Aglomeração humana, condições inadequadas de saneamento e alta infestação de roedores estão entre as causas
Thatiany Nascimento - Repórter
Grande aglomeração populacional, condições inadequadas de saneamento e alta infestação de roedores infectados. O cenário ideal para a propagação da leptospirose repete-se em várias áreas urbanizadas do Ceará e, principalmente, na Capital. Este ano, conforme o último boletim de Doenças de Notificação Compulsória divulgado pela Secretaria da Saúde (Sesa), no dia 5 deste mês, foram registrados cinco casos da doenças e dois óbitos em decorrência da patologia.
Em 2014, conforme dados do Ministério da Saúde, foram confirmados 49 ocorrências e seis mortes. Já no ano passado, o registro foi de 28 episódios com dois óbitos. O infectologista Anastácio Queiroz explica que a leptospirose é causada por uma bactéria presente na urina do rato que se espalha pelas águas de enchentes e esgotos e entra na pele - lesionada ou não - das pessoas que têm contato com estas águas.
Musculatura
De acordo com o médico, a doença atinge a musculatura, mas pode afetar de forma comprometedora rins, fígado e pulmão. Nos casos mais severos - onde há registro de óbitos- que, conforme o Ministério da Saúde, atingem cerca de 10% da população afetada, geralmente há insuficiência renal. "Às vezes, a pessoa começa com dor no corpo e o quadro se agrava rapidamente. Por isso, dois dias de retardo do diagnóstico é muito grave".
Exames de sangue são usados para diagnosticar a doença que tem, dentre os sinais, a manifestação de olhos amarelados e pele um pouco avermelhada, além das dores musculares. Anastácio lembra que o contato com esta água não se dá somente no caso de residências que são afetadas pelas cheias, mas também nos alagamentos nas ruas, quando os pedestres tentam atravessar.
Érico também ressalta que ao entrar em contato com as águas contaminadas das enchentes e dos alagamentos, há risco de contração de enterites, que é uma espécie de inflamação na mucosa do intestino delgado que causa infecção. "As pessoas às vezes banham-se nessas águas e até engolem. Ou tentam atravessar os alagamentos e, de alguma forma, essa água fica em contato com a boca. Isto pode gerar infecção intestinal mais séria".
O infectologista lembra também que, em alguns casos, as pessoas que precisam sair de seus domicílios acabam se aglomerando em áreas comuns como ginásios, escolas e abrigos. Isto, segundo ele, em geral, é feito em condições hidrossanitárias aquém das necessárias, e favorece a transmissão de doenças respiratórias como a influenza ou doenças bacterianas como a meningite menigocócica. Este ano, o Ceará já registrou cinco casos da meningite menigocócica e dois óbitos.
Ocorrência de hepatite do tipo A, que é uma doença, segundo o infectologista, causada pelo vírus A (VHA) e de transmissão fecal-oral, por contato entre indivíduos ou por meio de água ou alimentos contaminados pelo vírus, também pode se acentuar nesse período. "A existência da vacina tem reduzido a prevalência dessa doença. Mas ainda boa parte da população tenta consumir alimentos contaminados", explica.
Bactéria
Em situação de ocorrência mais rara, mas com casos registrados no Ceará, há a doença chamada melioidose que também tem relação estreita com a quadra chuvosa. Conforme explica o médico, a patologia é causada por uma bactéria chamada "Burkholderia pseudomallei", encontrada em solo e água contaminados. "Os casos acontecem quando reservatórios naturais enchem e as pessoas vão tomar banho nesses locais contaminados pelas enxurradas. Falamos que esses reservatório são densamente colonizado pelas bactérias. E esta é uma doença peculiar do Ceará". O médico orienta que a população deve "evitar ao máximo entrar em contato com as águas e se precisarem fazer que procurem se higienizar após o contato".
Nenhum comentário:
Postar um comentário