sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Combinar cigarro eletrônico com o normal é ainda pior para o pulmão

Uma pesquisa indica que o e-cigarro causa doenças pulmonares crônicas por si só. Mas usá-lo junto com a versão tradicional seria especialmente ruim

Um estudo da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, mostra que os cigarros eletrônicos aumentam significativamente a probabilidade de desenvolver problemas respiratórios incuráveis, como asma, bronquite e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Acontece que o quadro se torna ainda mais grave quando a pessoa recorre tanto ao aparelho como ao cigarro comum.
Para chegar nessa conclusão, os cientistas verificaram os dados da Avaliação Populacional do Tabaco e da Saúde, uma pesquisa conduzida anualmente nos Estados Unidos. Nesse levantamento, os participantes respondem a um questionário sobre problemas de saúde — que incluem os do sistema respiratório —, regularidade de fumo e o “tipo de cigarro” utilizado.
No total, 32 mil americanos maiores de idade, entrevistados de 2013 a 2016, foram incluído na análise. Não é pouca gente.
Ao cruzar as informações, primeiro se constatou que usuários dos vaporizadores eram 1,3 vez mais suscetíveis a apresentar enfermidades respiratórias ao longo do tempo. Esse número subia para 2,6 vezes entre quem preferia o cigarro normal.
Mas aí veio a descoberta mais amedrontadora. Nas pessoas que usavam ambas as opções, o risco de sofrer com enfermidades no pulmão era 3,3 vezes maior, quando comparado a quem não fuma.
De acordo com o cardiologista Stanton Glantz, líder da investigação, o achado problematiza a utilização de e-cigarros como forma de redução de danos. Até porque não mais do que 1% dos fumantes analisados migraram completamente para os dispositivos de bateria. E, de novo, o uso combinado se mostrou especialmente danoso.
“Trocar completamente o convencional pelo eletrônico poderia diminuir o risco de doenças pulmonares, mas poucas pessoas fazem isso”, reforça Glantz, em comunicado à imprensa.
Além disso, o trabalho americano foi o primeiro a expor as repercussões de vaporizadores em um período mais longo.
Até então, os especialistas da área só sabiam dos efeitos a curto prazo desses dispositivos. Entre eles, um dos mais preocupantes atende pela sigla de Evali (que vem de “lesão pulmonar associada a produtos de cigarro eletrônico ou vaping”, em inglês). A condição, que ainda está sendo investigada, já matou 48 pessoas e levou 2 291 para o hospital nos Estados Unidos, de acordo com o último boletim divulgado pelo Centro de Controle de Doenças (CDC) do país.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Bolsonaro sanciona novo Mais Médicos, mas veta Revalida em universidades privadas

Crédito: AFP
O presidente Jair Bolsonaro discursa durante cerimônia de promoção de generais das Forças Armadas em Brasília, 9 de dezembro de 2019 (Crédito: AFP)
O presidente Jair Bolsonaro sancionou nesta quarta-feira, 18, lei para criação do Médicos Pelo Brasil, programa que propõe substituir gradualmente o Mais Médicos e contratar 18 mil profissionais para atuar em regiões mais pobres do País.
Bolsonaro ainda sancionou nova legislação sobre o Revalida, que poderá agora ser realizado duas vezes por ano. O presidente, no entanto, vetou trecho que permitia a revalidação em universidades privadas, de notas 4 ou 5 no Enade, de diplomas de profissionais formados no exterior.
O governo deseja lançar edital em fevereiro para selecionar profissionais do Médicos Pelo Brasil. Ainda será definido quantos médicos serão enviados para cada cidade, mas o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), estima que 13,8 mil seguem ao Norte e Nordeste.
O primeiro nível salarial dos profissionais contratados pelo novo programa pode chegar até R$ 21 mil e R$ 31 mil. A variação depende do local de trabalho.
Antes de entrarem de vez no programa, quando são contratados via CLT, os profissionais selecionados receberão bolsa de R$ 12 mil mensais líquidos durante dois anos de formação em Medicina da Família e Comunidade. Neste período, haverá ainda gratificação de R$ 3 mil para quem atuar em locais remotos e de R$ 6 mil para distritos indígenas, áreas ribeirinhas e fluviais. Segundo Mandetta, não está descartado que instituições privadas atuem nos cursos de formação.
Os médicos serão selecionados por meio de processo seletivo eliminatório e classificatório. Serão escolhidos médicos de família e comunidade, além de tutor médico, para os cursos de formação.
Segundo o Palácio do Planalto, o Médicos Pelo Brasil deve abrir 7 mil novos postos de trabalho para médicos em municípios desassistidos. Mandetta disse esperar um orçamento de R$ 4 bilhões ao programa para 2020.
Criada pela nova lei, a Agência para o Desenvolvimento da Atenção Primária à Saúde (Adaps) definirá critérios do edital de seleção, distribuição e formação dos médicos. A ideia do governo é superar a “burocracia” para colocar a agência em funcionamento em até 45 dias, disse Mandetta.
O veto ao Revalida em universidades privadas foi um pedido de entidades médicas, como o Conselho Federal de Medicina (CFM). “Para atender a classe médica, para o bom desempenho do serviço de vocês”, disse Bolsonaro sobre o veto. “Nós estamos aqui sancionando essa lei histórica. E vetando uma coisa que é normal. Espero que o Congresso mantenha os vetos, quando forem analisados oportunamente”, completou.
O governo elaborou o Médicos Pelo Brasil para substituir o Mais Médicos, criado no governo Dilma Rousseff (PT), que trouxe profissionais cubanos para atuar em regiões remotas. O programa do governo petista ficou esvaziado após o fim de acordo com o governo cubano.
Cubanos ficam
Os médicos cubanos que atuaram no Mais Médicos serão reincorporados ao programa por meio da nova lei, mesmo sem o Revalida. Esses profissionais, porém, poderão atuar nestas condições por no máximo dois anos e desde que atendam os seguintes requisitos: ter sido desligado do Programa em razão do fim do acordo de cooperação entre o Ministério da Saúde Pública de Cuba e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS); e ter permanecido em território nacional até a data da publicação da MP do Médicos Pelo Brasil, 1º de agosto, na condição de naturalizado, residente ou com pedido de refúgio.
O ministro Mandetta disse estimar que até 2 mil médicos cubanos tenham ficado no Brasil após o fim da parceria com Cuba.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

O que é anemia ferropriva?

A anemia por deficiência de ferro é o tipo mais comum dessa doença. Conheça as causas, os sintomas, o tratamento e as formas de prevenção

Não tem segredo: a anemia ferropriva nada mais é do que a versão dessa doença provocada pela deficiência de ferro. Apesar de não ser o único tipo — ela também pode surgir por falta de ácido fólico, entre outras causas —, é de longe a mais prevalente em todo o mundo.
Até por isso, a leitora Maria Rosimeire Peixoto nos enviou uma carta pedindo para esclarecermos o que caracteriza essa encrenca. Quais são seus sintomas? Como tratá-la?
Para tirar essas e outras dúvidas, SAÚDE conversou com o pediatra especializado em nutrologia Flávio Diniz Capanema, coordenador do Núcleo de Inovações Tecnológicas e Proteção ao Conhecimento da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig).
Antes de tudo, cabe lembrar que toda e qualquer anemia é marcada pela baixa concentração de hemoglobina. Essa proteína, presente nas hemácias (as células vermelhas do sangue) transporta o oxigênio pela circulação. E o ferro é peça-chave nesse processo.

Como a anemia ferropriva surge e quais seus sintomas

Em cerca de 80% dos casos, decorre de uma alimentação inadequada que leva ao consumo insuficiente do mineral, especialmente nas fases da vida em que há uma maior demanda por ele, como na infância e durante a gravidez. No entanto, a má absorção de ferro ou a perda crônica de sangue também estão por trás da chateação.
O paciente apresenta palidez, cansaço, sonolência e tontura. Nos quadros mais severos, há falta de ar, insuficiência cardíaca e palpitações.
Se notar esses sinais, procure um clínico geral ou, no caso dos pequenos, um pediatra. Para fechar o diagnóstico, ele precisará pedir um hemograma, o famoso exame de sangue.
A queda nos índices de hemoglobina também afeta o sistema límbico, que é a área do cérebro responsável pela regulação do prazer, incluindo aí o gustativo. Por isso, o apetite é comprometido.
“A pessoa não se alimenta adequadamente e pode desenvolver hábitos bizarros, como comer terra ou chupar gelo”, relata o médico.
Como o nutriente participa ativamente do trabalho dos neurônios, crianças anêmicas às vezes desenvolvem déficit cognitivo e dificuldades de memorização, raciocínio e linguagem. “Com pouco ferro para ajudar no crescimento, elas podem ter sequelas permanentes”, informa o especialista.
Por fim, a deficiência impacta o sistema imunológico, tornando os portadores mais vulneráveis a infecções.
Como na infância as consequências são mais sérias, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda verificar a presença de anemia já aos 12 meses de idade. “O profissional deve ficar atento. Com diagnóstico precoce, há menor risco de sequelas”, afirma Capanema.

