ROMA, 22 JUN (ANSA) – A Organização Mundial da Saúde (OMS) registrou neste domingo (21) o maior aumento absoluto no número de casos do coronavírus Sars-CoV-2 em um período de 24 horas, com 183 mil novos contágios.
O recorde anterior havia sido contabilizado na última quinta-feira (18), com 181,2 mil casos. No entanto é provável que esse número se deva a um problema na contabilização das estatísticas do Brasil.
A OMS diz que o país teve mais de 50 mil casos no período, mas, de acordo com o Ministério da Saúde, foram 17.459 novos contágios no domingo e 34.666 mil no sábado (20), o que totaliza 52.125 no fim de semana.
O monitoramento feito pela Universidade John Hopkins, dos EUA, também consolidou no domingo os casos confirmados no Brasil durante todo o fim de semana.
De acordo com o balanço da instituição americana, o mundo já registrou quase 9 milhões de contágios e mais de 468 mil mortes na pandemia. (ANSA)
Em vídeo nas
redes, suposto químico diz que esse produto chega a favorecer vírus e
bactérias — e que o vinagre seria útil. Mas isso é mentira
Por Chloé Pinheiro
O álcool gel é, sim, eficaz para reduzir o risco de infecções. (Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil/SAÚDE é Vital)
Em um vídeo que corre pelo WhatsApp, o “químico autodidata” Jorge Gustavoalega que passar álcool em gel nas mãos não é eficaz na prevenção de infecções por vírus e bactérias. Pior: ele favoreceria a transmissão de doenças como a Covid-19, provocada pelo novo coronavírus.
Só que todas essas afirmações são falsas. “O que ele fala é
simplesmente uma sucessão de besteiras, recheada por diversos erros
técnicos e conceituais”, resume Álvaro José dos Santos Neto,
farmacêutico doutor em Química Analítica e professor do Instituto de Química de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP).
A disseminação do vídeo levou o Conselho Federal de Química (CFQ) a liberar uma nota
esclarecendo que o álcool em gel 70% é, sim, eficiente para se proteger
de vírus e bactérias, assim como lavar a mão com água e sabão.
Uma dica da SAÚDE: o próprio fato de o autor se denominar um “químico
autodidata” levanta suspeitas. “O autor está sendo denunciado ao
Ministério Público, uma vez que se intitula químico sem o ser de fato.
Ele não tem nem formação nem registro em nenhum órgão competente”,
comenta Rafael Barreto Almada, presidente do Conselho Regional de
Química do Rio de Janeiro (RJ).
Essa profissão é regulamentada como a de engenheiros, enfermeiros,
psicólogos e tantas outras. Portanto, exige formação e cadastro em uma
entidade profissional, que estabelece regras para uma atuação ética.
As discrepâncias não param por aí. Como já virou tradição no É Verdade ou Fake News, vamos esclarecer uma a uma:
“O álcool não mata nada, não desinfeta nada, apenas esteriliza”
O álcool em gel, feito a partir do etanol, é um antisséptico — ou
seja, tem a função de desinfetar a pele humana. Só que o termo
desinfetante geralmente se refere a produtos utilizados em superfícies
inanimadas (como uma mesa, por exemplo).
“Já a palavra ‘esterilizar’ se refere a um processo que destrói toda
forma de vida microbiana, feito em equipamentos especializados e
substâncias ainda mais potentes, com objetos como instrumentos
cirúrgicos”, explica o microbiologista Jorge Sampaio, do Fleury Medicina
e Saúde.
A ação desinfetante do álcool é bem estabelecida. “Ele atua na parede
celular do agente infeccioso, desestruturando as proteínas ou lipídios
que a revestem”, detalha Almada. Tal processo consegue eliminar mais de
99% dos agentes infecciosos. E o novo coronavírus (chamado de SARS-CoV-2 pelos experts) não é exceção.
“A literatura científica conta com vários estudos, inclusive revisões
sistemáticas [que reúnem muitas pesquisas], atestando esse fato”,
comenta Santos-Neto. Não à toa, a substância é usada há séculos como
antisséptico em hospitais.
“Esse álcool gel tem mais de 70% de água e 20% de um espessante”
O 70% do rótulo (ou 70°, unidade de medida geralmente usada para a
versão líquida) significa que existem 70 partes de álcool para 100 do
produto final. Ou seja, em cada 100ml de formulação em gel, 70ml são
puro álcool.
Os outros 30% do frasco são feitos de água e de um espessante. A
combinação confere a consistência de gel, o que reduz o potencial
incendiário do álcool e prolonga seu tempo de ação nas superfícies.
Algumas marcas incluem ainda outros ingredientes para dar aroma e cor.
De qualquer jeito, formulações com mais de 50% de álcool já trazem
algum efeito antisséptico discreto, embora o recomendado seja investir
nas que contêm entre 70 e 85%. Produtos ainda mais concentrados eliminam
os germes, porém são caros, agressivos à pele, altamente inflamáveis e
com evaporação mais rápida.
“O agente gelatinoso usado como espessante pode carregar bactérias”
No vídeo, o “químico autodidata” Jorge Gustavo diz que um dos
principais problemas reside no espessante. Essa substância serviria de
veículo para bactérias, propagando doenças ao invés de preveni-las.
“Um gel puro, sem o devido cuidado, realmente pode servir como meio
de cultura para alguns micro-organismos”, reconhece Santos-Neto. “Mas o
álcool inibe esse processo”, arremata. Portanto, não há com o que se
preocupar com o produto vendido nas farmácias.
“Usar vinagre é melhor”
O ácido acético, princípio ativo do vinagre, tem mesmo ação frente a
bactérias. “Mas no vinagre doméstico essa concentração é baixa, e o
produto pode causar irritação nas mãos”, explica Sampaio. “Fora isso,
não há evidências de que o ácido acético seja eficaz contra vírus”,
complementa Ana Gales, infectologista da Universidade Federal de São Paulo.
Segundo o autor do vídeo, o vinagre só perderia em popularidade por
ser “extremamente barato”. Assim, a indústria não lucraria o suficiente
com ele.
Acontece que dá para adotar estratégias para economizar no álcool gel.
“Você pode comprar no atacado embalagens maiores, de um litro, e ir
reabastecendo potinhos menores. Isso barateia o custo”, ensina Almada.
De onde vem essa história?
A origem pode estar em um estudo divulgado em 2019 pelo periódico mSphere,
da Associação Americana de Microbiologia. Nele, pesquisadores japoneses
questionam as recomendações atuais sobre o uso de soluções à base de
álcool para eliminar o vírus influenza, causador da gripe.
Só que esse trabalho — que vai na contramão de vários outros — foi
prontamente refutado pela comunidade científica. Pesquisadores publicaram uma resposta no Journal of Hospital Infection,
apontando falhas no formato do estudo (como o fato de usarem uma
quantidade ínfima de álcool em gel por poucos segundos) e considerando o
achado irrelevante.
O grupo que desbancou esse estudo foi liderado pelo suíço Didier
Pittet, um dos maiores especialistas do mundo em doenças infecciosas.
Ele é diretor do Programa de Controle de Infecções e do Centro
Colaborador de Segurança do Paciente da Organização Mundial de Saúde
(OMS).
A ação do etanol a 70% contra os vírus da mesma família do novo
coronavírus é demonstrada em experimentos há pelo menos 15 anos. E um
novo artigo alemão, publicado no periódico Infection Prevention in Practice, sugere que o mesmo pode ser verdade para essa variante em circulação.
Hoje, o álcool em gel é recomendado para minimizar a disseminação do
coronavírus e outros pela OMS, pelo Centro Europeu de Prevenção de
Doenças, pelo Ministério da Saúde e por todas as entidades sérias
envolvidas de alguma maneira no tema.
Dicas para usar o álcool em gel
Ele funciona melhor quando não há sujeiras visíveis na pele. “Os
resíduos orgânicos prejudicam sua ação”, comenta Sampaio. Mais um motivo
para lavar as mãos com frequência.
Também é importante não encostar os dedos no bocal, verificar a
validade do produto e checar se há um químico responsável por sua
fabricação — uma informação obrigatória no rótulo.
“Uma dica: quando o produto fica opaco, é sinal que perdeu seu princípio ativo. Aí não será mais eficaz”, completa Ana.
Um médico
explica o porquê de o novo coronavírus causar sintomas mais sérios em
pacientes com problemas cardiovasculares. Saiba como se prevenir
Por Luciano Drager, cardiologista*
Pessoas com doenças cardíacas devem ter atenção especial com o novo coronavírus. (Ilustração: Pedro Hamdan/SAÚDE é Vital)
Pessoas com doenças cardiovasculares e idosos são mais propensos a desenvolver complicações da Covid-19, a doença provocada pelo novo coronavírus.
Segundo dados do Colégio Americano de Cardiologia (ACC), em fevereiro
de 2020, 40% dos hospitalizados com resultado positivo para essa
infecção apresentavam alguma patologia cardiovascular ou cerebrovascular
prévia. Além disso, 6,7% dos pacientes manifestaram arritmia e 7,2%,
uma lesão no miocárdio.
