Falta de serviço especializado na rede pública dificulta o tratamento.
Psicóloga reconhece que atendimento não é o ideal, mas ressalta melhoras.
“Ele já passou por vários psicólogos e psiquiatras e foi diagnosticado com o grau mais avançado da doença. Como não temos pessoas suficientes, ele fica amarrado para não tirar a própria vida. Ele é agitado e pode bater a cabeça na parede até sangrar. Sei que é triste, mas fazemos o possível. Ele toma medicações, mas ainda assim precisa ficar amarrado. Eles são atendidos pela rede pública, mas o atendimento é muito ruim, os médicos só passam remédios”, afirma Frei José, responsável pelo abrigo.
De acordo com o Frei José, as famílias dos autistas que estão no abrigo quase nunca aparecem. "A maioria nem recebe visita. O único que recebe é o adolescente que ficava trancado no quintal de casa, mas de uns tempos para cá o pai não está vindo muito. É muito triste porque os pais não sabem como lidar com a doença e aqui nós fazemos de tudo para que eles tenham conforto, carinho e segurança", afirma.
De acordo com assessoria de comunicação da Sesau, a Rede de Atenção Psicossocial do Estado de Alagoas deve incluir novos serviços para, a partir de 2015, atender a pessoas autistas junto à família e comunidade e de maneira integral.
Em Maceió, segundo a psicóloga Silvana Alcântara, da coordenação de Saúde Mental da prefeitura, oito instituições são credenciadas para atender a pessoas com autismo, mas apenas três oferecem tratamento diferenciado: dois Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) e a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), que inaugurou em abril deste ano o Centro Unificado de Integração e Desenvolvimento do Autista (CUIDA). As outras unidades são ONGs que possuem convênio com o Município.
"Reconheço que o atendimento não é ideal, mas essa realidade não é apenas em Alagoas, é em todo o Brasil. O município tem convênios com ONGs, mas é preciso mais locais para atender a todos os casos", avalia a psicóloga. Para quem tem autismo, cada minuto é significativo. Quando o diagnóstico é tardio, a doença piora e fica muito complexa a intervenção. Quando o diagnóstico é fechado, é possível procurar atendimento na rede pública, mas a demora nesse atendimento varia de caso para caso", afirma a psicóloga.
O atendimento a esses pacientes é composto por psicólogos, psiquiatras, enfermeiros, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, entre outros. Entretanto, o Município não soube informar a quantidade exata de profissionais na área ou mesmo o número de vagas disponíveis e a demanda do setor. Questionada sobre possíveis melhorias no atendimento a esses pacientes, a Secretaria Municipal de Saúde também não informou se havia algum planejamento neste sentido.
O G1 visitou algumas unidades que oferecem tratamento específico a autistas. De acordo com a psicóloga e coordenadora geral do CUIDA, Fabiana Lisboa, o Centro conta com 28 profissionais divididos em assistente social, técnicos em enfermagem, psicólogos, terapeuta ocupacional, terapeuta de integração sensorial, fisioterapeuta, fonoaudiólogos, pedagogos, educador físico, musicoterapeuta, nutricionista, psiquiatra e neuropediatras.
O Centro atende a cerca de 100 pacientes por mês e aposta em uma terapia com objetivos bem definidos e em sintonia com médicos, terapeutas, família e escola, utilizando métodos específicos para o transtorno do espectro autista. O CUIDA funciona hoje com a sua capacidade máxima de pacientes, mas quem quiser pleitear uma vaga, pode entrar com o serviço social da APAE pelo telefone (82) 3435-1461.
Os pais são os primeiros a notar que alguma coisa está diferente com o filho, como um gesto não correspondido ou a falta de reação a um estímulo. Outras vezes, quem percebe que há algo errado são parentes, amigos ou professores. “Quem dá o diagnóstico do autismo é um psiquiatra e na rede pública há poucos, por isso muitos pais sofrem sem saber o que o filho tem. Justamente por falta de qualificação, muitos profissionais não fecham o diagnósticos e enchem as crianças de remédios”, alerta Mônica.
Segundo Sílvia, as atividades específicas e direcionadas são fundamentais para que as pessoas com autismo conquistem essa autonomia. “Para que elas aprendam a comer de garfo e faca, uma atividade comum para crianças normais, aqui é preciso vários dias de repetições para a criança de fato aprender", diz.
Aplicativo
Estudantes e pesquisadores da Instituto Federal de Alagoas (Ifal) criaram um aplicativo para tablets direcionado a crianças que tem espectro autista. O ABC do Autismo é um jogo baseado em estudos de psicolinguística criado para facilitar a aprendizagem de crianças e jovens. Segundo o instituto, o aplicativo já foi apresentado em feiras de informática e teve boa aceitação – já teriam sido mais de 10 mil downloads na loja virtual Google Paly, onde está disponível para plataformas Android.
“São atividades que as crianças podem formar palavras, reconhecer objetos e animais. Ele teve uma aceitação muito grande e está sendo um ótimo aliado no aprendizado. Existem outros aplicativos que estão sendo desenvolvidos por alunos do Ifal para pessoas autistas e pessoas com dificuldades de aprendizado”, afirma a professora do instituto, Mônica Ximenes.
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