Quais são os grupos de risco

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 40% da população mundial é anêmica. Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, sua prevalência é cerca de quatro vezes maior — e a anemia ferropriva responde por 95% de todos os casos.
As crianças são as maiores vítimas, sobretudo nos primeiros dois anos de vida.
Adolescentes e gestantes também merecem atenção especial. “Como a mulher passa a nutrir o feto, o corpo privilegia as reservas de ferro para ele, criando uma deficiência extra”, explica o profissional.
Capanema lembra que a molecada acima do peso não está livre de se tornar anêmica. “Os pais acham que o filho está saudável porque é gordinho, mas temos que desmistificar isso. Os obesos estão em um processo inflamatório contínuo, o que prejudica a absorção de ferro”, avisa.

Anemia indica a presença de outras doenças?

“Ela tem um diagnóstico sindrômico. Isso significa que é uma manifestação comum de várias enfermidades diferentes”, responde o coordenador da Fhemig.
Quando não resulta da dieta, a anemia pode vir de problemas por trás de hemorragias ou hemólise — a destruição das células vermelhas do sangue. Alguns exemplos de males que disparam esses processos: doenças parasitárias (leishmaniose, esquistossomose), enfermidades hereditárias (talassemia) ou cânceres que atacam a medula (linfomas, leucemia).

Como tratar a anemia ferropriva

O tratamento em si é simples: o doutor receita doses de sulfato ferroso via oral por mais ou menos três meses. Ajustes na dieta também são importantes em alguns cenários.
No mais, é fundamental verificar se não há doenças escondidas que estão provocando a deficiência de ferro.

Dá para evitar?

Antes de mais nada, a prevenção passa pela reeducação alimentar. Carne vermelha, espinafre, feijão, couve e agrião possuem boas doses de ferro.
“No entanto, o ferro vindo de origem vegetal não é tão bem absorvido pelo organismo. Quando o associamos a fruta cítricas, o ácido fólico presente nelas dá uma ajuda”, ensina o especialista.
Por isso, a orientação é comer mais frutas azedinhas com as refeições. Vale laranja, uva, abacaxi, acerola, limão, caju, pitanga…
Via de regra, as gestantes vão precisar de suplementação. Elas são aconselhadas durante o pré-natal.
Agora, para os recém-nascidos a coisa muda. A melhor e mais eficaz maneira de evitar a anemia ferropriva na infância é a amamentação exclusiva até os 6 meses de vida. “O leite materno é o alimento que mais passa ferro para o organismo do bebê. É uma orientação mundial que surte bons efeitos”, indica o médico.
No momento do parto, uma medida interessante é esperar entre um e dois minutos para cortar o cordão umbilical. Isso aumenta os estoques do nutriente no recém-nascido.
Dos 6 meses até os 2 anos, a suplementação é comum devido à alta prevalência de anemia ferropriva. “Bebês prematuros ou de baixo peso correm risco adicional”, completa o profissional.
Capanema lembra ainda da importância de não oferecer leite de vaca antes do primeiro ano de idade do pequeno. É que a bebida concentra bastante caseína. “Essa proteína costuma inflamar a mucosa intestinal, levando a pequenos sangramentos no órgão por trás da anemia”, esclarece Capanema.
Portanto, as crianças que não são amamentadas por qualquer motivo devem receber fórmulas específicas. E não o leite de caixinha do restante da família.
A ingestão inadequada de ferro motivou uma regulamentação no Brasil. Desde 2004, a indústria é obrigada pelo Ministério da Saúde a fortificar farinha de trigo e milho com esse mineral — e com ácido fólico também.

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Medo de vacina (contra HPV) também pode ser doença: entenda o caso do Acre

Episódios de convulsões e outras reações adversas supostamente ligadas à vacina do HPV foram destrinchados por uma jornalista da Revista Questão de Ciência

Há 170 anos, os franceses cunharam a expressão “cancer à deux” (câncer a dois) para descrever os casos em que a mulher tinha um tumor de colo de útero e o marido, um de pênis, levantando a suspeita de que essas doenças poderiam ser contagiosas. A maioria dos episódios, como hoje se sabe, é causada pelo papilomavírus humano (HPV), transmitido por contato sexual. Ao longo da vida, a pessoa tem 80% de chance de pegar um dos tipos de HPV, inclusive os três mais associados a esses cânceres. Por isso, quando as vacinas contra o HPV surgiram, em 2006, despontou a esperança de erradicar esses dois tipos de tumor, mais comuns em países pobres ou em desenvolvimento, onde as estratégias de prevenção e diagnóstico precoce não funcionam bem.
O alvo da vacinação, porém, é um grupo extremamente vulnerável emocionalmente e que não costuma mais frequentar postos de saúde durante campanhas de vacinação: os adolescentes e pré-adolescentes. Por isso, as autoridades de saúde resolveram imunizar esses grupos nas escolas. Foi nesse ambiente, na cidade paulista de Bertioga, que 11 meninas da mesma escola foram hospitalizadas após receber a segunda dose da vacina em setembro de 2016, queixando-se de fortes dores de cabeça e dificuldades para andar.
Oito meninas receberam alta no mesmo dia, depois de uma avaliação neurológica concluir que não tinham sofrido dano físico e o problema havia sido causado pela enorme ansiedade quanto à vacina. O caso representava um exemplo de um fenômeno descrito na medicina como crise psicogênica em massa. Três outras permaneceram internadas. Foi o bastante para o fato ganhar as manchetes da mídia, com comentaristas questionando, inclusive, a segurança da vacinação.
Ao contrário do que muitas pessoas imaginam, doenças psicogênicas não são “fingimento”. Os sintomas, sejam dores, tonturas, cegueira, paralisia etc., são reais. Apenas sua causa não é um agente externo, como um vírus ou uma contaminação do ambiente, mas um estado emocional.
Qualquer indivíduo que já tenha ficado sem ar ou paralisado de susto sabe como os efeitos físicos de certos estados mentais são poderosos.
Essas crises são contagiosas (daí o termo “de massa”). Quando membros de um grupo que partilham de uma identidade forte — estudantes de uma mesma escola, por exemplo — veem um colega adoecer e sentem o clima de medo e apreensão, outros acabam sucumbindo. O alcance do fenômeno, é claro, pode ser amplificado pela mídia.

Os casos de “reação adversa à vacina do HPV” no Acre

Em 2015, um ano antes da situação em Bertioga, o mesmo fenômeno ocorreu no Acre sem muito alarde na grande mídia. E, diferentemente do que aconteceu em São Paulo, a saúde pública local não deu atenção ao caso. Muitas mães tiveram de ouvir que suas filhas estavam apenas fazendo cena, simulando ter convulsões. O Acre conta, hoje, com 82 desses casos, os oito mais recentes registrados nas últimas semanas.
A maioria dos episódios era semelhante aos que viriam a se manifestar em São Paulo, com queixas de dores de cabeça, dores nas pernas e desmaios. Alguns adolescentes apresentavam um quadro mais grave, com convulsões. E as famílias, espremidas entre a indiferença das autoridades e a realidade dos sintomas, adotaram o pressuposto de que suas filhas e filhos estavam com uma sequela neurológica provocada pela vacina.
Familiares passaram a ficar na porta de centros de vacinação, tentando convencer as pessoas que o imunizante contra o HPV era perigoso.
Vídeos das meninas em convulsão foram postados em redes sociais. Depois de vê-los, outras jovens passaram a apresentar os mesmos sintomas — e o caso ganhou destaque nos jornais e emissoras locais. O pânico foi se espalhando pela população ao longo dos quatro anos em que o fenômeno ficou sem explicação.
Procuradas pelas famílias, as quatro deputadas federais eleitas pelo Estado, Mara Rocha (PSDB), Jéssica Sales (MDB), Vanda Milani (Solidariedade), Perpétua Almeida (PC do B) e a senadora Mailza Gomes (PP) deixaram de lado as diferenças partidárias e pressionaram o Ministério da Saúde a encontrar uma resposta para o que estava acontecendo com os adolescentes. O governo encarregou o Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas, em São Paulo, de desvendar o mistério.
Acompanhados por suas mães, os 16 adolescentes com sintomas mais graves, entre eles um casal de irmãos, foram trazidos para a capital paulista, onde passaram por uma enorme bateria de exames, de ressonância magnética a testes de metabolismo, incluindo até exames de gravidez. E, o mais importante, realizaram uma vídeo-eletroencefalografia prolongada, em que o paciente é gravado enquanto o aparelho registra suas ondas cerebrais, ao longo de dez a 15 dias, por 24 horas.

