terça-feira, 30 de julho de 2019

A promessa dos biossimilares no tratamento do câncer de mama

Médica argumenta que a chegada desses novos tipos de medicamentos poderão trazer mais acesso a pacientes e economia ao país

Ainda que as chances de cura de uma mulher que detecta o câncer de mama em fase inicial cheguem a 90%, no Brasil a realidade das pacientes não é tão otimista assim. Isso porque a maioria inicia o tratamento oncológico quando o tumor se encontra em estágio avançado ou até mesmo metastático, momento em que já se espalhou para outros órgãos do corpo.
De acordo com um estudo recém-publicado por pesquisadores brasileiros na revista científica The Lancet, baseado em um programa criado pelo Ministério da Saúde, no período de 2001 a 2014, ocorreram cerca de 247 mil casos de câncer de mama no país, sendo 40% em fases avançadas.
Dados coletados no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais evidenciam os grandes obstáculos enfrentados pelas pacientes com a doença para receber o tratamento no SUS. Eles vão da demora em si, que chega a 80 dias para liberação de um laudo de biópsia, a longas filas para realização de radioterapia. São atrasos prejudiciais ao tratamento e que podem diminuir as chances de cura.
No entanto, se antes um prognóstico de metástase soava como o fim da vida, hoje o cenário é diferente. As opções de tratamento estão mais eficazes e, embora a doença em fases avançadas possa ser incurável, a paciente já pode conviver com o câncer por muito tempo, mantendo qualidade de vida e autonomia.
O grande desafio é permitir às pacientes da rede pública acesso a medicações tão inovadoras como na rede privada. É dentro desse contexto que os medicamentos biossimilares podem se tornar uma alternativa promissora no país.
Quando falamos em biossimilares, nos referimos a produtos biológicos com custo menor e altamente semelhantes aos medicamentos originais de referência. Para seu desenvolvimento e liberação, são considerados dois pontos fundamentais: a qualidade do fármaco, que tem de ser rigorosamente comprovada por meio de extensivos estudos de comparação avaliando aspectos clínicos e não clínicos, e a questão econômica.
Um exemplo é o biossomilar do remédio trastuzumabe, recentemente aprovado pela Anvisa e que será comercializado por meio da parceria entre a indústria farmacêutica brasileira Biomm e a sul-coreana Celltrion Healthcare (CHTC). Trata-se de um anticorpo humanizado que, uma vez injetado no organismo, tem pouco efeito nas células sadias, mas apresenta a capacidade de bloquear a multiplicação de células cancerosas que apresentam grande quantidade de HER2 (proteína que atua na progressão das células mamárias doentes).
O medicamento é utilizado para o tratamento do câncer de mama em estágio inicial e metastático, e em diferentes fases da doença, podendo ser empregado antes ou após cirurgia, associado a quimioterapia, hormonioterapia ou a outro anticorpo, com possibilidade de administração inclusive durante a radioterapia. Além disso, o trastuzumabe pode ser usado em pacientes com câncer de estômago metastático com expressão da proteína HER 2, em combinação com quimioterapia.
No momento em que medicamentos com custo mais baixo do que os de referência entram no mercado, é esperado que a competição entre essas drogas estimule a baixa de preços aplicados, sendo favorável tanto para a saúde suplementar quanto para o SUS. A incorporação no sistema público viabilizaria um melhor gerenciamento dos custos de saúde e até mesmo a aquisição de outros tratamentos, redirecionando a quantia economizada para a compra de novas linhas terapêuticas.
Em relação aos biossimilares, estima-se que eles podem chegar 30% mais baratos que o medicamento de referência. Do ponto de vista numérico, a verba que é aplicada para tratamento de quatro pacientes poderia beneficiar cinco, sem perder a eficácia, a segurança e a resposta em sobrevida.
Embora o câncer de mama seja o tumor mais comum em mulheres e ainda seja diagnosticado tardiamente em boa parte das brasileiras, existe uma grande expectativa em relação à fabricação nacional de novas medicações, o que promoveria maior acesso a tratamentos cientificamente eficazes. Além da chegada dos biossimilares, uma maior abertura de estudos clínicos no país certamente aprimoraria o desenvolvimento e a acessibilidade a essas novas tecnologias.
* Dra. Carolina Martins Vieira é oncologista e médica do Núcleo de Hematologia e Oncologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais 

segunda-feira, 29 de julho de 2019

Sarampo tem prevenção

A vacina livra as pessoas da doença. Então, por que mesmo em lugares como São Paulo, onde as autoridades da saúde atuam com eficiência, a maioria da população não procura se proteger e acaba proliferando a contaminação?

Crédito: Divulgação
É caótico o quadro geral da saúde pública no Brasil, e deve-se isso, sobretudo, a ineficiência das autoridades que atuam nessa área no âmbito federal. Vem ocorrendo, no entanto, em estados e cidades cujos responsáveis agem com seriedade e rigor nesse campo, um fenômeno que nos leva à perplexidade, principalmente por ser fruto de um questionável comportamento de parte da população — aquela que se manifesta contrariamente ao método de imunização por meio de vacinas, sem que exista para tal atitude o menor embasamento científico. Vale observar, ainda, que tal repulsa à vacinação raramente se dá nos estamentos sociais mais carentes de recursos e informação, mas se manifesta, isso sim, nas classes sociais que possuem fácil acesso ao esclarecimento e melhores condições de vida. Nos últimos dias, na cidade de São Paulo vê-se um assustador aumento nos casos de sarampo, apesar de as autoridades que respondem pela saúde pública estarem cuidando corretamente do caso e disponibilizando à população fartos lotes de vacinas.
De meados de junho até a quarta-feira 24 a escalada da epidemia bateu na casa dos 1.034%. O público alvo da vacinação está na faixa etária entre os quinze e os vinte e nove anos, porque é composto de pessoas que já nasceram em uma época na qual essa grave doença estava erradicada no País — ou, pelo menos, sensivelmente enfraquecida. A meta de cobertura vacinal corresponde a três milhões de indivíduos, e há doses para se chegar a esse objetivo. Absurdamente, porém, não mais que cento e oitenta mil pessoas se vacinaram, frisando-se que até em estações do metrô instalaram-se postos e equipes. É como se fosse necessário implorar para que o chamado à prevenção seja atendido, quando está em jogo uma enfermidade que pode deixar graves sequelas, afetar o sistema neurológico e matar. “O público alvo é justamente o que menos está procurando os postos de vacinação”, diz a médica Marta Lopes, professora do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da USP
CUIDADOS Somente em relação ao público alvo, esperava-se vacinar três milhões de pessoas. Não mais que cento e oitenta mil foram aos postos de saúde (Crédito:WILLIAN MOREIRA/FUTURA PRESS)
Falsa ciência
A fábula de que vacina faz mal nasceu, por ironia do destino, em uma das mais conceituadas publicações científicas do planeta: a revista “Lancet”. Induzida a erro, ela publicou em 1998 um artigo do médico inglês Andrew Wakefield, associando vacinas ao autismo. Descobriu-se que Wakefiled agia em má fé, a revista desculpou-se, mas o fato é que movimentos contrários à imunização se alastraram na Europa, nos EUA e desembarcaram no Brasil. Na questão específica do sarampo, erradicado no País em 2016 e agora outra vez atuante (provavelmente a partir de navios infectados que ancoraram no porto de Santos, no litoral paulista, e do fluxo de aviões), só está imunizado naturalmente quem já o contraiu quando criança. Pressupõe-se que indivíduos com mais de sessenta anos estejam nessa situação, e os mais jovens não, porque quando nasceram o sarampo era “coisa do passado”. Na verdade, é uma moléstia do presente. E tem-se como se precaver. “A vacina é eficaz no mundo inteiro”, diz a professora Marta. No Brasil, no ano passado, foram notificados cerca de dez mil casos, e 2019 ameaça ser pior. Cabe às pessoas, que vivem em locais onde se fornecem vacinas, como São Paulo, cuidarem de si e de seus familiares — cuidados, aliás, que pais têm de exercer em ralação a filhos por força de lei.

sexta-feira, 26 de julho de 2019

Cúrcuma na prevenção do câncer de estômago

Tempero, também chamado de açafrão-da-terra, teria o potencial de defender o DNA das células frente à doença

A curcumina, substância que dá a cor alaranjada ao açafrão-da-terra (ou cúrcuma), virou destaque numa revisão científica focada em ingredientes com capacidade de reduzir o risco de cânceres gástricos. “Ela age nas histonas, proteínas que formam um núcleo em torno do qual o DNA se enrola”, diz a biomédica Danielle Calcagno, da Universidade Federal do Pará, que assina o artigo junto com colegas da Universidade Federal de São Paulo.
Na prática, significa que a substância pode ativar ou silenciar genes, alguns relacionados ao aparecimento do tumor. Segundo Danielle, como os dados vêm de experimentos feitos em laboratório, não é possível estabelecer no momento qual a quantidade do tempero propiciaria os benefícios.

