existe a cura parasi-tológica, ou seja, a eliminação total do parasita da doença, a leishmânia, nos organismos. Mas existe a cura clínica, com o tratamento tanto nos cães como nos seres humanos. Nestes casos, elimina-se a doença ativa. O organismo pode até continuar com a leishmânia na corrente sanguínea, mas não é mais reservatório da doença, ao ponto do vetor, o mosquito flebótomo, se contaminar e levar o parasita para o ambiente.

Sem tratamento, tanto cães como pessoas são reservatórios da doença no ambiente. Ricardo Henz diz que pesquisas científicas demonstram ser seguro tratar o cão, assim como é feito nos seres humanos. O animal não continua sendo um risco para a sociedade. Palestra proferida pelo veterinário Leonardo Maciel de Andrade, com dados de 2009, aponta que cães infectados em Belo Horizonte, cerca de 80% foram positivos para a doença. Destes, 50% não se sabiam que estavam com a doença. 40% foram eutanasiados e 10% tratados, deixando de ser reservatórios no ambiente. Em relação aos seres humanos, estimou-se que mais de 50% da população estava infectada. Desta, apenas 10% manifestaram a doença, mas todos passaram a ser reservatórios da enfermidade no ambiente.

Leonardo Maciel também mostrou que a vacina Leishmune, descoberta em 1981 para outros fins pela dra. Clarisa Palatrik, e hoje comercializada pela Fort Dodge, apresenta uma eficácia de 98,7% até o segundo ano de aplicação. Depois deste período, o percentual cai para 97,2%. Totalizando, mostra uma eficácia de 92%. O cão fica positivo nos exames, mas não é portador e muito menos reservatório da doença, conforme o veterinário atestou. São apenas anti-corpos que deixam o animal positivo. Outra vacina, Leis-Tec, tem as mesmas eficácia da pioneira e com os mesmos percentuais de eficácia. A portaria interministerial 1429/2008, que proíbe o tratamento do cão infectado com medicamento de uso específico para tratar a Leishmaniose em humanos, inibiu muitos veterinários de continuarem fazendo o tratamento dos animais.

Em recente entrevista, o sócio-fundador da Basileish, André Luis da Fonseca, médico veterinário e advogado, também membro do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Mato Grosso do Sul e da Comissão de Meio Ambiente da OAB naquele Estado, disse que, na verdade, a portaria não proíbe o tratamento do animal. E, ao vetar o uso de medicamentos humanos específicos para a doença, denota uma falta de visão técnica clara dos responsáveis pela decisão.

"Na verdade, não existe remédio veterinário, remédio humano. O remédio existe para tratar uma doença. Age, por exemplo, sobre o DNA do parasita e não sobre o DNA do ser humano. Então não tem lógica querer proibir. A portaria veta, simplesmente, em termos do uso dos medicamentos tradicionais para uso no controle da Leishmaniose, que, na verdade, é um grande engano", declarou.

Para Ricardo Henz, há muita desinformação sobre a doença. Ele defende que é seguro tratar o animal, assim como no ser humano. Como em qualquer tratamento, a decisão vai depender das condições em que o cão se apresenta. A vacina Leishmune serve como bloqueadora da transmissão do calazar e pode ser usada como uma das estratégias de controle para enfermidades causadas por protozoários e transmitidas por vetores. Há 28 anos, ele vinha tratando animais com calazar.

Após a portaria federal, decidiu suspender. Porém, quer ampliar no Estado o debate sobre a doença e contribuir para ações responsáveis, com respeito aos direitos tanto dos cães como dos seres humanos.

O Simpósio Internacional do Brasileish terá a participação dos pesquisadores Javier Encinas Aragon, Carlos Henrique Nery Costa, Nordman Wall B. Carvalho Filho, Maria Del Mar Ferrer Jordá, Fábio Nogueira, Paulo Tabanez, Luiz Eduardo Ristow, Vitor Márcio Ribeiro, entre outros.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Médicos param hoje unidades do SUS em 21 Estados

Médicos de unidades do SUS (Sistema Unificado de Saúde) em todo o Brasil vão parar hoje em protesto contra as baixas remunerações e as más condições de trabalho na rede pública. Serão interrompidos os atendimentos a consultas e exames em ao menos 21 Estados --estão garantidos os atendimentos nas unidades de emergência e urgência.

A paralisação durante toda esta terça-feira está confirmada nos Estados do Acre, Alagoas, Amapá, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia, Sergipe.

No Estado do Piauí, a paralisação vai durar três dias. Em São Paulo e em Santa Catarina, somente algumas unidades param e por poucas horas.

Em São Paulo, estão confirmadas paralisações nos hospitais Emílio Ribas, Hospital do Servidor Estadual e no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. Em Santa Catarina, os médicos vão parar por apenas uma hora.

No Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio de Janeiro e Tocantins a rede não para --serão feitos apenas protestos e manifestações.

Com nome de "Movimento Saúde e Cidade em Defesa do SUS", as manifestações são organizadas por uma comissão composta por representantes do CFM (Conselho Federal de Medicina), da AMB (Associação Médica Brasileira) e da Fenam (Federação Nacional dos Médicos).

REIVINDICAÇÕES

Uma das pautas da mobilização é o reajuste dos honorários médicos. Segundo a Fenam, o salário-base médio de um médico no SUS é de R$ 1.946,91, variando de R$ 723,81 a R$ 4.143,67. O vencimento básico, que representa cerca de 50% do pagamento ao médico, deveria ser R$ 9.688, segundo cálculos feitos pela federação.

As entidades apontaram outra deficiência da rede pública: a queda no número de leitos normais e de UTI. Entre 1990 e 2011, o país perdeu cerca de 203 mil leitos no SUS, segundo dados apresentados pela comissão.

Aloísio Tibiriçá, 2º vice-presidente do CFM, relembrou o movimento dos médicos no mês passado, em defesa de melhores honorários nos planos de saúde, e comparou os dois sistemas --o público e o privado. "Os planos de saúde gastam 55% de toda verba em saúde para atender a 25% da população. E o SUS, que atende a 75% dos brasileiros, usa 45% do que é gasto em saúde no país."

"Com a mobilização queremos chamar a atenção das autoridades para a necessidade de mais recursos para a saúde, melhor remuneração para os profissionais e melhor assistência à população", afirma Tibiriçá.

SÃO PAULO

Para chamar atenção para o movimento, médicos vão "envelopar" com a bandeira do Brasil a sede da APM (Associação Paulista de Medicina), no bairro da Bela Vista, centro de São Paulo.

Depois, farão protesto na Assembleia Legislativa e na Câmara Municipal de São Paulo para denunciar as más condições de trabalho. Na rede estadual, salário é de R$ 1.700 e, na capital, de R$ 2.200 para 20 horas semanais.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Conheça as diferenças entre os principais tipos de massagem

Veja a seguir quais são as técnicas mais populares, benefícios e contraindicações.

O que você precisa saber antes de fazer uma massagem
Veja galeria de fotos das técnicas de massagem

Luiza Sigulem/Folhapress
O terapeuta Fabio Oliveira, do spa Viktória Gartena, aplica técnica tailandesa na artista plastica Adrienne Hitzler, 43
O terapeuta Fabio Oliveira, do spa Viktoria Garten, aplica técnica tailandesa na artista plástica Adrienne Hitzler, 43

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MASSAGEM TAILANDESA

Usa os mesmos movimentos da ioga. Os alongamentos aplicados pelo terapeuta são intercalados com exercícios para diminuir o ritmo da respiração e a frequência cardíaca, combatendo o estresse. Trabalha principalmente pescoço e cabeça. A frequência ideal é de uma a três sessões por semana. Não é indicada em casos de problemas cardíacos, cirurgia recente, varizes ou infecções na pele.