O parecer dos especialistas sobre a segurança da vacina do HPV

Até o final de outubro, a equipe coordenada pelo psiquiatra Renato Luiz Marchetti, do IPq, tinha avaliado 12 pacientes. Apenas dois — aquele casal de irmãos — apresentava convulsões do tipo epiléptico, mas ambos são portadores de uma forma genética da doença, que justamente se manifesta na adolescência.
Os demais sofreram convulsões atípicas, não associadas à epilepsia ou outra doença fisiológica, mas que caracterizam doença psicogênica. Ou seja, disparada por um mecanismo psicológico.
“É uma doença funcional do sistema nervoso, que está associada a estresse emocional. Ela desencadeia uma reação psicológica automática do sistema nervoso”, explica o Marchetti.
Coordenador da Unidade de Vídeo-Eletroencefalografia do IPq, o psiquiatra José Gallucci Neto lembra que a história registra vários episódios de doença psicogênica em massa, como o das bruxas de Salem, que envolvia meninas adolescentes numa comunidade puritana apavorada com demônios. Ou casos de pessoas que se achavam contaminadas por antraz ou gás Sarin logo após o atentado das Torres Gêmeas, no 11 de setembro de 2001.
Os eventos de doença psicogênica relacionados a vacinas também não são incomuns. Em 1998, um menino desmaiou um dia depois de tomar uma injeção contra tétano e difteria numa escola da Jordânia. Quando os colegas souberam, outros 20 desmaiaram ou se queixaram de febre e falta de ar.
Depois que a história chegou à mídia, mais 55 alunos do mesmo colégio passaram mal. Outros 700, de outras escolas, também reclamaram dos mesmos sintomas.
“O fator que detona esse processo é a crença cultural em algo extremamente ameaçador”, conta Gallucci Neto. “Temos um cenário em que vem o crescendo o medo de tomar vacinas, por causa dessas campanhas absurdas que dizem que elas disparam autismo ou provocam a doença que se quer evitar”, completa.
O caso da Colômbia, também com a vacina contra HPV, é impressionante. Por lá, a vacinação começou em 2012 e atingiu 90% do público-alvo. Dois anos depois, na cidade de Carmen de Bolivar, 15 meninas da mesma escola foram hospitalizadas, entre 29 de maio e 2 de junho de 2014, após tomarem a injeção. Logo apareceram vídeos delas desmaiando e se contorcendo, dando entrada inconscientes no hospital local.
A viralização das imagens causou também a disseminação dos sintomas psicogênicos em toda a Colômbia, onde há registro de mais de 600 casos.

A importância do contexto social

A vacina contra o HPV vem acompanhada por vários mitos. O principal é de que estimula o início precoce da vida sexual — há estudos internacionais mostrando justamente o contrário.
Além disso, no caso específico do Acre, as meninas frequentam um ambiente socioeconômico frágil, agravado pela atual crise. “Elas também vêm de famílias disfuncionais, onde há alcoolismo, privações materiais, abusos físicos ou psicológicos em algum momento da vida”, enumera Gallucci.
Outro fator que pode ter pesado no surto de doença psicogênica do Acre são as condições adversas da vacinação. Diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), o pediatra Renato Kfouri explica que o ideal, especialmente em adolescentes, é administrar a vacina com o jovem sentado numa sala fechada com o vacinador.
“Adolescentes são extremamente influenciáveis. Se um desmaia porque está assustado, muitos dos que estão fila também vão passar mal e atribuir o fato aos componentes da vacina, e não ao estresse provocado pelo ato de tomá-la”, afirma. “Essa estratégia reduz os casos de doença psicogênica, mas nas escolas nem sempre há condições para isso”, reconhece.
Também há defensores de certas terapias alternativas que jogam com o estranhamento em torno do caso para ganhar notoriedade e promover “soluções” de pouco ou nenhum respaldo científico.
O caso mais notório é o de Maria Emília Gadelha Serra, que faz pós-graduação em perícia médica na Santa Casa e contesta o estudo realizado em São Paulo, alegando que as jovens foram contaminadas por chumbo e outros metais pesados que ela afirma — sem provas — estarem presentes na vacina. Ela prestou um depoimento na Assembleia Legislativa do Acre, onde sua fala teve grande repercussão.
Em suas redes sociais, Maria Emília dissemina teorias da conspiração sobre a vacina contra o HPV, principalmente baseadas nas ideias desacreditadas do médico americano Sin Hang Lee. Ela diz que as meninas do Acre devem ser “descontaminadas” antes de passar por tratamento.
A médica é uma promotora da ozonioterapia, considerada uma “Prática Integrativa e Complementar” pelo Ministério da Saúde brasileiro, mas que carece de base científica e é condenada pelo FDA, órgão de vigilância sanitária do governo dos Estados Unidos. Há registro de pelo menos cinco mortes e uma amputação causadas pela prática.

Orientações

A equipe do Hospital das Clínicas paulista fez uma série de recomendações ao governo do Acre e ao Ministério da Saúde, começando pelo acompanhamento multidisciplinar das adolescentes, com equipe de clínico geral, psiquiatra, psicólogo e neurologista, sem necessidade de medicação.
A outra recomendação é de um programa que combata as “fake news” e desinformação. Por causa do episódio, muitas mães estão relutando em levar os filhos para tomar as demais vacinas de que precisam.
Em novembro, um artigo publicado na revista científica The Lancet Oncology afirmava que, graças à vacina contra o HPV, o câncer de colo de útero pode vir a ser erradicado do planeta.
Este conteúdo foi publicado originalmente pela Revista Questão de Ciência

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Colesterol alto em adultos jovens já aumentaria risco de infarto e AVC

Segundo um longo estudo, pessoas abaixo dos 45 anos com colesterol elevado têm uma chance especialmente alta de sofrer males cardiovasculares no futuro

O colesterol não é uma preocupação só para os mais velhos. Pelo contrário. Níveis altos antes dos 45 anos de idade aumentam especialmente o risco de infarto ou acidente vascular cerebral (AVC) aos 75. É o que indica o maior estudo a longo prazo feito sobre o tema, publicado recentemente no periódico The Lancet.
Conduzida por mais de 40 pesquisadores, a investigação chafurdou dados de quase 400 mil pessoas de 19 países diferentes. Elas foram seguidas por até 43 anos.
O trabalho avaliou os níveis de colesterol não-HDL dos participantes. Para quem não sabe, o HDL é tido como a versão boa dessa molécula. Logo, os experts focaram nas porções ruins do colesterol (entre elas o LDL).
Baseado em um modelo matemático, eles então calcularam o risco de o colesterol alto ao longo da vida provocar, aos 75 anos, panes cardíacas e AVC — mortais ou não. Para não confundir o resultado, foram considerados outros fatores que financiam esses problemas, como obesidade, tabagismo e pressão arterial.
Resultado: mulheres com menos de 45 anos que, além de outros dois fatores de risco cardíaco, apresentavam níveis acima do limite de colesterol não-HDL tinham uma probabilidade de 16% de sofrer um infarto ou derrame aos 75. A título de comparação, nas voluntárias de 60 anos com o mesmo perfil, a possibilidade era de 12%.
Nos homens, o risco foi de 29% nos mais jovens e 21% nos acima dos 60 anos. “Isso pode ocorrer por causa da exposição mais longa ao colesterol prejudicial”, comentou à imprensa Barbara Thorand, epidemiologista do Centro Alemão de Pesquisa de Saúde Ambiental, que participou do trabalho.
A partir dessas informações, os cientistas fizeram outra conta: o que ocorreria se esses participantes reduzissem o colesterol não-HDL pela metade? De acordo com os cálculos, o risco de encrencas cairia para 4% entre as mulheres com menos de 45 anos e para 6% nos homens da mesma faixa etária.

Implicações para o tratamento do colesterol

Os médicos recorrem com frequência a um cálculo que considera as taxas de colesterol, glicemia e por aí vai para estimar o risco de uma pessoa ter um piripaque no peito ou um AVC em dez anos. É a partir desse método que eles costumam prescrever remédios.
Mas se a nova pesquisa aponta que alterações no colesterol hoje estão associadas a problemas para além de uma década, não seria o caso de intervir antes? Em outras palavras, esse limiar de dez anos não seria curto demais?
“O cálculo utilizado atualmente pode subestimar o risco para a vida toda, principalmente nos mais jovens”, destacou o cardiologista alemão Stefan Blankenberg, outro autor da investigação, em um comunicado.
Contudo, mais estudos são necessários antes de mudar a recomendação de uso de drogas contra o colesterol, como as estatinas. É necessário entender, por exemplo, os possíveis efeitos colaterais de um tratamento mais longo e o custo-benefício da abordagem.
De qualquer jeito, o artigo reforça indiretamente a necessidade de promover hábitos saudáveis, que ajudem a controlar o colesterol, do começo ao fim da vida. Com ou sem remédio, uma coisa é certa: não custa ficar de olho nas suas taxas desde cedo.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

A vacina da gripe e a da febre amarela serão indicadas a mais brasileiros

Enquanto a vacinação da gripe estará disponível a partir dos 55 anos, a da febre amarela terá dose de reforço para crianças de 4 anos. Entenda

Por meio de um ofício enviado em novembro a prefeituras e governos estaduais, o Ministério da Saúde anunciou mudanças na indicação da vacina da gripe e na da febre amarela para 2020. Elas vão ampliar a cobertura, com o intuito de reduzir as infecções.
Segundo o documento, a campanha de vacinação contra o influenza (o vírus da gripe) será estendida na rede pública para pessoas a partir de 55 anos. Até então, só brasileiros com mais de 60 anos tinham acesso ao imunizante nos postos de saúde.
Crianças de 6 meses a menos de 6 anos, gestantes, profissionais de saúde, pessoas com doenças crônicas (diabetes, problemas autoimunes etc), detentos, trabalhadores do sistema prisional e professores também poderão receber suas doses, como de costume.
Vale lembrar que as injeções devem ser anuais no caso da gripe. E que, na rede privada, elas podem ser adquiridas para todo mundo com mais de 6 meses de idade.

E a febre amarela?

