terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Acidentes com cobras: o que fazer?

Picadas de serpentes são mais comuns do que se imagina. E um especialista conta o que você tem de saber para se proteger e salvar alguém em caso de acidente

Os acidentes com serpentes são considerados uma doença tropical negligenciada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Academia Brasileira de Ciência. Todo ano, aqui no Brasil, cerca de 28 mil pessoas passam por um episódio dessa natureza e procuram atendimento médico.
Ocorre, porém, que há um número expressivo de brasileiros que sofrem um acidente e, por diversas razões, não buscam assistência, seja pela distância do local da residência até o centro de atendimento, seja pelo desconhecimento da possível gravidade do problema. Infelizmente, muita gente ainda prefere acreditar em crendices e soluções caseiras (como chás e ervas) que supostamente anulariam a ação do veneno, mas não o fazem.
Em nosso país, quatro grupos de serpentes causam acidentes que podem ser fatais: as jararacas (Bothrops), responsáveis por mais de 85% dos episódios; as cascavéis (Crotalus), com cerca de 7%; as surucucus (Lachesis), com 4%; e as corais verdadeiras (Micrurus), com menos de 1% dos registros.
Mas mesmo as mordidas de serpentes consideradas não venenosas exigem atendimento médico, pois dessa forma podem inocular bactérias no indivíduo e levar a um quadro de infecção.
O verão é a época em que diversas espécies de serpentes têm seus filhotes. Dessa forma, o número de animais na natureza tende a aumentar. Os filhotes já apresentam veneno desde o seu primeiro dia de vida, o que potencialmente aumenta o risco de acidentes por aí.
Os acidentes normalmente acontecem quando a pessoa não vê a serpente e involuntariamente pisa ou toca nela. Aquelas histórias de que cobras fazem emboscadas para os humanos ou correm atrás deles para picá-los são apenas crenças antigas e sem nenhum fundamento científico.

Em caso de acidente, é fundamental manter a calma e realizar os primeiros socorros. A pessoa que sofreu a picada deve ficar em repouso, ser hidratada e manter o local do ferimento elevado. Exemplo: se o acidente ocorreu no pé, a recomendação é ficar deitado e levantar a perna. Isso ajuda a evitar que o veneno, muitas vezes com ação necrosante, se acumule na região afetada, acelerando a morte dos tecidos.
A vítima precisa ser conduzida quanto antes ao hospital de referência para atendimento de acidentes ofídicos mais próximo. Ser atendido no menor tempo possível é crucial para o êxito do tratamento.
Apesar de o soro antiofídico (que anula os efeitos do veneno) ser específico para cada um dos quatro grupos de serpentes, não há necessidade nem se recomenda tentar capturar o animal que causou o acidente — isso só tende a a ocasionar mais perda de tempo. A partir dos sintomas apresentados, um médico treinado reconhecerá o tipo de acidente e administrará, se for necessário, o soro correto.
É importante lembrar que não se deve cortar ou furar o local da picada nem aplicar qualquer substância como alho ou pó de café. Além disso, nunca amarre o local da picada fazendo garrotes ou torniquetes. Essas medidas, em vez de ajudar, só agravam a situação, muitas vezes transformando um acidente leve em um de difícil tratamento.
* Claudio Machado é biólogo e criador do site e canal de vídeos Papo de Cobra
 

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Depressão, remédios e mais: conheça os fatores ligados à enxaqueca crônica

Uma revisão de estudos mostra o que realmente prediz o risco desse tipo de dor de cabeça se instalar de vez na rotina

Enquanto há pessoas que têm uma ou outra crise de enxaqueca no ano, outras sofrem com essas dores de cabeça em mais de 15 dias do mês. Essas últimas são as vítimas da enxaqueca crônica. Mas, de pouco sono a muito café, o que faz um indivíduo com episódios esporádicos do problema passar a enfrentá-los com tanta frequência? É o que responde um estudo publicado recentemente no periódico Cephalalgia, da Sociedade Internacional de Cefaleia.
O trabalho elenca cinco fatores de risco para desenvolver a enxaqueca crônica entre quem já manifesta incômodos ocasionais. Trata-se de uma meta-análise, ou seja, uma revisão criteriosa de pesquisas anteriores sobre um tema. De quase 6 mil artigos publicados sobre esse tipo de dor de cabeça, só 11 foram escolhidos. Excluindo os levantamentos enviesados ou de menor qualidade, os cientistas chegaram aos seguintes vilões:

Depressão

O transtorno psiquiátrico, historicamente ligado à dor de cabeça, aumenta a chance de uma enxaqueca episódica virar crônica em 58%.

Crises frequentes de enxaqueca

Veja: indivíduos que apresentam cinco ou menos dias de dor de cabeça por mês já correm um risco três vezes maior de desenvolver enxaqueca crônica. Mas conviver com as dores de cinco a dez dias eleva em seis vezes a probabilidade de cronificar o problema.
Na prática, essa frequência já é parecida com a da versão crônica, que, aliás, traz um grande impacto na vida emocional e nas funções cotidianas.
Veja també


Excesso de medicação

Os analgésicos comuns podem ajudar em cefaleias pontuais. Entretanto, o abuso faz a medicação perder parte do efeito, além de catapultar a frequência e a intensidade das crises.
Tomar mais de oito comprimidos ao mês já é problemático, como mostramos em nosso recente especial sobre o tema, que ainda aborda os novos tratamentos contra a enxaqueca.

Alodinia

Essa é uma alteração do sistema nervoso que faz com que a pessoa sinta dor a estímulos normais. O exemplo mais conhecido da condição é uma sensibilidade extrema no couro cabeludo, que pode tornar um suplício o simples ato de pentear o cabelo.
A alodinia já era considerada um dos marcadores do risco de enxaqueca crônica. No trabalho recente, foi associada a um risco 40% maior do problema.

Renda baixa

Ganhar bastante dinheiro (nessa investigação, acima de 50 mil dólares ao ano, ou cerca de 210 mil reais) parece proteger contra a perpetuação da enxaqueca. Quem atinge esse patamar financeiro está 35% menos propenso a padecer com a versão crônica da doença. Ora, com mais recursos, é mais fácil ter acesso à informação e a centros de excelência e agir preventivamente, certo?

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Beber chá para viver mais — e melhor

Consumir a bebida pelo menos três vezes por semana aumenta o tempo de vida e ainda protege o coração e o cérebro, indica um estudo

Um novo estudo publicado no periódico científico da Sociedade Europeia de Cardiologia mostrou que quem bebe chá no mínimo três vezes durante a semana ganha anos extras de vida e um coração mais saudável.
Para chegar a essa conclusão, cientistas da Academia Chinesa de Ciências Médicas acompanharam 100 902 pessoas sem histórico de infarto, acidente vascular cerebral (AVC) e câncer. Os participantes foram classificados em dois grupos: o de consumidores habituais de chás (três ou mais vezes na semana) e não habituais (menos de três vezes na semana) ou não consumidores.
Após cerca de sete anos, os pesquisadores constataram que os fãs da bebida viviam mais. Entre quem tinha 50 anos, por exemplo, a expectativa de vida aumentava 1,26 ano em comparação às pessoas sem o hábito de degustar chás.
Além disso, a presença da bebida na rotina derrubava em 20% o risco de desenvolver doenças cardiovasculares. E a possibilidade de morrer também foi menor, tanto por causa de infarto ou AVC (22%) como por qualquer enfermidade (15%).
Os especialistas ainda checaram as repercussões em longo prazo. Para isso, eles esperaram oito anos e, então, analisaram um subconjunto de 14 081 voluntários. Nessa fase, os participantes foram acompanhados por mais cinco anos.
Aqueles que mantiveram o costume de tomar chá tinham 39% menos risco de sofrer doenças cardiovasculares e 56% menor probabilidade de ir a óbito por esse motivo. A possibilidade de falecer por problemas de saúde em geral baixou 29%.
De acordo com o epidemiologista Dongfeng Gu, que participou da pesquisa, os prováveis responsáveis por essa ação protetora são os polifenóis. Eles são componentes bioativos de ação antioxidante, ou seja, têm o poder de blindar nossas células.
O especialista contou que estudos anteriores já haviam indicado que os polifenóis não ficam armazenados no corpo por muito tempo. “Assim, a ingestão frequente por um período prolongado pode ser necessária para alcançar o efeito protetor”, completou Gu, em comunicado à imprensa.

O tipo de chá faz diferença?

Na análise, o chá verde foi associado a uma possibilidade 25% menor de piripaques do coração e morte. Por outro lado, quem dava preferência ao chá preto não apresentou vantagens significativas.
Isso seria explicado pelo fato de que essa variedade passa por uma fermentação mais intensa, o que levaria os polifenóis a perderem parte de sua propriedade antioxidante. Também se especula que o costume de oferecer chá preto misturado ao leite pode neutralizar o seu efeito favorável nas funções vasculares.
No entanto, Gu lembra que o chá verde é bastante popular na região da Ásia estudada: 49% o bebiam frequentemente, enquanto apenas 8% preferiam a versão escura.
“A pequena proporção de consumidores de chá preto torna mais difícil observar associações robustas, mas nossos resultados sugerem um desfecho diferente entre os dois tipos”, aponta o epidemiologista.

