quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Vacina imunizará 35,5% dos cearenses-H1N1

O Ceará monta estratégias para enfrentar a chamada segunda onda da Influenza A ou gripe suína. Entre as principais medidas, a vacinação de três milhões de pessoas, prioritariamente, os grupos de risco. O total representa 35,5% da população do Estado - de 8,45 milhões, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Fortaleza ficará com um milhão de vacinas, o que significa a imunização de 40% dos habitantes da Capital.De acordo com o presidente do Comitê Estadual de Enfrentamento da doença, Manoel Fonseca, a vacinação ocorrerá nas unidades básicas de saúde. Em Fortaleza, são 92 postos. "As pessoas dos grupos indicados - gestantes, profissionais de saúde, doentes crônicos, indígenas, pessoas entre 20 e 29 anos e crianças de seis meses a dois anos - devem comparecer às unidades de saúde com a carteirinha de vacinação e o documento de identidade. A vacina é contraindicada a quem tem alergia a ovo", alerta Fonseca.Na avaliação do infectologista do Hospital São José Ronald Pedrosa, o percentual de cearenses que será imunizado é bastante considerável. "Nessa primeira etapa, o total destinado ao Estado é coerente para proteger essa fatia da população".Além da vacinação, realizada entre 8 de março e 7 de maio, outra tática usada contra o vírus transmissor da doença, o H1N1, será a distribuição gratuita do Oseltamivir ou Tamiflu. Segundo Fonseca, o medicamento poderá ser obtido na rede pública de saúde apenas com retenção de receita, e a prescrição médica terá validade de cinco dias. O objetivo, diz ele, é evitar automedicação, venda indiscriminada e corrida às farmácias.O Ceará possui mil kits (cartelas com dez comprimidos) que serão encaminhados aos hospitais São José, Albert Sabin, César Cals, Geral (HGF), Maternidade-Escola Assis Chateaubriand (Meac), Hospital de Messejana, Gonzaguinhas, Frotinhas e demais unidades da rede pública conveniadas ao Sistema Único de Saúde. A rede Farmácia Popular também contará com o medicamento. As 21 microrregionais de saúde receberão doses.Mais dosesFonseca adiantou que o Ceará não requisitará, a exemplo do Rio Grande do Sul, mais doses da vacina contra a gripe suína. Na sua avaliação, neste primeiros momento, a quantidade destinada ao Estado suprirá a necessidade. De acordo com o boletim epidemiológico, divulgado no último dia 22, a faixa etária dos 20 aos 29 anos é a mais afetada pela doença, representando 34,9% dos 113 casos confirmados da gripe no Ceará. Em segundo lugar, a faixa entre 10 e 19 anos, com 23,6% do total. "Se for necessário, a Sesa requisitará mais doses da vacina".Neste ano, segundo a Sesa, são dois casos confirmados da doença no Estado, e há mais 34 sendo investigados e aguardando resultado de exame do Laboratório Evando Chagas. Fonseca informa que dos 34 sob investigação, cinco pacientes foram atingidos pela forma mais grave do H1N1. "Eles estão sob cuidados e já fora de perigo".OficinaHoje e amanhã, profissionais de saúde que atuam em hospitais, vigilância epidemiológica dos dez municípios com mais de 100 mil habitantes e das Coordenadorias Regionais de Saúde participam da Oficina Estadual de Preparação para o Enfrentamento da Influenza A.PREVISÃOExames no Lacen começam em até 60 diasO Ceará está entre os estados que serão beneficiados com a descentralização da realização de diagnósticos da Influenza A. O Laboratório Central de Saúde Pública do Ceará (Lacen) está na lista dos sete novos laboratórios autorizados pelo Ministério da Saúde a realizar os exames que atestam a presença do vírus H1N1 nas pessoas infectadas.A expectativa é de que os exames comecem a ser feitos dentro de 45 a 60 dias. A estimativa é do diretor geral do Lacen, Ricardo Carvalho de Azevedo e Sá, que informa que o processo licitatório para a compra de insumos já está em andamento.O custo estimado, inicialmente, é de R$ 800 mil, mas o valor pode mudar. "Os preços normalmente caem por conta da concorrência entre as empresas que estão participando da licitação", antecipa, acrescentando que a data de início da realização dos testes depende do andamento da licitação.Mas quando os testes começarem a ser feitos aqui, não é qualquer gripe que vai exigir a análise de laboratório. Apenas os casos com síndrome respiratória aguda terão material colhido e enviado para o Lacen, assim como é feito hoje. Além disso, por enquanto, as amostras daqui continuam sendo enviadas para o Laboratório Evandro Chagas, em Belém do Pará.TreinamentoConforme Ricardo Sá, em dezembro, profissionais do Lacen foram treinados para trabalhar com os novos kits e equipamentos. O Estado até já adquiriu o PCR em Tempo Real, aparelho que faz análises por reação de polimerase em cadeia.O diretor informa que o Ministério da Saúde está fazendo registro de preços, tipo de modalidade para compra de equipamentos ou insumos que permite, ao comprador, outra opção de compra.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Pesquisa mapeia como bactéria resistente se espalhou pelo mundo

Pode um surto de infecções por Staphylococcus aureus em um hospital de Londres estar relacionado com uma cepa da bactéria vinda do sudeste asiático? De acordo com uma pesquisa, publicada pela revista “Science”, sim.
Utilizando uma nova técnica de análise de sequências do DNA, pesquisadores britânicos mapearam pela primeira vez como a bactéria resistente a antibióticos, conhecida como MRSA, se espalhou pelo mundo nas últimas décadas.
A pesquisa pode ajudar a entender como o MRSA é transmitido entre os países, de um hospital para outro e entre cada indivíduo.“Mais de 30% das pessoas sadias carregam a bactéria Staphylococcus aureus (suscetível à meticilina) na pele e nas fossas nasais”, disse ao G1, Sharon Peacock, do Departamento de Medicine da Universidade de Cambridge e da Universidade Mahidol, na Tailândia, um dos autores do estudo.
“A MRSA é uma variante da bactéria, resistente à meticilina, é carregada pelas pessoas da mesma forma, porém em menor quantidade. Se um indivíduo colonizado pela bactéria viaja de um local para outro, isso dá a oportunidade dela se disseminar de uma pessoa para outra”, explicou Peacock.

A maioria das infecções por MRSA ocorre em hospitais e serviços de saúde e podem ser fatais. Os métodos atuais de comparação das cepas da bactéria coletadas dos pacientes não dá informações suficientes para definir precisamente a relação entre elas. O método desenvolvido pelos pesquisadores mapeia os genes de diferentes cepas de MRSA em pontos com poucas variações nas letras da sequência de DNA.Os pesquisadores avaliaram a utilização do método em 63 amostras de uma linhagem da bactéria chamada de ST239. Essa é uma das linhagens resistentes aos antibióticos e responsável por grande parte dos casos de infecção hospitalar.Cerca de dois terços das amostras analisadas vieram de vários locais do mundo e foram coletadas entre 1982 e 2003. Um terço das amostras foi coletada de pacientes de um hospital da Tailândia, em um período de sete meses.

A análise das amostras revelou que a linhagem ST239 se espalhou e se desenvolveu por diferentes regiões do mundo. “Essa linhagem é encontrada em grande parte dos países. Porém, o foco real de nosso trabalho não é definir qual a origem da linhagem. É mais do que isso. O foco está em entender a transmissão do MRSA entre os países, dentro deles e dentro dos hospitais”, explicou Peacock.
O estudo revela, por exemplo, como uma única linhagem de MRSA que infecta pacientes em um hospital da Tailândia sofreu mutações ao longo do tempo e se espalhou. “Entender isso, nos ajudará a desenvolver formas mais efetivas de prevenção da transmissão e da infecção”, disse Peacock.

De acordo com o pesquisador, as formas de controle atuais das infecções por MRSA são apenas parcialmente efetivas. “Uma das razões é que a bactéria é contraída antes do pacientes dar entrada no hospital, e nesse caso as formas de prevenção do contágio nos hospitais não serão eficazes”, afirmou.