Por causa do aumento no número de casos da versão silvestre da doença — e pelo medo de a forma urbana voltar a circular — o Ministério da Saúde já havia anunciado que todas as regiões do Brasil seriam vistas como áreas de recomendação da vacina. No entanto, para não faltarem doses, a ampliação foi ocorrendo de pouco em pouco.
No ofício já mencionado, veio a confirmação de que os últimos estados do Nordeste que ainda estavam de fora da área de recomendação farão parte dela a partir de 2020. São eles: Alagoas, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe.
Isso significa que, desde que não haja contraindicações, qualquer habitante do Brasil precisa se vacinar contra essa enfermidade.
E não para por aí. Crianças de até 4 anos, mesmo se já receberam a injeção, deverão tomar uma dose de reforço. Isso porque, nos primeiros anos da infância, o sistema imunológico está especialmente imaturo — e responde menos à vacinação.
Via de regra, a vacina pode ser aplicada dos 9 meses de vida em diante.

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Uma nova esperança contra a doença de Chagas

Estudo avalia molécula capaz de reverter lesões no coração causadas pela doença de Chagas, que já é a terceira causa de transplante cardíaco no Brasil

Os dados oficiais estimam que de 2 a 5 milhões de brasileiros sofrem cronicamente com a doença de Chagas. “É a terceira causa de transplante cardíaco no Brasil”, revela o cardiologista Sandrigo Mangini, do Programa Einstein de Transplantes. O mal provoca lesões em órgãos como o coração ao longo de décadas e de maneira silenciosa, levando a quadros de insuficiência cardíaca — quando a bomba que existe no peito aumenta de tamanho e não consegue mais trabalhar direito. “O tratamento clínico para Chagas não é tão bem-sucedido em comparação com outras doenças coronarianas”, explica Mangini. Daí a promessa de uma pesquisa que está sendo conduzida no Instituto Oswaldo Cruz (IOC), no Rio de Janeiro.
Os cientistas testaram uma molécula capaz de bloquear o processo de fibrose do tecido cardíaco que ocorre na fase crônica da enfermidade. “Usamos um composto que inibe o receptor da TGF-beta”, conta Mariana Whagabi, líder do estudo e pesquisadora do Laboratório de Genômica Funcional e Bioinformática do IOC. É essa proteína do sistema imune que está por trás das alterações no coração.
Os resultados foram bastante animadores. Houve reversão do processo de cicatrização e melhora da função cardíaca. Em um dos esquemas terapêuticos, foi verificada também regeneração do tecido muscular do órgão.
Publicado na revista científica PLOS Neglected Tropical Diseases, o trabalho usou camundongos para testar a molécula, que é produzida pelo laboratório GSK. Os animais foram inoculados com o Trypanosoma cruzi, o protozoário que provoca a doença de Chagas. Neles, o problema ocorre de forma parecida com a dos seres humanos. “É um bom modelo”, diz Mariana.

O que é a doença de Chagas e qual seu tratamento

Para se tornar crônica em homens e mulheres, a enfermidade leva de 20 a 30 anos. Trata-se de uma doença negligenciada. Entram nesse grupo moléstias causadas por vírus, parasitas e bactérias que acometem principalmente as camadas mais pobres da população. Eis a razão do pouco interesse da indústria farmacêutica em buscar medicamentos inovadores.
O Trypanosoma cruzi pode ser transmitido pelo barbeiro. Ele pica a vítima para se alimentar de sangue e, no ato, defeca, evacuando o parasita. Alimentos como açaí e cana de açúcar com restos do inseto e suas fezes são outra forma de o contágio ocorrer, além de transfusão de sangue.
Feridas são a porta de entrada do Trypanosoma cruzi no organismo. Ele viaja pela corrente sanguínea e se abriga nas células cardíacas. Na gestação, a mãe infectada também pode passar o problema para o filho.
Do ponto de vista dos sintomas, a fase aguda da doença de Chagas se assemelha com a gripe. Já na crônica, a resposta imunitária gerada pelo corpo pode deflagrar um processo inflamatório intenso que provoca lesões no coração, além de esôfago e intestino. Tudo de maneira silenciosa. Daí o surgimento de insuficiência cardíaca décadas depois.
A droga disponível hoje para o tratamento, o benzonidazol, é capaz de dar cabo do Trypanosoma cruzi nos estágios iniciais da doença. Mas alguns parasitas podem apresentar resistência a ela, sem contar que o problema quase não é diagnosticado na fase aguda.
Com isso, muitos pacientes crônicos com Chagas acabam na fila do transplante. “Ele é uma boa opção”, atesta o cardiologista Sandrigo Mangini. Isso porque essas pessoas geralmente têm de 35 a 40 anos e não apresentam outras doenças, a exemplo de diabetes, hipertensão e obstrução das artérias.
Contudo, a espera pelo novo coração pode ser demorada e, infelizmente, 30% dos pacientes acabam morrendo. “A doença de Chagas está relacionada com uma questão socioeconômica, e o transplante tem um custo alto”, diz Mangini. “É louvável qualquer estratégia nacional que busque interferir nos mecanismos desse problema”, conclui.
Este conteúdo foi produzido pela Agência Einstein.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Maconha medicinal: o que muda na prática com a nova regulamentação?

A Anvisa liberou a venda de produtos derivados de cannabis sativa para fins medicinais, mas vetou plantações com o mesmo fim. Como isso afeta sua saúde?

Na terça-feira (3 de dezembro), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou a venda de produtos à base de maconha para uso medicinal. Com a regulamentação, eles poderão ser comercializados em farmácias e drogarias, mediante prescrição médica.
A norma só entrará em vigor 90 dias após sua publicação. A partir daí, empresas nacionais e internacionais interessadas na produção e na distribuição poderão fazer uma solicitação para o órgão público — desde que cumpram uma série de requisitos.
Atenção: a nova regulação não permite que esses itens sejam chamados de medicamentos. Eles são “produtos à base de cannabis”, uma nova classe sujeita a uma vigilância específica. Geralmente vendidos como óleos, eles serão produzidos apenas para administração via oral e nasal (não é autorizado fumá-los, portanto).
O plantio, contudo, não foi liberado. Isso significa que os produtores brasileiros só terão direito a importar um substrato com componentes da maconha para transformá-los em um produto para fins medicinais. O cultivo com o mesmo fim está vetado.
Apesar de toda a discussão, alguns brasileiros já conseguiam comprar certos produtos à base componentes da maconha, como o CBD. Eles eram usados contra Parkinson, epilepsia, sintomas do autismo, dores do câncer e por aí vai. Então, o que muda na prática?
Para responder essa pergunta, SAÚDE conversou com o biotecnólogo Gabriel Barbosa, analista de Desenvolvimento Regulatório e Projetos Científicos da HempMeds, empresa que importa produtos medicinais à base de cannabis sativa de forma judicializada.

O que muda com a aprovação da venda de produtos à base de maconha para fins medicinais?

Para ter acesso a esses remédios, atualmente a pessoa precisa que o médico faça uma receita e um laudo completo. O doutor ainda assina um termo de responsabilidade, atestando que ele e o paciente sabem que se trata de um elemento não registrado e de uso pessoal e intransferível. Daí o indivíduo encaminha esses documentos à Anvisa pelo portal do Governo Federal para solicitar uma autorização excepcional de importação.
O processo todo é, além de burocrático, lento. “Hoje, há uma demanda grande. Mais de 2 mil pedidos são feitos por ano”, aponta Gabriel Barbosa.
Segundo o biotecnólogo, o tempo de resposta das autoridades demora, em média, 50 dias. Ou seja, são quase dois meses para saber se você terá acesso à medicação.
“Como a gente não possui produtos vendidos dentro do Brasil, ele precisa sair dos Estados Unidos e vir para cá. E esse processo leva mais duas semanas. No final, são basicamente três meses de espera”, relata o analista.
As dificuldades impostas e a importação em si naturalmente contribuem para um aumento no custo desses remédios. Resultado: quem não tem dinheiro para o tratamento muitas vezes procura o Poder Judiciário para ser bancado pelos cofres públicos. Em suma, é um custo adicional até para o governo.
“A principal mudança é que agora será mais fácil registrar os produtos. A norma permite que eles sejam disponibilizados nas farmácias que não são de manipulação”, arremata Barbosa.
No fim das contas, em vez de sair da consulta com aquela papelada e precisar esperar meses, o paciente pega uma receita controlada, vai a uma farmácia e faz a compra. É mais simples e provavelmente mais barato, até porque a mudança nas regras tende a fazer com que vários laboratórios nacionais criem seus produtos à base de canabidiol (CBD) ou THC, os principais componentes da maconha.

E qual o impacto da proibição do plantio?

Na audiência, a proposta do cultivo de maconha estritamente para fins medicinais foi arquivada. Barbosa explica que a rejeição impacta diretamente no preço, que ficaria ainda mais baixo.
“Os substratos da cannabis importados são de origem europeia ou americana. E vemos que o dólar está batendo na casa dos 4 a 5 reais, o que pesa no bolso”, contextualiza o profissional.
Em caso de aprovação, essa etapa de importação não seria mais necessária para várias empresas. “A gente sabe que o Brasil é um país essencialmente agrícola. Temos um potencial grande de sermos um dos maiores produtores de maconha para fins medicinais do mundo”, aponta Barbosa.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Fraudes em marcas de azeite extravirgem são detectadas pela PROTESTE

Novo teste indica que cinco empresas vendem produtos impróprios para consumo humano. Veja quais marcas foram bem e quais foram mal na avaliação

A PROTESTE realizou um novo estudo para medir a qualidade de 49 lotes de marcas de azeite extravirgem disponíveis no mercado. Com base no experimento, essa associação de defesa do consumidor encontrou indícios de fraude em cinco produtos, além de irregularidades menores em outros 13.
Segundo a entidade, foram escolhidas as marcas com maior representatividade e outras sugeridas por consumidores e associados. “Adquirimos os produtos anonimamente nos mercados da mesma maneira que um consumidor realiza, garantindo assim independência nos resultados”, afirmou a PROTESTE, em comunicado no site.
Todas as garrafas foram levadas para laboratórios credenciados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e pelo Conselho Oleícola Internacional (COI). Esses testes incluíram análises de rotulagem, acidez, qualidade, conservação e parâmetros que indicam fraude.
Como se não bastasse, os lotes passaram por uma avaliação sensorial, conduzida por provadores treinados. Esses profissionais se concentram principalmente no sabor e no cheiro do produto.