De acordo com relatos, além de insuficiência respiratória, o
desenvolvimento de insuficiência cardíaca contribuiu para a primeira
morte registrada associada ao Covid-19. Já no Brasil, o primeiro caso confirmado, também no final de fevereiro, é de um homem de 61 anos, hipertenso e cardiopata.
Mas como explicar essa maior vulnerabilidade à nova epidemia? De
maneia geral, indivíduos com doenças crônicas, como os acometidos por
problemas no coração, apresentam deficiência no sistema imunológico. Uma
vez infectados, eles correm um maior risco de exibir complicações sérias em relação a uma pessoa saudável.
No entanto, esse “privilégio” não é apenas para o coronavírus.
Qualquer infecção terá mais chances de afetar gravemente pacientes com
enfermidades que comprometem as defesas do corpo. Um exemplo é a
mortalidade relacionada à gripe (provocada pelo vírus Influenza), que é maior em pessoas com histórico de doenças cardiovasculares.
Outro fato que precisamos destacar — mas cujo papel em relação ao
novo coronavírus ainda não está claro — é de que vários pacientes com
males cardiovasculares usam medicações que podem favorecer sangramentos.
Dessa forma, contribuiriam para o agravamento da Covid-19.
O perfil incerto dessa doença ainda não permite traçar paralelos com
outros tipos de infecções virais. Mas a miocardite — uma inflamação no
músculo do coração às vezes desencadeada pela dengue
—, teoricamente também poderia ser provocada pelo novo coronavírus.
Obviamente, pesquisas na área são de muita importância para entender o
potencial impacto cardiovascular desse vírus emergente.
O fato de o coronavírus ainda ser pouco conhecido, com pesquisas
desenvolvidas em tempo real enquanto acompanhamos sua propagação pelo
mundo, traz insegurança para afirmações categóricas dos pesquisadores.
Mas a correlação desse agente infeccioso com o coração já não pode ser
descartada.
Se a população, de maneira geral, precisa seguir as orientações das
autoridades sanitárias para se precaver, os portadores de cardiopatias
devem estar ainda mais atentos, redobrando cuidados para minimizar a
probabilidade de contágio. Uma das orientações do ACC, inclusive, é que a triagem e o tratamento de pacientes com Covid-19 sejam priorizados na presença de diabetes
e doenças cardiovasculares, renais, respiratórias e outras crônicas.
Mas esse importante ponto de debate ainda não foi detalhado pelo
Ministério da Saúde do Brasil.
Como já destaquei, os idosos também estão entre o “público-alvo” do
vírus. E não apenas pela fragilidade imunológica ocasionada pela idade,
como também pela série de doenças que acometem essa faixa etária —
incluindo as complicações cardíacas.
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS),
os óbitos relacionados ao novo coronavírus estão mais presentes a
partir dos 70 anos: 8% dos indivíduos com doenças crônicas entre 70 e 79
anos não resistiram à infecção. Dos 80 anos em diante, o número sobe
para 14,8%. Na população em geral, a taxa fica em torno de 2%.
Aos pacientes com problemas cardíacos crônicos, vale redobrar os
cuidados, comunicar ao médico sobre possíveis sintomas e,
principalmente, investir em uma vida saudável, com boa alimentação e
exercícios físicos. Uma coisa podemos afirmar: nenhum vírus se sente em
casa em um corpo saudável. *Luciano Drager é cardiologista, diretor científico da Socesp (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo)
para o biênio 2020-2021 e professor associado do Departamento de
Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
(FMUSP).
A boa
notícia é que o medicamento foi capaz de reduzir o risco cardiovascular
mesmo entre quem nunca sofreu com um problema do tipo antes
Por Dr. Carlos Eduardo Barra Couri
O diabetes aumenta de duas a quatro vezes o risco de infarto e AVC. (Ilustração: Estúdio Barlavento/SAÚDE é Vital)
Não me canso de falar que o diabetes
é uma importante e negligenciada causa de morte no Brasil e no mundo.
Segundo dados do Boletim Epidemiológico do SUS de 2019, ele é a terceira
causa de morte em mulheres e a quarta em homens no país. As doenças e
complicações cardiovasculares, especialmente o infarto, ocupam o
primeiro lugar dessa nefasta lista.
O ponto é que o diabetes também contribui para os problemas do coração. Algo que os brasileiros desconhecem, como mostrou uma pesquisa feita em 2019 pela área de Inteligência de Mercado do Grupo Abril. É notório que pessoas com diabetes possuem de duas a quatro vezes mais risco de sofrer um infarto ou um acidente vascular cerebral (AVC).
Em resumo: além de ser uma das principais causas diretas de morte, a
doença colabora para as condições que mais matam no Brasil.
Desde o final dos anos 2000, a FDA, órgão que é a Anvisa dos Estados Unidos, solicita que todo medicamento para tratar o diabetes tipo 2
se prove seguro do ponto de vista cardiovascular. Nos últimos anos,
diversos estudos foram conduzidos e, felizmente, alguns remédios
demonstraram não apenas segurança mas também benefícios para o coração.
Este é o mundo ideal para nós, endocrinologistas, pois temos à
disposição medicações mais modernas que são capazes de baixar a glicose
no sangue e, ao mesmo tempo, proteger o sistema cardiovascular do
paciente.
No entanto, essa redução de risco cardíaco observada nas pesquisas
vinha ocorrendo em um grupo específico: pessoas com diabetes tipo 2 que
já tinham alguma sequela cardíaca de um problema anterior.
Aí veio a boa notícia com o estudo REWIND — e a FDA assinou embaixo. Esse trabalho avaliou a ocorrência de eventos cardiovasculares com um medicamento de uso subcutâneo semanal, a dulaglutida.
E o remédio injetável foi capaz de reduzir desfechos negativos mesmo em
pessoas com menor risco de panes cardíacas, aquelas que nunca tinham
tido problemas prévios.
Qual a relevância desse achado na prática? Ora, a grande maioria dos
pacientes com diabetes tipo 2 que frequenta os consultórios médicos não
apresenta danos cardíacos. E a medicação é um exemplo de terapia que
pode ser útil mesmo em fases iniciais do diabetes, quando o indivíduo
está livre de sequelas e complicações. É uma prova de conceito de como
podemos melhorar a prevenção para esses pacientes.
Epidemia do novo coronavírus já supera número de mortos da Sars - AFP/Arquivos
Ansa
Pela primeira vez desde o início da epidemia do novo coronavírus
(Sars-CoV-2), o número de pacientes curados na China superou a cifra de
novos casos confirmados em um único dia.
Segundo balanço divulgado nesta quarta-feira (19) pela Comissão
Sanitária Nacional (NHC), 1.824 pessoas receberam alta de hospitais
chineses na última terça (18), ao mesmo tempo em que as autoridades
confirmaram 1.749 novos contágios.
A quantidade de casos fora da província de Hubei, epicentro da
epidemia, caiu pelo 15º dia seguido e chegou a 56 na terça. Já em Hubei,
foram confirmados 1.693 novos pacientes, número diário mais baixo desde
11 de fevereiro e pelo segundo dia seguido abaixo de 2 mil.
Até o momento, o Sars-CoV-2 já atingiu 74,2 mil pessoas e matou 2.006
na China continental. Hong Kong registrou duas vítimas, enquanto
Taiwan, Japão, Filipinas e França tiveram uma cada, totalizando 2.012
mortos na epidemia.
Em todo o mundo, o novo coronavírus contaminou cerca de 75,3 mil
indivíduos, sendo 621 no navio de cruzeiro Diamond Princess, que está
bloqueado há duas semanas na costa do Japão.
Após o fim dos 14 dias de quarentena, os passageiros que testaram
negativo para o Sars-CoV-2 e não manifestaram sintomas começaram a
desembarcar nesta quarta-feira, em um procedimento que deve terminar
apenas na próxima sexta (21).
A Itália, que tem 35 cidadãos no Diamond Princess (a maioria
tripulantes), mandou uma equipe médica para avaliar suas condições de
saúde e deve enviar um avião para repatriação ainda na noite desta
quarta.
A aeronave evacuará cerca de 30 italianos – alguns tripulantes
preferiram ficar no navio – e 27 cidadãos europeus. O grupo ainda
passará por um período de quarentena em seu retorno a Roma, e um
italiano que já testou positivo para o novo coronavírus será repatriado
em um segundo momento. (ANSA)
Um membro da equipe médica
(e) que verifica a temperatura corporal de um paciente que apresentou
sintomas leves do coronavírus COVID-19, em um centro de exposições
convertido em um hospital em Wuhan, na província central de Hubei, na
China - AFP
AFP
A China anunciou nesta terça-feira (18) que isentará de tarifas
alfandegárias, adotadas dentro da guerra comercial com os Estados
Unidos, alguns equipamentos médicos americanos importados, com o
objetivo de lutar contra a epidemia de pneumonia viral.
Os equipamentos utilizados para as transfusões a pacientes ou para
medir a pressão arterial ficarão isentos de tarifas a partir de 2 de
março, segundo uma lista publicada pela Comissão de Tarifas do governo.
Na longa lista de produtos também estão alguns cortes de carne bovina
e suína congelados, soja, produtos derivados do petróleo e gás natural
liquefeito.
