Engenheiro sobrevive a quatro paradas cardiorrespiratórias e fica sem sequelas depois de ser submetido à hipotermia terapêutica, técnica que salva vidas e acelera a recuperação de pacientes enfartados
A técnica consiste em reduzir a temperatura do indivíduo para até 32 graus, quando o normal é 36,5. O paciente é envolvido por uma manta fria ou, em algumas situações, por cubos de gelo espalhados pele corpo. O processo dura no mínimo 24 horas e tem como objetivo fazer o organismo trabalhar menos, reduzindo o seu metabolismo. “Hoje em dia é mandatório que pacientes que tenham sofrido paradas cardiorrespiratórias passem por esse procedimento”, diz Sergio Timerman, diretor do Centro de Treinamento em Emergências do Incor e um dos responsáveis pela chegada da nova técnica ao Brasil. “O procedimento permite que o indivíduo tenha uma recuperação melhor, menos agressiva e fique quase sempre sem sequelas neurológicas permanentes.”
Redução de danos
Outro procedimento promete ser ainda mais eficaz. Nele, a pessoa é submetida a um cateterismo que induz a hipotermia em no máximo 18 minutos. O cateter é inserido na veia femural (que fica na perna) e, antes de chegar ao coração, resfria o sangue do paciente para uma temperatura entre 32 e 34 graus. Segundo Timerman, essa técnica reduz os impactos do infarto. “O procedimento melhora o pós-operatório, evitando arritmia, cicatrizes grandes e um futuro AVC”, afirma. A diferença desse método é que, além de ser mais rápido, ele permite que o paciente fique acordado o tempo todo.
Vítima de um segundo infarto, o aposentado Antônio Carlos Ramos passou pelo procedimento no ano passado. Ao sair da igreja, sentiu dores no peito, ligou para o filho e pediu ajuda. Quando chegou ao hospital, já estava enfartando. “O médico informou ao meu filho que iram fazer o cateterismo que induz a hipotermia para preservar a integridade do coração”, diz Ramos. Depois de passar 10 dias na UTI, recebeu alta sem ficar com sequelas. Para Natali Giannetti, cardiologista do Incor, a técnica permite a independência do paciente depois da alta, já que na maioria dos casos é possível levar uma vida normal. “Acompanhamos os pacientes até o trigésimo dia depois do infarto e todos tiveram boa recuperação”, diz a médica.
Estudos publicados na Europa mostraram que a técnica diminui as sequelas em 35% dos casos. O procedimento foi aplicado em 50 pacientes entre maio de 2016 e fevereiro deste ano. Marko Noc, coordenador da pesquisa e chefe do Centro de Medicina Intensiva da Universidade de Ljubljana, na Eslovênia, ressalta a importância do tratamento. “Eu vejo a técnica como uma terapia adjunta, contribuindo para a diminuição da lesão e aumentando a recuperação do miocárdio”, disse à ISTOÉ. “Vale ressaltar que o que faz um infarto ser categorizado como menor é a melhora dentro de um ano e também não ter insuficiência cardíaca depois da alta”. Desde o ano passado, 32 pacientes foram submetidos no Brasil ao novo método de hipotermia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário