Pesquisadores brasileiros descobrem por que o
mal de Alzheimer e a depressão são duas doenças que estão conectadas. A
conclusão do trabalho abre novas perspectivas de diagnóstico e de
tratamento para ambas as enfermidades
Michel Alecrim
![Credito: chamada.jpg](https://lh3.googleusercontent.com/blogger_img_proxy/AEn0k_sTWnQtkSiI-psOnyeFiABCtR6Oml5FK7u1MsqwV41JRzYkwimYZuXB0pmCvtJA-O9AlTSZOFrmQd65DMHV5ObrRfLh1gNk1G-PEK7NVAukAZBK9KH27CmE6MNIkVflTqcqNnJTc0WdG4OfsUeQGvfY0Xs=s0-d)
Uma pesquisa brasileira acaba de dar uma contribuição decisiva para o
melhor entendimento de dois dos principais flagelos da saúde mental: a
depressão e o mal de Alzheimer. A depressão, que já atinge 350 milhões
de pessoas, é considerada o mal do século XXI pela Organização Mundial
da Saúde. O mal de Alzheimer atualmente aflige 36 milhões, mas espera-se
que esse número dobre até 2030. Agora, pesquisadores da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) encontraram um mecanismo bioquímico que
liga os dois distúrbios. Em um trabalho feito em animais, eles
verificaram que o acúmulo de uma neurotoxina no cérebro leva ao
desenvolvimento de sintomas de ambas as doenças. Tratadas com
antidepressivos, as cobaias apresentaram melhora com relação aos dois
quadros. O resultado do estudo, assinado pela equipe do Instituto de
Bioquímica Médica da instituição fluminense, foi divulgado na última
edição da “Molecular Psychiatry”, publicação do grupo da prestigiada
revista científica inglesa “Nature”.
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Há algum tempo os cientistas observavam uma associação entre as duas
enfermidades. O mérito dos pesquisadores brasileiros foi desvendar
exatamente o que as une. O elo é feito por um composto chamado oligômero
de abeta. Trata-se de uma substância tóxica que, em pacientes com
Alzheimer, apresenta-se em maior concentração. Como se dissolve com
facilidade no líquido cerebral, vai aos poucos degenerando a capacidade
de memorização de informações – a perda gradual da memória é um dos
principais sintomas da doença.
O grupo da UFRJ descobriu que essas mesmas neurotoxinas também
provocam prejuízos no sistema cerebral que regula o humor. Ainda não se
sabe claramente o mecanismo pelo qual isso ocorre. Acredita-se que a
substância interfira na fabricação da serotonina (composto cujo
desequilíbrio está associado à depressão) ou que desencadeie um processo
inflamatório que resulte na enfermidade.
Depois de constatarem o papel da substância, os cientistas resolveram
verificar se, tratando a depressão com um antidepressivo, seria
possível também obter melhora nos sintomas de Alzheimer. As cobaias
foram então medicadas com fluoxetina, princípio ativo de muitos
antidepressivos, entre eles o Prozac. “Observamos que o remédio combatia
a depressão e, ao mesmo tempo, tinha um efeito preventivo contra os
danos do Alzheimer”, contou o pesquisador carioca José Henrique Alves da
Cunha, cuja tese de doutorado é a pesquisa.
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A informação obtida pelos brasileiros abre novas perspectivas no
tratamento das duas enfermidades. “Vislumbra-se uma possibilidade de
diagnóstico e tratamento mais eficazes”, avaliou Ivan Okamoto, membro da
Academia Brasileira de Neurologia. Uma das mudanças que ela deve
promover, por exemplo, é a necessidade de acompanhamento ainda mais
cuidadoso de pessoas diagnosticadas com Alzheimer ou com depressão, para
evitar que elas acabem desenvolvendo as duas doenças. Outra é que a
medição dos níveis da neurotoxina pode acabar servindo como um indicador
da presença ou não das doenças.
TRABALHO
Os cientistas Cunha (à esq.) e Ferreira querem aprofundar o estudo
Os cientistas da UFRJ esperam agora que as pesquisas se aprofundem.
“Os resultados realmente estimulam um prolongamento do estudo, já com
seres humanos”, afirma Alves da Cunha. O coordenador do experimento,
Sérgio Ferreira, diz que seu grupo está disposto a participar do esforço
mundial para interromper o processo do Alzheimer antes que a
enfermidade provoque danos irreversíveis à memória. “Infelizmente, às
vezes o tratamento começa tarde demais. Mesmo que não consigamos fazer
uma pesquisa com humanos no Brasil, por motivos financeiros e
burocráticos, acredito que não será difícil firmar uma parceria com uma
instituição estrangeira, dado o interesse mundial pelo tema”, ressalta o
pesquisador.
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