Picadas de serpentes são mais comuns do que se imagina. E um especialista conta o que você tem de saber para se proteger e salvar alguém em caso de acidente

A cascavel é uma das espécies de cobras venenosas que causam acidentes no país. (Foto: Roberto Loffel/SAÚDE é Vital)
Ocorre, porém, que há um número expressivo de brasileiros que sofrem um acidente e, por diversas razões, não buscam assistência, seja pela distância do local da residência até o centro de atendimento, seja pelo desconhecimento da possível gravidade do problema. Infelizmente, muita gente ainda prefere acreditar em crendices e soluções caseiras (como chás e ervas) que supostamente anulariam a ação do veneno, mas não o fazem.
Em nosso país, quatro grupos de serpentes causam acidentes que podem ser fatais: as jararacas (Bothrops), responsáveis por mais de 85% dos episódios; as cascavéis (Crotalus), com cerca de 7%; as surucucus (Lachesis), com 4%; e as corais verdadeiras (Micrurus), com menos de 1% dos registros.
Mas mesmo as mordidas de serpentes consideradas não venenosas exigem atendimento médico, pois dessa forma podem inocular bactérias no indivíduo e levar a um quadro de infecção.
O verão é a época em que diversas espécies de serpentes têm seus filhotes. Dessa forma, o número de animais na natureza tende a aumentar. Os filhotes já apresentam veneno desde o seu primeiro dia de vida, o que potencialmente aumenta o risco de acidentes por aí.
Os acidentes normalmente acontecem quando a pessoa não vê a serpente e involuntariamente pisa ou toca nela. Aquelas histórias de que cobras fazem emboscadas para os humanos ou correm atrás deles para picá-los são apenas crenças antigas e sem nenhum fundamento científico.
Em caso de acidente, é fundamental manter a calma e realizar os primeiros socorros. A pessoa que sofreu a picada deve ficar em repouso, ser hidratada e manter o local do ferimento elevado. Exemplo: se o acidente ocorreu no pé, a recomendação é ficar deitado e levantar a perna. Isso ajuda a evitar que o veneno, muitas vezes com ação necrosante, se acumule na região afetada, acelerando a morte dos tecidos.
A vítima precisa ser conduzida quanto antes ao hospital de referência para atendimento de acidentes ofídicos mais próximo. Ser atendido no menor tempo possível é crucial para o êxito do tratamento.
Apesar de o soro antiofídico (que anula os efeitos do veneno) ser específico para cada um dos quatro grupos de serpentes, não há necessidade nem se recomenda tentar capturar o animal que causou o acidente — isso só tende a a ocasionar mais perda de tempo. A partir dos sintomas apresentados, um médico treinado reconhecerá o tipo de acidente e administrará, se for necessário, o soro correto.
É importante lembrar que não se deve cortar ou furar o local da picada nem aplicar qualquer substância como alho ou pó de café. Além disso, nunca amarre o local da picada fazendo garrotes ou torniquetes. Essas medidas, em vez de ajudar, só agravam a situação, muitas vezes transformando um acidente leve em um de difícil tratamento.
* Claudio Machado é biólogo e criador do site e canal de vídeos Papo de Cobra