Outras substâncias que exibiram ação anticâncer

Resveratrol: o componente é encontrado em uvas, amoras, morangos e no vinho tinto.
Colecalciferol: é a forma da vitamina D obtida de peixes gordurosos, como atum e salmão.
Quercetina: é um flavonoide presente em abundância em maçãs, brócolis, cebolas etc.
Garcinol: esse é isolado de cascas de uma fruta conhecida como kokum, originária da Índia.

Tempero que emagrece? Não é bem assim

Na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, cientistas testaram a cúrcuma em camundongos para saber se ela induziria um efeito de perda de peso.
“Além de não comprovarmos a hipótese, os animais que receberam o preparo apresentaram infiltração de gordura no pâncreas, sugerindo um efeito tóxico”, conta a nutricionista Caroline Bertoncini Silva, responsável pela pesquisa.

quinta-feira, 25 de julho de 2019

Um tipo de silicone para os seios sairá do mercado por ligação com câncer

A Allergan anunciou o recolhimento global de algumas de suas próteses mamárias após uma associação com o linfoma anaplásico de grandes células

Em um comunicado oficial, a Allergan anunciou que algumas versões de suas próteses de silicone para os seios estão sendo recolhidas voluntariamente no mundo todo. O anúncio veio logo depois de a FDA, a agência que regula remédios e dispositivos médicos nos Estados Unidos, trazer novos dados ligando esses implantes a um maior risco de linfoma anaplásico de grandes células, um tipo de câncer raro.
“Os implantes mamários e os expansores de tecido texturizados preenchidos com solução salina e silicone BIOCELL® não serão mais distribuídos ou vendidos em nenhum mercado onde estão atualmente disponíveis”, informou a empresa. Você pode conferir o comunicado completo e os nomes dos produtos no fim da reportagem.
Cabe ressaltar que esse não é o único tipo de silicone para as mamas disponível no Brasil (há modelos lisos ou à base de poliuretano, por exemplo), nem sequer o único texturizado – até o momento, outras marcas que oferecem esse produto seguem disponíveis no país.
“Foi uma surpresa. O uso dos implantes texturizados é comum no mundo todo”, afirma Níveo Steffen, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). “Nós estamos atentos às evidências científicas que têm surgido, mas não podemos criar um ambiente de alarmismo exagerado”, pondera. Você vai entender agora o porquê.

O elo do silicone com o câncer

De acordo com o informe da FDA, desde setembro de 2018 foram contabilizados 573 episódios ao redor do globo de linfoma anaplásico de grandes células entre mulheres com silicone texturizado. Desses, 481 foram atribuídos às próteses da Allergan, embora os motivos por trás disso sejam desconhecidos.
Mas atenção: essa doença é rara. Para efeito de comparação, o Instituto Nacional do Câncer estima que, só no Brasil, teremos mais de 30 mil casos de tumor de mama em 2019.
Segundo Steffen, o risco de sofrer com esse subtipo de linfoma segue baixo mesmo entre as mulheres com silicone. Tanto que Jeff Shuren, um diretor da FDA, afirmou em comunicado: “Não recomendamos remover [a prótese com textura] em pacientes sem sintomas por causa dos potenciais riscos”. Ou seja, não há motivo para pânico (e sim para uma conversa com o médico, como falaremos abaixo).
E os outros silicones com textura para os seios? Como os dados consolidados pela agência regulatória americana apontaram uma concentração de casos da doença entre mulheres que colocaram o produto da Allergan, as outras marcas seguem liberadas, assim por dizer.
“Mas estamos atentos aos desdobramentos desse cenário”, garante Steffen.
O linfoma anaplásico de grandes células é um câncer de sangue que afeta os linfócitos (unidades do nosso sistema de defesa que normalmente atuam contra infecções e outras enfermidades). Ele pode atingir a pele e possui chances de cura consideráveis.

O que as mulheres devem fazer

Entre as que já puseram o silicone, vale a pena conversar com o médico responsável pela cirurgia para entender o seu caso, sanar eventuais dúvidas e delinear os próximos passos. Até porque nem toda mulher sabe qual tipo de implante realizou.
Já para as pessoas que cogitam o procedimento, deve-se considerar também que as próteses texturizadas têm suas vantagens. Entre elas, a de diminuir o risco de contratura capsular, uma reação do próprio corpo que torna as mamas endurecidas. Isso pode provocar dores e até deformações.
O jeito é ter um diálogo franco com os especialistas – e fugir de supostos profissionais que não entendem do letrado. “A cirurgia de silicone tem grande validade. Quando bem indicada, devolve a autoestima, inclusive de pacientes que precisaram retirar parte das mamas por causa de um câncer”, reitera Steffen.
Ou seja, não é o momento de crucificar esse procedimento.

O comunicado da Allergan

Allergan anuncia recolhimento voluntário das próteses mamárias e expansores de tecido texturizados BIOCELL®
São Paulo, 24 de julho de 2019 – A Allergan plc (NYSE: AGN) anunciou hoje o recolhimento voluntário, em nível mundial, das próteses mamárias texturizadas e expansores de tecido BIOCELL®. A Allergan está tomando esta providência como precaução após a notificação de informações de segurança recentemente atualizadas sobre a incidência incomum de linfoma anaplásico de grandes células associado ao implante de mama (BIA-ALCL) fornecido pela FDA, agência regulatória americana.
Os implantes mamários e os expansores de tecido texturizados preenchidos com solução salina e silicone BIOCELL® não serão mais distribuídos ou vendidos em nenhum mercado onde estão atualmente disponíveis. A partir de agora, cirurgiões não devem mais utilizar as próteses e expansores de tecido mencionados e todos os produtos em estoque devem ser devolvidos à Allergan. A Allergan fornecerá todas as informações e orientação aos clientes sobre como devolver produtos não utilizados.
A segurança do paciente é uma prioridade para a Allergan. Aconselhamos os pacientes a falarem com seus médicos sobre os riscos e benefícios do seu tipo de implante, caso tenham alguma preocupação.
Importante ressaltar, o FDA e outras autoridades sanitárias não recomendam a remoção ou substituição de implantes mamários ou expansores de tecido texturizados BIOCELL® em pacientes assintomáticos.
No Brasil, o recolhimento voluntário será dos seguintes produtos:
Registro ANVISA
Produto
80143600096
Natrelle® Expansor Tissular
80143600100
Natrelle® Implante Mamário Texturizado
80143600102
Natrelle® Implante Mamário Duplo Lúmen
A Allergan está à disposição para esclarecer dúvidas de pacientes e médicos pelo telefone 0800 14 4077, de segunda a sexta, das 8h às 17h.

quarta-feira, 24 de julho de 2019

O que é diabetes tipo 1: sintomas, tratamento, exames e complicações

Das possíveis causas aos remédios, passando pela dieta e pelas complicações, saiba tudo sobre essa versão do diabetes, que faz a glicemia ir às alturas

O diabetes mellitus tipo 1, assim como o tipo 2, é caracterizado pelo excesso de glicose (açúcar) no sangue, o que desencadeia uma série de complicações no organismo. Mas, nesse caso, a doença surge em geral na infância e na adolescência, traz sintomas como vontade urinar e perda de peso e tem origem autoimune. Ou seja, as próprias unidades de defesa do corpo passam a destruir o pâncreas, responsável pela produção de insulina. O tratamento, portanto, sempre envolve a reposição desse hormônio.
A insulina tem a função de abrir as portas das células para a entrada da glicose, que será convertida em energia. Esse processo nos mantém vivos. A consequência do diabetes tipo 1 é um acúmulo permanente de glicose na corrente sanguínea, o que causa uma porção de danos.
Entre as complicações, destacam-se:
  • Lesões e placas nos vasos sanguíneos, que comprometem a oxigenação dos órgãos e elevam o risco de infartos e AVCs
  • Retinopatia diabética (danos à retina, o tecido no fundo do globo ocular, que levam à cegueira)
  • Falência renal
  • Neuropatia periférica (comprometimento dos nervos, que compromete a sensibilidade)
  • Amputações devido a feridas não perceptíveis na pele, que são capazes de evoluir para gangrena
O diabetes tipo 1 é menos comum que o tipo 2. Estima-se que cerca de 10% de todos os casos da doença correspondam a essa versão do problema.

Sintomas do diabetes tipo 1

  • Sede constante
  • Boca seca
  • Vontade de urinar a toda hora
  • Perda de peso
  • Formigamento em pernas e pés
  • Feridas que demoram a cicatrizar
  • Fungos nas unhas

Fatores de risco

  • Predisposição genética
  • Casos na família
  • Infecções na infância

A prevenção

Sendo uma doença causada por fatores genéticos e cujos gatilhos ainda não são totalmente conhecidos pela ciência (especula-se, por exemplo, a influência de infecções na infância), não há medidas de prevenção capazes de evitar o diabetes tipo 1.
O que dá para afastar são as complicações da doença. Para isso, é necessário acompanhamento e tratamento médico, além da adoção de um estilo de vida saudável.

O diagnóstico

O especialista pede um exame de sangue que mede a glicemia, o nível de açúcar no sangue. O teste é feito em jejum. Se o resultado dá igual ou acima de 126 mg/dl duas vezes seguidas, a pessoa é considerada diabética.
Para acabar com as dúvidas, o especialista pode solicitar o teste oral de tolerância à glicose, também conhecido como curva glicêmica. Ele é parecido com o anterior, mas, duas horas antes da retirada da amostra sanguínea, o paciente toma um copo de água com uma solução açucarada.
Depois, a cada trinta minutos, o método é refeito, sempre com a ingestão de glicose nos intervalos. Isso serve para ver como o organismo se comporta com doses extras de açúcar.
Se a análise indicar o valor de 200 mg/dl, a doença está comprovada.
Há ainda um método conhecido como hemoglobina glicada, que estima a concentração de açúcar nos vasos nos últimos três meses.

O tratamento

Tudo começa com um controle estrito dos níveis de açúcar na alimentação e a recomendação para o diabético manter estilo de vida saudável, com exercícios físicos incluídos.
Fumantes são estimulados a deixar o vício, que amplia o prejuízo às artérias. As bebidas alcoólicas devem ser ingeridas com moderação, porque desregulam as taxas de glicose e chegam a ocasionar episódios de hipoglicemia, que explicaremos mais adiante.
Na dieta, uma ótima medida é priorizar os alimentos integrais, ricos em fibra, em detrimento daqueles com carboidratos simples (pão e massa branca, por exemplo). Eles ajudam a diminuir a velocidade com que a glicose é liberada no sangue.
O ideal é fazer cinco ou seis refeições ao longo do dia e não ficar sem comer por muito tempo. A supervisão de um nutricionista auxilia a evitar equívocos.
Atenção: os doces não são proibidos, porém vale a máxima da moderação e do acompanhamento próximo das taxas de glicose no sangue após sua ingestão. Aliás, substituir o açúcar das receitas por adoçantes ajuda.
Só tenha cuidado ao comprar alimentos diet. É preciso ter certeza de que o nutriente retirado desses produtos foi mesmo o açúcar (e não a gordura, por exemplo).
O acompanhamento médico e os exames laboratoriais mostrarão se as escolhas certas na hora de se alimentar, a prática de exercício e o tratamento indicado pelo especialista estão conseguindo conter a doença ou se não há complicações à vista.

A insulina injetável

Pessoas com diabetes tipo 1 necessitam de doses diárias de insulina. O médico orientará como guardar e transportar o medicamento (ele precisa ser mantido entre 2 e 8º C de temperatura) e quais os cuidados na hora de aplicar. As consultas servirão para fazer o ajuste das doses e montar um esquema para o uso combinado de diferentes tipos de insulina.
Pois é: há as versões do hormônio com ação rápida, ultrarrápida, intermediária ou basal. Cada uma tem suas vantagens e limitações.

Como medir a glicemia no dia a dia

Mensurar a concentração da glicose também faz parte da rotina do paciente com diabetes tipo 1. Esse controle pode ser por um aparelhinho chamado glicosímetro. Um furinho no dedo, uma gota de sangue numa fita e, cinco segundos depois, o resultado aparece no visor.
É ele que orienta a quantidade de insulina a ser injetada ou quanto de carboidrato se pode comer em determinado momento. Com isso, evitam-se os picos glicêmicos e também a hipoglicemia.
A frequência de uso do aparelho depende do grau de estabilidade do diabetes. Em geral, a checagem acontece antes e depois das refeições e ao dormir.
Os limites recomendados são: abaixo de 110 mg/dl em jejum e de 140 mg/dl duas horas depois das refeições, com tolerância de até 180 mg/dl. Entretanto, é fundamental discutir o seu caso com um médico.
Nos últimos anos, também surgiram aparelhos que conseguem medir a glicemia sem picadas. Exemplo: você instala um dispositivo pequeno no braço e, aí, passa um aparelho ou mesmo o seu celular na frente dele. Pronto! Já dá para ver sua glicemia.

Acompanhamento no longo prazo

Para saber se o tratamento está funcionando, um exame é repetido a cada três meses: a hemoglobina glicada, que mostra a variação da glicose no sangue nesse período.
Também é recomendável fazer anualmente um exame de fundo de olho para flagrar possíveis encrencas na retina antes de elas provocarem estragos graves na visão. Os rins são outro ponto de atenção: todo ano, vale checar se eles estão ok com exame de urina coletada ao longo de 24 horas.
No mais, busque saber a quantas andam colesterol, triglicérides e pressão arterial – níveis alterados, em conjunto com o diabetes tipo 1, são especialmente danosos para a saúde cardiovascular. E sempre investigue os pés em busca de feridas. Se elas não forem bem cuidadas, podem evoluir para gangrenas e mesmo amputação – a isso se dá o nome de pé diabético.