Os resultados da avaliação da PROTESTE com azeite extravirgem

Cinco marcas apresentaram graves problemas de qualidade: Barcelona, Casa Medeiros, Oliveiras do Conde, Quinta D’Ouro e Quinta Lusitana. Isso significa que elas misturaram o azeite extravirgem com outros óleos, o que é considerado uma fraude.
A essa mistura se dá o nome de azeite lampante, um produto com cheiro forte e acidez elevada — e que só deve ser usado para fins industriais por carregar defeitos ligados à conservação.  A PROTESTE já ingressou com ações judiciais contra essas empresas para retirar os lotes examinados do mercado.
Tem mais: a pesquisa identificou que 13 azeites anunciados como “extravirgem” na verdade seriam do tipo “virgem”. São eles: Ybarra, Vila Flor, Terra Delyssa, Cardeal, Serrata, Báltico, Prezunic, Fior D’Olio Italia, Quinta do Lagar, Mondegão, Master Chef, Beira Alta e Maria Azeite.
Esses itens foram aprovados na análise laboratorial, porém pecaram nos testes sensoriais. Cabe destacar que, assim como o extravirgem, o azeite virgem só é feito com o óleo da azeitona. Contudo, ele passa por menos etapas de refinamento. Conclusão: é mais ácido. A recomendação dos nutricionistas é investir na versão extravirgem.
Com base nessa investigação, a PROTESTE fez um ranking de qualidade dos azeites. O vencedor foi o Parus Azeite de Oliva Extravirgem. Confira a classificação geral clicando aqui.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

A grande transformação da cirurgia bariátrica

Especialista aponta os principais avanços no procedimento para perda de peso e seu reflexo na qualidade de vida dos pacientes

Introduzida no Brasil nos anos 1990, a cirurgia bariátrica passou por uma autêntica revolução nas últimas duas décadas O número de procedimentos no país pulou de 34 mil para quase 70 mil em oito anos. Cirurgias cada vez menos invasivas, realizadas através de minúsculas incisões e visualizadas em monitores de altíssima resolução, grampeadores inteligentes, bisturis ultrassônicos, braços robóticos e outras tecnologias chegaram para aumentar a segurança, o conforto e a efetividade do tratamento da obesidade.
Os programas de treinamento desenvolvidos pelas sociedades médicas trouxeram aperfeiçoamento e qualificação aos profissionais de saúde, incluindo os cuidados no pré e pós-operatório, refletindo também numa melhor experiência do paciente.
A descoberta de mecanismos independentes da perda de peso para controlar, e muitas vezes até eliminar o diabetes, adicionou o conceito de cirurgia metabólica: as vantagens não se resumem, portanto, à eliminação dos quilos a mais. O procedimento dá uma vida nova a pessoas com graus menores de obesidade que antes não conseguiam controlar a glicose, a pressão e o colesterol.
Diversos estudos demonstram os benefícios da cirurgia por seu potencial de reduzir o risco de infarto e derrame. Com isso também cai pela metade os índices de mortalidade cardiovascular nessa população.
A restrição do estômago com uso de anéis e outros artifícios, e a exclusão de grandes porções do intestino — que causavam, em algumas pessoas, intolerância alimentar, vômitos e diarreia — foram deixados de lado. E o entendimento do papel do intestino como regulador da fome, da saciedade e do gasto de energia refletiu-se em menos efeitos colaterais e uma vida mais plena.
A experiência adquirida nesse século transformou um procedimento complexo e delicado em um ato tão, ou mais seguro, que qualquer outro realizado pelos centros cirúrgicos brasileiros. Infelizmente, todo esse avanço não é suficiente para dar conta da epidemia de obesidade no país, mas é um alento àqueles que penam com as formas mais agressivas dessa doença tão subestimada.
* Dr. Marcos Leão Vilas Bôas é presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM)

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Anvisa libera registro e comercialização de remédios à base de maconha

Anvisa libera registro e comercialização de remédios à base de maconha
(Arquivo) A Anvisa aprovou pela primeira vez o registro de um medicamento à base de maconha, indicado para pacientes com esclerose múltipla, em um novo passo do governo para facilitar remédios feitos a partir de cannabis - AFP/Arquivos
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, nesta terça-feira, 3, por unanimidade, a regulamentação do registro e da venda de medicamentos à base da maconha em farmácias e drogarias no Brasil. A norma entrará em vigor em 90 dias e, segundo a agência, deve melhorar a vida de milhões de pacientes que dependem de medicamentos a base de cannabis.
Os diretores da Anvisa iniciaram, ainda pela manhã, uma segunda votação, que discute a liberação do plantio da maconha no território Brasileiro para uso medicinal.
A decisão da Anvisa cria uma nova classe de produtos no mercado de medicamentos do Brasil: a de produtos à base de cannabis, termo que vem sendo utilizado internacionalmente. O proposta aprovada enumera os requisitos necessários para a regularização dos medicamentos à base de maconha no País, estabelecendo parâmetros de qualidade.
A Resolução da Diretoria Colegiada (RCD) deverá passar por uma reavaliação em até três anos. Segundo a proposta aprovada pela agência, as empresas não devem abandonar as pesquisas de comprovação de eficácia e segurança das formulações, uma vez que as propostas para produtos à base de cannabis se assemelham aos procedimentos dos medicamentos tradicionais.
O regulamento agora aprovado exige que a empresa interessada em fabricar medicamentos à base de maconha tenha autorizações de funcionamento específicas, além de certificado de boas práticas de fabricação emitido pela Anvisa.
A proposta aprovada prevê que os medicamentos à base de cannabis devem ser vendidos exclusivamente em farmácias ou drogarias (mediante a apresentação de receita médica). Os fabricantes que optarem por importar o substrato da cannabis para fabricação do produto deverão, segundo a Anvisa, realizar a importação da matéria prima semielaborada. Ou seja, a empresa não pode importar a planta ou parte dela.

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Brasileiros consomem quase o dobro do sal recomendado por dia

Estudo feito pela Fiocruz com amostras de sangue e urina de milhares de indivíduos confirma tendência nacional de exagerar no sódio

A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que o consumo de sal não ultrapasse 5 gramas por dia — ou 2 gramas de sódio, mineral que compõe o sal. Só que o brasileiro ingere quase o dobro disso: em média 9,34 gramas, como aponta um novo levantamento feito pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
O trabalho levou em conta amostras de sangue e urina de cerca de 9 mil adultos, colhidos como parte da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) entre 2013 e 2014. É a primeira vez que uma análise com material biológico de um número tão significativo de pessoas foi conduzida no Brasil.
Os dados sugerem que três quartos da população engolem mais de 8 gramas de sal por dia. Quem mais exagera são os homens e os jovens. Só 2,39% dos voluntários apresentaram níveis inferiores aos 5 gramas diários preconizados pela OMS — geralmente mulheres e indivíduos mais velhos.
Além da investigação de biomarcadores, a PNS aplicou um questionário nos voluntários. E menos de 15% classificaram o próprio consumo como alto. Ou seja, estamos abusando desse ingrediente, tanto em receitas como em produtos industrializados, sem nem saber disso.

Hipertensão, um problema de saúde pública

Quase 30 milhões de brasileiros têm hipertensão, um problema intimamente ligado ao saleiro.
“A diminuição no consumo de sal é considerada hoje uma das intervenções de melhor custo-efetividade contra as doenças crônicas não transmissíveis no país, sobretudo pela possibilidade de diminuir a pressão arterial da população”, declarou em comunicado Célia Landmann Szwarcwald, coordenadora técnica da pesquisa.

Disparidades sociais

O artigo da Fiocruz notou ainda que indivíduos com alto grau de escolaridade tendiam a abusar menos do sal. Pessoas brancas e com maior renda e nível educacional também comeram mais frutas, legumes e verduras.
Paradoxalmente, elas ingeriram mais doces e trocaram mais refeições por sanduíches, salgados ou pizzas.

Doenças renais em alta, segundo a pesquisa

Por meio da dosagem da creatinina e da taxa de filtração glomerular, o mesmo trabalho identificou quatro vezes mais casos de disfunções nos rins do que as pesquisas anteriores.
Os autores sugerem a existência de um subdiagnóstico da doença renal crônica. Detalhe: esse problema pode ser tanto consequência como causa da hipertensão. Mais uma razão para maneirar no sódio.

