quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Carnaval Sem Traumas: 10 mandamentos para evitar lesões e fraturas

Campanha da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia lista medidas para não se machucar no Carnaval. Acidentes de trânsito ganham destaque

As cirurgias decorrentes de traumas aumentam de 40 a 60% no Carnaval, segundo a Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT). De olho nisso, a entidade lançou a campanha “Carnaval Sem Traumas“, com destaque para os “10 Mandamentos do Folião Nota 10”, que reúnem estratégias para evitar machucados e também para manter a saúde em alta.
Como não poderia deixar de ser, os acidentes de trânsito – grandes causadores de fraturas sérias – são um ponto central da iniciativa. Ora, há um crescimento de 20 a 30% na quantidade de batidas durante o Carnaval.
Consumo de bebidas alcoólicas e o aumento no fluxo das estradas estão entre os principais responsáveis por esse dado. Mas o uso do celular ao dirigir é outro problemão, que aumenta em 400% o risco de acidentes.
Confira agora os dez mandamentos recomendados pela SBOT para o Carnaval:
1) Antes de cair na festa, faça alongamento e aquecimento. Os quatro dias de folia exigem muito das articulações e músculos.
2) Alimente-se bem! De preferência para frutas e alimentos ricos em carboidrato, que mantém a energia do corpo em alta.
3) Tenha uma garrafa de água sempre por perto. A desidratação causa tonturas e desmaios, que podem terminar em tombos e acidentes feios.
4) Os joelhos suportam grande parte do peso do corpo. Respeite seus sinais de cansaço e cuide bem deles!
5) Utilize calçados confortáveis para evitar ferimentos. Jamais vá descalço aos blocos.
6) Se pegar o carro ou a moto, fique atento à sinalização, aos limites de velocidade e aos automóveis que estão por perto.
7) Sempre use cinto de segurança e faça a revisão do veículo. Quem subir na moto deve usar capacete, roupas adequadas, luvas e outros itens de proteção pessoal.
8) Transporte as crianças adequadamente, sempre no banco de trás e com cinto de segurança. Em menores de 7 anos, recorra a cadeirinhas apropriadas.
9) Se for dirigir, não beba. O álcool está envolvido em 65% dos acidentes nas estradas.
10) Respeite pedestres, ciclistas, motociclistas e outros motoristas.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Carnaval: os cuidados com o coração para se divertir sem riscos

Ninguém quer acabar com a folia. Mas, em um artigo, médico brasileiro lembra de fatores que podem sobrecarregar a saúde cardíaca nesse feriado

Com a proximidade do Carnaval, o cardiologista Claudio Tinoco Mesquita teve uma boa sacada. Professor da Universidade Federal Fluminense, ele compilou pesquisas que abordam o impacto de hábitos mais comuns nesse feriado para a saúde do coração – e publicou um artigo que pode ajudar você a evitar arritmias cardíacas e outros problemas sem abrir mão da diversão.
O texto, divulgado no periódico científico International Journal of Cardiovascular Sciences (da Sociedade Brasileira de Cardiologia), começa falando do próprio samba. Você sabia que essa dança chega a elevar a frequência cardíaca de uma pessoa para até 90% do máximo de sua capacidade?! Isso é equivalente a um exercício físico de alta intensidade.
Ora, essa constatação não é ruim. Pelo contrário: suar a camisa faz um bem danado para a saúde. O problema, segundo Mesquita, é misturar uma prática vigorosa com o consumo de energéticos – ainda mais se ele vier acompanhado de álcool ou drogas. Esse combo pode sobrecarregar o coração.
De acordo com o texto, a ingestão de bebidas energéticas foi associada a arritmias mesmo entre sujeitos com o músculo cardíaco em ordem. Em quem tem alguma condição, os efeitos podem ser mais perigosos.
E o álcool? Enfiar o pé na jaca aumenta a incidência de fibrilação atrial, uma arritmia relativamente comum. Aliás, até o consumo moderado de bebidas alcoólicas pode estar por trás dessa encrenca.
Mesquita ainda reservou espaço para a maconha. Ela também elevaria o risco de fibrilação atrial. De acordo com estudos citados por ele, 2,7% dos usuários desenvolvem essa doença – e há uma tendência de crescimento nos casos de 2010 a 2014.
“A fibrilação atrial é o subtipo de arritmia mais comum entre os consumidores de maconha que foram hospitalizados”, escreve Mesquita, no artigo.
No fim das contas, o cardiologista pede para as pessoas terem noção dos riscos às quais são submetidas em certas situações durante o feriado. E reforça: “celebrar o Carnaval é fácil, divertido e barato”.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Os produtos certos para a saúde bucal da criança

Odontopediatra explica o que levar em conta ao escolher escova, pasta e fio dental para os pequenos

Hábitos adquiridos na infância costumam ser levados por toda a vida. Daí a importância de estimular, desde muito cedo, os cuidados com a higiene bucal. Tanto a família como o odontopediatra têm um papel a cumprir nesse sentido, orientando os pequenos na criação de uma rotina e na prevenção de doenças.
Mesmo quando a criança ainda não possui autonomia para realizar a higiene bucal, vale mostrar como ela pode ser feita. É pelo exemplo que ela também aprende. Cabe aos pais, guiados por profissionais, participar da apresentação aos produtos necessários à escovação e instruir os filhos na melhor maneira de manuseá-los.
É importante destacar aqui que existem produtos específicos para as crianças. No caso da escova, há uma ampla oferta de modelos no mercado, com formatos, marcas e finalidades diferentes. São, aliás, tantas opções que às vezes fica difícil decidir qual levar para casa.
A primeira sugestão é verificar a indicação de idade descrita na embalagem da escova. Existem modelos que correspondem a diferentes fases de crescimento da criança, sendo apropriados ao tamanho dela, ao formato do maxilar e ao desenvolvimento dos dentes.
Também vale conferir a classificação de dureza das cerdas, que podem ser macias, extramacias, médias e duras. Presença de cerdas polidas e arredondadas, com tamanho uniforme e tufos com volume concentrado são características particularmente recomendadas aos pequenos.
As escovas próprias para bebês são indicadas logo após a erupção do primeiro dente. Devem ter cabo anatômico e textura agradável para o manuseio dos pais, além de cabeça pequena e cerdas muito macias.
Após os 2 anos de idade, as escovas dentais podem ser extramacias ou macias e apresentar um tamanho de cabeça um pouco maior para acompanhar o desenvolvimento da cavidade oral e oferecer melhor desempenho na escovação. Essa dinâmica de formatos e tamanhos das escovas infantis segue até a faixa etária dos 6 a 7 anos.
Dos 8 anos em diante é possível adquirir escovas dentais um pouco maiores. No entanto, elas devem continuar apresentando cabeça pequena, porém com um formato mais oval, sempre adequadas ao tamanho da boca da criança.
É imprescindível que a escovação seja orientada pelo dentista e supervisionada em casa. Isso ajuda em detalhes  importantes como o alcance dos primeiros molares permanentes já desenvolvidos ou em fase de erupção.

