a Hospital Madre Teresa, Belo Horizonte, MG, Brasil
b Centre Orthopédique Santy, Hôpital Jean Mermoz, Lyon, França
INTRODUÇÃO
Ao longo dos últimos 15 anos o conhecimento a
respeito dalesão e da reconstruc¸ão do ligamento cruzado anterior
(LCA)tem evoluído consideravelmente. Estudos anatômicos permi-tiram
identificac¸ão precisa das inserc¸ões ósseas,1,2enquantoestudos
biomecânicos propiciaram melhor entendimento dafunc¸ão de cada um dos
seus feixes.2O melhor conheci-mento anatômico e o interesse biológico na
preservac¸ão dosremanescentes do LCA rompido levaram a modificac¸ões
dastécnicas clássicas de reconstruc¸ão: com dupla banda, anatô-mica e
seletiva para as lesões parciais.3-7
A lesão completa do LCA pode
ser diagnosticada peloexame clínico,8enquanto a lesão parcial muitas
vezes não.Nesses casos, estudos complementares são necessários parasua
confirmac¸ão. O diagnóstico definitivo da lesão parcial doLCA se dá pelo
somatório de achados clínicos, exames de ima-gem e, quando necessário,
achados artroscópicos. Na lesãoparcial do LCA é fundamental a avaliac¸ão
da competência eda funcionalidade das fibras remanescentes na
estabilizac¸ãodo joelho. Discute-se ainda se o evento em questão seria
umalesão parcial ou mesmo uma lesão completa em processocicatricial.7-9
Procura-se
consenso para definic¸ão, diagnóstico e trata-mento das lesões parciais
do LCA. Motivada pela discussãoainda existente na literatura e pela
necessidade de melhorentendimento, esta revisão tem como objetivo
discutir a lesãoparcial do LCA.
Definic¸ão
Norwood e Cross apud Colombet et
al.9descreveram a exis-tência de três bandas para o LCA com importância
anatômicae funcional: anteromedial (AM), posterolateral (PL) e
interme-diária. Outros descreveram a existência de duas bandas
cujafuncionalidade é conhecida e aceita.8-11Cada banda contribui-ria
separadamente para a estabilizac¸ão do joelho e poderia serlesada
separadamente nas lesões parciais. Para Hong et al.10as lesões parciais
seriam aquelas em que menos de 50% doligamento estariam lesados. Já para
Noyes et al.11a definic¸ãode lesão parcial estaria relacionada à
porcentagem das fibrasdo LCA lesadas, considerando que a ruptura de 50% a
75% dodiâmetro teria grande associac¸ão com insuficiência clínica.
A Associac¸ão Médica Americana, que divide as lesões emtrês graus de
gravidade, define como grau II as lesões trau-máticas do LCA quando da
existência de lesões parciais:entorse moderada causada por trauma direto
ou indireto.9A apresentac¸ão clínica nesses casos seria caracterizada
pordor e limitac¸ão funcional parcial, hemartrose e possibilidadede
episódios de instabilidade. DeFranco e Bach6propuse-ram definic¸ão
multifatorial que leva em considerac¸ão acombinac¸ão de fatores clínicos
e artroscópicos, com a qual osautores concordam.
Nas lesões
parciais do LCA o objetivo mais importante édeterminar a existência de
fibras remanescentes e a estabili-dade clínica com a permanência dessas.
Embora a avaliac¸ãoartroscópica permita observac¸ão dos remanescentes, o
usode portais tradicionais pode gerar confusão em sua
avaliac¸ão.Sonnery-Cottet e Chambat12sugerem a posic¸ão de figura de4
(Cabot) para melhor avaliac¸ão dos remanescentes da bandaPL. Crain et
al.,7Colombet et al.9e Sonnery-Cottet et al.13des-creveram padrões de
lesões parciais. Foram considerados deboa qualidade clínica 17% e de má
qualidade 83% dos casosavaliados. Os tecidos de melhor qualidade, com
proprieda-des mecânicas preservadas, foram mais frequentes quando
daexistência da banda PL (70%) em detrimento da cicatrizac¸ãono
intercôndilo (27%) ou de remanescente aderido ao liga-mento cruzado
posterior (13%). Embora existam estudos quedemonstram estabilidade
clínica associada à lesão parcial,Maeda et al.14não encontraram maior
estabilidade nessescasos.