Alguns cereais (trigo, sorgo) e determinados tipos de materiais
também estão incluídos na isenção das tarifas punitivas adotadas pela
China durante o conflito comercial com os Estados Unidos.
A isenção, no entanto, não será automática: as empresas importadoras
chinesas devem apresentar uma solicitação específica para serem
beneficiadas pela medida.
O objetivo consiste em “atender melhor a crescente demanda dos
consumidores chineses”, afirmou a comissão em um comunicado, sem
mencionar o novo coronavírus.
A decisão coincide com a escassez de equipamentos médicos registrada
nos hospitais chineses, sobrecarregados pela epidemia de pneumonia
viral, que provocou quase 1.900 mortos e infectou 72.000 pessoas.
Ao mesmo tempo, as medidas de quarentena e as restrições drásticas
aos deslocamentos de pessoas afetam consideravelmente a produção e
transporte de produtos agrícolas.
Isto provocou um forte aumento de 20,6% nos preços dos alimentos em janeiro de 2020 na comparação com o início de 2019.
Estudo mostra que a antiga cirurgia
aberta para tratamento de câncer do colo do útero é mais eficaz do que a
moderna videolaparoscopia e tem menor risco
“A medicina tenta melhorar suas práticas para que a paciente
tenha boa recuperação
e maior sobrevida”
Mariano Tamura, ginecologista do
Hospital Albert Einstein (Crédito: Divulgação)
Anna França
Um
estudo publicado recentemente pela revista científica New England
Journal of Medicine chacoalhou a comunidade médica mundial e trouxe à
tona discussões sobre qual o melhor método de cirurgia nos casos de
câncer do colo do útero, um dos que mais atinge mulheres. Ao longo de
dez anos, 33 centros médicos espalhados pelo mundo trabalharam
intensamente avaliando quase 700 pacientes para saber qual era a melhor
técnica de operação e chegaram à conclusão de que a mais antiga, a
aberta, ainda era a melhor porque garantia êxito de 93% contra a
recidiva da doença comparado aos 85% de efetividade da moderna
videolaparoscopia.
O choque foi grande entre os médicos, que viam na cirurgia por
aparelhos, menos invasiva, um grande avanço para pacientes. Afinal, a
recuperação era mais rápida sem um grande corte na barriga. Por isso, a
técnica evoluiu para outras intervenções abdominais desde a década de
90. Mas, no caso do câncer de útero, não foi o que o se viu na prática,
conforme detectou o estudo, que contou com a participação da equipe do
Hospital Albert Einstein.
Para surpresa geral, o grupo tratado por laparoscopia tinha um risco
de 1,6 até 8,5 vezes maior de ter a doença de volta e, portanto, mais
chance de morte. Isso porque, diferente da aberta, a manipulação por
equipamentos pode elevar as chances de contato das células cancerígenas e
contaminação abdominal. Busca de resultado
Segundo o ginecologista do Einstein responsável pelo estudo no
Brasil, Mariano Tamura, a medicina sempre busca melhorar procedimentos
para que o paciente tenha recuperação rápida, menos seqüelas e maior
sobrevida. “Em países em desenvolvimento, como o Brasil, onde as pessoas
não têm acesso à prevenção, a sobrevida é crucial”, diz.
O câncer de colo de útero afeta mulheres entre 40 a 45, sexual e
economicamente ativas, tornando o cenário dramático. Em 99% dos casos há
ocorrência de HPV e, geralmente, este câncer é mais agressivo.
“Diferente do câncer de mama que atinge mulheres acima de 50, o de colo
de útero tem uma etapa pré-maligna, o que ajuda nas chances de
sobrevida”, diz ele.
Para o ginecologista do Hospital Sírio Libanês, Alexandre Pupo, o
estudo mexeu com o mundo médico porque representa um refluxo da
tecnologia. “Nas mudanças, deixamos de fazer coisas importantes, como
isolamento da massa tumoral para que não haja contaminação de células
cancerosas na cavidade abdominal. Mas medicina é baseada em estudos e
comparações para oferecer o melhor aos pacientes e teremos de dar um
passo atrás”, diz o especialista em oncologia ginecológica.
Mas para o Sistema Único de Saúde (SUS) pode representar uma economia,
uma vez que os equipamentos são caros. “Como a cirurgia aberta requer
menos recursos, os profissionais devem usar as técnicas tradicionais”,
diz Tamura.
O Japão colocou em quarentena
o navio Diamond Princess, com mais de 3.000 pessoas, devido ao temor de
casos de coronavírus - JIJI PRESS/AFP/Arquivos
Agência Brasil
Autoridades sanitárias do Japão informam que foi confirmada a
infecção pelo novo coronavírus de mais dez pessoas em um navio de
cruzeiro atracado em Yokohama, nas proximidades de Tóquio, elevando para
20 o número total de casos na embarcação.
Cerca de 3.700 passageiros e a tripulação a bordo do Diamond Princess
foram postos em quarentena após um homem de Hong Kong ter tido a
infecção pelo vírus confirmada, pouco após desembarcar em sua cidade
natal.
Autoridades sanitárias vêm testando amostras de 120 pessoas que
apresentaram sintomas como febre e tosse, e de mais 153 pessoas que
tiveram contato próximo com aquelas que apresentam sintomas. Todos os
dez novos casos foram confirmados em passageiros nas faixas dos 50 a 70
anos.
Quatro deles são japoneses. Há ainda dois americanos e dois canadenses, além de um neozelandês e um taiwanês.
As autoridades dizem que todos apresentam sintomas que incluem febre.
Eles foram transferidos para instituições médicas na província de
Kanagawa.
Os outros passageiros e membros da tripulação terão de permanecer no
navio por pelo menos duas semanas enquanto testes são realizados. *Emissora pública de televisão do Japão
Ambulâncias e pessoal médico
transferem um homem que estava no cruzeiro World Dream do terminal Kai
Tak de Hong Kong, em 5 fevereiro de 2020 - AFP
AFP
A quarentena e as restrições se intensificaram nesta quarta-feira (5)
na China e no resto do mundo para tentar controlar a epidemia de
pneumonia viral que já matou ao menos 560 pessoas e se espalhou por
vinte países.
As autoridades de Wuhan, epicentro da epidemia, anunciaram 2.987
novos casos, elevando a mais de 27.000 os infectados com o vírus.
Após a quarentena em toda a cidade de Wuhan e na província de Hubei
(centro), que afeta 56 milhões de pessoas, um número crescente de
cidades do leste da China impõem restrições aos deslocamentos a outras
dezenas de milhões de pessoas.
Em Wuhan, as autoridades admitiram uma falta “severa” de leitos,
“equipamento e material” e que os médicos estão sobrecarregados.
A OMS pediu nesta quarta 675 milhões de dólares à comunidade
internacional e anunciou o envio a 24 países de 500.000 máscaras
cirúrgicas e 350.000 pares de luvas, assim como 250.000 kits de detecção
do vírus para mais de 70 laboratórios de todo o mundo.
A fundação Bill e Melinda Gates se comprometeu nesta quarta-feira a
investir 100 milhões de dólares na luta contra o novo coronavírus, dos
quais US$ 60 milhões serão consagrados à busca de uma vacina,
tratamentos e utensílios de diagnóstico.
– Aumenta o balanço de vítimas –
Ao menos 560 pessoas morreram pelo vírus 2019-nCoV na China
continental (sem contar Hong Kong e Macau), a maioria em Hubei, segundo o
mais recente balanço oficial.
Mais de 27.000 casos foram confirmados no país, entre eles um bebê de um dia de vida, segundo a imprensa estatal chinesa.
Cerca de 200 casos foram confirmados fora da China continental em
cerca de 20 países e territórios autônomos chineses, entre eles Hong
Kong, que registrou seu primeiro morto nesta terça-feira.
Nos Estados Unidos foi identificado um novo caso no estado do Wisconsin em um adulto que havia estado em Pequim.
Dois aviões militares da Força Aérea Brasileira (FAB) decolaram para
repatriar brasileiros confinados em Wuhan e outros dois aviões
americanos repatriaram cidadãos dos Estados Unidos, que vão enviar mais
dois aviões na sexta-feira para o mesmo propósito.
No Japão, 3.700 pessoas de dezenas de nacionalidades estão em
quarentena por 14 dias em um navio de cruzeiro após se descobrir que dez
pessoas tiveram resultado positivo para exames de detecção do vírus. E
em Hong Kong, os 1.800 passageiros de outros cruzeiros estavam retidos.
Autoridades de Hong Kong fecharam na prática todas as passagens
fronteiriças com o resto do país e imporão a partir de sábado uma
quarentena de duas semanas a todos os visitantes provenientes da China.
As companhias aéreas americanas United e American Airlines anunciaram
nesta quarta a suspensão dos voos para Hong Kong após terem suspendido
os da China continental, e a Indonésia interrompeu os voos com a China,
deixando em solo milhares de turistas chineses em Bali.
– Ruas desertas –
Na China, onde as medidas de confinamento se intensificam, várias
cidades da província de Zhejiang (leste), a centenas de quilômetros de
Wuhan, decretaram novas restrições a deslocamentos.