Menor eficácia em mulheres

O trabalho mostrou que o líquido teve um impacto positivo nos homens, mas modesto na população feminina. Porém, isso não significa que a bebida é mais potente no sexo masculino.
A epidemiologista Xinyan Wang, líder da investigação, lembra que as mulheres mais velhas são naturalmente mais suscetíveis a problemas cardiovasculares e, no grupo avaliado, engoliam menos xícaras.
“Essas diferenças aumentaram a chance de encontrar resultados estatisticamente significativos entre os homens”, ensina a profissional.
Os autores concluem que são necessárias mais pesquisas para bater o martelo sobre os achados antes de indicar mudanças oficiais na alimentação. Mas ninguém precisar esperar para colocar na rotina uma bebida bacana como essa, certo?

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Força-tarefa tenta solucionar doença misteriosa que já matou uma pessoa em Minas

Casos começaram a ser registrados no dia 30 de dezembro. Além de um óbito, oito pessoas já foram internadas com os mesmos sintomas

Por O Dia
Caso os sintomas apareçam,  SES-MG informa que devem ser imediatamente notificados (em até 24 horas) ao CIEVS BH (casos de Belo Horizonte) e CIEVS Minas (casos do restante do estado), pelo telefone e por e-mail
Caso os sintomas apareçam, SES-MG informa que devem ser imediatamente notificados (em até 24 horas) ao CIEVS BH (casos de Belo Horizonte) e CIEVS Minas (casos do restante do estado), pelo telefone e por e-mail -
Minas Gerais - Uma força-tarefa composta por técnicos da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) e CIEVS Minas, da Secretaria Municipal de Saúde de BH (CIEVS BH) e do Ministério da Saúde (EpiSUS) tenta solucionar uma doença misteriosa que já deixou oito pessoas internadas e matou uma delas em Minas Gerais.
Segundo a Secretaria de Estado de Saúde de Minas, os casos começaram a ser registrados no dia 30 de dezembro, em um hospital particular de Belo Horizonte. No dia seguinte, um caso idêntico foi registrado em um hospital em Juiz de Fora e, desde então, oito casos foram contabilizados no Estado. Na noite desta terça-feira, o primeiro paciente veio a óbito, em Juiz de Fora. 
Os sintomas da doença são insuficiência renal aguda de rápida evolução (até 72 horas), acompanhada de alterações neurológicas centrais e periféricas, como paralisia facial e borramento visual.
Além das cidades de Belo Horizonte e Juiz de Fora, também foram registrados casos em Ubá e Nova Lima. 
Até o momento, os pacientes são do sexo masculino, com idade entre 23 e 76 anos, e a média de dias entre o início dos primeiros sintomas e a internação foi de 2,5 dias. Exames laboratoriais estão sendo realizados na Fundação Ezequiel Dias (FUNED), mas ainda não há resultados conclusivos.
A Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte informou que, desde que foi notificada, acompanha e monitora os casos e investiga os aspectos clínicos, epidemiológicos e sanitários que envolvem a ocorrência. Essa investigação abrange, inclusive, ação dos fiscais sanitários na coleta de alimentos e demais produtos, para análise laboratorial, além de vistorias nos locais de aquisição desses produtos.

A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) informa que trabalha no levantamento de informações para verificar se o fato tem indícios de crime. As investigações estão em andamento, com a realização de entrevistas, comunicação com outras instituições públicas, entre outras providências.
Caso os sintomas apareçam, entre em contato imediatamente 
A SES-MG informa que devem ser imediatamente notificados (em até 24 horas) ao CIEVS BH (casos de Belo Horizonte) e CIEVS Minas (casos do restante do estado), pelo telefone e por e-mail, os casos ocorridos a partir de primeiro de dezembro de 2019 que iniciaram com sintomas gastrointestinais (náusea e/ou vômito e/ ou dor abdominal) associados à insuficiência renal aguda grave de evolução rápida (até 72 horas) seguida de uma ou mais alterações neurológicas: paralisia facial, borramento visual, amaurose, alteração de sensório e paralisia descendente.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Drama! Mulher com 'Síndrome de Pica' convive há 15 anos com vício

Ela busca ajuda profissional para se livrar do problema

Por IG - Último Segundo
Lisa Anderson lida com a compulsão por consumir talco há 15 anos
Lisa Anderson lida com a compulsão por consumir talco há 15 anos -
A cada 30 minutos, Lisa Anderson, de 44 anos, esculpe nas costas da mão um montanha de talco. A 'obra de arte', na realidade, passou a fazer parte da sua alimentação diária da inglesa que possui o vício há cerca de 15 anos.  O hábito foi mantido em segredo por anos e revelado após o ex-companheiro de Lisa questionar porque a esposa se escondia no banheiro. Agora, Lisa busca ajuda profissional para deixar a compulsão por comer talco, diagnosticada por médicos como 'Síndrome de Pica'.
O vício surgiu enquanto ela usava o produto em um dos seus cinco filhos após o banho.  Com a intensificação da compulsão, Lisa pode ingere cerca de 200 gramas do item e já gastou 8 mil libras esterlinas por ano, o equivalente a cerca de R$ 42 mil em compras do produto de higiene. 
O distúrbio é caracterizado pela vontade de comer itens que não possuem valor nutricional, como pedras de gelo, tinta, barro, poeira, sujeiras e tijolo. Quando inalado ou ingerido, o pó de talco é considerado venenoso e pode causar câncer em mulheres que usam o produto na pele há anos. 
Lisa descreve o desejo de consumir o talco como "incontrolável". Ao jornal britânico Daily Mail, ela diz que recorda o exato momento em que decidiu ingerir o pó de higiene pela primeira vez. 
"Eu me lembro de sentir um cheiro avassalador naquele dia, enquanto secava meu bebê. Havia um pouco de pó em cima da tampa da embalagem. Eu simplesmente senti uma necessidade urgente de lambê-la e aquilo realmente me deu prazer. Foi como satisfazer uma necessidade que eu nunca imaginei que tivesse".
Quando está longe de casa, sem acesso ao talco, a inglesa mastigar balas de menta extraforte na tentativa de sanar a dependência. O máximo de tempo que Lisa conseguiu ficar sem comer talco há 15 anos foram dois dias. "Os piores da minha vida", relatou ao Mail.
Síndrome
Conhecida como Síndrome de Pica, a alotriofagia é um transtorno definido pela vontade de ingerir de forma compulsiva itens que não são comestíveis ou que não possuem valor nutricional. A doença ocorre com mais frequência dentro de quadros de autismo, esquizofrenia e Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC).

segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

O que o cochilo pode fazer pela sua saúde

Novos estudos atestam que tirar uma soneca após o almoço previne infartos, turbina a memória e melhora o raciocínio, entre outros benefícios

Em tempos de guerra ou paz, o primeiro-ministro britânico Winston Churchill (1874-1965) não abria mão de tirar um cochilo, sempre por volta das 17 horas. Depois de uma hora e meia de soneca, ele tomava banho, jantava e continuava a trabalhar até a 1 da manhã. No dia seguinte, às 7h30 em ponto, retomava a rotina. “Quem adere ao hábito ganha dois dias em vez de um”, costumava dizer. No Brasil, quem incorporou o costume foi o sociólogo Fernando Henrique Cardoso. Quando era presidente da República, gostava de pegar um livro ou jornal e dar uma boa cochilada de 15 a 20 minutos em um sofá qualquer do Palácio da Alvorada, em Brasília. “Faz um bem danado”, relatou FHC em 1998.
Parece conversa pra boi dormir, mas o fato é que a ciência assina embaixo. A mais nova pesquisa a confirmar o efeito benéfico do cochilo vespertino vem do Hospital Universitário de Lausanne, na Suíça, e foi publicada na revista médica Heart.
A equipe da epidemiologista Nadine Häusler monitorou os hábitos de sono e o prontuário de aproximadamente 3 400 voluntários com idade entre 35 e 75 anos. Passados cinco anos, ela concluiu que tirar uma pestana uma ou duas vezes por semana reduz em até 48% o risco de eventos cardiovasculares, a exemplo de infartos e AVCs.
“Quando você dorme pouco ou mal à noite, cochilos ocasionais são uma forma de compensação fisiológica que diminui o nível de estresse”, explica a estudiosa.
Cochilar por alguns minutos, de preferência na parte da tarde, não faz bem só ao coração. O cérebro, principalmente o dos idosos, também fica feliz da vida. É o que revela outro estudo, este realizado pela Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, e publicado no periódico Journal of the American Geriatrics Society.
No trabalho, cerca de 2 900 chineses com mais de 65 anos tiveram que, entre outras tarefas, resolver equações matemáticas, memorizar sequências de palavras e responder a perguntas do tipo “Em que estação do ano estamos?”.
Segundo a médica e coordenadora da investigação, Junxin Li, os que cochilavam cerca de 30 minutos, até por volta das 16 horas, foram os que apresentaram melhores resultados.
Não faltam evidências para legitimar as vantagens do relaxamento pós-prandial — prandium, em latim, quer dizer almoço. Até a Nasa recomenda a soneca a pilotos e astronautas.
Segundo um experimento da agência espacial americana, quem faz um repouso de uns 20 minutos depois da principal refeição do dia tem sua capacidade de raciocínio e memória aumentada em 34% e sua habilidade para tomar uma decisão acertada sobe 54%.
Mas, cá entre nós, será que dá para descansar o esqueleto em tão pouco tempo? A resposta é sim! “Cochilos curtos, de 15 minutos, são suficientes para causar um ‘reset’ no corpo e no cérebro”, afirma a pediatra Lucila Prado, do Departamento Científico do Sono da Academia Brasileira de Neurologia.