Diagnóstico
O
diagnóstico das lesões parciais do LCA permanece desafia-dor. Deve ser
baseado na combinac¸ão do exame clínico e dosexames de imagem
(radiografia e ressonância magnética), comdiagnóstico definitivo feito
na avaliac¸ão artroscópica, quandoindicado.
Exame clínicoEm estudo
da Sociedade Francesa de Artroscopia,15a frouxi-dão detectada
clinicamente foi significativa (p < 0,05) quandocomparada com a
populac¸ão com lesão completa do LCA (98%dos pacientes com teste de
Lachman [TL] positivo e 80% comteste pivot-shift [TPS] positivo - + 2 ou
+ 3) com aqueles comlesão parcial (30% a 64% de TL «parada dura» ou
«retardada»
e com TPS negativos - 0 ou + 1). Neste estudo, o TL «paradamole» foi
considerado forte preditor de lesão completa doLCA, enquanto o TPS com
menor ressalto (0 e + 1) corresponde-ria, em 94% dos casos, a lesão
parcial ou mesmo cicatrizac¸ãoincompleta.
Estudos em cadáver
comprovam a dificuldade de se rela-cionar a magnitude da lesão e seus
tipos com as alterac¸õesdos testes clínicos.16Diversos autores relatam
possibilidadede encontrarmos TL «parada dura» diante de uma
lesãoparcial.9,16,17O TL é mais sensível para o diagnóstico das
lesõescompletas do LCA, embora o TPS e o teste de Jerk sejam
maisespecíficos.16-18Outro ponto a ser considerado é que a
sensi-bilidade do TPS aumenta de 24% para 92% quando o paciente
éavaliado anestesiado, a melhor situac¸ão para avaliar o estadofuncional
das fibras remanescentes.9,19-21Quando positivo,indicaria instabilidade
rotacional, não avaliada pelos testesde translac¸ão anterior
diferencial (TAD). Em casos negativos, aavaliac¸ão artroscópica
permitiria avaliac¸ão das lesões associ-adas que poderiam dificultar o
teste: lesões meniscais, lesõescondrais desviadas e interposic¸ão dos
próprios remanescentesdo LCA.
Mensurac¸ão da translac¸ão anterior diferencial
Diversos
aparelhos estão disponíveis para medir a TAD. Osmais conhecidos e
usados na prática clínica são KT 1000®,KT 2000®, Rolimeter®e Telos®. O
seu uso para diagnósticoé mais acurado nos casos de lesões subagudas e
crônicasquando do melhor controle álgico e da inexistência de
con-traturas musculares. A TAD é menor do que 3 mm em 95%dos joelhos
normais. Na avaliac¸ão comparativa, quando essatranslac¸ão é superior a 3
mm em relac¸ão ao lado assinto-mático, em 90% dos casos há lesão do
LCA. Medidas entre3 e 5 mm podem representar lesões
parciais.17,20,21Dejouret al.17descreveram diferenc¸a entre medidas de
translac¸ãoem pacientes com lesões completas e parciais. O primeirogrupo
apresentou média de 9,1 ± 3,4 mm versus 5,2 ± 2,9 mm(p < 0,05) das
lesões parciais. Observaram ainda que 67% dospacientes com preservac¸ão
da banda PL apresentavam ade-quada func¸ão clínica dos remanescentes,
contra 17% daquelesem que a banda AM estava presente. Considerou-se
remanes-cente funcional quando o TPS era 0 ou + 1 e quando a TADera
inferior a 4 mm. Atenc¸ão deve ser dada para o fato de queesses
aparelhos avaliam apenas a TAD sem qualquer avaliac¸ãorotacional. Seu
uso, associado aos demais testes e examesde imagem, é fundamental para o
diagnóstico e a definic¸ãoterapêutica.
Exames de imagem
RadiologiaA avaliac¸ão radiológica juntamente com a medida da
TADmostrou-se importante para o diagnóstico de lesão do LCA.Nos
indivíduos com lesão completa, na radiografia em per-fil com
anteriorizac¸ão da tíbia, pode-se perceber significativatranslac¸ão dos
compartimentos medial e lateral, enquantoque naqueles com lesões
parciais perceber-se-ia pequenatranslac¸ão quando comparado ao lado
normal.9,22
Figura 1 - Imagem por ressonância magnética de lesõesparciais do
ligamento cruzado anterior do joelho. A, lesãoda banda posterolateral e
preservac¸ão anteromedial;B, lesão da banda anteromedial e
preservac¸ãoposterolateral.
Ressonância magnéticaApesar de todo o
desenvolvimento tecnológico, ainda é difí-cil fazer o diagnóstico da
lesão parcial do LCA. A RM sugere alesão sem poder confirmá-la ou fazer a
avaliac¸ão funcional dasporc¸ões remanescentes.21-23Cortes específicos
são necessá-rios para fazer a distinc¸ão entre lesão completa e lesão
parcial.Van Dyck et al.22propuseram que determinadas visões axi-ais e
perpendiculares seriam mais acuradas no diagnóstico àRM. Junto ao exame
clínico e à TAD, a RM é importante paradefinic¸ão e orientac¸ão do
melhor tratamento (fig. 1).
Avaliac¸ão artroscópica
Foi proposta por alguns autores
para o diagnóstico das lesõesparciais.9,12,13,16,17Contudo, à luz dos
conhecimentos atuais,não há indicac¸ão para avaliac¸ão artroscópica
sistemática paradiagnóstico dessa lesão. A artroscopia permite
diagnosticaro tipo de lesão parcial e, junto com os exames clínico e
deimagem, determinar o melhor tipo de reconstruc¸ão naquelescasos em que
estiver indicado o tratamento cirúrgico (fig. 2).
Teoria
multifatorialAs lesões parciais são comuns e representam 10%-27%
daslesões do LCA.9A preservac¸ão das bandas AM e PL é vista em11% e 16%
dos casos, respectivamente. A frequência de lesõesmeniscais é semelhante
e a TAD média é de 4,49 e 4,97 mm res-pectivamente. O tempo entre a
lesão e o tratamento cirúrgicoé mais curto (cinco meses).3DeFranco e
Bach6propuserammelhor abordagem com uma definic¸ão multifatorial que
levaem considerac¸ão TL assimétrico, TPS negativo, TAD igual atrês e
inferior a 5 mm e avaliac¸ão complementar com RM eartroscópica
positivas.6,21,23
Tratamento
O tratamento
deve ser individualizado e adequado à neces-sidade de cada paciente. A
identificac¸ão de pacientes combaixo e alto risco de progressão da
deficiência clínica doLCA é fundamental para orientac¸ão terapêutica.
Pacientesde baixo risco são aqueles de baixa demanda física, semlesões
associadas, sem queixas de instabilidade e com tes-tes clínicos
negativos. Os sinais e sintomas geralmente nãotendem a progredir e tais
pacientes podem ser tratados deforma conservadora.9,21,23Pacientes de
alto risco são aque-les com instabilidade clínica comprovada e estilo de
vida dealto risco para novas torc¸ões. Nesses, a melhor opc¸ão seriaa
reconstruc¸ão cirúrgica seletiva do LCA.21,23A estratégia detratamento
deve levar sempre em considerac¸ão os sintomas,o exame clínico, a
porcentagem de fibras remanescentes, aslesões associadas, o tempo de
lesão e a demanda laboral, físicae cotidiana.
