Novos exames ajudam a evitar um segundo ataque cardíaco
Cilene Pereira e Rogério Daflon
Além de todo o
esforço para encontrar formas mais eficazes de evitar a ocorrência de um
primeiro infarto, a ciência se empenha para descobrir novos fatores que
elevam os riscos de um segundo ataque cardíaco. “Sabemos que aqueles
que já sofreram um infarto enfrentam risco adicional de novos eventos
cardiovasculares. O dobro do que daqueles isentos de eventos prévios”,
afirma o cardiologista Luiz Alberto Mattos, do Hospital São Luiz, em São
Paulo. Recentemente, várias pesquisas apontaram caminhos interessantes
nesse sentido. Uma delas é brasileira, realizada no Instituto Nacional
de Cardiologia e na Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Os
pesquisadores investigaram de que maneira uma substância associada ao
estresse cardíaco poderia auxiliar a prever o risco de morte em dez anos
em pacientes que haviam acabado de deixar o hospital após sofrerem um
infarto. Concluíram que o composto, denominado peptídeo natriurético
tipo B (BNP), serve de fato como indicador de prognóstico. Quanto maior
sua concentração durante o período de internação, menor o tempo de
sobrevida.
A pesquisa utilizou dados de 224 pacientes
atendidos na emergência do Hospital Pró-Cardíaco, no Rio de Janeiro, e
acompanhados durante dez anos. Constatou-se que o número de óbitos foi
maior entre aqueles que apresentavam mais de 100 picogramas por
mililitro do BNP: 63 mortes entre 97 cardíacos. No outro grupo, 22
mortes entre 127 cardiopatas.
Quem tinha valor menor do que 100
picogramas por mililitro viveu em média 9,6 anos. Os que manifestavam
concentração maior, 5,8 anos. “As informações observadas em uma década
enfatizam a necessidade não só de tratar o infartado na emergência, mas
também de acompanhar sua evolução”, afirma o cardiologista Fernando
Bassan, que analisou os resultados. Para o cardiologista José Carlos
Nicolau, diretor da Unidade Clínica de Coronariopatia Aguda do Instituto
do Coração, em São Paulo, o estudo não causou surpresa. “A análise
feita em dez anos é relevante. Mas, quando o BNP é acima de 100, já se
sabe que o coração não está legal. Os problemas são previsíveis.”
Na última semana, a revista científica “The
American Journal of Medicine” divulgou outros dois estudos evidenciando
o papel de um tipo de medicamento – os betabloqueadores – e da
frequência cardíaca para o cálculo da chance de um segundo infarto. Em
relação à droga, os cientistas concluíram que ela não tem impacto
positivo para a redução da mortalidade, ao contrário do que se
imaginava. Para chegar a essa resposta, analisaram 60 pesquisas
envolvendo 102 mil pacientes. “As recomendações atuais do uso dessa
medicação devem ser reconsideradas”, afirmou Sripal Bangalore,
coordenador do trabalho.
Por outro lado, a frequência cardíaca do
paciente durante a internação e no momento da alta mostrou-se um
indicador válido para predizer o risco de o indivíduo ter outro infarto.
De acordo com levantamento da University Jean Minjoz, na França,
pessoas que apresentam frequência acima de 75 batimentos por minuto têm
chance maior de morrer em um ano.
CUIDADO
O médico Bassan defende o acompanhamentorigoroso
do paciente após o primeiro infarto
O desenvolvimento de depressão e ansiedade
depois do infarto também está associado a menor tempo de sobrevida.
“Pacientes que manifestam depressão têm cerca de seis vezes mais chance
de morrer em seis meses do que aqueles que não apresentam a doença”,
afirmou Pranas Serpytis, autor de pesquisa sobre o tema divulgada
durante o encontro da Sociedade Europeia de Cardiologia, realizado
recentemente. “O risco elevado de óbito persiste até 18 meses após o
ataque cardíaco. Mas, apesar de a depressão ser comum depois de um
infarto e dos riscos que ela traz, a condição continua subdiagnosticada e
pouco tratada”, completou. O trabalho revelou que as mulheres são mais
propensas a sofrer da enfermidade do que os homens.
Fotos: Juan Dias/Ag. Istoé; Divulgação
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