Cientistas europeus e americanos criam teste que aponta se a pessoa é viciada em compras, descrevem características de personalidade que predispõem à doença e orientam o que fazer para escapar da dependência
Pesquisadores
da Noruega, Estados Unidos e Inglaterra acabam de divulgar um recurso
simples, mas que auxiliará muita gente a sair de uma armadilha capaz de
arruinar vidas. Eles desenvolveram um teste que, apesar de ser executado
facilmente, tem sólido embasamento científico para indicar se uma
pessoa é dependente de compras. Ou seja, se ela não controla seu impulso
de comprar, independentemente da sua necessidade e da presença de
condições financeiras para arcar com os custos.
As universidades envolvidas no estudo foram
a Universidade de Bergen, na Noruega, a Nottingham Trent University, no
Reino Unido, e as universidades americanas Stanford e da Califórnia. O
trabalho se baseou no acompanhamento de 23,5 mil participantes com idade
em torno de 35 anos. Eles foram questionados sobre hábitos de compras,
traços de personalidade, autoestima e sintomas de ansiedade e depressão.
A análise resultou no teste, que tem sete
perguntas e está descrito em um artigo publicado na última semana na
revista científica Frontiers in Psychology. Entre as perguntas, estão as
que questionam se o indivíduo pensa o tempo todo em compras e se o
hábito compromete a execução das atividades diárias, como trabalhar.
Caso o resultado dê positivo, a recomendação é a de que a pessoa procure
ajuda médica e adote intervenções que possam afastá-la do impulso de
comprar. “Não usar mais cartão de crédito e encontrar outras formas de
lidar com a urgência de comprar, como ir caminhar, e esperar um dia
antes de ceder ao desejo estão entre elas”, disse à ISTOÉ Cecilie
Andreassen, da Universidade de Bergen, coordenadora do estudo. Ela
aponta outras atitudes, como fazer uma lista de compras e se ater a ela e
evitar gatilhos potenciais (entrar em shoppings, por exemplo).
O instrumento tem como mérito principal
servir de forma eficaz para alertar as pessoas se sua relação com as
compras está dentro do normal ou se atravessou a delicada fronteira que
leva à dependência. A compulsão por compras é catalogada como um
transtorno de impulso. Na sua raiz, está a busca por compensações
imediatas sem que sejam racionalizadas as consequências do ato. “Entre
outras ações, o paciente adquire coisas das quais não precisa e muitas
vezes nem abre o pacote daquilo que acabou de comprar”, explica a
psiquiatra Fátima Vasconcelos, do Rio de Janeiro, integrante da
Associação Brasileira de Psiquiatria.
A dependência pode levar o caos às vidas
privada e profissional. Nos consultórios psiquiátricos, as histórias de
pacientes impressionam. Há gente que perdeu o emprego porque não
cumpriaprazos e horários, já que estava sempre envolvido com compras, e
até quem foi obrigado a vender imóveis para pagar as dívidas contraídas
nas aquisições.
Na pesquisa agora divulgada, os cientistas
apontam características de personalidade que predispõem ao transtorno.
Uma delas é a tendência ao negativismo. “Esses indivíduos tendem a
adotar comportamentos que reduzam os sentimentos incômodos”, explica
Cecilie. Os extrovertidos estão incluídos entre as pessoas com maior
risco. Uma das explicações seria o fato de que eles em geral gostam de
aparentar status social e aumentar seu poder de sedução. A pouca
disposição para conflitos e um senso mais apurado de autoestima são, ao
contrário, fatores protetores.
Sabe-se que, fisiologicamente, há
anormalidades nos sistemas cerebrais que regulam a concentração de
substâncias como a serotonina e a dopamina. Por isso, em alguns casos,
remédios que atuam sobre esses compostos (antidepressivos modernos)
podem ser receitados. “Além disso, a terapia psicológica individual e em
grupo é recomendada”, explica a psiquiatra Fátima Vasconcelos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário