domingo, 30 de junho de 2013

Muita fibra contra o câncer

Estudos quentíssimos sugerem que, além de evitar o aparecimento de tumores no intestino, a substância protege a mama, o pâncreas... por Thaís Manarini | fotos Alex Silva
À primeira vista, alimentos como goiaba, cebolinha, cenoura, tangerina, soja, arroz integral e aveia não têm nada em comum. Mas, perdoe-nos pelo clichê, as aparências enganam. É que esses itens — e muitos outros — são carregados de fibras, substâncias valiosas. Entre seus feitos estão o estímulo da saciedade, a melhora do funcionamento do intestino e a proteção contra câncer nesse órgão. Agora a ciência acaba de apontar, veja só, que elas também previnem tumores no pâncreas e na mama. No mínimo.

Vem do Colégio Imperial de Londres e da Universidade de Leeds, na Inglaterra, o estudo que associou o consumo de fibras a uma menor incidência de tumores mamários. Para realizá-lo, os pesquisadores esmiuçaram 16 trabalhos sobre o tema. “Notamos que a ingestão diária de 10 gramas de fibras solúveis derruba em 26% o risco de o mal se desenvolver. Ainda não sabemos por que as insolúveis não promoveram o mesmo benefício”, conta Dagfinn Aune, líder do projeto.

Uma das hipóteses levantadas para explicar tal façanha é que as fibras reduziriam o estrogênio que perambula pelo sangue. É que elas prejudicam a ação de uma enzima responsável por quebrar o hormônio para facilitar sua absorção. Assim, boa parte dele vai embora junto com as fezes. Mas há um mistério: “Em pesquisas com cobaias, tanto as fibras solúveis como as insolúveis causaram esse efeito”, pondera a nutricionista oncológica Thais Manfrinato Miola, do Hospital A.C. Camargo, na capital paulista.

Se você está se perguntando por que é importante evitar picos de estrogênio, fique sabendo que ele incita a proliferação das células mamárias, independentemente de serem normais ou cancerosas. “Sabe-se que outros hormônios agem assim, ou seja, estimulam a multiplicação celular. Então, quando eles estão controlados, o risco de desenvolver câncer diminui”, explica Fábio Gomes, nutricionista do Instituto Nacional de Câncer (Inca).


Mais fibras, menos insulina

Só para constar, outro hormônio intimamente relacionado ao câncer de mama é a insulina, responsável por botar a glicose dentro das células. E as fibras dão um jeito nela também. Afinal, retardam o esvaziamento gástrico — em outras palavras, você fica com o estômago cheio por mais tempo —, o que torna a absorção de açúcar mais lenta. Diante disso, não há necessidade de ter um monte de insulina circulando.

E, por falar em barriga bem forrada, está aí outro fator que, indiretamente, é capaz de afastar a ameaça do câncer mamário. É que a obesidade e essa doença caminham lado a lado. Quando a dieta é rica em fibras, fica mais fácil escapar dos ataques à geladeira e, dessa forma, administrar o ponteiro da balança. “Mas, se uma mulher está 40 quilos acima do peso, não adianta só apostar nas fibras. O consumo isolado da substância não contrabalançará todos os outros problemas”, avisa Artur Katz, coordenador do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.

Já no Centro de Referência Oncológico de Aviano, na Itália, os cientistas voltaram suas atenções para a relação entre uma dieta campeã em fibras e o aparecimento de câncer no pâncreas. Para explorá-la, eles avaliaram a dieta de 326 pacientes diagnosticados com a doença e 652 indivíduos saudáveis. Foi quando notaram que o consumo da versão solúvel fez despencar em 60% a probabilidade de tumores surgirem no órgão. A insolúvel, por sua vez, diminuiu o perigo em 50%.

Ao que tudo indica, a partir do momento em que tais substâncias passam a controlar a produção e a liberação desenfreada de insulina, evitam não só o boom de células malignas nas mamas como também no pâncreas. “Isso não está 100% comprovado, mas é uma teoria que ganha força”, avalia Paulo Hoff, diretor do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês. “E esse mecanismo provavelmente garante proteção contra vários outros tipos de tumores”, completa Fábio Gomes, do Inca.
Outra explicação plausível para essa blindagem é a capacidade que as fibras têm de aliviar o engarrafamento que muitas vezes atravanca o trânsito intestinal. “Elas não permitem que o organismo tenha tempo de absorver agentes potencialmente cancerígenos. Dessa maneira, os inimigos são rapidamente eliminados”, esclarece a nutricionista Juliana Pereira Lima Gropp, do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp).

Ainda que as evidências deem às fibras o troféu de anticancerígenas, Artur Katz pede cautela ao discutir seus efeitos: “Elas podem ser indicadores de outros comportamentos benéficos, já que as pessoas que capricham no seu consumo geralmente seguem um estilo de vida mais saudável, com dieta balanceada e prática de exercícios físicos”.

Sem contar que as substâncias são encontradas em leguminosas, frutas e hortaliças, alimentos abastecidos de uma variedade de compostos considerados aliados no combate a tumores, como quercetina, betacaroteno e licopeno. Portanto, é necessário avançar nas investigações para confirmar se as benesses alardeadas por todos esses estudos são causadas só pelas fibras.

De qualquer forma, sua ingestão é mais do que incentivada pelos especialistas ouvidos nesta reportagem. Nem tem como ser diferente. Afinal, como ficou claro, elas estão alojadas em alimentos de alto valor nutricional — e apostar neles possivelmente freia a procura por itens pouco saudáveis, como os industrializados cheios de gordura e açúcar.