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MASSAGEM SUECA

Técnica baseada em uma sequência com cinco manobras: deslizamento, mais leve; fricção; amassamento, que diminui a contração dos grandes grupos musculares; vibração, para descontrair áreas menores; e percussão, com efeito estimulante. Trata contraturas, alterações posturais e pode ser relaxante ou estimulante, dependendo da velocidade e da profundidade das manobras. Não deve ser feita por quem tem inflamação ou infecção.

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MASSAGEM ESPORTIVA

Adapta a velocidade e a força das manobras clássicas para momentos diferentes da atividade física. Antes do exercício é rápida e superficial, para "despertar" o músculo. No intervalo é mais lenta para soltar a musculatura e ajudar a eliminação de toxinas como o ácido lático. Quando o exercício termina é mais profunda. Serve para atletas em treinamento intenso ou em competição, e não para quem faz exercícios moderadamente.

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MODELADORA

Estimula a pele e o tecido adiposo, redistribuindo a gordura e diminuindo o aspecto "casca de laranja" causado pela celulite. Mas não "quebra gordura". "E nem pode, isso causaria dano ao tecido", afirma a fisioterapeuta Pascale Tacani. Não é relaxante, ao contrário, estimula o metabolismo. Contraindicada para que tem inflamação e microvarizes.

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REFLEXOLOGIA PODAL

Baseada na medicina tradicional chinesa, segundo a qual todos os órgãos do corpo estão refletidos na planta do pé. Os objetivos dessa técnica são estimular o órgão relacionado ao ponto trabalhado (como na massagem do tecido conjuntivo) ou equilibrar o fluxo energético (como no shiatsu). Pode ser dolorida, mas, se os pontos específicos não forem massageados da forma correta, a terapia não tem efeito.

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Luiza Sigulem/Folhapress
Lidiane Gebara, da Universidade Anhembi Morumbi, faz massagem com bambu na estudante Gabriela Nachbar
Lidiane Gebara, da Universidade Anhembi Morumbi, faz massagem com bambu na estudante Gabriela Nachbar

RECURSOS AUXILIARES

O terapeuta usa bambu, pedras, ventosas. As ventosas criam pressão negativa que trata aderências e cicatrizes. O bambu permite ao massagista fazer rolamentos que relaxam grandes grupos musculares. As pedras melhoram a circulação. "É todo um clima que se cria com texturas que não fazem parte da técnica, mas contribuem para o efeito", diz a gerontóloga Lígia Posser.

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MASSAGEM DO TECIDO CONJUNTIVO

A partir da manipulação da pele são estimuladas as chamadas zonas reflexas -vísceras e órgãos distantes da área tocada, mas ligados a ela por caminhos do sistema nervoso. Em vez de pressionar os músculos, o terapeuta "puxa" a pele, como se fosse descolá-la.

Indicada quando há áreas da pele doloridas relacionadas a um problema em algum órgão. Pode causar alergia em algumas pessoas. Não é para relaxar: causa um estímulo doloroso e irrita a pele.

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LIBERAÇÃO MIOFASCIAL

Massagem profunda que atinge as fáscias (tecido que envolve os músculos e os conecta aos tendões). Útil para dores posturais, mas, dependendo do nível de tensão muscular, pode doer. Exige uma série de sessões para dar resultado.

Ajuda a relaxar. As indicações incluem problemas de coluna, desvios ortopédicos, lesões por esforços repetitivos e doenças osteomusculares. Uma das técnicas que trabalha a liberação miofascial é o Rolfing.

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DRENAGEM LINFÁTICA

Estimula o sistema linfático, que absorve e transporta líquidos, proteínas e gorduras no organismo. Ajuda a eliminar líquidos e diminui o inchaço causado por insuficiência venosa, problemas de tireoide ou ciclo menstrual, segundo a fisioterapeuta Pascale Tacani.

As manobras, suaves, têm efeito analgésico e relaxante. Contraindicada em casos de trombose e pressão alta.

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QUIROPRAXIA

Diferencia-se de outras massagens porque não trabalha os músculos, mas as articulações. São movimentos rápidos e precisos para tirar pressões nas articulações e realinhá-las. Segundo Ana Paula Facchinato, coordenadora do curso de quiropraxia da Universidade Anhembi Morumbi, o tratamento é indicado para dores lombares, no pescoço e hérnias de disco. "Se não for feita da forma certa, a terapia faz mais mal do que bem.

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SHIATSU

Pressão nos mesmos pontos do corpo usados na acupuntura. Não há óleos ou cremes. Segundo a fisioterapeuta Patricia Mari Maruyama, a técnica libera a musculatura e equilibra o fluxo de energia nos meridianos (canais que transportam energia vital para os órgãos, na medicina chinesa). Não é indicada para depois do esporte e não é a melhor opção se a pessoa está com inchaço.

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ANMA

Combina a pressão em pontos do corpo com deslizamento e amassamento dos músculos. É mais suave que o shiatsu, o que a torna interessante para pessoas muito sensíveis à dor, que podem se incomodar com a pressão em pontos doloridos. Indicações e efeitos são os mesmos do shiatsu.

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Luiza Sigulem/Folhapress
A advogada Beatriz Curry recebe massagem subaquática no spa Viktoria Garten, em Itapecerica da Serra (SP)
A advogada Beatriz Curry recebe massagem subaquática (unterwassermassage) no spa Viktoria Garten, em Itapecerica da Serra (SP)

UNTERWASSERMASSAGE

Na técnica alemã, a pessoa fica dentro de uma banheira e o terapeuta usa um jato d'água forte para tonificar o corpo, aumentar a circulação e estimular a eliminação de líquidos. Relaxa e trabalha a musculatura ao mesmo tempo, diz Helga Fischer, dona do Viktoria Garten. Indicada para relaxamento e reabilitação. É preciso passar por análise para avaliar a intensidade do jato (varia conforme o condicionamento e o tônus).

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AYURVÉDICA

Na medicina indiana, a massagem é parte do tratamento. Deve ser indicada de acordo com o "dosha" (biótipo) da pessoa e do que precisa ser ajustado.
Há várias escolas. Comum a todas é o uso de óleos escolhidos conforme o objetivo: estimular, acalmar etc. As manobras são contínuas e associadas à respiração. Algumas usam também os pés nas manobras, o que permite atingir musculaturas mais profundas e pode ser dolorido. Contraindicada em casos de inflamações, infecções, excesso de toxinas no corpo, menstruação ou gravidez.

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WATSU

Alongamento em piscina aquecida, é indicada na reabilitação de derrame e doença de Parkinson e para aliviar estresse. Diminui o tônus muscular e trabalha a coluna, o quadril e o trapézio. "O terapeuta movimenta o corpo da pessoa e ela recebe a massagem pela água quente", diz o fisioterapeuta Marcelo Roque. Não é indicada em casos de tônus muscular muito flexível, como na síndrome de Down, e de cardiopatias graves.

domingo, 23 de outubro de 2011

As revelações sobre o cérebro adolescente

Novas pesquisas decifram as transformações cerebrais que acontecem na adolescência, explicam comportamentos típicos e sugerem como lidar com eles

Mônica Tarantino, Monique Oliveira e Luciani Gomes

O que faz uma garota de 14 anos passar o dia inteiro emudecida, trancada no quarto? Ou ir do riso à fúria em menos de um segundo? Pode ser realmente difícil entender a cabeça de um adolescente. Para ajudar nesta tarefa, a ciência está empreendendo um esforço fantástico. Nos Estados Unidos, ele está sendo capitaneado pelo Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos (NIMH). O órgão – um dos mais respeitados do mundo – está patrocinando uma linha de estudos focada na busca de informações para compreender o que está por trás das oscilações de humor e comportamentos de risco que marcam a adolescência. E as informações trazidas pelos estudos realizados até agora estão construindo uma nova visão da metamorfose sofrida pelos jovens. “O cérebro do adolescente não é um rascunho de um cérebro adulto. Ele foi primorosamente forjado por nossa história evolutiva para ter características diferenciadas do cérebro de crianças e de adultos”, disse à ISTOÉ o neurocientista americano Jay Giedd, pesquisador do NIMH e um pioneiro na investigação do cérebro adolescente.

