terça-feira, 29 de abril de 2014

Plano para atendimento de saúde durante a Copa terá parcerias com hospitais privados e adiamento de cirurgias-Ce

  Lia Girão 
O atendimento primário durante o Mundial acontecerá em postos nos arredores da Arena Castelão e Aterro da Praia de Iracema. Foto: Alex Costa
O atendimento primário durante o Mundial acontecerá em postos nos arredores da Arena Castelão e Aterro da Praia de Iracema. Foto: Alex Costa
O atendimento de saúde durante a Copa do Mundo em Fortaleza contará com parceria com dois hospitais particulares e terá adiamento de parte das cirurgias eletivas. As informações fazem parte do plano integrado de saúde para o Mundial, da Secretaria de Saúde do Estado.
De acordo com Alexandre Mont’Alverne, coordenador da saúde no Estado durante a Copa do Mundo, o plano, ainda não divulgado oficialmente, conta com explicações sobre como se dará o atendimento em caso de múltiplas vítimas, atendimentos para estrangeiros e, ainda, sobre a parceria com dois hospitais particulares da Capital para atendimento de alta complexidade.
O atendimento primário durante o Mundial acontecerá em postos nos arredores da Arena Castelão e Aterro da Praia de Iracema, onde acontecerão os Fifa Fan Fest. Segundo Mont’Alverne, durante a Copa das Confederações, 486 pessoas foram atendidas nos postos de atendimento primário e 15 foram levadas para hospitais para internamento.
Cirurgias adiadas
Questionado sobre como os hospitais da Capital poderiam receber pacientes a mais, o coordenador da saúde no Estado durante a Copa do Mundo afirmou que, além da parceria com hospitais particulares, o Estado pretende adiar algumas cirurgias eletivas para a liberação de leitos nas unidades de saúde. “Vamos agilizar algumas cirurgias antes da Copa e, durante, o que puder ser adiado, vai ser adiado”, disse Mont’Alverne.
O coordenador afirmou, porém, que os procedimentos que precisarem acontecer, mesmo que sejam marcados, irão acontecer. “No caso de pacientes com câncer, por exemplo, são cirurgias marcadas, mas nós não podemos esperar um mês, então elas irão acontecer mesmo durante a Copa”, declarou.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Mortes por obesidade triplicam no Brasil em 10 anos

Em 2011, 2.390 óbitos tiveram a doença como causa, um crescimento de 196% em relação a 2001

Obesidade
Obesidade: levantamento do Monistperio da Saúde mostrou que mais da metade dos adultos brasileiros tem sobrepeso e pelo menos 17% da população está obesa (Thinkstock)
O número de brasileiros mortos por complicações diretamente relacionadas à obesidade triplicou em um período de dez anos, revela levantamento inédito feito pelo Estadão Dados com base em informações do Datasus. Em 2001, 808 óbitos tiveram a doença como uma das causas. Em 2011, último dado disponível, o número passou para 2.390, crescimento de 196%.
O aumento também foi significativo quando considerada a taxa de mortos por 1 milhão de habitantes. No mesmo período de dez anos, a taxa dobrou. Foi de 5,4 para 11,9, segundo informações do Ministério da Saúde. Os dados levam em consideração as mortes nas quais a obesidade aparece como uma das causas no atestado de óbito. Segundo especialistas, como o excesso de peso é fator de risco para diversos tipos de doenças, como câncer e diabete, o número de vítimas indiretas da obesidade é ainda maior.
"As causas mais comuns de morte relacionadas à obesidade são as doenças cardiovasculares, como o enfarte e o acidente vascular cerebral (AVC). Sabemos, porém, que ela também está relacionada a muitos outros problemas, como apneia do sono, insuficiência renal e vários tipos de câncer", afirma o endocrinologista Mario Carra, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso).
Segundo o Ministério da Saúde, o aumento das mortes é um reflexo da "epidemia de obesidade" registrada hoje no país. "Outros países viveram isso primeiro, com alto consumo de alimentos industrializados e sedentarismo. O Brasil, ainda que mais tarde, está vivendo agora. Pesquisas feitas anualmente pelo ministério mostram que a obesidade e o sobrepeso têm aumentado muito", afirma o secretário de Atenção à Saúde do ministério, Helvécio Magalhães. O último levantamento da pasta mostrou que mais da metade dos adultos brasileiros tem sobrepeso e pelo menos 17% da população está obesa.
Hábitos – Para especialistas, não é só a mudança de hábitos dos brasileiros que aumentou a mortalidade por obesidade. De acordo com Marcio Mancini, chefe do grupo de obesidade e síndrome metabólica do Hospital das Clínicas de São Paulo, as políticas públicas de prevenção e tratamento devem ser aprimoradas. "Não se faz prevenção em unidades básicas de saúde. Há o tratamento para diabetes, colesterol, hipertensão, mas pouco se faz para barrar o ganho de peso. Essa mesma preocupação deveria existir nas escolas", afirma ele.
De acordo com o especialista, quanto mais cedo se instala a obesidade, mais cedo a pessoa pode morrer. "Se uma pessoa já tem obesidade mórbida com 20 anos e permanece assim, a doença vai encurtar a vida desse paciente em 12 anos", diz ele. Para Maria Tereza Zanella, endocrinologista da Unifesp, é preciso mudar os hábitos desde a infância. "As crianças vivem em apartamento, jogam videogame e comem produtos industrializados. São alimentos que têm um sabor agradável e as crianças vão se acostumando, mas isso deve ser evitado", diz ela.
Além da prevenção falha, os médicos apontam estrutura insuficiente para o tratamento da obesidade. "O SUS não oferece o tratamento medicamentoso, e os centros de referência para cirurgia bariátrica não dão conta da demanda", diz Mancini. Em março, pelo menos 3 mil obesos de várias regiões do Brasil lotaram o ginásio da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) para passar por triagem em busca de cirurgia bariátrica. A fila de espera tem 2 mil pessoas.
(Com Estadão Conteúdo)

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Exame para pacientes com câncer será ofertado pelo SUS

O PET-CT, fundamental para acompanhar pessoas que apresentam a doença, já é oferecido por clínicas particulares há treze anos

Rede pública de saúde: Treze anos depois de chegar a clínicas particulares, exame para pacientes com câncer será ofertado pelo SUS
Rede pública de saúde: Treze anos depois de chegar a clínicas particulares, exame para pacientes com câncer será ofertado pelo SUS (Thinkstock)
Um exame considerado por médicos como fundamental para o acompanhamento de pacientes que tiveram ou estão com câncer, o PET-CT, ou PET Scan, passará a ser ofertado no Sistema Único de Saúde (SUS). A inclusão ocorre com atraso de pelo menos treze anos em relação às clínicas particulares e em um formato ainda muito acanhado, avaliam sociedades médicas.
O acesso será permitido para pacientes com linfoma, câncer de intestino grosso com lesão hepática e em alguns casos de câncer de pulmão. Uma lista de opções bem menor do que a ofertada para usuários de planos de saúde. Desde o início do ano, operadoras são obrigadas a garantir o exame para pelo menos oito indicações. Entre elas, casos de câncer de mama, de pele e cabeça e pescoço.
O PET-CT combina duas técnicas: a tomografia por emissão de pósitrons e a tomografia computadorizada. A abordagem permite diagnosticar tumores, detectar a extensão deles e se houve metástase, determinar o prognóstico da doença e também o tratamento que será escolhido para combatê-la.
Público — Pelos cálculos do Ministério da Saúde, 20 000 pacientes serão diretamente beneficiados pelo exame. O investimento com os exames será de 31 milhões de reais anuais. A incorporação do PET no SUS não será imediata. O governo terá até 180 dias para regular como e quando isso será feito.
(Com Estadão Conteúdo)

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Cientistas descobrem superbactéria brasileira

Uma variante da bactéria multirresistente 'Staphylococcus aureus' foi identificada por pesquisadores brasileiros e americanos no Hospital das Clínicas de São Paulo. Seu descobrimento é um alerta para o crescimento da resistência a antibióticos no país

Rita Loiola
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A nova superbactéria tem material genético herdado de bactérias encontradas fora de hospitais, que pode facilitar sua disseminação (Thinkstock)
Cientistas brasileiros e americanos encontraram no Brasil uma nova superbactéria do tipo VRSA (Vancomycin Resistent Staphylococcus aureus). Além de ser multirresistente a antibióticos, o que é inédito nessa variante é seu material genético, herdado de bactérias encontradas fora de hospitais. A descoberta foi publicada na última semana em um artigo no periódico The New England Journal of Medicine.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Transferable Vancomycin Resistance in a Community-Associated MRSA Lineage

Onde foi divulgada: periódico The New England Journal of Medicine

Quem fez: Flávia Rossi, Lorena Diaz, Diana Panesso, Sandra Rincon, Denise Brandão, Cesar A. Arias e outros

Instituição: Universidade de São Paulo, Universidade do Texas e Universidade Columbia, nos Estados Unidos

Resultado: Os pesquisadores encontraram no Brasil uma nova superbactéria do tipo VRSA (Vancomycin Resistent Staphylococcus aureus), que tem material genético herdado de bactérias encontradas fora de hospitais.
Batizada de BR-VRSA (Vancomycin Resistent Saphylococcus aureus), a bactéria foi encontrada na corrente sanguínea de um paciente de 35 anos internado em agosto de 2012 no Hospital das Clínicas de São Paulo. O homem sofria de um tipo de câncer de pele e, pouco tempo depois, foi infectado pela Staphylococcus. Os médicos do hospital perceberam que ele tinha a versão resistente da bactéria, chamada MRSA (Methicillin Resistant Staphylococcus aureus). Ao usarem o tratamento mais comum para essa bactéria, um antibiótico chamado vancomicina, o paciente não respondeu. Foi quando os cientistas perceberam que ele estava infectado com um tipo ainda mais resistente da bactéria, a VRSA. Tratado a tempo com medicamentos alternativos, a infecção foi vencida. Quatro meses depois, o paciente morreu por outras causas.
Ao analisar o material genético da bactéria, os cientistas viram que estavam diante de uma nova variante da VRSA, um micro-organismo raro, descrito pela primeira vez nos Estados Unidos em 2002. Até então, os 13 micro-organismos desse tipo detectados em todo o mundo vinham de infecções de pele, a doença mais comum causada pela bactéria, e seu material genético era herdado de micro-organismos hospitalares. A BR-VRSA, por sua vez, foi encontrada em uma infecção da corrente sanguínea e seu DNA está relacionado a micróbios encontrados fora de hospitais.