 Uma dica: 25g é o consumo diário de fibras considerado ideal pela Organização Mundial da Saúde

Ao mexer no cardápio, não se esqueça de molhar a garganta com bastante água, chás e sucos. “O líquido é esssencial para que as fibras solúveis se transformem em gel e as insolúveis formem fezes macias”, informa a nutricionista Michele Trindade, da Universidade Estadual de Londrina (UEL), no interior do Paraná. Só não enrole muito para mudar os hábitos. “A dieta deve ser equilibrada desde cedo para que exerça um papel realmente significativo na batalha contra o câncer”, adverte Paulo Hoff.



Aliadas na perda de peso

Decididamente, quem anseia por conquistar uma silhueta mais elegante não pode deixar as fibras de fora do cardápio. Uma refeição lotada delas demora a ser mastigada e também digerida. Como consequência, a sensação de saciedade dura mais tempo e a vontade maluca de comer não aparece tão cedo. “Além disso, ao caprichar em cereais, leguminosas, raízes e frutas, tende a haver uma redução no consumo de gorduras e açúcares”, lembra a nutricionista Paula Riccioppo, da clínica Be Healthy, no Rio de Janeiro. “Essa mudança contribui tanto para a perda quanto para a manutenção do peso ideal.”

Uma sugestão: para aumentar o consumo diário de fibras, salada sempre cai bem antes dos pratos principais


Duas versões da substância

- Solúveis
Ao entrar em contato com a água, elas formam uma espécie de gel, que promove saciedade e ajuda a controlar a presença de glicose no sangue, além de domar o colesterol. Nesse grupo, estão a pectina, a goma e a mucilagem, que dão as caras nas leguminosas, nas frutas e no farelo de aveia.

- Insolúveis
Não são nada viscosas e têm como principal função aumentar o bolo fecal e, assim, melhorar o funcionamento do intestino. Representadas pela celulose e pela lignina, são encontradas na camada externa de grãos e cereais, no farelo de trigo, na casca de frutas e na soja.


Por que elas não são nutrientes?

A explicação é simples: embora façam parte dos alimentos, as fibras são resistentes à digestão e não são absorvidas no intestino delgado. “É durante a própria passagem pelo trato digestório que interferem no aproveitamento de nutrientes e ajudam no combate a doenças”, diz a nutricionista Michele Trindade, da UEL.


O ranking das fibras

1º Soja - 23,9 g em 1 concha média.
2º Grão-de-bico - 17,3 g em 1 concha média.
3º Ervilha - 13,5 g em 1 concha média.
4º Feijão-carioca - 11,9 g em 1 concha média.
5º Cereal à base de trigo - 11,5 g em 1/2 xícara de chá.


Elas estão abrigadas em vários alimentos

- 1 concha média de lentilha - 11,1 g.
- 1 goiaba branca - 10,7 g.
- 1 colher (sobremesa) de cebolinha - 6,4 g.
- 1 mexerica - 4,19 g.
- 1 pera - 3,3 g.
- 1 colher (sopa) de semente de linhaça - 3,3 g.
- 1 colher (sopa) de farelo de trigo - 3,1 g.
- 1 colher (sopa) de abacate - 2,83 g.
- 1 maçã argentina - 2,6 g.
- 1 laranja com membrana - 2,6 g.
- 5 folhas de couve-manteiga - 2,35 g.
- 3 colheres (sopa) de batata-doce cozida - 1,98 g.
- 1 escumadeira de arroz integral - 1,62 g.
- 3 colheres (sopa)de beterraba crua - 1,62 g.
- 1 colher (sopa)de farinha de centeio - 1,5 g.
- 3 colheres (sopa)de mandioca - 1,44 g.
- 1 figo fresco - 1,4 g.
- 1 colher (sopa) de flocos de aveia - 1,37 g.
- 1 fatia de pão de fôrma integral - 1,3 g.
- 1 ameixa-preta seca - 1,2 g.
- 3 colheres (sopa) de cenoura ralada - 1,14 g.
- 3 folhas de alface lisa - 1,05 g.
- 1 colher (sopa) de farelo de aveia - 1,02 g.
- 3 colheres (sopa) de brócolis cozidos - 1 g.
- 1 escumadeira de arroz branco - 0,96 g.

sábado, 29 de junho de 2013

Governo vai aumentar bolsa de residência médica em 24,8%

Anúncio do Ministério da Saúde acontece no momento em que o governo é criticado por seu plano de importar médicos formados no exterior

CFM: Presidente do órgão defende que médicos conveniados passem a cobrar por consultas. Dessa forma, planos de saúde cobririam apenas outros procedimentos
A partir da próxima segunda-feira, os 23.134 médicos residentes do país deverão passar a receber 2.976,26 reais por mês (Thinkstock)
A bolsa de residência médica será reajustada em 24,8% a partir da próxima segunda-feira. A medida beneficiará 23.134 residentes, que passarão a receber 2.976,26 reais por mês, segundo o Ministério da Saúde. A bolsa é paga aos profissionais que estão cursando residência médica e de outras áreas da saúde. "Este é o maior reajuste já feito no valor da bolsa", afirma a nota divulgada pelo Ministério.
O reajuste foi anunciado, justamente, no momento em que o governo sofre críticas de diversas entidades médicas por causa da determinação em permitir a entrada de médicos estrangeiros no país. Nesta sexta-feira, inclusive, médicos-residentes fizeram um protesto em Brasília, se dirigindo à Esplanada dos Ministérios em meio a gritos de "Ei, Dilma, vai tratar do SUS". O ato terminou em frente ao Palácio do Planalto.
Bolsa - A nota divulgada pelo Ministério da Saúde informa que o aumento da bolsa de residência está previsto em uma Portaria Interministerial das pastas da Saúde e da Educação e começará a ser repassado a partir de segunda-feira. "Esse é o maior reajuste já dado aos residentes do país e vai impactar em 133,05 milhões de reais no Orçamento do Governo Federal", diz o texto.
O governo argumenta que a ação faz parte de uma série de medidas que estão sendo adotadas para estimular a formação de especialistas e aumentar o número de médicos no país. Segundo o documento, serão criadas 12.000 novas vagas de residência até 2017, das quais 4.000 já nos próximos dois anos. Além disso, está previsto um incentivo de 100 milhões de reais aos hospitais para expansão da oferta de cursos de residência. "Estamos atendendo a reivindicação dos residentes e criando alternativas para aumentar a qualificação dos profissionais de saúde no país. A nossa meta é ofertar uma vaga de residência para cada médico formado", afirma o ministro Alexandre Padilha, na nota.
(Com Estadão Conteúdo)

Vem aí uma vacina contra a diabetes

Cientistas anunciam a eficácia, em humanos, de um imunizante para o controle do tipo 1 da doença. Além disso, a ciência apresenta novos remédios e até a criação de pâncreas artificial

Monique Oliveira, de Chicago (EUA)
Pesquisadores da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, anunciaram na última semana um passo importante em direção à primeira vacina contra a diabetes. Os cientistas criaram um imunizante que se mostrou eficaz para controlar, em humanos, o tipo 1 da doença, que ocorre porque o sistema imunológico do próprio corpo passa a atacar as células beta, situadas no pâncreas, que fabricam a insulina. O hormônio permite a entrada, nas células, da glicose circulante na corrente sanguínea. Com menos insulina, há um acúmulo de açúcar no sangue, o que caracteriza a diabetes. O outro tipo, o 2, é resultado de alterações promovidas principalmente pela obesidade.
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A vacina impediu o ataque de um tipo de célula CD8 – integrantes do sistema imunológico – às células beta (leia mais no quadro). “Estamos muito excitados com o resultado. Sugere que o sonho de interromper o ataque do sistema imunológico a células específicas pode ser realizado”, afirmou Lawrence Steinman, um dos líderes da pesquisa realizada com 80 pacientes. Os cientistas planejam expandir os experimentos para investigar a eficácia do remédio em mais indivíduos.
Interromper a destruição comandada pelo corpo é um dos objetivos perseguidos por cientistas em todo o mundo. Recentemente, a Diabetes UK, entidade inglesa de combate à doença, anunciou um ambicioso projeto de pesquisa em busca de uma vacina com esse propósito. Por essa razão, o feito dos americanos foi saudado. “Pela primeira vez temos evidência da eficácia de uma vacina em humanos. É um passo significativo em direção a um mundo sem diabete tipo 1”, afirmou Karen Addington, especialista inglesa.
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CARDÁPIO
Teixeira cuida da alimentação para evitar crises de hipoglicemia
A notícia da vacina somou-se a outras boas novidades divulgadas na semana passada. Nos Eua, onde ocorreu o congresso da Associação Americana de Diabetes, anunciou-se entre os avanços (leia no quadro) a chegada de um pâncreas artificial, capaz de equilibrar os níveis de insulina no organismo. Produzido pela Medtronic, o aparelho está sob avaliação do Food and Drug Administration, órgão americano responsável pela liberação de aparelhos de saúde. “Essa tecnologia é um passo importante para a criação de um sistema de entrega de insulina mais inteligente”, disse Rich Bergenstal, investigador principal da pesquisa apresentada para a aprovação do dispositivo.
O pâncreas artificial é dotado de um sensor e um software acoplados a uma bomba de insulina e promove a liberação do hormônio de acordo com a necessidade. Dessa forma, diminui o risco de crises de hipoglicemia, um dos reveses mais comuns no controle da doença. “Alguns médicos até demoram a receitar a insulina, de tão complicado que pode ser sua aplicação”, diz o médico Freddy Eliaschewitz, de São Paulo, presente no encontro americano. O administrador de empresas Luiz Carlos Teixeira, 63 anos, de São Paulo, toma cuidado para não sofrer com o problema. “Procuro me alimentar bem”, diz.
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sexta-feira, 28 de junho de 2013

Teste genético pode prever se asma na infância pode persistir na vida adulta

Novo estudo americano estabeleceu uma pontuação para determinar esse risco: quanto mais variações genéticas associadas à doença a criança apresentar, maior sua propensão de crescer com o problema

Asma: o tratamento não adequado aumenta os custos da doença e os riscos da criança perder dias letivos
Asma: no futuro, teste genético poderá ajudar médicos a identificar crianças que crescerão com o problema (Thinkstock)
No futuro, um teste genético pode prever quais crianças com asma continuarão a ter problemas respiratórios quando se tornarem adultas. Segundo especialistas, isso poderá ajudar os médicos a identificar os pacientes que precisam de cuidados mais intensos na infância e, assim, reduzir o risco de a doença persistir a longo prazo. Essa conclusão faz parte de um novo estudo da Universidade Duke, nos Estados Unidos, que procurou por variações genéticas que estão relacionadas à persistência da asma ao longo da vida. A pesquisa foi publicada nesta quinta-feira na revista The Lancet Respiratory Medicine.

CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Polygenic risk and the development and course of asthma: an analysis of data from a four-decade longitudinal study

Onde foi divulgada: periódico The Lancet Respiratory Medicine

Quem fez:  Daniel Belsky, Malcolm Sears, Robert Hancox, HonaLee Harrington, Renate Houts, Terrie Moffitt, Karen Sugden, Benjamin Williams, Richie Poulton e Avshalom Caspi

Instituição: Universidade Duke. Estados Unidos, e outras

Dados de amostragem: 880 pessoas com asma

Resultado: Um teste genético poderia prever quais crianças asmáticas têm um maior risco de seguir com o problema na vida adulta. Isso porque aquelas que apresentaram mais variações genéticas entre 15 associadas à doença foram mais propensas a seguir com problemas respiratórios depois de quase 40 anos
Segundo o Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC, sigla em inglês), órgão de saúde dos Estados Unidos, a asma atinge uma em cada 11 crianças, e metade delas continua sofrendo com o problema quando adultas.
O estudo, feito durante 40 anos, desenvolveu uma pontuação baseada em 15 variações genéticas que haviam sido previamente associadas à asma. Os pesquisadores observaram como a quantidade dessas variantes estava relacionada aos sintomas da doença apresentados ao longo dos anos por 880 pessoas com asma.
Pontuação de risco — Quanto maior a ‘pontuação genética’ do individuo, maior o seu risco de crescer com asma. Isso porque as crianças que apresentaram as maiores pontuações – ou seja, mais variações genéticas relacionadas à doença — também foram mais propensas a continuar apresentando sintomas da condição depois de quase 40 anos de estudo. Além disso, essas crianças tiveram um risco maior do que as outras de faltar na escola ou de ser hospitalizadas por causa dos sintomas.
Segundo os autores do estudo, o histórico de asma na família não parece interferir nessa ‘pontuação genética’, sugerindo que muitos casos da doença ocorrem devido a fatores ambientais, como a exposição à poluição ou a outras substâncias ligadas a problemas respiratórios.
“Acho que estamos vendo cada vez mais medicina genômica com o tempo, principalmente no tratamento do câncer. Ela ainda não entrou no tratamento contra a asma, mas eu acredito que isso vai acontecer. O nosso estudo mostra que isso é possível”, diz Dan Belsky, que coordenou o estudo.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

"Medidas para a saúde são eleitoreiras", diz presidente do Conselho Federal de Medicina

Para Roberto Luiz D'Ávila, as medidas anunciadas pelo Ministério da Saúde "parecem ser de pessoas que ainda estão em campanha"

Jones Rossi e Mariana Janjacomo
O presidente do Conselho Federal de Medicina, Roberto Luiz d'Avila
O presidente do Conselho Federal de Medicina, Roberto Luiz d'Avila: "medidas são eleitoreiras e midiáticas" (Valter Campanato/ABr)
As medidas anunciadas nesta terça-feira pelo Ministério da Saúde não foram bem recebidas pelas entidades médicas nacionais. Mesmo o plano de criar 12.000 vagas para residência médica até 2017 foi considerado como uma medida "eleitoreira" e "midiática" pelo presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Roberto Luiz D'Ávila. Além do plano, foi especialmente criticada a insistência do governo em trazer médicos estrangeiros para trabalhar no interior e nas periferias.
A vinda de médicos de fora do país seria necessária, segundo o ministro da saúde, Alexandre Padilha, porque a ampliação de vagas não será suficiente para suprir a demanda por médicos. O argumento é refutado por Geraldo Ferreira, presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fenam). "Nós temos, por ano, 16.000 médicos sendo lançados no Brasil. Até 2014, então, teremos 32.000 novos médicos. Nós sabemos que, constitucionalmente, é permitido ao médico ter dois vínculos de trabalho, então, se multiplicarmos 32.000 por 2, teríamos médicos suficientes para ocupar 64.000 postos de trabalho. Não há insuficiência para que seja necessário contratar médicos estrangeiros."
Residência — Para Geraldo Ferreira, da Fenam, a abertura das 12.000 vagas para residência médica é bem vinda, "se for parte de um esforço de recuperação da rede existencial e formadora brasileira. Se for simplesmente para fazer de conta que estamos abrindo vagas, sem ter condições para isso, estaremos, na verdade, criando mais um problema."
Já Roberto Luiz D’Ávila, do CFM, mostrou-se apreensivo com as condições das vagas de residência que serão criadas. "Eu fico muito preocupado quando um ministro anuncia 12.000 vagas de residência. Onde e em que condições serão criadas? E a Comissão Nacional de Residência Médica, na qual o CFM tem assento? Eles vão passar por cima dela? A Comissão não vai avaliar os serviços para dizer se são bons ou não?”, questiona.
Segundo D’Ávila, a Comissão Nacional de Residência Médica tem descredenciado serviços que não apresentam condições. "Até hospitais famosos, de boa história, estão tendo seus serviços de residência fechados pela falta de condições". A causa dos fechamentos seria o subfinanciamento da saúde, o mau gerenciamento, a incompetência administrativa e a falta de materiais e equipamentos.
"A saúde precisa de uma atitude estruturante, definitiva, uma política de Estado, e não midiática, eleitoreira. As respostas do governo ao clamor das ruas parecem ser de pessoas que ainda estão em campanha. É tudo no papel, tudo na boca e, amanhã, vemos que não é nada disso. Efetivamente nada acontece. Nada muda", afirmou D'Ávila.