Tratamento conservador
O
tratamento conservador inclui imobilizac¸ão enquanto sinto-mático e,
após a fase aguda, estimulo à movimentac¸ão com-pleta e apoio
progressivo.9,21,23Os princípios da reabilitac¸ãopara pacientes com
lesão parcial são os mesmos usadospara pacientes com lesão completa.
Consistem de exer-cícios de alongamento e fortalecimento muscular,
treinocardiovascular, proprioceptivo e adaptativo.24-26Pujol et
al.27demonstraram que lesões parciais do LCA podem ter capaci-dade de
cicatrizac¸ão, ao contrário do que se pensava.O tratamento conservador,
quando bem indicado, tem bonsresultados, com mínima reduc¸ão no nível de
atividade e semprejuízo da estabilidade.21,23,24Outros autores têm
sugeridoque lesões parciais seriam funcionalmente equivalentes àslesões
completas e que o tratamento conservador implica-ria piores resultados
clínicos e funcionais.26,27Pujol et al.27descreveram série com 25% dos
pacientes com lesão parcial do LCA que evoluiu com instabilidade
funcional a médioe longo prazo. Avaliac¸ões seriadas seriam necessárias
paramonitorar a reabilitac¸ão e a frouxidão residual, o que permiti-ria a
avaliac¸ão da manutenc¸ão do tratamento conservador oua mudanc¸a para
abordagem cirúrgica.17,21,26-28
Tratamento cirúrgico
Indicac¸ãoO
tratamento com reconstruc¸ão seletiva do LCA, quandode lesões parciais,
pode ser justificado por diferentes fato-res. O primeiro deles é
clínico: grande número de lesõesparciais progride para lesões completas
com aumento daTAD e consequente possibilidade de lesões meniscais
econdrais.9,16,17,28O segundo é biológico: as fibras cen-tes do LCA
proporcionam adequado suprimento vasculare nervoso ao novo ligamento.
Mecanoceptores presentesnos remanescentes são responsáveis pela
preservac¸ão erestaurac¸ão da estabilidade e do equilíbrio
articular.3,4,7,27Avaliac¸ão histológica dos remanescentes do LCA
demonstrouque eles têm capacidade de acelerar a proliferac¸ão celu-lar, a
revascularizac¸ão e,consequentemente, a integrac¸ão doenxerto em
reconstruc¸ões seletivas.27-31O terceiro é epide-miológico: o risco de
lesões degenerativas após lesões parciaisainda não é estabelecido,
apesar de Kannus e Jarvinen25teremrelatado 15% de lesões degenerativas
após oito anos de segui-mento em lesões parciais.
O tratamentoA
reconstruc¸ão seletiva tem pontos semelhantes com areconstruc¸ão
anatômica do LCA: opc¸ões de enxerto, programade reabilitac¸ão e tempo
de retorno às práticas físicas. Adiferenc¸a primordial reside no
conceito biológico existente.Outras, no posicionamento e na fresagem dos
túneis, bemcomo no diâmetro e na passagem dos enxertos. As opc¸õespara o
tratamento cirúrgico das lesões parciais do LCA incluemmedidas
térmicas, reconstruc¸ão clássica e reconstruc¸ões sele-tivas. As medidas
térmicas e a reconstruc¸ão clássica não serãoabordadas nesta revisão.
A
avaliac¸ão artroscópica é iniciada pelos portais clássi-cos:
anteromedial e anterolateral. Alguns autores propõem acriac¸ão do portal
acessório anteromedial, o que facilitaria avisualizac¸ão do enxerto e
dos footprints. Sonnery-Cottet et al.29propõem a confecc¸ão
discretamente proximal do portal ante-rolateral para melhor
visualizac¸ão e menor necessidade dedesbridamento da gordura de Hoffa.
