Em dez anos, a maior incidência da doença ocorreu em 2010, com 262 casos, segundo dados da SMS
O
número de óbitos por leishmaniose visceral, doença conhecida como
calazar, mais que triplicou no ano passado, se comparado ao ano
anterior. Foram 19 mortes em 2012, contra seis em 2011. Um dado
controverso, já que, em relação ao número de confirmação de casos, houve
melhora significativa de um ano para outro. Em 2011, 241 pessoas foram
infectadas pela doença, enquanto em 2012, esse número caiu para 148.
Infectologista
aponta a elaboração de políticas públicas para criar condições para a
criação correta de cachorros como uma das ações necessárias para se
reduzir o número de casos da doença na Capital Foto: José Leomar
As
informações são do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) da Secretária
Municipal de Saúde (SMS) de Fortaleza, e revelam ainda que, em dez anos,
a maior incidência da doença ocorreu em 2010, com 262 casos registrados
na Capital, ocasionando a morte de 11 pessoas.
O médico
infectologista Anastácio Queiroz, diretor do Hospital São José, explica
que os óbitos geralmente ocorrem nos casos mais graves da doença e
quando acomete pessoas acima de 60 anos ou crianças pequenas, com menos
de seis meses de vida. No entanto, o contraste entre o número elevado de
mortes com o número reduzido de confirmações da doença chama atenção e
merece uma análise por parte das autoridades para que seja investigado o
que ocorreu e estabelecer medidas que visem a redução desse número.
"Pode ter sido por atendimento tardio, falha no sistema ou até mesmo
descuido da família do paciente", alerta Queiroz.
Para saber se
houve falha no sistema de saúde, o médico diz que é preciso verificar o
perfil das pessoas que morreram e comparar com o dos anos anteriores.
"Não acredito que o sistema tenha piorado tanto", destaca. Ele ressalta
que Fortaleza aparece como uma das cidades mais endêmicas do Brasil, o
que se dá em virtude da urbanização da doença, que antes se concentrava
no ambiente rural, mas que, atualmente, se desenvolve facilmente nas
grandes cidades.
Ações
Para o médico, é
preciso fazer mais para reduzir a incidência da doença em Fortaleza,
como, por exemplo, um programa de captura de animais soltos e elaborar
políticas públicas no sentido de criar condições para uma criação
correta do cão. "A cada ano, os casos aumentam proporcionalmente em
números absolutos e relativos", acrescenta o especialista.
Sobre
os cães, Queiroz destaca o uso de coleiras repelentes, que impedem os
animais de serem contaminados pelo mosquito transmissor, o flebototímeno
e, por consequência, de repassar a doença aos humanos.
Diagnóstico
No
Hospital São José, informa Anastácio Queiroz, existem nove pacientes
internados vítimas do calazar. Número que o gestor considerado alto, em
se tratando de uma doença que muitas vezes é tratada em ambulatório.
Para
chegar a um diagnóstico, o médico esclarece alguns sintomas que devem
ser observados, como febre por mais de duas semanas, volume do abdômen
aumentado, anemia ou índice de plaquetas baixas. "Em todas essas
situações, já é para se pensar em calazar", ressalta.
O diretor
do Hospital São José informa, ainda, que 90% dos casos em que se faz
necessário a internação, o tratamento dura menos de um mês, com exceção
de casos adversos, como o de crianças que já chegam em estado grave ao
hospital, paciente com HIV ou que esteja em tratamento quimioterápico.
O
especialista acrescenta que todos os hospitais da rede estadual de
saúde apresentam condições adequadas para tratamento a esses casos,
assim como os frotinhas e gonzaguinhas, seguindo as condições
estabelecidas pelo Ministério da Saúde.
Internação
9
pessoas encontram-se internadas, no Hospital São José, vítimas de
calazar. Para Anastácio Queiroz, diretor da unidade, o número é
considerado alto
Cães poderão ser tratados com remédios de humanos
A
quantidade de cães sacrificados por conta do calazar na Capital chegou a
2.464 em 2012, segundo dados do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ).
Mas esse número pode mudar nos próximos anos. No último dia 16, o
Tribunal Regional Federal da 3ª Região autorizou o uso de medicamentos
humanos para tratar a leishmaniose em todo o País, proibido desde 2008
pelo Ministério da Agricultura.
Para o veterinário Ricardo Henz,
eliminar cães infectados nunca foi a melhor forma de evitar a
proliferação da doença. "Nos últimos 12 anos, o calazar tem se
expandido. Os dados mostram que essa prática de caçar os cães é
fracassada", avalia.
Conforme ele, o tratamento promove a cura
clínica do animal, ou seja, retira os sintomas, mas não elimina
totalmente o parasita. Apesar disso, Ricardo destaca que, após o uso da
medicação, o cão não representa mais um risco às pessoas.
Resistência
Segundo
Sérgio Franco, coordenador do Programa de Controle do Calazar do CCZ, a
eutanásia é adotada devido à possibilidade de o cão, mesmo após o
tratamento, continuar a ser um reservatório da doença.
De acordo
com ele, a comunidade científica também teme que a utilização dos
remédios acarrete a adaptação e resistência d o protozoário Leishmania,
tornando as drogas ineficazes.
Franco acredita que a procura
pelos remédios não deve aumentar. Conforme ele, poucos cães terão acesso
ao tratamento devido aos custos elevados e à complexidade da terapia.
No entanto, o coordenador do CCZ alerta que, com a liberação, podem
surgir práticas irresponsáveis de tratamento que acabem prejudicando
ainda mais a saúde do cão.
Para a advogada Geuza Leitão,
presidente da União Internacional Protetora dos Animais (Uipa), a medida
representa uma vitória, mas é preciso haver ressalvas. "Se o dono tiver
condições financeiras de tratar, ele deve fazer. Mas, infelizmente, o
animal que não tem dono e possui calazar em estágio avançado tem que ser
sacrificado", afirma.
RENATO BEZERRA/VANESSA MADEIRAESPECIAL PARA CIDADE
quarta-feira, 23 de janeiro de 2013
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