Pesquisa revela que é possível identificar os primeiros sintomas da doença anos antes do diagnóstico e recomenda uso de medicamento para impedir seu avanço
Helena Borges (helenaborges@istoe.com.br)
Uma pesquisa
inédita, realizada por cientistas da Universidade College London, propõe
mudanças no diagnóstico de Parkinson: o grupo de pesquisadores da
instituição inglesa afirma que é possível antecipar os primeiros sinais
da doença anos antes de sua manifestação crítica e sugere uma
antecipação das receitas médicas visando preveni-la. Segundo os
estudiosos, a precipitação do diagnóstico em três a cinco anos
diminuiria significantemente a perda de atividade neurológica causada
pelo mal, atrasando-a em um tempo máximo estimado em 20 anos. O
adiantamento seria possível pela identificação de quadros clínicos
frequentemente apresentados entre pacientes da enfermidade anos antes
dela se manifestar. Mas seria preciso uma combinação de diferentes
sinais, como perda de olfato conjunta, ou distúrbio comportamental do
sono REM (leia quadro). “Acredita-se que o Parkinson pode estar muito
avançado quando é feito o diagnóstico clínico e a indicação de
tratamento. Identificar indivíduos nos estágios iniciais da doença pode
ser o caminho para revelar ou readaptar o uso de medicamentos e para
prevenir ou atrasar a manifestação dessa enfermidade”, afirma na carta
de apresentação do trabalho a pesquisadora Anette Schrag, da
Universidade College London, que lidera a equipe. Os dois pontos da
polêmica da tese, e que geram debate entre os neurologistas, são como
provar a efetividade do remédio nos estágios iniciais e como ter certeza
do diagnóstico tantos anos antes.
ESPERANÇA
Segundo os estudiosos, com os remédios certos, dá para atrasar a
manifestação do Parkinson em até 20 anos
A principal questão gira em torno da
efetividade dos remédios. O próprio estudo se refere a eles como
“neuroprotetores em potencial”, sem garantir total confiança na proteção
do neurônio, nem entrar em detalhes sobre qual remédio específico
deveria ser usado antecipadamente. A ideia defendida é de que
substâncias neuroprotetoras fortaleçam as células nervosas de forma a
evitar ou postergar sua queda de atividade. “A academia vem discutindo
isso, mas ainda não existe consenso sobre os medicamentos funcionarem
como neuroprotetores efetivos. Então ainda não se estabeleceu se vale a
pena começar mais cedo”, afirma o neurologista carioca Carlos Egger.
Para antecipar o diagnóstico, os ingleses
sugerem um cálculo de probabilidade a partir de uma gama de fatores
clínicos, genéticos e comportamentais. Para calcular a probabilidade de
desenvolvimento da doença, a equipe usou dados estatísticos de outra
pesquisa recente da mesma autora, que teve como base estudos referentes a
54 mil pessoas, das quais 8 mil pacientes com Parkinson. O histórico
familiar, por exemplo, pode quadruplicar as chances. Os dois fatores
clínicos de estágio inicial que mais potencializam o diagnóstico são a
perda de olfato e o distúrbio comportamental do sono REM (fase do sono
na qual ocorrem os sonhos), caracterizado por pesadelos nos quais a
pessoa grita, chora, dá socos ou pontapés. O estudo aponta que,
combinados, eles refinam as estimativas de se converter, no futuro, em
degeneração dos neurônios, como a que ocorre no Parkinson. Mas também
estão entre os principais índices clínicos constipação, ansiedade e
depressão. Entre os fatores comportamentais, o consumo de café, álcool,
alimentos com agrotóxicos e o tabagismo são os principais a serem
analisados, mas servem de complemento para os genéticos e clínicos.
Surpreendentemente, o consumo de álcool, café e tabaco foram apontados
como positivos, pois diminuem a probabilidade de desenvolvimento da
doença. Já acidentes na região da cabeça e altos índices de ingestão de
alimentos com pesticidas, aumentam as chances.
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