Neurologista usa régua do computador para identificar redução milimétrica a partir de imagens de ressonância magnética. Estudo alerta para a evolução da doença mesmo em casos que clinicamente são considerados estabilizados
Cecília Ritto, do Rio de Janeiro
Redução do cérebro de uma paciente com esclerose múltipla
O trabalho foi apresentado na última quinta-feira no XIV Congresso Brasileiro de Esclerose Múltipla, em Foz do Iguaçu. Em percentual, uma pessoa chega a perder por ano 1,3% do corpo caloso (que, quando danificado, diminui o processamento das informações). Os 191 pacientes estudados foram diagnosticados há 10 anos com esclerose múltipla. Desse total, 89 não apresentaram piora na capacidade de compreensão, não tiveram novas lesões no cérebro nem crises – que ocorrem quando é danificada a mielina, substância que envolve e protege as fibras nervosas do cérebro, da medula espinal e do nervo óptico, causando escleroses. E destes 89, 43 pacientes considerados estáveis tiveram redução intensa do cérebro, na comparação com o grupo controle. “Os exames não são eloquentes em relação à atrofia do cérebro”, pondera Figueira, explicando o porquê de se debruçar sobre uma nova forma de fazer a medição.
A percepção de que a doença se manifestava mesmo em pacientes sem crises, como as que deixam a visão dupla, foi uma observação dos médicos no final dos anos 90. Em 1994, chegaram os remédios para tratar das lesões agudas provocadas pela esclerose múltipla. Com o tempo, os pacientes deixaram de apresentar problemas graves, mas ainda se queixavam de lentidão para entender comandos e de baixo rendimento no trabalho. “Começamos a trabalhar essa doença invisível até então”, explica Figueira.
“Elaboramos uma metodologia simples para que o neurologista sem acesso a uma tecnologia avançada pudesse fazer uma medida confiável para avaliar a perda celular. E propusemos que a medição fosse feita através da ressonância magnética, que pode ser realizada em qualquer centro de imagem”, diz Figueira.
A atrofia cerebral dos pacientes é detectável no começo da doença, com dois ou três anos de esclerose múltipla. “O avanço é rápido no início. E, normalmente, aparece em pessoas ainda consideradas jovens e em plena atividade”, explica o neurologista. Com os resultados dos estudos, Fernando afirma: “Temos que mudar a estratégia de olhar para o doente e perceber melhor qual é o paciente que está piorando. É preciso que estes sejam tratados de forma mais agressiva. Temos que desenvolver novos remédios para controlar essa atrofia do cérebro. Estamos tratando de pneumonia com remédio para febre”, compara.
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