Em Hangzhou, uma metrópole tecnológica e turística, 150 km a sudoeste
de Xangai, que registrou 200 casos, interrupções de ruas impediam a
circulação até a sede da gigante do comércio online Alibaba, e a cidade
só autoriza a saída de uma pessoa por residência a cada dois dias para
se abastecer.
“Por favor, não saiam! Não saiam! Não saiam!”, repetia um
alto-falante em Hangzhou, exortando o uso de máscaras, lavar as mãos
regularmente e reportar qualquer caso em Hubei, ante o temor de que
infecte outras pessoas.
Em Zhumadian, Henan, província fronteiriça com Hubei, apenas uma
pessoa por residência pode ir à rua a cada cinco dias e compensações
financeiras são prometidas a quem denunciar pessoas procedentes de
Hubei.
“Devemos adotar medidas drásticas para combater e eliminar todo tipo
de ação perturbadora realizada por forças hostis”, informou nesta quarta
o ministério de Segurança Pública.
Diante das fortes críticas por sua gestão da crise, o governo reconheceu “erros”.
Wuhan, cujo sistema de saúde está sobrecarregado, recebeu na
terça-feira os primeiros doentes em um novo hospital construído em dez
dias e que conta com mil leitos.
Outro hospital deste tipo abrirá as portas em breve, enquanto outros oito edifícios eram adaptados para receber os doentes.
– Airbus paralisada –
Paralisada
pelas restrições e praticamente isolada do mundo, a economia chinesa
poderia sofrer as consequências durante muito tempo. As férias por
ocasião do Ano Novo se estenderam até o próximo fim de semana em várias
províncias e as fábricas ficarão fechadas até pelo menos 9 de fevereiro.
A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde,
assegurou nesta quarta que a propagação do novo coronavírus chinês
adiciona uma “nova dose de incerteza” ao crescimento econômico.
A fabricante europeia de aviões, Airbus, anunciou nesta quarta-feira
que sua cadeia de montagem do A320 em Tianjin, perto de Pequim,
continuará fechada por tempo indeterminado.
Diante do avanço da epidemia, os organizadores dos Jogos Olímpicos de
Tóquio, que serão realizados entre 24 de julho e 9 de agosto, disseram
estar “extremadamente preocupados”.
Pedestres se protegem com máscaras em Hong Kong - AFP
AFP
Taxa de mortalidade, nível de transmissão, momento em que um paciente
se torna contagioso, período de incubação: as incógnitas ainda não
permitem determinar o impacto global da epidemia causada pelo novo
coronavírus que surgiu na China.
– Qual a taxa de mortalidade?
Mais mortal que a gripe, porém menos virulenta do que as epidemias
anteriores de coronavírus: este parece ser o perigo do novo coronavírus,
batizado de 2019-nCoV, mesmo que sua taxa de mortalidade ainda não
tenha sido determinada com precisão.
Até o momento, 361 pacientes morreram em 17.200 casos confirmados na
China. A primeira morte fora deste país foi registrada no domingo nas
Filipinas, um chinês de 44 anos da cidade de Wuhan, dos 150 pacientes
listados em 24 outros países.
“2% dos casos confirmados morreram, o que permanece alto quando
comparado à gripe sazonal”, disse Michael Ryan, diretor de programas de
emergência da OMS.
Essa taxa é “equivalente a todas as pneumonias virais presentes no
hospital. Não é um assassino de perigo extremo”, minimiza Didier Raoult,
diretor do IHU Méditerranée Infection em Marselha, embora reconheça que
“a verdadeira gravidade dessa infecção respiratória não será conhecida
até o final da história”.
Não se sabe quantas pessoas estão realmente infectadas. A taxa de
mortalidade indicativa diminui a cada dia, pois, proporcionalmente, o
número de novos casos registrados aumenta mais rapidamente do que o
número de mortes.
Um estudo publicado na sexta-feira na revista médica The Lancet
estima em 76.000 (mais de dez vezes a estimativa oficial) o número de
pessoas infectadas em Wuhan, o berço da epidemia, com base em projeções
estatísticas.
As duas epidemias mortais anteriores causadas por um coronavírus,
Sars (Síndrome Respiratória Aguda Severa) e Mers (Síndrome Respiratória
do Oriente Médio), foram muito mais virulentas.
A epidemia de Sars matou 774 pessoas em todo o mundo em 2002-2003, de
acordo com a OMS, incluindo 349 na China continental e 299 em Hong Kong
dos 8.096 casos, com uma taxa de mortalidade de 9,5%.
Ainda em andamento, a epidemia de Mers fez 858 mortos de 2.494 casos desde setembro de 2012, uma taxa de 34,5% de mortalidade.
A gripe sazonal é muito mais mortal em números absolutos, pois mata
entre 290.000 e 650.000 pessoas por ano em todo o mundo, de acordo com a
OMS.
Além da periculosidade do vírus, é também sua capacidade de transmissão que determinará a gravidade da epidemia.
“Um vírus relativamente pouco agressivo ainda pode causar grandes danos se muitas pessoas o pegarem”, disse Ryan.
– Qual o nível de contágio?
Um dos parâmetros importantes é o número de pessoas infectadas por
pessoa infectada, denominada “taxa básica de reprodução” (ou R0).
Nos últimos dias, diversas estimativas foram feitas por diferentes equipes de pesquisa, variando de 1,4 a 5,5.
A mais recente é de pesquisadores chineses, autores de um estudo
publicado na revista médica americana NEJM. Eles estimam que cada
paciente infectou uma média de 2,2 pessoas.
É maior que a gripe de inverno (cerca de 1,3), significativamente
menor que o sarampo, altamente contagiosa (mais de 12) e comparável à
Sars (3).
– Podemos ser contagiosos sem sintomas?
Autoridades chinesas argumentaram que o contágio era possível antes
do aparecimento dos sintomas (que é o caso da gripe, mas não o da Sars).
Essa hipótese, que não foi confirmada, poderia complicar o controle
da disseminação do vírus, pois dificultaria a localização de pessoas
infectadas.
Mas mesmo que essa hipótese seja comprovada, seria necessário “ver o
que pesa na dinâmica da epidemia”, ressalta Arnaud Fontanet, do
Instituto Pasteur de Paris.
De fato, a tosse de um paciente infectado é um vetor importante para a
transmissão do vírus, mas um paciente sem sintomas não tosse.
– A quarentena exclui os riscos?
Além das medidas de contenção na China, que têm como alvo dezenas de
milhões de habitantes em torno de Wuhan e Wenzhou, vários países
estabeleceram uma quarentena de 14 dias para seus cidadãos repatriados.
Essa duração foi decidida com base no provável período de incubação
do novo coronavírus: a OMS estima o tempo entre a infecção e o
aparecimento dos primeiros sintomas entre dois e dez dias, enquanto um
estudo chinês publicado no NEJM estima em 5,2 dias, em média, com uma
grande variação dependendo do paciente.
O fato de a estimativa ser preliminar e “imprecisa” justifica “um
período de observação ou quarentena de 14 dias para os expostos”,
escrevem os pesquisadores chineses.
Além disso, uma pessoa que não declarou nenhum sintoma e que não foi
novamente exposta a um risco de contágio é considerada fora de risco.
– Quais os sintomas?
O quadro clínico da doença respiratória causada pelo novo coronavírus
se torna mais claro após a análise dos primeiros 99 casos identificados
na China, publicada no The Lancet.
Todos esses pacientes apresentavam pneumonia, a maioria apresentava febre e tosse, e um terço sofria de falta de ar.
A idade média desses pacientes é de 55 anos, dois terços são homens e
metade sofrem de doenças crônicas (problemas cardiovasculares,
diabetes…). Em 25 de janeiro, 11 desses pacientes morreram, 57 ainda
estavam hospitalizados e 31 receberam alta.
Não há vacina ou medicamento para o coronavírus, e o atendimento
envolve o tratamento dos sintomas, incluindo febre. Alguns pacientes
ainda recebem antivirais, cuja eficácia está sendo avaliada.
– Qual a origem?
A pista de um vírus do morcego, mencionada por pesquisadores desde o início da epidemia, parece se confirmar.
De acordo com um estudo publicado nesta segunda-feira na revista
Nature, o genoma do vírus retirado de cinco pacientes seriamente
afetados, que trabalhavam no mercado em Wuhan onde os primeiros casos
apareceram, é “idêntico a 96%” do de um coronavírus que circula em
morcegos.
No entanto, ainda não se sabe qual animal o transmitiu aos seres
humanos. Identificar esse hospedeiro intermediário pode ajudar a conter a
epidemia.
No caso da Sars, onde o animal em questão foi a civeta, e a proibição
do consumo desse mamífero tornou possível “impedir qualquer
reintrodução” do vírus, lembra o professor Arnaud Fontanet.
Por outro lado, uma das razões pelas quais a epidemia de Mers
continua é o fato de o reservatório do vírus ser o dromedário, um animal
doméstico.
Surto de nova doença respiratória
causada pelo coronavírus 2019-nCoV começa na China, se alastra pelo
mundo, coloca autoridades sanitárias de prontidão, inclusive no Brasil, e
causa forte impacto econômico e social
Vicente Vilardaga
A expectativa do surgimento de uma pandemia causada por um vírus
poderoso e incontrolável circula em algumas mentes apocalípticas. E,
infelizmente, não se trata de preocupação infundada. Mais uma vez surge
uma ameaça microscópica capaz de atingir milhões de pessoas e causar
mortes em massa.