Derrames podem ser prevenidos com remédios combinados, sugere estudo

Pacientes que usaram aspirina e um anticoagulante tiveram menos AVCs.
Testes foram realizados em 5.170 pacientes chineses.

Do G1, em São Paulo
Um teste clínico realizado na China demonstrou que a aspirina aliada ao clopidogrel, medicamento anticoagulante, funciona melhor na prevenção contra acidente vascular cerebral (AVC). Os dados foram publicados no periódico "New England Journal of Medicine".
O estudo foi feito com 5.170 pacientes chineses que registraram pequenos AVCs. Durante três meses, metade dos pacientes foi tratada com uma combinação de aspirina e clopidogrel. A outra metade tomou apenas aspirina.
Segundo especialistas, este período de 90 dias após o registro de um AVC é considerado o mais importante para evitar outro ataque mais grave. Segundo os autores, entre 10% e 20% dos pacientes que sofreram um leve AVC pode ter outro neste prazo.
O clopidogrel é comercializado nos EUA como Plavix pelo laboratório Bristol Myers Squibb e versões genéricas estão disponíveis.

Resultados
Segundo o estudo, dos participantes que tomaram a combinação de medicamentos, apenas 8,2% sofreram outro ataque cerebral no período citado. Daqueles que ingeriram apenas a aspirina, o segundo AVC atingiu 11,7% dos pesquisados.
Se os testes forem confirmados em novos exames que estão sendo realizados nos Estados Unidos, a combinação usando clopidogrel e aspirina pode mudar o padrão de cuidados, afirmam especialistas. "Os resultados foram surpreendentes", disse Claiborne Johnston, professor de Neurologia da Universidade da Califórnia, em São Francisco, coautor do estudo.
Saiba como se prevenir
Os AVCs ocorrem quando o fornecimento de sangue para o cérebro é interrompido por um coágulo ou um vaso rompido. Segundo a Federação Mundial do Coração, cerca de 15 milhões de pessoas sofrem AVCs em todo o mundo, que deixam quase seis milhões de mortos e cinco milhões de incapacitados permanentes.
Arte Bem Estar AVC (Foto: Arte/G1)
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quarta-feira, 26 de junho de 2013

O cabeleireiro pode salvar a sua vida


Thinkstock
Por mais dramático que o título possa parecer, ele é verdadeiro. Enquanto acerta o tom da tintura, lava, capricha no corte e filosofa com você sobre a vida, seu cabeleireiro não arreda o olhar do seu couro cabeludo. Pode então acontecer uma feliz coincidência: aquela pinta no alto de sua cabeça ou na sua nuca chama a atenção dele. Porque não estava lá quando ele cuidou dos seus cabelos da última vez. Ou estava lá, mas era bem menor. Daí, entre uma dica dele e a consequente visita ao dermatologista vai um pequeno passo. Que pode fazer toda a diferença no futuro.
De acordo com a  Sociedade Americana de Câncer, o câncer de pele responde por quase metade de todos os tipos de câncer nos Estados Unidos. E mais: cerca de 10% das mortes por melanoma têm sua origem no couro cabeludo e na nuca.
Uma pesquisa publicada na revista americana Archives of Dermatology indicou que metade dos cabeleireiros consultados tem interesse em participar de um programa de detecção de câncer de pele. Os autores dessa pesquisa decidiram iniciar um programa  para barbeiros e cabeleireiros, com a finalidade  de capacitá-los a detectar suspeitas de câncer de pele em cabeça e nuca, lugares de difícil auto-observação.
Não é uma boa trazer essa ideia para o Brasil?
Por Lucia Mandel

terça-feira, 25 de junho de 2013

Equipe cria bomba de insulina que se aproxima de um pâncreas artificial

Tecnologia libera insulina no sangue de pessoas com diabetes tipo 1 e se desliga automaticamente quando as taxas de açúcar estão ideais, evitando episódios de hipoglicemia

Injeções de insulina
Injeções de insulina: Procedimento faz parte de tratamento contra o diabetes (Thinkstock)
Uma equipe de pesquisadores desenvolveu um dispositivo capaz de detectar os níveis de açúcar presente na corrente sanguínea de uma pessoa com diabetes tipo 1 e, a partir disso, regular a liberação de insulina, o hormônio que ajuda a controlar a taxa de glicose no sangue, pelo pâncreas. A ideia é que a tecnologia entenda quando a taxa de açúcar no sangue está ideal e interrompa a liberação do hormônio nesses momentos, evitando episódios de hipoglicemia.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Threshold-Based Insulin-Pump Interruption for Reduction of Hypoglycemia

Onde foi divulgada: periódico The New England Journal of Medicine

Quem fez: Richard M. Bergenstal, David C. Klonoff, Satish K. Garg, Bruce W. Bode, Melissa Meredith, Robert H. Slover, Andrew J. Ahmann, John B. Welsh, Scott W. Lee e Francine R. Kaufman

Instituição: Associação Americana de Diabetes; Centro de Diabetes da Universidade da Califórnia, San Francisco, Estados Unidos; e outros

