sexta-feira, 2 de abril de 2010

Onde moram as bactérias

Você chega no seu “lar, doce lar” e, sentado no sofá, sente-se seguro. Com portas e janelas fechadas, pode realmente estar livre de invasores externos. Mas é possível que convidados indesejáveis estejam escondidos, muitas vezes trazidos por você mesmo. E se estabelecerão na casa de maneira mais confortável do que o próprio dono.
Dê uma olhada na cozinha. Há quanto tempo não troca a esponja de lavar louça? O lixo fica em cima da pia? No quarto, os lençóis foram trocados recentemente e as cortinas foram lavadas? E no banheiro, de que forma estão armazenadas as escovas de dentes, a toalha de rosto e de banho? Esses são alguns dos locais preferidos de bactérias, fungos e ácaros.
Além da falta de limpeza adequada nos ambientes, a deficiência de hábitos básicos de higiene, como lavar bem as mãos ao chegar da rua, é o que faz do nosso lar, um doce lar para as bactérias também. “A própria pessoa é quem traz os contaminantes para dentro da casa”, afirma a engenheira de alimentos Laura Beatriz Karam, coordenadora do curso de especialização em Se­­gurança Alimentar da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
As bactérias vivem dentro e fora do organismo humano. Mais do que no banheiro ou na cozinha, estão na nossa pele, na boca e no intestino. “Normalmente vivem em paz conosco e, inclusive, são úteis, ajudando na nossa digestão. O problema está nas patogênicas, que são as bactérias que podem trazer doenças ou diminuição de imunidade”, ex­­­plica o médico infectologista Jaime Rocha, do laboratório Frieschmann Aisengart.
Para que esses micro-organismos não virem um problema, o importante é conviver com eles em equilíbrio. O contato intenso – e a multiplicação dos organismos – pode gerar infecções que dão origem à diarreia, febre, conjuntivite, dores, mal-estar e cólicas. Mudanças simples de hábito podem fazer toda a diferença. “O principal cuidado que todos devem ter é lavar sempre as mãos. É a parte do corpo que mais encosta em tudo e que levamos constantemente à boca e aos olhos”, diz Rocha.
O medo desencadeado pela nova gripe, no ano passado, causou uma consequência notável. O hábito de lavar as mãos constantemente diminuiu a incidência de outras doenças, como conjuntivite e diarreia, que, segundo Rocha, é uma doença grave e que pode matar.
Mesmo uma pessoa saudável, por diversas razões, tem períodos de baixa imunidade e a higiene é a principal arma para a prevenção de doenças. Se não é possível controlar a limpeza no local de trabalho ou da escola dos filhos, ao menos da casa podemos.
A casa tem alguns “locais quentes” de incidência de bactérias, ácaros e fungos. “Não precisa ser especialista para saber. Obviamente, o banheiro e a cozinha são os locais de maior contaminação, não que nos outros não haja possibilidade”, diz o biomédico Rogério Saad Vaz, coordenador do curso de Biomedicina das Faculdades Pequeno Príncipe.
Com a ajuda de especialistas, mapeamos os locais da casa com maior probabilidade de incidência desses organismos e apontamos como combatê-los.
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Serviço
Especialistas consultados:
Cinara Braga (alergologista do Hospital Pequeno Príncipe) / Rogério Saad Vaz (biomédico, coordenador do curso de Biomedicina das Faculdades Pequeno Príncipe) / Jaime Rocha (infectologista do laboratório Frieschmann Aisengart) / José Luis de Andrade Neto (infectologista e professor de Medicina da UFPR e da PUCPR) / Laura Beatriz Karam (Engenheira de alimentos e coordenadora do curso de especialização em Segurança Alimentar da PUCPR) / Jean Marcel Lemes (infectologista do Hospital da Cruz Vermelha).
O ponto crítico da casa-Por causa do lixo orgânico, da manipulação e das sobras de alimentos, a cozinha é considerada o local mais propenso para se “cultivar” bactérias. Manter pia, armários, gavetas, geladeira e fogão bem limpos, armazenar corretamente os mantimentos e limpar embalagens antes de guardá-las são atitudes que, por si só, já nos livram de grandes possibilidades de doenças bacterianas. Mas há outros cuidados que devemos ter.
Caiu no chão, é lixo!
A menos que seja algo que possa ser lavado (uma maçã, por exemplo), alimento que cai no chão deve ser descartado, sem dó. Ensine isso desde cedo para as crianças e faça marcação cerrada. Há quem diga que é benéfico para as crianças “criar resistência”, então faz vista grossa para as porcarias que elas colocam na boca. Segundo o médico infectologista José Luiz de Andrade Neto, professor de Medicina da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e da Pontifícia Univer­­­sidade Católica do Paraná (PUCPR), isso não passa de lenda urbana. “Quanto maior o contato, mais se desenvolve anticorpos, mas isso não é benéfico, porque se pode morrer com uma infecção. Em lugares como a África, as crianças tem contato com a terra e alimentos não-higienizados. A consequência disso é que o índice de mortalidade é altíssimo. O ideal mesmo é ter o mínimo de contato com agentes patogênicos, incluindo as bactérias.”
Para a engenheira de alimentos Laura Beatriz Karam, deve-se lutar contra a reprodução das bactérias. “Quando há uma situação com crescimento acentuado, a probabilidade de ter as bactérias patogênicas é grande. Para se proteger, não se deve comer alimentos vencidos, com alteração de cor ou odor e que tenham ficado fora da geladeira. Longe da refrigeração, as patogênicas se multiplicam e algumas produzem toxinas que levam à infecções intestinais”, alerta.

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