O surto do novo coronavírus, chamado de 2019-nCoV, que começou num
mercado de carnes na cidade de Wuhan, na China, vem causando pânico
global, derrubado bolsas de valores em todo o mundo e provocado perdas
econômicas expressivas. A curva da epidemia é ascendente e, até
quinta-feira 30, 7711 pessoas haviam sido infectadas e 170 morreram. A
doença foi detectada em pelo menos 20 países e se espalha rapidamente.
No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, há nove pessoas suspeitas de
terem contraído o vírus. Embora se perceba uma reação rápida e vigorosa
das autoridades sanitárias de todos os países, coordenada pela
Organização Mundial de Saúde (OMS), o problema é seríssimo e exige
reforço das barreiras de controle e aumento da vigilância do transporte
internacional de passageiros para evitar que o 2019-nCoV se alastre.
Idosos, crianças, gestantes, pessoas com males crônicos como diabetes ou
alguma cardiopatia, são especialmente vulneráveis e correm mais risco
de serem atingidas de forma severa pela doença.
O Ministério da Saúde declarou situação de risco iminente no Brasil, onde o medo da doença já é sentido e há nove casos suspeitos de infecção pelo coronavírus
A epidemia de coronavírus, que foi comunicada pelo governo chinês à
OMS no primeiro dia do ano, pode durar vários meses e sua evolução ainda
é imprevisível. Alguns desses vírus que atacam o sistema respiratório
são sazonais e, numa perspectiva otimista, pode estar ocorrendo um pico
de contágio para depois haver uma pausa, talvez na mudança de estação, o
que ainda está distante. Além disso, há certamente muito mais pessoas
infectadas do que revelam os números oficiais, principalmente na China,
já que os sintomas do contágio pelo coronavírus são comuns a muitas
outras moléstias e podem demorar até duas semanas para aparecer. Mais de
100 mil pessoas no mundo estão sob observação neste momento. Para
completar, já foi confirmada a transmissão da doença entre humanos,
tanto na Ásia como na Europa, e também se comprovou que indivíduos
infectados assintomáticos oferecem risco de contágio, o que torna o
2019-nCoV extremamente perigoso.
A OMS, que a princípio classificou o risco do coronavírus como
“moderado”, mudou a classificação durante a semana para “alto” e, no
território chinês, para “muito alto”. Em uma reunião na quinta-feira 30,
a OMS declarou situação de emergência global por causa da doença. O
diretor-executivo da organização, Mike Ryan, disse que a decisão foi
tomada por causa das “evidências de aumento de casos de transmissão
entre humanos fora da China”. “A evolução do surto preocupa e levou os
países a agir”, afirmou. ”Agora, o mundo inteiro precisa estar em
alerta, preparado para adotar ações de contenção. O momento é crucial. A
transmissão ainda pode ser interrompida, mas precisamos nos comprometer
a fazer isso”. Segundo Ryan, 20% dos casos notificados até agora são
classificados como “severos”. É a sexta vez que a OMS declara emergência
global. A última foi em 2016, na epidemia do vírus zika.
O medo da doença já pode ser sentido no Brasil, onde o Ministério da
Saúde declarou situação de “perigo iminente”. Embora nenhuma caso ainda
tenha sido confirmado no País, já se vêem pessoas com máscaras
circulando pelo transporte público de grandes cidades e as autoridades
sanitárias estão mobilizadas. O Ministério informou, quarta-feira 29,
sobre os nove casos suspeitos de infecção que estão sendo investigados
em seis estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Santa
Catarina e Ceará. Três possíveis doentes estão em São Paulo. Os
hospitais locais se preparam para um surto de coronavírus. “Houve 33
notificações, mas os nove casos que se enquadraram na definição de
suspeitos são de pessoas que viajaram para a China. Nenhum foi de pessoa
que teve contato com outro suspeito”, disse o diretor do departamento
de Imunização e Doenças Transmissíveis, Júlio Croda, referindo-se à
transmissão entre humanos. “Estamos em emergência de saúde pública e não
podemos perder a oportunidade de intervenção. A notificação (de
suspeita) deve ser imediata e pode ser feita por diversos meios de
comunicação”. Croda chamou atenção para o fato dos sintomas dos
coronavírus serem confundidos com os de outras doenças, o que dificulta
sua identificação. Os principais sintomas do 2019-nCoV, também chamado
de “gripe de Wuhan”, são febre alta, dores no corpo, tosse e falta de
ar. Nos casos mais leves ela se assemelha a um resfriado, mas, nos mais
graves, a doença leva à pneumonia e à insuficiência respiratória aguda,
causando óbito. Os pacientes suspeitos de terem contraído a infecção
passarão por testes genômicos para identificação do coronavírus. Num
primeiro momento, eles terão duas amostras de material genético enviadas
para os Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacen). Em seguida,
caberá à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) validar o diagnóstico com
testes específicos. Velocidade de contágio
O mais preocupante até agora é a velocidade de contágio do novo
coronavírus. De um dia para o outro, têm surgido entre 500 e 1000 novos
casos e o número de mortes gira em torno de dez por dia. Os mais de 7700
casos de contágio pelo 2019-nCoV, em menos de um mês, já se aproximam
dos 8096 registrados, em 2002, na epidemia da Síndrome Respiratória
Aguda Grave (SARS), também causada por um coronavírus, e superam com
folga os 2494 do surto de Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS),
ocorrido em 2012. Em contrapartida à velocidade de propagação, a “gripe
de Wuhan” revela uma letalidade mais baixa que outras epidemias. Com
170 óbitos, sua taxa de mortalidade vem ficando um pouco acima de 2%.
Com a SARS, essa taxa chegou a 9,6% e na MERS, a 34,4%, segundo a OMS.
De um modo geral, se considera que o 2019-nCov é menos letal, mas
mais contagioso que seus antecessores, embora seu longo período de
incubação ainda não permita conclusões definitivas. Ele é muito mais
para perigoso que o H1N1, chamado de gripe suína. “Já se trata de uma
pandemia, tendo em vista que atravessou o país de origem, atingiu outros
continentes e há transmissão entre humanos”, afirma o médico
infectologista Caio Rosenthal. “Ao que tudo indica, pela velocidade de
transmissão, é um vírus extremamente contagioso. Por ser novo, ele pega o
sistema imunológico desprevenido e não há tempo para produção de
anticorpos”. Por outro lado, Rosenthal vê uma vantagem na competição com
o coronavírus, que foi seu rápido mapeamento genético. Seu genoma já
está totalmente reconhecido pelo cientistas chineses e isso deve
facilitar bastante o desenvolvimento de uma vacina. Ele acredita que
dentro de dois ou três meses essa vacina começará a ser produzida.
Para a professora da Unifesp e consultora da Sociedade Brasileira de
Infectologia (SBI), Nancy Belley, o fato do período de incubação ser
longo e pacientes assintomáticos poderem transmitir a doença dificulta a
contenção da epidemia. Além disso, houve uma demora de pelo menos duas
semanas para que o governo chinês começasse a estabelecer restrições de
mobilidade para as pessoas da região mais atingida. O prefeito de Wuhan,
que pediu demissão do cargo, chegou a admitir que as autoridades de
saúde foram muito lentas na transmissão de informações. “Fica difícil
identificar rapidamente e isolar as pessoas doentes e monitorar as
outras pessoas com quem elas tiveram contato”, afirma. “O último surto
mortal de coronavírus a atingir a China, o do SARS, era contagioso
apenas a partir do momento em que os sintomas apareciam”. Ela chama
atenção para a possibilidade de vários casos de óbito envolverem
pacientes que já sofriam de uma doença prévia, como problemas cardíacos e
pulmonares. É o que se chama de comorbidade. Nesses casos, há um risco
maior de uma morte súbita. “Se o coronavírus atinge uma população mais
vulnerável, as taxas de mortalidade tendem a crescer”, diz Nancy, que
também acredita no desenvolvimento relativamente rápido de uma vacina. A origem de tudo
Wuhan, capital da província de Hubei, epicentro da nova epidemia, tem
11 milhões de habitantes e é uma cidade cosmopolita, que recebe
milhares de cidadãos de outros países para trabalhar em sua pujante
indústria. As autoridades chinesas dão como certo que o surgimento da
doença aconteceu num mercado local onde se vende carne de centenas de
animais, muitos deles selvagens. A hipótese mais plausível é que o vírus
mutante tenha vindo de morcegos, como no caso da SARS, mas também se
considera a possibilidade dele ser originário de cobras. A transmissão
para o ser humano pode ter acontecido pela alimentação ou pelo manuseio
do animal e o contato com suas secreções. Os agentes de vigilância
sanitária da China fizeram uma inspeção e testaram cerca de 500 espécies
disponíveis no mercado, de insetos a mamíferos. Em 30 delas, o vírus
foi encontrado. Cerca de 80% do material genético do 2019-nCoV é
idêntico ao do coronavírus da SARS. Segundo Leonardo Weissmann,
infectologista do hospital Emilio Ribas, em São Paulo, não é novidade
que os novos vírus que surgem e ataquem seres humanos venham de
mamíferos, répteis e aves. O HIV, por exemplo, veio de macacos e o vírus
da gripe espanhola, o Influenza, um verdadeiro carrasco da humanidade
que matou 20 milhões de pessoas no planeta, há cem anos, se originou de
aves. Os cientistas dão como certo o surgimento, a qualquer momento, de
uma nova mutação do Influenza. Weissmann diz que o 2019-nCoV é a sétima
cepa de coronavírus já encontrada em seres humanos.