Dados de amostragem: 247 pessoas com diabetes tipo 1

Resultado: Um dispositivo que libera insulina na corrente sanguínea para controlar a taxa de açúcar no sangue, mas que se desliga automaticamente quando esses níveis estão ideais, reduz episódios de hipoglicemia em 32% em comparação com bombas de insulina existentes.
O dispositivo, desenvolvido pela farmacêutica Medtronic, foi descrito em um artigo publicado neste final de semana na revista The New England Journal of Medicine. Segundo os autores do estudo, a tecnologia representa um passo em direção à criação de um pâncreas artificial.
A doença — A insulina, hormônio produzido pelo pâncreas, ajuda a glicose a sair da corrente sanguínea e entrar nas células, fornecendo uma fonte de energia a diversos tecidos do corpo e controlando a taxa de açúcar no sangue.
Em pessoas com diabetes tipo 1, a produção de insulina pelo pâncreas é insuficiente, o que acaba aumentando os níveis de glicose na corrente sanguínea. O tratamento contra a doença envolve bombas de insulina, que liberam o hormônio conforme sua programação. No entanto, essa terapia, ao mesmo tempo em que reduz os níveis de açúcar na corrente sanguínea, eleva o risco de episódios de hipoglicemia (pouco açúcar no sangue). Por isso, pessoas com a condição precisam monitorar os seus níveis de açúcar no sangue várias vezes ao dia.
Regulação automática — O novo dispositivo, portanto, é uma variação ‘inteligente’ das bombas de insulina já existentes. Do tamanho de um celular, ele é inserido abaixo da pele do abdômen, braço ou da coxa. Assim como as bombas existentes, o dispositivo também libera o hormônio na corrente sanguínea para reduzir a taxa de glicose no sangue. Porém, a nova tecnologia se desliga automaticamente quando esses níveis estão ideais, evitando, assim, a hipoglicemia, problema que pode causar convulsões, episódios de inconsciência e danos cerebrais.
O artigo publicado pelos autores mostra os resultados de um teste clínico do dispositivo que, ao todo, envolveu 247 pessoas com diabetes tipo 1. Segundo a pesquisa, os participantes que fizeram uso do dispositivo tiveram quase 32% menos episódios de hipoglicemia do que o restante dos indivíduos. 
"Os resultados do estudo são importantes pois estamos caminhando em direção ao nosso objetivo de desenvolver um sistema totalmente automatizado, ou pâncreas artificial, que no futuro exigirá interação mínima do paciente", disse Francine Kaufman, endocrinologista e vice-presidente de assuntos médicos globais da Medtronic.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Cientistas criam mapa 3D do cérebro em alta resolução

O "Big Brain" é o mais detalhado mapa do cérebro humano já desenvolvido e contém 100.000 vezes mais dados do que uma ressonância magnética

Mapa do cérebro
Mapa do cérebro: o Big Brain foi criado a partir de 7.400 pedaços extremamente finos do cérebro de uma doadora (Amunts, Zilles, Evans et al. )
Cientistas do Canadá e da Alemanha criaram o mais detalhado mapa do cérebro humano já desenvolvido. O modelo em 3D, que levou dez anos para ficar pronto, foi feito com base em imagens do cérebro de uma mulher que faleceu aos 65 anos. O Big Brain (Grande Cérebro), como foi denominado o projeto, tem como objetivo facilitar o estudo de doenças cerebrais, como Alzheimer e Parkinson, e poderá ser utilizado por pesquisadores do mundo todo.

CONHEÇA A PESQUISA

Título original: BigBrain: An Ultrahigh-Resolution 3D Human Brain Model

Onde foi divulgada: periódico Science

Quem fez: Katrin Amunts, Claude Lepage, Louis Borgeat, Hartmut Mohlberg, Timo Dickscheid, Marc-Étienne Rousseau, Sebastian Bludau, Pierre-Louis Bazin, Lindsay B. Lewis, Ana-Maria Oros-Peusquens, Nadim J. Shah, Thomas Lippert, Karl Zilles e Alan C. Evans

Instituições: Universidade Heinrich Heine de Düsseldorf, na Alemanha, Universidade McGill em Montreal, Canadá e outras

Dados de amostragem: Cérebro de uma mulher que faleceu aos 65 anos de idade

Resultado: Os pesquisadores criaram o mapa tridimensional do cérebro humano mais detalhado já feito.
O projeto foi iniciado em 2003 por pesquisadores da Universidade Heinrich Heine de Düsseldorf , na Alemanha, e da Universidade McGill em Montreal, Canadá. O Big Brain mostra os neurônios individuais e as conexões que existem entre eles e, segundo seus criadores, é 50 vezes mais detalhado do que as tentativas anteriores de mapeamento cerebral e contém 100.000 vezes mais dados do que uma ressonância magnética tradicional. O artigo que descreve o projeto foi publicado nesta sexta-feira, na revista Science.
Scanner cerebral – Para o desenvolvimento do projeto, foi escolhido o cérebro de uma doadora que não apresentava sinais de doença degenerativa ou outros danos ao órgão. O cérebro foi preservado em formol durante vários meses e depois foi meticulosamente seccionado em 7.400 fatias da espessura de um fio de cabelo (cerca de 20 micrômetros), para que nenhum detalhe fosse perdido. Todos os cortes foram digitalizados com um scanner de alta resolução e o cérebro foi reconstituído.
O resultado é um modelo anatômico das estruturas do cérebro, no qual os cientistas podem inserir informações adicionais sobre variados aspectos. Os criadores do projeto planejam colocá-lo à disposição do público através do portal CBRAIN, mediante cadastro gratuito, a fim de facilitar o trabalho de pesquisadores de todo o mundo.
"Nós elevamos o nível de percepção a uma magnitude além do que era possível na virada do século XX", afirmou Alan Evans, professor do Instituto Neurológico de Montreal, na Universidade McGill, e um dos autores do estudo. "Este conjunto de dados vai revolucionar nossa habilidade para compreender a organização interna cerebral", acrescentou.
Katrin Amunts, pesquisador da Universidade de Düsseldorf e coautor do projeto, afirma que pretende criar outros mapas no estilo do Big Brain, com o cérebro de um homem e de uma pessoa mais jovem, a fim de capturar possíveis diferenças relacionadas com o sexo e o desenvolvimento etário.
EUA – Em paralelo, cientistas dos EUA trabalham em outro mapa do cérebro humano, pensado para ajudar na cura de doenças como o Alzheimer e a epilepsia, em uma iniciativa anunciada em abril pelo presidente Barack Obama, que conta com um investimento inicial de US$ 100 milhões.(Com agências France-Presse e Efe)