Após inventário de todosos compartimentos o tratamento das lesões
associadas é feitoe, no fim, avaliam-se as fibras remanescentes do LCA.
Essaavaliac¸ão é visual (com confirmac¸ão da presenc¸a de fibras
con-tínuas ligando footprints) e mecânica, feita tanto na posic¸ão
desemiflexão quanto na posic¸ão de figura de 4, quando a tensãoé
avaliada por meio da palpac¸ão e de testes clínicos sob
visãoartroscópica.32,33
Selec¸ão do enxertoA escolha do enxerto
deve seguir a rotina do cirurgião. Diver-sos autores têm descrito cada
vez mais o uso dos tendõesflexores, que poderiam ser triplos ou
quádruplos, livres ou
mantidos
na sua inserc¸ão tibial.3,4,9,13A presenc¸a de blo-cos ósseos poderia
dificultar a passagem pelos túneis feitos.O espac¸o existente no
intercôndilo associado à preservac¸ãodo maior número dos remanescentes
faz com que enxertosde 8 mm de diâmetro sejam os mais
adequados.5,9,12,13O con-ceito de que quanto maior o diâmetro do enxerto
melhor eleseria conflita com conceitos anatômicos de preservac¸ão
dosremanescentes e com a biologia da cicatrizac¸ão entre rema-nescentes e
enxerto.32,33
Detalhes técnicos
Reconstruc¸ão da banda AM
O
procedimento artroscópico se inicia pelo desbridamentocomedido dos
remanescentes da banda AM com preservac¸ãoda banda PL. Siebold e
Fu34recomendam uso do guia tibial em60?de angulac¸ão e entrada a cerca
de 1,5 cm medial à tuberosi-dade anterior da tíbia. A posic¸ão do túnel
femoral deve seguira presenc¸a dos remanescentes no fêmur em posic¸ão
anatô-mica. Para sua confecc¸ão podem ser usados guias inside-outou
outside-in. Quando da fresagem, a perfurac¸ão em baixavelocidade ou de
forma manual deve ser usada para evitarlesão dos remanescentes do LCA.
Reconstruc¸ão da banda PL
A
posic¸ão do túnel tibial é mais medial e inicia-se cerca de3,5 cm
medial à tuberosidade anterior da tíbia. A porc¸ão intra--articular é
localizada na parte posterior da inserc¸ão tibiale 5 mm medial à
eminência intercondilar lateral. O uso dosremanescentes femorais é a
forma mais confiável de achar olocal do túnel femoral. A confecc¸ão do
túnel femoral é feitapelo portal anteromedial ou outside-in. Para túneis
confecci-onados pelo portal medial, atenc¸ão deve ser dada para o
riscode lesões iatrogênicas no côndilo femoral medial no momento
Fixac¸ão do enxerto
A fixac¸ão vai depender da técnica usada. Para
aqueles queusam a técnica inside-out preconiza-se o uso de parafusos
deinterferência ou Endobutton®para a porc¸ão femoral e para-fusos de
interferência para a porc¸ão tibial. Para aqueles queusam a técnica
outside-ino uso de parafusos de interferênciase dá em ambos os túneis. É
discutido se a fixacão deveriaser feita sem ou após o
pré-tensionamento, o que teorica-mente garantiria melhor adaptac¸ão do
enxerto.28,29,34Para areconstruc¸ão seletiva da banda PL a fixac¸ão se
dá com flexãoentre 0?e 10?, enquanto para a reconstruc¸ão da banda AMo
ângulo de fixac¸ão é mais variável. Alguns autores descre-vem fixac¸ão
entre 50?-60?, enquanto outros preconizam 20?deflexão.9,21,23,34Após a
fixac¸ão, todo o arco de movimento deveser testado, com atenc¸ão
especial à extensão, que, quando nãoatingida, pode ser fonte de dor e/ou
perda de movimento.