Quanto tempo o cochilo deve durar

O sono nosso de cada dia, explicam os cientistas, tem quatro estágios: 1, 2, 3 e REM — sigla para rapid eye movement, ou movimento rápido dos olhos. Do estágio mais superficial ao mais profundo, o ciclo total dura de uma hora e meia a duas e se repete quatro ou cinco vezes ao longo da noite.
O ideal é cochilar apenas 15 minutos, mas, se houver tempo, estique até, no máximo, duas horas. Mais que isso, você pode acordar grogue, irritadiço e mal-humorado. Ou pior: ter dificuldade para pegar no sono mais tarde.
Por essas e outras, a neurologista Andrea Bacelar não recomenda a prática a qualquer um. “Apenas a quem trabalha em turnos ou não dorme o suficiente à noite”, ressalva ela, que é presidente da Associação Brasileira do Sono.

A soneca perfeita

O lugar: deve ser silencioso e climatizado. Na falta de um local assim, que tal a sala de reuniões vazia? Em último caso, até um pufe ou uma cadeira reclinável podem ajudar.
A luminosidade: vale fechar cortinas ou persianas. Agora, se não for possível deixar o ambiente escolhido mais escurinho, recorra a uma máscara de dormir.
O barulho: protetores auriculares podem ser úteis para barrá-lo. Outra sugestão é utilizar fones e ouvir música clássica ou até um barulhinho de cachoeira.
A duração: bastam 20 minutinhos. Mas, se conseguir, capriche: de 90 minutos a duas horas. Mais que isso, você pode acordar grogue e irritado. Use o despertador.
O período: o melhor é cochilar logo após o almoço, de preferência entre as 13 e as 15 horas. Evite tirar sonecas no fim do dia para não atrapalhar o sono principal.

A hora da sesta

Na Espanha, siesta. No Japão, inemuri. Nos Estados Unidos, power nap. São muitos os países que, por razões culturais ou não, adotam o hábito de fazer um repouso pós-almoço. A nomenclatura varia de um lugar para outro.
Na Espanha, o termo siesta se refere à sexta hora do dia. Para os latinos, o dia começava às 6 da manhã. Logo, a sexta hora era ao meio-dia. No Japão, ser pego cochilando no trabalho não significa demissão — em alguns casos, pode dar promoção! É o chamado inemuri, ou “dormindo em serviço”. Uma prova de que o funcionário veste a camisa da empresa.
Para os americanos, soneca virou power nap, ou “cochilo poderoso”. O termo foi criado em 1999 pelo psicólogo James B. Maas, da Universidade Cornell.
“Seu corpo está com fome de sono, mas, durante o dia, você não pode fazer uma refeição completa? A solução é servir um lanche muito saboroso chamado soneca”, compara o autor de Power Sleep (clique para comprar), Sleep for Success e Sleep to Win, entre outros livros.
No Brasil, a moda não pegou. “Não sai barato criar um cochilódromo em uma empresa. Demanda investimento. Além disso, para muitos empresários, o hábito é sinônimo de preguiça. É preciso vencer esse preconceito”, avalia Paulo Sardinha, presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos.
Por enquanto, dá para contar nos dedos as empresas que disponibilizam espaços aconchegantes para os funcionários relaxarem um tempinho.
“Mas os benefícios do cochilo para a saúde do trabalhador são incontáveis”, afirma Rosylane Rocha, presidente da Associação Nacional de Medicina do Trabalhador. “Melhora o humor, estimula a criatividade e aumenta a produtividade”, cita.
Desde 2010, a Locaweb, empresa de hospedagem de sites, oferece pufes confortáveis em local arborizado. Em média, 30 colaboradores usam o serviço todo dia. “Funcionários descansados produzem mais”, crava Simony Fernanda, gerente de Gente & Gestão da companhia.
Na farmacêutica Novartis, o balanço também é positivo. A cabine do sono, inaugurada em fevereiro, faz parte do espaço Energized, que inclui sala de meditação e cadeiras de massagem. Todos os meses, 160 funcionários desfrutam da novidade durante 15 a 20 minutos.
“Contribui para um melhor aprendizado e uma execução mais eficiente das tarefas”, garante Júlia Fernandes, diretora de Pessoas e Organização do grupo.
Se a empresa onde você trabalha não proporciona uma área apropriada, o jeito é improvisar: procure um lugar sossegado para a soneca. Pode ser uma sala de reuniões vazia ou o interior do carro — dentro do estacionamento, claro. O ideal é que o ambiente seja escuro, climatizado e silencioso. Se não for, máscaras de dormir e tampões de ouvido dão uma força.
Mas atenção: sonolência excessiva durante o dia pode ser sintoma de algum distúrbio do sono. “No caso dos adultos, são indicadas de sete a nove horas de sono. Se o indivíduo dorme esse tempo e mesmo assim sente uma sonolência que atrapalha suas atividades diárias, ele deve procurar um especialista”, aconselha a médica Luciana Palombini, do Instituto do Sono, em São Paulo.
Um cochilo pode fazer maravilhas. Mas só quando você não é refém dele.

Cochilo próprio para menores

Até os 3 anos de idade, a soneca é obrigatória na vida dos pequenos. Depois, torna-se opcional. “Hoje em dia, muitas crianças seguem o ritmo dos pais e acabam sofrendo de privação do sono”, alerta a médica Simone Fagondes, da Sociedade Brasileira de Pediatria. O mesmo se aplica aos adolescentes.
E, se o sono noturno deixa a desejar, o cochilo vespertino pode ser a solução. Mas, aí, não pode passar de 20 minutos. “É como desligar o carro em um lugar frio. Para o motor pegar novamente, demora à beça”, compara o neurocientista John Fontenelle Araújo, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Refúgios modernos

Pelo menos cinco cidades já alugam cabines para quem quer tirar uma soneca no meio do dia: Rio, São Paulo, Campinas, Recife e Brasília. Na Pausadamente, na capital fluminense, o cliente pode escolher de luz ambiente a trilha sonora.
Na Cochilo, em São Paulo, são quatro opções de tempo — 15, 30, 45 e 60 minutos — e os preços variam de 12 a 25 reais. Em 2012, quando foi inaugurada, eram quatro cabines. Hoje são 37. “Recebemos de seguranças e estagiários a executivos”, conta Alicia Jankavski, uma das proprietárias.
Já o Siesta Box funciona nos aeroportos de Guararapes, no Recife, de Viracopos, em Campinas, e Juscelino Kubitschek, em Brasília.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Combinar cigarro eletrônico com o normal é ainda pior para o pulmão

Uma pesquisa indica que o e-cigarro causa doenças pulmonares crônicas por si só. Mas usá-lo junto com a versão tradicional seria especialmente ruim

Um estudo da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, mostra que os cigarros eletrônicos aumentam significativamente a probabilidade de desenvolver problemas respiratórios incuráveis, como asma, bronquite e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Acontece que o quadro se torna ainda mais grave quando a pessoa recorre tanto ao aparelho como ao cigarro comum.
Para chegar nessa conclusão, os cientistas verificaram os dados da Avaliação Populacional do Tabaco e da Saúde, uma pesquisa conduzida anualmente nos Estados Unidos. Nesse levantamento, os participantes respondem a um questionário sobre problemas de saúde — que incluem os do sistema respiratório —, regularidade de fumo e o “tipo de cigarro” utilizado.
No total, 32 mil americanos maiores de idade, entrevistados de 2013 a 2016, foram incluído na análise. Não é pouca gente.
Ao cruzar as informações, primeiro se constatou que usuários dos vaporizadores eram 1,3 vez mais suscetíveis a apresentar enfermidades respiratórias ao longo do tempo. Esse número subia para 2,6 vezes entre quem preferia o cigarro normal.
Mas aí veio a descoberta mais amedrontadora. Nas pessoas que usavam ambas as opções, o risco de sofrer com enfermidades no pulmão era 3,3 vezes maior, quando comparado a quem não fuma.
De acordo com o cardiologista Stanton Glantz, líder da investigação, o achado problematiza a utilização de e-cigarros como forma de redução de danos. Até porque não mais do que 1% dos fumantes analisados migraram completamente para os dispositivos de bateria. E, de novo, o uso combinado se mostrou especialmente danoso.
“Trocar completamente o convencional pelo eletrônico poderia diminuir o risco de doenças pulmonares, mas poucas pessoas fazem isso”, reforça Glantz, em comunicado à imprensa.
Além disso, o trabalho americano foi o primeiro a expor as repercussões de vaporizadores em um período mais longo.
Até então, os especialistas da área só sabiam dos efeitos a curto prazo desses dispositivos. Entre eles, um dos mais preocupantes atende pela sigla de Evali (que vem de “lesão pulmonar associada a produtos de cigarro eletrônico ou vaping”, em inglês). A condição, que ainda está sendo investigada, já matou 48 pessoas e levou 2 291 para o hospital nos Estados Unidos, de acordo com o último boletim divulgado pelo Centro de Controle de Doenças (CDC) do país.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Bolsonaro sanciona novo Mais Médicos, mas veta Revalida em universidades privadas

Crédito: AFP
O presidente Jair Bolsonaro discursa durante cerimônia de promoção de generais das Forças Armadas em Brasília, 9 de dezembro de 2019 (Crédito: AFP)
O presidente Jair Bolsonaro sancionou nesta quarta-feira, 18, lei para criação do Médicos Pelo Brasil, programa que propõe substituir gradualmente o Mais Médicos e contratar 18 mil profissionais para atuar em regiões mais pobres do País.
Bolsonaro ainda sancionou nova legislação sobre o Revalida, que poderá agora ser realizado duas vezes por ano. O presidente, no entanto, vetou trecho que permitia a revalidação em universidades privadas, de notas 4 ou 5 no Enade, de diplomas de profissionais formados no exterior.
O governo deseja lançar edital em fevereiro para selecionar profissionais do Médicos Pelo Brasil. Ainda será definido quantos médicos serão enviados para cada cidade, mas o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), estima que 13,8 mil seguem ao Norte e Nordeste.
O primeiro nível salarial dos profissionais contratados pelo novo programa pode chegar até R$ 21 mil e R$ 31 mil. A variação depende do local de trabalho.
Antes de entrarem de vez no programa, quando são contratados via CLT, os profissionais selecionados receberão bolsa de R$ 12 mil mensais líquidos durante dois anos de formação em Medicina da Família e Comunidade. Neste período, haverá ainda gratificação de R$ 3 mil para quem atuar em locais remotos e de R$ 6 mil para distritos indígenas, áreas ribeirinhas e fluviais. Segundo Mandetta, não está descartado que instituições privadas atuem nos cursos de formação.
Os médicos serão selecionados por meio de processo seletivo eliminatório e classificatório. Serão escolhidos médicos de família e comunidade, além de tutor médico, para os cursos de formação.
Segundo o Palácio do Planalto, o Médicos Pelo Brasil deve abrir 7 mil novos postos de trabalho para médicos em municípios desassistidos. Mandetta disse esperar um orçamento de R$ 4 bilhões ao programa para 2020.
Criada pela nova lei, a Agência para o Desenvolvimento da Atenção Primária à Saúde (Adaps) definirá critérios do edital de seleção, distribuição e formação dos médicos. A ideia do governo é superar a “burocracia” para colocar a agência em funcionamento em até 45 dias, disse Mandetta.
O veto ao Revalida em universidades privadas foi um pedido de entidades médicas, como o Conselho Federal de Medicina (CFM). “Para atender a classe médica, para o bom desempenho do serviço de vocês”, disse Bolsonaro sobre o veto. “Nós estamos aqui sancionando essa lei histórica. E vetando uma coisa que é normal. Espero que o Congresso mantenha os vetos, quando forem analisados oportunamente”, completou.
O governo elaborou o Médicos Pelo Brasil para substituir o Mais Médicos, criado no governo Dilma Rousseff (PT), que trouxe profissionais cubanos para atuar em regiões remotas. O programa do governo petista ficou esvaziado após o fim de acordo com o governo cubano.
Cubanos ficam
Os médicos cubanos que atuaram no Mais Médicos serão reincorporados ao programa por meio da nova lei, mesmo sem o Revalida. Esses profissionais, porém, poderão atuar nestas condições por no máximo dois anos e desde que atendam os seguintes requisitos: ter sido desligado do Programa em razão do fim do acordo de cooperação entre o Ministério da Saúde Pública de Cuba e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS); e ter permanecido em território nacional até a data da publicação da MP do Médicos Pelo Brasil, 1º de agosto, na condição de naturalizado, residente ou com pedido de refúgio.
O ministro Mandetta disse estimar que até 2 mil médicos cubanos tenham ficado no Brasil após o fim da parceria com Cuba.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

O que é anemia ferropriva?

A anemia por deficiência de ferro é o tipo mais comum dessa doença. Conheça as causas, os sintomas, o tratamento e as formas de prevenção

Não tem segredo: a anemia ferropriva nada mais é do que a versão dessa doença provocada pela deficiência de ferro. Apesar de não ser o único tipo — ela também pode surgir por falta de ácido fólico, entre outras causas —, é de longe a mais prevalente em todo o mundo.
Até por isso, a leitora Maria Rosimeire Peixoto nos enviou uma carta pedindo para esclarecermos o que caracteriza essa encrenca. Quais são seus sintomas? Como tratá-la?
Para tirar essas e outras dúvidas, SAÚDE conversou com o pediatra especializado em nutrologia Flávio Diniz Capanema, coordenador do Núcleo de Inovações Tecnológicas e Proteção ao Conhecimento da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig).
Antes de tudo, cabe lembrar que toda e qualquer anemia é marcada pela baixa concentração de hemoglobina. Essa proteína, presente nas hemácias (as células vermelhas do sangue) transporta o oxigênio pela circulação. E o ferro é peça-chave nesse processo.

Como a anemia ferropriva surge e quais seus sintomas

Em cerca de 80% dos casos, decorre de uma alimentação inadequada que leva ao consumo insuficiente do mineral, especialmente nas fases da vida em que há uma maior demanda por ele, como na infância e durante a gravidez. No entanto, a má absorção de ferro ou a perda crônica de sangue também estão por trás da chateação.
O paciente apresenta palidez, cansaço, sonolência e tontura. Nos quadros mais severos, há falta de ar, insuficiência cardíaca e palpitações.
Se notar esses sinais, procure um clínico geral ou, no caso dos pequenos, um pediatra. Para fechar o diagnóstico, ele precisará pedir um hemograma, o famoso exame de sangue.
A queda nos índices de hemoglobina também afeta o sistema límbico, que é a área do cérebro responsável pela regulação do prazer, incluindo aí o gustativo. Por isso, o apetite é comprometido.
“A pessoa não se alimenta adequadamente e pode desenvolver hábitos bizarros, como comer terra ou chupar gelo”, relata o médico.
Como o nutriente participa ativamente do trabalho dos neurônios, crianças anêmicas às vezes desenvolvem déficit cognitivo e dificuldades de memorização, raciocínio e linguagem. “Com pouco ferro para ajudar no crescimento, elas podem ter sequelas permanentes”, informa o especialista.
Por fim, a deficiência impacta o sistema imunológico, tornando os portadores mais vulneráveis a infecções.
Como na infância as consequências são mais sérias, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda verificar a presença de anemia já aos 12 meses de idade. “O profissional deve ficar atento. Com diagnóstico precoce, há menor risco de sequelas”, afirma Capanema.

Quais são os grupos de risco

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 40% da população mundial é anêmica. Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, sua prevalência é cerca de quatro vezes maior — e a anemia ferropriva responde por 95% de todos os casos.
As crianças são as maiores vítimas, sobretudo nos primeiros dois anos de vida.
Adolescentes e gestantes também merecem atenção especial. “Como a mulher passa a nutrir o feto, o corpo privilegia as reservas de ferro para ele, criando uma deficiência extra”, explica o profissional.
Capanema lembra que a molecada acima do peso não está livre de se tornar anêmica. “Os pais acham que o filho está saudável porque é gordinho, mas temos que desmistificar isso. Os obesos estão em um processo inflamatório contínuo, o que prejudica a absorção de ferro”, avisa.

Anemia indica a presença de outras doenças?

“Ela tem um diagnóstico sindrômico. Isso significa que é uma manifestação comum de várias enfermidades diferentes”, responde o coordenador da Fhemig.
Quando não resulta da dieta, a anemia pode vir de problemas por trás de hemorragias ou hemólise — a destruição das células vermelhas do sangue. Alguns exemplos de males que disparam esses processos: doenças parasitárias (leishmaniose, esquistossomose), enfermidades hereditárias (talassemia) ou cânceres que atacam a medula (linfomas, leucemia).

Como tratar a anemia ferropriva

O tratamento em si é simples: o doutor receita doses de sulfato ferroso via oral por mais ou menos três meses. Ajustes na dieta também são importantes em alguns cenários.
No mais, é fundamental verificar se não há doenças escondidas que estão provocando a deficiência de ferro.

Dá para evitar?

Antes de mais nada, a prevenção passa pela reeducação alimentar. Carne vermelha, espinafre, feijão, couve e agrião possuem boas doses de ferro.
“No entanto, o ferro vindo de origem vegetal não é tão bem absorvido pelo organismo. Quando o associamos a fruta cítricas, o ácido fólico presente nelas dá uma ajuda”, ensina o especialista.
Por isso, a orientação é comer mais frutas azedinhas com as refeições. Vale laranja, uva, abacaxi, acerola, limão, caju, pitanga…
Via de regra, as gestantes vão precisar de suplementação. Elas são aconselhadas durante o pré-natal.
Agora, para os recém-nascidos a coisa muda. A melhor e mais eficaz maneira de evitar a anemia ferropriva na infância é a amamentação exclusiva até os 6 meses de vida. “O leite materno é o alimento que mais passa ferro para o organismo do bebê. É uma orientação mundial que surte bons efeitos”, indica o médico.
No momento do parto, uma medida interessante é esperar entre um e dois minutos para cortar o cordão umbilical. Isso aumenta os estoques do nutriente no recém-nascido.
Dos 6 meses até os 2 anos, a suplementação é comum devido à alta prevalência de anemia ferropriva. “Bebês prematuros ou de baixo peso correm risco adicional”, completa o profissional.
Capanema lembra ainda da importância de não oferecer leite de vaca antes do primeiro ano de idade do pequeno. É que a bebida concentra bastante caseína. “Essa proteína costuma inflamar a mucosa intestinal, levando a pequenos sangramentos no órgão por trás da anemia”, esclarece Capanema.
Portanto, as crianças que não são amamentadas por qualquer motivo devem receber fórmulas específicas. E não o leite de caixinha do restante da família.
A ingestão inadequada de ferro motivou uma regulamentação no Brasil. Desde 2004, a indústria é obrigada pelo Ministério da Saúde a fortificar farinha de trigo e milho com esse mineral — e com ácido fólico também.