domingo, 23 de junho de 2013

Entenda o que é o refluxo

Vinte milhões de brasileiros sofrem com aquela queimação no tórax que delata o problema, embora muitos não desconfiem do motivo nem o levem tão a sério por Diogo Sponchiato | fotos Eduardo Svezia
Vinte milhões de brasileiros sofrem com aquela queimação no tórax que delata o problema, embora muitos não desconfiem do motivo nem o levem tão a sério. Mas saiba que consertá-lo é o caminho para apagar a azia e evitar que o incêndio culmine em doenças como o câncer.

A sensação, bastante corriqueira, é a de que a refeição não caiu muito bem e ainda por cima quer voltar. Acompanhada desse tráfego às avessas, vem a queixa de que acionaram um lança-chamas dentro do tórax. O desconforto frequente, às vezes escoltado por uma dor no peito, sinaliza que uma confusão foi armada no esôfago, o tubo muscular encarregado de transportar os alimentos até o estômago. E a causa do suplício tem nome e sobrenome: refluxo gastroesofágico. "É o problema digestivo mais comum nos países ocidentais", afirma o gastroenterologista Ary Nasi, assessor médico do Laboratório Fleury, em São Paulo.

A doença, negligenciada por muita gente, parece estar em franca ascensão. Isso porque anda de braços dados com maus hábitos que, infelizmente, permanecem em voga: a dieta gordurosa, o sedentarismo e o resultado dessa combinação, a obesidade. Antes que um hipocondríaco se atreva a se autodiagnosticar, vale esclarecer que, se o fogaréu capaz de escalar abdômen acima ocorre somente de vez em quando, sobretudo depois daquela feijoada, trata-se de algo natural. "Todos nós temos esse refluxo ocasional", tranquiliza o gastroenterologista Cláudio Bresciani, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, na capital paulista.

O problema nasce quando essa tortura é recorrente e não depende só dos exageros à mesa. "Se acontecer mais de uma vez por semana, há uma suspeita da doença", esclarece Nasi, que também atua no Hospital das Clínicas de São Paulo. Tudo acontece porque o esfíncter, uma válvula que fica na divisa entre o esôfago e o estômago, relaxa demais em momentos inoportunos. "Sua função é impedir a volta da comida", diz Bresciani. Ao perder a pressão, porém, ele deixa de funcionar direito e permite que o conteúdo gástrico retorne, contrariando a lei da gravidade.

O azar é do esôfago. "Ele não está acostumado a conviver com a acidez que vem do estômago", observa o gastroenterologista José Galvão Alves, da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro. O suco gástrico, essencial para a quebra dos alimentos, agride o tubo - e o pior é que ele pode subir com pedaços de comida. Com o tempo, o esôfago fica refém de uma inflamação permanente, o que cria um ambiente perfeito para tumores. "A irritação pode levar a alterações no órgão típicas de um quadro chamado esôfago de Barrett, o que aumenta o risco de um dos tipos mais comuns de câncer ali", alerta o cirurgião oncológico Felipe Coimbra, diretor do Departamento de Cirurgia Abdominal do Hospital A.C. Camargo, em São Paulo.

Mas por que cargas d’água o refluxo se torna uma pedra no esôfago de tanta gente? "Uma das principais razões é o esfíncter incompetente", aponta José Galvão Alves. O termo é aplicado quando a válvula afrouxa espontaneamente, deixando a acidez cair na contramão. "O álcool e o cigarro também favorecem seu relaxamento", lembra Ary Nasi. Essa porteira abre sem necessidade por outro motivo: a hérnia de hiato. "Ela acontece quando um pedaço do estômago escapa da musculatura do diafragma e fica fora do lugar", descreve Nasi. Nesse cenário, mais habitual entre os obesos, o conteúdo gástrico reflui facilmente e o esfíncter não consegue freá-lo.

Flagrar o refluxo não é importante apenas para abrandar o incêndio. "Além da inflamação no esôfago, a doença pode influenciar crises de asma, corromper o esmalte dentário e causar tosse crônica e rouquidão", enumera Galvão. A via-crúcis do diagnóstico começa, é claro, com a história do paciente. O primeiro exame requisitado é a endoscopia, que avalia se há uma irritação no esôfago. "Mas um resultado normal não afasta o refluxo", diz Nasi. Para esclarecer a dúvida, os médicos recorrem à pHmetria. "Trata-se de um equipamento instalado no tubo que, ao longo de 24 horas, mede a acidez bem ali", explica Cláudio Bresciani. Mais um método ainda pode ser convocado, a impedanciometria, que apura a quantidade e a intensidade dos refluxos.