A escolha do creme dental

O dentista também deve orientar o uso da pasta de dente. A Academia Internacional de Odontologia Pediátrica e a Associação Brasileira de Odontopediatria recomendam o uso de cremes com flúor numa concentração que lhes permite proporcionar uma propriedade anticárie. No caso dos cremes infantis, eles devem conter no mínimo 1000 ppm F (partes por milhão de flúor), quantia descrita em embalagem.
É válido explicar para a criança que não há necessidade de encher a escova de pasta. Recomendamos pequenas quantidades desde a erupção dos primeiros dentes de leite. Algo como um grão de arroz cru (0,1 g) até os 3 anos de idade e o equivalente a um grão de ervilha (0,3 g) acima do terceiro ano de vida.
Desenhos coloridos e personagens estampados nas embalagens dos produtos podem motivar a higiene bucal entre a criançada, mas não dispensam o estímulo e a orientação dos familiares e do odontopediatra.

E o fio dental?

Ele também é uma ferramenta importante na higiene bucal infantil. Seu uso deve ser iniciado quando os dentes começam a ter contato uns com os outros, o que propicia maior acúmulo de alimentos e a formação do biofilme, colônias de micro-organismos como as bactérias.
Os tipos recomendados do produto são: fio dental, fita dental e os modelos com acessório passa-fio e os já montados, de várias marcas e procedências. Devemos destacar que a orientação do uso correto também deve vir numa consulta com o odontopediatra.
Essa, aliás, é uma mensagem a ser gravada: procurar e manter contato com o dentista desde a infância, para que ele e outros especialistas possam acompanhar o desenvolvimento dos dentes e da cavidade oral e contribuir na prevenção e no controle de problemas de saúde.
* Dra. Silvana Frascino é odontopediatra e membro da Câmara Técnica de Odontopediatria do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP)

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Simuladores mostram efeitos reais da cirurgia de catarata

Cientistas testam, com sucesso, a precisão de aparelhos que retratam como a cirurgia para catarata vai melhorar a visão (e quais os efeitos colaterais)

Cientistas do Conselho Nacional de Pesquisa Espanhol (CSIC) testaram aparelhos que simulam, para cada paciente, o resultado final da cirurgia de catarata – uma doença que deixa a vista embaçada devido à perda de transparência da nossa lente natural (o cristalino). E os resultados, animadores, foram publicados no periódico Scientific Reports.
Esses dispositivos recorrem a várias lentes, espelhos, moduladores de luzes e outros recursos da física para retratar como o procedimento pode afetar a visão, para o bem e para o mal. O usuário basicamente coloca o simulador na cabeça e começa a olhar ao redor.
A questão: até agora, nenhum trabalho havia checado se essa tecnologia reproduz com fidelidade como ficará a visão depois da operação. “O conceito é extremamente complexo. É um grande trabalho”, opina o oftalmologista Wallace Chamon, membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO).
Após testes em um grupo de voluntários, os pesquisadores do CSIC validaram com sucesso o realismo dos simuladores. É uma força e tanto para que eles sejam lançados no mercado.
“A possibilidade de o paciente experimentar a nova visão antes da cirurgia é bastante atrativa para reduzir a incerteza e manejar expectativas”, afirma, em comunicado à imprensa, a física Susana Marco, do Instituto de Óptica, na Espanha.

Como o simulador vai ajudar os portadores de catarata

Para entender a grande vantagem desses aparelhos, é necessário antes entender mais sobre a cirurgia, o único tratamento curativo contra a catarata, que afeta principalmente os mais velhos.
Wallace Chamon explica que, no procedimento, o cristalino leitoso e danificado da pessoa é retirado e substituído por uma lente multifocal artificial de material acrílico. Por meio da biometria ocular, um exame que calcula diferentes medidas no globo ocular, o oftalmologista decide qual tipo de lente artificial deverá ser empregada.
“Essa lente também é capaz de corrigir erros como miopia, hipermetropia e astigmatismo. A necessidade de usar óculos deixa de existir em 90% dos casos”, aponta o especialista.
Apesar dessa vantagem, Chamon informa que certos indivíduos sentem efeitos colaterais, como ficar com a vista ofuscada ou com menos contraste e enxergar raios de luz parecidos com os do farol de carros.
“Essas alterações são mínimas e bem toleradas. O olho se adapta na enorme maioria das vezes e, depois de seis meses do procedimento, não há mais queixas”, acrescenta.
No entanto, uns poucos pacientes acabam querendo trocar a lente por não suportarem as reações adversas. Então, o oftalmologista decide com ele se apostará em outra lente multifocal ou numa versão diferente.
“Esse processo é difícil, porque não consigo descrever como ficará a visão da pessoa”, admite o oftalmologista. Embora o simulador possa ajudar em qualquer fase, mostrando os benefícios e as limitações da cirurgia, é aqui que ele ganha valor especial.
Ora, o aparelho simula os efeitos que podem aparecer na visão com cada tipo de lente artificial. Dessa maneira, ajuda na escolha, diminuindo o risco de insatisfação no pós-operatório.
“É um avanço. O trabalho foi feito por um grupo do mais alto gabarito, divulgado de maneira cientificamente séria e foi consequência de uma pesquisa longa. A equipe tem uma credibilidade muito grande e os resultados apresentados são consistentes”, conclui Chamon.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