"Isso ainda não tinha sido visto em nenhuma parte do mundo. Uma das possibilidades para o surgimento dessa variação é que ela tenha adquirido o gene de resistência de uma bactéria chamada Enterococcus, que está se tornando comum nos pacientes hospitalizados no Brasil", diz Flávia Rossi, uma das autoras do estudo.
Mais estudos — Para descrever a nova bactéria, os pesquisadores brasileiros buscaram universidades americanas que possuem pesquisas relacionadas à MRSA na América Latina. Além da Universidade de São Paulo, o estudo envolve cientistas da Universidade do Texas e da Universidade Columbia, nos Estados Unidos. Em conjunto, os cientistas pretendem entender como a nova bactéria apareceu em São Paulo. O micro-organismo provavelmente não viajou no corpo do paciente, como aconteceu com a NDM-1, mas se desenvolveu aqui, agregando diferentes tipos de resistência de outros micro-organismos.
Os pesquisadores indicam no artigo que o aparecimento da nova superbactéria mostra que a resistência microbiana no país é uma questão de saúde pública. Em todo o mundo, os piores tipos de resistência surgiram em bactérias associadas ao ambiente hospitalar. "É um alerta. Essa nova resistência deve gerar estudos de vigilância microbiológica para que possamos monitorar novos casos e ter informações sobre eles", afirma Flávia.
No Brasil, ao contrário de outros países, não há um laboratório para centralizar ações epidemiológicas, a exemplo do Centro de Controle e Prevenção de Doenças americano (CDC, na sigla em inglês). Isso faz com que ainda não haja informações nacionais sobre o número de infecções por bactérias resistentes ou o desenvolvimento dos casos existentes.
"Esse é um tipo muito raro de bactéria, pouco comum em todo o mundo. Como ela foi descrita há alguns anos, há opções para o seu tratamento", explica a infectologista Ana Cristina Gales, pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e uma das autoridades no país no estudo de resistência bacteriana. "No entanto, é importantíssimo conhecer essas novas variantes e saber como elas funcionam."
Causas — Entre os fatores que podem ter levado ao surgimento da nova bactéria está o uso abusivo de antibióticos no país — muitas vezes esse medicamento é receitado para doenças causadas por vírus. Isso faz com que, pouco a pouco, bactérias mais resistentes sejam selecionadas pelos remédios e seu tratamento se torne mais difícil. Além disso, ainda há falta de conhecimento do mecanismo de resistência bacteriana por médicos e pela população e a pouca infraestrutura de laboratórios hospitalares.
"Precisamos que os laboratórios estejam sempre equipados e contem com pessoas competentes, a todo o momento, para realizar a análise das bactérias encontradas na população. Só assim poderemos agir a tempo e evitar a morte dos pacientes", afirma Flávia.

terça-feira, 22 de abril de 2014

A potência da acupuntura

Novas pesquisas comprovam a eficiência das agulhas em um conjunto de doenças muito maior do que se imaginava. Seus benefícios se estendem do tratamento de enfermidades como depressão e obesidade a tratamentos de beleza

Cilene Pereira (cilene@istoe.com.br) e Mônica Tarantino (monica@istoe.com.br)
A acupuntura já se consagrou como método eficiente para aliviar dores. Agora, embasada por sólidas pesquisas científicas realizadas em todo o mundo, suas aplicações começam a se expandir. A prática é usada contra doenças como a depressão, na recuperação de sequelas de acidente vascular cerebral e até em procedimentos de beleza. O avanço do método, nascido na China, em terras ocidentais é consequência de algumas transformações ocorridas nos últimos anos. A primeira foi a demanda crescente por técnicas que melhoram a saúde sem a necessidade de se recorrer a remédios. A acupuntura se ajusta perfeitamente nesse quesito. A segunda deve-se ao fato de que a medicina finalmente encontrou meios de avaliar com mais refinamento científico o efeito das agulhas no organismo. Hoje, os cientistas estão recorrendo a testes moleculares e ao que há de mais avançado em tecnologia diagnóstica, como os exames de imagem (a exemplo da ressonância magnética funcional, que permite ver o cérebro em movimento), para obter respostas.
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As pesquisas se dividem em duas grandes áreas. Uma mensura o impacto da técnica no alívio dos desconfortos associados a diversas doenças. Outra elucida os mecanismos neurofisiológicos por meio dos quais a inserção das agulhas em pontos específicos promoveria os benefícios. “Dessa abordagem estão surgindo dados que descrevem como a técnica funciona, incentivando a ampliação das situações às quais ela comprovadamente se aplica”, diz o clínico-geral Alexandre Yoshizumi, presidente do Colégio Médico de Acupuntura de São Paulo. Ele participou de um estudo sobre dor lombar conduzido por Tatiana Hasegawa e orientado pelo médico Jamil Natour, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que foi publicado na prestigiosa revista científica “British Medical Journal”.
Respaldada nesses achados, a acupuntura se firma em áreas fora de sua terra natal, nas quais não se cogitava sua participação. Uma dessas atribuições mais originais é o auxílio na regulação do funcionamento do sistema cardiovascular. “Estamos começando a compreender como a prática age na hipertensão e reduz problemas como a isquemia do miocárdio”, explica John Longhurst, da Universidade da Califórnia (Eua). Ele assina uma revisão de estudos experimentais sobre a utilização da técnica no combate de enfermidades cardíacas.
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A isquemia consiste na diminuição do afluxo de sangue numa parte do organismo, ocasionando consequente redução de oxigênio e de nutrientes na região. No caso citado por Longhurst, a isquemia afetou o miocárdio, o músculo do coração. O que se sabe é que a acupuntura promove um aumento na liberação de hormônios com poder de excitar ou inibir o ritmo de trabalho do sistema nervoso central. Isso pode incentivar a melhor irrigação sanguínea dos tecidos.
Outra análise, empreendida por acadêmicos chineses, examinou quatro importantes trabalhos sobre a prática e a hipertensão. Verificou-se que a acupuntura atua como coadjuvante e reduz a pressão em pacientes que tomam anti-hipertensivos, mas que, com os remédios, não obtêm mais progressos. Se pela medicina chinesa o efeito surge do reequilíbrio das energias yin e yang, a ciência ocidental indica que as agulhas influem positivamente no sistema renina-angiotensina (importante na regulação da pressão) e modulam a atividade endócrina, diminuindo a produção das substâncias aldosterona e angiotensina II. Os dois mecanismos estão na base do processo da hipertensão.
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Um impacto também comprovado mais recentemente ocorreu na recuperação de pacientes com sequelas motoras e cognitivas após acidentes vasculares cerebrais (AVC). “O método é eficaz nesses casos”, diz o médico Wu Tu Hsing, diretor do Centro de Acupuntura do Instituto de Ortopedia do Hospital das Clínicas de São Paulo (HC/SP). Hsing é responsável por um estudo publicado há pouco tempo sobre o tema. O médico selecionou 60 pacientes que haviam sofrido AVC e apresentavam dificuldade de movimento nas pernas. O grupo foi dividido em dois. Um recebeu a aplicação das agulhas. Outro foi submetido à acupuntura placebo (simula-se sua aplicação). A experiência durou dez semanas, com duas sessões semanais. “Os que foram tratados de verdade manifestaram melhora de 20% em relação aos outros”, informou o pesquisador. Hoje, o HC/SP – referência em pesquisa médica no País – oferece sessões do método para ajudar na recuperação de AVC. A rede de Reabilitação Lucy Montoro, em São Paulo, também utiliza a prática como recurso complementar aos tratamentos convencionais.
Há um esforço imenso para descobrir as reações por trás da recuperação motora e de outras capacidades funcionais prejudicadas por causa de um AVC ou de uma paralisia cerebral – outra condição para a qual a prática demonstra benefícios. Uma das equipes empenhadas em esclarecer essas dúvidas é a da Universidade Bastyr (Eua). Lá, os cientistas criaram agulhas feitas de um material especial para avaliar as respostas cerebrais decorrentes da eletroacupuntura. Derivada da acupuntura tradicional, a técnica consiste na aplicação de corrente elétrica através das agulhas inseridas em pontos do corpo. As tais agulhas permitem que os cientistas investiguem os efeitos das descargas elétricas sem que haja interferência dos campos magnéticos de aparelhos de imagem que mostram o cérebro em funcionamento. “Encontramos a ferramenta certa para investigar. Isso possibilitará avanços e um grande número de estudos”, disse a pesquisadora Leanna Standish, que coordena o trabalho.
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O aprimoramento das pesquisas ajudará a pautar o uso da técnica na terapia das doenças mentais. Por ora, o que se tem são estudos que constatam associação proveitosa contra a depressão, de forma complementar aos remédios. Pesquisadores da Universidade Southern, na China, por exemplo, compararam a eficácia da eletroacupuntura combinada a um antidepressivo com a da terapia feita apenas com remédio. “A acupuntura acelera o início do efeito terapêutico da medicação contra sintomas depressivos, ansiosos e do transtorno obsessivo compulsivo”, disse Yong Huang, líder da pesquisa. O estudo saiu na revista científica “Neural Regeneration Research”.
Outra experiência, feita na Universidade de York, na Inglaterra, constatou que a prática pode ser tão eficaz na contenção dos sintomas quanto o aconselhamento psicológico. A conclusão foi obtida após a análise de 755 pacientes com depressão moderada e severa. “As pessoas que têm depressão, que tentaram várias opções médicas e que não estão obtendo benefícios deveriam tentar a acupuntura ou o aconselhamento como opções de ajuda que se mostraram agora clinicamente efetivas”, afirmou Hugh ­MacPherson, coordenador do estudo.
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Um experimento singular na área de doenças psiquiátricas também chama a atenção. A técnica foi empregada de forma pioneira no tratamento da esquizofrenia, enfermidade que até hoje representa um grande desafio para a medicina. A descrição do caso foi feita por pesquisadores da Radboud University Nijmegen, na Holanda. Os cientistas incluíram sessões de acupuntura às intervenções terapêuticas indicadas a uma mulher de 63 anos com esquizofrenia crônica. Entre outros sintomas, ela sofria de dores físicas em consequência de uma alucinação persistente sobre um pássaro preto que a bicava sem parar. Ao final de três meses, ainda que as alucinações persistissem, a paciente se sentia menos perturbada e suas dores, curiosamente, haviam diminuído bastante. A qualidade do sono melhorou e viu-se que traços depressivos foram amenizados. Para a cientista Peggy Bosch, que conduziu o trabalho, os resultados obtidos sugerem que a acupuntura pode ser uma ferramenta adicional para tratar a enfermidade.
A curiosidade científica está levando a outras descobertas sobre o potencial da técnica. Exemplo disso é a pesquisa feita pelo imunologista Luis Ulloa, da New Jersey Medical School (Eua). Para conferir o poder anti-inflamatório da eletroacupuntura, ele aplicou a técnica em cobaias com sépsis, doença infecciosa grave que pode causar também uma intensa reação inflamatória – esta última, na verdade, responsável por boa parte das mortes causadas pela enfermidade. “Usamos a eletroacupuntura para ativar os nervos ciático e vago e a glândula adrenal, elevando a produção de dopamina pela adrenal”, disse à ISTOÉ o cientista Juan Manuel Rico, da equipe de Ulloa. “Estudos mais atuais mostram que essa glândula não funciona bem em grande parte dos pacientes com septicemia. Vimos também que, sem ela, os ratos não reagem à eletroacupuntura”, explica Juan Manuel. O resultado foi que, a partir da estimulação dos pontos, houve a inibição da produção de substâncias do grupo das citocinas que estão associadas à inflamação.
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Um fenômeno positivo igualmente surpreendente é o que se vê na área da medicina esportiva. “A prática dá ótimos resultados tanto para recuperar atletas como para aumentar a performance física”, assegura o clínico-geral Alexandre Yoshizumi, de São Paulo. Um levantamento feito por pesquisadores da Universidade Estadual de Londrina e do Centro Universitário de Maringá, ambos no Paraná, endossa a afirmação do médico. Após reunirem mais de 20 trabalhos científicos com atletas de diferentes modalidades, como ciclismo, handebol, basquete e velocistas de alto rendimento, os cientistas concluíram que a prática pode ser usada para aprimorar aspectos como velocidade, força de explosão, resistência e outras capacidades relacionadas ao desempenho esportivo. Os autores da revisão vão além. Eles defendem que um acupunturista desportivo já deveria estar presente nas equipes de alto rendimento, a fim de melhorar a performance final dos atletas.
Uma das explicações para esse tipo de efeito emergiu do trabalho feito pela pesquisadora japonesa Akiko Onda, da Escola de Ciências do Desporto da Universidade de Waseda, no Japão. Por quatro anos, ela estudou, em cobaias, os efeitos da acupuntura a nível molecular (na expressão dos genes) para conter a perda muscular. “Comprovamos que a técnica reduz a atrofia da musculatura esquelética, aquela que se liga aos ossos”, disse Akiko à ISTOÉ. De acordo com a pesquisadora, esse desfecho é consequência da ação das agulhas na expressão de genes associados a esse processo. O próximo passo será realizar o estudo em seres humanos.
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A exploração dos benefícios do método envolve também formas menos ortodoxas do que a conhecida introdução das agulhas. O ortopedista e acupunturista André Tsai, coordenador do curso de especialização em acupuntura da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, por exemplo, está utilizando fios cirúrgicos chamados CatGut (pronuncia-se catigu) para tratar a obesidade. A técnica está difundida nos Estados Unidos. “Insiro os fios, com a ajuda das agulhas, sob a pele, em pontos de acupuntura para ajudar no controle da ansiedade e do apetite”, diz Tsai. Como são feitos de material absorvível pelo organismo, não precisam ser retirados. “Os efeitos variam a cada paciente”, diz Tsai. “Evidentemente, o método não pode ser usado por pessoas que ainda não foram avaliadas por um médico para saber se apresentam doenças associadas ao excesso de peso”, ressalva.
A eficácia da prática contra o excesso de peso está evidenciada por várias pesquisas científicas. Entre elas, estão os resultados obtidos em um estudo publicado no jornal especializado “Acupuncture in Medicine”. No trabalho, foi constatado que a marcação de cinco pontos na orelha relacionados ao acúmulo de gordura (estariam vinculados à fome, ao estômago e ao sistema endocrinológico, entre outros) reduziu em 6% o Índice de Massa Corporal (IMC) de indivíduos com sobrepeso e obesos que participaram do experimento. Quando o estímulo foi aplicado em um único ponto (o da fome), a diminuição foi de 5,7%.
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NOVAS FRONTEIRAS
O médico Alexandre Yoshizumi, de São Paulo, usa a técnica
contra sequelas de AVC e lesões esportivas
Até áreas relegadas a segundo plano estão sendo revisitadas pelos médicos com formação em acupuntura. Na Universidade Federal de São Paulo, por exemplo, investigam-se os resultados do uso das agulhas para problemas estéticos como rugas faciais, flacidez nos braços, no pescoço, na parte interna da coxa, olheiras e cicatrizes de acne. Os ganhos são creditados à melhora da circulação sanguínea, da oxigenação e, acrescentando uma pitada de cultura chinesa, da energia vital circulante no local em consequência dos estímulos da eletroacupuntura. “Trabalhos realizados em nosso ambulatório confirmam clinicamente uma melhora na elasticidade. Indiretamente, isso mostra que ocorreu uma produção adequada de colágeno, embora isso não tenha ainda sido comprovado cientificamente”, relata a dermatologista Maria Assunta Nakano, responsável pelo Ambulatório de Acupuntura em Dermatologia do Setor de Medicina Chinesa da Unifesp. O colágeno é uma proteína fabricada pelo organismo e é responsável por dar sustentação à pele. A médica também adverte que só há benefício para rugas menos profundas.
A instituição paulista, que há três anos implantou um ambulatório de acupuntura voltado apenas para crianças, promete reforçar seu pioneirismo na área. “Em breve faremos estudos em humanos para analisar a eficácia das agulhas na prevenção de doenças em pessoas com graves problemas renais”, informa o médico Ysao Yamamura, introdutor do método na instituição.
 Fotos: João Castellano/Ag. Istoé, Pedro Dias, João Castellano –Ag. Istoé, Gabriel Chiarastelli; Rob Forman

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Estigmas pesam contra a epilepsia