GRIPE SUÍNA -Para secretário, hospitais são despreparados para internação

Segundo a SMS, 90% do vírus que está circulando na Capital são de H1N1. A gripe suína é considerada sazonalDepois de três mortes por gripe A e o possível aumento de casos, a ordem agora é descentralizar o atendimento para as unidades de saúde municipais. Porém, em Fortaleza, os hospitais não possuem estrutura efetiva para, por exemplo, internar pacientes com a nova gripe, caso seja necessário. Quem admite a deficiência é o próprio secretário de Saúde do Município, Alex Mont´Alverne."Concordo que, neste momento, nenhum hospital tem estrutura efetivamente, mas também não podemos lavar as mãos", declara. A afirmação aconteceu em meio à discussão sobre a suposta necessidade de internar pacientes com o vírus H1N1, caso o quadro epidêmico da doença se consolide na Capital cearense.No auditório da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), uma reunião ocorreu, na manhã de ontem, entre o secretário de Saúde e representantes dos distritos de saúde das seis Regionais; dos Frotinhas; dos Gonzaguinhas e dos Centros de Saúde da Família. Na ocasião, inclusive, o representante do Frotinha de Messejana revelou que, há dois meses, a unidade encontra-se sem infectologista. Além disso, os demais participantes discutiram que a área para isolamento de pacientes nas enfermarias ainda é deficiente."Em nível de Ceará, temos uma carência de 40 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). De rotina, a rede municipal não tem clínica médica bem estruturada. Se chegar à situação de maior ocorrência, vamos nos readequar. Se houver necessidade, tomaremos medidas para isso", reconhece o secretário.Diante da exposição sobre a situação das unidades de saúde, a imprensa em um momento foi convidada a se retirar do auditório. No entanto, de acordo com Antônio Lima, coordenador da Epidemiologia da SMS, ficou decidido que será analisada a possibilidade de envio de medicação aos hospitais; a internação de casos graves; a produção de material para capacitar os profissionais da rede básica."A internação dos casos graves vai depender da estrutura do hospital e, caso não haja, serão encaminhados. No próximo mês, os profissionais começarão a ser capacitados", disse.As ações tornam-se necessários porque, com a chegada da quadra chuvosa, prevista para fevereiro, a previsão é que novos casos da popular gripe suína apareçam. "No Ceará, o pico no aumento de casos coincide com a quadra chuvosa. O nível atual não é epidêmico", garante.MAIS INFORMAÇÕES:Secretaria Municipal de Saúde Rua do Rosário, 283 - Centro(85) 3452-6604 http://www.sms.fortaleza.ce.gov.br/ PREOCUPAÇÃO-Gonzaguinhas e Frotinhas sem estrutura para atendimento.Angústia, medo e inquietação acompanham os que necessitam de atendimento na rede secundária de saúde ou os Frotinhas e Gonzaguinhas. A falta de estrutura, como locais de isolamento, Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) adequadas e infectologistas, coloca em risco a saúde não apenas daqueles que vão até essas unidades com sintomas da Influenza A ou gripe suína, mas de quem procuram atendimento médico por outras causas.Na tarde de ontem, a urgência do Frotinha de Messejana, tanto a de adulto quanto a pediátrica, estava lotada. Muita gente gripada, com febre alta, tosse e dificuldade de respirar (alertas para a Influenza A) tendo que esperar por mais de uma hora para ser atendido e pior: no meio de outros pacientes com outros problemas de saúde.A situação revoltou muitos que acompanhavam os familiares. "Estou com meu filho que torceu o pé. Temos que ficar aqui no mesmo local de outras crianças tossindo, algumas vomitaram e com febre. Se demorar mais, vou embora, pois tenho medo que a gente termine pegando gripe e isso evoluir para a suína", confidencia o comerciante Welligton de Araújo.A professora Rosilene Pereira de Sousa, com um dos filhos gripado e febre de 39,5º, reclamou muito. "Como pode, a criança precisa ser logo atendida e medicada e estamos aqui no meio de todo mundo aguardando há quase duas horas".O mesmo aconteceu com Mirla de Abreu e Silva. Ela levou o filho com todos os sintomas de uma gripe forte. "Nem máscaras eles dão para as outras pessoas. Perguntei pelo infectologista e ninguém respondeu", reclama.A