Médico de Florianópolis é preso por abusar sexualmente de pacientes durante consultas. Segundo denúncia, crimes acontecem há pelo menos oito anos e envolvem mais de 50 vítimas
Camila Brandalise (camila@istoe.com.br)
Desde
terça-feira 16, o telefone de H. V., 34 anos, não para de tocar. No
mesmo dia em que o médico nutrólogo Omar César Ferreira de Castro foi
preso em Florianópolis, acusado de ter estuprado 14 mulheres, ela se
mobilizou para encontrar mais vítimas e instruí-las a, como ela já
havia feito, denunciar os abusos sexuais sofridos durante as consultas.
Mais de 50 mulheres a procuraram para relatar todo tipo de situação:
comentários constrangedores, beijos forçados, pedidos de sexo oral e
estupro após dopagem. Algumas situações datam de oito anos atrás. No
caso de H., Castro teve ações semelhantes às relatadas por outras
pacientes. Se posicionava de pé, atrás da mulher, para apalpar o pescoço
e examinar a tireóide e os gânglios. Em seguida, apalpava os seios das
pacientes e aproximava cada vez mais seu corpo ao delas. Na saída do
consultório, outra aproximação forçada. Após registrar boletim de
ocorrência, H. foi chamada para depor e se viu em outra situação
constrangedora. “A mulher que tomou meu depoimento me questionou sobre a
roupa que eu estava vestindo, sobre o fato de eu ter dado sinal de que
queria a aproximação e ainda me aconselhou a não seguir adiante com a
denúncia. Fiquei revoltada e decidi investigar por conta própria”, diz.
Alguns dias depois, voltou ao consultório com um gravador. “Ele se
aproximou de novo, fez comentários como ‘sua boca é gostosa’, e tentou
me beijar. Depois disso, fui à delegacia pela segunda vez.”
PRISÃO
O nutrólogo Omar César Ferreira de Castro no momento em que foi detido, na terça-feira 16
A primeira denúncia com uma prova
contundente contra Castro foi feita no início de 2015. Uma servidora
pública de 30 anos disse ter tomado um copo de água oferecido pelo
médico e, depois, teve uma única lembrança da consulta: ela em uma maca,
tentando empurrar Castro enquanto ele segurava uma camisinha. Dias
depois, voltou ao consultório e, gravando a conversa, perguntou o que
havia acontecido. “Tu não lembra? A gente transou duas vezes e foi bem
gostoso”, respondeu ele. Com a gravação, um inquérito foi aberto, mas
ficou parado até o depoimento de H. V. e uma mudança de delegado
responsável, para então ser retomado. No total, eram 14 boletins de
ocorrência contra o nutrólogo, motivando o Ministério Público a
denunciar Castro à Justiça, que acatou o pedido. Preso provisoriamente,
ele ficará detido até o dia 16 de março, data do fim das investigações.
VÍTIMA
Paciente estuprada por médico gravou a confissão do crime e entregou à polícia
Dois dias após a prisão, outras 18 mulheres
registraram boletins de ocorrência. Com a campanha de H. V. para
encontrar mais vítimas, esse número deve aumentar nos próximos dias.
“Queremos que a prisão temporária, de 30 dias, se torne preventiva.
Nosso medo é de ele ficar solto e fugir.” Esse temor vem,
principalmente, porque há uma lembrança recente de impunidade em um caso
muito similar, o do ex-médico Roger Abdelmassih, preso em 2014 e
condenado a 278 anos por estuprar 39 pacientes mulheres. Antes,
Abdelmassih ficou três anos foragido no Paraguai enquanto as vítimas
clamavam por sua condenação. Procurado pela reportagem, o advogado de
Castro, Alceu Oliveira Pinto Júnior, disse que não vai se manifestar
sobre o processo a pedido da família. O Conselho Regional de Medicina de
Santa Catarina (CRM-SC) abriu uma sindicância para apurar as acusações
e, em 30 dias, decidirá se haverá um processo contra o nutrólogo para
cassação do registro profissional.
Fotos: Betina Humeres/Agência RBS/Folhapress
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