A hipoglicemia

Mesmo convivendo com uma doença que se caracteriza pelos níveis altos de glicose no sangue, o diabético precisa ficar atento a outro fenômeno típico de sua condição: a hipoglicemia, uma queda brusca nessas taxas. Ela acontece em geral quando a doença não está sob controle.
O quadro é marcado por tremores, suor frio e sensação de fraqueza. Transpiração excessiva, palpitações, náuseas, alterações de fala, visão turva e até desmaios são sintomas do seu agravamento.
Nessas horas, uma bala de goma, um sachê de mel, um suco de laranja ou mesmo um copo d’água com duas colheres de açúcar ajudam a restabelecer o equilíbrio no organismo. Se a situação está perdendo o controle, é prudente procurar um hospital ou orientação médica.

terça-feira, 23 de julho de 2019

SUS com menos remédios

Fim da fabricação de medicamentos gratuitos para diabetes, câncer e HIV pode afetar 30 milhões de brasileiros

Crédito: Divulgação
DECISÃO TCU e CGU encontraram problemas contratuais. Laboratórios alegam gerar economia de R$ 20 bilhões anuais ao erário (Crédito: Divulgação)
Sem aviso a quem depende da saúde pública, foram cancelados os contratos de sete laboratórios nacionais que produzem 18 medicamentos e uma vacina distribuídos gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A medida até pode ser legal, mas é desumana, podendo comprometer a saúde de até 30 milhões de brasileiros usuários de remédios para diabetes, problemas renais, câncer, HIV, dores crônicas e transplantados. Não seria exagero estimar que muitos morrerão, caso nenhuma solução viável seja apresentada. Até parte da produção da vacina tetraviral, que imuniza crianças entre 1 e 2 anos contra sarampo, caxumba, rubéola e varicela, foi cancelada. De maneira leviana, o Ministério da Saúde afirma que não faltarão remédios, já que laboratórios privados supririam a demanda. A ver.
A medida suspendeu parte dos projetos de Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDPs), que, mediante incentivos, estimula a produção de remédios até 30% mais baratos e permite a transferência de tecnologias ao governo, como parte de uma política pública. Os cancelamentos dos contratos foram recomendados pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e pela Controladoria-Geral da União (CGU), que constataram descumprimento de cronogramas e falta de investimentos. Oito empresas internacionais parceiras tiveram acordos suspensos.
Na Justiça
Os laboratórios afirmam que o governo não fez sua parte. “Para suspender uma PDP é preciso a avaliação de um comitê”, afirmou o presidente da Associação de Laboratórios Farmacêuticos Oficiais (Alfob), Ronaldo Ferreira Dias. A Alfob alega que gera uma economia aos cofres públicos de até R$ 20 bilhões ao ano. Cinco empresas saíram no prejuízo, pois estavam em fase de importação de insumos e desenvolvimento. O episódio deve chegar aos tribunais. Entre gestores de saúde, a decisão era esperada. O que surpreendeu foi a decisão abrupta, que gerou insegurança jurídica. O Ministério alega que seus “atos de suspensão” são “transitórios” e que “coleta informações”, indicadores de que sua decisão seria afobada. “São produtos de alto valor contra doenças raras. Não dá para fazer transplantes sem eles”, diz Gonzalo Vecina Neto, da Faculdade de Saúde Pública da USP. “Agora ninguém sabe qual é o plano do governo”. Não se trata de uma novidade.

segunda-feira, 22 de julho de 2019

Nova cirurgia devolve ereção a homens com disfunção erétil

Desenvolvida por profissionais brasileiros, a técnica reativa o pênis e afasta a impotência, principalmente de quem teve câncer de próstata

Pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista de Botucatu anunciaram recentemente os resultados da reinervação peniana, uma nova cirurgia para corrigir a disfunção erétil em homens que retiraram a próstata. A remoção dessa glândula masculina, procedimento comum em pacientes com câncer na região, não raro culmina em impotência.
A equipe brasileira já operou 62 homens, com uma taxa de sucesso de 60%. Isso significa que seis em cada dez voltaram a ter “capacidade de penetração” durante o sexo.
“E os outros 40% demonstram vários graus de melhora na ereção, o que já muda a vida deles”, comenta o cirurgião plástico Fausto Viterbo, desenvolvedor da técnica cirúrgica, junto com um time multidisciplinar no interior paulista.
O procedimento basicamente tira um nervo da perna – o sural – e cria com ele uma ligação entre o nervo femoral e o pênis. “O nervo femoral passa pela região da bacia e dá sensibilidade e força para a coxa e os músculos envolvidos na caminhada”, explica o médico.
Normalmente, ele não está envolvido na ereção. Mas, como ativa movimentos corporais, veio a ideia de utilizá-lo como substituto do nervo cavernoso, que comanda a ereção do pênis.
Pois bem: depois que o atalho é criado, o cérebro começa a enviar estímulos ao órgão sexual por esse novo caminho. “Resumindo, o nervo utilizado para andar passa a responder também pela ereção”, conta Viterbo.
Ele e sua equipe publicaram um artigo com os resultados no British Journal of Urology International.

Quem se beneficia da cirurgia de reinervação peniana?

O público-alvo principal são homens que precisam retirar a próstata para tratar um tumor maligno na glândula – o segundo tipo de câncer mais frequente no sexo masculino, atrás apenas do de pele. A cirurgia de remoção deixa com frequência uma lesão no nervo cavernoso. Assim, o membro perde sua sensibilidade, o que seria corrigido com a nova técnica.
Entretanto, mais grupos talvez possam recorrer a ela. Viterbo e sua turma já operaram, por exemplo, três diabéticos – a doença prejudica o sistema nervoso dos membros e é associada à disfunção erétil. Para eles, o resultado também foi positivo.
A idade não parece relevante para a indicação. Até o momento, foram operados sujeitos entre 53 e 73 anos, com resultados semelhantes entre as faixas etárias. “A diferença para o sucesso parece estar mais no entusiasmo do paciente pela prática sexual”, destaca Viterbo.
Outra indicação possível é o homem que sofreu um trauma na bacia – uma fratura decorrente de um acidente, por exemplo. A equipe estuda inclusive se o reforço na inervação da região compensa a falta de circulação local, a causa mais comum de impotência. “Isso ainda está sendo estudado, mas acreditamos que o método pode ser eficaz em quem tem pequenas perdas vasculares”, reforça Viterbo.

Como a operação é realizada

Primeiro, o paciente recebe uma anestesia geral ou peridural. Depois, são feitas incisões nos dois lados da virilha, na base do pênis e nas laterais de ambas as pernas. O médico retira então o nervo sural, que é uma estrutura longa e responsável apenas pela sensibilidade de uma parte dos pés. Aí, divide-o em dois, inserindo cada metade em um lado da virilha.
A operação dura cinco horas e a recuperação envolve um treinamento de excitação, com estímulos visuais e masturbação para incentivar a ereção. Com exceção dos incômodos da cirurgia em si, não foram registrados efeitos colaterais importantes até agora. Só houve a ocorrência de perda de sensibilidade na lateral dos pés, quase imperceptível.
Enquanto a técnica não é realizada por mais profissionais e incluída no rol de procedimentos do SUS e dos planos de saúde, quem deseja realizá-la precisa entrar na lista de espera da Faculdade de Medicina de Botucatu – a instituição tem capacidade para operar 17 pacientes ao ano.
Hoje, o tratamento da disfunção erétil é à base de remédios que facilitam a ereção por meio de comprimidos ou injeções aplicadas pouco antes da relação. Outra possibilidade, menos utilizada, é recorrer às próteses penianas. Em resumo, são hastes de silicone que promovem a ereção com o acionamento de uma bombinha.

sexta-feira, 19 de julho de 2019

O que é intolerância à lactose: sintomas, diagnóstico e tratamento

Causado pela baixa produção da enzima que digere o açúcar do leite, esse problema traz dor de barriga e outros incômodos gastrointestinais. Como tratar?

A intolerância à lactose causa dor de barriga, gases e outros desconfortos gastrointestinais após a ingestão de leite e derivados. Para confirmar o diagnóstico, o médico avalia o histórico do paciente, descarta outras doenças com sintomas semelhantes e pode pedir exames. O tratamento varia, mas envolve limitar o consumo de lácteos e eventualmente tomar cápsulas com lactase, a enzima que quebra a lactose.
Quer mais detalhes? É pra já:

O que causa a intolerância à lactose

Os sintomas decorrem da incapacidade total ou parcial do organismo de produzir a lactase, uma enzima que quebra a lactose, o açúcar dos produtos lácteos. Com isso, o composto se acumula no intestino e é fermentado pelas bactérias que vivem ali, provocando mal-estar.
A intolerância surge de diferentes maneiras. Sua forma mais comum acontece pela redução natural da concentração de lactase com o avançar da idade.
O bebê, que se alimenta exclusivamente do leite, fabrica largas doses dessa enzima. Conforme a criança vai crescendo e outros alimentos entram no cardápio, sua produção diminui aos poucos. Em alguns indivíduos, a queda é acentuada e, aí, o corpo não encara muito bem alguns goles de leite.
Em episódios raros, o distúrbio tem origem genética. E há ainda uma terceira causa: quando micro-organismos ou um processo inflamatório atacam as células intestinais responsáveis por gerar a lactase.
Embora muita gente confunda intolerância com alergia, os dois problemas são distintos. Enquanto o primeiro é marcado pela dificuldade em quebrar a lactase, o segundo é uma resposta exagerada do sistema imunológico a uma proteína específica do leite da vaca. O ataque das células de defesa patrocina manifestações em todo o corpo, como inchaço nos lábios, coceira, manchas na pele, tosse e falta de ar. A alergia tende a ser mais perigosa, portanto.