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Medo de vacina (contra HPV) também pode ser doença: entenda o caso do Acre

Episódios de convulsões e outras reações adversas supostamente ligadas à vacina do HPV foram destrinchados por uma jornalista da Revista Questão de Ciência

Há 170 anos, os franceses cunharam a expressão “cancer à deux” (câncer a dois) para descrever os casos em que a mulher tinha um tumor de colo de útero e o marido, um de pênis, levantando a suspeita de que essas doenças poderiam ser contagiosas. A maioria dos episódios, como hoje se sabe, é causada pelo papilomavírus humano (HPV), transmitido por contato sexual. Ao longo da vida, a pessoa tem 80% de chance de pegar um dos tipos de HPV, inclusive os três mais associados a esses cânceres. Por isso, quando as vacinas contra o HPV surgiram, em 2006, despontou a esperança de erradicar esses dois tipos de tumor, mais comuns em países pobres ou em desenvolvimento, onde as estratégias de prevenção e diagnóstico precoce não funcionam bem.
O alvo da vacinação, porém, é um grupo extremamente vulnerável emocionalmente e que não costuma mais frequentar postos de saúde durante campanhas de vacinação: os adolescentes e pré-adolescentes. Por isso, as autoridades de saúde resolveram imunizar esses grupos nas escolas. Foi nesse ambiente, na cidade paulista de Bertioga, que 11 meninas da mesma escola foram hospitalizadas após receber a segunda dose da vacina em setembro de 2016, queixando-se de fortes dores de cabeça e dificuldades para andar.
Oito meninas receberam alta no mesmo dia, depois de uma avaliação neurológica concluir que não tinham sofrido dano físico e o problema havia sido causado pela enorme ansiedade quanto à vacina. O caso representava um exemplo de um fenômeno descrito na medicina como crise psicogênica em massa. Três outras permaneceram internadas. Foi o bastante para o fato ganhar as manchetes da mídia, com comentaristas questionando, inclusive, a segurança da vacinação.
Ao contrário do que muitas pessoas imaginam, doenças psicogênicas não são “fingimento”. Os sintomas, sejam dores, tonturas, cegueira, paralisia etc., são reais. Apenas sua causa não é um agente externo, como um vírus ou uma contaminação do ambiente, mas um estado emocional.
Qualquer indivíduo que já tenha ficado sem ar ou paralisado de susto sabe como os efeitos físicos de certos estados mentais são poderosos.
Essas crises são contagiosas (daí o termo “de massa”). Quando membros de um grupo que partilham de uma identidade forte — estudantes de uma mesma escola, por exemplo — veem um colega adoecer e sentem o clima de medo e apreensão, outros acabam sucumbindo. O alcance do fenômeno, é claro, pode ser amplificado pela mídia.

Os casos de “reação adversa à vacina do HPV” no Acre

Em 2015, um ano antes da situação em Bertioga, o mesmo fenômeno ocorreu no Acre sem muito alarde na grande mídia. E, diferentemente do que aconteceu em São Paulo, a saúde pública local não deu atenção ao caso. Muitas mães tiveram de ouvir que suas filhas estavam apenas fazendo cena, simulando ter convulsões. O Acre conta, hoje, com 82 desses casos, os oito mais recentes registrados nas últimas semanas.
A maioria dos episódios era semelhante aos que viriam a se manifestar em São Paulo, com queixas de dores de cabeça, dores nas pernas e desmaios. Alguns adolescentes apresentavam um quadro mais grave, com convulsões. E as famílias, espremidas entre a indiferença das autoridades e a realidade dos sintomas, adotaram o pressuposto de que suas filhas e filhos estavam com uma sequela neurológica provocada pela vacina.
Familiares passaram a ficar na porta de centros de vacinação, tentando convencer as pessoas que o imunizante contra o HPV era perigoso.
Vídeos das meninas em convulsão foram postados em redes sociais. Depois de vê-los, outras jovens passaram a apresentar os mesmos sintomas — e o caso ganhou destaque nos jornais e emissoras locais. O pânico foi se espalhando pela população ao longo dos quatro anos em que o fenômeno ficou sem explicação.
Procuradas pelas famílias, as quatro deputadas federais eleitas pelo Estado, Mara Rocha (PSDB), Jéssica Sales (MDB), Vanda Milani (Solidariedade), Perpétua Almeida (PC do B) e a senadora Mailza Gomes (PP) deixaram de lado as diferenças partidárias e pressionaram o Ministério da Saúde a encontrar uma resposta para o que estava acontecendo com os adolescentes. O governo encarregou o Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas, em São Paulo, de desvendar o mistério.
Acompanhados por suas mães, os 16 adolescentes com sintomas mais graves, entre eles um casal de irmãos, foram trazidos para a capital paulista, onde passaram por uma enorme bateria de exames, de ressonância magnética a testes de metabolismo, incluindo até exames de gravidez. E, o mais importante, realizaram uma vídeo-eletroencefalografia prolongada, em que o paciente é gravado enquanto o aparelho registra suas ondas cerebrais, ao longo de dez a 15 dias, por 24 horas.

O parecer dos especialistas sobre a segurança da vacina do HPV

Até o final de outubro, a equipe coordenada pelo psiquiatra Renato Luiz Marchetti, do IPq, tinha avaliado 12 pacientes. Apenas dois — aquele casal de irmãos — apresentava convulsões do tipo epiléptico, mas ambos são portadores de uma forma genética da doença, que justamente se manifesta na adolescência.
Os demais sofreram convulsões atípicas, não associadas à epilepsia ou outra doença fisiológica, mas que caracterizam doença psicogênica. Ou seja, disparada por um mecanismo psicológico.
“É uma doença funcional do sistema nervoso, que está associada a estresse emocional. Ela desencadeia uma reação psicológica automática do sistema nervoso”, explica o Marchetti.
Coordenador da Unidade de Vídeo-Eletroencefalografia do IPq, o psiquiatra José Gallucci Neto lembra que a história registra vários episódios de doença psicogênica em massa, como o das bruxas de Salem, que envolvia meninas adolescentes numa comunidade puritana apavorada com demônios. Ou casos de pessoas que se achavam contaminadas por antraz ou gás Sarin logo após o atentado das Torres Gêmeas, no 11 de setembro de 2001.
Os eventos de doença psicogênica relacionados a vacinas também não são incomuns. Em 1998, um menino desmaiou um dia depois de tomar uma injeção contra tétano e difteria numa escola da Jordânia. Quando os colegas souberam, outros 20 desmaiaram ou se queixaram de febre e falta de ar.
Depois que a história chegou à mídia, mais 55 alunos do mesmo colégio passaram mal. Outros 700, de outras escolas, também reclamaram dos mesmos sintomas.
“O fator que detona esse processo é a crença cultural em algo extremamente ameaçador”, conta Gallucci Neto. “Temos um cenário em que vem o crescendo o medo de tomar vacinas, por causa dessas campanhas absurdas que dizem que elas disparam autismo ou provocam a doença que se quer evitar”, completa.
O caso da Colômbia, também com a vacina contra HPV, é impressionante. Por lá, a vacinação começou em 2012 e atingiu 90% do público-alvo. Dois anos depois, na cidade de Carmen de Bolivar, 15 meninas da mesma escola foram hospitalizadas, entre 29 de maio e 2 de junho de 2014, após tomarem a injeção. Logo apareceram vídeos delas desmaiando e se contorcendo, dando entrada inconscientes no hospital local.
A viralização das imagens causou também a disseminação dos sintomas psicogênicos em toda a Colômbia, onde há registro de mais de 600 casos.

A importância do contexto social

A vacina contra o HPV vem acompanhada por vários mitos. O principal é de que estimula o início precoce da vida sexual — há estudos internacionais mostrando justamente o contrário.
Além disso, no caso específico do Acre, as meninas frequentam um ambiente socioeconômico frágil, agravado pela atual crise. “Elas também vêm de famílias disfuncionais, onde há alcoolismo, privações materiais, abusos físicos ou psicológicos em algum momento da vida”, enumera Gallucci.
Outro fator que pode ter pesado no surto de doença psicogênica do Acre são as condições adversas da vacinação. Diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), o pediatra Renato Kfouri explica que o ideal, especialmente em adolescentes, é administrar a vacina com o jovem sentado numa sala fechada com o vacinador.
“Adolescentes são extremamente influenciáveis. Se um desmaia porque está assustado, muitos dos que estão fila também vão passar mal e atribuir o fato aos componentes da vacina, e não ao estresse provocado pelo ato de tomá-la”, afirma. “Essa estratégia reduz os casos de doença psicogênica, mas nas escolas nem sempre há condições para isso”, reconhece.
Também há defensores de certas terapias alternativas que jogam com o estranhamento em torno do caso para ganhar notoriedade e promover “soluções” de pouco ou nenhum respaldo científico.
O caso mais notório é o de Maria Emília Gadelha Serra, que faz pós-graduação em perícia médica na Santa Casa e contesta o estudo realizado em São Paulo, alegando que as jovens foram contaminadas por chumbo e outros metais pesados que ela afirma — sem provas — estarem presentes na vacina. Ela prestou um depoimento na Assembleia Legislativa do Acre, onde sua fala teve grande repercussão.
Em suas redes sociais, Maria Emília dissemina teorias da conspiração sobre a vacina contra o HPV, principalmente baseadas nas ideias desacreditadas do médico americano Sin Hang Lee. Ela diz que as meninas do Acre devem ser “descontaminadas” antes de passar por tratamento.
A médica é uma promotora da ozonioterapia, considerada uma “Prática Integrativa e Complementar” pelo Ministério da Saúde brasileiro, mas que carece de base científica e é condenada pelo FDA, órgão de vigilância sanitária do governo dos Estados Unidos. Há registro de pelo menos cinco mortes e uma amputação causadas pela prática.

Orientações

A equipe do Hospital das Clínicas paulista fez uma série de recomendações ao governo do Acre e ao Ministério da Saúde, começando pelo acompanhamento multidisciplinar das adolescentes, com equipe de clínico geral, psiquiatra, psicólogo e neurologista, sem necessidade de medicação.
A outra recomendação é de um programa que combata as “fake news” e desinformação. Por causa do episódio, muitas mães estão relutando em levar os filhos para tomar as demais vacinas de que precisam.
Em novembro, um artigo publicado na revista científica The Lancet Oncology afirmava que, graças à vacina contra o HPV, o câncer de colo de útero pode vir a ser erradicado do planeta.
Este conteúdo foi publicado originalmente pela Revista Questão de Ciência

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Colesterol alto em adultos jovens já aumentaria risco de infarto e AVC

Segundo um longo estudo, pessoas abaixo dos 45 anos com colesterol elevado têm uma chance especialmente alta de sofrer males cardiovasculares no futuro

O colesterol não é uma preocupação só para os mais velhos. Pelo contrário. Níveis altos antes dos 45 anos de idade aumentam especialmente o risco de infarto ou acidente vascular cerebral (AVC) aos 75. É o que indica o maior estudo a longo prazo feito sobre o tema, publicado recentemente no periódico The Lancet.
Conduzida por mais de 40 pesquisadores, a investigação chafurdou dados de quase 400 mil pessoas de 19 países diferentes. Elas foram seguidas por até 43 anos.
O trabalho avaliou os níveis de colesterol não-HDL dos participantes. Para quem não sabe, o HDL é tido como a versão boa dessa molécula. Logo, os experts focaram nas porções ruins do colesterol (entre elas o LDL).
Baseado em um modelo matemático, eles então calcularam o risco de o colesterol alto ao longo da vida provocar, aos 75 anos, panes cardíacas e AVC — mortais ou não. Para não confundir o resultado, foram considerados outros fatores que financiam esses problemas, como obesidade, tabagismo e pressão arterial.
Resultado: mulheres com menos de 45 anos que, além de outros dois fatores de risco cardíaco, apresentavam níveis acima do limite de colesterol não-HDL tinham uma probabilidade de 16% de sofrer um infarto ou derrame aos 75. A título de comparação, nas voluntárias de 60 anos com o mesmo perfil, a possibilidade era de 12%.
Nos homens, o risco foi de 29% nos mais jovens e 21% nos acima dos 60 anos. “Isso pode ocorrer por causa da exposição mais longa ao colesterol prejudicial”, comentou à imprensa Barbara Thorand, epidemiologista do Centro Alemão de Pesquisa de Saúde Ambiental, que participou do trabalho.
A partir dessas informações, os cientistas fizeram outra conta: o que ocorreria se esses participantes reduzissem o colesterol não-HDL pela metade? De acordo com os cálculos, o risco de encrencas cairia para 4% entre as mulheres com menos de 45 anos e para 6% nos homens da mesma faixa etária.

Implicações para o tratamento do colesterol

Os médicos recorrem com frequência a um cálculo que considera as taxas de colesterol, glicemia e por aí vai para estimar o risco de uma pessoa ter um piripaque no peito ou um AVC em dez anos. É a partir desse método que eles costumam prescrever remédios.
Mas se a nova pesquisa aponta que alterações no colesterol hoje estão associadas a problemas para além de uma década, não seria o caso de intervir antes? Em outras palavras, esse limiar de dez anos não seria curto demais?
“O cálculo utilizado atualmente pode subestimar o risco para a vida toda, principalmente nos mais jovens”, destacou o cardiologista alemão Stefan Blankenberg, outro autor da investigação, em um comunicado.
Contudo, mais estudos são necessários antes de mudar a recomendação de uso de drogas contra o colesterol, como as estatinas. É necessário entender, por exemplo, os possíveis efeitos colaterais de um tratamento mais longo e o custo-benefício da abordagem.
De qualquer jeito, o artigo reforça indiretamente a necessidade de promover hábitos saudáveis, que ajudem a controlar o colesterol, do começo ao fim da vida. Com ou sem remédio, uma coisa é certa: não custa ficar de olho nas suas taxas desde cedo.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

A vacina da gripe e a da febre amarela serão indicadas a mais brasileiros

Enquanto a vacinação da gripe estará disponível a partir dos 55 anos, a da febre amarela terá dose de reforço para crianças de 4 anos. Entenda

Por meio de um ofício enviado em novembro a prefeituras e governos estaduais, o Ministério da Saúde anunciou mudanças na indicação da vacina da gripe e na da febre amarela para 2020. Elas vão ampliar a cobertura, com o intuito de reduzir as infecções.
Segundo o documento, a campanha de vacinação contra o influenza (o vírus da gripe) será estendida na rede pública para pessoas a partir de 55 anos. Até então, só brasileiros com mais de 60 anos tinham acesso ao imunizante nos postos de saúde.
Crianças de 6 meses a menos de 6 anos, gestantes, profissionais de saúde, pessoas com doenças crônicas (diabetes, problemas autoimunes etc), detentos, trabalhadores do sistema prisional e professores também poderão receber suas doses, como de costume.
Vale lembrar que as injeções devem ser anuais no caso da gripe. E que, na rede privada, elas podem ser adquiridas para todo mundo com mais de 6 meses de idade.

E a febre amarela?

Por causa do aumento no número de casos da versão silvestre da doença — e pelo medo de a forma urbana voltar a circular — o Ministério da Saúde já havia anunciado que todas as regiões do Brasil seriam vistas como áreas de recomendação da vacina. No entanto, para não faltarem doses, a ampliação foi ocorrendo de pouco em pouco.
No ofício já mencionado, veio a confirmação de que os últimos estados do Nordeste que ainda estavam de fora da área de recomendação farão parte dela a partir de 2020. São eles: Alagoas, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe.
Isso significa que, desde que não haja contraindicações, qualquer habitante do Brasil precisa se vacinar contra essa enfermidade.
E não para por aí. Crianças de até 4 anos, mesmo se já receberam a injeção, deverão tomar uma dose de reforço. Isso porque, nos primeiros anos da infância, o sistema imunológico está especialmente imaturo — e responde menos à vacinação.
Via de regra, a vacina pode ser aplicada dos 9 meses de vida em diante.

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Uma nova esperança contra a doença de Chagas

Estudo avalia molécula capaz de reverter lesões no coração causadas pela doença de Chagas, que já é a terceira causa de transplante cardíaco no Brasil

Os dados oficiais estimam que de 2 a 5 milhões de brasileiros sofrem cronicamente com a doença de Chagas. “É a terceira causa de transplante cardíaco no Brasil”, revela o cardiologista Sandrigo Mangini, do Programa Einstein de Transplantes. O mal provoca lesões em órgãos como o coração ao longo de décadas e de maneira silenciosa, levando a quadros de insuficiência cardíaca — quando a bomba que existe no peito aumenta de tamanho e não consegue mais trabalhar direito. “O tratamento clínico para Chagas não é tão bem-sucedido em comparação com outras doenças coronarianas”, explica Mangini. Daí a promessa de uma pesquisa que está sendo conduzida no Instituto Oswaldo Cruz (IOC), no Rio de Janeiro.
Os cientistas testaram uma molécula capaz de bloquear o processo de fibrose do tecido cardíaco que ocorre na fase crônica da enfermidade. “Usamos um composto que inibe o receptor da TGF-beta”, conta Mariana Whagabi, líder do estudo e pesquisadora do Laboratório de Genômica Funcional e Bioinformática do IOC. É essa proteína do sistema imune que está por trás das alterações no coração.
Os resultados foram bastante animadores. Houve reversão do processo de cicatrização e melhora da função cardíaca. Em um dos esquemas terapêuticos, foi verificada também regeneração do tecido muscular do órgão.
Publicado na revista científica PLOS Neglected Tropical Diseases, o trabalho usou camundongos para testar a molécula, que é produzida pelo laboratório GSK. Os animais foram inoculados com o Trypanosoma cruzi, o protozoário que provoca a doença de Chagas. Neles, o problema ocorre de forma parecida com a dos seres humanos. “É um bom modelo”, diz Mariana.