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Os riscos da sífilis cardiovascular

Um dos sintomas avançados e menos conhecidos da sífilis é provocar danos cardiovasculares. Saiba como evitar essa consequência grave

O preocupante crescimento dos casos de sífilis no país, que afeta cerca de 160 mil pessoas por ano, torna premente realizar campanhas de conscientização e ações preventivas. Os brasileiros, em especial os jovens, precisam entender a gravidade dessa infecção sexualmente transmissível (IST), inclusive para o coração.
É isso mesmo: além dos problemas intrínsecos da doença, pode haver sério comprometimento cardíaco. A infecção, causada pela bactéria Treponema pallidum, também tem potencial para desencadear condições como aneurismas, inflamações e danos às válvulas e artérias do coração, incluindo a aorta.
Tal agravamento ocorre quando a enfermidade não é diagnosticada ou remediada corretamente. A chamada sífilis cardiovascular exige tratamento urgente e eficaz, antes que provoque alterações mais graves.
Todos devem saber que o primeiro sintoma após o contágio é uma ferida que aparece principalmente nos órgãos sexuais. Nesses casos, o médico precisa ser procurado de imediato. Porém, com ou sem remédios, a lesão desaparece.
Se o indivíduo não receber tratamento, seis semanas depois começam a surgir manchas no corpo e pode ocorrer febre, mal-estar, dor de cabeça e ínguas. De novo, os sintomas somem por si sós, o que faz muita gente pensar que sarou.
Ledo engano. A partir de dois ou mais anos da infecção, vem a sífilis terciária, com lesões cutâneas, ósseas, neurológicas e, claro, cardiovasculares. O quadro às vezes é letal.
A forma mais eficiente de evitar tudo isso é a prevenção, com o uso de preservativos nas relações sexuais. Se reparar qualquer sintoma, procure um médico com urgência. O tratamento é feito com antibióticos e tem bons resultados, desde que realizado corretamente.
O avanço da sífilis no Brasil evidencia um descuido da população quanto às infecções sexualmente transmissíveis. Tal negligência pode provocar o aumento de outras enfermidades, como aids, gonorreia e hepatite.
Segundo o Ministério da Saúde, em 2018 foram notificados 158 051 casos de sífilis adquirida (passada de uma pessoa para a outra durante o sexo), uma incidência 28,3% maior em relação a 2017, quando foram reportados 119 800 episódios. Precisamos combater essa epidemia!
*José Francisco Kerr Saraiva é médico e presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp)

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Brasileiros criam exame inovador para a dengue

O teste é capaz de detectar os quatro tipos de vírus responsáveis pela doença. E ainda diagnostica zika e chikungunya

É o que se pode chamar de um três em um. O novo exame desenvolvido por pesquisadores do Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP), associação civil sem fins lucrativos instituída mediante parceria entre a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o governo paranaense, detecta os quatro tipos de vírus que causam a dengue, além dos da zika e chikungunya.
“É o único que faz isso no Brasil”, diz Fabricio Marchini, gerente de desenvolvimento tecnológico do IBMP e pesquisador da Fiocruz Paraná. No caso específico da dengue, outros métodos não são capazes de diferenciar os tipos virais.
O novo exame será importante para o controle da epidemia em vários aspectos. Primeiro porque auxiliará na obtenção de diagnósticos precisos. Hoje, os testes usados na maioria dos serviços da rede pública captam os anticorpos produzidos em resposta à presença dos vírus. Mas isso pode levar a resultados falso-positivos, uma vez que esses anticorpos permanecem no corpo mesmo após a eliminação do agente infeccioso.
“O resultado pode ser confuso”, resume o patologista João Renato Rebello Pinho, coordenador do laboratório de técnicas especiais do Hospital Israelita Albert Einstein e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Além disso, os sintomas iniciais das três doenças são parecidos (febre, erupção cutânea e coloração amarela na pele ou nos olhos).
Portanto, identificar corretamente se é dengue, zika ou chikungunya — e ainda apontar, no caso da dengue, qual o tipo de vírus — é a grande vantagem do método criado pelos brasileiros. Esse conhecimento pode modificar o tratamento e ajudar a como eventuais surtos estão se disseminando pelo país.
O exame, chamado de ZDC Biomol, acaba de obter o registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e poderá ser ofertado via Biomanguinhos/Fiocruz ao Ministério da Saúde.
Este conteúdo foi produzido pela Agência Einstein.

terça-feira, 19 de novembro de 2019

Novo aparelho auditivo oferece tradução simultânea e alerta de quedas

O dispositivo Livio usa inteligência artificial e traz funções inéditas que monitoram o bem-estar do indivíduo acometido por uma deficiência auditiva

Acaba de chegar ao mercado brasileiro o Livio AI, um aparelho auditivo moderno que, conectado a um celular, traduz conversas em até 27 idiomas, alertas sobre quedas e até monitora a prática de atividades físicas. Ele se vale da inteligência artificial para isso.
“A ideia é devolver a qualidade de vida à pessoa com perda auditiva, que sofre com o isolamento social e tem sua cognição prejudicada por causa da privação sensorial”, comenta Natacha Fregnani, fonoaudióloga da Starkey Hearing Technologies, desenvolvedora do aparelho. “É uma tecnologia semelhante a de certas pulseiras e aplicativos de exercício no celular. Mas é mais precisa, porque sofre menos interferências externas”, explica a porta-voz.
As informações são transmitidas, por bluetooth, do aparelho auditivo para o celular e exibidas no aplicativo Thrive, que dá pontuações em três categorias: corpo, cérebro e bem-estar. É no smartphone também que a fala do usuário é convertida para outro idioma a um interlocutor estrangeiro. Em paralelo, o dispositivo traduz o que ele está respondendo diretamente na sua orelha.
Já o alerta sobre quedas é ativado quando o dispositivo capta o movimento brusco de um tombo e, na sequência, a pessoa não se mexe por um minuto. O app manda mensagem para três contatos selecionados e informa onde aconteceu o acidente em um mapinha. O pedido de socorro pode ser cancelado caso o indivíduo levante.
Há duas versões da novidade: uma a pilha e outra recarregável.

Tecnologia contra a surdez

O Livio inaugura uma nova fase do uso da inteligência artificial em aparelhos auditivos, em que esses acessórios ajudam a minimizar obstáculos da vida cotidiana provocados pela surdez. Mas outros dispositivos do tipo já empregam recursos como esse para moldar a nitidez e o volume dos sons de acordo com o ambiente. Se o lugar está barulhento, eles automaticamente filtram as vozes mais próximas para distingui-las de outros ruídos, por exemplo.
“Em alguns dispositivos de ponta, é possível conectar o streaming da TV, atender chamadas no celular e controlar outros gadgets da casa”, comenta Jeanne Oiticica, chefe do Grupo de Pesquisa em Zumbido do Hospital das Clínicas, em São Paulo. Eles ainda são caros, porém a tendência é que, com a popularização da inteligência artificial, tornem-se um pouco mais acessíveis.
Recentemente, a Micro Som lançou o Via AI, com funções semelhantes ao Livio. “Mas vale destacar que aparelhos do tipo são intracanal. Ou seja, vedam o canal auditivo, o que só fazemos em casos de perda moderada e severa”, destaca a otorrino.
Antes de escolher qualquer dispositivo médico, vale a pena conversar com o doutor.

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Musculação para evitar que o pré-diabetes vire diabetes

Embora menos reconhecidos, os exercícios resistidos também ajudam a prevenir o avanço dessa doença

  Corrida, ciclismo e as atividades aeróbicas em geral vinham recebendo mais atenção no combate ao diabetes nas últimas décadas. Mas os pesquisadores agora estão se debruçando sobre os efeitos da musculação — e um estudo do Hospital Universitário de Guangxi, na China, dá um bom exemplo disso.
Nele, 137 voluntários com pré-diabetes (quando os níveis de açúcar no sangue estão alterados, porém ainda não atingiram um patamar crítico) foram separados em quatro grupos. Um só puxou ferro, outro focou nos exercícios aeróbicos, o terceiro combinou as duas práticas e o último seguiu parado.
Após dois anos de intervenção, todos os participantes ativos possuíam um risco menor de progredir para o diabetes em si. “Mostramos que o treino resistido é uma opção viável para quem deseja evitar a doença”, afirma o educador físico Xia Dai, um dos autores do experimento.
Os treinos reduzem o risco da doença
Os treinos reduzem o risco da doença (Gráfico: Eduardo Pignata/SAÚDE é Vital)

Pré-diabetes não é pré-doença

Apesar do nome, essa condição já causa estragos. Sabe-se, por exemplo, que ela promove panes cardiovasculares. Ou seja, se a glicemia em jejum estiver entre 100 e 125 mg/dl, é fundamental rever hábitos e buscar apoio de um médico, inclusive com o intuito de evitar a progressão para o diabetes tipo 2.

terça-feira, 12 de novembro de 2019

Como os exercícios físicos fortalecem a ação das vacinas

Não é exagero: suar a camisa dá uma força à imunidade e aumenta inclusive a resposta do corpo às vacinas. Aprenda a tirar proveito disso

Se os brasileiros querem mesmo se prevenir das principais infecções espalhadas por aí, deveriam começar revendo dois comportamentos: o sedentarismo e a negligência com a imunização. Tanto manter as vacinas em dia como praticar atividade física na rotina são atitudes que treinam nossas células de defesa para debelar ataques de vírus e bactérias. Quando combinadas, então, elas produzem uma sinergia digna de nota. A ciência vem comprovando que os exercícios podem melhorar até o efeito dos imunizantes. É o que acontece, por exemplo, no caso da gripe.
Um novo estudo, conduzido em Singapura com 56 mulheres idosas que receberam uma dose para se proteger do vírus influenza, constatou que as mais ativas apresentavam um maior número de anticorpos contra o agente infeccioso até um ano e meio após a picada. Elas também ostentavam outros biomarcadores (pistas no sangue) que indicavam uma atuação mais intensa e efetiva das unidades de defesa, especialmente dos macrófagos, responsáveis por engolir literalmente os inimigos microscópicos.
Essa repercussão do exercício é especialmente bem-vinda aos idosos, porque, com a idade, o sistema imune perde em desempenho. Um dos aspectos comprometidos é a renovação das células de defesa de memória, que reconhecem intrusos específicos e coordenam a produção de anticorpos contra eles.
“Assim, o organismo se torna menos capaz de responder ao desafio imposto pela vacina”, explica o biólogo André Bachi, da Universidade Federal de São Paulo.
Caminhadas, corridas e pedaladas também minimizam outro processo mais comum com o envelhecimento, as inflamações pelo corpo.
“Suspeitamos que a liberação de moléculas anti-inflamatórias possa tornar as células de defesa mais sensíveis aos patógenos da vacina”, diz o biólogo Anis Larbi, pesquisador da Singapore Immunology Network e um dos responsáveis pelo trabalho que visualizou o impacto dos exercícios na imunização contra a gripe.

Como os exercícios físicos fortalecem a imunidade

Esse foco na gripe não é fruto do acaso. Estima-se que metade dos idosos vacinados não desenvolva imunidade ao influenza circulante com a dose aplicada. Metade! Daí a necessidade de pensar em estratégias que sensibilizem o organismo a reagir ao imunizante.
Já há um consenso, porém, de que o suor da camisa também se reverte em benefícios para outras faixas etárias. “Em jovens adultos, sabemos que o exercício pouco antes da vacinação pode tanto melhorar sua eficácia quanto reduzir efeitos adversos, como dor e perda de apetite”, afirma a imunologista Kate Edwards, da Universidade de Sydney, na Austrália.
Em uma das pesquisas que coordenou, a cientista notou que fazer uma sessão de 15 minutos de atividades e ser imunizado na sequência é capaz de turbinar a resposta à vacina pneumocócica, que nos protege contra bactérias por trás de pneumonia e meningite.
Já existem indícios inclusive de que a prática teria potencial para mitigar fatores que atrapalhariam a resposta à imunização. Um experimento com roedores da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, mostrou que a movimentação ajuda o corpo a administrar o estresse fisiológico da própria vacinação.
Ora, a vacina não deixa de ser encarada pelo organismo como um fator estressor, mas se trata de algo controlado e posteriormente proveitoso. Ao preparar o terreno e atenuar essa tensão natural, acredita-se que o imunizante produza um resultado superior.
“A atividade física exige uma adaptação sistêmica, e isso também mobiliza nossas defesas”, explica o cardiologista Henrique Fonseca, pesquisador do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP).
O papel dos exercícios na imunidade, é bom que se diga, não se resume a otimizar o efeito da vacinação. “Durante a prática, ocorre a liberação de hormônios como a adrenalina, que recrutam células imunes, as colocam em circulação e melhoram seu funcionamento”, conta o fisiologista José Cesar Rosa Neto, professor do ICB-USP.
“Não quer dizer que quem se exercita não pega infecções, mas sim que o organismo está mais bem preparado para lidar com elas”, completa o estudioso da USP.

Quanto mais exercício, melhor?

Nem pense em se matar na academia com a proposta de nunca mais ficar gripado. Com o exagero, o tiro sai pela culatra. “O corpo passará a trabalhar para inibir o recrutamento das células de defesa, e isso cria um quadro muito desfavorável para o combate a infecções”, avisa Fonseca.
Pesquisas com atletas de elite demonstram que se exigir demais diminui a resistência a vírus e bactérias. Tem maratonista que até cai de cama após a prova!
“A sobrecarga imposta por treinos de alta performance provoca, ainda, uma deficiência de imunoglobina A, que resguarda as vias respiratórias”, observa o médico Fábio Jennings, coordenador da Comissão de Medicina Física e Reabilitação da Sociedade Brasileira de Reumatologia.
E como determinar, então, a frequência e a intensidade adequadas para o sistema imune? Embora o ideal seja traçar isso com um profissional depois de uma avaliação individualizada, no geral os experts recomendam cinco sessões semanais de exercícios moderados com até uma hora de duração — ou três dias de malhação mais puxada.
E é bom lembrar que falamos aqui de uma atividade programada, um treino com começo, meio e fim. Ir a pé até o trabalho ajuda, mas não entra nessa conta.
Para potencializar o efeito das vacinas, atividades aeróbicas (caminhada, natação, ciclismo…) em um período próximo à picada parecem ser particularmente interessantes. Naquele estudo de Singapura, por exemplo, as voluntárias caminhavam após tomar sua dose.
Mas o decisivo aqui é a constância. Não adianta malhar só perto da campanha de vacinação da gripe ou de qualquer outra infecção. Tem que buscar a regularidade — o ano todo! Do contrário, feito um atleta sem treino, as defesas podem deixar a desejar em desempenho.

Estou doente! Devo malhar?

Vai depender. Exercícios leves ou moderados diante dos primeiros sintomas de uma gripe ou resfriado podem até ajudar no combate à infecção. Agora, se o mal-estar já estiver instalado (sobretudo na presença de febre), significa que o corpo clama por repouso. E é melhor respeitá-lo.

Efeito anti-inflamatório

Além de melhorar o contra-ataque a agentes infecciosos, o exercício físico auxilia a atenuar inflamações crônicas, um fenômeno presente em males tão diversos quanto doenças cardiovasculares e problemas reumáticos.
Correr ou puxar ferro até instiga uma reação inflamatória, que entra em cena para recuperar a musculatura, mas também estimula a liberação de moléculas que apagam o incêndio depois. Dessa forma, o corpo fica menos exposto a condições adversas atreladas a processos inflamatórios — uma lista que vai de câncer a depressão.

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Por que os casos de sífilis não param de crescer no Brasil

Essa infecção sexualmente transmissível preocupa médicos e serviços de saúde. E a principal causa de sua disseminação é o sexo sem camisinha

O aumento dos casos de sífilis, uma infecção sexualmente transmissível, tem alarmado médicos e serviços públicos de saúde no país. Só em 2018, foram registrados 158 051 episódios do tipo adquirido, ou seja, disseminado por meio de relações sexuais. Esse número equivale a uma média de 433 pessoas afetadas por dia.
Entre 2017 e o ano passado, o crescimento da doença foi de 28,3%. Ela passou de 59,1 para 75,8 registros por 100 mil habitantes, de acordo com o Ministério da Saúde. Para ter ideia, em 2015 esse número era de 34,1 casos por 100 mil.
A maior parte das notificações ocorreu em indivíduos entre 20 e 29 anos (35,1%), seguidos pelo grupo de 30 a 39 anos (21,5%). Mas, segundo o ministério, houve um incremento da detecção em todas as faixas etárias.
Um dos motivos para essa alta é que os jovens não valorizam o preservativo. “As pessoas estão mais confiantes de não contrair doenças, mesmo porque a aids, que no passado matou tanta gente, hoje tem tratamento. Menos de 70% dos brasileiros usam camisinha e isso justifica o aumento das infecções sexualmente transmissíveis”, explica o ginecologista e vice-presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, Sérgio Podgaec.
No fim de 2018, uma pesquisa realizada pela fabricante de preservativos DKT Internacional com 1 500 brasileiros identificou que 47% dos jovens entre 14 e 24 anos não costumam colocar a camisinha para as relações sexuais. Já outro estudo, esse divulgado em 2016 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com 102 301 alunos 14 e 15 anos, mostrou que apenas 66,2% utilizaram o preservativo na última relação.
“O que as pessoas esquecem é que a camisinha protege não só contra a aids. Ela é a prevenção mais eficaz para sífilis, HPV, gonorreia e clamídia”, alerta o médico.
Causada pela bactéria Treponema Pallidum, a sífilis desencadeia quatro estágios diferentes. No primeiro, aparecem nódulos na região genital, ânus ou boca. No seguinte, surgem manchas na pele comumente associadas a febre, dor de cabeça e perda de peso. Muitas vezes, essas úlceras são confundidas com alergia.
“A terceira fase da doença é a mais grave. Ela pode causar danos ao coração e afetar o sistema nervoso central”, explica Podgaec.