O baralho que facilita a hospitalização infantil

Disponível para compra na internet, jogo criado por psicóloga ameniza as dificuldades das crianças durante uma internação

 
Se ficar internado não é das experiências mais agradáveis para os adultos, imagine para os pequenos. “Eles ficam longe da família e da escola e nem sempre são bem informados sobre o tratamento, fatores que geram estresse e ansiedade”, resume a psicóloga Camilla Volpato Broering, professora da Universidade do Vale do Itajaí, em Santa Catarina.
Para aliviar a situação, ela e a aluna Olívia Entrebato Kruger criaram o Baralho Infantil da Hospitalização: Pensamentos Diferentes para Situações Difíceis. O jogo é composto de 49 cartas de diversas categorias.
A ideia é que a criança as use para mostrar ao psicólogo como se sente diante de momentos comuns a uma internação. Assim, o profissional pode achar a melhor maneira de apoiar o paciente nesse período.

Outros recursos para tranquilizar as crianças

Contação de histórias: não há jeito melhor de mexer com a imaginação da garotada do que ter alguém lendo para elas.
Realidade virtual: com a ajuda de um headset (uma espécie de óculos), elas têm acesso ao mundo exterior sem sair do hospital.
Pet terapia: alguns hospitais já permitem a entrada de bichos para acelerar a recuperação dos pequenos.
Videogame e DVD: o que agrada aos menores nem sempre atrai os adolescentes. Em geral, eles preferem ver séries e jogar.
Super-heróis na área: receber a visita desses personagens deixa o ambiente hospitalar mais leve e acolhedor.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Chega ao Brasil uma nova vacina para meningite B

Aprovado pela Anvisa, esse imunizante é mais uma opção de defesa para os jovens contra a meningite meningocócica B, uma infecção grave no cérebro

 
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o registro da vacina Trumenba, da farmacêutica Pfizer. Agora, quem quiser se proteger contra a meningite terá mais uma opção nas clínicas particulares.
Até então, a única vacina contra a meningite B – um dos subtipos da meningite meningocócica, causada por uma bactéria – no Brasil era a Bexsero, fabricada pela GSK. Ela é recomendada para brasileiros a partir dos 2 meses de idade, enquanto a Trumenba só tem autorização para ser injetada em jovens dos 10 aos 25 anos.
De acordo com o médico Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), essa diferença na indicação é explicada por um evento que aconteceu nos Estados Unidos.
Em 2013, houve um surto da doença nos campi universitários americanos. Um ano depois, a vacina Trumenba foi aprovada no Estados Unidos – ela, portanto, foi estudada justamente para a população que frequentava essas faculdades.
“Esse imunizante ainda não foi testado em crianças pequenas. Certamente, serão feitas pesquisas posteriores nessa faixa etária. Mas, por enquanto, o licenciamento é esse”, afirma Kfouri.
Tirando essa particularidade, as duas opções parecem se equivaler. “A Trumenba tem uma composição diferente, mas, no quesito proteção, é bem parecida”, informa o especialista.
Só tenha atenção para as contraindicações: “A princípio, não deve ser usada em gestantes e em indivíduos que manifestaram alguma reação alérgica aos componentes”, orienta o pediatra.
Assim como a Bexsero, a Trumenba estará disponível apenas no setor privado, em forma de injeção. Serão duas doses com intervalo de seis meses.
Segundo Kfouri, não há previsão para a chegada na rede pública em curto período. “Apesar da enorme gravidade da doença, no Brasil a gente tem o subtipo C como principal perigo. Ele sempre foi a prioridade para combater”, explica.
O especialista da SBP reforça que a vacina para a meningite meningocócica C (que também engloba os subtipos A, W e Y) é distribuída gratuitamente nos postos de saúde do país. Ela deve ser aplicada aos 3, 5 e 7 meses de vida, com reforço entre os 4 e 6 anos e aos 11 anos de idade.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Documentário “Heal” na Netflix: crueldade disfarçada de autoajuda

O filme mostra supostos casos de cura pelo poder da mente. Mas, em resenha para a Revista Questão de Ciência, um jornalista critica a narrativa

Elizabeth passa toda a vida adulta praticando ioga, alimentando-se predominantemente de vegetais crus, consumindo sucos “detox”, estudando acupuntura e, de repente, é diagnosticada com câncer de fígado e intestino, em estágio avançado. Depois de um curso de quimioterapia e um de radioterapia, o tumor principal e as metástases desaparecem, e ela se considera curada. Vitória da ciência, claro! Ou não? Não de acordo com a interpretação dada à narrativa pelo documentário Heal – O Poder da Mente, disponibilizado recentemente pela Netflix no mercado brasileiro.
Mesmo após o médico de Elizabeth sugerir que, talvez, a remissão rápida e relativamente simples possa ser explicada por um erro do diagnóstico inicial, na avaliação da gravidade do tumor, a razão promovida pelo filme é a liberação de energias emocionais negativas, acumuladas por décadas, desde o dia em que a paciente, ainda criança, foi humilhada pelos coleguinhas de escola por causa de um pacote de biscoitos.
Produzido, dirigido, escrito e apresentado pela atriz Kelly Noonan Gores, “Heal” acompanha a trajetória de duas mulheres. Além de Elizabeth com seu câncer, temos Eva, sofrendo com estranhas erupções cutâneas, sem diagnóstico claro, também em busca de uma cura.
Falas das duas pacientes, e cenas de suas visitas a médicos e terapeutas alternativos, são entremeadas por conversas com autores de best-sellers de autoajuda mística, como Deepak Chopra, Bruce Lypton, Kelly Turner.
Para quem não os conhece, Chopra defende a ideia de que o corpo humano é um “campo de energia e consciência”, e que é possível parar de envelhecer, ou mesmo rejuvenescer, usando meditação, exercícios físicos e força de vontade.
Lypton, por sua vez, acredita que, como a regulação genética – a definição de quais genes serão ativados dentro das células, e em que momento – depende, em parte, de estímulos ambientais, então é possível ligar ou desligar genes com o poder da mente.
Já Kelly Turner viajou o mundo perguntando a pessoas que sobreviveram ao câncer, mesmo contra os piores prognósticos, como achavam que tinham conseguido isso – o que faz tanto sentido quanto perguntar a um ganhador da loteria como escolhe seus números.
Também fazem aparições Rob Wergin, o “Conduíte Divino” (que se diz capaz de transmitir “energias de cura” diretamente de Deus para os pacientes), o “médium médico” Anthony Williams e, de modo mais modesto, João de Deus. O filme é de 2017, antes do escândalo atual de abusos sexuais que atinge o brasileiro – pena que nenhum quiromante ou tarólogo tenha avisado Noonan Gores a tempo.