Por causa da epidemia, a última semana começou com pânico nos
mercados globais. O temor da perda de controle das autoridades
sanitárias chinesas sobre a doença, fez as empresas brasileiras com
ações no Ibovespa perderem cerca de R$ 50 bilhões em valor de mercado.
Vale, Petrobrás, Gerdau, CSN e Suzano, grandes produtoras brasileiras de
commodities, tiveram seu valor reduzido em R$ 42,3 bilhões. Segundo a
agência Bloomberg, as bolsas globais perderam, ao todo, US$ 1,5 trilhão
por causa do avanço da pandemia, mesmo com as bolsas da China e do Hong
Kong fechadas por causa do feriado prolongado local do Ano Novo Lunar.
Devido ao receio de que a doença afete o mercado chinês, assim como a
atividade industrial e a construção no país, houve queda no preço do
petróleo e de minérios como cobre e ferro. Houve também forte
desvalorização no yuan. Na China, lojas foram fechadas e as empresas
estenderam os feriados para manter as pessoas em casa. Para tranquilizar
os mercados, o presidente Xi Jinping veio a público e, em discurso na
televisão estatal, disse que “o vírus é um demônio e não podemos deixar o
demônio se esconder”. “A China fortalecerá a cooperação internacional e
saúda a participação da OMS na prevenção de vírus . A China está
confiante em vencer essa batalha”, afirmou. Efeitos na economia
Também é esperado um duro golpe na indústria da aviação. Companhia
aéreas europeias e americanas estão cancelando viagens para a China.
Foram os casos da Lufthansa e da British Airways, que suspenderam todos
os seus voos para o país asiático. Por causa da queda na demanda —
ninguém quer viajar para a Ásia neste momento — a United Airlines
suspendeu 24 voos dos Estados Unidos com destino a Pequim, Hong Kong e
Shangai. A indiana IndiGo cancelou viagens com destino às cidades de
Chengdu e Hong Kong. No Brasil, a Vale cancelou todas as viagens de
negócios de seus executivos para a China. Além disso, nos voos que foram
mantidos, as companhias aéreas mudaram suas rotinas. Para proteger a
tripulação e os passageiros, foram eliminados itens de conforto, como
comida quente, fones de ouvido, cobertores, toalhas e jornais que
favorecem a disseminação do coronavírus. A China Airlines, de Taiwan,
determinou que os passageiros viajem com suas próprias garrafas de
bebidas e substituiu itens reutilizáveis por descartáveis. A Thai
Airlines, da Tailândia, passou a desinfetar o interior de suas aeronaves
em todos os voos para a China e para outros destinos considerados de
alto risco.
Nos países europeus, no Japão e nos Estados Unidos houve repatriação
em massa de cidadãos que trabalham na China. Na terça-feira 28, o
ministro japonês das Relações Exteriores, Toshimitsu Motegi, determinou o
envio de um avião para retirar 600 cidadãos do país que trabalham em
Wuhan. O governo americano fretou um voo charter para transportar
funcionários consulares e seus familiares que vivem na cidade.
Inglaterra, Canadá e Portugal estão tomando medidas semelhantes para
proteger seus cidadãos. Na quinta-feira 30, aviões franceses chegaram a
Wuhan para repatriar pessoas interessadas em regressar à Europa.
A França é um dos países com mais moradores em Wuhan, por causa da
grande presença de estudantes e de trabalhadores nas fábricas da Renault
e da PSA na região. No caso do Brasil, a repatriação foi descartada.
Referindo-se a uma criança brasileira que está nas Filipinas sob
suspeita de ter contraído a doença, o presidente Jair Bolsonaro disse
que “não seria oportuno retirá-la de lá”. “É o contrário. Não vamos
colocar nós em risco por uma família apenas”, justificou. Cerca de 40
brasileiros estão confinados em Wuhan e, segundo a embaixada em Pequim,
as autoridades chinesas não estão autorizando a saída dos estrangeiros.
“Estamos recebendo demanda de evacuação, o que neste momento não é
possível fazer”, afirmou o embaixador Luiz de Castro Neves. O Ministério
da Saúde alemão confirmou o primeiro caso de transmissão de humano para
humano na Europa. Um homem testou positivo para a nova cepa do
coronavírus. Ele foi infectado por um colega de trabalho. Praticamente
todos os casos da doença em outros países são de pessoas que estiveram
na China ou tiveram contato com gente que veio de Wuhan. Especialistas
em saúde dizem que não estão surpresos com as transmissões de
coronavírus de humano para humano no Japão, Vietnã e Alemanha. “A
transmissão humana não surpreende. Continuaremos a ver outros casos
semelhantes fora da China”, disse Michael Head, pesquisador sênior em
saúde global da Universidade de Southampton. As novas informações sobre a
doença reforçam a importância do conselho dado pelo Public Health
England de que, se alguém retornou de Wuhan nas últimas duas sem anas,
deveria “ficar em casa e evitar o contato com outras pessoas, como se
faria com outros vírus da gripe” e “entrar em contato com o serviço de
saúde para informá-lo de sua recente viagem à cidade”. Esse conselho
deveria ser seguido por qualquer pessoa que tenha estado em alguma
região da China onde a infecção é reconhecida como comum ou se ela
souber que teve contato com um caso presumido. Há muita tensão no ar e o
fato é que a China se tornou, nas últimas semanas, um lugar
extremamente perigoso.
Na China, a população alarmada tenta se proteger do coronavírus (Crédito: ANTHONY WALLACE/)
Estadão Conteúdo
A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou nesta quinta-feira, 30,
emergência de saúde pública de interesse internacional pelo surto do
novo coronavírus. Identificado pela primeira vez em dezembro, na China, o
vírus já infectou mais de 7,8 mil pessoas, das quais 170 morreram.
A decisão foi tomada pela diretoria da entidade após a consulta a um
comitê formado por especialistas de todo o mundo, que se reuniu por mais
de sete horas na tarde desta quinta, em Genebra.
O comitê de emergência já havia se reunido duas vezes na semana
passada, mas, na ocasião, chegou à conclusão de que “era muito cedo”
para declarar alerta global. O argumento foi de que, embora já
configurasse uma emergência na China, o surto ainda estava muito
localizado e não representava uma ameaça internacional.
O cenário, no entanto, se agravou na última semana. Embora mais de
98% das infecções tenham sido registradas em território chinês, o número
de países com casos confirmados vem aumentando todos os dias.
Já são 18 nações além da China com registros da infecção. Em três
delas (Alemanha, Japão e Vietnã), o vírus contaminou pessoas que não
estiveram em território chinês, o que indica transmissão interna nesses
locais, cenário que aumenta o risco de propagação global. Esse foi o
motivo pelo qual o diretor-geral da OMS decidiu reconvocar o comitê de
emergência.
“Embora o número de casos em outros países seja relativamente pequeno
em comparação com o registrado na China, devemos agir juntos. Não
sabemos o tipo de dano que esse vírus pode causar se ele se espalhar em
um país com um sistema de saúde mais frágil. Por isso, declaro
emergência em saúde pública internacional”, declarou o diretor-geral da
entidade, Tedros Adhanom Ghebreyesus.
No Brasil, ainda não há casos confirmados de coronavírus, mas o
Ministério da Saúde investiga pelo menos nove possíveis infecções em
seis Estados brasileiros.
Segundo o Regulamento Sanitário Internacional da OMS, acordo legal
que envolve 196 países, uma emergência de saúde pública de interesse
internacional é definida como “um evento extraordinário determinado que
constitui um risco de saúde pública para outros Estados por meio da
disseminação internacional de doenças e por potencialmente exigir uma
resposta internacional coordenada”.
Quando uma emergência internacional é declarada, esforços sanitários,
financeiros e científicos são ampliados para tentar conter o avanço da
doença. Geralmente também são definidas diretrizes sobre quais medidas
restritivas os países devem adotar quanto a viagens e comércio.
Esta é a sexta vez na história que a OMS declara esse status de
emergência. A primeira vez foi durante o surto de gripe H1N1, em 2009.
Motivaram ainda a declaração de emergência as epidemias de poliomielite
(2014), zika (2016) e Ebola (duas vezes, em 2014 e 2019).
Pacientes que estão sob investigação estão sendo monitorados e ficarão isolados até a divulgação do resultado dos exames
Por
O Dia
Rio - O Ministério da
Saúde informou, nesta quarta-feira, a existência de nove casos
suspeitos de infecção pelo coronavírus no Brasil, mas sem confirmação de
nenhum deles. Além dos casos já divulgados em Belo Horizonte (MG),
Curitiba (PR) e Porto Alegre (RS), estão sendo investigadas suspeitas no
Rio de Janeiro, São Paulo, Ceará e Santa Catarina.