O que é a doença de Chagas e qual seu tratamento

Para se tornar crônica em homens e mulheres, a enfermidade leva de 20 a 30 anos. Trata-se de uma doença negligenciada. Entram nesse grupo moléstias causadas por vírus, parasitas e bactérias que acometem principalmente as camadas mais pobres da população. Eis a razão do pouco interesse da indústria farmacêutica em buscar medicamentos inovadores.
O Trypanosoma cruzi pode ser transmitido pelo barbeiro. Ele pica a vítima para se alimentar de sangue e, no ato, defeca, evacuando o parasita. Alimentos como açaí e cana de açúcar com restos do inseto e suas fezes são outra forma de o contágio ocorrer, além de transfusão de sangue.
Feridas são a porta de entrada do Trypanosoma cruzi no organismo. Ele viaja pela corrente sanguínea e se abriga nas células cardíacas. Na gestação, a mãe infectada também pode passar o problema para o filho.
Do ponto de vista dos sintomas, a fase aguda da doença de Chagas se assemelha com a gripe. Já na crônica, a resposta imunitária gerada pelo corpo pode deflagrar um processo inflamatório intenso que provoca lesões no coração, além de esôfago e intestino. Tudo de maneira silenciosa. Daí o surgimento de insuficiência cardíaca décadas depois.
A droga disponível hoje para o tratamento, o benzonidazol, é capaz de dar cabo do Trypanosoma cruzi nos estágios iniciais da doença. Mas alguns parasitas podem apresentar resistência a ela, sem contar que o problema quase não é diagnosticado na fase aguda.
Com isso, muitos pacientes crônicos com Chagas acabam na fila do transplante. “Ele é uma boa opção”, atesta o cardiologista Sandrigo Mangini. Isso porque essas pessoas geralmente têm de 35 a 40 anos e não apresentam outras doenças, a exemplo de diabetes, hipertensão e obstrução das artérias.
Contudo, a espera pelo novo coração pode ser demorada e, infelizmente, 30% dos pacientes acabam morrendo. “A doença de Chagas está relacionada com uma questão socioeconômica, e o transplante tem um custo alto”, diz Mangini. “É louvável qualquer estratégia nacional que busque interferir nos mecanismos desse problema”, conclui.
Este conteúdo foi produzido pela Agência Einstein.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Maconha medicinal: o que muda na prática com a nova regulamentação?

A Anvisa liberou a venda de produtos derivados de cannabis sativa para fins medicinais, mas vetou plantações com o mesmo fim. Como isso afeta sua saúde?

Na terça-feira (3 de dezembro), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou a venda de produtos à base de maconha para uso medicinal. Com a regulamentação, eles poderão ser comercializados em farmácias e drogarias, mediante prescrição médica.
A norma só entrará em vigor 90 dias após sua publicação. A partir daí, empresas nacionais e internacionais interessadas na produção e na distribuição poderão fazer uma solicitação para o órgão público — desde que cumpram uma série de requisitos.
Atenção: a nova regulação não permite que esses itens sejam chamados de medicamentos. Eles são “produtos à base de cannabis”, uma nova classe sujeita a uma vigilância específica. Geralmente vendidos como óleos, eles serão produzidos apenas para administração via oral e nasal (não é autorizado fumá-los, portanto).
O plantio, contudo, não foi liberado. Isso significa que os produtores brasileiros só terão direito a importar um substrato com componentes da maconha para transformá-los em um produto para fins medicinais. O cultivo com o mesmo fim está vetado.
Apesar de toda a discussão, alguns brasileiros já conseguiam comprar certos produtos à base componentes da maconha, como o CBD. Eles eram usados contra Parkinson, epilepsia, sintomas do autismo, dores do câncer e por aí vai. Então, o que muda na prática?
Para responder essa pergunta, SAÚDE conversou com o biotecnólogo Gabriel Barbosa, analista de Desenvolvimento Regulatório e Projetos Científicos da HempMeds, empresa que importa produtos medicinais à base de cannabis sativa de forma judicializada.

O que muda com a aprovação da venda de produtos à base de maconha para fins medicinais?

Para ter acesso a esses remédios, atualmente a pessoa precisa que o médico faça uma receita e um laudo completo. O doutor ainda assina um termo de responsabilidade, atestando que ele e o paciente sabem que se trata de um elemento não registrado e de uso pessoal e intransferível. Daí o indivíduo encaminha esses documentos à Anvisa pelo portal do Governo Federal para solicitar uma autorização excepcional de importação.
O processo todo é, além de burocrático, lento. “Hoje, há uma demanda grande. Mais de 2 mil pedidos são feitos por ano”, aponta Gabriel Barbosa.
Segundo o biotecnólogo, o tempo de resposta das autoridades demora, em média, 50 dias. Ou seja, são quase dois meses para saber se você terá acesso à medicação.
“Como a gente não possui produtos vendidos dentro do Brasil, ele precisa sair dos Estados Unidos e vir para cá. E esse processo leva mais duas semanas. No final, são basicamente três meses de espera”, relata o analista.
As dificuldades impostas e a importação em si naturalmente contribuem para um aumento no custo desses remédios. Resultado: quem não tem dinheiro para o tratamento muitas vezes procura o Poder Judiciário para ser bancado pelos cofres públicos. Em suma, é um custo adicional até para o governo.
“A principal mudança é que agora será mais fácil registrar os produtos. A norma permite que eles sejam disponibilizados nas farmácias que não são de manipulação”, arremata Barbosa.
No fim das contas, em vez de sair da consulta com aquela papelada e precisar esperar meses, o paciente pega uma receita controlada, vai a uma farmácia e faz a compra. É mais simples e provavelmente mais barato, até porque a mudança nas regras tende a fazer com que vários laboratórios nacionais criem seus produtos à base de canabidiol (CBD) ou THC, os principais componentes da maconha.

E qual o impacto da proibição do plantio?

Na audiência, a proposta do cultivo de maconha estritamente para fins medicinais foi arquivada. Barbosa explica que a rejeição impacta diretamente no preço, que ficaria ainda mais baixo.
“Os substratos da cannabis importados são de origem europeia ou americana. E vemos que o dólar está batendo na casa dos 4 a 5 reais, o que pesa no bolso”, contextualiza o profissional.
Em caso de aprovação, essa etapa de importação não seria mais necessária para várias empresas. “A gente sabe que o Brasil é um país essencialmente agrícola. Temos um potencial grande de sermos um dos maiores produtores de maconha para fins medicinais do mundo”, aponta Barbosa.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Fraudes em marcas de azeite extravirgem são detectadas pela PROTESTE

Novo teste indica que cinco empresas vendem produtos impróprios para consumo humano. Veja quais marcas foram bem e quais foram mal na avaliação

A PROTESTE realizou um novo estudo para medir a qualidade de 49 lotes de marcas de azeite extravirgem disponíveis no mercado. Com base no experimento, essa associação de defesa do consumidor encontrou indícios de fraude em cinco produtos, além de irregularidades menores em outros 13.
Segundo a entidade, foram escolhidas as marcas com maior representatividade e outras sugeridas por consumidores e associados. “Adquirimos os produtos anonimamente nos mercados da mesma maneira que um consumidor realiza, garantindo assim independência nos resultados”, afirmou a PROTESTE, em comunicado no site.
Todas as garrafas foram levadas para laboratórios credenciados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e pelo Conselho Oleícola Internacional (COI). Esses testes incluíram análises de rotulagem, acidez, qualidade, conservação e parâmetros que indicam fraude.
Como se não bastasse, os lotes passaram por uma avaliação sensorial, conduzida por provadores treinados. Esses profissionais se concentram principalmente no sabor e no cheiro do produto.

Os resultados da avaliação da PROTESTE com azeite extravirgem

Cinco marcas apresentaram graves problemas de qualidade: Barcelona, Casa Medeiros, Oliveiras do Conde, Quinta D’Ouro e Quinta Lusitana. Isso significa que elas misturaram o azeite extravirgem com outros óleos, o que é considerado uma fraude.
A essa mistura se dá o nome de azeite lampante, um produto com cheiro forte e acidez elevada — e que só deve ser usado para fins industriais por carregar defeitos ligados à conservação.  A PROTESTE já ingressou com ações judiciais contra essas empresas para retirar os lotes examinados do mercado.
Tem mais: a pesquisa identificou que 13 azeites anunciados como “extravirgem” na verdade seriam do tipo “virgem”. São eles: Ybarra, Vila Flor, Terra Delyssa, Cardeal, Serrata, Báltico, Prezunic, Fior D’Olio Italia, Quinta do Lagar, Mondegão, Master Chef, Beira Alta e Maria Azeite.
Esses itens foram aprovados na análise laboratorial, porém pecaram nos testes sensoriais. Cabe destacar que, assim como o extravirgem, o azeite virgem só é feito com o óleo da azeitona. Contudo, ele passa por menos etapas de refinamento. Conclusão: é mais ácido. A recomendação dos nutricionistas é investir na versão extravirgem.
Com base nessa investigação, a PROTESTE fez um ranking de qualidade dos azeites. O vencedor foi o Parus Azeite de Oliva Extravirgem. Confira a classificação geral clicando aqui.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