Física Quântica, Buda, Epigenética

Um dos gurus-coaches-mestres-entrevistados de Heal cita a frase “cada homem e mulher é arquiteto da própria saúde”, e a atribui ao Buda. Trata-se de uma falsa atribuição: Sidarta Gautama, o Buda que ensinou na Índia por volta de 500 AC, muito provavelmente nunca disse isso.
Mas o erro, afirmado com segurança e um ar de profunda sabedoria, é típico do documentário como um todo: tudo o que se tenta deduzir, ali, das ciências, da física, da epigenética, do efeito placebo, é falso, mal atribuído, ou está fora de contexto.
Primeiro, a física: os participantes do filme parecem todos achar que a equivalência entre matéria e energia da Relatividade, e os aspectos mais surpreendentes da física quântica, de algum modo, validam uma espécie de dualismo – matéria e espírito seriam entidades separadas – e a predominância do espiritual: se “tudo é energia”, então o mundo físico não passa de uma fachada manipulável pela vontade.
Há muita coisa errada nessa linha de pensamento, começando pelo fato de que a energia da física quântica e relativística é uma propriedade do mundo físico, mensurável e manipulável por meio de ferramentas físicas, não um poder abstrato ou divino. Em lógica e retórica, isso se chama “equivocação”: o erro (ou má-fé) de usar a mesma palavra com sentidos diferentes num mesmo argumento, fingindo que não houve mudança.
Os participantes do documentário mostram-se, seguidas vezes, fascinados por exemplos de que estados mentais estão correlacionados a estados fisiológicos, mas em nenhum momento parecem se dar conta de que isso não representa uma hierarquia – a mente é mais poderosa que a matéria – e, sim, uma identidade: a mente é mais um tipo de estado fisiológico.
Outros conceitos científicos abusados durante o programa são epigenética e efeito placebo, ambos alvos de exageros tremendos. A epigenética – que trata dos mecanismos celulares que levam certos genes a se expressar ou seguir em silêncio – é apresentada como a ponte entre pensamento positivo e a biologia celular: “Se mudo minhas crenças sobre a vida, mudo os sinais que estrão entrando e ajustando o funcionamento da célula”, diz Bruce Lypton, autor de livros como The Biology of Belief, olhando para a câmera.
Lypton salta da constatação de que diferentes hormônios podem levar células-tronco idênticas a diferenciar-se em diversos tipos de tecido, ligando e desligando genes, para a conclusão, totalmente injustificada, de que diferentes pensamentos podem ter o mesmo efeito, e em qualquer tipo de célula. Se isso fosse verdade, deveria ser possível transformar um dedo numa orelha – ou regenerar um membro perdido – apenas desejando algo assim.
Salto semelhante é dado por Joe Dispenza, autor de You Are the Placebo. O escritor parte da constatação de que o efeito placebo – uma mistura de condicionamento clássico e sugestão – é capaz de levar o corpo a produzir analgésicos opioides, para a alegação, completamente sem pé nem cabeça, de que crença e fé são capazes de induzir o corpo a produzir “qualquer coisa” que seja necessária para resolver um problema de saúde.
Dizpensa alega ter sarado de uma lesão grave, na coluna vertebral, usando apenas visualizações e pensamento positivo.

Em síntese

As alegações centrais de Heal – O Poder da Mente são de que todas as doenças são autoinfligidas, provocadas por estresse emocional (emoções ruins criam “densidade”, que ou enfraquece o sistema imunológico ou causa câncer, ou ambos) e, portanto, são autocuráveis, e sabemos disso porque física quântica e epigenética blábláblá.
Existe um esforço, não muito sincero, de parecer não culpar a vítima (em algum momento se diz que você não tem culpa de causar o seu próprio câncer, se o estilo de vida moderno inevitavelmente “polui o subconsciente” de todos), mas a mensagem é clara: tudo acontece por uma razão, e a razão está na sua cabeça.
Noonan Gores tenta vender isso como uma palavra de esperança. Mas não é. É uma palavra de desespero e culpa.
A ideia de Kelly Turner, expressa em seu livro Radical Remission, de que pacientes que se recuperam de tumores malignos, mesmo depois de esgotadas as opções de tratamento, “encontraram a cura de seus cânceres” é talvez a manifestação mais clara (e ingênua) desse princípio. Colecionar os hábitos desses “sobreviventes radicais” não faz o menor sentido sem um grupo de comparação: o de pessoas que, cultivando os mesmos hábitos, não sobreviveram.
O documentário acompanha um homem, que se apresenta como paciente de câncer cerebral, tendo um êxtase místico nos braços de Rob Wengin, o “Conduíte Divino”. Todos na sala se emocionam, e fica implícito que o paciente acredita ter sido curado. Mas foi? O filme não nos diz. A história para aí.
Eva, a segunda personagem principal, termina o documentário da mesma maneira como começou: sem diagnóstico ou tratamento claro definido para seu problema de pele. Um médico receitou-lhe esteroides; outro, antibiótico. A terapeuta holística que a ajudou a reviver traumas de infância também não produziu nenhum avanço.
A principal cura apresentada em Heal – O Poder da Mente é a de Elizabeth, que teve câncer e passou por quimioterapia e radioterapia. Mas o filme se recusa a ligar os pontos: a medicina “ocidental” é um monstro agressivo, e é a terapia alternativa que leva os louros. A realidade é o contrário disso: o uso terapias alternativas eleva o risco de vida para pacientes de câncer.
O verdadeiro “poder da mente” está em ignorar o óbvio e apaixonar-se por uma fantasia pseudocientífica, cruel – mas muito lucrativa para quem a vende.
*Autor deste texto, Carlos Orsi é jornalista e editor-chefe da Revista Questão de Ciência. O conteúdo acima foi publicado originalmente nesta publicação.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Chega o aplicativo de celular que ajuda a medir a glicose no diabético

unto com um sensor no braço, o app dispensa as picadas no dedo dos exames de glicemia e facilita a monitoração do diabetes. Conheça o FreeStyle LibreLink