Os dados foram atualizados nesta quarta-feira pela
pasta. Segundo o ministério, diariamente haverá um boletim de
atualização, divulgado às 16h.
No total, a pasta foi notificada
de 33 casos. Mas apenas pacientes que apresentam sintomas como febre,
tosse e dificuldade para respirar e têm histórico de viagem para a China
nos últimos 14 dias, mesmo antes de apresentarem os possíveis sinais de
infecção, são considerados suspeitos.
Os pacientes que estão sob
investigação estão sendo monitorados e ficarão isolados até a
divulgação do resultado dos exames. Outros quatro 4 casos foram
descartados pelo governo.
A Fundação Oswaldo Cruz confirmou, por meio de nota,
que recebeu amostras referentes aos casos suspeitos em Belo Horizonte e
no Rio, e que o prazo para emissão de laudo é de até 72 horas a contar
do recebimento da amostra.
Confira a nota completa:
"A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) confirma o
recebimento, nesta quarta-feira (29/1), de amostras referentes a casos
suspeitos de Belo Horizonte/MG e Rio de Janeiro/RJ. O material está
sendo processado para patógenos respiratórios, incluindo os coronavírus.
O prazo para emissão de laudo é de até 72 horas a contar do recebimento
da amostra. Os resultados serão divulgados pelo Ministério da Saúde
(MS)."
O Ministério da Saúde confirmou na tarde desta terça-feira (28) que
está investigando mais dois casos suspeitos de coronavírus 2019-nCoV no
Brasil. Além de uma paciente em Belo Horizonte (MG), que já havia sido
notificado, o governo analisa a hipótese de infecção em Porto Alegre
(RS) e Curitiba (PR).
Em nota, as autoridades de saúde brasileiras informaram que os
pacientes se enquadram na definição estabelecida pela Organização
Mundial da Saúde (OMS), ou seja, apresentam febre e pelo menos um sinal
ou sintoma respiratório, além de terem viajado para área de transmissão
local nos últimos 14 dias.
Ontem (27), a OMS elevou o nível de alerta para alto em relação ao
risco global do novo vírus. Desta forma, o governo brasileiro pediu para
que a população evite viagens para a China, já que o território é
considerado área de transmissão ativa da epidemia.
O 2019-nCoV causa febre, tosse e dificuldades respiratórias. Até o
momento, a epidemia já matou 106 pessoas e contaminou 4,5 mil.
Equipe médica transporta paciente em hospital de Wuhan, em 25 de janeiro - AFP/Arquivos
AFP
Uma primeira morte causada pela epidemia de pneumonia viral foi
registrada em Pequim, em um cenário de crescente ansiedade em todo o
mundo, com a multiplicação de medidas de prevenção nas fronteiras,
enquanto a OMS considera “elevada” a ameaça representada pelo vírus
internacionalmente.
“Estamos em estreita comunicação com a China sobre o vírus”, tuitou o
presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, antes de acrescentar que
ofereceu “toda a ajuda que possa ser necessária”.
A Mongólia, por sua vez, tornou-se o primeiro país a fechar as
fronteiras terrestres com o território chinês. Ao mesmo tempo, pessoas
da província chinesa de Hubei, a mais afetada, foram proibidas de viajar
à Malásia, enquanto a Alemanha e a Turquia desaconselharam viagens para
a China.
França e os Estados Unidos preparam, por sua vez, a evacuação de seus cidadãos.
O número de mortos chega a 82 e o número de casos confirmados
oficialmente é de mais de 2.700 na China, incluindo o de um bebê de nove
meses. Cerca de cinquenta outros pacientes foram identificados em
outras partes do mundo, incluindo vários países da Ásia, Austrália,
Europa e América do Norte.
A crise também gera temores de um enfraquecimento da economia
chinesa, ou mesmo mundial, levando a uma queda de mais de 2% nas bolsas
de valores do Japão e da Europa, enquanto Nova York também estava em
forte declínio.
A Bolsa de Xangai, fechada devido a feriados, decidiu estender seu
fechamento por três dias, até 2 de fevereiro, segundo a imprensa.
Vários eventos esportivos internacionais programados em solo chinês também tiveram que ser cancelados, adiados ou deslocados.
– Primeiro-ministro em Wuhan –
A ameaça de disseminação é grande. O prefeito de Wuhan, onde o
coronavírus surgiu em dezembro, disse no domingo que cinco milhões de
pessoas deixaram essa metrópole de 11 milhões de habitantes antes do
feriado do Ano Novo Chinês em 25 de janeiro.
A cidade está isolada do mundo desde quinta-feira. A maioria das
lojas está fechada e o tráfego é proibido para veículos não essenciais,
segundo uma equipe da AFP.
“Todo dia eu me preocupo mais”, disse um estudante vietnamita, Do Quang Duy, de 32 anos.
Um arranha-céu proclamava nesta segunda-feira à noite, em grandes caracteres rosados, a frase “Força Wuhan!”.
Com um casaco azul e máscara de proteção, o chefe do governo chinês,
Li Keqiang, chegou a Wuhan nesta segunda, tornando-se o primeiro alto
funcionário do regime comunista a visitar a área desde o início da
epidemia.
Em uma fotografia oficial, podemos vê-lo em um hospital, com o rosto coberto por uma máscara azul.
As autoridades da província de Hubei têm sido alvo de duras críticas
nas redes sociais, onde são acusados de incompetência ou
ridicularizados.
Neste contexto, o chefe da OMS (Organização Mundial da Saúde), Tedros Adhanom Ghebreyesus, era esperado em Pequim.
Sua organização, corrigiu nesta segunda-feira sua avaliação do risco
do coronavírus que surgiu na China, considerando elevado para o nível
internacional, depois de tê-lo descrito como moderado por “erro de
formulação”.
Em seu relatório sobre a situação, publicado nas primeiras horas
desta segunda-feira, a OMS indica que sua “avaliação de risco (…) não
mudou desde a última atualização (22 de janeiro): muito alto na China,
alto no nível regional e em todo o mundo”.
Na última quinta-feira, a OMS considerou “muito cedo para falar de uma emergência de saúde pública de alcance internacional”.
Enquanto isso, em Hong Kong, os pesquisadores disseram que os
governos devem adotar medidas “draconianas” para restringir a circulação
de pessoas, se quiserem impedir a propagação do vírus.
Eles apontaram que o número de pessoas infectadas pode dobrar a cada
seis dias, atingindo o pico em abril e maio em áreas que já enfrentam
uma epidemia. Estimam, com base em modelos matemáticos, que existem
atualmente mais de 40.000 casos.
Além disso, as autoridades de saúde dos Estados Unidos informaram que
sequenciaram o genoma de dois dos primeiros casos de coronavírus chinês
nos Estados Unidos, chamados 2019-nCoV, e confirmaram que o vírus era o
mesmo que o detectado na China.
Um alto funcionário dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças
(CDC) também anunciou que os Estados Unidos mudarão em breve as regras
de inspeção e detecção do vírus no país, que neste momento estão
limitadas apenas a viajantes que estiveram em Wuhan.
“Todas as imagens que extraímos são semelhantes às que a China
publicou originalmente há algumas semanas”, disse Nancy Messonnier,
diretora do departamento de doenças respiratórias do CDC, durante uma
teleconferência.
“Isso significa que, de acordo com a análise dos dados disponíveis no CDC, parece que o vírus não sofreu mutação”, acrescentou.
Brasília - A TV
estatal chinesa CGTN divulgou, na noite deste domingo, dados atualizados
sobre as contaminações por coronavírus. Na China, são 2.761 casos
confirmados, sendo que 80 pessoas morreram. Há ainda 5.794 casos
suspeitos sob supervisão.
Ainda segunda a CGTN, 51 pessoas diagnosticadas com coronavírus foram curadas.
O
número de casos confirmados fora da China também aumentaram neste
domingo. Foram confirmadas infecções na Tailândia (7), Japão (3), Coreia
do Sul (3), Estados Unidos (4), Vietnã (2), Cingapura (4), Malásia (3),
Nepal (1), França (3) e Austrália (4).
Vinte e seis mortos e 830 pessoas infectadas com o coronavírus são os
números mais recentes sobre o coronavírus, divulgados pelo governo
chinês.
A agência de notícias France Press cita a Comissão Nacional de Saúde
da China e diz que mais de mil casos considerados suspeitos estão sendo
investigados.
O Japão anunciou, na madrugada de hoje, o registro de mais uma pessoa
infectada pelo vírus. Uma segunda pessoa infectada também foi
confirmada na última madrugada na Coreia do Sul.
Há poucas horas, o Cirque du Soleil anunciou o cancelamento de todos os espetáculos na cidade de Hangzhou, na China.
Mesmo diante desse cenário, a Organização Mundial da Saúde (OMS)
voltou a considerar prematuro declarar situação de emergência
internacional, mas reconheceu a urgência na China, acrescentando que
acompanha atentamente a situação.
A OMS admite voltar a reunir uma comissão de peritos para analisar a
questão. Três cidades chinesas estão de quarentena. Até agora não há
conhecimento de qualquer caso na Europa.
