sábado, 30 de janeiro de 2016

Brasil tem a cocaína mais forte e barata do mundo, diz estudo

O Levantamento Global de Drogas 2015 mostrou também que o Brasil é um dos campeões no consumo excessivo de álcool, perdendo apenas para a Irlanda

Cocaína
De acordo com o Levantamento Global de Drogas 2015 (GDS, na sigla em inglês), o Brasil tem o grama de cocaína mais barato do mundo: 12 euros por grama, contra 75 euros por grama, na média global(Thinkstock/VEJA)
O Brasil tem a cocaína mais barata do mundo: 12 euros por grama. O preço médio global é de 75 euros por grama. Entre os usuários que compraram sua própria cocaína, 52% tiveram a oferta de uma cocaína mais forte. Os dados são do Levantamento Global de Drogas 2015 (GDS, na sigla em inglês), uma das mais respeitadas pesquisas online sobre o consumo de substâncias lícitas e ilícitas no mundo.
O estudo, organizado por pesquisadores do Kings College London, na Grã-Bretanha, mostrou ainda que 12,84% dos participantes brasileiros usaram cocaína no último ano. Além disso, o brasileiro consome, em média, uma quantidade maior de cocaína em um dia, em relação aos usuários dos outros países (1,5 grama por sessão, em comparação com 0,4 grama. Não à toa, nós também somos os que mais procuram serviços de emergência após o uso da substância: 3,5% dos usuários no último ano procuraram ajuda média, em comparação com apenas 0,4% na média mundial.
"O fácil acesso e a maior pureza da cocaína brasileira favorecem o consumo. Quase um terço das pessoas disseram usar 2 gramas ou mais por vez", disse Clarice Madruga, pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo e organizadora da pesquisa no Brasil.
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Álcool - Os resultados sobre o consumo de álcool entre os brasileiros impressionam. De acordo com o levantamento, o Brasil é o segundo país no que se refere ao consumo de bebidas alcoólicas de forma abusiva --27,5% dos participantes afirmaram ter ficado extremamente embriagados pelo menos uma vez ao mês. Estamos atrás apenas da Irlanda, com 29% das pessoas fazendo a mesma afirmação.
A falta de percepção sobre os limites do consumo de álcool é outro ponto que fez o Brasil se destacar na pesquisa. Nosso país tem um dos menores índices de pessoas que afirmam precisar beber menos: apenas 0,1%.
Maconha - 50,9% dos usuários de maconha utilizaram a chamada maconha de alta potência, que registra uma concentração de THC (principal componente da maconha, responsável por seus efeitos alucinógenos) em média 40% maior do que a maconha comum.
"Além dos números preocupantes, o que chama a atenção são os sintomas que os usuários apresentaram pelo uso da maconha. Quase 60% sofreram de ansiedade, mais de 40% sentiram-se assustados, 30% tiveram dificuldades para respirar e agitação. Usuários relataram inclusive taquicardia após o uso, sugerindo que as modificações no tipo de planta utilizada e as novas técnicas de cultivo e armazenamento fazem com que a alta proporção de THC altere o efeito principal da droga, a tornando mais estimulante que sedativa", explica Clarice.
Anabolizantes e inibidores de apetite - O Brasil também se destacou no uso de substâncias para alterar a aparência física, como inibidores de apetite, entre as mulheres, e anabolizantes, entre homens.
GDS 2016 - A coleta de dados do GDS é feita anualmente, desde 2000, e explora temas que requerem atenção imediata, como a penetração de novas drogas em cada país. Atualmente, o levantamento é considerado a fonte mais completa sobre a entrada de novas drogas sintéticas no mercado.
Em 2015, primeiro ano do Brasil na lista de integrantes oficiais da pesquisa, ao lado de outros 20 países, 5.749 pessoas participaram da pesquisa. "Ao analisar os primeiros dados coletados pelo GDS para este país em 2014, fiquei chocado ao constatar o consumo incrivelmente alto de álcool e cocaína em festas. Na verdade parece existir uma importante e estreita conexão entre as palavras álcool, cocaína e festas neste país onde as pessoas raramente jantam antes das dez da noite e saem de suas casas para a vida noturna depois da meia noite", disse Adam Winstock, criador e coordenador geral do GDS na Grã-Bretanha.
O Levantamento Global de Drogas 2016 tem seu foco voltado para a entrada de novas drogas sintéticas no país, uso da internet para compra de drogas e o uso de cigarros eletrônicos. A pesquisa está aberta para respostas até o dia 07 de fevereiro e todas as pessoas com mais de 16 anos podem participar.
"Os resultados do GDS Brasil 2016 são importantes, pois eles poderão nos mostrar como o consumo de drogas no Brasil mudou de um ano para o outro. Essa comparação é importante para aprofundar nosso conhecimento sobre drogas no Brasil, o que pode contribuir para o estabelecimento de políticas públicas no país", afirmou Clarice.
(Da redação)

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Zika assusta imprensa mundial: 'A Olimpíada sobrevive?'

Depois do alerta da OMS, jornais internacionais destacam o pânico causado pelo vírus e pela microcefalia e os temores de que a Rio-2016 ajude a espalhar a doença pelo mundo

"O vírus zika pode ser a sentença de morte para a Olimpíada?", pergunta o 'Daily Mail'
"O vírus zika pode ser a sentença de morte para a Olimpíada?", pergunta o 'Daily Mail'(Daily Mail/Reprodução)
No dia em que a Organização Mundial de Saúde (OMS) alertou o mundo que o zika se propaga "de maneira explosiva" e pode infectar até 4 milhões de pessoas nas Américas, a imprensa internacional destacou nesta quinta-feira o pânico provocado pelo vírus - principalmente por sua relação com a microcefalia. E lembrou que o Brasil, sede dos Jogos Olímpicos de 2016, é o país mais afetado pela epidemia.
"O vírus zika pode ser a sentença de morte para a Olimpíada?", pergunta o jornal britânico Daily Mail na manchete principal de seu site. No texto, a publicação explica que o pânico em torno do zika se espalhou "depois que o vírus foi relacionado a milhares de casos de microcefalia, que deixam recém-nascidos com cabeças pequenas e cérebros pouco desenvolvidos".

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Para o Daily Mail, o surto do vírus e o temor da microcefalia deixam a Olimpíada do Rio "à beira do desastre". O jornal lembrou que muitos países aconselharam mulheres em idade fértil a reconsiderar os planos de viajar para o Brasil e citou os casos das delegações da Rússia e da Austrália na Rio-2016, que expressaram publicamente preocupações com a saúde de seus competidores olímpicos. "Faltando menos de 200 dias para a cerimônia de abertura, os Jogos enfrentam uma crise, com países de todo o mundo começando a temer não apenas pelos torcedores, mas também pelos seus atletas", relata o jornal, que questiona: "A Olimpíada vai conseguir sobreviver ao surto?".
O New York Times também repercutiu a preocupação mundial com o surto, em uma reportagem sobre os temores de que a Rio-2016 ajude a espalhar o zika. "Com mais de 500.000 turistas esperados para a Olimpíada no Brasil, pesquisadores lutam para descobrir o tamanho do risco que os Jogos representam na disseminação do vírus pelo mundo", escreve o NYT.
O jornal destaca que até 200.000 turistas americanos devem viajar ao Rio para os Jogos em agosto - quando será inverno no Brasil e verão nos Estados Unidos. "Quando eles retornarem para o hemisfério norte e para o calor do verão, haverá muito mais mosquitos por aí para potencialmente transmitir o vírus no país."
(Da redação)

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Estado investiga 218 casos de microcefalia -Ce

Apenas um caso dos quatro confirmados teve relação com o zika vírus, o de uma criança que faleceu
A Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) comunicou, em boletim divulgado na última terça-feira (26), que até o dia 25 de janeiro, foram notificados 229 casos suspeitos de microcefalia em 56 municípios, distribuídos em 16 das 22 Regiões de Saúde do estado. Dos casos notificados, 218 estão em investigação. Quatro foram confirmados, mas apenas um deles teve relação com o zika vírus.

A anomalia resultou na morte de uma criança em Tejuçuoca. Sete outros casos foram descartados. Os municípios com o maior número de ocorrências em investigação são Fortaleza, com 76 casos (34,9% dos casos em todo o Estado); Maracanaú, com 30 casos (13,8% do total); e Maranguape, com 13 casos (6%).
A microcefalia é uma infecção congênita que pode ter como causa diversos agentes além do zika, como sífilis, toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus e herpes viral. Porém, segundo Robério Leite, pediatra do Hospital São José, o zika vírus é potencialmente mais perigoso porque é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, cuja proliferação é facilitada no período de chuvas.
"É difícil dizer como começou a contaminação, mas o fato é que o vetor da doença nos torna suscetíveis. Onde tem Aedes aegypti, existe a possibilidade de contaminação", afirma. A microcefalia pode ser diagnosticada de forma intrauterina, quando o médico compara, no exame de ultrassom, o diâmetro da cabeça do feto com o esperado pela população em geral. Outra forma é medir a circunferência da cabeça do bebê com fita métrica quando a criança nasce. A medida padrão é de 32cm para partos normais. Um último diagnóstico tem sido feito com uma técnica chamada PCR, que pesquisa diretamente no sangue do paciente a presença de material genético do vírus. O PCR é o método mais confiável, mas também o mais caro. O serviço só está disponível nos laboratórios referência do Ministério da Saúde.
"Ainda não existe nenhum tratamento para a microcefalia, por isso a principal forma de se defender é a prevenção. Por enquanto, é preciso realizar o controle dos focos do mosquito. Também é importante proteger a gestante com o uso de calça e camisa de manga comprida e a utilização repelentes", recomenda o pediatra. O fortalecimento do combate ao Aedes aegypti é ainda mais importante porque o mosquito transmite os vírus da dengue e da febre chikungunya.
Panorama nacional
O Ministério da Saúde investiga 3.448 casos suspeitos de microcefalia em todo o País. O boletim divulgado pelo órgão nesta quarta-feira (27) aponta também que 270 casos já tiveram confirmação, sendo seis relacionados ao zika vírus. Outros 462 casos notificados já foram descartados. Ao todo, 4.180 casos suspeitos de microcefalia foram registrados até 23 de janeiro.
O Nordeste concentra 86% dos casos notificados. Pernambuco tem o maior número de casos em investigação (1.125), seguido da Paraíba (497), Bahia (471), Ceará (218), Sergipe (172), Alagoas (158) e Rio Grande do Norte (133). O Ministério distribuirá 500 mil testes para realizar o diagnóstico de PCR (biologia molecular) para o Zika vírus. (Colaborou Nicolas Paulino)

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Antibiótico de uso corrente eleva risco de asma e obesidade infantil

Macrólidos alteram flora intestinal e afetam bactérias benéficas, diz estudo. Conclusão saiu de pesquisa que acompanhou 142 crianças na Finlândia.

Do G1, em São Paulo
Actinobactérias, micróbios de convivência benéfica que são afetados pelo uso inadequado de antibióticos (Foto: Graham Colm/CC)Actinobactérias, micróbios de convivência benéfica afetados por antibióticos (Foto: Graham Colm/CC)
O uso de antibióticos da classe dos macrólidos, comumente receitados em casos de infecção pulmonar, aumenta a propensão a obesidade e asma em crianças. A razão para tal, sugere um novo estudo, é a alteração na população de micróbios intestinais.
A conclusão saiu de uma pesquisa realizada na pela Universidade de Helsinque (Finlândia), que acompanhou 142 crianças de dois a sete anos durante um período de seis meses. Os antibióticos da classe dos macrólidos são os que têm como princípio ativo eritromicina, claritromicina ou azitromicina.
Após analisarem a mudança na fauna microbiana no intestino daquelas crianças que tomaram essa classe de drogas, os pesquisadores concluíram que as alterações eram maléficas.
O estudo constatou uma redução na população de actinobactérias, -- que ajudam a prevenir alergias -- e aumento no número de bacterioidetes e proteobactérias -- grupos nos quais se encaixam muitas espécies potencialmente patógenas.
A mudança de perfil da flora intestinal, porém, não causou problemas no sistema digestivo em si, só que elevou o risco para problemas metabólicos e imunológicos.
Hábito médico
Macrólidos são antibióticos comumente usados em casos nos quais pacientes têm alergia a penicilina, mas em algumas comunidades médicas já se consolidaram como droga de primeira intervenção.
Segundo os autores do novo estudo, publicado na revista "Nature Communications", isso é nocivo, porque a penicilina e outros antibióticos mais antigos não apresentam os problemas verificados agora com os macrólidos.
"Em geral, aparentemente a recuperação da microbiota intestinal após o tratamento antibiótico durou mais de um ano", afirmou em comunicado a médica Katri Korpela, que liderou o estudo. "Se uma criança recebe repetidas doses de antibiótico durante seus primeiros anos, a microbiota pode não ter tempo de se recuperar."

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Descubra quando a comida 'diet' nem sempre quer dizer saudável

Alimentos supostamente mais benéficos para quem está pensando em perder peso escondem efeitos colaterais desagradáveis.

Da BBC
  Alimentos com baixo teor de gordura podem esconder surpresas desagradáveis para quem está de dieta  (Foto: Reuters/Neil Hall/files) Alimentos com baixo teor de gordura podem esconder surpresas desagradáveis para quem está de dieta (Foto: Reuters/Neil Hall/files)
  As dietas de baixo consumo de gordura estão perdendo a credibilidade e um processo para lá de semelhante ocorre com alguns dos chamado alimentos dietéticos.
Muitas dessas comidas têm adição de açúcar e aditivos para susbtituir a gordura - o que, para alguns médicos, é pior para quem quer perder peso.
Até porque as calorias já deixaram de ser todas iguais.
Se você está de dieta, é melhor que consuma alimentos integrais, que contam com mais nutrientes que aqueles de qualidade mais baixa ou os processados, que embora tenham menos calorias, não são tão nutritivos. E há algumas outras dicas básicas para evitar algumas armadilhas...
Vigie o tamanho das porções
Estudos mostram que alimentos descritos como de baixa gordura acabam sendo consumidos em maior quantidade. Em uma das pesquisas, voluntários consumiram 28% mais chocolates cobertos de açúcar e de baixa gordura do que os normais, o que resultou em 54 calorias extras.
Máquina de refrigerante (Foto:  Mario Tama/Getty Images North America/AFP)Bebidas com adoçantes podem ter efeito inverso por quem as consome pensando em perder peso (Foto: Mario Tama/Getty Images North America/AFP)
Os testes mostraram ainda que pessoas com sobrepeso ingerem muito mais comida com o selo low fat do que pessoas com peso normal. E que todo mundo subestima a quantidade de calorias que consome quando se trata de alimentos de baixa gordura.
Outro estudo descobriu que a etiqueta "light" faz com que as pessoas aumentem o tamanho das porções, independentemente de o alimento ser saudável ou não.
Consciência culpada? Nem tanto
Você já se sentiu culpado depois de devorar alguma alimento rico em calorias, gordura e açúcar?
Você não é o único.
Mas quando o alimento é acompanhado das palavras "baixa gordura", estudos mostram que o sentimento de arrependimento diminui, especialmente para quem já tem sobrepeso.
Alimentação saúdável, frutas, legumes, verduras, grãos, vegetais, dieta, refeição, refeições, cozinha (Foto:  Reuters/Courtesy of Oldways)Preparar a própria comida ainda é a melhor meneira de controlar a alimentação (Foto: Reuters/Courtesy of Oldways)
Contando calorias
Se um alimento tem o selo de baixa gordura, essa gordura de menos deu lugar a mais açúcar ou adoçantes. E muita gente assume que está comendo menos calorias.
Uma corrente de pensamento comum entre os nutricionistas hoje em dia é que uma dieta alta em "gordura boa" é melhor de uma de baixa gordura, mas inadvertidamente alta em açúcar.
Adoçantes amargos
Adoçar comidas sem aumentar calorias parece um dos maiores desejos de quem gosta de comer. Seja em refrigerantes dietéticos, adoçantes para o cafezinho e um doce diet, essas substâncias são parte intrínseca das dietas modernas. Tanto é que 49% das bebidas gasosas vendidas em 2014 eram de baixa caloria.
Iogurte é um dos itens mais caros  (Foto: Suelen Gonçalves/G1 AM)Iogurte light pode conter mais açúcar do que versão tradicional(Foto: Suelen Gonçalves/G1 AM)
Mas e se as pessoas soubessem que as susbtâncias que nos ajudam a ingerir menos açúcar podem estar realmente nos engordando? Há estudos indicando que o consumo de alimentos doces, seja ou não de sabor natural, aumenta o apetite. Adoçantes poderiam também causar esse efeito. Outra reação observada foi a alteração da flora intestinal tanto de ratos como de humanos, de maneira associada à obesidade e à diabetes tipo 2.
Comidas com "armadilhas"
Eis uma lista de alimentos processados de baixa gordura que não são tão saudáveis quanto parecem.
Biscoitos de arroz: Podem parecer mais saudáveis que batatas fritas, mas as variações com sabores podem até o dobro de sal que o equivalentes em batatas fritas
Passas cobertas por iogurte: Doces, mas uma porção de 25 gramas pode conter quase cinco gramas de gordura - enquanto só as passas têm uma quantidade ínfima de gordura.
Iogurte light: Tem menos gordura e menos calorias que a versão tradicional, mas as versões com sabor podem conter até 10 gramas a mais de açúcar.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Cientistas usam macaco transgênico para melhorar tratamento do autismo

Estudo modificou genes para reproduzir sintomas de autismo em primatas.
Avanço será importante para testar novas formas de tratamento.

Da EFE
Macaco da espécie 'Macaca fascicularis', mesma usada no estudo que modificou genes de macacos para reproduzir sintomas similares aos do autismo (Foto: André Ueberbach/Creative Commons)Macaco da espécie 'Macaca fascicularis', mesma usada no estudo que modificou genes de macacos para reproduzir sintomas similares aos do autismo (Foto: André Ueberbach/Creative Commons)
Cientistas na China conseguiram modificar genes de macacos pela primeira vez para poder estudar o comportamento autista em humanos e a transmissão para seus descendentes, segundo um estudo publicado nesta segunda-feira (25) pela revista "Nature".
Um dos principais desafios na pesquisa dos diferentes espectros de autismo está na falta de modelos animais que possam reproduzir fielmente os sintomas desta condição detectados em pacientes humanos.
Embora nos últimos anos tenham sido alcançados grandes avanços neste campo em experimentos com roedores, não houve até agora modelos de primatas não-humanos, os quais refletem com mais precisão doenças neuronais complexas.
Primatas com sintomas de autismo
Os cientistas da Academia Chinesa de Ciências, com o especialista Zilong Qiu à frente, conseguiram desenvolver um modelo de primatas afetado pela síndrome de duplicação do gene MeCP2, um gene epigenético que controla a atividade de muitos outros genes.
Esta desordem se apresenta na infância e compartilha alguns dos sintomas principais com alguns espectros do autismo, explicaram os autores do estudo.
Neste sentido, estudaram oito macacos-caranguejeiros (Macaca fascicularis), modificados geneticamente a partir de lentivírus que apresentavam uma superexpressão no cérebro do gene MeCP2, associado ao autismo.
As funções cognitivas destes primatas transgênicos, afirmaram os cientistas, eram relativamente normais, mas foram observadas várias mudanças em seu comportamento.
Entre outros, detectaram nos oito sujeitos um aumento das condutas motoras repetitivas e dos comportamentos relacionados com a ansiedade, ao mesmo tempo em que diminuiu a interação social entre eles.
Descendentes também afetados
Além disso, demonstraram a existência de uma transmissão do gene aos descendentes de um dos macacos macho, os quais também apresentaram uma deterioração em suas interações sociais quando foram pesquisados como casais.
Os especialistas da Academia Chinesa de Ciências de Pequim puderam assim determinar que tanto os primatas como sua descendência chegaram a apresentar mudanças em seu comportamento, o que demonstra que é possível experimentar com primatas não-humanos modificados geneticamente para estudar desordens do desenvolvimento neuronal.
Segundo destacam os autores, este trabalho poderia contribuir ao desenvolvimento de estratégias terapêuticas para tratar os sintomas de algum dos espectros do autismo.

domingo, 24 de janeiro de 2016

Quando tratar menos é melhor

Os pacientes com tumores ainda muito iniciais e pouco risco de agressividade convivem com uma crescente (e ruidosa) tendência: a redução do volume de terapias em casos específicos. É o começo de uma nova era da oncologia, desafio para médicos e pacientes

Por: Natália Cuminale
Denise Truscott
Denise Truscott, 61 anos, executiva americana, diagnosticada há um ano e oito meses: "Ouvi de meu mastologista uma proposta de tratamento inusitada, ser submetida a uma pequena incisão para a retirada da lesão e nada mais"(Jonathan Spraghe/Redux/VEJA)
Qualquer proliferação celular anárquica, incontrolável e incessante que invade os tecidos, com capacidade de gerar metástases em várias partes do corpo e que tende a reaparecer após tentativa de retirada cirúrgica ou a levar à morte se não for adequadamente tratada." Tecnicamente, a definição de câncer como aparece na edição on-line do Houaiss é irretocável e não difere muito de outras explicações congêneres, em versões digitais ou impressas. Há anarquia, descontrole e expansão silenciosa numa orquestra orgânica que muitas vezes parece ter saído da paleta dissonante de Pierre Boulez. Os casos de recidiva são numerosos, e o drama da aproximação do fim, a luta inglória pela vida, um fantasma familiar incontornável - apesar de a sobrevida não parar de crescer. E, no entanto, para ficar no didatismo da acepção do dicionário, há alguma imprecisão na frase final colada a uma conjunção condicional, "se não for adequadamente tratada". A moderna oncologia abriu espaço para uma novíssima conduta médica que se espalha como metástase benigna: a redução dos tratamentos e, em alguns casos, até a decisão de simplesmente não tratar um tumor, por desnecessário.
É postura indelevelmente colada a cânceres em fases extremamente iniciais ou lesões que ainda não significam a doença com todo o seu pesado estigma. Representa uma reviravolta na medicina. Quebra uma regra prevalente desde os primórdios, a de extirpar todo e qualquer sinal de câncer no organismo, sobretudo quando ainda ele não se tornou ameaçador, na tentativa de zerar o risco de morte. "Doenças extremas requerem tratamentos extremos", escreveu o grego Hipócrates, no século V a.C., no prólogo de uma evolução que nunca cessou. Cortemos para os dias atuais: proliferam aparelhos para rastrear tumores ainda microscópicos, de modo a eliminá-los na gênese ou submetê-los a doses aniquiladoras de medicamentos antes que o grande medo se instale. O arsenal de drogas, eficientíssimo, associado a investigações minuciosas, inaugurou uma realidade ancorada num paradoxo: quanto mais precoce é o diagnóstico, maiores são as chances de o tratamento ser excessivo. Diz o mastologista Antonio Frasson, do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, e professor da PUC do Rio Grande do Sul: "Muitas mulheres foram curadas com os avanços tecnológicos nos últimos anos, mas outras tantas receberam tratamentos agressivos sem necessidade".
A equação é difícil. Quando, enfim, dizer não a um tratamento? Recomenda-se, em busca da resposta, compreender a história recente dos cuidados com o câncer de mama, um dos mais incidentes entre as mulheres. Há 1,7 milhão de novos casos a cada ano, em todo o mundo. No Brasil, 58  000. Um a cada quatro cânceres femininos é de mama. Em uma modalidade específica, sempre se supôs haver zelo exagerado. No carcinoma in situ, as células anormais ainda estão confinadas aos ductos mamários, os canais com a função de drenar o leite materno. Esse tipo de lesão passou a ser detectado na década de 80, com a implantação do rastreamento com a mamografia. Nos primeiros anos, 3% dos diagnósticos de tumor de mama eram desse tipo. Nos dias atuais, com o refinamento e a antecipação dos exames, o índice saltou para 25%. Até muito pouco tempo atrás, as mulheres diagnosticadas com o in situ eram, sem exceção, tratadas com cirurgia, radioterapia (feixes de radiação) e hormonoterapia (o bloqueio de hormônios femininos que estimulam o crescimento tumoral). O objetivo maior era eliminar células nocivas que pudessem escapar da incisão cirúrgica na região doente. Mas o grande número de diagnósticos sugeriu que apenas 30% dos casos culminavam em tumor agressivo. E não todos eles, como se pensava. O restante apresenta um comportamento lento e sem malignidade. Ele regride e até desaparece. Quando cresce, isso se dá tão lentamente a ponto de não causar dano algum à saúde da mulher. Esse foi o sinal decisivo para pensar na possibilidade de freio nos tratamentos.
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"Decidi aceitar a sugestão de meu médico de seguir um só tratamento. Sei dos riscos, mas me sinto segura", diz a americana Denise Truscott, de 61 anos, diagnosticada com um tumor na mama esquerda há um ano e oito meses. Há poucos meses, um dos mais completos estudos sobre o tema, publicado na revista americana JAMA Oncology, a grande referência no assunto, embasou a conduta pondo em xeque o papel da radioterapia no tratamento do carcinoma mamário in situ. Ao longo de vinte anos, cerca de 100 000 mulheres foram acompanhadas por pesquisadores de um grupo de universidades de Toronto, no Canadá. Confirmou-se que aquelas submetidas à radiação corriam um risco de morte semelhante ao das que não fizeram esse tratamento - que seria, portanto, plenamente descartável. Uma pesquisa recém-iniciada nos Estados Unidos poderá fazer inclinar ainda mais a gangorra para o lado de quem defende, também na medicina, a clássica postura do "menos é mais". Oncologistas e patologistas de cinco centros da Universidade da Califórnia acompanharão mulheres com carcinoma in situ que não serão submetidas nem mesmo a cirurgia. O trabalho será crucial para avaliar o tipo de célula que pode evoluir ou não.
Estima-se que até 75% dos pacientes com cânceres inofensivos, como o carcinoma in situ, sejam submetidos a doses exageradas de terapias. Nessa família se enquadram também alguns tipos de câncer de próstata, tireoide e pele, além da mama. Eles têm em comum o fato de serem vagarosos, apresentarem baixa malignidade e serem formados pelas chamadas células de revestimento. Ou seja, ficam restritos à superfície do órgão que ocupam. Recentemente, um grupo de médicos dos Estados Unidos, liderado pela oncologista Laura Esserman, da Universidade da Califórnia, propôs, em artigo também no JAMA Oncology, a reclassificação dos tumores menos graves - em vez de receberem a denominação "câncer", aquela dos dicionários, passariam a se chamar "lesões indolentes de origem epitelial". Na prática, independentemente da alcunha que a doença possa levar e por mais vagarosa que se mostre uma transformação celular, a decisão de um médico de reduzir um tratamento no caso do câncer inicial é delicadíssima. Não há ainda tecnologia capaz de prever com precisão quais células se tornarão malignas, tampouco quando e como isso ocorrerá. Cada caso deve ser avaliado e tratado de forma absolutamente individual. "Na maioria das vezes, as ferramentas disponíveis ainda não me permitem afirmar com 100% de segurança se uma decisão médica se configura ou não como excesso de tratamento", diz o oncologista Sergio Simon, do Centro Paulista de Oncologia, em São Paulo, e do Hospital Albert Eisntein.
Há, portanto, um beco de saídas estreitas. Como reage o paciente diagnosticado com um câncer inicial, com pouco risco de vir a ser agressivo, se lhe oferecem um caminho sem remédios nem cirurgias? Pode ser penoso submeter-se a essa nova linha. É compreensível. Para muitos, é inconcebível a ideia de não usar todos os recursos para extirpar um tumor ou reduzir o risco de seu retorno. "Testes genéticos desenvolvidos na última década ajudam a determinar quais terapias são as mais indicadas para alguns tipos de tumor, evitando, assim, o excesso de procedimentos", diz Fernando Maluf, chefe do departamento de oncologia clínica do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Moraes, da Beneficência Portuguesa, em São Paulo. Há casos, contudo, evidentemente avessos a essa postura mais leve, mais tranquila. São os cânceres de forte componente genético, como o que acometeu a atriz americana Angelina Jolie. Em 2013 ela descobriu ser portadora de uma anomalia no gene BRCA1, que já havia vitimado a mãe, a tia e a avó. Mulheres com esse tipo de alteração têm 85% de probabilidade de desenvolver tumores mamários e risco 60% maior de apresentar câncer no ovário. Por causa disso, Angelina decidiu extirpar as mamas e os ovários de forma preventiva.
A ideia de preservar o paciente o máximo de tempo possível dos violentos efeitos colaterais dos tratamentos oncológicos começou a ser utilizada no mundo masculino, o do câncer de próstata, nos idos da década de 90. Os tipos de tumor da glândula em estágio inicial e de progressão lenta podem, perfeitamente, ser apenas acompanhados com exames de rotina. Em média, o paciente faz de seis em seis meses uma extensa e minuciosa bateria de exames, de modo a manter o controle da evolução da doença - são repetidas, por exemplo, dosagens sanguíneas das taxas da proteína associada ao tumor, o chamado PSA, e biópsias para medir a agressividade. "Cerca de 10% a 15% dos doentes já são acompanhados desse modo", diz Gustavo Guimarães, urologista do A.C. Camargo Cancer Center. São 7 000 novos pacientes todos os anos nessa condição. Esses doentes deixam de se submeter a cirurgia de extração total da glândula, um procedimento que oferece o risco de 20% a 50% de incontinência urinária e impotência sexual irreversível. Diz um dos aforismos mais utilizados na medicina, desde o fim do século XIX, e agora recuperado pela oncologia: primum non nocere (em primeiro lugar, não se deve causar dano).

sábado, 23 de janeiro de 2016

Um mosquito cada vez mais perigoso

A incapacidade do governo em conter a epidemia transformou o Aedes aegypti em um supermosquito que ultrapassou fronteiras, se espalhou pela América Latina, amedrontou o mundo e irá comprometer a próxima geração de brasileiros

Raul Montenegro e Fabíola Perez
Nas últimas semanas, decisões da União Europeia e dos Estados Unidos deram a exata dimensão da força que ganhou no mundo o mosquito Aedes aegypti, um pequeno inseto que mede menos de 5 mm, pode ser reconhecido pelo seu corpo listrado em preto e branco e leva em sua picada o vírus zika, associado aos casos de microcefalia em recém-nascidos. A Europa fez um alerta recomendando vigilância de seus estados-membros diante da proliferação de casos da infecção no Brasil. Entre outras medidas, o bloco recomenda que países não permitam a doação de sangue por pessoas que passaram pelas áreas afetadas. Já o Centro de Controle de Doenças americano (CDC, na sigla em inglês) foi além e sugeriu, na sexta-feira 15, que grávidas que planejem visitar locais da América Latina com surtos de zika adiem a viagem. Para o Brasil, mais do que um duro recado, as notificações mostram como a incapacidade do governo em debelar uma epidemia que há anos é uma realidade em nossas terras transformou o Aedes em um supermosquito que ultrapassou fronteiras. Agora, somos os responsáveis pelo avanço da doença no mundo.
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Diante dessa vergonhosa situação, que ameaça toda a população e compromete as futuras gerações, vide as centenas de bebês nascendo com microcefalia, o País enfrenta também mais um revés econômico, às vésperas do Carnaval e de sediar o maior evento esportivo do planeta, a Olimpíada, em agosto, no Rio de Janeiro. Muita gente está desistindo de vir para cá, principalmente as mulheres grávidas. Caso da brasileira Ana Paula Lima de Oliveira, 31 anos, moradora de Dublin, na Irlanda. Com 14 semanas de gestação e passagem comprada para 19 de fevereiro para Natal (RN), ela viria com o esposo e o filho de 2 anos. “Penso em cancelar, principalmente depois que soube que nos Estados Unidos os médicos desaconselham mulheres gestantes a ir ao Brasil”, diz. “Meu marido está bem inseguro, por ele já teríamos desistido.”
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Não é novidade que o Aedes represente um grande perigo, mas as autoridades e a população negligenciaram o risco por décadas no passado. Ano após ano, o País registra aumentos recordes de dengue, com 2015 alcançando o patamar mais alto da série histórica: 1,6 milhão de casos. Hoje, o vírus transmitido pelo mosquito que causa mais medo é o zika, cuja infecção em grávidas pode fazer com que bebês nasçam com o cérebro menor do que o normal. Chamado de microcefalia, o mal causa deficiências motoras e mentais nas crianças atingidas. No verão, quando o calor e as chuvas se intensificam, cria-se a condição ideal para o Aedes, e as transmissões se multiplicam. Sempre foi assim, mas poucas medidas efetivas foram feitas para melhorar o quadro. “Para barrar esse avanço, precisamos do desenvolvimento de novas tecnologias e da adoção de ações continuadas, que não parem no frio”, afirma o infectologista Francisco Ivanildo de Oliveira Júnior, supervisor médico do ambulatório do Hospital Emílio Ribas, de São Paulo (SP). “Temos que declarar guerra ao mosquito.”
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RISCO
A mãe teve zika e o filho nasceu com microcefalia: 80% de possibilidade
de passar a vida tendo convulsões, entre outras sequelas
O que se esperava com os anos de experiência é que o Brasil estivesse minimamente preparado para o combate, agora que a situação se agravou. Infelizmente, não foi o que se viu. As ações colocadas em prática martelam fórmulas gastas e burocráticas. Infectologista e ex-diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Marcos Boulos considera que as campanhas feitas até hoje para combater a dengue não tiveram impacto na população. Prova disso é que, segundo levantamentos, nos últimos nove anos os criadouros continuam nos mesmos lugares: 80% estão dentro das casas. “Não conseguimos atingir as pessoas”, diz ele, que está à frente da Coordenadoria de Controle de Doenças da Secretaria de Saúde de São Paulo. “Temos que fazer campanhas mais individuais, não adianta somente a presença do Exército, é preciso recrutar voluntários das comunidades”, diz. Para piorar ainda mais o quadro, o ministro da Saúde, Marcelo Castro, que é médico e deputado pelo PMDB do Piauí, fez feio ao mostrar profundo desconhecimento sobre o zika e a realidade científica dos nossos dias. Disse, por exemplo, “torcer” para que mulheres peguem o vírus antes da idade fértil e que “sexo é para amador, engravidar é para profissional”. As gafes e a incapacidade de resolver o problema fizeram o Palácio do Planalto começar a transferir responsabilidades da pasta para outros setores da administração nacional, como a Casa Civil e a Defesa Civil.
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E, infelizmente, o cenário só deve piorar daqui para frente. Recém-nascidos com microcefalia já estão lotando os hospitais da região Nordeste. Cerca de 80% viverão com convulsões, mas podem apresentar níveis de comprometimento muito diferentes no futuro, dependendo do tratamento ao qual tiverem acesso – que inclui neurologistas, oftalmologistas, fonoaudiólogos e fisioterapeutas, entre outros profissionais. A maioria dos especialistas consultados por ISTOÉ não acredita que o sistema de saúde dê conta do recado. “Alguns bebês devem morrer mais rápido, mas os que forem tratados podem viver muitos anos, pois um cérebro agredido, se estimulado precocemente, se recupera”, diz Maria Ângela Rocha, do setor de infectologia pediátrica do Hospital Universitário Oswaldo Cruz, em Recife (PE). “Se o SUS não se organizar, crianças de famílias ricas vão ter respostas melhores do que as de famílias mais pobres.”
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Outro horizonte sombrio é o das pesquisas em ciência básica, que poderiam oferecer portas de saída através da criação de vacinas e medicamentos. No entanto, falta investimento e sobra burocracia para os cientistas brasileiros buscarem o conhecimento necessário para vencer o zika (leia entrevista ao lado). “É importante que o combate ao mosquito seja feito, mas como política de redução de danos, já que nossas cidades são extremamente adequadas ao Aedes”, afirma o médico Artur Timerman, presidente da Sociedade Brasileira de Dengue e Arboviroses. “Como a zona urbana é caótica, conta com saneamento precário e coleta de lixo inadequada, focar energias no mosquito é como enxugar gelo.” O desenvolvimento de vacinas demorará no mínimo de três a cinco anos, de acordo com o diretor do Instituto Butantan, que desenvolve a tecnologia mas ainda está na fase de testes com roedores. Apesar de investimentos pontuais feitos pelo governo durante a crise, laboratórios que deveriam estar operando a todo vapor estão sucateados e recebendo cada vez menos verbas para financiar seus estudos. “Não há no País uma cultura de se produzir grandes projetos em vigilância de saúde”, diz Boulos. “O que temos por enquanto são pesquisas muito básicas.” Com isso, os índices da doença tendem a disparar, atingindo entre 50 e 100 mil casos em cinco anos, de acordo com Timerman.
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O descaso no passado, no presente e no futuro, somados à incapacidade de a população de cuidar de seu próprio quintal, forneceram as condições ideais para que o Brasil se tornasse um paraíso para o Aedes. O risco representado pelo inseto é altíssimo por se tratar de uma espécie de supermosquito capaz de transmitir várias doenças em diferentes ambientes, incluindo dengue, zika e chikungunya. Para piorar, ele é um animal cosmopolita que consegue habitar praticamente toda a faixa tropical da Terra, onde vive quase metade da população mundial. Até meados de 2015, os vírus passados pelo Aedes que causavam mais preocupação eram a dengue e o chikungunya, que podem ser fatais para os infectados. O zika era o primo pobre da família. Como em 80% dos casos não provoca sintomas, foi considerado inofensivo e não causou alarde à comunidade médica nem ao Ministério da Saúde ao ser identificado no Brasil, em maio.
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Meses depois, em novembro, diante da explosão de casos de microcefalia no Nordeste, região mais afetada pelo zika, o vírus virou a principal hipótese pela má formação dos bebês e também foi associado à Sindrome de Guillan Barré (doença auto-imune que ataca o sistema nervoso). Desde então, as pesquisas avançaram e na útlima semana o Instituto Carlos Chagas, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) do Paraná, revelou que ele é capaz de atravessar a placenta durante a gestação. A análise foi feita com material de uma mulher do Nordeste que sofreu um aborto após relatar sintomas da infecção. Desde que se tornou o inimigo público número um do Brasil, cientistas de todo o País têm avançado para colocar um ponto final na trajetória do Aedes e do zika, mas as pesquisas avançariam mais rápido caso as condições fossem mais favoráveis. Por exemplo, poderiam dar um empurrão nos experimentos com mosquitos transgênicos sendo feitos no interior paulista e descobrir de uma vez por todas se leite materno, sêmen e sangue são difusores do vírus, como se suspeita (confira outros estudos em desenvolvimento na entrevista ao lado).
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PRECAUÇÃO
A brasileira Ana Paula de Oliveira, grávida de 14 semanas, moradora
na Irlanda: passagem de férias comprada para Brasil e medo de viajar
Soma-se ao prejuízo incalculável representado pelas vidas perdidas e pelas famílias destroçadas a perda financeira representada por mais uma mancha na imagem do País em ano de Jogos Olímpicos. Como Ana Paula, a mãe que pensa em cancelar a viagem ao Brasil neste verão, outros mudarão seus planos após os alertas das regiões mais influentes do mundo. Aliado ao carnaval, que costuma reunir multidões de foliões em áreas dominadas pelo Aedes, como as capitais do Nordeste, o Rio de Janeiro e demais cidades litorâneas, o evento esportivo tem o potencial de espalhar a doença para os confins do Brasil e do mundo. “O zika se tornou um produto tipo exportação do Brasil”, diz o farmacêutico Gúbio Soares, da Universidade Federal da Bahia, um dos primeiros a identificar o vírus. “Ele pode contaminar turistas que venham para cá ou se espalhar por brasileiros no exterior.” 

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Americano congelado é ressuscitado com técnica que esquenta o sangue

Justin Smith foi encontrado na neve com uma severa hipotermia, mas se recuperou após um procedimento utilizado em poucas circunstâncias

Justin Smith
Após passar a noite desacordado na neve, Justin Smith entrou em um estado de hipotermia grave, mas conseguiu ser salvo com uma técnica que aquece o sangue antes de bombeá-lo de volta ao corpo(Lehigh Valley Health Network/Facebook)
Justin Smith, um americano de 26 anos, foi encontrado congelado na neve em Tresckow, na Pensilvânia, Estados Unidos, em uma manhã de fevereiro de 2015. Levado ao hospital, os médicos realizaram todos os procedimentos básicos para uma ressuscitação em caso de hipotermia. No entanto, o jovem só se recuperou após a realização de uma técnica que aquece o sangue antes de bombeá-lo de volta ao corpo. As informações são da BBC Brasil.
O drama do estudante de psicologia começou na noite anterior, quando voltava a pé de um bar onde havia se reunido com amigos. A caminhada de 3 km até sua casa era um hábito do jovem para evitar beber e dirigir. Embora não se lembre ainda de nada, os médicos acreditam que Justin tenha escorregado e batido a cabeça.
Justin foi encontrado por seu pai na manhã seguinte. Ele estava caído de costas na neve, sem casaco, de olhos abertos e olhando para cima. Estima-se que ela tenha ficado nessas condições por 12 horas e a temperatura naquela madrugada chegara a -4ºC. "Ele estava congelado, como um bloco de concreto. Comecei a chacoalhá-lo e dizer: você não vai me deixar", conta o pai Don Smith.
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O jovem foi atendido por uma equipe de 15 pessoas na emergência do hospital de Lehigh Valley e passou por duas horas de ressuscitação cardiopulmonar, enquanto seu corpo era reaquecido lentamente. Entretanto, o jovem só mostrou sinais de vida após a realização de um procedimento chamado oxigenação por membrana extracorpórea, no qual o sangue é removido, oxigenado e aquecido antes de ser bombeado de volta ao corpo. A técnica é usada como último recurso para salvar pacientes com pulmões ou corações comprometidos por infarto ou gripe grave.
James Wu, o cirurgião cardiotorácico que atendeu Justin, disse que as chances de sobrevivência do paciente eram de 50%. Quase duas horas depois, seu corpo se aqueceu e o coração de Justin começou a bater sozinho. Mas o estudante ainda permaneceu em coma por 15 dias.

Embora os testes mostrassem que o cérebro do jovem estava normal, os médicos temiam que ele sobrevivesse em estado vegetativo. Quando Justin começou a acompanhar o rosto de John Castaldo, seu neurologista, durante uma visita de rotina, o especialista viu que seu cérebro estava se recuperando.
Justin passou três meses internado. Seus rins e pulmões não funcionavam e ele teve os dedões do pé e os dedos mínimos das mãos amputados devido à gangrena. Aos poucos, sua memória e atenção foram voltando e ele precisou reaprender a usar as mãos e a andar. Mas, após alguns meses já estava jogando golfe e planejando o retorno à universidade.
Esta semana, o jovem voltou ao hospital para agradecer à equipe que salvou sua vida. "Eu sou apenas muito grato. Sou a prova do que pode acontecer quando grandes pessoas trabalham em conjunto", disse Justin.
(Da redação)

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

80% das cidades chinesas não respeitam normas de qualidade do ar

Levantamento foi feito pelo Greenpeace em 366 cidades chinesas.
Concentração de partículas era 5 vezes maior que limite da OMS.

Da France Presse
Homem pedala em meio a uma nuvem de poluição em Kunming, na província de Yunnan (Foto: Wong Campion /Reuters)Homem passa por uma nuvem de poluição em Kunming, na província de Yunnan (Foto: Wong Campion /Reuters)
Das 366 grandes cidades chinesas examinados pelo Greenpeace, 80% não respeitavam em 2015 as normas nacionais de qualidade do ar, pouco severas em um país com uma contaminação atmosférica endêmica, anunciou nesta quarta-feira a ONG de defesa do meio ambiente.
As metrópoles chinesas se encontram regularmente cobertas por uma espessa neblina poluente, causada pelas indústrias, o tráfego e, especialmente, as usinas de carvão, que fornecem três quartos da eletricidade do país.
Nas cidades analisadas, a concentração média de partículas de 2,5 micrômetros de diâmetro (PM2.5) era cinco vezes maior do que o limite recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), informou o Greenpeace com base em dados do ministério chinês do Meio Ambiente.
Essas micropartículas são particularmente perigosas para a saúde porque podem penetrar profundamente nos pulmões.
Neste painel, que inclui todas as metrópoles mais importantes, 293 cidades (80% do total) registraram no ano passado uma concentração média de partículas poluentes acima do padrão nacional chinês, muito mais flexível do que as recomendações da OMS, indica o Greenpeace.
A China tolera um nível médio anual de 35 microgramas de partículas PM 2.5 por metro cúbico. Nenhum dos municípios estudados pelo Greenpeace em 2015 conseguiu cumprir as recomendações da OMS, que recomenda um nível máximo de 25 microgramas/m3 para 24 horas de exposição.
Pequim é a 27ª cidade mais poluída, com uma média de 80,4 microgramas/m3 no ano passado. Um declínio de apenas 3,3% ao ano, apesar de uma intensificação das medidas preventivas, incluindo o fechamento de fábricas.
No primeiro trimestre de 2015, Pequim experimentou 26 dias de "poluição atmosférica muito grave", lembrou o Greenpeace.
Não muito longe da capital, a cidade de Baoding, na província de Hebei, é a segunda mais poluída da China, com uma média de 107 microgramas/m3.
Apesar de anos de poluição crônica, uma fonte crescente de descontentamento popular, Pequim decretou o seu primeiro "alerta vermelho" apenas em dezembro, depois de registrar picos superiores a 600.
A cidade mais afetada, com uma média anual de cerca de 120 microgramas/m3, é Kashgar, na fronteira com o Paquistão, uma região atingida por tempestades de areia frequentes.
O governo chinês declarou "guerra contra a poluição" e expressou a vontade de reduzir a proporção de combustíveis fósseis, mas sem se comprometer a reduzir o consumo total de carvão.

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Zika pode estar ligado a aumento de síndromes


O zika é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, mesmo vetor da dengue e da febre chikungunya ( FOTO: RAFAEL NEDDERMEYER/FOTOS PÚBLICAS )
Nova York. A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), órgão ligado à Organização Mundial da Saúde (OMS), emitiu uma atualização epidemiológica aos seus estados-membros devido ao aumento de anomalias congênitas e de ocorrência de Síndrome de Guillain Barré em áreas onde circula o vírus zika.
Ao todo, 18 países nas Américas registraram a transmissão interna do vírus zika: Brasil, Barbados, Colômbia, Equador, El Salvador, Guatemala, Guiana, Guiana Francesa, Haiti, Honduras, Martinica, México, Panamá, Paraguai, Porto Rico, São Martinho, Suriname e Venezuela.
Nos Estados Unidos foram registrados dois casos da doença, mas de pacientes que foram infectados em outros países. O zika é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, mesmo vetor da dengue e da febre chikungunya.
No alerta, a Opas recomenda que os países estabeleçam e mantenham a capacidade de detectar e confirmar casos de infecção por zika e preparem seus serviços de saúde para responder a um possível aumento da demanda por assistência especializada a síndromes neurológicas.
A Síndrome de Guillain-Barré é considerada uma doença neurológica rara. Ela provoca fraqueza muscular, pode gerar paralisia em membros do corpo e até levar o paciente à morte. Segundo a Opas, em julho do ano passado, pelo menos 26 pacientes com histórico de sintomas compatíveis com a infecção por zika tiveram diagnóstico de Guillain Barré na Bahia.
Em novembro, a Fundação Oswaldo Cruz Pernambuco - Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães identificou infecções por zika em sete amostras de pacientes que apresentaram com síndrome neurológica.
O vírus também está relacionado à microcefalia em recém-nascidos. No Brasil, já foram registrados mais de 3,5 mil casos suspeitos da malformação ligados ao zika.
Na Polínésia Francesa, onde houve surto de zika entre 2013 e 2014, 74 pacientes apresentaram síndromes neurológicas ou autoimunes logo após terem manifestado sintomas compatíveis com a infecção pelo vírus. Desses, 42 foram classificados como Guillain Barré.
Em El Salvador houve um aumento incomum de casos de Síndrome de Guillain Barré no começo desse ano. Em média, o país registrava 14 casos por mês. Entre 1º de dezembro de 2015 e 6 de janeiro de 2016, foram registrados 46 casos de Guillain Barré. Dos 22 pacientes para os quais havia informação disponível, mais da metade (54%) teve sintomas de infecção por zika.
Segundo a OMS, situações semelhantes em outros países das Américas estão em investigação. Os casos permitem fazer uma ligação temporal e espacial entre a circulação do vírus zika e o aumento de Síndrome de Guillain Barré. As formas como surgem e evoluem as doenças não foram identificadas, mas a OMS recomenda que os países organizem sistemas de vigilância para detectar aumentos incomuns de casos e preparem os serviços de saúde para o atendimento de pacientes com problemas neurológicos. A organização também recomenda o reforço das atividades de consulta e assistência pré-natal.
De acordo com a OMS, o vírus zika pode causar outras síndromes neurológicas, como meningite, meningoencefalite e mielite. Embora na região das Américas essas síndromes não tenham sido relatadas até o momento, serviços e profissionais de saúde devem estar alertas para as possíveis ocorrências.
O Ministério da Saúde do Brasil começará a distribuir no fim de fevereiro as primeiras 50 mil unidades do Kit NAT Discriminatório para dengue, zika e chikungunya, que permitirão diagnóstico simultâneo das três doenças com maior agilidade. Outra qualidade é a redução do custo de aplicação do teste.
"O teste que vamos distribuir vai dizer de maneira objetiva dentro de duas horas qual é a enfermidade que a pessoa está acometida. É importantíssima a informação para as gestantes", disse, no sábado, o ministro da Saúde, Marcelo Castro, durante a apresentação do kit, na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

domingo, 17 de janeiro de 2016

Médico e nutricionista dão dicas para conquistar pele bronzeada no verão

Consumo de alimentos ricos em betacaroteno ajudam a dourar o corpo.
Aprenda a fazer uma receita de suco que ajuda a acelerar o bronzeamento.

Valma SilvaDo G1 BA
O que muita gente deseja no verão é exibir um corpo bronzeado. Entretanto, são muito conhecidos os malefícios que a exposição excessiva ao sol pode causar, como manchas, bolhas, envelhecimento precoce e até mesmo câncer. Por isso, o G1 conversou com especialistas, para dar orientações para quem quer obter uma pele dourada e saudável.

O dermatologista Osmilto Brandão assegura que é possível conquistar um tom bonito tomando sol durante no máximo 20 minutos, três vezes por semana, sem deixar de usar o protetor solar - neste caso, pode ser um fator de proteção menor, de até 15. "O ideal é conquistar essa cor aos poucos, de forma gradativa", afirma.
Além disso, ele destaca que o período da manhã é o mais adequado para quem quer se bronzear, pois é quando o sol emite mais radiações ultravioletas do tipo A, que garantem um bronzeado mais bonito e duradouro.
De acordo com o médico, bronzear é sinônimo de agressão à pele, que produz a melanina como mecanismo de defesa. A melanina é que dá o pigmento da pele. "Quanto mais negro o tom da pele, mais proteção contra o sol ela tem, pois a melanina naturalmente repele os raios solares", explica. Mesmo assim, quem tem pele morena e negra não pode abrir mão do uso do protetor solar. "Assim como esse tom bronzeia mais rápido, também mancha mais rápido. Inclusive é mais difícil de tratar do que na pele branca", afirma.
Osmilto não recomenda o uso de produtos caseiros ou de fabricação desconhecida, vendidos por ambulantes nas praias, e também alguns produtos comumente usados na Bahia, com o objetivo de bronzear, como azeite de dendê, banha de cacau e óleo de urucum. "O azeite de dendê é rico em propriedades que ajudam a acelerar o bronzeado, mas não faz nenhum efeito quando passado diretamente na pele. O efeito vem de fora para dentro. Por isso o ideal é consumir alimentos ricos em betacaroteno", ensina.
Bronzeamento (Foto: Egi Santana / G1 BA)Peles morena e negra também precisam de cuidados, diz especialista (Foto: Egi Santana / G1 BA)
A nutricionista Ana Paula Canavarro explica que o betacaroteno tem o poder de fotoproteção, protegendo a pele dos raios ultravioletas e ao mesmo tempo melhorando o bronzeamento. Ele é responsável pela cor alaranjada de frutas e vegetais. Portanto, consumir alimentos como manga, cenoura, acerola, caju, aceleram a conquista de uma pele bonita e saudável.
Para se obter um efeito antioxidante potencializado, é possível combinar o betacaroteno com outros tipos de carotenoides, como o licopeno, encontrado principalmente no tomate, pimenta, morango e melancia; a luteína, presente nos folhosos verde-escuros e no pimentão amarelo, neutralizando os efeitos nocivos dos radicais livres.
De acordo com ela, é possível incluir esses alimentos em todas as refeições, desde o preparo de sucos até saladas. Ana Paula ensina a preparar um suco rico em betacaroteno que pode ser incluído na rotina alimentar dos baianos neste verão. Confira:
Ingredientes:
Duas folhas de couve
Um limão
300 mil de suco de laranja
Metade de uma cenoura
Modo de fazer:
Bata tudo no liquidificador por um minuto e não coe, para não perder os benefícios das fibras contidas nos pequenos bagaços que podem ficar no suco. O ideal é consumí-lo pela manhã e gelado, logo após o preparo. "Vai ser uma bomba de antioxidantes e de betacaroteno que só vai fazer bem, principalmente no verão", garante Ana Paula.

sábado, 16 de janeiro de 2016

Os sinais precoces do Parkinson

Pesquisa revela que é possível identificar os primeiros sintomas da doença anos antes do diagnóstico e recomenda uso de medicamento para impedir seu avanço

Helena Borges (helenaborges@istoe.com.br)
Uma pesquisa inédita, realizada por cientistas da Universidade College London, propõe mudanças no diagnóstico de Parkinson: o grupo de pesquisadores da instituição inglesa afirma que é possível antecipar os primeiros sinais da doença anos antes de sua manifestação crítica e sugere uma antecipação das receitas médicas visando preveni-la. Segundo os estudiosos, a precipitação do diagnóstico em três a cinco anos diminuiria significantemente a perda de atividade neurológica causada pelo mal, atrasando-a em um tempo máximo estimado em 20 anos. O adiantamento seria possível pela identificação de quadros clínicos frequentemente apresentados entre pacientes da enfermidade anos antes dela se manifestar. Mas seria preciso uma combinação de diferentes sinais, como perda de olfato conjunta, ou distúrbio comportamental do sono REM (leia quadro). “Acredita-se que o Parkinson pode estar muito avançado quando é feito o diagnóstico clínico e a indicação de tratamento. Identificar indivíduos nos estágios iniciais da doença pode ser o caminho para revelar ou readaptar o uso de medicamentos e para prevenir ou atrasar a manifestação dessa enfermidade”, afirma na carta de apresentação do trabalho a pesquisadora Anette Schrag, da Universidade College London, que lidera a equipe. Os dois pontos da polêmica da tese, e que geram debate entre os neurologistas, são como provar a efetividade do remédio nos estágios iniciais e como ter certeza do diagnóstico tantos anos antes.
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ESPERANÇA
Segundo os estudiosos, com os remédios certos, dá para atrasar a
manifestação do Parkinson em até 20 anos
A principal questão gira em torno da efetividade dos remédios. O próprio estudo se refere a eles como “neuroprotetores em potencial”, sem garantir total confiança na proteção do neurônio, nem entrar em detalhes sobre qual remédio específico deveria ser usado antecipadamente. A ideia defendida é de que substâncias neuroprotetoras fortaleçam as células nervosas de forma a evitar ou postergar sua queda de atividade. “A academia vem discutindo isso, mas ainda não existe consenso sobre os medicamentos funcionarem como neuroprotetores efetivos. Então ainda não se estabeleceu se vale a pena começar mais cedo”, afirma o neurologista carioca Carlos Egger. 
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Para antecipar o diagnóstico, os ingleses sugerem um cálculo de probabilidade a partir de uma gama de fatores clínicos, genéticos e comportamentais. Para calcular a probabilidade de desenvolvimento da doença, a equipe usou dados estatísticos de outra pesquisa recente da mesma autora, que teve como base estudos referentes a 54 mil pessoas, das quais 8 mil pacientes com Parkinson. O histórico familiar, por exemplo, pode quadruplicar as chances. Os dois fatores clínicos de estágio inicial que mais potencializam o diagnóstico são a perda de olfato e o distúrbio comportamental do sono REM (fase do sono na qual ocorrem os sonhos), caracterizado por pesadelos nos quais a pessoa grita, chora, dá socos ou pontapés. O estudo aponta que, combinados, eles refinam as estimativas de se converter, no futuro, em degeneração dos neurônios, como a que ocorre no Parkinson. Mas também estão entre os principais índices clínicos constipação, ansiedade e depressão. Entre os fatores comportamentais, o  consumo de café, álcool, alimentos com agrotóxicos e o tabagismo são os principais a serem analisados, mas servem de complemento para os genéticos e clínicos. Surpreendentemente, o consumo de álcool, café e tabaco foram apontados como positivos, pois diminuem a probabilidade de desenvolvimento da doença. Já acidentes na região da cabeça e altos índices de ingestão de alimentos com pesticidas, aumentam as chances.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Novas regras para a cirurgia bariátrica

Cirurgia bariátrica
O Silva e Gustavo Arrais
O Conselho Federal de Medicina divulgou, ontem (13/01), as novas indicações para a cirurgia bariátrica. Na prática, mais gente passa a se encaixar no perfil para o qual esse tipo de procedimento pode ser indicado.
Pra começo de conversa, todo indivíduo com o índice de massa corporal acima de 40 — calcule o seu IMC dividindo o peso, em quilos, pela altura, em metros, ao quadrado) pode realizar a operação. Isso, aliás, não mudou. Só que, se antes o pessoal com IMC entre 35 e 40 só se submeteria ao tratamento se apresentasse uma ou outra doença específica (como diabete tipo 2, hipertensão e apneia do sono), agora essa lista de enfermidades cresceu significativamente. Veja abaixo como ficou essa indicação:
Antes da resolução
Só pacientes com IMC maior que 35 kg/m² e afetados por comorbidades que ameacem a vida: diabete tipo 2, apneia do sono, hipertensão, dislipidemia, doença coronária, osteoartrite e outras
Depois da resolução
Além das citadas acima, foram contempladas doenças cardiovasculares, como infarto do miocárdio, angina, insuficiência cardíaca congestiva, acidente vascular cerebral e fibrilação atrial. Ainda estão incluídos no rol: asma grave não controlada, hérnias discais, refluxo gastroesofágico com indicação cirúrgica, pancreatites agudas de repetição, esteatose hepática, incontinência urinária de esforço na mulher, infertilidade, disfunção erétil, síndrome dos ovários policísticos, veias varicosas e até estigmatização social e depressão.
E a questão da idade?
As recomendações atuais são um pouco mais cautelosas com os pacientes entre 16 e 18 anos. A partir de agora, certas regras devem ser cumpridas. A mais simbólica é a exigência de um pediatra na equipe multiprofissional que atenderá o jovem. Ainda segundo a nova resolução, meninos e meninas com menos de 16 anos só deveriam realizar uma cirurgia bariátrica dentro de um programa experimental aprovado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisas.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Beber cerveja todo dia faz bem e combate até diabetes

Para as mulheres são dois copos pequenos da bebida; para os homens, três

Cerveja
Todos os dias: assim como o vinho, a cerveja deve ser consumida com moderação(Polka Dot Images/Thinkstock/VEJA)
"Sabemos que a cerveja não é a culpada pela obesidade, já que ela tem cerca de 200 calorias por caneca - o mesmo que um café com leite integral"
Rosa Lamuela, pesquisadora
A cerveja foi elevada ao status do vinho no que diz respeito aos benefícios à saúde. Um novo estudo espanhol comprovou que tomar uma caneca da bebida por dia combate diabetes, evita ganho de peso e previne contra hipertensão. Além de ter graduação alcoólica baixa, a cerveja contém ainda ácido fólico, vitaminas, ferro e cálcio - nutrientes que protegem o sistema cardiovascular.
"Nesse estudo, nós conseguimos banir alguns mitos. Sabemos que a cerveja não é a culpada pela obesidade, já que ela tem cerca de 200 calorias por caneca - o mesmo que um café com leite integral", destaca a médica Rosa Lamuela, uma das responsáveis pela pesquisa feita em parceria entre a Universidade de Barcelona, o Hospital Clínico de Barcelona e o Instituto Carlos III de Madri.
Os especialistas afirmam também que a cerveja não é a responsável pelo aumento da gordura abdominal. A culpa, na verdade, seria dos aperitivos gordurosos, como salgadinhos e frituras, que grande parte das pessoas consome junto à bebida.
O estudo, realizado com 1.249 homens e mulheres acima de 57 anos, indica que mulheres podem tomar dois copos pequenos de cerveja por dia, enquanto para os homens estão liberados até três copos. Contudo, o hábito deve estar associado a uma dieta saudável e a exercícios físicos regulares.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Consumo de bebidas açucaradas aumenta gordura visceral

Segundo um novo estudo, adultos que consomem refrigerantes ou sucos com açúcar todos os dias têm mais gordura visceral -- associada ao desenvolvimento de diabetes tipo 2 e de doenças cardíacas

Efeito inverso: a bebida, usada normalmente para evitar o ganho de peso, está relacionada ao aumento no acúmulo de gordura na cintura
De acordo com novo estudo, o consumo diário de bebidas açucaradas foi associado ao aumento dos níveis de gordura visceral em adultos (Thinkstock/VEJA)
Uma nova pesquisa publicada na revista científica Circulation, da Associação Americana do Coração, revelou que o consumo diário de bebidas açucaradas pode aumentar os níveis de gordura visceral no corpo. Para chegar aos resultados, os pesquisadores utilizaram informações coletadas pelo Framingham Heart Study, uma das mais importantes pesquisas já construídas no campo da saúde, realizada desde 1948.
Ao todo, 1003 adultos com idade média de 43 anos responderam a um questionário sobre hábitos alimentares e se submeteram a tomografias computadorizadas ao início e ao final do experimento - que teve uma duração total de seis anos. O objetivo do exame era avaliar as mudanças dos níveis de gordura corporal dos participantes ao longo do tempo.

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Os participantes foram divididos em quatro categorias em relação ao consumo de bebidas açucaradas, desde os que não consomem nenhum tipo da bebida até os que bebem diariamente. Os resultados mostraram que, independentemente de fatores como idade e prática de exercícios físicos, o volume de gordura visceral dos adultos que consomem a bebida açucarada diariamente aumentou 852 centímetros cúbicos. Em comparação, aqueles que afirmaram não consumir a bebida tiveram um aumento de 658 centímetros cúbicos.
Ao contrário da gordura subcutânea, que se acumula logo abaixo da pele, a gordura visceral se fixa no interior da cavidade abdominal, em volta de órgãos internos de extrema importância, como fígado, pâncreas e intestino. Ela pode, inclusive, afetar o funcionamento dos hormônios. Acredita-se que esse tipo de gordura tenha grande influência na resistência à insulina, o que pode causar diabetes tipo 2. Além disso, ela também está associada ao desenvolvimento de problemas cardíacos.

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Um guia para se proteger do zika

Agentes borrifando
CAÇA AO MOSQUITO - A melhor forma de combater o zika é eliminar o Aedes aegypti (na foto, nebulização em Bebedouro-SP)(Luciano Claudino/Folhapress)
Quem pode ser infectado pelo zika?
Qualquer pessoa que resida em uma região onde haja circulação do mosquito Aedes aegypti, transmissor do vírus.
Quais são os principais sintomas do zika?
Febre baixa de, no máximo, 38 graus, manchas avermelhadas pelo corpo que surgem até o segundo dia após a picada, coceira e dor moderada nas articulações são os sinais mais frequentes apresentados pelos doentes. Estima-se que somente 20% dos infectados tenham a manifestação clínica dos sintomas. Ainda assim, casos assintomáticos também correm risco de complicação pelo vírus.
Como saber se fui picado por um pernilongo ou pelo Aedes aegypti?
Não é possível ter absoluta certeza, já que o tamanho milimétrico e a agilidade dos mosquitos impedem distinguir um do outro. Mas, embora ambos se alimentem de sangue humano, eles apresentam alguns comportamentos distintos. O mosquito do zika caracteriza-se por hábitos diurnos e circula principalmente das 9 às 13 horas. O pernilongo é noturno. A picada do Aedes aegypti não irrita a pele. No caso do primo menos agressivo, a picada causa coceira e deixa o local avermelhado.
Se o mosquito que transmite o zika também transmite a dengue, por que há muito mais casos de dengue?
A presença do vírus zika no Brasil é recente, com os primeiros casos identificados no início do ano passado. Há um período de adaptação biológica entre o vetor e o vírus até que a transmissão atinja seu ápice. Com base em dados epidemiológicos e no histórico do que ocorreu com a disseminação do vírus da dengue, acredita-se que o zika deverá aumentar em estados do Sudeste em um prazo de dois a três anos. Em Pernambuco, o principal causador de infecções no ano passado foi o zika, e não a dengue.
É possível proteger-se do zika?
Sim, mas as medidas são paliativas. Para evitar a picada do mosquito, indica-se o uso de roupas claras e compridas. A aplicação regular de repelente nas áreas expostas do corpo também ajuda a impedir a aproximação do vetor. A eliminação de criadouros onde há água limpa parada é outra forma de diminuir a proliferação do mosquito e, consequentemente, a transmissão do vírus.
O zika pode ser sexualmente transmissível?
Até agora, houve apenas um relato de que o vírus foi encontrado no sêmen. Também há provas de que o zika pode ser propagado pelo leite materno e pelo sangue. As evidências, no entanto, ainda são insuficientes e limitadas.
Só as mulheres grávidas correm risco com o zika? Não. Crianças, jovens, adultos e idosos - de qualquer idade ou gênero - podem ter complicações pelo zika. Sabe-se que o vírus está associado à ocorrência de síndromes neurológicas graves. Desde o surgimento do zika, as autoridades de saúde registraram um aumento no número de casos de Guillain-Barré, uma afecção autoimune capaz de levar à paralisia. Não se sabe, porém, qual grupo está mais propenso a sofrer as piores consequências causadas pelo vírus.
As pessoas devem evitar ir à praia?
Cidades praianas oferecem o mesmo risco de contágio que centros urbanos. A diferença é que, nelas, mais áreas do corpo são expostas. No caso das grávidas até a 12ª semana de gestação, porém, indica-se que frequentem a praia depois das 14 horas, quando a circulação do mosquito começa a diminuir. Elas também devem usar roupas compridas e passar repelente nas áreas expostas.
O que acontece se uma pessoa é infectada mais de uma vez pelo zika?
Os cientistas ainda estudam se os anticorpos produzidos pela primeira infecção são capazes de proteger o organismo de um novo surto. A principal hipótese é que sim.
Uma única picada pode transmitir a dengue, a chikungunya e o zika ao mesmo tempo?
É pouco provável. Embora a literatura científica tenha relatado um caso de mosquitos infectados por dois vírus ao mesmo tempo, isso parece ser raro. Geralmente, o vírus domina o hospedeiro e impede a infecção por outro agente.
Há alguma forma de tratamento contra o zika?
Não. Assim como ocorre com a dengue, os remédios são indicados somente para o controle dos sintomas, com paracetamol ou dipirona para o manejo da febre e da dor e anti-histamínicos para as reações alérgicas. Ainda não há vacina disponível contra o zika.
A ingestão de complexo B evita picadas?
Não. Os comprimidos são ineficazes. Estudos realizados com o composto mostram uma taxa de sucesso muito pequena, de 20%, e somente no caso dos pernilongos.

sábado, 9 de janeiro de 2016

Quênia: cólera mata 10 pessoas no maior campo de refugiados do mundo

Ao menos outras mil pessoas contraíram a doença.
Epidemia atinge campo que abriga cerca de 350 mil pessoas.

Da France Presse
Foto de arquivo de julho de 2011 mostra o campo de refugiados Dadaab, o maior do mundo, no leste do Quênia (Foto: Tony Karumba/AFP/Arquivo)Foto de arquivo de julho de 2011 mostra o campo de refugiados Dadaab, o maior do mundo, no leste do Quênia (Foto: Tony Karumba/AFP/Arquivo)
Ao menos 10 somalis morreram vítimas de cólera e ao menos outros 1.000 contraíram a doença no campo de refugiados de Dadaab (norte do Quênia), o maior do mundo, anunciou neste sábado a ONU.
A epidemia de cólera foi declarada em novembro neste campo que abriga cerca de 350.000 pessoas, em sua grande maioria somalis, informou Osmal Yusuf Ahmed, do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).
A epidemia se propagou rapidamente devido às abundantes chuvas das últimas semanas, explicou a fonte.
O cólera, uma doença extremamente contagiosa, é transmitido através da água contaminada pelos excrementos humanos.
Após um curto período de incubação de dois a cinco dias, o cólera provoca uma forte diarreia e uma desidratação do corpo que pode ser mortal se não for tratada a tempo.
Os refugiados chegaram a Dadaab a partir de várias ondas sucessivas devido à guerra civil e a fome na Somália.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Chikungunya avança no Brasil

De acordo com o último boletim nacional, o número de infecções pelo vírus aumentou 34% desde a última semana de setembro do ano passado

'Aedes aegypti'
No período de dez semanas, o número de cidades com notificações de chikungunya subiu de 37 para 62. Embora o risco de morte pela doença seja menor que o da dengue, ela pode atingir as articulações, tornar-se crônica e deixar o paciente por meses impossibilitado de executar tarefas simples, como vestir-se ou se alimentar(Thinkstock/VEJA)
O último boletim nacional divulgado pelo Ministério da Saúde notificou 17 131 infecções de chikungunya -- 34% a mais do que os números registrados até a última semana de setembro de 2015. Além disso, o vírus também se espalhou. No período de dez semanas, o número de cidades afetadas subiu de 37 para 62.
Os números confirmam, aos poucos, a previsão de que o Brasil poderá enfrentar neste ano uma tríplice epidemia. Além dos casos de chikungunya, também foi registrado um aumento expressivo -- e antecipado -- de casos de dengue. No ano passado, apenas entre outubro e novembro, foram notificadas 123 304 novas infecções - até a primeira semana de dezembro, foram registrados mais de 1,5 milhão de casos. Também houve aumento de infecções causadas pelo vírus zika, registradas pelo crescimento significativo de casos de microcefalia.
Somente no estado de Pernambuco foram identificados 2.000 casos de chikungunya e registrados 1.000 casos suspeitos de zika. É lá onde estão concentrados os maiores indicadores de microcefalia do país. "Estamos muito preocupados. Vivemos agora a ameaça de três doenças simultâneas, todas graves, que exigem respostas diferentes", afirmou a coordenadora do Programa de Controle de Dengue, Chikungunya e Zika de Pernambuco, Claudenice Pontes.

Uma das maiores preocupações na região é a dificuldade de se combater os criadouros do mosquito transmissor das três doenças, o Aedes aegypti. Segundo Claudenice, são várias as cidades em que o abastecimento de água é racionado ou intermitente, o que gera o hábito de armazenar água em casa, aumentando de forma expressiva o risco de criadouros.
Embora o risco de morte por chikungunya seja menor, em comparação com a dengue, a doença pode atingir as articulações, tornar-se crônica e deixar o paciente impossibilitado de executar tarefas simples, como vestir-se ou se alimentar durante meses. Em 2014, quando chegou ao país, a chikungunya foi identificada em 3 657 pessoas que habitavam oito cidades diferentes. Agora, contudo, os casos estão espalhados por Amazonas, Amapá, Pernambuco, Sergipe, Bahia, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e Distrito Federal.
(Com Estadão Conteúdo)

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Britânico relata 'pesadelo' em experiência com uso de 'pílula da inteligência'

Repórter da BBC experimentou modafinil e sofreu com falta de sono e caroços na pele.

Da BBC
Benjamin Zand enfrentou efeitos colaterais como insônia (Foto: BBC)Benjamin Zand enfrentou efeitos colaterais como insônia (Foto: BBC)
Encontradas de forma legal na Grã-Bretanha, as chamadas "pílulas da inteligência" têm crescido em popularidade no país.O repórter da BBC Benjamin Zand experimentou uma dessas drogas e relatou os efeitos. Leia seu depoimento:
Uma amiga me contou sobre as "pílulas da inteligência" há algum tempo.
"Todo mundo toma. Elas são apenas pílulas que ajudam na concentração", disse ela, que já tomava os comprimidos.
 
Muitas destas chamadas "pílulas da inteligência" são usadas como medicamentos convencionais para tratar problemas como a narcolepsia ou os causados por mudanças extremas de turno de trabalho.
Mas elas também têm sido consumidas por pessoas que querem trabalhar melhor.
O modafinil foi chamado de "a primeira pílula da inteligência segura do mundo" por pesquisadores das universidades de Harvard e Oxford, que sugeriram que os efeitos são de "baixo risco" quando o medicamento é consumido por um curto período de tempo.
No entanto, seus efeitos colaterais podem incluir insônia, dores de cabeça e erupções cutâneas potencialmente perigosas.
Depois de ler avaliações positivas online - alguns estudantes alegavam que essas pílulas melhoraram muito seu desempenho na universidade -, decidi fazer uma experiência e tomar o medicamento.
É ilegal vender modafinil na Grã-Bretanha sem receita médica, mas não é ilegal comprar. Há muitos sites, geralmente baseados na Índia, que vendem a substância.
Quando o pacote chegou, menos de uma semana depois da compra, as pílulas pareciam comprimidos de paracetamol.
Consulta e pesquisa
Zand conseguiu comprar as pílulas em um site baseado na Índia (Foto: BBC)Zand conseguiu comprar as pílulas em um site baseado na Índia (Foto: BBC)
Depois de uma consulta médica - na qual ouvi que, por ser jovem e saudável, provavelmente não sofreria efeitos colaterais graves -, comecei a experiência.
Tomei o primeiro comprimido na Universidade de Cambridge, como parte de um teste cognitivo no qual os pesquisadores analisaram minha atenção visual constante, memória espacial, função executiva e memória episódica antes e depois de tomar a pílula.
"Fizemos vários estudos, que mostram um aumento na habilidade cognitiva - com médicos (trabalhando) no turno da noite e pessoas saudáveis em um ambiente controlado para o teste", afirmou Barbara Sahakian, uma das pesquisadoras.
Antes de tomar os comprimidos, meu nível de atenção estava entre os 15% a 20% dos melhores entre as pessoas da minha idade. Depois, estava entre os 5% a 10% dos melhores.
Sem dúvida comecei a me sentir mais desperto e com uma tendência menor à frustração. Mas também pode haver outros fatores que tenham afetado os resultados.
Minha mente continuava alerta. Viajei durante quatro horas para minha cidade, Liverpool, e não senti o cansaço que costumo sentir.
No entanto, esses foram os últimos resultados positivos que vivenciei com o modafinil.
O repórter da BBC participou de testes na Universidade de Cambridge com o uso do medicamento  (Foto: BBC)O repórter da BBC participou de testes na Universidade de Cambridge com o uso do medicamento (Foto: BBC)
No dia seguinte, tentei tomar outro comprimido para adiantar alguns trabalhos durante uma viagem de trem.
Mas fiquei mais distraído do que o normal. A pílula fez com que eu me concentrasse nas coisas erradas, como joguinhos no smartphone.
Com o passar do tempo, comecei a sentir uma dor de cabeça muito forte, perdi o apetite e sentia vontade constante de ir ao banheiro. Meu cérebro não estava trabalhando mais rápido, mas minha bexiga estava.
Naquela noite, quando tentava dormir, não conseguia me desligar e foi assim até as primeiras horas da manhã. Também encontrei um caroço na parte de trás da minha perna e outro apareceu no meu braço no dia seguinte; os dois coçavam.
Boas experiências
Jason Auld contou à BBC que experimentou apenas efeitos positivos com o modafinil  (Foto: BBC)Jason Auld contou à BBC que experimentou apenas efeitos positivos com o modafinil (Foto: BBC)
Minha experiência difere da de outras pessoas. Jason Auld, atleta e empreendedor de Edimburgo, na Escócia, afirmou que acha que pode alcançar tudo o que quer quando toma o modafinil.
"Faz você se sentir como se estivesse operando a 100% (de sua capacidade), você está indo com tudo o que pode. Geralmente não penso que isso é possível, mas o modafinil me permite fazer isto", disse.
Eu tive apenas uma explosão inicial de energia e aumento de concentração na primeira vez com o remédio. Depois, fiquei muito longe de meu melhor rendimento.
A terceira e última vez em que tomei o modafinil também foi decepcionante: a dor de cabeça voltou, fiquei cada vez mais desidratado e não senti fome.
E amigos me lembravam toda hora o quanto a minha pele parecia ruim: o modafinil não me deixava dormir e minha aparência era terrível.
Com o passar das horas eu parei de procrastinar, e o comprimido parecia estar fazendo o efeito desejado. Mas isso aconteceu apenas às 20h.
O repórter da BBC descobriu que seu corpo rejeitou a pílula (Foto: BBC)O repórter da BBC descobriu que seu corpo rejeitou a pílula (Foto: BBC)
Trabalhei sem parar até cerca de 23h, editando, gravando, escrevendo. Fazendo coisas que nem sabia se precisaria fazer.
Sentia como se tivesse que continuar trabalhando, ao contrário de querer continuar.
Balanço
Os efeitos negativos do remédio pesaram bem mais do que os positivos.
Os corpos das pessoas reagem de forma diferente a comprimidos e produtos químicos e, depois de falar com meu médico, descobri que meu fígado tinha liberado uma enzima que tentou eliminar o modafinil do meu corpo.
Pelo fato de ter comprado o comprimido na internet, também levei em conta a possibilidade de ter adquirido um medicamento adulterado.
Mas Jason Auld, o atleta de Edimburgo, me disse que já tinha comprado do mesmo site.
De certa forma fiquei decepcionado por não ter tido a chance de sentir os efeitos positivos do modafinil, que tinha visto na internet.
Mas também me senti aliviado por não estar perdendo nada em relação às pessoas que tomam o medicamento.
Os efeitos colaterais e a falta de produtividade me mostraram que não é uma pílula milagrosa e definitivamente não pretendo tentar de novo.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Casos suspeitos de microcefalia ligada ao zika vírus sobem para 3.174

Ministério da Saúde divulgou novo boletim sobre casos da malformação.
Estão em investigação 38 mortes de bebês com microcefalia.

Do G1, em São Paulo
BDBR - Microcefalia (Foto: Rede Globo)Bebê com microcefalia (Foto: Rede Globo)
 
Desde o início do monitoramento de casos de microcefalia no Brasil, foram registrados 3.174 casos suspeitos da malformação possivelmente ligados ao zika vírus em recém-nascidos. O dado foi divulgado pelo Ministério da Saúde nesta terça-feira (5) em novo informe epidemiológico.
Os estados passaram a notificar semanalmente os casos suspeitos de microcefalia ao Ministério da Saúde a partir de 11 de novembro, quando o a pasta declarou estado de emergência em saúde pública por causa do aumento de casos da malformação. Na ocasião, Pernambuco já tinha identificado 141 casos da doença.
Além disso, 38 mortes suspeitas de microcefalia relacionada ao zika vírus também são atualmente investigadas. Os dados se referem aos casos registrados até o dia 2 de janeiro.

O número de casos suspeitos subiu desde o último boletim divulgado pelo Ministério na semana passada, com o registro de 2.975 casos suspeitos.

A microcefalia é uma condição rara em que o bebê nasce com o crânio do tamanho menor do que o normal. A malformação é diagnosticada quando o perímetro da cabeça é igual ou menor do que 32 cm – o esperado é que bebês nascidos após nove meses de gestação tenham pelo menos 34 cm.

A principal hipótese discutida para o aumento de casos de microcefalia está relacionada a infecções por zika vírus, que foi identificado pela primeira vez no país em abril deste ano. O vírus é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, assim como a dengue e o chikungunya.
Em novembro, o Ministério da Saúde declarou emergência em saúde pública para dar agilidade às investigações, que são realizadas de forma integrada com as secretarias estaduais e municipais de saúde.
Número de casos por estado
Os casos suspeitos divulgados nesta terça foram registrados em 684 municípios de 21 unidades da federação. Veja abaixo os estados com mais casos:

Pernambuco - 1.185 casos (37,33% do total registrado no país)
Paraíba - 504
Bahia - 312
Rio Grande do Norte - 169
Sergipe - 146
Ceará - 134
Alagoas - 139
Mato Grosso - 123
Rio de Janeiro - 118