O FreeStyle Libre ganhou destaque no controle do diabetes anos atrás. Era só colocar um pequeno sensor no braço e, então, passar um leitor por perto para checar a própria glicemia em tempo real – e sem picadas. Pois esse sistema, da empresa Abbott, foi aprimorado com o desenvolvimento de um aplicativo de celular, que acaba de desembarcar no Brasil.
Funciona assim: em vez de recorrer ao tal leitor, o usuário baixa gratuitamente o app FreeStyle LibreLink no seu telefone (disponível nos sistemas Android e iOS). Aí é só aproximar o celular do sensor – que é instalado pelo próprio paciente no braço – e ver a quantas anda as suas taxas de açúcar no sangue.
“O aplicativo é mais amigável do que o leitor anterior”, sentencia o endocrinologista Carlos Eduardo Barra Couri, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. De acordo com ele, os gráficos exibidos pela tela do telefone são claros e permitem uma melhor interpretação dos dados.
Aí vem outro ponto positivo. Com o app, fica fácil compartilhar os seus níveis glicêmicos para o médico. Você aperta um botão e pronto (antes, teria que acoplar o leitor em um computador e fazer a transmissão por meio de um site).
Além disso, a inovação faz com que a pessoa ande com uma coisa a menos no bolso. É uma comodidade especialmente bem-vinda para quem tem a mente mais avoada, assim por dizer.
No mais, a dispensa do leitor é sinônimo de economia. O que, convenhamos, conta pontos para um método de monitoramento relativamente caro – e que não está disponível no serviço público.
Atualmente, cada sensor custa 239,90 reais e precisa ser trocado de duas em duas semanas. Ou seja, em um mês, as despesas ficam na casa dos 500 reais. Já o kit com dois sensores e o leitor tradicional sai por 599,70 reais.
De acordo com Couri, o mais bacana do FreeStyle Libre e do aplicativo é visualizar as variações na glicemia em gráficos amigáveis e, a partir daí, tomar medidas que refinam o controle do diabetes. “Isso empodera o paciente. Se for para usar essa tecnologia somente para não furar o dedo, acho caro”, afirma.
Cabe destacar que esse app já estava disponível em outros locais, como na Europa. Lá fora, aliás, há uma versão mais moderna do dispositivo, batizado de Free Style Libre 2.
Entre outras vantagens, ele emite alertas quando a glicemia fica muito abaixo ou acima do adequado. Esses limites podem ser definidos pelo próprio paciente, em conjunto com o médico.
Em resposta à SAÚDE, a assessoria de imprensa da Abbott afirmou que ainda não há uma estimativa de chegada para esse novo produto no Brasil.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Suave remédio contra a infecção

Dormir bem melhora a eficiência do sistema de defesa do corpo contra vírus e bactérias

Crédito: millann
AUXÍLIO A descoberta pode fortalecer pacientes com o sistema imunológico enfraquecido (Crédito: millann)
Quando alguém pega um resfriado, é comum que ele ouça a recomendação para tentar dormir bem. Depois de uma boa noite de sono, diz o consenso popular, o indivíduo acorda com outra disposição. Na semana passada, cientistas alemães descreveram as razões pelas quais isso acontece. O sono de qualidade fortalece o sistema de defesa do corpo para lutar contra vírus e bactérias.
A ajuda se dá por meio de um complexo caminho fisiológico. De acordo com o que descreveram os pesquisadores da Universidade de Tubingen na última edição do Jornal de Medicina Experimental, o sono facilita a ação dos linfócitos T, células do sistema imunológico responsáveis pelo reconhecimento, ataque e destruição das células infectadas. Faz isso ao permitir o aumento da produção de uma proteína, a integrina, necessária para que os linfócitos se liguem às células a serem mortas.
Eles descobriram o mecanismo ao comparar a concentração da substância, cujo papel já era sabido, entre voluntários acordados e dormindo. Estes últimos apresentavam um total muito maior do que os integrantes do primeiro grupo. “O sono tem o potencial de melhorar as respostas das células T”, disse Luciana Besedovsky, uma das cientistas participantes. “Isso é particularmente importante em situações em que precisamos muito dos linfócitos, como no caso de pacientes com câncer. Eles ajudam a atacar e destruir as células tumorais.” CP

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Lotes de frango da Perdigão são recolhidos por risco de salmonela

A Anvisa determinou a retirada do mercado de cinco cortes de frango após a própria fabricante detectar resquícios da bactéria que causa gastroenterite

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou o recolhimento de cinco cortes de frango da marca Perdigão, que pertence à empresa BRF. A medida foi tomada depois que a própria fabricante detectou, em testes de qualidade, a presença da bactéria Salmonella enteritidis, conhecida por causar surtos de diarreia e gastroenterite.
Os produtos afetados, que já estão sendo retirados do mercado, foram:
Filé de peito, embalagem plástica – 2kg (lotes 30/10/18 e 9/11/18)
Coração, embalagem plástica – 1kg (lotes 30/10/18, 5/11/18, 6/11/18, 7/11/18, 9/11/18, 10/11/18 e 12/11/18)
Filezinho (Sassami), embalagem plástica – 1kg (lotes 30/10/18, 5/11/18, 6/11/18, 7/11/18, 9/11/18, 10/11/18 e 12/11/18)
Meio peito sem osso e sem pele, caixa de papelão – 15kg (lotes 30/11/18, 7/11/18, 9/11/18 e 10/11/18)
Coxas e sobrecoxas sem osso, caixa de papelão – 15kg (lotes 6/11/18, 9/11/18 e 10/11/18)
A Salmonella enteritidis é encontrada em diferentes alimentos de origem animal. Ela ficou conhecida por infectar o ovo, mas também pode invadir leite e carnes.
Além disso, esse micro-organismo eventualmente se esconde em vegetais pela contaminação cruzada. Exemplo: a pessoa coloca o garfo em uma carne crua infectada e, sem higienizá-lo, usa o mesmo talher para separar vegetais.
Quando invade o corpo, essa bactéria ataca o sistema digestivo. Ela é responsável por surtos de gastroenterite mundo afora – são os casos clássicos de refeitórios que servem pratos contaminados a centenas de pessoas.
Ah, e apesar da bactéria se chamar Salmonella enteritidis, é comum denominar a doença decorrente dela como salmonela, com um “l” só.