Muitos aeroportos em todo o mundo já estão adotando medidas de controle dos passageiros procedentes da China. *Emissora pública de televisão de Portugal
Um caso de
febre hemorrágica brasileira em SP foi revelado pelo Ministério da
Saúde. Conheça o agente infeccioso por trás da doença e o risco de
transmissão
Por André Biernath
O risco de uma epidemia de febre hemorrágica
brasileira é baixo, garantem os cientistas. (Ilustração: André
Moscatelli/SAÚDE é Vital)
No dia 30 de dezembro de 2019, um homem de 53 anos foi a um pronto-socorro no interior paulista com queixas características de febre amarela.
Os exames, porém, não confirmaram a doença. Num intervalo de 12 dias,
ele passou por outros dois hospitais antes de morrer. Análises genéticas
avançadas encontraram uma surpresa: o causador do quadro, chamado de febre hemorrágica brasileira, foi o arenavírus,
que não aparecia no Brasil há mais de 20 anos. A confirmação desse
caso, mesmo que seja única, é considerada grave pelas autoridades
sanitárias.
Separamos abaixo as principais perguntas e respostas a respeito do tema, com informações do boletim epidemiológico do Ministério da Saúde e do patologista João Renato Rebello, coordenador do Laboratório de Técnicas Especiais do Hospital Israelita Albert Einstein, um dos responsáveis pela descoberta:
O que é o arenavírus?
Os resultados dos testes realizados no Hospital Israelita Albert Einstein mostram que se trata do Mammarenavirus, um gênero pertencente à família Arenaviridae, ou arenavírus.
De forma genérica, os vírus são divididos em famílias. Dengue, zika, chikungunya
fazem parte da turma das arboviroses. “Os arenavírus são outro grupo,
que havia sido encontrado no Brasil na década de 1990 e estão associados
com uma síndrome chamada febre hemorrágica brasileira, marcada por
febre, icterícia e sangramentos”, explica Rebello.
Como ele foi descoberto?
O caso notificado na segunda, dia 20 de janeiro, aconteceu com um
homem de 52 anos, cujo nome não foi divulgado. Ele morava no interior
paulista e passou as férias no Vale do Ribeira, região no sul do estado
de São Paulo. Os sintomas iniciais foram febre, hemorragia, confusão
mental e inflamação no fígado. O paciente passou por dois hospitais
antes de ser encaminhado para o Hospital das Clínicas, na capital, onde faleceu no dia 11 de janeiro.
A suspeita inicial era de febre amarela — afinal, estamos na época de
maior atividade desse vírus. “Pesquisamos ainda a presença de hepatites A, B, C, D e E, além de zika, chikungunya e dengue. Tudo negativo”, relata Rebello.
Foi então que os especialistas partiram para um novo método chamado
viroma/metagenômica, que está sendo validado pelo Hospital Israelita
Albert Einstein. A técnica analisa o material genético do agente
infeccioso. Foi assim que o arenavírus foi flagrado.
Há outros casos recentes de febre hemorrágica brasileira relatados?
Por enquanto, não. Mas o Ministério da Saúde e a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo estão monitorando todos os profissionais que tiveram contato com o paciente, assim como a sua família.
Os últimos episódios conhecidos da síndrome ocorreram na década de
1990 nas cidades de Cotia e Espírito Santo do Pinhal, ambas em São
Paulo. Uma mulher de 25 anos e um homem de 32 anos morreram. Outras duas
pessoas foram infectadas em laboratório.
Como é a transmissão?
Sabe-se que o vírus passa por meio da inalação de partículas
presentes na urina, nas fezes ou na saliva de ratos e outros roedores
infectados. A transmissão entre humanos pode ocorrer por meio do contato
muito próximo e constante com um indivíduo infectado, principalmente em
hospitais. Sangue, urina, fezes, saliva, vômito, sêmen e outras
secreções desses pacientes trazem o arenavírus. Se não forem usados
equipamentos de proteção nesses ambientes, o risco aumenta.
O arenavírus encontrado é o mesmo dos anos 1990?
A análise realizada conseguiu vasculhar todo o material genético do
vírus. “Sabemos que há uma similaridade de 88% entre a versão atual e a
anterior, detectada há 20 anos”, informa Rebello. Como ele não é
idêntico, novos estudos vão determinar com mais detalhes quais suas
diferenças e qual o risco que isso representa.
O que ele provoca no corpo?
O vírus fica incubado no corpo entre 7 a 21 dias. Os sintomas começam
com febre, mal-estar, dores musculares, manchas vermelhas na pele,
dores na garganta, no estômago, atrás dos olhos e na cabeça,
sensibilidade à luz, constipação, tonturas e sangramentos na boca e no
nariz. Se o quadro evolui, há consequências neurológicas, como
sonolência, confusão mental, mudanças no comportamento e convulsão.
Há tratamentos específicos?
Não existe nenhum remédio que bloqueie ou elimine esse vírus. O que os médicos fazem é amenizar os sintomas que aparecem.
Quais são os próximos passos?
As autoridades brasileiras já notificaram órgãos internacionais como a Organização Mundial da Saúde. Amostras do vírus também foram encaminhadas para o Centro de Controle e Prevenção de Doenças, órgão dos Estados Unidos que possui laboratórios destinados a pesquisar agentes infecciosos com segurança e rapidez.
Como dito numa pergunta acima, os especialistas brasileiros estão
acompanhando os profissionais de saúde e os parentes do homem de 53 anos
que apresentou a doença. Se mais algum caso aparecer, eles vão divulgar
para toda a sociedade.
E o que nós podemos fazer?
Por enquanto, nada de pânico ou histeria. O caso
encontrado é grave, mas tudo está sendo feito para conter a ameaça em
sua origem. No mais, vale ficar atento aos sintomas e, se notar algo
suspeito, procurar um hospital com rapidez.
“Falamos de um vírus encontrado em ambiente silvestre, em regiões
específicas. Ele não é transmitido por mosquitos e não deve ter o mesmo
impacto de outros com os quais lidamos com mais frequência, como a
dengue”, esclarece Rebello.
Uma célula do sistema imunológico recém-descoberta poderia ser usada
para tratar vários tipos de câncer, segundo um novo estudo da
Universidade de Cardiff, no Reino Unido, publicado na Nature Immunology.
A descoberta não foi testada ainda em pacientes, mas pesquisadores
sustentam que tem um “enorme potencial”.
Os especialistas de Cardiff estudavam as formas pelas quais o sistema
imunológico naturalmente ataca os tumores e outras infecções. Eles
descobriram a existência de um tipo específico de célula T (de defesa)
no sangue. Ela poderia resultar num tratamento universal contra o câncer
por ser capaz de atacar e destruir diferentes tumores.
As terapias com células T são consideradas atualmente as mais
promissoras novidades da medicina no combate à doença. Nos tratamentos
já disponíveis, as células de defesa são modificadas geneticamente para
destruir determinados cânceres. A mais usada é a conhecida como CAR-T.
Ela é personalizada e só funciona para alguns tipos de câncer. A terapia
não é eficaz para o combate a tumores sólidos – que são a grande
maioria dos cânceres.
A célula T descoberta pelos cientistas de Cardiff é equipada com um
receptor capaz de reconhecer e destruir a maioria dos cânceres humanos
e, ao mesmo tempo, poupar as células saudáveis.
Para os pesquisadores, a descoberta oferece “grandes oportunidades
para imunoterapias universais contra o câncer” – até então consideradas
impossíveis.
Para testar o potencial terapêutico dessas células, os cientistas as
injetaram em camundongos alterados geneticamente para ter um sistema
imunológico igual ao humano e também tumores cancerígenos humanos.
As células T recém-descobertas se revelaram capazes de destruir
cânceres de pulmão, pele, sangue, mama, osso, próstata, ovário, rins,
entre outros, e, ao mesmo tempo, poupar as células saudáveis.
Principal autor do estudo e especialista em células T, Andrew Sewell
disse que é “altamente incomum” encontrar uma célula de defesa capaz de
destruir tantos tipos de câncer ao mesmo tempo. Isso abre caminho para
um tratamento universal – algo que muito pouca gente achava possível.
“Esperamos que essa nova célula nos ofereça um caminho diferente para
detectar e destruir um amplo espectro de cânceres em todos os
indivíduos”, afirmou Sewell. “As atuais terapias com células de defesa
disponíveis só podem ser usadas numa minoria de pacientes, e para uma
minoria de casos de câncer.”
Os cientistas esperam agora testar a nova terapia em seres humanos
até o fim deste ano. Até lá, o grupo pretende assegurar que as células T
recém-descobertas destroem apenas as células cancerígenas e poupam as
saudáveis.
“Ainda há alguns obstáculos a superar”, reconhece Sewell. “Mas se o
teste em seres humanos for bem sucedido, esperamos ter um tratamento
pronto para uso dentro de alguns poucos anos.”
Chefe do departamento de Hematologia da Universidade de Cardiff,
responsável pelas terapias com CAR-T, Oliver Ottmann se mostrou muito
otimista. “Este novo tipo de célula T tem um enorme potencial de superar
as atuais limitações das CAR-T.”