A convulsão, quando a pessoa se debate e saliva intensamente, contribui para que os portadores da doença sejam vítimas de preconceito
  Cercada de preconceito, a epilepsia está longe de ser uma possessão demoníaca ou algo relacionado ao sobrenatural. Distúrbio neurológico que hoje atinge cerca de 2,5 milhões de pessoas no Brasil, o transtorno não impede que os portadores trabalhem e tenham uma vida normal. No entanto, o estigma e a falta de esclarecimento pesam no tratamento dos pacientes.
Neurologista, especialista em epilepsia e gerente médica da Meizler-UCB Biopharma, Elizabeth Bilevicius diz que o grande problema em torno da epilepsia não é apenas o distúrbio em si, mas a carga criada por falta de conhecimento. “O desconhecimento talvez seja mais grave do que você saber que tem epilepsia”, afirma.
Medicina
Conheça mais sobre o tratamento e a causa do distúrbio
Qualquer pessoa, em qualquer idade, pode ter epilepsia. No entanto, se observa picos na primeira infância, antes de o bebê completar um ano, e também em pacientes idosos com predisposição para ocorrência de Acidente Vascular Cerebral (AVC), traumatismo craniano ou tumores. Outros fatores, como a neurocisticercose, também podem desencadear a epilepsia. Não há tratamento para curar a epilepsia. O que se consegue, segundo os médicos, é o controle das crises convulsivas. Alguns pacientes precisam fazer um tratamento ao longo da vida, o que não significa nenhum tipo de limitação no dia a dia.
Curiosidades
Saiba mais sobre a doença e evite que a desinformação
• perpetue o preconceito e prejudice os portadores
• Não é transmitida pela saliva nem é contagiosa.
• Napoleão Bonaparte, Dom Pedro I e Machado de Assis são alguns conhecidos personagens históricos que eram portadores da epilepsia.
• Em casos de crise convulsiva, você não deve puxar a língua do paciente (isso é lenda) nem colocar nada na boca do epilético. Deixe a cabeça da pessoa de lado que a saliva flua e a respiração seja otimizada.
70% dos pacientes controlam a epilepsia com medicamentos. Para uma fração dos outros 30% é indicada a cirurgia.
Serviço:
Mais informações sobre a epilepsia nos sites:
www.vivacomepilepsia.org
www.purpleday.org
Na avaliação da médica, o preconceito em relação à epilepsia deve começar a ser combatido desde cedo, começando pela escola, onde nem mesmo os professores estão preparados para lidar com crianças portadoras do distúrbio.
De acordo com a doutora Elizabeth, hoje 70% dos pacientes controlam a epilepsia com medicamentos. Para uma fração dos outros 30% é indicada a cirurgia. Nesse caso, os pacientes são encaminhados para centros especializados em epilepsia no Brasil. Pelo menos 13 desses centros atendem pacientes pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Crises
A crise mais conhecida desencadeada pela epilepsia é a convulsão, em que a pessoa se debate e tem salivação intensa. No entanto, não é a mais comum, segundo a neurologista. Ela explica que o quadro de crises é variado. Uma delas é a chamada crise de ausência, bastante presente na infância, na qual a pessoa desliga, fica parada por alguns segundos, sem nenhuma reação. Outros tipos de crise podem desencadear movimentos automáticos sobre os quais o indivíduo não tem controle. Essas são conhecidas como crises focais.
Sintomas ocultos
Muitos pacientes, segundo a médica, não percebem que têm epilepsia a partir dos sintomas, a não ser que tenham convulsão. Por exemplo, a visão distorcida de uma cor ou um repuxãozinho parecido com um susto podem passar desapercebidos, embora possam indicar a manifestação da epilepsia. Outros indicativos de epilepsia estão relacionados com alucinações, sensação de estar enxergando tudo pequenininho – considerados casos raros – mal-estar parecido a um enjoo ou episódios nos quais os indivíduos se debatem na cama durante o sono.
A recorrência dos sintomas ajuda no diagnóstico da epilepsia, embora haja possibilidade de, já na primeira crise, levantar uma forte suspeita ou ter a confirmação. Mas quando a segunda crise ocorre e manifesta-se de forma semelhante à primeira, o diagnóstico é bastante sugestivo.
Conscientização
Pacientes se organizam para vencer a barreira do preconceito
O matemático Eduardo Caminada Júnior, 42 anos, recebeu o diagnóstico de epilepsia quando tinha três anos. O distúrbio não pode ser controlado apenas com o uso de remédios, por isso foi preciso fazer um implante de estimulador de nervo vago (VNS). Hoje, Caminada usa uma espécie de marca-passo e também toma remédios.
Purple day
Apesar de presentes, as crises foram reduzidas, são rápidas e não impedem que Caminada leve uma vida como a qualquer outra pessoa. É casado, tem uma filha, mas já foi vítima do preconceito. Por isso, considera a informação uma ferramenta essencial para o esclarecimento. Assim, decidiu usar seu tempo livre para desmistificar a epilepsia. Criou blog, site sobre o assunto, escreveu um livro prestes a ser lançado e hoje é o diretor do Purple Day no Brasil, campanha para conscientização sobre a epilepsia criada no Canadá e que ocorre todos os anos no dia 26 de março. “Eu sempre achei que se as pessoas fossem mais bem informadas essa questão poderia mudar”, conta.
Caso extremo
Para Caminada, o pior acontece quando a pessoa tem uma crise em um ambiente público e ninguém a acolhe. Ele também diz que muitos acham que a epilepsia é contagiosa. “As pessoas não te acolhem não é por mal, mas porque elas não estão informadas para saber o que elas devem fazer com você”, conta. Como o preconceito é incidente, os portadores da epilepsia se organizaram em associações, espalhadas por todo país. Todas estão ligadas à Federação Brasileira de Associações de Apoio a Pacientes Portadores de Epilepsia.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Como fazer o melhor check-up

A morte repentina do ator José Wilker, adepto de exames regulares de saúde, levanta discussão sobre a eficácia dos testes preventivos. Especialistas dizem quais os exames que realmente devem ser feitos

Michel Alecrim (michel.alecrim@istoe.com.br)
Dois artistas populares no Brasil tiveram problemas graves de coração recentemente, apesar de serem adeptos de check-up regulares. O ator José Wilker faleceu por causa de um infarto no sábado 5, aos 69 anos. Amigos próximos relataram que ele havia se submetido a exames recentemente. “Fiquei chocado, porque ele se cuidava, fazia check-up”, disse o diretor Denis Carvalho. E o humorista Renato Aragão, 79 anos, também conhecido por zelar pela saúde, sobreviveu a um infarto, ocorrido em 15 de março. As histórias dos artistas chamaram a atenção para um fato considerado rotineiro por cardiologistas: na maioria das vezes, os check-ups cardíacos não incluem testes de imagem, os mais efetivos para detectar obstruções arteriais que levam ao infarto. Por isso, pessoas que acreditam estar com boa saúde porque apresentam índices normais dos principais fatores de risco acabam na emergência cardíaca dias ou semanas depois.
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CHOQUE
O infarto que levou Wilker à morte surpreendeu os amigos mais próximos
Foi isso que aconteceu com o empresário carioca Hirohito Clemente das Neves Júnior, 51 anos. Aos 42 anos, ele sofreu no hospital duas paradas cardíacas. Antes disso, sentia-se seguro, pois passava bem nos testes anuais que realizava. Chegava a internar-se por um dia em hospitais de excelente nível, no Rio de Janeiro. Foi salvo porque correu ao hospital quando começou a suar e sentir dormência no braço esquerdo. “Agora, a cada dois anos faço uma cintilografia do coração”, conta o empresário, referindo-se a um exame de imagem que não faz parte do pacote habitual de checagem.
Esse tipo de ocorrência está levantando a discussão sobre a eficácia dos check-ups comuns. De fato, há alguns pontos nesse sistema que podem levar à falha na sua capacidade de predição dos riscos. Um deles é exatamente o fato de a maioria não incluir exames de imagem. Ocorre, porém, que a obstrução arterial por placas de gordura só é visível por meio dessa tecnologia. “Além disso, não são apenas as placas de gordura que causam infarto, mas também eventuais espasmos musculares do coração”, afirma o cardiologista Emílio Zilli, diretor da Sociedade Brasileira de Cardiologia. “As pesquisas estão evoluindo também para se averiguar melhor o comportamento das partículas sanguíneas. Às vezes, uma partícula de gordura pode desencadear uma inflamação desastrosa”, explica.
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O cardiologista carioca Carlos Scherr, do Colégio Americano de Cardiologia, também enfatiza a necessidade de testes mais sofisticados. “As placas de gordura podem passar despercebidas num teste de esforço, se forem pequenas, mas não seriam ignoradas em um exame de cintilografia coronariana ou em uma angiotomografia”, afirma. “Mas são procedimentos mais caros e que submetem o paciente à radiação. E há relutância dos planos de saúde de autorizá-los por serem onerosos financeiramente”, diz. A Associação Brasileira de Medicina de Grupo disse, em nota à ISTOÉ, reconhecer que “o médico é sempre o profissional indicado para fazer a avaliação” e que libera exames complementares “nos casos de alto risco.”
O desafio é descobrir quem precisa de investigação mais apurada, o que a entrevista médica pode indicar. Médico do Instituto do Coração, de São Paulo, o cardiologista Sérgio Timerman diz ser adepto da “conversoterapia”. Com ele, o diagnóstico não sai antes de ser traçado um quadro com os hábitos do paciente e o histórico de enfermidades de sua família. “Em consultas de 15 minutos não se faz medicina”, diz. Segundo ele, estudos mostram que pacientes que morreram de infarto muitas vezes tiveram algum sintoma que negligenciaram, como falta de ar. De detalhe em detalhe, é calculado o risco do indivíduo e o teste laboratorial mais indicado. Até um cateterismo pode ser usado em último caso. “Muita gente já foi enterrada com bons resultados de check-up”, afirma Timerman.
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O cardiologista e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro Denilson Albuquerque diz que o médico pode fazer uma planilha com os fatores de risco do paciente, mas que o próprio indivíduo também precisa se monitorar. Por exemplo: pesar-se regularmente já que aumentos abruptos podem significar retenção de líquido e consequentes risco de infarto.
Para complementar o esforço por uma melhor prevenção, a credibilidade dos testes é fundamental. Porém, a própria Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial admite que dos 17 mil laboratórios públicos e privados do País, apenas seis mil adotam algum programa de qualidade. O diretor de Acreditação e Qualidade da entidade, Walter Shcolnik, diz que a maior parte dos erros está na coleta, no armazenamento e no transporte das amostras.
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Fotos: RENATO VELASCO;TV Globo; Felipe Varanda/Ag. Istoé

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Exame de sangue pode identificar a asma, diz pesquisa

Com apenas uma gota de sangue do paciente seria possível diagnosticar, medir e até prever casos da doença

asma
Descoberta é importante, segundo pesquisador, porque a asma é difícil de ser diagnosticada com precisão (Spike Mafford/ Thinkstock)
Pesquisadores da Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos, descobriram uma maneira rápida, barata e precisa de diagnosticar casos de asma: o exame de sangue. Os estudiosos detectaram uma correlação, antes desconhecida, entre pacientes asmáticos e o comportamento de um tipo de células brancas no organismo. A partir dessa descoberta, seria possível identificar a doença mesmo sem o indivíduo apresentar sintomas aparentes, como falta de ar e tosse. O estudo foi publicado online nesta terça-feira no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas).
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Characterizing asthma from a drop of blood using neutrophil chemotaxis

Onde foi divulgada: periódico Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas)

Quem fez: Eric Karl-Heinz Sackmanna, Erwin Berthierb, Elizabeth A. Schwantesc, Paul S. Fichtingerc, Michael D. Evansd, Laura L. Dziadzioe, Anna Huttenlochere, Sameer K. Mathurc e David J. Beebe

Instituição: Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos

Resultado: Em pacientes asmáticos, a velocidade das células brancas para combater uma inflamação no organismo foi menor, comparada aos não asmáticos. Essa resposta pode ser detectada com um simples exame de sangue.
Os pesquisadores analisaram a velocidade com que os neutrófilos (células de defesa do organismo e as primeiras a reagir em caso de inflamação) migraram para uma inflamação induzida. Eles detectaram, então, que pacientes asmáticos tinham uma resposta mais lenta do que não asmáticos.
Para medir a função dos neutrófilos, os estudiosos usaram uma tecnologia desenvolvida pela própria Universidade de Winconsin-Madison, chamada kit-on-a-lid-assay. O método usa apenas uma gota de sangue do paciente e uma mistura química que estimula a ação dos neutrófilos. A velocidade de resposta das células é, então, analisada por um software.
"Esse é um dos primeiros estudos a mostrar que um exame de sangue pode ser um jeito mais prático e rápido de identificar a asma", afirma David Beebe, professor de engenharia biomédica da Universidade de Wisconsin-Madison e coautor do estudo. "Em alguns casos, foi possível até prever e medir a gravidade da doença."

A descoberta é importante porque a asma é uma doença difícil de ser diagnosticada com precisão. Normalmente, o diagnóstico é feito a partir de uma série de testes clínicos, como os que medem a funcionalidade do pulmão. "Os exames atuais são baseados em medições indiretas, o que não é ideal", disse Bebbe.

domingo, 13 de abril de 2014

Cientistas questionam eficácia dos remédios Tamiflu e Relenza

Segundo estudo, não há provas de que os medicamentos reduzem a disseminação da gripe A

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Tamiflu: estudo relacionou consumo do remédio a efeitos colaterais como náusea, vômito, dor de cabeça e síndromes renais e psiquiátricas (AFP)
Cientistas britânicos concluíram que não há evidência suficiente para provar que os medicamentos antivirais Tamiflu (oseltamivir) e Relenza (zanamivir) reduzem a disseminação da gripe A, causada pelo vírus H1N1 e também conhecida como gripe suína. As conclusões, publicadas nesta quinta-feira no prestigioso periódico BMJ, questionam se os bilhões gastos por governos de todo o mundo, inclusive o brasileiro, com a droga se justificavam.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Oseltamivir for influenza in adults and children: systematic review of clinical study reports and summary of regulatory comments e Zanamivir for influenza in adults and children: systematic review of clinical study reports and summary of regulatory comments

Onde foi divulgada: periódico BMJ

Quem fez: Tom Jefferson, Mark Jones, Peter Doshi, Elizabeth A Spencer, Igho Onakpoya, Carl J Heneghan, Matthew Thompson e Helen D Cohen

Instituição: Cochrane Collaboration, entre outras

Resultado: Segundo os pesquisadores, o Tamiflu e o Relenza têm pouco ou nenhuma eficácia no combate à gripe A.
Pesquisadores do grupo de cientistas Cochrane Collaboration e do BMJ já argumentavam que não havia experimentos suficientes para atestar que o Tamiflu funciona. Depois de obter acesso a testes internos conduzidos pelo fabricante, a Roche, descobriram que o remédio tem pouca ou nenhuma eficácia no combate à doença — reduz os sintomas da gripe pela metade em um dia em adultos e tem pouco efeito em crianças. O resultado foi igual com o Relenza, fabricado pela GlaxoSmithKline.

Ao comparar pessoas que tomaram pílula placebo, não se constatou que as que ingeriam Tamiflu ou Relenza tinham menos probabilidade de ser hospitalizadas ou sofrer complicações graves da influenza. Além disso, o estudo relacionou o consumo de Tamiflu a efeitos colaterais como náusea, vômito, dor de cabeça e síndromes renais e psiquiátricas.
Especialistas não envolvidos na pesquisa assinalaram que o Tamiflu funciona melhor quando administrado aos pacientes rapidamente e que é difícil as pessoas chegarem ao médico em estágio inicial. "Não é que os medicamentos não funcionem, é apenas difícil usá-los de maneira a obter o seu melhor efeito", disse em comunicado Wendy Barclay, especialista em influenza da Imperial College London.

Ela citou alguns problemas com a forma como cientistas do Cochrane e o BMJ interpretaram os dados e disse que é prudente os governos estocarem Tamiflu, porque há poucas drogas disponíveis para tratar a gripe. "Se outra pandemia ocorresse amanhã e o governo (do Reino Unido) não tivesse medicamento para tratar milhares de pacientes com gripe, eu imagino que haveria um clamor público."
A farmacêutica suíça Roche disse que "discorda fundamentalmente" das conclusões gerais do estudo e que mais de 100 países aprovaram o medicamento. Os Estados Unidos gastaram mais de US$ 1,3 bilhão no estoque do antiviral, enquanto o Reino Unido desembolsou quase US$ 711 milhões com o Tamiflu nas preparações para a pandemia, de acordo com documentos governamentais citados pelo Cochrane e pelo BMJ.
Agências de saúde pública como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Centro para Prevenção e Controle de Doenças dos EUA continuam recomendando o uso do Tamiflu e disseram que o remédio foi útil no tratamento de pacientes com novas cepas do vírus, como as da gripe aviária.
(Com Estadão Conteúdo)

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Que dor de garganta!

Não tem jeito. Vez ou outra, seu filho vai reclamar que a garganta dói.
E, apesar de o problema ser bastante corriqueiro, é necessário tomar certos cuidados

Por Maria Clara Vieira 
Dor de garganta; criança; pediatra (Foto: Edith Held/ Corbis)
“Ai, dói aqui.” Se a frase vier acompanhada de testa franzida e mãos pequenas no pescoço, os pais experientes já sabem a saga que terão de encarar: a dor de garganta se anuncia. A crise pode incluir falta de apetite, dificuldade para engolir, choro, febre, mal-estar e, provavelmente, resultará em falta às aulas. Ela geralmente é provocada por infecções virais ou bacterianas, que acometem as estruturas da garganta, principalmente a faringe – canal de comunicação entre o nariz, a boca, a laringe e o esôfago – e as amídalas – formações de tecido em cada lado da garganta, no fundo da boca, e que protegem a porta de entrada do corpo dos micro-organismos. Mas, por que, afinal, a dor de garganta é tão comum na infância?

Primeiro, porque o sistema imunológico ainda está amadurecendo e o organismo não formou suas defesas para combater alguns agentes. Em segundo lugar, o contato próximo com outras crianças e a partilha de objetos na escola favorecem a contaminação. Se o seu filho ainda não passou por essa experiência desagradável, prepare-se. Mesmo uma criança supersaudável geralmente tem pelo menos três episódios desses nos primeiros cinco anos de vida. As características da crise dependem do tipo de micróbio responsável – vírus ou bactéria – e o tratamento varia de um caso para outro. Entenda, a seguir, e saiba contornar o problema.
Se a culpa é de um vírus... 
...A infecção dura cerca de três dias e atinge o trato respiratório, porém, com sintomas brandos. É mais comum em crianças de até 2 anos e normalmente acompanha gripe. Ocorre, em média, até três vezes por ano na maioria dos casos, principalmente em épocas frias, quando a aglomeração de pessoas em ambientes fechados facilita a transmissão e a temperatura baixa fragiliza o sistema imune.

O contágio se dá por contato com saliva infectada ou outras secreções. Não há comprovação científica de que o consumo de bebidas e alimentos gelados contribua para o surgimento da doença. Porém, o frio e a baixa umidade diminuem as defesas das vias respiratórias, sensibilizando-as. Por isso, a incidência é maior no inverno. Andar descalço e tomar sorvete em dias quentes está liberado – desde que com equilíbrio.
Sintomas
Além da dor, pode haver coriza, espirro, tosse, febre baixa e ronco no nariz. No geral, a criança mantém boa vitalidade e raramente apresenta falta de apetite, desânimo e febre alta.
Tratamento
Espontaneamente, o quadro regride e o tratamento é apenas sintomático. Ou seja, os médicos podem prescrever analgésicos e antitérmicos, para aliviar dor e febre, além de anti-inflamatórios, quando necessário.
Prevenção
Embora não seja possível blindar seu filho completamente, existem estratégias para diminuir os riscos de contágio. Mantenha a criança bem alimentada, incentive-a a fazer atividades ao ar livre, ensine-a a lavar corretamente as mãos, especialmente depois das brincadeiras, e procure deixar as janelas de casa abertas.
Se a vilã é uma bactéria... 
...O quadro costuma ser mais intenso e afetar muito as amídalas. Acontece especialmente entre 3 e 6 anos e a transmissão ocorre via oral, da mesma forma que o vírus. Diversas bactérias estão por trás da doença. A mais grave é a Estreptococo beta-hemolítico do grupo A, que, se mal curada, pode levar a complicações como a febre reumática, uma doença que compromete articulações e coração.
SintomasFebre alta, desânimo, falta de apetite e placas brancas com pus nas amídalas são os principais. Diante deles, a recomendação é levar a criança imediatamente ao médico.

Tratamento
É feito com antibiótico e suas doses e intervalos devem ser seguidos à risca, assim como o período total de administração, mesmo que os sintomas melhorem em 48 horas. Caso contrário, bactérias mais resistentes poderão atacar novamente. Mantenha a criança hidratada e alimentada. Se estiver difícil de engolir, ofereça alimentos pastosos, em temperatura ambiente. Os médicos podem receitar analgésicos e antitérmicos para amenizar o mal-estar. Fique atento à amidalite recorrente. Se houver mais de três episódios anuais, consulte um otorrinolaringologista para que ele avalie a necessidade de fazer a retirada das amídalas.

Prevenção
É difícil prevenir a contaminação por bactérias, mas manter ambientes ventilados e boa higiene das mãos reduz os riscos. 

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Dispositivo elétrico devolve movimentos a homens com paralisia

Intervenção foi feita em quatro pacientes que haviam perdido grande parte de suas funções motoras há pelo menos dois anos. Com o tratamento, eles conseguiram realizar movimentos voluntários nos pés e quadris

Os pacientes Andrew Meas, Dustin Shillcox, Kent Stephenson e Rob Summers foram submetidos a um tratamento com estimulação elétrica para recuperarem suas funções motoras
Os pacientes Andrew Meas, Dustin Shillcox, Kent Stephenson e Rob Summers foram submetidos a um tratamento com estimulação elétrica para recuperarem suas funções motoras (Louisville University)
Pesquisadores anunciaram nesta terça-feira que quatro homens que haviam perdido a função motora do tórax para baixo há anos recuperaram a capacidade de realizar alguns movimentos voluntários. Isso foi possível após médicos terem implantado um dispositivo de estimulação elétrica na medula espinhal dos pacientes que imita os sinais transmitidos pelo cérebro para iniciar algum movimento.
Embora esses indivíduos não tenham voltado a andar, os especialistas consideram que o feito oferece esperança para o tratamento de pessoas que sofreram paralisia e que ouviram de especialistas que nada poderia ser feito para que os movimentos fossem recuperados.
O caso dos pacientes foi relatado em um artigo publicado no periódico Brain. Os pesquisadores responsáveis pelos testes com o dispositivo elétrico são das universidades de Louisville e da Califórnia em Los Angeles (UCLA), nos Estados Unidos, e do Instituto de Fisiologia Pavlov, na Rússia.
Estudo inicial — A pesquisa se baseou em um estudo publicado em 2011 que relatava o caso do ex-jogador de baseball Rob Summers. Ele perdeu os movimentos do tórax para baixo após sofrer um acidente de carro em 2006, mas recuperou parte de suas funções motoras com o implante desse mesmo dispositivo elétrico. A comunidade científica recebeu esses resultados com cautela, considerando que eles precisariam ser replicados em mais pacientes.
O novo trabalho detalhou os efeitos da intervenção em outros três pacientes — os americanos Kent Stephenson, Andrew Meas e Dustin Shillcox —, além de relatar novos testas realizados no ex-jogador.
Todos os quatro pacientes eram classificados como portadores de dor crônica e de deficiência física por lesão medular, e haviam perdido os movimentos há pelo menos dois anos antes da intervenção. Dois deles também apresentavam uma lesão sensorial completa – ou seja, perderam não só os movimentos, mas também a sensibilidade nos membros lesionados — e acreditava-se que não havia chance de eles se recuperarem.
De acordo com os pesquisadores, os pacientes foram capazes de recuperar alguns movimentos voluntários imediatamente após o implante e a ativação do dispositivo, um resultado considerado “muito surpreendente” pelos especialistas. “Devido à estimulação, agora eles conseguem mover voluntariamente os seus quadris, tornozelos e dedos do pé. Isso é inovador e oferece uma nova perspectiva de que a medula espinhal, mesmo após lesões graves, tem um grande potencial de recuperação”, diz Claudia Angeli, professora do Centro de Pesquisa em Lesões da Medula Espinhal da Universidade de Louisville (KSCIRC, sigla em inglês) e uma das autoras do estudo.
A pesquisa também mostrou que o tratamento ofereceu outros tipos de benefícios à saúde dos pacientes, como aumento da massa muscular, controle da pressão arterial e redução de episódios de fadiga muscular.
Técnica — O dispositivo implantado nos pacientes emite uma corrente elétrica com frequências diferentes em locais específicos da medula espinhal responsáveis por controlar o movimento dos quadris, joelhos, tornozelos e dedos do pé. De acordo com o estudo, conforme os testes foram sendo realizados, os participantes se tornaram capazes de realizar movimentos voluntários cada vez com menos estimulações. Para os autores, isso demonstra a habilidade que a medula tem em aprender e melhorar funções do sistema nervoso. “A crença de que nenhuma recuperação é possível na paralisia completa acaba de ser desafiada”, diz Susan Harkema, diretora do KSCIRC e responsável pelo primeiro estudo sobre o caso do ex-jogador de baseball Rob Summers.

terça-feira, 8 de abril de 2014

Bebês prematuros são atendidos fora da UTI por falta de leitos na Maternidade Escola-Ce

Lia Girão 

"Eu precisaria de 9 médicos neonatologistas em cada turno do dia para atender à demanda que temos aqui, mas normalmente só temos 2 ou, no máximo, 3 por turno", declarou o gestor da unidade

Maternidade Escola
O bebê prematuro estava recebendo atendimento na sala de parto, mas precisava estar na UTI para receber os cuidados adequados
Foto: VCRepórter
Dois bebês prematuros estão sendo atendidos fora da UTI neonatal da Maternidade Escola Assis Chateaubriand (Meac), no bairro Rodolfo Teófilo, na manhã desta terça-feira (8), devido à falta de leitos dispóníveis na unidade. Além das duas crianças, outras 7 estão sendo atendidas em leitos complementares acima da capacidade regular da Unidade de Terapia Intensiva do hospital.
De acordo com um médico que preferiu não se identificar, existem duas UTIs na unidade, uma com capacidade para 12 bebês, mas que está atendendo 16, e outra com capacidade de atendimento para 9 crianças, que opera nesta manhã com 11 pacientes. Além dessas 7 crianças, outras duas estão sendo atendidas de forma irregular na unidade, uma na sala de parto e outra no berçário, quando deveriam estar na UTI.
"Nós estamos em meio a uma crise de atendimento neonatal"
Sobre a situação, Carlos Augusto Alencar Júnior, médico responsável pela direção da maternidade, declarou que esse não é um problema exclusivo da Meac e que também atinge os outros grandes hospitais públicos do município que realizam partos. O médico afirmou que o atendimento é feito da melhor maneira possível, mas faltam equipamentos e profissionais na unidade e, por isso, situações como essa acontecem.
"Nós estamos em meio a uma crise de atendimento neonatal na cidade", disse o gestor, que afirmou que em todas as unidades do município há alta demanda de pacientes e deficiência de profissionais. "Eu precisaria de 9 médicos neonatologistas em cada turno do dia para atender à demanda que temos aqui, mas normalmente só temos 2 ou, no máximo, 3 por turno", declarou Carlos Augusto, frisando que espera que as coisas melhorem após a posse dos médicos que farão concurso no próximo dia 4 de maio.
Em fevereiro, a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) lançou três editais de concurso público para lotação na Maternidade Escola Assis Chateaubriand (Meac) e no Hospital Universitário Walter Cantídio (Huwc), ambos da Universidade Federal do Ceará (UFC). Ao todo são 1.894 vagas, 399 de nível superior para a área médica. O salário é de R$ 6.495 para carga horária de 24h semanais.

domingo, 6 de abril de 2014

Luta contra o cigarro: veja se as terapias alternativas ajudam mesmo a parar de fumar

Uma série de terapias complementares diz ajudar na hora de parar de fumar, mas nem todas ostentam crédito científico. Por essas e outras, o órgão do governo americano voltado a práticas alternativas reuniu o que há de evidência a respeito até agora.

Diogo Sponcchiato
Algumas terapias podem ser coadjuvantes no tratamento contra o cigarro.
Foto: Getty Images

Acupuntura

Uma revisão em cima de 38 pesquisas sobre essa técnica e métodos semelhantes, como acupressão, concluiu que ainda faltam provas consistentes de que sejam decisivos para vencer o vício. Na maioria dos casos, psicoterapia e reposição de nicotina funcionariam melhor.
Hipnose

Trabalhar o estado de consciência não obteve efeito expressivo em um período de seis meses de cessação, segundo análise crítica de 11 experimentos. Mas outro estudo sugere certo benefício quando a hipnose é acompanhada de adesivos de nicotina.
Meditação

Embora a ciência tenha de avaliar melhor seu impacto, um artigo recente indica que a meditação do tipo mindfulness presta um belo serviço na empreitada antitabagismo - e avaliações com exames de neuroimagem já estão sondando o porquê.
Ioga

O braço do governo americano dedicado às terapias complementares financiou um estudo com o objetivo de testar, em mulheres, um programa de ioga para aumentar as chances de escapar do vício. O resultado foi positivo. Menos ansiedade e recaídas.
Tai chi chuan

Em uma pesquisa da Universidade da Flórida, nos Estados Unidos, essa arte marcial em câmera lenta mostrou bom potencial como suporte a quem quer se livrar das tragadas. Mas ainda se esperam evidências em larga escala para bater o martelo.