O que você pode fazer para evitar a salmonela

Como muitas outras bactérias, essa não resiste a um bom processo de cozimento. Daí porque vale a pena levar o frango e outras carnes ao fogo.
O mesmo vale para o ovo cru ou para o leite tirado direto da vaca.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Excesso de formol no ar em salões de beleza (e em produtos para o cabelo)

Em uma cidade paulista, boa parte dos salões tem altas taxas de formol no ar – substância usada em produtos de alisamento capilar e que causa até câncer

 
O formol, uma substância com potencial cancerígeno, está tomando conta do ar de muitos salões de beleza, segundo um estudo do Instituto de Pesquisas Tecnológicas e da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. Pelo menos na cidade de Bauru, no interior paulista, 39% dos estabelecimentos teriam taxas excessivas dessa molécula circulando pelo ambiente.
Para o experimento, cientistas selecionaram 23 salões de beleza de diferentes regiões, que atendiam os mais variados públicos. A partir daí, instalaram dispositivos que captavam partículas no ar – eles ficavam posicionados na altura da cabeça dos cabeleireiros, que seriam os mais afetados por passaram o dia todo no ambiente.
As amostras, então, foram levadas para o laboratório. E foi lá que se descobriu que 39% delas ultrapassaram o limite de concentração de formol estabelecido no Brasil – 1,6 PPM (parte por milhão) para uma jornada de trabalho de 40 horas semanais.
“Além de irritação em nariz, laringe e olhos, problemas respiratórios e na pele, o formol é uma substância cancerígena”, reforça Marcelo Eduardo Pexe, engenheiro ambiental e autor do levantamento. “Chegamos a encontrar amostras com até 4,2 PPM em uma única aplicação. Considerando que em muitos salões podem ocorrer até três escovas progressivas por dia, qual é o risco a que estão expostos os profissionais?”, questiona, em comunicado à imprensa.
Embora os cabeleireiros sejam os mais ameaçados pelo tempo de exposição, os clientes também devem ficar atentos.
Aliás, a pesquisa brasileira também testou 18 marcas de creme para escova progressiva usadas nesses salões. E todas ultrapassaram significativamente o limite de formol determinado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa.
Para ter ideia, a concentração máxima no produto não pode extrapolar 0,2%. Só que, de acordo com o estudo, as quantidades variaram de 3,64 a 10,96% – até 54 vezes acima do valor máximo.
“Cerca de 65% das cabeleireiras apresentaram queixas de doenças ocupacionais, relatando irritação ocular, lesões de pele, cefaleia, dor em membros superiores e inferiores e problemas respiratórios”, explica Pexe.
Claro que não dá para extrapolar esses achados para o resto do Brasil. Por outro lado, eles alertam para a necessidade de profissionais e clientes refletirem um pouco mais sobre a necessidade do alisamento e, acima de tudo, buscarem produtos de boa qualidade. Além de, claro, aplicarem esses itens corretamente.

Não é só o creme para escova progressiva que importa

Outra descoberta interessante: características do salão de beleza influenciaram na concentração de formol no ar. Exemplos: quantidade de portas e janelas e altura do pé direito. Quanto mais ventilado, melhor.
Os pesquisadores também chamaram a atenção para o fato de que lavar os cabelos antes da etapa de secagem e “pranchamento” dos fios diminuiu a exposição a essa substância. Isso porque parte do produto seria retirada nesse processo.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

O sorvete que ajuda na luta contra o câncer

Pesquisadores brasileiros desenvolvem o doce ideal para quem se trata de um tumor. Saiba mais sobre ele e como se alimentar bem durante o tratamento

Alimentos gelados estão entre os preferidos por quem passa pela quimioterapia. É que eles ajudam a conter náuseas e incômodos na boca, efeitos típicos desse tratamento contra o câncer — e que abalam o apetite dos pacientes.
De olho nisso, um time de pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) elaborou um sorvete especialmente desenhado para essa turma. Ele leva whey protein isolado, azeite de oliva (sem odor!) e açúcar orgânico rico em fibras.
“Chegamos a um produto de alta densidade calórica, algo necessário para esse indivíduo, mas à custa de proteína e gordura de boa qualidade”, conta a nutricionista Raquel Kuerten.
A guloseima, aliada da boa nutrição nessa fase difícil, foi aprovada por pacientes do Hospital Universitário da UFSC. A empresa parceira, Ypy Sorvetes Premium, já disponibiliza três sabores em algumas regiões do Brasil.

Artimanhas para comer bem durante o câncer

A expert Raquel Kuerten dá dicas para a nutrição durante o tratamento
De pouco em pouco: o paciente não dá conta de refeições volumosas. Melhor oferecer menos, só que várias vezes ao dia.
Campeões de audiência: tudo bem focar nas receitas prediletas da pessoa. Mas é legal variar na apresentação para o prato ter novas caras.
Chás parceiros: alguns tipos, como o de malva, ajudam a recuperar a mucosa da boca. Daí fica mais tranquilo comer.
Mastigação sem crise: dependendo do estado da boca, alimentos de textura macia são mais fáceis de mastigar. É só cozinhá-los.
Turbine as receitas: aumentar o aporte de calorias (de fontes boas, claro) é crucial. Use ovo, azeite, leite, e por aí vai.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Como cuidar da saúde bucal de cães e gatos? Com ração

Revisão de estudos mostra que, além de oferecer os nutrientes certos, a ração "convencional" reduz risco de doenças periodontais em cães e gatos

  Uma revisão de estudos conduzida pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP) constatou que escolher a ração como alimento de cães e gatos pode ser uma forma de controlar doenças periodontais, que afetam cerca de 60% dos animais domésticos.
Um dos trabalhos analisados revela que a comida própria para pets reduz em 55% o acúmulo de tártaro nos dentes.
O veterinário Marcio Antonio Brunetto, um dos responsáveis pelo trabalho, conta que os fosfatos presentes nesses produtos levam a uma reação química com o cálcio da saliva, o que minimiza a formação de placa bacteriana. “Por ser duro, o grão também causa atrito nos dentes. Isso ajuda a desorganizar a placa”, completa.
Já a comida natural, preparada em casa ou por empresas especializadas, teria o efeito oposto. “O alimento mole favorece problemas devido à maior presença de água e à ausência dos aditivos da ração”, explica o pesquisador da USP.
Claro que a escolha pela dieta ideal do seu animal vai além dos dentes. Mas esse é um fator importante que precisa ser considerado em uma conversa com o veterinário.

O que mais fazer pelos dentes de cães e gatos

Tem de escovar: “Esse é o método mais efetivo de combater doenças bucais”, aponta Brunetto. Escove três vezes por semana com produtos próprios para pets.
O petisco ideal: Há guloseimas formuladas especificamente para melhorar a saúde da boca. Elas agem da mesma forma que a ração.
Pode morder: Dar brinquedos para o bicho mastigar fortalece os dentes — e evita a procura por outros objetos, como portas e sapatos.
Chega de bafo: Enxaguantes próprios podem ser uma opção para afastar o mau odor. Não se preocupe: nem é preciso cuspir.
Dia do dentista: “O certo é levar o pet periodicamente para uma avaliação com o especialista”, aconselha Brunetto. A recomendação é uma visita anual.
Pílulas do bem: Cápsulas de chá-verde e ômega-3 podem ser indicadas por suas propriedades anti-inflamatórias no combate à doe

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

A era dos extremos

Enquanto no Rio de Janeiro a temperatura ultrapassa os 40ºC, nos Estados Unidos um fenômeno polar derruba as mínimas para -52ºC de sensação térmica. Tudo por causa do aquecimento global

A era dos extremos
As temperaturas registradas em 2019 mostram que esse será mais um ano de eventos climáticos extremos. Dependendo da região do planeta em que você estiver, casacos mais quentes deixaram os armários ou ventiladores e aparelhos de ar condicionado estão ligados em alta potência. No Rio de Janeiro, este janeiro foi o mais quente em 97 anos, com a temperatura atingindo a maior média desde 1922. No começo do ano, os termômetros chegaram a registrar 41,2°C. O desafio é grande para quem precisa caminhar pelas ruas ou trabalha de terno e gravata. Pensando nisso, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro até assinou um ato normativo dispensando os advogados do dress code.
Se no hemisfério Sul os ternos estão sendo dispensados por conta do calor, no Norte a entrega de pizzas foi cortada devido ao frio. No Meio-Oeste e na costa leste dos EUA, além de partes do Canadá, a sensação térmica bateu recordes de -40°C. Em Minneapolis, a sensação chegou a -51°C e as aulas em escolas públicas foram suspensas. Em Wisconsin foi decretado estado de emergência. Mais de 1,1 mil voos tendo os EUA como destino ou origem foram cancelados. Agora a Geórgia, onde empresas fecharam seus escritórios na terça-feira 29, torce para as temperaturas subirem. No domingo 3, receberá o Super Bowl, a final do futebol americano, um dos maiores eventos esportivos do país.
Ciclone polar
Em Chicago, às sete da manhã da quarta-feira 30, a sensação térmica foi de -52°C. Até a vodka, que não congela quando armazenada em freezers comuns, torna-se sólida em um clima desses. Para os americanos que não gostam do frio, o jeito é fugir para estados como o Texas ou a Flórida, alguns dos poucos que manterão os termômetros no positivo. A vantagem de tanto frio é a criação de belas paisagens, como o congelamento das águas das cataratas do Niagara, na fronteira entre os EUA e o Canadá. Lindo de se ver e bom para atrair turistas.
A causa de temperaturas tão extremas no Sul e no Norte é uma só: o aquecimento global, caracterizado pela elevação gradual da temperatura no planeta. No norte, as mudanças alteram o comportamento do vórtice polar (ciclones de baixa temperatura e pressão formados nos polos). No inverno, eles se desestabilizam e espalham-se para o sul. Com o aumento da temperatura, o fenômeno torna-se mais abrangente. O Ártico é uma das regiões do globo terrestre que está se aquecendo mais rapidamente, com registro de alta de 3°C na sua temperatura. “Esse aumento maior no Ártico e menor em regiões temperadas, como nos EUA, faz com que massas de ar muito geladas no inverno do hemisfério Norte se desloquem ao sul com mais facilidade. O vórtice polar fica enfraquecido, quebra-se e sai do isolamento”, explica Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo e membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas. No hemisfério Sul, a elevação da temperatura no mundo todo torna os verões mais quentes.
Apesar de todas as evidências científicas provando a existência do aquecimento global, inacreditavelmente há uma parcela da população mundial que teima em negá-lo. O presidente americano, Donald Trump, é um deles. No ano passado, durante outro inverno congelante, ele usou o Twitter para fazer troça, perguntando que aquecimento era aquele propalado pela ciência que não impediu a descida dos termômetros. Nesse ano, repetiu a piada sem graça. Pelo Twitter, ele postou: “No belo Meio-Oeste, temperaturas gélidas estão alcançando -15 °C. Que diabos está acontecendo com o aquecimento global? Por favor volte rápido, precisamos de você!” Com o chefe do mais importante país do mundo falando tanta bobagem sobre o assunto, só restar pedir: ciência, por favor, não esmoreça. A Terra precisa de você.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Bolsonaro tem previsão de alta adiada e terá que tomar antibióticos

Crédito: Divulgação/Presidência da República
O presidente Jair Bolsonaro foi submetido a tratamento com antibióticos de amplo espectro após apresentar elevação da temperatura – 37,3 °C – e alteração de alguns exames laboratoriais, com aumento de leucócitos, na noite de ontem. Esse aumento pode indicar processo infeccioso, segundo o porta-voz da presidência Otavio do Rêgo Barros.
Devido a isso, a previsão de alta foi adiada. Como os antibióticos devem ser ministrados por sete dias, ele deve permanecer no hospital por mais este período, segundo o porta-voz.
Exames de imagem mostraram uma “coleção líquida” ao lado do intestino na região da antiga colostomia, segundo boletim médico divulgado há pouco. Ele foi submetido à punção guiada por ultrassonografia e permanece com dreno no local.
O presidente está internado em unidade de cuidados semi-intensivos do Hospital Israelita Albert Einstein e, no momento, está sem dor e sem febre. Ele permanece em jejum oral, com sonda nasogástrica e nutrição parenteral (endovenosa) exclusiva.
Uma evolução nos movimentos intestinais foi citada no boletim médico, que informou dois episódios de evacuação do presidente.
Bolsonaro segue realizando exercícios respiratórios e de fortalecimento muscular no quarto. Por ordem médica, as visitas permanecem restritas, ele está acompanhando da esposa Michelle e do filho Carlos Bolsonaro.
O presidente cotinua em descanso e tem sido evitados despachos, de acordo com Barros. Nos próximos dias, não estão agendados compromissos oficiais. Por enquanto, não há estudos sobre afastamento de Bolsonaro da presidência, deixando o vice na função.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

O avanço de 2019 para o câncer – e 9 prioridades da ciência para tratá-lo

Entidade dos Estados Unidos aponta os progressos frente a tumores raros como a maior conquista da oncologia nos últimos meses

Todo ano, a Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco, na sigla em inglês) elege o que considera ter sido o grande avanço contra o câncer. E, em 2019, quem levou essa honraria foram os progressos no tratamento de tumores raros.
Embora cada uma dessas doenças afete poucas pessoas, em conjunto elas se tornam um problema de saúde pública considerável. Veja: 20% de todos os tumores diagnosticados nos Estados Unidos são tidos como raros. Não é pouca coisa.
“É animador ver avanços substanciais ao longo de só um ano, particularmente contra os cânceres raros”, reforça Monica Bertagnolli, presidente da Asco.
Em um comunicado, essa entidade listou alguns exemplos de melhorias no tratamento desse subgrupo de tumor. Exemplos:
• O governo dos Estados Unidos aprovou o primeiro tratamento em 50 anos para o carcinoma anaplásico da tireoide. É uma combinação de dois remédios modernos – o dabrafenibe e o trametinibe – que conseguiu reduzir a doença em dois terços.
• Estudos mostraram que o medicamento sorafenibe é o primeiro a aumentar o tempo de vida sem progressão de doença em tumores desmoides.
• Já o fármaco trastuzumabe freou o avanço de um dos tipos mais agressivos de câncer do endométrio, o carcinoma seroso uterino.
Por outro lado, recentemente tivemos uma má notícia. O olaratumabe, que havia sido aprovado para enfrentar o sarcoma de partes moles após décadas sem um tratamento específico, acabou indo mal em uma grande pesquisa que tentava provar sua eficácia.

Onde a ciência deve se concentrar para vencer o câncer

Além de apontar o maior avanço de ano, a Asco criou uma lista de nove prioridades dentro da oncologia. A ideia é oferecer uma espécie de guia para cientistas preencherem lacunas de conhecimento na área e, com isso, minimizarem o impacto do câncer em geral na vida das pessoas. Veja:
1. Identificar estratégias que predizem uma melhor resposta dos tratamentos com imunoterapia
2. Definir melhor os pacientes que mais se beneficiam de tratamentos depois da cirurgia
3. Trazer os avanços das terapias celulares para os tumores sólidos
4. Aumentar as pesquisas com remédios de última geração em cânceres pediátricos
5. Otimizar os cuidados com o paciente mais velho
6. Melhorar o acesso de voluntários aos tratamentos experimentais
7. Reduzir as consequências do tratamento contra o câncer no longo prazo
8. Diminuir a obesidade e seu impacto na incidência e nos desfechos contra o câncer
9. Identificar estratégias para detectar lesões pré-malignas (que, se não tratadas, podem virar um câncer)

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Certificado internacional de vacinação já pode ser emitido online

Em viagens, esse documento é necessário para entrar em países que exigem imunização contra febre amarela. Saiba como fazer agora para obtê-lo

 
Quem for viajar para lugares que exigem o Certificado Internacional de Vacinação ou Profilaxia (CIVP) contra a febre amarela agora tem a opção de emitir esse documento online. A novidade, anunciada pelo governo federal, foi desenvolvida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em parceria com a Secretaria de Governo Digital do Ministério da Economia.
Certos países, como Austrália, Bahamas e Colômbia, proíbem a entrada de pessoas que não tenham comprovação de que receberam a vacina para febre amarela. Alguns não permitem nem que você faça uma simples conexão.
O problema: até então, só era possível solicitar o certificado presencialmente, em unidades credenciadas, após agendar data e horário. Esse processo demandava tempo e dinheiro para o deslocamento.
Mas agora você consegue solicitar o certificado pela internet e imprimi-lo em qualquer lugar do mundo. Para fazer a requisição, basta se cadastrar no Portal de Serviços, usando seu número de CPF e um e-mail. Então, o usuário deve encaminhar, pelo formulário do site, uma foto ou um arquivo digitalizado do RG e do comprovante nacional de vacinação (é a carteirinha que o pessoal do posto de saúde entrega após você receber sua dose contra a febre amarela).
Aí, uma equipe da Anvisa analisa o processo e, se aprovado, envia uma mensagem por e-mail, em até cinco dias úteis. Pronto: é só imprimir o cartão e assinar no local indicado.
Se você precisar da segunda via, pode acessar o Portal de Serviços e imprimi-la novamente sempre que necessário.
Também dá para realizar o procedimento para menores de idade, contanto que um responsável assine o certificado. No entanto, para estrangeiros sem CPF, analfabetos e população indígena – ou no caso de dificuldades de acesso ao processo digital –, o atendimento presencial será mantido.
Lembrando que quem já tinha a versão solicitada presencialmente não precisa renová-la. Sua validade é vitalícia.
Segundo o governo federal, são realizados cerca de 730 mil pedidos de CIVP anualmente. Com a transformação digital, estima-se que a redução de custos chegue a R$ 120 milhões por ano.