Giedd e seus colegas estão redefinindo os conceitos da medicina sobre essa fase da vida. Para eles, os tropeços da adolescência são sinais de que o cérebro jovem está procurando se adaptar ao ambiente. Nos primeiros 13 anos de pesquisa, os cientistas estudaram mudanças cerebrais ocorridas do nascimento até a velhice, na saúde e na doença. Descobriram que a adolescência é marcada por um aumento das conexões entre diferentes partes do cérebro. É um processo de integração que continuará por toda a vida, melhorando o trabalho conjunto entre as partes.

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As pesquisas revelaram ainda que, nessa etapa, dá-se o fortalecimento e amadurecimento de algumas redes de neurônios (as células nervosas que trocam informações entre si) e o abandono de outras, menos usadas. Os estudos mostraram também que a onda de maturidade se inicia nas partes mais profundas e antigas, próximas do tronco cerebral, como os centros da linguagem, e naquelas ligadas ao processamento de emoções como o medo. Depois, essa onda vai subindo rumo às áreas mais recentes do cérebro, ligadas ao pensamento complexo e à tomada de decisões. Entre elas estão o córtex pré-frontal, o sulco temporal superior e o córtex parietal superior, envolvidos na integração de informações enviadas por outras estruturas do órgão. Essa evolução explica, em parte, por que nesse período da vida a impulsividade e os sentimentos mais viscerais são manifestados com tanta facilidade, sem passar pelo filtro da razão.

Na tentativa de elucidar por que os jovens atravessam o período de crescimento como se estivessem em uma montanha-russa, um dos aspectos mais estudados é a tendência de se expor a riscos. No começo da empreitada científica para decifrar os segredos do cérebro adolescente, acreditava-se que a falta de noção do perigo iminente estivesse associada à falta de amadurecimento do córtex pré-frontal, área ligada à avaliação dos riscos que só atinge o desenvolvimento pleno por volta dos 20 anos. O avanço das pesquisas, porém, está demonstrando que por volta dos 15 anos os jovens conseguem perceber o risco da mesma forma e com a mesma precisão que um adulto.

Se sabem o que está acon­tecendo, por que os jovens se colocam em situações ameaçadoras? Embora as habilidades básicas necessárias para perceber os riscos estejam ativas, a capacidade de regular o comportamento de forma consistente com essas percepções não está totalmente madura. “Na adolescência, os indivíduos dão mais atenção para as recompensas em potencial vindas de uma escolha arriscada do que para os custos dessa decisão”, disse à ISTOÉ Laurence Steinberg, professor de psicologia da Universidade Temple, especializado em desenvolvimento adolescente e autor de “Os Dez Princípios Básicos para Educar seus Filhos”. Steinberg é um dos mais destacados estudiosos da adolescência na atualidade.

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A afirmação do pesquisador está sustentada em exames de imagem que assinalam, no cérebro adolescente, uma intensa atividade em áreas ligadas à recompensa. Por recompensa, entenda-se a sensação prazerosa que invade o corpo e a mente após uma vitória, como ganhar no jogo ou ser reconhecido como o melhor pelo grupo. Esse processo coincide com alterações das quantidades de dopamina, um neurotransmissor (substância que faz a troca de mensagens entre os neurônios) muito importante na experiência do prazer ou recompensa. “Isso parece afetar o processo de antecipação do prêmio, de tal forma que os adolescentes se sentem mais animados do que os adultos quando percebem a possibilidade do ganho”, diz o psicólogo americano.

Ele também foi buscar na teoria da evolução a justificativa para o mecanismo cerebral que premia os jovens com sensações agradáveis por se arriscarem. “No passado, levavam vantagem sobre outros da espécie aqueles que se deslocavam e assumiam riscos em busca de um lugar com mais alimento”, pontua. “A busca por novidade e fortes emoções representaria, à luz da teoria da evolução, um sinal da capacidade de adaptação dos seres humanos a novos ambientes.” Nosso cérebro teria aprendido esse caminho e estaria reproduzindo-o até hoje. Descobertas ainda mais recentes mostram que a recompensa mexe profundamente com o cérebro. “Todas as áreas do cérebro são afetadas quando uma atitude é recompensada ou penalizada socialmente”, disse à ISTOÉ Timothy Vickery, um dos autores de um trabalho recente publicado na revista “Neuron”.

Paralelamente à configuração cerebral, existem as contribuições do mundo contemporâneo para a tendência ao prazer imediato. “Talvez as dificuldades da vida futura e do mercado de trabalho, por exemplo, levem o jovem a uma situação de viver o prazer imediato. Daí a busca pela bebida, pela droga, pelo sexo e tudo o mais no sentido de se aproveitar a vida”, diz o hebiatra (médico especializado em adolescentes) Paulo César Pinho Ribeiro, da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais. De fato, por volta dos 15 anos, dá-se o pico da busca por emoções fortes. A psiquiatra Ana Cecília Marques, presidente da Associação Brasileira do Estudo de Álcool e Drogas, defende uma ação firme nesse momento. “Os pais devem assumir o seu papel e não deixar que os jovens fumem ou bebam”, diz.

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O caminho para enfrentar essa questão é o diálogo. No Colégio Peretz, em São Paulo, a estratégia de conversar longamente sobre os riscos do consumo de álcool e drogas existe há dez anos. “A proposta é acompanhar os jovens e esclarecer as dúvidas que surgem durante esse período”, diz Evelina Holender, coordenadora do projeto.

A busca de emoções e o desejo de ser aceito e admirado pelos outros – duas características do adolescente – podem se converter numa mistura explosiva. O psicólogo Steinberg demonstrou claramente esse mecanismo com o auxílio de um jogo de videogame cuja proposta era dirigir um carro pela cidade no menor tempo possível. No percurso, os sinais mudavam de verde para amarelo quando o carrinho se aproximava. Se o competidor cruzasse o sinal antes de ele ficar vermelho, ganhava pontos. Se ficasse no meio da pista ou na faixa, perdiam-se muitos pontos. Ao disputarem os jogos a sós em uma sala, os jovens assumiram riscos na mesma proporção que os adultos. Mas com a presença de um ou mais amigos no ambiente houve mudança nos resultados. “Nessa circunstância, os adolescentes correram o dobro dos riscos dos adultos”, observou o pesquisador.