Sintomas e sinais

  • Dor e inchaço abdominal
  • Diarreia
  • Gases
  • Azia
  • Náusea
  • Dor de cabeça

Fatores de risco

  • Envelhecimento
  • Etnia: o problema é mais comum em africanos, árabes, gregos, chineses, coreanos e canadenses
  • Infecção por rotavírus
  • Doenças gastrointestinais
  • Predisposição genética
  • Diabetes
  • Realização de cirurgia bariátrica

A prevenção

Não há como conter a queda na produção da lactase. Contudo, vale lembrar que o bom funcionamento dos órgãos digestivos repercute na digestão da lactose.
Ou seja, a recomendação é investir num cardápio com verduras, frutas e cereais integrais, que facilitam o trânsito intestinal. O organismo mais saudável fica menos propenso a gases e cólicas, mesmo com a presença de lactose não digerida.
Infecções intestinais podem ocasionar o que os especialistas chamam de intolerância transitória. Nesses casos, tratar a infestação de germes é o caminho para restabelecer a fabricação da lactase e se livrar dos desconfortos ao ingerir leite e derivados.
Por outro lado, medicamentos como os antibióticos fragilizam o intestino. Esses fármacos só devem ser usados com a recomendação do médico.

O diagnóstico da intolerância à lactose

Para ter certeza de que a lactose é o que está desencadeando diarreia, azia e má digestão, é preciso descartar a possibilidade de outras enfermidades gastrointestinais. Há uma série de disfunções capazes de disparar uma intolerância transitória, como a síndrome do intestino irritável, a doença de Crohn e a doença celíaca.
Só um especialista consegue traçar as estratégias para confirmar o diagnóstico da intolerância. Para começar, o médico leva em conta o histórico do paciente, o tempo que ele apresenta os sintomas e a intensidade de dores e náuseas.
A partir desse relato, a primeira indicação envolve retirar os lácteos da dieta durante duas semanas. Após esse período, eles são reintroduzidos aos poucos. Se os desconfortos somem no período de restrição e voltam depois, é um forte indício de que a lactose está por trás do sofrimento.
Além disso, é possível investigar a intolerância com um exame de sangue. A primeira coleta é feita em jejum. Depois, a pessoa bebe uma dose concentrada de lactose e volta a retirar outras amostras do líquido vermelho dentro de algum tempo.
Se houver aumento da glicose na circulação, é sinal de que não há dificuldade na absorção da lactose. Porém, caso os níveis de açúcar não se alterem, o leite vira o principal suspeito de deflagrar os incômodos.
Há também o teste de concentração de hidrogênio expirado. Nele, o paciente sopra um aparelho, que detecta a presença de gases da fermentação da lactose no intestino. Quando eles estão elevados, o médico liga o sinal de alerta.

O tratamento

Não existe medicamento para estimular a produção de lactase pelo corpo. A intolerância deve ser administrada com controle da dieta. Como as doses toleradas de lactose variam de pessoa para pessoa, o profissional de saúde indicará a quantidade de lácteos que pode ser consumida.
No entanto, são raros os casos em que se retira o leite e seus derivados completamente do cardápio. Esse corte, aliás, nunca deve ocorrer sem a orientação do médico, sob o risco de promover deficiência nutricionais graves, com baixas no aporte de cálcio, fósforo, potássio, magnésio e vitaminas.
No dia a dia, algumas dicas ajudam quem foi diagnosticado com a intolerância. A principal é nunca tomar o leite em jejum.
Se os goles forem acompanhados de outros alimentos, a digestão fica mais lenta. Consequentemente, a lactose demora para alcançar o intestino delgado. Ela vai chegar ao órgão aos pouquinhos, o que facilita o trabalho das poucas moléculas de lactase que estão por lá.
Outra medida envolve fracionar a ingestão desses alimentos ao longo do dia. Quanto menor a porção ingerida, menor o risco de desencadear sintomas.
Também é importante compreender que há lácteos menos perigosos para essa turma. Exemplo: queijos normalmente possuem menos lactose que o leite. Com exceção dos tipos frescos, eles concentram quantidades mínimas desse açúcar.
Iogurtes são outra pedida para quem sofre com a intolerância. Durante sua produção, são adicionadas bactérias que devoram a lactose. Dessa forma, há uma redução de 20 a 25% na quantidade desse açúcar nos potinhos. Os leites fermentados também são bem-vindos pelo mesmo motivo.
Quando o distúrbio é severo e um pouquinho de açúcar lácteo já desperta problemas digestivos, a alternativa é investir em produtos com zero lactose, facilmente encontrados nas prateleiras dos supermercados.
Existe ainda a possibilidade de tomar cápsulas com lactase antes da refeição ou adicionar sachês com essa enzima no copo de leite. Os pacotinhos trazem quantidade suficiente para quebrar até 50 gramas de lactose, quantidade presente em um litro do produto da vaca. Também é possível misturar o pó em água ou sucos.

quinta-feira, 18 de julho de 2019

Casos confirmados de sarampo disparam no Brasil

O mais recente boletim do Ministério da Saúde aponta 426 casos de sarampo – o estado de São Paulo puxa a lista, mas Rio de Janeiro e Pará também preocupam

Infelizmente, o sarampo continua se espalhando pelo Brasil. De acordo com o novo boletim do Ministério da Saúde, de janeiro a 12 de julho de 2019, 426 casos da doença foram confirmados – até 1º de julho, eram 142 episódios.
A maioria das pessoas infectadas até 12 de julho estão no estado de São Paulo: 350. Outras 702 ocorrências seguem em investigação. Duas semanas antes, não mais do que 66 episódios foram confirmados na região. “Podemos observar um acréscimo importante de notificações”, diz o boletim.
Não à toa, a prefeitura da capital realiza uma campanha de vacinação, que está se expandindo para outros municípios. Ainda assim, a adesão está deixando a desejar.
Mas não são só os paulistas que devem se preocupar. De acordo com o Ministério da Saúde, os estados do Rio de Janeiro e Pará também enfrentam surtos ativos.
Em terras fluminenses, 11 pessoas certamente contraíram sarampo em 2019. Outras 18 seguem sendo avaliadas. Já no Pará, há 53 casos confirmados e mais seis em investigação.
Para conter esses surtos (que podem inclusive ganhar força em outros estados), só mesmo recorrendo à vacinação.

quarta-feira, 17 de julho de 2019

A 1ª aprovação de remédio contra o câncer que não foca no local da doença

O medicamento larotrectinibe é o único no Brasil que pode ser usado contra qualquer tumor sólido, não importa sua localização, desde que tenha uma mutação

Via de regra, um remédio contra o câncer recebe aprovação das agências regulatórias de acordo com o local de origem da doença. Ou seja, ele ganha o aval para tratar um tumor de pulmão – ou de próstata, ou de pele. Mas o Brasil quebrou esse paradigma pela primeira vez com a chegada do larotrectinibe (nome comercial: Vitrakvi), da farmacêutica Bayer.
Ao contrário dos outros medicamentos, ele é indicado para todo e qualquer câncer sólido (ou seja, que não surge nas células de sangue), desde que a doença possua uma mutação específica, conhecida como fusão do gene NTRK. Dito de outra forma, não importa se o problema surge na mama, na tireoide ou no intestino: se possuir essa alteração molecular, o larotrectinibe pode entrar em jogo.
“Essa é uma tendência moderna, que se concentra nas particularidades moleculares do câncer, e não em seu lugar de origem”, afirma o oncologista Marcos André de Sá Barreto Costa, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo. Ou seja, é possível que no futuro outros fármacos sejam aprovados com a mesma lógica.
Aliás, nos Estados Unidos já há uma medicação aprovada sob a mesma lógica. É o pembrolizumabe, da MSD – a droga já chegou ao nosso país, porém não com essa “indicação agnóstica”, como dizem os especialistas.

Como funciona o larotrectinibe

Estamos falando de um comprimido que bloqueia a ação de substâncias específicas que aceleram o crescimento das células cancerosas. Elas passam a ser fabricadas pelas células na presença daquela mutação que mencionamos antes – a tal fusão do gene NTRK. “Estima-se que 1% dos tumores sólidos apresentem essa característica”, ressalta Barreto Costa.
Essa alteração é mais frequente em certas versões da enfermidade, como o fibrossarcoma infantil e mesmo subtipos do câncer de mama, pulmão e intestino. No entanto, ela pode aparecer em outros cantos do corpo.
Nos estudos que justificaram a aprovação no Brasil – somos o segundo país do mundo a fazer isso, atrás apenas dos Estados Unidos –, o larotrectinibe beneficiou de 70 a 75% dos pacientes com câncer avançado que manifestavam aquela mutação. Ao final de um ano, 71% deles seguiam com a doença controlada, segundo Barreto Costa.
Só tem um detalhe: no momento, a medicação só poderá ser empregada quando a doença se espalhou pelo organismo e se não há mais opções satisfatórias de tratamento. Portanto, ela fica reservada para as situações em que não há outra terapia ou para quando as estratégias geralmente utilizadas já falharam (tanto para crianças quanto para adultos).
“Com o tempo, novos estudos devem ampliar essa indicação para quadros menos avançados”, especula Barreto Costa.
Como o larotrectinibe ataca especificamente as moléculas decorrentes daquela fusão do gene NTRK, ela é menos tóxica do que a quimioterapia. Seus principais efeitos colaterais são: fadiga, náusea, tosse e vômitos.

Como identificar a fusão do gene NTRK

Os médicos começam colhendo uma pequena amostra do câncer por meio de uma biópsia – isso já é um procedimento de rotina na maioria dos casos. A partir daí, exames de laboratório detectam a eventual presença dessa alteração, o que abre as portas para a indicação do larotrectinibe.
“Hoje, temos métodos simples e relativamente baratos para descobrir a presença dessa alteração”, garante Barreto Costa.
O complicado mesmo vai ser pagar pelo tratamento – pelo menos em um primeiro momento. Como a medicação acabou de receber a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), seu preço ainda não foi definido pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos.
Contudo, provavelmente ela não será barata e deve enfrentar resistência até na rede privada, eminentemente por causa da cobertura dos planos de seguro.

segunda-feira, 15 de julho de 2019

Anvisa proíbe Magazine Luiza de vender medicamentos

Em nota no site, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária determinou que a rede Magazine Luiza pare de divulgar e comercializar remédios

Uma das maiores lojas de departamento do Brasil, a Magazine Luiza recebeu uma má notícia. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu essa empresa de vender ou divulgar quaisquer remédios.
Segundo a nota publicada no site da Anvisa, a Magazine Luiza não possui a chamada Autorização de Funcionamento de Farmácias e Drogarias (AFE). Para obtê-la, os estabelecimentos precisam enviar uma série de documentos, entre outras coisas.
Em teoria, essa medida serve como segurança para evitar a comercialização inadequada de medicamentos.
Mas então a Magazine Luiza vende remédios? Em uma busca no site da loja, a SAÚDE verificou que de fato há produtos sendo divulgados para combater diferentes problemas de saúde.
Dá para encontrar opções contra pedras nos rins, espinha, ejaculação precoce… A maioria dos produtos pertence à marca Eficácia, uma farmácia de manipulação.
A assessoria de imprensa da Magazine Luiza foi procurada para dar sua versão dos fatos. Mas, até a publicação desta nota, não retornou aos nossos contatos por telefone e e-mail.

sexta-feira, 12 de julho de 2019

AVC: cirurgia moderna que desobstrui entupimentos ganha força no Brasil

Segundo estudo, a trombectomia reduz a mortalidade e aumenta a independência das vítimas do AVC isquêmico, o que se traduziria em menos gastos

Um tratamento relativamente novo contra o AVC isquêmico – aquele provocado pelo entupimento de um vaso sanguíneo no cérebro – pode chegar ao Sistema Único de Saúde (SUS) graças a um estudo brasileiro apresentado recentemente no Congresso Europeu de Acidente Vascular Cerebral. É a trombectomia, uma cirurgia que teve seu custo-benefício colocado à prova.
A técnica funciona como uma espécie de cateterismo, que ajuda a aspirar o coágulo para desobstruir o vaso sanguíneo no cérebro. Ela é aprovada desde 2015 em países como Estados Unidos, Canadá, Austrália, Holanda e Espanha. E, hoje, também é utilizada no Brasil, mas apenas nas clínicas particulares.
O estudo foi realizado de 2017 a 2019 em 12 centros de saúde nacionais e contou com a participação de 609 pacientes. Os neurologistas concluíram que esse método aumenta de 21% a 35% a independência funcional do indivíduo.
Além disso, foi constatada a redução de 16% na mortalidade ou no risco de dependência intensa. Isso tudo quando a trombectomia foi comparada a tratamentos medicamentosos usuais.
Segundo os autores, a investigação mostra também que a tática, apesar de custosa em um primeiro momento, representa um gasto pequeno para o governo diante do ganho de qualidade de vida e da possibilidade de manter uma pessoa ativa. Dessa forma, os custos para os cofres públicos do país seriam reduzidos no final das contas.

Como o AVC isquêmico é tratado atualmente

Na rede pública de saúde, a terapia padrão é a trombólise. A neurologista Sheila Martins, membro da Academia Brasileira de Neurologia (ABN) e vice-presidente da Organização Mundial de AVC, que apresentou a pesquisa no congresso europeu, conta que esse método foi descoberto em 1995.
“A trombólise é feita com um medicamento, o trombolítico, que é aplicado na veia. Ele viaja pela circulação até o coágulo que está entupindo o vaso sanguíneo do cérebro e tenta dissolvê-lo para retomar a circulação e a função daquela área”, explica Sheila.
De acordo com a neurologista, o trombolítico pode ser utilizado até quatro horas e meia depois do início dos sintomas. “Ele aumenta em 30% a chance de recuperação completa e ainda há a possibilidade de recuperação parcial melhor que de quem não é tratado”, complementa.
No entanto, para os quadros mais graves, que ocorrem quando a artéria entupida é muito grande, a trombólise não funciona tão bem. É aí que a trombectomia pode entrar em cena.
Até o momento, o método não está disponível na rede pública porque, apesar dos benefícios, ele necessita de uma estrutura hospitalar que nem todos os lugares do Brasil possuem. Sheila afirma que existem dificuldades para implementá-lo, já que a logística é complexa.
“É necessário tecnologia para realizar uma tomografia e uma angiotomografia [exame para verificar a circulação cerebral em tempo real], um médico neurorradiologista intervencionista, uma central de hemodinâmica e um anestesista disponível”, enumera a especialista.
Apesar das dificuldades, os dados do levantamento sugerem que esse investimento vale a pena. Ainda não há previsão sobre a implementação no SUS, mas os cientistas esperam que isso ocorra o mais rapidamente possível.
E um adendo final: a trombectomia não ajuda nos casos de AVC hemorrágico, em que o sangue extravasa dos vasos sanguíneos. Esse problema, popularmente chamado de derrame, é menos comum que o AVC isquêmico – mas, em geral, mais grave.

quarta-feira, 10 de julho de 2019

O 1º remédio que funciona sem hormonioterapia em um tipo de câncer de mama

Recém-chegado ao Brasil, o medicamento abemaciclibe é voltado contra o subtipo mais comum do tumor de mama em estágio avançado – e vem em pílulas

Cerca de 69% de todos os diagnósticos de câncer de mama são do tipo RH+/HER2-. Nessas situações, a doença é estimulada por hormônios sexuais femininos – daí por que, em casos avançados, os médicos sempre incluíam no tratamento a hormonioterapia, que serve justamente para bloquear a ação dessas substâncias. Mas acaba de chegar ao Brasil o remédio abemaciclibe (da farmacêutica Eli Lilly), a primeira opção contra essa enfermidade que pode ser empregada sem a tal hormonioterapia em certos cenários.
Em geral – e isso vai continuar assim –, a pessoa com um tumor de mama RH+/HER2- que se espalhou pelo corpo recebe quimioterapia ou terapia-alvo junto com comprimidos que bloqueiam a ação dos hormônios femininos. O abemaciclibe, aliás, também pode ser usado assim (e como primeira opção de tratamento, aliás).
“Acontece que, às vezes, já utilizamos diferentes combinações, com diferentes tipos de hormonioterapia, e não conseguimos controlar o câncer”, lamenta o oncologista Antonio Carlos Buzaid, da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo. “Nessa situação, tínhamos poucas opções, como dar mais doses de químio isoladamente”, completa.
Eis que estudos com a nova medicação mostraram que, até nesse cenário mais complicado, ela trouxe resultados positivos. Segundo o estudo Monarch-1, quase 20% das mulheres que, passadas todas as etapas prévias, recorreram a esse fármaco como tratamento único tiveram uma resposta positiva considerável. Parece pouco, mas outros levantamentos revelam que a quimioterapia só beneficiou 10% dessas pacientes.
Além de dobrar a taxa de resposta, o abemaciclibe freou o avanço da enfermidade por seis meses (ante três meses da químio).

Como funciona o remédio

Ele basicamente inibe enzimas que aceleram a progressão do câncer de mama – a CDK4 e a CDK6. Aliás, outras duas drogas já aprovadas no Brasil atuam de maneira semelhante: o ribociclibe, da Novartis, e o palbociclibe, da Pfizer. Todas pertencem à classe das terapias-alvo (que miram um alvo específico do tumor) e são administradas diariamente em forma de comprimidos.
Entretanto, o abemaciclibe é o único de uso contínuo. Os outros, por causarem uma queda mais intensa das células de defesa do organismo, são aplicados por três semanas, seguidas de um período de descanso. “Em estudos com modelos animais, quando você interrompe o tratamento, às vezes o câncer avança”, diz Buzaid.
Ou seja, é possível que a opção recém-chegada ao mercado brasileiro funcione mesmo quando a hormonioterapia não pode mais ser usada porque não dá sossego para o tumor de mama, assim por dizer. Para confirmar essa hipótese, entretanto, mais experimentos são necessários.
Por outro lado, o abemaciclibe comumente provoca diarreia como efeito colateral. Ainda assim, sua toxicidade é bem mais tolerável do que a da quimioterapia convencional.

A eterna questão do acesso

Como outros integrantes da terapia-alvo, o abemaciclibe tem um custo considerável. A Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos fixou o preço máximo para o consumidor em 27 751,59 reais (em estados com a maior carga tributária sobre medicamentos). Esse valor equivale a 60 comprimidos com a dose mais alta, de 200 miligramas – a quantidade necessária para cada paciente vai variar caso a caso.
“O valor de registro pode ser diferente do praticado na hora da comercialização. Isso ocorre por causa de algumas variáveis, como dosagem, diferença de alíquota de imposto por região, entre outras”, informa a Eli Lilly, por meio de nota enviada a SAÚDE.
Cabe reforçar que as variações no preço devem ser sempre para baixo – nunca para o alto – por força da regulamentação nacional. Até eventuais descontos influem no número final.
No momento, o tratamento está fora do SUS. E deve enfrentar resistência mesmo no sistema privado, uma vez que os seguros de saúde não são obrigados a cobrir novos medicamentos orais que estão fora do rol da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
“Temos brigado constantemente com as seguradoras para garantir o acesso a essas alternativas modernas de tratamento”, lamenta Buzaid.

terça-feira, 9 de julho de 2019

A praga da dengue

Apesar da chegada do inverno, o vírus, agora do tipo 2, segue se alastrando principalmente pelos estados do Sudeste e Centro-Oeste, provando que a infecção se tornou uma tragédia nacional

Crédito: doug4537
Na Unidade Básica de Saúde (UBS) do bairro de Jardim Peri, na região norte de São Paulo, a dona de casa Luzia dos Santos Moraes, de 42 anos, escora o corpo onde pode. Ela está enfraquecida e cansada. As dores são muitos fortes e ficar em pé se torna um desafio. Suas filhas, Flávia e Fagna Santos de Moraes, de 21 e 22 anos, respectivamente, conversam com a reportagem de ISTOÉ enquanto a mãe espera ser atendida. Vindas de Belém do Pará há dois anos, tentam a “sorte” na capital paulista. Além das duas, Luzia tem outra filha, que recebeu, na primeira semana de julho, o diagnóstico de dengue. No bairro em que elas moram atualmente, Lauzane Paulista, há inúmeras pessoas infectadas. Depois de esperar pouco mais de duas horas e já dentro do ambulatório, Luzia recebe a notificação de suspeita de dengue. Dali, segue para fazer a “prova do laço” para saber a urgência do caso. O enfermeiro amarra uma faixa em seu braço e o deixa apertado por cinco minutos. Se pintas vermelhas aparecem, a doença pode trazer mais riscos e se tornar mais grave, causando hemorragias, uma vez que se revela alteração na coagulação sanguínea. Para a sorte de Luzia, nada apareceu. De acordo com a gerência da UBS, cerca de 90% dos casos que chegam são suspeitas posteriormente descartadas, devido à semelhança dos sintomas a outros quadros, como o de forte gripe.
O Brasil enfrenta hoje uma das piores epidemias de dengue de sua história, com 597 mil casos confirmados, e apesar da chegada do inverno, a enfermidade não dá sinais de arrefecimento. O problema é a dengue tipo 2, que ainda não havia sido detectada no País e atingiu principalmente os estados de São Paulo e Minas Gerais, que reúnem 60% dos casos. Desde 2015 não se via uma epidemia tão severa e prolongada, com tantos casos constatados e tantas mortes. Filas nos hospitais, pessoas com suspeitas de contaminação, mutirões de combate ao mosquito e campanhas de prevenção viraram rotina nas cidades paulistas e mineiras. Somente no primeiro semestre de 2019, os casos de morte por dengue aumentaram 163% no País, em relação ao mesmo período do ano passado. Em números absolutos, isso significa um salto de 139 para 366 óbitos. É a porcentagem mais expressiva desde 2015, quando foram registradas 752 mortes — a metade é de pessoas idosas, com mais de 60 anos. São Paulo lidera o ranking de falecimentos, 157, seguido por Minas Gerais, 98. Juntos, os dois estados somam 255 casos. O estado mineiro ainda investiga 137 óbitos, o que pode elevar a incidência letal da dengue. Em São Paulo, os casos prováveis bateram 267.602. Em Minas Gerais, o número foi mais assustador; 423.317, o que faz da atual epidemia a segunda pior de sua história, atrás apenas de 2016, quando houve 517.830 notificações. Tocantins teve a maior elevação, crescendo 1369% (de 210 para 3085, em relação a 2018).
CONTÁGIO A dona de casa Luzia Moraes recebe soro na UBS do Jardim Peri, em São Paulo:dor no corpo, nos olhos, febre e dificuldade para se manter em pé (Crédito:MARCO ANKOSQUI)
Os números são mais assustadores quando se fala em casos prováveis de dengue, o que inclui os suspeitos de terem contraído a doença: um aumento de 561%. Isso equivale a um salto de 170.628 para 1.127.244 em todo o País, segundo o último boletim do Ministério da Saúde sobre doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, com informações até o dia 8 de junho. Além dos quatro tipos de dengue — 1, 2, 3 e 4, o mosquito também transmite a zika e chikungunya. “Enquanto não houver um controle rigoroso dos criadouros do Aedes enfrentaremos epidemias todos os anos”, diz a diretora do Centro de Vigilância Epidemiológica de São Paulo, Regiane de Paula. “Além dos esforços do governo, os cidadãos também precisam fazer a sua parte, retirando lixo do jardim, dispensando recipientes que acumulam água e limpando calhas e ralos”. Dezenas de cidades paulistas estão realizando mutirões permanentes de combate à doença. São Caetano do Sul tem feito mutirões todos os fins de semana, assim como Ribeirão Preto e Birigui, que, por sinal, são a sexta e a sétima cidades com mais casos no estado de São Paulo. Em Ribeirão Preto, entre os 700 mil habitantes, foram confirmados 7.236 episódios e em Birigui, com uma população de 105 mil pessoas, houve o registro até agora de 6.636 doentes. A família da empregada doméstica René Faustina, de 48 anos, teve quatro pessoas infectadas pelo vírus: ela, a irmã, o sobrinho e o cunhado. O marido de uma prima e o filho deles também pegaram a doença. Faustina acredita que foi infectada em Birigui, a 20 quilômetros de Bilac, onde vive. Todos os dias, Birigui recebe um contingente grande de trabalhadores, entre os quais Faustina, que passa pouco mais de vinte minutos no transporte para fazer faxinas. Com ela, os sintomas seguiram o diagnóstico padrão da doença: dor de cabeça, febre e moleza no corpo, e perduraram por cerca de 15 dias. “Depois começaram a sair aquelas pintas que aparecem quando a gente está sarando. Não deixei de trabalhar nesse período e com dor no corpo fui fazer as minhas faxinas. Como é em casa de parentes é mais fácil, a gente pode sentar um pouco e descansar”, diz ela.
PREVENÇÃO Agentes de saúde pulverizam inseticida em Birigui (Crédito:PITON)
Estudantes participam de atividade de combate ao mosquito em Birigui (Crédito:Prefeitura de Birigui)
Para além dos primeiros sintomas, a irmã de Faustina, Ângela (nome fictício), aposentada e com 63 anos, também sentiu tonturas, disenteria e coceira pelo corpo. “É horrível, parecia que eu ia morrer. Muita gente foi infectada. Na minha rua, quase todos os vizinhos, e mesmo com o tempo seco”, conta ela. Seu filho, Guilherme, passou mal por sete dias. Durante esse período, não conseguiu trabalhar: “Nem levantava da cama, fiquei bem fraco, tamanha a desidratação”, afirma o jovem de 27 anos, analista de tecnologia da informação. Em janeiro, Maria Denice Lima e sua filha também adoeceram. “Fiquei mal por uns 30 dias, apresentei muitos sintomas e perdi 5 quilos. Dos moradores de Bilac, quase todos foram infectados pelo mosquito”, afirma Denice.
São Paulo lidera ranking de óbitos, seguido por Minas. Os dois estados somam 255 óbitos — a maioria das vítimas tinha mais de 60 anos
Maior gravidade
“Desde a década de 1990 enfrenta-se a dengue. A gente convive com a doença o ano todo, numa situação endêmica”, afirma Luzia Passos, diretora do departamento de Vigilância e Planejamento da Secretaria Municipal da Saúde de Ribeirão Preto. “Em 2019, só identificamos o sorotipo 2, que predomina em todos os estados, e encontramos pessoas muito vulneráveis”. Na cidade, em anos anteriores, houve contaminação dos sorotipos 1, 3 e 4. Quem já contraiu algum deles no passado tem mais chances de adquirir a versão mais grave da doença, que era chamada de hemorrágica. Além dos sintomas básicos, ela envolve também sangramentos, palidez, sudorese, dificuldade de respirar e comprometimento de alguns órgãos. Esse quadro pode evoluir para óbito.
ESFORÇO A Prefeitura de Belo Horizonte em parceria com o Exército monta “dengário” para atender doentes: força tarefa (Crédito:Cristiane Mattos/ O Tempo)
Entre outros agravantes que levaram à atual situação , para além das políticas adotadas pelo poder público e da chegada do novo sorotipo, estão a alta infestação do vetor, um movimento migratório intenso, as chuvas e o longo período de calor que passou pelo outono e se estendeu, até recentemente, pelo inverno. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o verão de 2019 foi o quinto mais quente da história no estado de São Paulo. Com esse cenário, a epidemia começou mais cedo e deve terminar tardiamente. Outro fator é a falta de planejamento urbano que leva à formação de água parada, fonte para a reprodução do vírus da doença. Para piorar, em alguns lugares do País, falta inseticidas para combater o mosquito. No começo de junho, o Ministério Público Federal cobrou o Ministério da Saúde sobre a falta do produto, que é fornecido pelo governo federal e combate o mosquito na fase alada. No Congresso Nacional, a dengue chamou a atenção de alguns deputados. Em um pronunciamento no plenário do Senado, a parlamentar Zenaide Maia (Pros-RN) lamentou que o governo federal não tenha feito ainda uma campanha de prevenção em nível nacional. “Não é possível que a gente continue vendo pessoas morrerem de morte evitável. Nós sabemos quem é o inimigo, onde mora e o que o faz se reproduzir. Só existe uma maneira de evitar que pessoas morram por dengue: é fazendo uma campanha educativa nas escolas e junto à toda população”, alertou. Enquanto isso não acontece, a doença se prolifera e mata e só resta à população esperar o inverno chegar para que os mosquitos sucumbam. No próximo verão, porém, é bom se preparar porque eles estarão de volta.
O verão de 2019 foi o quinto mais quente da história. Por causa do calor, a epidemia começou cedo e vai terminar mais tarde

terça-feira, 2 de julho de 2019

Ajuste o lanche no trabalho de forma saudável

Dá pra evitar que uma boquinha no meio do expediente detone a dieta. Aprenda o que manter no cardápio e o que é melhor comer sem exageros

Pesquisadores dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), nos Estados Unidos, alertam: para reduzir os altos índices de obesidade e doenças como diabetes e câncer, os empregadores deveriam implementar medidas a fim de oferecer opções atraentes e saudáveis em cafeterias e máquinas automáticas.
É que, ao analisar os dados de 5 222 pessoas, eles observaram que quase um quarto obtém alimentos e bebidas no trabalho pelo menos uma vez por semana — resultando em quase 1 300 calorias, embutidas em refrigerantes, biscoitos e batatas fritas.
A nutricionista Camila Gracia, de São Paulo, pondera: “Sempre é possível levar snacks saudáveis de casa. E, na lanchonete, dá para pedir uma salada de frutas em vez do pão de queijo de todo dia”. Estratégias assim evitam que a paradinha para comer no meio do trabalho arruíne uma rotina saudável.

Saboreie sem culpa

Frutas e palitos de legumes: se for levar de casa, planeje. Ou seja, compre, deixe tudo lavado e fatiado.
Sanduíche leve: a escolha dos ingredientes é crucial. Opte por pão integral e recheios como ricota ou queijo branco.
Mix de nuts: castanhas e nozes reúnem fibras e gordura monoinsaturada, que reduzem o colesterol ruim.
Chips variados: de batata-doce, banana ou mandioquinha, são fáceis de preparar. E não faltam boas opções prontas no mercado.

É bom não abusar

Salgadinhos: em geral são feitos com farinha branca e fritos. Sem contar os de saquinho, repletos de sódio.
Achocolatado: na caixinha ou batida com leite, a bebida leva doses excessivas de açúcar — e inclui pitadas de sódio.
Doces: além do açúcar, a presença de ingredientes gordurosos, como manteiga e creme de leite, alavanca o colesterol.
Biscoitos recheados: o perigo está na carga elevada de gordura (trans ou saturada).