Fontes: Centro Nacional para Medicina Complementar e Alternativa (NCCAM, na sigla em inglês), órgão dos EUA voltado ao estudo de práticas integrativas; Instituto Cochrane; The Journal of Alternative and Complementary Medicine; Nicotine & Tobacco Research, periódico da Sociedade de Pesquisa em Nicotina e Tabaco; revista científica Drug and Alcohol Dependence.

sábado, 5 de abril de 2014

O amor pode ter cura

Cientistas propõem o uso de remédios e de outras intervenções para acabar com o sentimento quando ele traz mais sofrimento do que alegria

Cilene Pereira (cilene@istoe.com.br)
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É difícil encontrar alguém que nunca sofreu por amor. E que no auge de sua dor não tenha imaginado como seria ótimo se existisse uma pílula, algo que pudesse ser comprado logo ali, na farmácia, para acabar com o sofrimento. Na opinião de um respeitado time de cientistas, esses remédios existem. Alguns já estão disponíveis, outros em estudo. Juntos, eles formam um arsenal capaz de curar amor – e devem começar a ser usados sempre que necessário. A proposta está sendo feita por pesquisadores da Universidade de Oxford, na Inglaterra, uma das mais renomadas do mundo. Por seu teor polêmico, a proposição iniciou um grande debate entre os cientistas sobre a oportunidade de se recorrer a recursos para encerrar um amor – seria mesmo adequado tratar o sentimento como se lida com uma gripe, uma gastrite? – e as consequências éticas que podem advir do uso do que os estudiosos ingleses estão chamando de biotecnologia antiamor.
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No olhar do grupo de Oxford, porém, trata-se de lidar com o tema sob uma perspectiva diferente da convencional. Existe o amor de Platão, de Shakespeare. Fala-se aqui do ideal, do sentimento arrebatador, que nasce sem muita explicação e gera histórias inesquecíveis. E existe o amor entendido pela ciência. Nesse caso, não há espaço para romantismo. A emoção seria produto de respostas fisiológicas desencadeadas no cérebro a partir de um estímulo. Sua geração faria parte do arcabouço de emoções que a espécie humana desenvolveu ao longo de sua evolução com o objetivo de garantir sua sobrevivência. O medo, por exemplo, nos ajudou a ter reações de fuga diante de predadores. O amor, por sua vez, foi o sentimento que garantiu a continuidade da reprodução da espécie. E hoje, defendem os cientistas, é possível interferir nas etapas desse processo com a finalidade de interrompê-lo. “A neurociência está nos apresentando um entendimento novo do amor”, disse à ISTOÉ o pesquisador Brian Earp, de Oxford, coordenador do grupo que estuda os tratamentos para o sentimento. “Portanto, se pensarmos que ele é algo que emerge da química cerebral, começa a fazer sentido falar em cura.”
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SEM LIGAÇÃO
Em suas pesquisas com cobaias, Young conseguiu impedir a criação de laço afetivo
O consenso científico sobre o amor é o de que ele é dividido em três fases. A primeira é chamada de luxúria e caracteriza-se pelo desejo sexual. A segunda é a atração. As duas fases formam a paixão. Elas são associadas aos hormônios estrogênio e testosterona – responsáveis, respectivamente, pelas características femininas e masculinas. Também há o foco no objeto da paixão, podendo ocorrer inclusive pensamentos obsessivos a seu respeito. “Os apaixonados e os pacientes que sofrem de Transtorno Obsessivo Compulsivo dividem um mesmo tipo de pensamento. Os primeiros são focados nos parceiros, e os segundos, em suas obsessões”, disse à ISTOÉ a pesquisadora italiana Donatella Marazziti, da Universidade de Piza, na Itália. Ela é autora de um trabalho exemplar sobre esse aspecto. Primeiro, Donatella selecionou 20 voluntários em pleno estado da paixão e 20 portadores do transtorno. Ela quantificou nos dois grupos a concentração de uma proteína envolvida no transporte da serotonina, substância cerebral relacionada à regulação do humor. Tanto apaixonados quanto pacientes tinham baixa quantidade da proteína, o que significa que havia pouca disposição de serotonina. Um ano depois, seu nível já havia subido entre os amantes. E eles não manifestavam mais obsessão pelo parceiro.
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CAUTELA
Marchant, da Universidade do Arizona, teme o uso abusivo das drogas antiamor
As estruturas cerebrais acionadas nessas duas fases são as que compõem o sistema de recompensa. Ele é ativado quando se vive algo que dá prazer. Ao entrar em ação, há a liberação de dopamina. O composto é a base química que está por trás da alegria que sentimos quando desfrutamos de uma situação prazerosa. Esse sistema é o mesmo acionado nos casos de dependência, como a de drogas ou de álcool. No caso do amor, a recompensa é o prazer proporcionado pelo parceiro. É por essa razão que há o entendimento de que o amor pode se tornar um vício. “Há teorias sobre adição que sugerem que qualquer substância, comportamento ou relacionamento que apresente potencial de recompensa pode desencadear dependência”, diz Earp.
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No artigo que publicaram sobre o tema na revista científica “The American Journal of Bioethics”, os pesquisadores ingleses elencaram várias categorias de remédios que poderiam ser usadas para interromper a evolução da paixão. Os antidepressivos, por exemplo, reequilibram as concentrações de serotonina, reduzem pensamentos obsessivos, interferem na liberação de dopamina – portanto, haveria menos euforia diante do amado – e têm entre seus efeitos colaterais a queda da libido. Outras opções seriam as medicações que impedem a ação da testosterona, provocando diminuição do desejo. Apontam também a naltrexona, usada para tratar a dependência de opioides (receitados contra a dor) e contra o alcoolismo.
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A terceira etapa do amor é a do vínculo. Trata-se aqui do sentimento a longo prazo, sem o impulso da paixão, marcado por sensação de segurança e de proteção ao parceiro. Nessa fase, agem duas substâncias: a ocitocina e a vasopressina. A primeira é um hormônio envolvido na formação de laços afetivos e de fidelidade. “Ele é liberado quando há contato íntimo, um toque carinhoso”, explicou à ISTOÉ o americano Larry Young, diretor da Divisão de Neurociência Comportamental do Centro de Pesquisa Yerkes, da Emory University (Eua). Já a vasopressina atua na formação de vínculos nos cérebros masculinos. “Em outras espécies, ela é responsável por um comportamento associado à proteção de território”, disse Young. “Mas em espécies monogâmicas está relacionada a vínculo, provavelmente porque o cérebro masculino considera a fêmea parte de seu território.” Nessa química, também opera uma molécula chamada CRF, que ajuda a manter a relação por longos períodos. “Quando os amantes estão separados, a CRF os faz ter sentimentos negativos, até depressão”, completou Young.
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O americano é um dos mais proeminentes estudiosos da neurofisiologia do amor. Pesquisa o tema há 20 anos, usando como cobaias um tipo de ratazana cujo comportamento familiar se assemelha ao humano, mantendo longas relações com apenas um parceiro. Nas suas experiências, porém, ele provou que é possível manipular esse comportamento simplesmente agindo sobre as substâncias associadas ao vínculo. “Podemos bloquear qualquer um desses compostos e evitar que as cobaias construam laços ou se sintam mal quando um parceiro vai embora”, afirmou Young. Em um dos experimentos, ele usou um composto para impedir a ação da ocitocina nas fêmeas. Elas não criaram ligação com um parceiro e tornaram-se polígamas. “Teoricamente, drogas semelhantes poderão ser dadas às pessoas para manipular seu amor por seus companheiros”, disse o pesquisador.
O inglês Brian Earp, de Oxford, está otimista quanto à criação de mais recursos anti-amor. “Conforme o conhecimento do mecanismo cerebral por trás do sentimento se aprofundar, a tecnologia antiamor se tornará ainda mais poderosa”, acredita. Não se descarta, inclusive, a manipulação da memória por meio do emprego de técnicas adotadas hoje no tratamento de estresse pós-traumático. Nesse caso, o que se quer é apagar as lembranças ruins associadas ao evento que levou ao trauma. Um dos recursos é o uso do anti-hipertensivo propranolol. E mais opções estão em estudo, envolvendo treinamentos específicos e outras medicações. No caso do amor, os métodos seriam usados para fazê-lo desaparecer. “Pode-se imaginar terapia similar sendo usada para apagar a memória do amor”, afirmou a antropóloga Helen Fisher, da Rutgers University (Eua), também investigadora importante da área.
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MEMÓRIA
Estudiosa do amor no cérebro, Helen acha possível
apagar a lembrança do sentimento
Os pesquisadores defendem o uso de armas como essa para todos os casos nos quais a relação é claramente prejudicial e precisa ter um ponto final. “Imagine uma pessoa em um relacionamento violento. Ela sabe que precisa sair dessa situação, mas seu sentimento de vínculo é tão forte que não consegue”, disse Earp. “Se ela pudesse usar um remédio que possibilitasse uma separação emocional do parceiro, seria um uso possível.” O cientista cita outra circunstância. “Pense em alguém atraído por outra pessoa que não o seu parceiro, mas que quer continuar fiel”, exemplifica. “A tecnologia antiamor pode ajudá-lo a diminuir seus sentimentos de atração pelo outro.” Indivíduos com dificuldade para se recuperar de um rompimento e partir para outra experiência também se beneficiariam. Segundo Earp, em Israel já houve a adoção de uma das armas. Por determinação de rabinos, antidepressivos foram dados a jovens para aplacar sua libido de forma que ficasse mais fácil, no entendimento dos religiosos, seguir as normas da religião sobre o comportamento sexual.
A proposta de curar o amor desencadeou intensas reações na comunidade científica. Após a publicação do artigo do grupo inglês, pensadores de várias partes do mundo iniciaram um debate sobre as repercussões da proposta. A professora Kristina Gupta, da Universidade Georgetown (Eua), foi uma delas. Estudiosa da sexualidade humana, ela vê benefícios na aplicação de tecnologias para aplacar o sentimento. “Acho válido em alguns casos, como para alguém que quer terminar uma relação com um marido violento”, afirmou à ISTOÉ. “Mas é preciso se certificar de que os recursos não sejam usados para eliminar tipos de relacionamentos somente porque não são considerados aceitáveis pela sociedade. Um exemplo são as relações homossexuais”, completou.
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Especialista em filosofia e sexualidade, o canadense Neil McArthur, da Universidade de Manitoba, também reagiu. Ele defende que os recursos seriam úteis quando as pessoas não são aptas a se recuperar de forma sadia após um rompimento. “Como aquelas que começam a manter pensamentos suicidas ou a perseguir seus ex-parceiros”, exemplificou à ISTOÉ. E a exemplo de Kristina, prega a cautela. “Gostaria que esses remédios fossem muito bem regulados e usados em casos extremos.”
McArthur toca em um ponto central das discussões: como garantir que não haveria abuso na aplicação dos métodos antiamor. “Estamos preocupados com essa possibilidade”, afirmou à ISTOÉ o americano Gary Marchant, professor de tecnologias emergentes, lei e ética da Universidade do Arizona. Ele abordou a questão em um artigo publicado no “The American Journal of Bioethics”. “O iminente desenvolvimento de agentes antiamor nos coloca sob o sério risco de atitudes não éticas para manipular sentimentos românticos”, escreveu. Na opinião do especialista, é preciso começar a pensar em uma legislação que proteja, por exemplo, contra a manipulação involuntária do sentimento. “Mas isso será um desafio”, acredita.
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Há outra crítica importante levantada. Intervir para curar o amor embute o risco de tirar do ser humano uma oportunidade de evoluir. “Se tomarmos uma pílula a cada vez que uma relação não der certo, nunca aprenderemos a ver o que fizemos de certo ou errado e como nos tornar pessoas melhores”, afirma o canadense McArthur. “Além disso, pense em toda a maravilhosa arte, música e literatura feitas sobre o amor. Nada disso existiria se esses remédios estivessem disponíveis. A dor da perda nos torna criativos.”
Pondera-se também se a proposta não seria mais um caso de “medicalização” de um sentimento. Ou seja, de tornar um problema médico uma emoção natural. “Isso pode ser bom ou mau”, responde Brian Earp. “O alcoolismo, por exemplo, foi considerado durante muito tempo uma questão moral. Quando começou a ser tratado como um problema de saúde, houve a abertura para a criação de tratamentos. E eles melhoraram a vida das pessoas que estavam sofrendo”, defende o inglês.
Fotos: John Angerson, Divulgação, Kelsen Fernandes/Ag. Istoé