falta desse especialista é negada pelo secretário de Saúde de Fortaleza, Alex Mont"Alverne. Segundo ele, não existe déficit de infectologista na rede municipal. Ele explica afirmando que o perfil dos Frotinhas e Gonzaguinhas é de atendimento de média gravidade e pelo perfil do modelo de atendimento do município, baseado no Programa de Saúde da Família (PSF). "Em cada unidade só deve ter mesmo um médico dessa área", afirmou.Desabafo-Apesar de o secretário afirmar que a rede não necessita de infectologista ou de outro especialista, os próprios médicos do Frotinha de Messejana, atenderam a reportagem, em uma sala da unidade, de forma particular. Segundo eles (que pediram para não serem identificados) a falta de estrutura vai desde a administração, com dados estatísticos imprecisos, passando pelo déficit no quadro de pediatras, medicamento, influenciando no atendimento ao paciente. "Isso não deve ser colocado em manchetes somente em ocasiões de gravidade como essa e como foi em 2008 com a dengue e sim, como forma de alerta. Se precisarmos ampliar a rede de saúde para a Influenza A, isso será praticamente impossível agora", avaliaram.Boletim-A Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) divulgou, na tarde de ontem, o boletim epidemiólogo sobre a gripe suína, relativo a este ano. Segundo os dados até o dia 22, foram notificados 14 casos suspeitos de influenza A (H1N1). Destes, 12 (85,7%) foram de Fortaleza e outros dois (14,3%) do município de Aracati. O sexo feminino representou 57,1% dos casos e a faixa etária de 20 a 39 anos apresentou 50% dos casos. Um caso foi confirmado, dois descartados e 11 aguardam resultado laboratorial. De 2009 até agora, o Ceará confirmou 112 casos da doença.O presidente do Comitê Estadual de Enfrentamento à doença, Manoel Fonseca, adiantou que dos 11 que aguardam exames, três ainda estão internados. A mulher, que deu à luz a um menino no início do mês, melhorou e foi transferida da Maternidade Escola Assis Chateaubriand (Meac) para o Walter Cantídio. Ela ainda está na UTI e a criança deverá ter alta na próxima segunda-feira. Os outros dois pacientes passam bem e estão em enfermarias.Enquete- Preocupação Zulene Marques43 ANOS Dona-de-casa Tenho dois filhos e um deles está gripado. Trouxe para o Frotinha e aguardo há duas horas por atendimento Silvana Ferreira de Lima25 ANOS Dona-de-casa Estou com muito medo por mim e meus filhos. Aqui, no Frotinha, eles não separam quem está gripado Guitemberg Peixoto 40 ANOS Supervisor de vendas Informação, que é bom, ninguém tem aqui. E pior, quem aparece com sintomas da gripe é logo tachado com virose.PESQUISA-Pessoas com obesidade são propensas à doença.São Paulo- Um estudo realizado pelo Centro de Vigilância Epidemiológica da Secretaria da Saúde de São Paulo aponta que portadores de doença metabólica crônica, como obesidade, diabetes e colesterol elevado, têm 7,58 vezes mais chance de morrer se contraírem a gripe A (H1N1), conhecida como gripe suína, do que pessoas que não apresentam essas condições.A análise foi realizada com 10.249 notificações de casos da doença até 7 de dezembro de 2009. Segundo a secretaria, o estudo pode ajudar na definição dos grupos prioritários a serem vacinados na campanha planejada pelo Ministério da Saúde.Estudo-O resultado foi obtido após análise estatística que levou em consideração dados sobre óbito e cura de pacientes. De acordo com a secretaria, o levantamento ainda é preliminar, e a próxima etapa é concluir um estudo de caso-controle, de entrevistas com pacientes e familiares e análise de prontuários.De 196 pacientes com gripe A que apresentavam doença metabólica, 60 morreram. Já entre os imunodeprimidos (portadores de câncer e HIV, por exemplo), as chances de óbito são 4,17 vezes maiores, em relação a pessoas com a gripe A que não possuem tais condições. Foram 265 casos de pacientes com este tipo de comorbidade, dos quais 54 morreram.O estudo aponta também um risco maior de morte em portadores de doença renal crônica (3,72 vezes), cardiopatia crônica (3,4 vezes), e fumantes (1,9 vez). Entre as mulheres grávidas, o risco de morte para aquelas estão no segundo ou terceiro trimestre de gestação é 4,3 vezes maior do que para aquelas no primeiro trimestre.JANINE MAIA E LÊDA GONÇALVES REPÓRTER