O papel do grupo na adolescência também está sendo examinado. “Por volta dos 15 anos, registra-se o pico de atividade dos neurônios-espelho, células ativadas pela observação do comportamento de outras pessoas e que levam à sua repetição”, diz o neurologista Erasmo Barbante Casella, do Hospital Albert Einstein e do Instituto da Criança da Universidade de São Paulo. Esse é um dos motivos pelos quais os jovens adotam gestos e roupas similares. Além disso, há a grande necessidade de ser aceito pelos amigos e o peso terrível da rejeição. “É uma fase na qual a identidade não está absolutamente constituída, e o grupo acaba sendo o meio para experimentar e também uma lente pela qual o adolescente lê o mundo”, diz a psicóloga Joana Novaes, da PUC-Rio de Janeiro. Estudos apontam que há também uma grande quantidade de oxitocina, hormônio relacionado às ligações sociais e formação de vínculos, circulando no organismo, o que favoreceria a tendência de andar em turma.

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Afora o prazer de correr perigo e dos altos e baixos humorais, a adolescência pode ser vista como uma fase de altíssima resiliência, que é a capacidade de se adaptar e sobreviver às dificuldades. Mas há desvantagens. O lado complicado é que o adolescente que passa por tantas transformações está mais vulnerável ao aparecimento de alterações como depressão, ansiedade e transtornos alimentares como a anorexia e a bulimia. Na semana passada, um estudo do NIMH feito com 10 mil jovens com idades entre 13 e 18 anos revelou que 12% apresentavam sintomas de fobia social, um transtorno de ansiedade que afasta os jovens do convívio. No estudo, 5% dos jovens confundiam os sintomas da alteração com timidez.

Ainda não se sabe qual é o impacto do grande volume de novas informações na conduta prática adotada por pais e profissionais ligados aos jovens, como professores e psicólogos. Mas já existem algumas mudanças em curso. Com base em algumas das descobertas, no Hospital Israelita Albert Einstein e no Instituto da Criança, por exemplo, Casella procura orientar os pais a prestar mais atenção às companhias dos filhos. “Existe realmente uma tendência a copiar comportamentos. E os pais precisam interferir nisso”, diz o especialista.

É sabido também que o universo de possibilidades do cérebro adolescente será mais amplo se a criança tiver recebido suporte emocional e familiar, boa alimentação e acesso à educação. “Como na construção de uma casa, o resultado é melhor quando se tem bons alicerces. Por isso é importante estar atento ao desenvolvimento infantil”, disse à ISTOÉ o pediatra Jack Scho­noff, diretor do Centro de Desenvolvimento Infantil da Universidade de Harvard (EUA). Quem passou por carências também tem uma espécie de segunda chance para acertar o passo do desenvolvimento na adolescência, embora com limitações. “Não é possível voltar atrás, mas dar os estímulos adequados ao adolescente irá ajudá-lo a chegar mais perto do seu potencial máximo”, disse Schonoff. Na semana passada, o especialista veio ao Brasil para lançar uma parceria com a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, envolvida em iniciativas para o desenvolvimento integral da criança.

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Por mais que as crises se sucedam, se uma boa comunicação tiver sido cultivada ano após ano, haverá maior proximidade entre pais e filhos. “A crise é um sinal de saúde. O adolescente deve contestar e confrontar os pais, porque isso faz parte da reformulação pela qual ele está passando”, diz a psicanalista da infância Ana Maria Brayner Iencarelli, do Rio de Janeiro. Outra opção que se tem mostrado eficiente para auxiliar os adolescentes a atravessar esse período da vida são cursos que orientam sobre como criar coletivamente, planejar um evento, montar um show ou criar um blog, por exemplo. Não é por acaso que iniciativas estão se popularizando mundialmente. Pesquisas da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, referendam essa diretriz. “Adolescentes engajados em atividades que exigem criatividade aprendem a planejar e lidar com situações inesperadas”, diz Reed Larson, professor do departamento de Desenvolvimento Humano e Comunitário da universidade americana.

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sábado, 22 de outubro de 2011

Promessa contra a malária

Vacina testada em crianças na África poderá ajudar a diminuir o número de pessoas infectadas e de mortes causadas pela doença

Mônica Tarantino

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Criar uma vacina contra a malária é tão difícil quanto chegar a um imunizante eficiente contra o vírus da Aids. Atualmente, há cinco substâncias em teste. Na semana passada, os pesquisadores que estudam um desses compostos, chamado de RTS,S, divulgaram boas notícias sobre os resultados do potencial imunizante em um grupo de seis mil crianças africanas com idades entre cinco e dezessete meses que receberam três doses da substância. Os dados indicam uma redução de 56% no risco de desenvolvimento da malaria clínica, que deve ser tratada com medicamentos, e de 47% para o surgimento da malária severa, estágio no qual a doença se agrava e pode ser fatal.

Quando o período de avaliação foi expandido para 22 meses, a proteção caiu para 35%. Neste caso, o efeito da vacina foi diminuir o número de casos e a transmissão da doença. “Para erradicar a malária, seria necessário encontrar uma substância com pelo menos 80% de proteção e que possa ser dada a toda a população vulnerável à doença”, diz Marcelo Burattini, especialista em transmissão e estratégias de controle da malária e professor da Universidade Federal de São Paulo. O universo do estudo com a RTS,S abrange 11 países africanos e 15 mil crianças.

O composto RTS,S tenta impedir que o parasita Plasmodium falciparum, inoculado no organismo pela picada do mosquito Anopheles, penetre nas células do fígado, o que ocorre cerca de meia hora depois da picada. Alojado nas células do órgão, ele se divide para depois invadir as células vermelhas do sangue (as hemácias). Então ele se multiplica novamente e infecta maior quantidade de hemácias. Para construir o composto em avaliação, os pesquisadores extraíram pedaços de proteínas contidos na camada externa do parasita e o associaram a uma parte do vírus da hepatite B, somando tudo isso a substâncias químicas para potencializar a resposta do sistema imunológico. A pesquisa está sendo desenvolvida pela PATH, uma organização sem fins lucrativos voltada para soluções em saúde, pela indústria farmacêutica GlaxoSmithKline (GSK) e tem apoio da Fundação Bill e Melinda Gates.

O mundo suspira aliviado – e os acionistas das companhias farmacêuticas também – cada vez que um resultado positivo é anunciado. Mas a comunidade científica prefere encarar os dados desta vacina como mais uma promessa. “Existe um longo caminho até que essa substância se comprove como uma opção real”, diz o infectologista Burattini. Um dos aspectos que contribuem para a precaução dos pesquisadores é capacidade do Plasmodium se modificar e resistir à ação dos imunizantes. Toda vez que ele se divide no organismo, ele se modifica. E também apresenta muitas variações. A doença é provocada por quatro tipos diferentes de parasitas (apresentam diferenças clínicas, geográficas e de antígenos). “A mais severa forma da doença, e também a mais comum na África, é provocada pelo Plasmodium falciparum. Na América Latina e no Brasil grande parte dos casos é causada pelo parasita P. vivax (80% dos casos)”, explicou Eduardo Ortega, vice-presidente de Desenvolvimento de Vacinas para a América Latina da GSK. “Por essa razão, não sabemos dizer, por exemplo, se a vacina funcionaria ou não no Brasil, já que não fizemos testes no país”, disse à ISTOÉ Irving Hoffman, da UNC ‘School of Medicine (EUA) e um dos coordenadores do estudo.

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sexta-feira, 21 de outubro de 2011

O homem que venceu as doenças do coração na Finlândia

Investindo em prevenção, o pesquisador Pekka Puska conseguiu aumentar em dez anos a expectativa de vida dos finlandeses e reduzir em 80% as taxas de mortalidade por doenças do coração no país

Natalia Cuminale, do Rio de Janeiro
Pekka Puska, diretor geral do Instituo Nacional de Saúde e Bem-Estar da Finlândia

Pekka Puska, diretor geral do Instituo Nacional de Saúde e Bem-Estar da Finlândia (Fabrice Coffrini/AFP)

"Muitas pessoas acham que a prioridade deve ser tratar a doença em vez de investir em prevenção. Se há muita doença, por que investir em prevenção? Mas se o foco é só tratar as doenças, você nunca vai prevenir" —Pekka Puska, diretor geral do Instituto Nacional de Saúde e Bem-Estar da Finlândia

Em 1972, mais de 90% da população da Finlândia passava manteiga no pão. No mesmo período, mais da metade dos homens eram fumantes. Era também nessa época que os finlandeses acumulavam os piores índices de mortalidade por doenças cardiovasculares no mundo inteiro. Um projeto liderado pelo professor finlandês Pekka Puska, contudo, ajudou a mudar o destino de toda a nação — que hoje, 39 anos depois, se tornou uma das principais referências de saúde pública e qualidade de vida para o resto do mundo. Atualmente, apenas 5% dos finlandeses ainda passam manteiga no pão e somente 20% das pessoas fumam todos os dias. Assim como a manteiga e o cigarro, o consumo de sal foi significativamente reduzido e as pessoas passaram a usar ingredientes mais saudáveis para cozinhar.

Todas essas mudanças começaram com o Projeto North Karelia, nome de uma província da Finlândia que foi o ponto de partida para transformar o estilo de vida das pessoas. Depois de 30 anos de projeto, houve uma redução de 80% da mortalidade por doenças cardíacas. O índice de câncer de pulmão também caiu na mesma proporção entre 1969 e 2006. Puska, que atualmente é diretor geral do Instituto Nacional de Saúde e Bem-Estar da Finlândia, acredita que os países precisam de mais ação e menos discurso para enfrentar o crescente número de doenças crônicas, como diabetes, hipertensão e colesterol alto. "É um processo muito logo e complexo, não existe uma bala mágica para resolver esse problema. Mas mostramos que é possível", diz Puska.

"Não adianta o governo inaugurar unidades coronarianas, hospitais gerais e centros de oncologia. Eles precisam disponibilizar meios para que as pessoas tenham uma ter uma vida melhor", afirma o professor, que é reconhecido internacionalmente por seu trabalho e que já publicou mais de 500 artigos científicos. Puska concedeu entrevista ao site de VEJA, durante a Conferência Mundial dos Determinantes Sociais de Saúde, no Rio de Janeiro.

O senhor é conhecido por liderar um projeto que teve um impacto direto no futuro de milhões de finlandeses. Como isso foi possível? Meu trabalho começou no início dos anos 70, com um grande desafio pela frente. Na Finlândia, tínhamos os maiores índices de mortalidade por doenças coronarianas do mundo inteiro. Homens de meia idade estavam morrendo. Então, tivemos que começar a pensar no que fazer. Foi quando percebemos que construir hospitais não resolveria o problema. Tínhamos que focar na prevenção. Naquele tempo, as evidências científicas sobre a prevenção das doenças cardíacas eram muito recentes e limitadas. O que sabíamos era que o estilo de vida da população influenciava no aparecimento da doença. Fatores de risco como dieta rica em gordura, fumo e falta de atividade física já haviam sido apontados. Se quiséssemos uma mudança, teríamos que agir diretamente nesses fatores. Partimos do princípio que, por trás de um problema como esse, não há apenas o indivíduo, mas uma comunidade. Então, começamos o trabalho de prevenção na Província de North Karelia. Após o sucesso da experiência, transportamos o projeto a níveis nacionais.

Que mecanismos foram utilizados? Foi uma ação orquestrada em vários setores de saúde. Trabalhamos em conjunto com o governo, os serviços de saúde, com as escolas, organizações não-governamentais e com os meios de comunicação. Até a própria indústria começou a mudar. Passamos a ter regulação. Com todas essas ações, conseguimos diminuir em 80% os índices de mortalidade por doenças cardiovasculares em 30 anos. É por isso que eu acredito em ações e não somente no discurso. É um processo muito logo e complexo, não existe uma bala mágica para resolver esse problema. Mas mostramos que é possível.

Agora, vemos um número crescente de doenças relacionadas aos maus hábitos de vida, como diabetes, problemas no coração e obesidade. É possível aprender a partir da experiência da Finlândia? De muitas formas, a primeira é que, não somente os médicos, mas as pessoas também precisam entender que a prevenção é uma maneira possível e poderosa de vencer essas doenças. Outra coisa que precisa ficar clara é que a prevenção também depende de aspectos sociais e ambientais. Em pessoas pobres, por exemplo, depende muito do que está ao redor delas. É aí que os responsáveis pela elaboração das políticas públicas devem agir, facilitando e tornando mais naturais as escolhas por hábitos mais saudáveis. Para chegar a um resultado positivo, não adianta o governo inaugurar unidades coronarianas, hospitais gerais e centros de oncologia. Eles precisam disponibilizar meios para que as pessoas tenham uma ter uma vida melhor.

Por que parece ser tão difícil investir em prevenção? Há muitas razões, mas é claro que muitas pessoas acham que a prioridade deve ser tratar a doença em vez de investir em prevenção. Se há muita doença, por que investir em prevenção? Mas se o foco é só tratar as doenças, você nunca vai prevenir. Outro fato é que há um grande sucesso do marketing da indústria do tabaco, álcool e alimentos. É muito dfícil conversar com a indústria porque eles têm grandes recursos e um forte lobby com aqueles responsáveis por decidir as políticas que afetam a vida da população. Em alguns países subdesenvolvidos, há ainda a corrupção. Sabemos que não é fácil. Mas a convenção pelo controle do tabaco é um exemplo positivo. É a primeira vez que há leis internacionais sobre esse tema. Isso não é só uma questão do governo. Às vezes, um único país não consegue resolver o problema todo — quando já é algo globalizado. Então, além de ações nacionais, também são necessárias decisões internacionais.

A Finlândia é um dos países mais ricos e mais bem-sucedidos em termos de saúde pública do mundo. Apesar disso, ainda há algum desafio a ser enfrentado? Claro que estamos felizes com os altos níveis de expectativa de vida e de envelhecimento saudável. As pessoas continuam sobrevivendo e também temos que lutar contra as desigualdades que ocorrem na saúde. Obviamente seria melhor que ninguém fosse fumante ou abusasse do álcool. Também queria que todos praticassem atividade física e consumissem alimentos saudáveis. Com isso, teríamos índices ainda melhores. Felizmente, com a pressão do governo, os anúncios de cigarro quase desapareceram das nossas vidas. Agora, enfrentamos outras pressões contra os doces e os refrigerantes.

Emagrecedores condenados

Proibição de remédios derivados da anfetamina contraria médicos e deixa alguns pacientes sem opção

Monique Oliveira

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DÚVIDA
A engenheira civil Nádia Nachiluk só emagreceu com o femproprorex, agora proibido pela Anvisa

O sobrepeso atinge 40% dos brasileiros e aumenta o risco de problemas do coração. Na contramão, o remédio para emagrecer sibutramina eleva em 16% o risco de doenças cardiovasculares – principal causa de morte em países industrializados. Baseada nesses dados, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) travou um debate tenso com os médicos sobre proibir ou não os inibidores de apetite derivados da anfetamina. Na última semana, porém, a agência cancelou o registro dos medicamentos femproporex, mazindol e anfepramona (também chamada de dietilpropiona), derivados da anfetamina que circulam há 30 anos no País. Já a sibutramina, proibida na União Europeia, Canadá, Argentina, Paraguai e México, está liberada com restrições. Além do receituário azul, obrigatório desde 2010, para comprá-la, o paciente deve mostrar na farmácia um termo de compromisso, assinado pelo médico e por ele, assumindo os riscos do tratamento.