sexta-feira, 4 de abril de 2014

EUA aprovam tratamento portátil contra overdose

Dispositivo libera medicamento e pode ser usado por familiares ou outras pessoas próximas ao paciente antes do atendimento médico

Overdose: Novo dispositivo aprovado nos Estados Unidos pode ser usado em pessoas que sofreram overdose por drogas derivadas do ópio
Overdose: Novo dispositivo aprovado nos Estados Unidos pode ser usado em pessoas que sofreram overdose por drogas derivadas do ópio (Thinkstock)
A agência americana que regula medicamentos e alimentos, a Food and Drug Administration (FDA), aprovou nesta quinta-feira um tratamento contra overdose que pode ser aplicado fora dos hospitais. A terapia consiste em um dispositivo portátil que injeta um medicamento capaz de reverter os efeitos da dose excessiva de alguma droga. A ideia é que familiares ou outras pessoas próximas ao paciente possam ajudá-lo o mais rápido possível, elevando suas chances de sobrevivência. O dispositivo não está disponível no Brasil.
Chamado Evzio, o dispositivo libera uma dose única de naloxona, remédio que já é utilizado nos hospitais em pacientes que sofreram overdose, caracterizada por dificuldades em respirar, redução dos batimentos cardíacos ou perda de consciência. Uma vez ligado, uma gravação de voz dá instruções sobre como usar o dispositivo e aplicar a medicação no indivíduo.
Em nota, a agência americana explica que o dispositivo deve ser prescrito por um médico e usado em caso de emergência por familiares ou profissionais que cuidam de uma pessoa conhecidas por – ou suspeita de – usar drogas derivadas do ópio, como a heroína. O tratamento, no entanto, não elimina a necessidade de o individuo que sofreu overdose passar por atendimento médico.
“O Evzio é o primeiro dispositivo médico feito para fornecer uma dose de naloxona que deve ser administrada fora de um estabelecimento de saúde. Disponibilizar esse produto pode salvar vidas, pois facilita o uso precoce de medicamento em situações emergenciais”, diz Bob Rappaport, diretor da Divisão de Anestesia, Analgesia e Dependência Química do FDA.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Corida ajuda a preservar habilidades cognitivas na meia-idade, diz pesquisa

Em um estudo de 25 anos, atividades cardiovasculares auxiliaram a memória e a velocidade psicomotora

Corrida
Praticar atividades cardiovasculares na juventude ajuda a saúde cerebral depois dos 43 anos (Thinkstock)
Um estudo publicado nesta quarta-feira no jornal Neurology revelou que pessoas que praticam corrida ou outras atividades cardiovasculares podem ter a memória e as habilidades cognitivas conservadas na meia-idade (entre 43 e 55 anos).
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Cardiorespiratory fitness and cognitive function in middle age

Onde foi divulgada: periódico Neurology

Quem fez: Na Zhu, David R. Jacobs Jr, Pamela J. Schreiner, Kristine Yaffe, Nick Bryan, Lenore J. Launer, Rachel A. Whitmer, Stephen Sidney,   Ellen Demerath,  William Thomas, Claude Bouchard, Ka He, Jared Reis e Barbara Sternfeld

Instituição: Universidade de Minnesota em Mineápolis, nos Estados Unidos

Resultado: Os pesquisadores reveleram que pessoas que praticam atividades cardiovasculares na juventude podem ter melhor memória e habilidade cognitiva na meia-idade
Diversos estudos já mostraram os benefícios de uma boa saúde para o cérebro. "Essa é mais uma importante constatação que pode incentivar os jovens adultos a manter a saúde do cérebro por meio de corrida, natação, ciclismo ou aulas que trabalhem a capacidade cardiovascular", diz o autor do estudo, David R. Jacobs, da Universidade de Minnesota em Mineápolis, nos Estados Unidos.
Para realizar o estudo, os pesquisadores contaram com a participação de 2.747 pessoas saudáveis com idade média de 25 anos. Todas fizeram testes na esteira no primeiro ano do estudo e vinte anos depois. Já os experimentos cognitivos foram realizados 25 anos depois do começo da pesquisa e mediram memória verbal, velocidade psicomotora (que relaciona as habilidades de pensamento com o movimento físico) e função cognitiva.
Para o teste na esteira, os participantes andaram ou correram até a velocidade e a inclinação em que não suportavam mais continuar ou em que tinham dificuldades respiratórias. No primeiro teste, a média foi de 10 minutos de duração. Duas décadas depois, esse tempo diminuiu para 2 minutos e 54 segundos, em média.
No experimento cognitivo, foi constatado que cada minuto que o participante completava no primeiro teste se convertia, 25 anos depois, em 0,12 mais palavra recordada no exame de memória, que continha quinze palavras, e 0,92 mais acerto em um teste numérico. A análise dos resultados levou em conta fatores como tabagismo, diabetes e colesterol alto.
Segundo os cientistas, os participantes que tiveram resultados mais próximos no primeiro e no segundo teste mostraram melhor desempenho nas avaliações de funções cognitivas, comparados àqueles que sofreram um declínio mais acentuado. Os voluntários saíram-se melhor, por exemplo, em relacionar corretamente as cores apresentadas. "Essas mudanças são significativas, mesmo que modestas, já que superam os efeitos de um ano de envelhecimento no cérebro", explica Jacobs.

terça-feira, 1 de abril de 2014

Guiné: mortes por surto de Ebola chegam a 78

Segundo a organização humanitária Médicos Sem Fronteiras, a epidemia não tem precedentes no país

Vírus causador da ebola
Vírus causador da ebola (Reprodução)
Subiu para 78 o número de mortos na Guiné por causa de um surto do vírus Ebola, informaram nesta segunda-feira autoridades de saúde locais. Segundo o Ministério da Saúde da Guiné, os primeiros casos surgiram nas florestas ao sul do país. De lá, um paciente infectado levou o vírus à capital Conacri, que tem cerca de 2 milhões de habitantes.
Nesta segunda-feira, a organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF) classificou o surto de Ebola como uma epidemia sem precedentes. "Estamos diante de uma epidemia de magnitude nunca antes vista em termos de distribuição no país, porque atingiu a região sul e agora a capital", escreveu o coordenador da MSF na Guiné, Mariano Lugli, em uma nota enviada à imprensa.
O país vizinho Senegal fechou as fronteiras com a Guiné para evitar que pessoas infectadas com o vírus entrem em seu território. A Libéria, que também faz divisa com a Guiné, confirmou dois casos, entre eles uma morte. O surto de Ebola na Guiné é o primeiro do tipo na África Ocidental em duas décadas.