A situação da sífilis, estado por estado

Casos de sífilis por estado
 (Fonte: Ministério da Saúde/Divulgação)
Santa Catarina tem a maior taxa de detecção dessa enfermidade, segundo dados do Ministério da Saúde. Para cada 100 mil habitantes, 164,1 possuem a doença. No total, são 11 611 infectados.
Na contramão, Alagoas ostenta o menor índice: 16,1 para cada 100 mil pessoas, totalizando 535 casos.
No Sudeste, o menor índice é de Minas Gerais, com 68,3 casos para cada 100 mil habitantes, seguido por São Paulo, onde a taxa é de 82,1. Entre 2010 (quando as notificações se tornaram compulsórias) e dezembro de 2018, o estado paulista registrou 201 250 casos de sífilis adquirida, com taxas que cresceram ano a ano.
“Esse aumento nos números não quer necessariamente dizer que as pessoas estão se infectando mais e, sim, que a documentação dos casos está ficando mais eficiente e virando rotina no dia a dia das vigilâncias”, argumenta a coordenadora das Ações para Eliminação da Transmissão Vertical de HIV e Sífilis do Programa do Estado de São Paulo de DST-Aids, Carmen Sílvia Bruniera Domingues.
De acordo com ela, o sistema de notificação teve uma melhora expressiva em São Paulo nos anos de 2015 e 2016, o que ajudou principalmente a identificar a presença de sífilis em gestantes. E por que isso é importante? Através da placenta, a bactéria Treponema Pallidum consegue atingir o feto e, se não tratada, pode provocar falhas na dentição, problemas nos ossos, cegueira, surdez e até problemas no sistema nervoso. Essa é a sífilis congênita.
As notificações de grávidas com a doença no estado subiram de 10 723 casos em 2017 para 12 232 em 2018. “O aumento dos registros é um bom sinal, porque mostra que estamos identificando e tratando essas mulheres para proteger seus bebês”, afirma Carmen Sílvia.
Com isso, o estado conseguiu reduzir de 6,7% para 6,5% a taxa de sífilis congênita para cada 1 mil nascidos vivos de 2017 para 2018. Outros oito estados diminuíram esse índice: Amazonas (de 10,3 para 9,9), Espírito Santo (de 11,5 para 10), Rio Grande do Sul (de 14,3 para 13,9) e Mato Grosso (de 4,5 para 3,6).
Apesar disso, no Brasil como um todo as notícias não são boas. Veja o gráfico abaixo:

casos de sifilis congenita
O aumento de recém-nascidos com sífilis congênita é reflexo do número de gestantes infectadas no país. No ano passado, foram 62 599, 25,7% a mais do que em 2017 e quase seis vezes mais que em 2010. A maioria (52,5%), de acordo com a série histórica de 2005 a 2018, tem entre 20 e 29 anos, seguido pela faixa etária de 15 a 19 anos (24,7%).
Segundo Podgaec, uma das particularidades da sífilis que dificulta sua contenção é a de que ela dificilmente apresenta sintomas no sexo masculino. “É uma doença que atinge especialmente as mulheres. O homem pode passar a vida inteira infectado e não sentir nada. Isso eleva o risco de transmissão durante o sexo desprotegido”, diz o ginecologista do Einstein.
Com o aumento de pessoas infectadas nos últimos anos, o Ministério da Saúde lançou em 20 de outubro de 2017 uma ação nacional para combater a sífilis, especialmente a congênita. O objetivo era mobilizar gestores e profissionais de saúde sobre a importância do diagnóstico e tratamento da doença durante o pré-natal.
Bater na tecla da prevenção é importante, porque os preservativos estão entrando em desuso. “Além disso, as mulheres não costumam pedir exames de sífilis e aids nas visitas de rotina com o ginecologista”, lamenta Carmen Sílvia. Aí fica complicado combater a bactéria Treponema Pallidum precocemente.
O tratamento da sífilis, aliás, é feito com injeções de penicilina. As doses do antibiótico são receitadas por médicos ginecologistas ou infectologistas e variam de acordo com a fase da doença.
Este conteúdo foi produzido originalmente pela Agência Einstein.

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Cientistas descobrem um novo subtipo de HIV

Uma variação até então desconhecida do vírus da aids foi revelada, o que poderia impactar no diagnóstico, no tratamento e até na criação de vacinas

  Em um estudo recém-publicado, pesquisadores anunciaram a descoberta de mais uma versão do HIV: o subtipo L. Ele pertence ao grupo M do vírus causador da aids, que está por trás de 90% dos casos da doença no mundo.
“Revelar essa cepa é só o primeiro passo”, afirma Mary Rodgers, chefe do Programa Global de Vigilância Viral da Abbott, iniciativa responsável pelo achado. “Nós já compartilhamos sua sequência genética com a comunidade científica. Isso vai permitir que todos possam avaliar o seu impacto no diagnóstico, no tratamento e até em potenciais vacinas”, completa, em um vídeo disponibilizado para a imprensa.
Como assim? Toda vez que uma variação do HIV surge, há uma preocupação quanto ao seu potencial de resistir aos remédios e de não ser detectada pelos exames. Além disso, as vacinas que estão sendo desenvolvidas no momento precisarão considerá-la em seus testes de eficácia.
Daqui em diante, os especialistas devem justamente verificar essas questões. Segundo um comunicado da Abbott a respeito da pesquisa, os exames moleculares dessa empresa são capazes de flagrar o subtipo L do HIV.
Mas essa versão do vírus, originalmente identificada na República Democrática do Congo, pode ter desembarcado em outros países, inclusive no Brasil? “É sempre possível haver migração de vírus quando há migração de pessoas”, diz Mary.
Segundo o geneticista Amílcar Tanuri, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, isso só vai ser respondido com tempo e esforço dos experts. “Precisamos, por exemplo, verificar nossas amostras do HIV que não se encaixaram nos subtipos conhecidos anteriormente para checar se elas pertencem ao L”, arremata.
Essa é primeira vez desde 2000, quando diretrizes foram criadas para classificar os subtipos do vírus da aids, que uma nova cepa do grupo M do HIV é descoberto. “Até então, contávamos com outros nove subtipos dentro desse grupo e mais de 50 formas recombinantes entre eles”, ressalta Tanuri.
Pois é: quando infectam um mesmo indivíduo, as variações do HIV podem originar um vírus com trechos de um e do outro. Porém, em teoria, as formas recombinantes são mais fáceis de serem detectadas pelos exames porque carregam pedaços de inimigos já conhecidos.
Já o L é um subtipo puro, assim por dizer. Isso cobra uma dose extra de precaução com os estudos que avaliarão a partir de agora a eficácia dos antirretrovirais e dos métodos de diagnósticos contra ele.

Como os cientistas descobriram o subtipo L do vírus da aids

Ao contrário do que você pode estar imaginando, ele já existe desde os anos 1980. A questão foi realmente identificá-lo.
De acordo com as diretrizes de classificação de uma nova cepa de HIV, são necessários três episódios confirmados e independentes de infecção por um vírus “incomum” para estabelecer um subtipo adicional. No caso do L, os primeiros dois ocorreram nas décadas de 80 e 90 na República Democrática do Congo.
Já a terceira amostra de sangue foi coletada em 2001. A questão é que, na época, a quantidade de vírus presente no material era muito pequena. Isso impossibilitava o sequenciamento genético dele com as tecnologias disponíveis.
Com a evolução dos equipamentos e do conhecimento, os pesquisadores finalmente conseguiram mapear o DNA desse agente infeccioso e confirmar que ele era idêntico ao daqueles separados anteriormente. “Foi um trabalho muito interessante”, elogia Tanuri.
Do ponto de vista prático de diagnóstico e tratamento, nada muda por enquanto para a população em geral. O recomendável é seguir fazendo exames para diagnosticar precocemente o HIV e, se for o caso, seguir à risca o tratamento prescrito pelo médico. Em paralelo, devemos ficar de olho nas notícias para saber se o subtipo L exigirá algum cuidado especial.
Atualmente, 866 mil brasileiros convivem com o HIV, de acordo com o Ministério da Saúde. Só em 2017, 42 420 novas infecções foram contabilizadas.

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Como a febre reumática prejudica o coração

Essa doença tem diagnóstico fácil e um tratamento barato. Mesmo assim, continua a atormentar muitos corações por aí

Imagine ter uma simples dor de garganta causada por uma bactéria que, décadas depois, volta a assombrar na forma de uma doença autoimune, com ataques em vários cantos do corpo. Pois esse é o retrato da febre reumática, enfermidade que não costuma dar sinais de sua presença.
“Alguns pacientes só descobrem a condição 60 anos depois, quando estão com um problema grave nas válvulas cardíacas ou sofrem um AVC”, descreve o cardiologista Guilherme Spina, do Instituto do Coração (InCor), em São Paulo.
Para agravar a situação, o quadro é pouco conhecido pela própria comunidade médica — não se sabe, por exemplo, o número de pacientes atingidos no Brasil, o que dificulta a tomada de decisões e a criação de políticas públicas para combatê-lo.

Saiba mais sobre a febre reumática

O que é: a bactéria Streptococcus pyogenes infecta a garganta e, em algumas pessoas, leva a uma reação exagerada do sistema imune.
Sintomas: após a crise na garganta, a doença fica quieta por anos. Depois, se manifesta no coração, nas articulações ou no cérebro.
Diagnóstico: nas complicações cardíacas, uma auscultação do peito pelo médico já indica que há algo errado. Depois é preciso fazer um ecocardiograma.
Tratamento: o ideal é curar a amigdalite e impedir a evolução para o distúrbio autoimune. Uma dose injetável de antibiótico já basta.

O dilema da penicilina

Diante de uma dor de garganta, uma injeção desse antibiótico (a popular benzetacil) é a terapia mais barata e efetiva para cortar o mal pela raiz. Como ela é baratíssima, muitas farmacêuticas desistiram de fabricá-la. Isso faz com que o Brasil viva hoje um desabastecimento crônico desse remédio.

Promessa para o futuro

O InCor desenvolveu uma vacina capaz de barrar o Streptococcus pyogenes, micro-organismo que desencadeia a complicação. O imunizante já passou pelos estudos com animais e, agora, será submetido a uma bateria de testes em seres humanos para ver se funciona mesmo.