No centro do fogo cruzado, os pacientes enfrentam a falta de opção. É o que está acontecendo com a engenheira civil Ná­dia Nachiluk, 39 anos. “Tentei tudo, mas só perdi 26 quilos com o uso do femproporex. Preciso emagrecer mais e não sei como fazer”, diz. Segundo os médicos, não há outras substâncias com efeito igual aos anfetamínicos, prescritos a quem não teve sucesso com os demais medicamentos. “É fato: há pessoas que só respondem a remédios que atuam no centro da fome, como os derivados da anfetamina”, esclarece a médica Maria Fernanda Barca, de São Paulo. Para o endocrinologista Walmir Coutinho, do Rio de Janeiro, a única saída desses pacientes é experimentar medicamentos que não foram originalmente aprovados para a perda de peso. “São substâncias que ajudam a emagrecer, mas não incluem a obesidade nas indicações da bula”, explica Coutinho. É o caso do topiramato, um anticonvulsionante; da naltrexona, usada contra o alcoolismo; e da liraglutide e exenatide, aprovadas para tratar diabetes.

Contrariada, a comunidade médica recorreu à Justiça. “Vamos garantir o direito do médico de prescrever e o da população de continuar tomando”, diz Desireé Callegari, do Conselho Federal de Medicina. Outro temor dos especialistas é de que a proibição da venda em farmácias fomente a comercialização ilegal. Mas a Anvisa não pretende mudar de ideia. “Os médicos não estão acima das regras que incidem sobre a produção ou o comércio de medicamentos no País”, diz Dirceu Barbano, presidente da agência.

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quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Pesquisa mostra falhas no marketing de alimentos infantis

Já no primeiro mês de vida, quando deveriam só mamar no peito, 17,8% das crianças brasileiras provam outros tipos de leite e alimentos.

O que faz os pais darem esses alimentos aos bebês é a propaganda maliciosa das empresas, na avaliação de Rosana De Divitiis, coordenadora da Ibfan Brasil (International Baby Food Action Network), entidade pró-aleitamento: "A indústria não tem como competir com leite materno de forma honesta", diz.

Com o Idec (Instituto de Defesa do Consumidor), a Ibfan faz uma checagem anual para ver se empresas estão cumprindo a lei que restringe a divulgação de leites, fórmulas, alimentos de transição, chupetas e mamadeiras.

Na pesquisa deste ano, as entidades acharam 95 irregularidades em produtos de 76 empresas. Os maiores problemas são os rótulos dos produtos e a forma como são expostos nos pontos de venda.


Editoria de arte/Folhapress
Gráfico apresenta os maiores problemas encontrados pela defesa do consumidor
Gráfico apresenta os maiores problemas encontrados pela defesa do consumidor

A legislação obriga os fabricantes a incluir alertas sobre a importância da amamentação e proíbe promoções ou sugestões de semelhança com o leite materno. Nos mercados, esses itens não podem receber destaque.

NOTIFICAÇÕES

Entre as empresas notificadas pelo Idec está a Mead Johnson Nutrition, fabricante do Sustagen Kids. O produto, indicado para maiores de quatro anos, não traz essa informação em destaque e dá a entender -na interpretação da Ibfan- que pode ser consumido por crianças menores de quatro anos. O rótulo afirma que a partir dos dois anos é comum a criança começar a rejeitar alimentos saudáveis.

Para o advogado Arthur Luis Mendonça Rollo, especialista em direito do consumidor, é imprescindível que a idade mínima para consumo tenha destaque. "E o gosto da criança, subjetivo, não deveria ser mencionado."

A Unilever, fabricante do Ades, não inclui na embalagem o alerta de que o produto não deve ser consumido por bebês menores de seis meses. A empresa alega que esse alimento não se enquadra na lista dos itens regulamentados pela lei.

O advogado Rollo discorda: "A lei é abrangente e inclui leites modificados e similares de origem vegetal".


Editoria de arte/Folhapress
Crianças brasileiras são desmamadas antes do tempo
Crianças brasileiras são desmamadas antes do tempo

OUTRO LADO

Em nota, a Mead Johnson Nutrition, fabricante do Sustagen Kids, disse que foi notificada e que respondeu ao Instituto de Defesa do Consumidor. Segundo a empresa, "o processo não foi finalizado, está nos trâmites legais".

A fabricante não disse se pretende alterar as embalagens e afirmou que "reforça o compromisso em oferecer produtos de alta qualidade."

A Unilever, responsável pelo Ades, informou em nota que "não há irregularidades com a rotulagem do produto", porque ele não se enquadra na lei nº 11.265/06.

Segundo a Unilever, a bebida segue a resolução RDC nº91 da Anvisa, de 2000, que determina que o produto deve ser designado como "alimento com soja". "Não se utiliza a expressão 'leite de soja' para Ades."

Editoria de arte/Folhapress
Introdução precoce de alimentos já no primeiro mês de vidaJULIANA CUNHA

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Vitaminas sob suspeita

Estudo revela que o consumo indiscriminado de cápsulas de vitaminas e minerais pode elevar a mortalidade entre mulheres acima de 55 anos

Mônica Tarantino

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Mais de um terço da população adulta de países ricos toma suplementos vitamínicos regularmente por conta própria. Mas, em vez de proteger, ingerir doses de vitaminas e minerais sem ter alguma carência nutricional que justifique o consumo pode ter efeito contrário e contribuir para um aumento de risco de morrer. O alerta foi feito na semana passada por pesquisadores de várias instituições liderados pelo cientista Jaakko Mursu, da Universidade de Kuopio, na Finlândia, e da Escola de Saúde Pública da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos. Eles acompanharam 38 mil mulheres americanas na faixa etária de 55 a 66 anos por cerca de duas décadas para chegar a essa conclusão. Durante as entrevistas iniciais para conhecer o perfil das voluntárias de um estudo para medir o impacto do consumo de suplementos na saúde dessa população e na sua mortalidade, Mursu e seus colaboradores descobriram que 63% das participantes do projeto tomavam algum tipo de suplemento vitamínico ou mineral para prevenir doenças crônicas. Com o passar do tempo, esse índice chegou a 85%.

A análise dos dados coletados levou os cientistas a concluir que se automedicar com vitaminas e suplementos sem necessidade traz sérios malefícios. “Descobrimos que tomar multivitamínicos e as vitaminas B6 e ácido fólico (ou B9), ferro, magnésio, zinco e cobre implica em uma elevação do risco de morte”, disse o cientista Mursu à ISTOÉ. Nas análises finais do trabalho, os pesquisadores viram que a suplementação com multivitamínicos e ferro foi a que mais fez subir os percentuais associados ao risco de morrer.

A explicação para os resultados é que a maioria desses compostos se torna nociva em quantidades elevadas. Isso aumenta as chances de reações que facilitam o desenvolvimento de doenças como câncer e problemas cardiovasculares. Os autores supõem que vitaminas e minerais produzam efeitos similares nas taxas de risco de mortalidade entre os homens, mas isso ainda não foi pesquisado. O trabalho foi publicado na última edição da revista científica americana “Archives of Internal Medicine”.

Os achados da pesquisa, chamada de Estudo Iowa (porque foi realizada com mulheres do Estado do Iowa, nos EUA), somam-se a uma série de trabalhos consistentes realizados e em andamento que colocam em xeque a crença dis­seminada de que não faz mal engolir de vez em quando alguns comprimidos multivitamínicos. Em 2007, por exemplo, uma investigação com 181 mil participantes apontou uma taxa de morte 5% maior entre os adeptos do consumo de vitaminas antioxidantes (A, E, C e betacaroteno).

Na prática, é um tema que envolve pontos de vista opostos entre correntes da medicina, interesses da indústria farmacêutica e a atração exercida pelos poderes protetores da saúde atribuídos a essas substâncias e enaltecidos pela publicidade. Respostas definitivas virão por meio de um esforço da medicina para empreender profundas revisões de ensaios clínicos publicados e para fazer novas investigações. Mas como agir enquanto prevalece a dúvida? “Aconselhamos quem usa suplementos a reconsiderar se deve continuar ingerindo-os. Deem atenção à dieta. Suplementos raramente são necessários, e sua introdução na alimentação deve ser justificada por um motivo médico”, sugere o finlandês Mursu.

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terça-feira, 18 de outubro de 2011

Dia do Médico


Que Deus abençoe tuas mãos que amenizam a dor e curam as feridas. Que Deus abençoe tua vida, tua família e tua morada, hoje e sempre, para que possas, por longo tempo, sanar a dor que sangra nas casas, nas ruas e nos leitos dos hospitais. Que Deus continue a guiar tuas mãos e a encher de amor teu coração para que sejas sempre o caminho da bondade e da esperança para aqueles que em tuas mãos depositam suas vidas. Pela dedicação, amor e carinho com que segues a jornada que escolheste para tua vida, Parabéns pelo teu dia, Doutor!

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Por que algumas doenças não somem de vez

Apesar de serem alvo de campanha de vacinação em massa, enfermidades como sarampo, coqueluche e poliomielite continuam a fazer centenas de vítimas pelo mundo

Monique Oliveira

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A erradicação da varíola nos anos 1970, após um esforço global de mais de 200 anos, deu início à esperança de que outras ­doenças também pudessem desaparecer por completo. A poliomielite foi, então, o próximo alvo. Na esteira da difusão de conceitos de vigilância epidemiológica pela Organização Mundial da Saúde, deflagrou-se uma corrida para a sua erradicação com metas sendo estabelecidas – e continuamente postergadas – desde 1971. A última, estabelecida em 2010, foi adiada por pelo menos mais três anos após nove novos casos serem registrados recentemente na China.

A varíola segue, então, como única doença erradicada. Com tantos avanços na medicina, a pergunta que se faz é por que, afinal, determinadas enfermidades – contra as quais há vacinas – continuam a fazer vítimas. As respostas são complexas. Para ser considerada erradicada, além de não originar mais nenhum caso, a ­doença deve atender a estes critérios: o homem ser o único hospedeiro do agente causador, dispor de uma forma de combate segura e efetiva e ser beneficiada por uma política pública mundial de campanhas de imunizações.

Isso já é uma grande tarefa. É preciso considerar, porém, que cada doença tem sua particularidade. No caso do sarampo, por exemplo, o vírus é altamente contagioso. Dessa forma, qualquer falha na cobertura vacinal é uma brecha perigosa. “Se alguém infectado entra em um consultório médico, por exemplo, e outro indivíduo lá presente não está imunizado, há grande chance de contágio”, diz o epidemiologista José Cássio de Moraes, da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.


O problema é que, embora o Brasil tenha iniciado em 2005 uma campanha contra o sarampo e a rubéola, o vírus continua circulando com força na África e na Europa. “Por essa razão a doença não foi eliminada aqui”, explica Moraes. Na última semana, a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, por exemplo, acompanhava três bebês com menos de um ano sob suspeita de terem contraído a enfermidade.

Na Europa, o controle sobre o sarampo teve outro complicador. Em 1998, um estudo publicado na revista científica “The Lancet” associava a vacina contra o sarampo, a caxumba e a rubéola ao autismo. O estudo iniciou uma onda antivacina na Inglaterra que prejudicou o sucesso das campanhas. “Essa pesquisa levou a surtos nos Estados Unidos e na Europa”, disse à ISTOÉ Steve Cohl, da Universidade da Califórnia e ex-membro do Comitê de Vacinas do Food and Drug Administration (FDA). “Crianças morreram por não ter sido imunizadas pelos pais, que acreditaram na pesquisa.” A licença do médico autor do estudo foi caçada, mas o estrago estava feito.

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"No hospital, tomamos antibiótico porque a
suspeita era de pneumonia. Como o caso se
agravou, a coqueluche foi diagnosticada"

Marcelo Frazão, médico, que transmitiu a doença à filha, Marcela

Crenças religiosas são outros fatores que interferem nos esforços. Na Nigéria, fundamentalistas islâmicos passaram a acreditar que a vacina contra a poliomielite havia sido contaminada, pelo Ocidente, com o HIV, causador da Aids. O resultado: 258 casos registrados em 2008.

Também a falta de campanhas de vacinação para adultos, que funcionam como reservatório de alguns micro-organismos causadores de doenças, dificulta o controle das doenças. Um exemplo é a coqueluche, causada por uma bactéria e caracterizada por crises de tosse. Em alguns casos, pode ser fatal. No ano passado, o Brasil registrou 588 casos, segundo o Ministério da Saúde. A enfermidade, cuja vacina precisa ser administrada de dez em dez anos, pertence ao grupo de doenças tidas, erroneamente, como incidentes apenas na infância. “Com o passar do tempo, adultos infectados transmitem males como esse a crianças”, disse Cohl.

Foi o que aconteceu com o cirurgião plástico Marcelo Frazão, 32 anos, de São Paulo. O médico contraiu a doença e a transmitiu para a filha, Marcela, então com apenas um mês. A bebê ainda não tinha recebido a primeira dose da DPT, contra difteria, tétano e coqueluche. “No hospital, tomamos antibiótico porque a suspeita era de pneumonia”, lembra. “Como o caso se agravou, a coqueluche foi diagnosticada.” De fato, é comum que a doença seja subdiagnosticada em adultos. “É frequente ser confundida com pneumonia e até com asma”, afirma Analiria Pimentel, pediatra e infectologista do Hospital Universitário Oswaldo Cruz, instituição de Pernambuco escolhida para ser o centro de vigilância para a coqueluche naquele Estado.

Em países mais pobres, a erradicação de doenças esbarra também na vontade política e econômica. “A oncocercose, principal causa infecciosa da cegueira, poderia ser eliminada se houvesse interesse da indústria farmacêutica em produzir remédios”, lamenta o médico Moraes.

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domingo, 16 de outubro de 2011

Nova chance para os pulmões

Procedimento aumenta a capacidade respiratória de portadores de enfisema, doença que costuma atingir os fumantes

Mônica Tarantino

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Uma nova modalidade de tratamento está chegando ao País para aliviar os sin­tomas dos portadores de enfisema grave, uma doença crônica que progressivamente debilita a capacidade respiratória e prejudica a qualidade de vida. Vinte por cento da po­pulação mundial acima de 65 anos convive com o problema, a maioria fumante (o tabagismo é o mais importante fator de risco).

A enfermidade deteriora os alvéolos, estruturas pulmonares que realizam as trocas gasosas com o sangue. Isso torna mais lenta e difícil a eliminação do ar contido no órgão. Com o tempo, os pulmões ficam cada vez mais dilatados, o que aumenta a falta de ar e o cansaço. A técnica que agora começa a ser usada no Brasil é feita para murchar a parte do pulmão mais atingida pela doença. Dessa maneira, cria-se mais espaço no tórax para o órgão se expandir durante a inspiração.

O método consiste na colocação de pequenas válvulas nos canais que levam o ar até os pulmões, os brônquios. A missão desses dispositivos, feitos de silicone e nitinol (uma liga de níquel e titânio), é desviar o ar inspirado para as áreas do órgão menos atingidas pelo enfisema. “Quando a pessoa inspira, a válvula se fecha e impede que o ar entre nas regiões comprometidas. Quando a pessoa expira, a válvula se abre para permitir também o escape do ar contido nessas áreas”, explica o médico e pesquisador Hugo Goulart de Oliveira, Chefe do Serviço de Cirurgia Torácica do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, onde o dispositivo foi testado e aprimorado por nove anos. O tratamento foi avaliado em outros seis países. Atualmente, a técnica está disponível em mais de 20 países na Ásia e Europa.

Até agora, pacientes em estado grave eram tratados com remédios broncodilatadores, reabilitação respiratória e cilindros de oxigênio para dar mais fôlego àqueles que muitas vezes não conseguem sequer levantar da cama. Nos casos severos, as alternativas eram a internação para ventilação artificial ou o transplante. Havia uma terceira possibilidade, que era a cirurgia de redução de volume pulmonar. “Porém ela tem alto risco de mortalidade”, diz o pneumologista Oliveira. Por essa razão, nos Estados Unidos, menos de 100 operações desse tipo são feitas por ano.

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OPÇÃO
Rey usará válvulas para ter fôlego e ficar independente do cilindro de oxigênio

Diante desse quadro, a colocação das válvulas é uma luz no fim do túnel. “Elas não curam o enfisema, mas melhoram imensamente a qualidade de vida de doentes bem selecionados”, diz o cirurgião torácico Luis Carlos Losso, do Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcellos, de São Paulo, um dos hospitais paulistanos de primeira linha que começam a realizar o procedimento. Uma das condições é que a enfermidade não tenha acometido gravemente todo o pulmão. Bem indicada, a técnica proporciona a recuperação de até 25% da capacidade respiratória.

O aposentado carioca Oscar Taubkin, 73 anos, é um dos 64 brasileiros submetidos ao novo método na fase em que sua realização era supervisionada pela equipe gaúcha. Ele recebeu três válvulas no pulmão direito. “Eu não conseguia mais sair de casa”, conta. “Dois dias depois de pôr as válvulas, fui a uma churrascaria e no mesmo mês viajei à Europa.” O procedimento de Taubkin foi pago pelo convênio, mas isso ainda não é regra.

A nova opção para os pacientes de enfisema por enquanto não está disponível na rede pública e tem custo elevado. “O que se espera é que o governo faça as contas e entenda que vale a pena pagar pelas válvulas para reduzir as internações e complicações”, diz o paulistano Arnaldo Salgueiro Rey, 47 anos, que passará pelo procedimento esta semana. Para tratar seu enfisema, surgido há 14 anos em consequência de uma deficiên­cia genética rara, ele toma medicamentos, usa oxigênio e fez redução pulmonar. “As válvulas me ajudarão a viver mais livre, sem carregar um equipamento para respirar”, diz Rey.

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sábado, 15 de outubro de 2011

Pesquisadores da Unesp testam injeção de aspirina para tratar endometriose

Pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) estão testando, de maneira experimental, o uso de injeções de ácido acetilsalicílico - a popular aspirina - no tratamento de endometriose.

A endometriose é uma doença ginecológica crônica, que ocorre quando o endométrio (tecido que reveste o útero) se estabelece fora do local - como na cavidade abdominal ou no intestino, causando fortes dores e dificuldades para engravidar. Atinge, em média, cerca de 15% das mulheres em idade fértil.

A pesquisa está sendo conduzida pelo professor Rogério Saad Hossne, do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Unesp. Antes de começar a avaliar o uso de aspirina em endometriose, Hossne já havia testado a eficácia da droga em outros modelos experimentais.

“Já tínhamos observado, em outras pesquisas, que a aspirina promove uma destruição do tecido. Essa necrose é absorvida pelo próprio organismo e no local fica apenas uma cicatriz”, afirmou o pesquisador.

Pesquisa atual. Hossne então decidiu avaliar se a aspirina promoveria o mesmo efeito na endometriose de coelhas. Selecionou 40 animais: 20 receberam o medicamento e 20 foram separados para o controle.

Como coelhas não têm endometriose espontaneamente, o pesquisador precisou induzir a doença. Para isso, coletou um pedaço do endométrio de cada uma e o fixou na cavidade abdominal dos animais.

Trinta dias depois, os pesquisadores observaram que o foco de endometriose havia crescido e estava medindo cerca de 1 cm. Então, parte das coelhas recebeu aspirina ou soro fisiológico no foco da lesão um dia depois e a outra metade recebeu o mesmo tratamento dez dias depois.

Segundo Hossne, tanto no grupo de coelhas que recebeu aspirina um dia depois quanto no grupo que recebeu a droga dez dias depois, o tamanho do foco de endometriose reduziu entre 50% e 60%. No mesmo período, as coelhas que receberam soro fisiológico mantiveram o foco da endometriose do mesmo tamanho.

“Observamos uma redução significativa do tamanho do foco nas coelhas que recebeu aspirina. Esse resultado abre perspectivas para testarmos a técnica em mais um modelo animal para depois testarmos os benefícios em mulheres”, afirma Hossne.

Hoje em dia, o tratamento da endometriose é medicamentoso - com remédios para reduzir as dores e evitar o crescimento dos focos da doença. E também pode ser cirúrgico, em casos mais graves, quando há mais tecido fora do útero e relatos de dores muito fortes. A ideia de Hossne é encontrar uma outra via de tratamento, que não seja cirúrgico.

Mulheres. Apesar de os resultados em coelhas serem positivos, Hossne diz que outras etapas precisam ser cumpridas para testar a técnica em mulheres. O próximo passo da pesquisa será repetir o estudo em porcas e, em um ano, em mulheres.

“A dificuldade com seres humanos é que os focos de endometriose geralmente estão escondidos, o que torna mais difícil chegar até eles”, diz o pesquisador.

Para Maurício Abrão, responsável pelo setor de endometriose do Hospital das Clínicas de São Paulo, os resultados aparentemente são promissores.

“O grupo que está pesquisando é bastante sério. Além disso, existe uma corrida no mundo todo para descobrir novos métodos terapêuticos para tratar a endometriose. Os resultados desse estudo abrem caminhos, mas ainda deve demorar para estar na prática clínica”, diz Abrão.

Eduardo Schor, responsável pelo setor de endometriose da Unifesp, também diz que qualquer tratamento para a endometriose que não seja hormonal é bem-vindo. Ele diz, entretanto, que os resultados em coelhas ainda são muito iniciais.

“Não sabemos se o efeito da aspirina será imediato, não sabemos quantas aplicações serão necessárias para tratar a mulher. O ideal seria testar agora em primatas, que também menstruam e têm endometriose naturalmente. Nesses casos, o resultado se aproximaria mais do corpo da mulher”, pondera.

Para Schor, o fato de o tratamento ser de ação local (de injetar a aspirina diretamente no foco da doença) pode dificultar o uso com mulheres.

“A gente busca uma medicação de ação sistêmica. Se eu precisar abrir a mulher para encontrar o foco e injetar a aspirina é melhor eu fazer a cirurgia de uma vez e retirar tudo”, avalia.

Os resultados do trabalho foram apresentados no Congresso Mundial de Endometriose, realizado no mês passado, na França. “Ainda deve demorar pelo menos mais um ano para iniciarmos os testes em mulheres”, diz Hossne.