Avaliac¸ão clínica
Mott foi o primeiro autor a propor com resultados clíni-cos
satisfatórios reconstruc¸ão seletiva após lesão aguda
doLCA.9,21,23Adachi et al.3,35e Ochi et al.4,36publicaram sériede
pacientes e compararam reconstruc¸ão seletiva e clás-sica do LCA com
menores TAD encontradas no primeirogrupo. Tal observac¸ão talvez se deva
à melhor vascularizac¸ãoe reinervac¸ão quando da reconstruc¸ão
seletiva. Em 2009,Ochi et al.36publicaram nova série de 45 pacientes
subme-tidos à reconstruc¸ão seletiva com seguimento de dois
anos.Demonstraram TAD inferior a 0,5 mm, melhor propriocepc¸ãoe
cicatrizac¸ão efetiva demonstrada no pós-operatório porRM. Tais achados
corroboram estudo de 2002 que demons-trou associac¸ão entre presenc¸a de
mecanoceptores nas fibrasremanescentes e melhor propriocepc¸ão.4,36
Buda
et al.5avaliaram 47 pacientes submetidos à recons-truc¸ão seletiva.
Resultados clínicos bons ou excelentes foramvistos em 95,7% dos casos.
Bons resultados clínicos foram correlacionados à integrac¸ão do enxerto
aos remanescentese ao sinal à ressonância magnética. Chamam atenc¸ão
parao fato de que em procedimentos de reconstruc¸ão seletiva oenxerto
deve ter entre 7 e 8 mm, o que evita o excesso de fibrasentre
remanescentes e enxerto.5,32Sonnery-Cottet et al.37ava-liaram 36
pacientes submetidos a reconstruc¸ão da banda AMe observaram TAD
inferior a 0,8 mm. Chouteau et al.,38emseguimento de pacientes tratados
com reconstruc¸ão seletivade lesões parciais, demonstraram similaridade
da estabilidadee da propriocepc¸ão em relac¸ão ao joelho normal.
Existem
poucas publicac¸ões que comparam reconstruc¸õesclássicas do LCA e
procedimentos de reconstruc¸ão sele-tiva com remanescentes funcionais e
não funcionais. Maiornúmero de estudos seria útil para avaliar o
ambiente criadopelos remanescentes e seus efeitos na cicatrizac¸ão do
enxerto.A reconstruc¸ão seletiva é encorajadora, embora ainda carec¸ade
evidências que comprovem seu real benefício.39
Considerac¸ões finais
Lesões
parciais do LCA são cada vez mais diagnosticadas.Representam 10% a 27%
de todas as lesões. Sua definic¸ãona literatura não é única. O
diagnóstico pode ser feito comassociac¸ão do exame clínico ao exame de
imagem e con-firmado pelo exame artroscópico. O teste do pivot-shift
sobanestesia, o teste de Lachman parada dura, achados à res-sonância
magnética, o nível e o tipo de atividade esportiva,o aspecto
artroscópico dos remanescentes e suas propri-edades mecânicas são
elementos usados pelo ortopedistapara decidir entre o tratamento
conservador, o tratamentocirúrgico com reforc¸o do LCA nativo
(reconstruc¸ão seletiva)ou a reconstruc¸ão clássica (anatômica) do LCA.
Quando daindicac¸ão cirúrgica, a preservac¸ão das fibras remanescentes
éparte fundamental, a fim de preservar a capacidade mecânica,vascular e
proprioceptiva do joelho.
Conflitos de interesse
Os autores declaram não haver conflitos de interesse.
Agradecimentos
Ao
Grupo do Joelho/Ortopedia e Traumatologia do Hospi-tal Madre
Teresa/Belo Horizonte/Brasil, ao Centre OrthopédiqueSanty/Lyon/Franc¸a.r
e f e r ê n c i a s
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