A grande transformação da cirurgia bariátrica

Especialista aponta os principais avanços no procedimento para perda de peso e seu reflexo na qualidade de vida dos pacientes

Introduzida no Brasil nos anos 1990, a cirurgia bariátrica passou por uma autêntica revolução nas últimas duas décadas O número de procedimentos no país pulou de 34 mil para quase 70 mil em oito anos. Cirurgias cada vez menos invasivas, realizadas através de minúsculas incisões e visualizadas em monitores de altíssima resolução, grampeadores inteligentes, bisturis ultrassônicos, braços robóticos e outras tecnologias chegaram para aumentar a segurança, o conforto e a efetividade do tratamento da obesidade.
Os programas de treinamento desenvolvidos pelas sociedades médicas trouxeram aperfeiçoamento e qualificação aos profissionais de saúde, incluindo os cuidados no pré e pós-operatório, refletindo também numa melhor experiência do paciente.
A descoberta de mecanismos independentes da perda de peso para controlar, e muitas vezes até eliminar o diabetes, adicionou o conceito de cirurgia metabólica: as vantagens não se resumem, portanto, à eliminação dos quilos a mais. O procedimento dá uma vida nova a pessoas com graus menores de obesidade que antes não conseguiam controlar a glicose, a pressão e o colesterol.
Diversos estudos demonstram os benefícios da cirurgia por seu potencial de reduzir o risco de infarto e derrame. Com isso também cai pela metade os índices de mortalidade cardiovascular nessa população.
A restrição do estômago com uso de anéis e outros artifícios, e a exclusão de grandes porções do intestino — que causavam, em algumas pessoas, intolerância alimentar, vômitos e diarreia — foram deixados de lado. E o entendimento do papel do intestino como regulador da fome, da saciedade e do gasto de energia refletiu-se em menos efeitos colaterais e uma vida mais plena.
A experiência adquirida nesse século transformou um procedimento complexo e delicado em um ato tão, ou mais seguro, que qualquer outro realizado pelos centros cirúrgicos brasileiros. Infelizmente, todo esse avanço não é suficiente para dar conta da epidemia de obesidade no país, mas é um alento àqueles que penam com as formas mais agressivas dessa doença tão subestimada.
* Dr. Marcos Leão Vilas Bôas é presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM)

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Anvisa libera registro e comercialização de remédios à base de maconha

Anvisa libera registro e comercialização de remédios à base de maconha
(Arquivo) A Anvisa aprovou pela primeira vez o registro de um medicamento à base de maconha, indicado para pacientes com esclerose múltipla, em um novo passo do governo para facilitar remédios feitos a partir de cannabis - AFP/Arquivos
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, nesta terça-feira, 3, por unanimidade, a regulamentação do registro e da venda de medicamentos à base da maconha em farmácias e drogarias no Brasil. A norma entrará em vigor em 90 dias e, segundo a agência, deve melhorar a vida de milhões de pacientes que dependem de medicamentos a base de cannabis.
Os diretores da Anvisa iniciaram, ainda pela manhã, uma segunda votação, que discute a liberação do plantio da maconha no território Brasileiro para uso medicinal.
A decisão da Anvisa cria uma nova classe de produtos no mercado de medicamentos do Brasil: a de produtos à base de cannabis, termo que vem sendo utilizado internacionalmente. O proposta aprovada enumera os requisitos necessários para a regularização dos medicamentos à base de maconha no País, estabelecendo parâmetros de qualidade.
A Resolução da Diretoria Colegiada (RCD) deverá passar por uma reavaliação em até três anos. Segundo a proposta aprovada pela agência, as empresas não devem abandonar as pesquisas de comprovação de eficácia e segurança das formulações, uma vez que as propostas para produtos à base de cannabis se assemelham aos procedimentos dos medicamentos tradicionais.
O regulamento agora aprovado exige que a empresa interessada em fabricar medicamentos à base de maconha tenha autorizações de funcionamento específicas, além de certificado de boas práticas de fabricação emitido pela Anvisa.
A proposta aprovada prevê que os medicamentos à base de cannabis devem ser vendidos exclusivamente em farmácias ou drogarias (mediante a apresentação de receita médica). Os fabricantes que optarem por importar o substrato da cannabis para fabricação do produto deverão, segundo a Anvisa, realizar a importação da matéria prima semielaborada. Ou seja, a empresa não pode importar a planta ou parte dela.

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Brasileiros consomem quase o dobro do sal recomendado por dia

Estudo feito pela Fiocruz com amostras de sangue e urina de milhares de indivíduos confirma tendência nacional de exagerar no sódio

A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que o consumo de sal não ultrapasse 5 gramas por dia — ou 2 gramas de sódio, mineral que compõe o sal. Só que o brasileiro ingere quase o dobro disso: em média 9,34 gramas, como aponta um novo levantamento feito pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
O trabalho levou em conta amostras de sangue e urina de cerca de 9 mil adultos, colhidos como parte da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) entre 2013 e 2014. É a primeira vez que uma análise com material biológico de um número tão significativo de pessoas foi conduzida no Brasil.
Os dados sugerem que três quartos da população engolem mais de 8 gramas de sal por dia. Quem mais exagera são os homens e os jovens. Só 2,39% dos voluntários apresentaram níveis inferiores aos 5 gramas diários preconizados pela OMS — geralmente mulheres e indivíduos mais velhos.
Além da investigação de biomarcadores, a PNS aplicou um questionário nos voluntários. E menos de 15% classificaram o próprio consumo como alto. Ou seja, estamos abusando desse ingrediente, tanto em receitas como em produtos industrializados, sem nem saber disso.

Hipertensão, um problema de saúde pública

Quase 30 milhões de brasileiros têm hipertensão, um problema intimamente ligado ao saleiro.
“A diminuição no consumo de sal é considerada hoje uma das intervenções de melhor custo-efetividade contra as doenças crônicas não transmissíveis no país, sobretudo pela possibilidade de diminuir a pressão arterial da população”, declarou em comunicado Célia Landmann Szwarcwald, coordenadora técnica da pesquisa.

Disparidades sociais

O artigo da Fiocruz notou ainda que indivíduos com alto grau de escolaridade tendiam a abusar menos do sal. Pessoas brancas e com maior renda e nível educacional também comeram mais frutas, legumes e verduras.
Paradoxalmente, elas ingeriram mais doces e trocaram mais refeições por sanduíches, salgados ou pizzas.

Doenças renais em alta, segundo a pesquisa

Por meio da dosagem da creatinina e da taxa de filtração glomerular, o mesmo trabalho identificou quatro vezes mais casos de disfunções nos rins do que as pesquisas anteriores.
Os autores sugerem a existência de um subdiagnóstico da doença renal crônica. Detalhe: esse problema pode ser tanto consequência como causa da hipertensão. Mais uma razão para maneirar no sódio.

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Os riscos da sífilis cardiovascular

Um dos sintomas avançados e menos conhecidos da sífilis é provocar danos cardiovasculares. Saiba como evitar essa consequência grave

O preocupante crescimento dos casos de sífilis no país, que afeta cerca de 160 mil pessoas por ano, torna premente realizar campanhas de conscientização e ações preventivas. Os brasileiros, em especial os jovens, precisam entender a gravidade dessa infecção sexualmente transmissível (IST), inclusive para o coração.
É isso mesmo: além dos problemas intrínsecos da doença, pode haver sério comprometimento cardíaco. A infecção, causada pela bactéria Treponema pallidum, também tem potencial para desencadear condições como aneurismas, inflamações e danos às válvulas e artérias do coração, incluindo a aorta.
Tal agravamento ocorre quando a enfermidade não é diagnosticada ou remediada corretamente. A chamada sífilis cardiovascular exige tratamento urgente e eficaz, antes que provoque alterações mais graves.
Todos devem saber que o primeiro sintoma após o contágio é uma ferida que aparece principalmente nos órgãos sexuais. Nesses casos, o médico precisa ser procurado de imediato. Porém, com ou sem remédios, a lesão desaparece.
Se o indivíduo não receber tratamento, seis semanas depois começam a surgir manchas no corpo e pode ocorrer febre, mal-estar, dor de cabeça e ínguas. De novo, os sintomas somem por si sós, o que faz muita gente pensar que sarou.
Ledo engano. A partir de dois ou mais anos da infecção, vem a sífilis terciária, com lesões cutâneas, ósseas, neurológicas e, claro, cardiovasculares. O quadro às vezes é letal.
A forma mais eficiente de evitar tudo isso é a prevenção, com o uso de preservativos nas relações sexuais. Se reparar qualquer sintoma, procure um médico com urgência. O tratamento é feito com antibióticos e tem bons resultados, desde que realizado corretamente.
O avanço da sífilis no Brasil evidencia um descuido da população quanto às infecções sexualmente transmissíveis. Tal negligência pode provocar o aumento de outras enfermidades, como aids, gonorreia e hepatite.
Segundo o Ministério da Saúde, em 2018 foram notificados 158 051 casos de sífilis adquirida (passada de uma pessoa para a outra durante o sexo), uma incidência 28,3% maior em relação a 2017, quando foram reportados 119 800 episódios. Precisamos combater essa epidemia!
*José Francisco Kerr Saraiva é médico e presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp)