EUA liberam remédio que tira pacientes de crises graves em duas horas. Festejada no mundo todo, a droga é apontada como uma revolução no tratamento da doença
O remédio recebeu o sinal verde para a venda depois de passar pelo regime de aprovação urgente, aplicado somente a drogas que apresentam desempenho muito superior aos existentes. De acordo com a maioria das pesquisas, a esketamina de fato representa uma revolução contra a depressão. Sua administração tira os pacientes de crises graves em duas horas ou em dias, no máximo, afastando ideias suicidas e reduzindo a apatia que não deixa o indivíduo sequer da sair da cama, em muitos casos. Nenhum outro faz isso em tão pouco tempo. Em geral, os medicamentos levam semanas ou meses para fazer efeito.
Além desta limitação, estima-se que os remédios sejam inócuos para 30% dos pacientes. Isso ocorre por diversos motivos, entre algumas características genéticas do paciente que resultam na ineficiência das medicações. É por seu conjunto de atributos que o Spravato anima os médicos da mesma forma que o Prozac (fluoxetina), o primeiro antidepressivo, quando foi lançado em 1986. “Agora finalmente temos um remédio que funciona rapidamente contra uma doença tão grave”, explica o psiquiatra Todd Gould, professor da Universidade de Maryland (EUA) e não envolvido com as pesquisas feitas pela Jannssen.
A depressão é uma doença psiquiátrica que afeta 322 milhões de pessoas em todo o mundo. No Brasil, são 11,5 milhões de indivíduos. Junto com a ansiedade, a enfermidade compõe uma bomba relógio em termos de saúde pública. Ambas são responsáveis por índices elevados de incapacitação para o trabalho, redução de produtividade e estão associadas ao desenvolvimento de outras doenças, como o infarto e a diabetes. A incidência das duas só cresce — entre 2005 e 2015, os casos de depressão aumentaram 18% —, obrigando a ciência a correr atrás de opções eficazes e acessíveis.
Até agora não se sabe exatamente o mecanismo de ação da ketamina. Concorda-se que ela atua sobre o glutamato, também um neurotransmissor, mas que até os anos 1990 não havia entrado no radar dos estudos sobre a depressão. No entanto, os resultados observados com a ketamina, ainda como anestésico e sabidamente atuante sobre o glutamato, levaram à conclusão de sua eficácia contra a depressão. Hoje, muitas clínicas usam a ketamina, administrada por via endovenosa, no tratamento para a doença. É uma utilização fora do rótulo e sem aprovação oficial. É importante que os pacientes não se submetam a tratamentos assim, até porque a substância apresenta riscos de episódios alucinatórios e de dependência. Por isso, qualquer tentativa de uso deve ser feita sob estrito controle médico, como os realizados em estudos conduzidos em instituições como a Universidade Federal de São Paulo.
O remédio agora liberado, feito apenas com uma parte da ketamina, exige também muito cuidado na administração (leia quadro). Só dessa maneira novidades como essa realmente beneficiam os pacientes e os deixam longe dos perigos do uso inadequado.
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