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Sancionada lei para indenização a vítimas da talidomida

BRASÍLIA - A lei que concede indenização por dano moral às pessoas com deficiência física resultante do uso da talidomida foi sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e publicada nesta quinta-feira, 14, no Diário Oficial da União.

Desenvolvida em 1954 pela antiga Alemanha Oriental, a talidomida passou a ser vendida livremente em vários países como sedativo, sem necessidade de receita médica. Por seu efeito de atenuar enjoos, foi muito usada por mulheres grávidas.Na época, nasceram milhares de crianças com deficiências físicas por conta da chamada Síndrome da Talidomida Fetal, com braços curtos aproximados do tronco, sem parte dos braços, sem pernas, com problemas em órgãos internos e dificuldades de visão e audição.A lei, de número 12.190, prevê como indenização o pagamento de valor único de R$ 50 mil "multiplicado pelo número dos pontos indicadores da natureza e do grau de dependência resultante da deformidade física."

Gripe H1N1 ainda está ativa em partes do mundo, diz OMS

GENEBRA - írus da gripe H1N1 está se espalhando mais ativamente no norte da África, sul da Ásia e partes da Europa, informou a Organização Mundial da Saúde (OMS) nesta sexta-feira, 15.

Aumentando o número de mortes pelo mundo para quase 14 mil, a OMS disse que enquanto as infecções na Índia atingiram o auge em dezembro, os vizinhos Nepal e Sri Lanka ainda estavam vivenciando a transmissão em larga escala.

Marrocos, Argélia e Egito continuam tendo uma disseminação ativa do H1N1 e alguns países da Europa, incluindo Romênia, Ucrânia, Turquia e Suíça, também têm registrado índices relativamente altos da doença respiratória, informou a agência da Organização das Nações Unidas (ONU).

As últimas informações sobre a variedade da gripe - conhecida popularmente como gripe suína - indicavam que os vírus sazonais da gripe estavam sendo largamente ofuscados pelo vírus pandêmico do H1N1 no inverno do hemisfério norte neste ano.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Planos de saúde terão de cobrir exame para detectar câncer-Atendimento, porém, será limitado

SÃO PAULO - A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) anunciou nesta terça-feira, 12, a inclusão, na cobertura mínima de planos de saúde, dos exames de imagem para detecção precoce de tumores e metástases (PET-scan) e o uso de câmaras hiperbáricas (que fornecem altas concentrações de oxigênio), mas com limitações dos tipos de doença que serão atendidos. As restrições para o PET-scan atendem a uma preocupação das operadoras, que temiam grande impacto nos custos. A cobertura só deverá ser obrigatória quando houver suspeita de câncer no tórax e mediastino.

Veja a lista dos procedimentos médicos incluídos
Veja a lista dos procedimentos odontológicos

Também foram confirmadas a inclusão dos transplantes de medula óssea de doador vivo e 25 novos tipos de cirurgias por vídeo e endoscopias, que poderão trazer maior impacto para o usuário. Já os planos odontológicos terão de oferecer dois tipos de prótese, bloco e coroa. E o número mínimo de consultas de psicologia cobertas, hoje 12 por ano, deve pelo menos dobrar.

A Associação Médica Brasileira informou que enviou 300 sugestões de inclusões à ANS, mas prevê que apenas cerca de 70 sejam acolhidas. "A rigor, o rol não deveria nem existir, mas sabemos que o sistema é suplementar e que não dá para ter tudo", disse Amilcar Giron, representante da entidade.

A ANS vinha anunciando as mudanças nos procedimentos desde outubro, quando divulgou as incorporações e uma consulta pública. As empresas deverão ter quatro meses para implantar as alterações.

Nesta última segunda-feira, a Fenasaúde, entidade que reúne as maiores operadoras do setor, informou que a inclusão de determinados tipos de próteses dentárias nos planos odontológicos pode aumentar em até 40% o preço de compra dos produtos, que não são controlados pelo governo. Também os planos coletivos podem ter incremento de cerca de 25% no preço hoje pago pelas empresas - os valores também não são controlados. A agência regula hoje apenas os reajustes dos planos individuais.

Simulações da ANS, porém, apontam que, nos planos coletivos, o impacto será pequeno no reajuste anual. Um plano custa hoje, em média, de R$ 10 a R$ 12 por mês por funcionário e os novos procedimentos aumentariam em R$ 0,30 o custo mensal. Para a ANS, não fazia sentido um plano bancar a restauração e não a prótese, pois é impossível ficar com um buraco aberto na boca.

Em nota, o Sindicato Nacional das Empresas de Odontologia de Grupo e a Associação Brasileira de Cirurgiões-Dentistas apontaram que a mudança dificultará o acesso das camadas mais pobres da população.

A última atualização do rol ocorreu há dois anos. "A agência melhorou, já ficamos cinco anos sem atualização. Mas o ideal seria termos uma câmara permanente de avaliação e incorporação de novas tecnologias", afirmou Daniela Trettel, advogada do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

O mistério da cura à base de placenta de égua

Lesões são pesadelos na vida de qualquer atleta profissional. Por isso, não é raro surgirem casos de jogadores de futebol, por exemplo, envolvidos em tratamentos de recuperação intensivos, alternativos e até espirituais - rezas e curandeirismo puro. Nos últimos meses, surgiu outra dessas curas, inusitada para dizer o mínimo. Trata-se da terapia à base de líquido da placenta de égua.Segundo notícias veiculadas pelos britânicos Daily Telegraph e BBC, o processo consiste em massagear a região lesionada com o líquido ou mesmo aplicá-lo por injeção na área, o que permitiria uma rápida recuperação. Atletas de alguns dos maiores clubes da Grã-Bretanha - caso de Liverpool, Manchester City e Chelsea - já experimentaram o tratamento. A lista de pacientes inclui um brasileiro: Fábio Aurélio, do Liverpool. Do mesmo clube, o espanhol Albert Riera, o britânico Glen Johnson e o israelense Yossi Benayoun; do Arsenal, holandês Robie Van Persie.
A obra é da até então desconhecida fisioterapeuta sérvia Marijana Kovacevic. O problema, no caso, é a falta de comprovação científica do método e autorizações para o uso da técnica. Conhecida por usar métodos não convencionais, a fisioterapeuta é procurada pelas autoridades sérvias por supostamente não possuir licença para exercer sua atividade.
Ouvidos pela reportagem de VEJA.com, profissionais brasileiros das áreas de pesquisa, esportiva e saúde foram unânimes: a prática é suspeita e até mesmo condenável. "Não há nada a respeito deste assunto na literatura médica. Não conheço nenhum clube do mundo que utilize tal prática", explica José Luiz Runco, médico da seleção brasileira. Fabiana Wosniak, fisioterapeuta da Clínica de Medicina Esportiva Joaquim Grava, vai além: "A técnica é desconhecida, pois não há como saber o índice de rejeição das substâncias presentes no líquido da placenta no ser humano. Não é razoável pegar líquidos de outros animais para serem aplicados sem comprovação científica."
A condenação mais dura, porém, vem de um especialista do Reino Unido. "Não há evidência de que este tratamento ajude na recuperação de lesões. A placenta de égua pode originar um choque anafilático, em caso de aplicação, e até causar a morte do paciente", afirma Edzard Enrst, professor de medicina complementar da Universidade de Exeter.
Mundo animal - O intrigante uso do líquido da placenta de égua também chama a atenção de pesquisadores da área de medicina veterinária. Carlos Brunner, especialista em equinos e pesquisador da Universidade Paulista (Unip), confirma a existência de um tratamento à base de placenta de éguas - mas, no caso, os pacientes são da mesma espécie, e não seres humanos. "A membrana da placenta é usada para curar problemas de cicatrização de pele", explica. "Durante o período em que os potros nascem, obtém-se essas placentas, que são mantidas refrigeradas. Mas é bom esclarecer que a placenta não é comercializável."
O método reconhecido usado no esporte - e em seres humanos - que mais se aproxima do tratamento de Kovacevic é chamado PRP: plasma rico em plaquetas. "Pelo PRP, retira-se sangue do plasma do próprio paciente e prepara-se um gel para aplicação: assim, acelera-se a cicatrização da pele humana", comenta Fabiana. O método já é usado no Brasil, segundo Rubens Sampaio, chefe de departamento médico do Palmeiras.
Até o momento, o único atleta a falar sobre o uso do controvertido procedimento da sérvia Marijana Kovacevic é o israelense Yossi Benayoun. Ele, porém, garantiu que foi submetido a um tratamento com líquido de placenta humana. "Não foram usadas partes de outros animais. Ela (Marijana Kovacevic) me explicou tudo", contou o atleta do Liverpool ao Daily Telegraph.
Nesse caso, de fato há possibilidades de regeneração, segundo os especialistas. Mas existem riscos: "Quando o líquido retirado de uma mulher é injetado em outra pessoa, pode haver contaminação ou rejeição, pela ação de anticorpos", explica Fabiana Wosniak, da Clínica de Medicina Esportiva Joaquim Grava.

Estudo explica gene da intoxicação por álcool

Uma síndrome genética que afeta 10% da população mundial --a susceptibilidade à intoxicação por álcool, que deixa as pessoas com a face vermelha-- ganhou uma esperança de cura. Um grupo de pesquisadores americanos anunciou ontem ter identificado o mecanismo por trás do problema e mostrou como uma molécula sintética pode reverter o processo.
A mutação que dá origem à síndrome é mais comum em indivíduos de origem asiática (cerca de 40% dessa população) e tem consequências que vão além de bochechas ruborizadas, explicam os autores do trabalho. Portadores do problema têm deficiência na produção de uma enzima que ajuda a quebrar e eliminar as toxinas que o etanol gera dentro do organismo. Eles estão sob maior risco de câncer no esôfago.
Mesmo em pessoas que não consomem álcool, a anomalia que a síndrome produz as torna mais vulneráveis a mal de Alzheimer e infarto do miocárdio. Isso ocorre porque o processo metabólico que é afetado em portadores da mutação também é responsável por limpar toxinas que surgem quando há falta de oxigênio no organismo.
O novo estudo, publicado na revista "Nature Structural and Molecular Biology", descreve o que está por trás do rubor etílico que, na cultura popular, é atribuído apenas a uma fraqueza genérica para bebidas.
Túnel molecular
A enzima afetada pela mutação que o grupo descreve é a ALDH2. Seu papel no organismo é limpar o acetaldeído, uma das toxinas que se acumulam no corpo quando bebemos álcool. Nos indivíduos com a síndrome, a molécula de ALDH2 é produzida incorretamente e não dá conta do serviço.
"Por causa da mutação no gene, partes da proteína ficam soltas e maleáveis", explica Thomas Hurley, bioquímico da Universidade de Indiana que liderou o estudo, num comunicado à imprensa.
No trabalho, ele e seus colegas mostram como uma molécula sintetizada por eles, batizada de Alda-1, foi capaz de consertar a enzima disfuncional em experimentos. A Alda-1 tinha sido descoberta por Hurley e outros cientistas em 2008, usando uma técnica de pesquisa de "força-bruta", chamada high-throughput screening, usada por grandes indústrias farmacêuticas.
Ela consiste em um sistema robótico que testa automaticamente a ação de milhões de compostos sobre uma dada molécula.
Com essa estratégia, Hurley e Che-Hong Chen, da Universidade de Stanford, chegaram à Alda-1. A molécula foi então testada com sucesso em camundongos portadores da versão mutante da ALDH2, e teve algum sucesso.
Os cientistas não estavam conseguindo aprimorar o fármaco, porém, porque não sabiam como ele agia.Esse vazio de informação foi preenchido agora com o estudo de Hurley descrevendo a estrutura e o modo de ação das moléculas envolvidas no processo.
Segundo o trabalho, a estrutura da ALDH2 tem uma espécie de túnel onde as toxinas entram e são decompostas. Na versão anômala da enzima, porém, essa passagem fica bloqueada. Hurley diz que a descoberta crucial crucial. "Isso levará à modificação da Alda-1 para melhorar sua potência", diz.
Testes clínicos
O estudo publicado ontem é assinado também por Kenneth Warren, cientista da unidade dos NIH (Institutos Nacionais de Saúde) responsável por pesquisar o consumo de álcool nos EUA.
"Esperamos ver mais pesquisas que ajudem a traduzir essas descobertas de laboratório para possíveis tratamentos em pessoas", afirma o pesquisador. "Essa descoberta intrigante pode ter implicações amplas de saúde pública."
Segundo Thomas Hurley, moléculas derivadas da Alda-1 podem estar disponíveis para testes clínicos em humanos até o meio deste ano.
Contrapartida
A versão mutante do gene da enzima ALDH2 aumenta o risco para várias doenças, mas tem um lado positivo: ela reduz a incidência de alcoolismo entre seus portadores.
Num estudo realizado em 1995 com 450 homens japoneses, indivíduos não alcoólatras mostraram probabilidade maior de apresentar a anomalia.
Alguns cientistas dizem crer que a maior vulnerabilidade à intoxicação etílica desencoraje portadores da mutação a beber.