Detectado o problema, aí, sim, os especialistas traçam a estratégia terapêutica. "Nove em cada dez pacientes se beneficiam do tratamento clínico", conta Bresciani. Ele é composto de drogas via oral conhecidas como inibidores da bomba de próton, cujo objetivo é diminuir a concentração do ácido no estômago. Sozinhos, no entanto, não fazem milagre - são essenciais alguns arranjos na rotina (veja quadro abaixo). Um novo estudo da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, mostra que, seguidas à risca, mudanças de hábito associadas ao medicamento aumentam as chances de sucesso: aí, dois terços dos pacientes se livram da queimação.

Há casos, porém, que exigem cirurgia para fazer uma reforma entre o esôfago e o estômago, recobrando a pressão da válvula e, se preciso, corrigindo uma hérnia de hiato. Tudo isso é feito por laparoscopia, ou seja, demanda pequenos cortes para ser executada. No campo da pesquisa, há quem fale em procedimentos por endoscopia, em que não existiram nem sequer furos. "Mas até o momento os resultados não são tão bons", comenta Bresciani. Na seara dos remédios, não cessa a busca por fórmulas mais eficazes. "Existem estudos com drogas que agem diretamente no esfíncter", conta Nasi. Mas, se somarmos um estilo de vida saudável aos recursos já disponíveis, não é nenhuma missão impossível botar ordem nesse trânsito caótico e abrasador.

Conheça quem está mais sujeito ao refluxo:

Obesos
Eis mais um transtorno a ser incluído na lista de problemas comuns a quem está acima do peso. O excesso de gordura acarreta um aumento da pressão dentro do abdômen, contribuindo para que o conteúdo gástrico escoe em direção ao esôfago. Daí, é refluxo na certa.
Grávidas
A exemplo dos gordinhos, mulheres que carregam uma criança dentro do ventre têm de suportar uma maior pressão intra-abdominal. Isso facilita a expulsão do conteúdo gástrico no sentido contrário, atrapalhando o trabalho do esfíncter.
Bebês
Neles, o retorno da comida é fruto da imaturidade do esfíncter. "Metade dos pequenos regurgita até os 6 meses, o que é normal", diz a pediatra Tania Quintella, da Sociedade de Pediatria de São Paulo. "Só cogitamos a presença de uma doença se houver outro sintoma, como tosse, chiado no peito e baixo ganho de peso."

É só azia ou não é?

Costumamos recorrer a essa palavra para nos queixar de que uma fogueira foi acesa dentro do tórax, principalmente depois de um grande banquete. Nem sempre, porém, o ardor indica refluxo. "O termo azia, na verdade, quer dizer azedume na boca, mas passou a ser empregado como sinônimo de queimação na boca do estômago", diz o gastroenterologista Ary Nasi. As labaredas que caracterizam o refluxo não tendem a ficar concentradas somente nessa região. A impressão é que elas pegaram um elevador com destino à garganta. Não bastasse o peito em chamas, o refluxo ainda pode ser marcado por dores no tórax, dificuldade para engolir, gosto amargo na boca, irritação na garganta e, claro, a sensação de retorno da comida.

Medidas antirrefluxo

• Não beba muito líquido nas refeições, mastigue bem os alimentos e evite comer demais.
• Reduza a gordura do cardápio - ela torna a digestão mais lenta, favorecendo o refluxo.
• Maneire nas bebidas gasosas, como refrigerantes e cervejas.
• Não abuse de alimentos ou bebidas de teor ácido, como molhos de tomate industrializados, frutas cítricas e vinhos.
• Tome cuidado com o álcool, que, além de relaxar o esfíncter, aumenta a acidez no estômago.
• Não caia de boca no chocolate, que - pasme! - guarda substâncias capazes de tornar a válvula mais preguiçosa.
• Aguarde pelo menos duas horas para se deitar após comer.
• Na hora de dormir, procure elevar a posição do travesseiro numa altura de 15 centímetros.

sábado, 22 de junho de 2013

O que fazer ao se queimar

Conheça os tipos de queimaduras e saiba o que fazer caso elas ocorram por Solange Arruda
Existem três graus de queimadura, conforme a profundidade da lesão. Esta, por sua vez, é determinada pela temperatura do agente causador e pelo tempo de exposição a ele. Todas as queimaduras doem muito, mas, paradoxalmente, as de primeiro grau são mais dolorosas que as de terceiro. Elas, no entanto, costumam ser cuidadas em casa. Bolhas grandes são sinal de que é preciso ir ao hospital.

QUEIMADURA DE PRIMEIRO GRAU
O que é uma queimadura de primeiro grau:
Ela provoca apenas vermelhidão, porque só afeta a camada mais externa da pele, a epiderme. No entanto, é bastante dolorosa. Isso porque, de acordo com o cirurgião plástico Marcelo Borges, presidente da Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ), estimula aqueles nervos responsáveis pelo tato. A lesão cicatriza naturalmente. É a mais comum nos acidentes domésticos — basta um esbarrão no forno ou no ferro de passar. Também pode surgir quando a pessoa se expõe ao sol sem proteção.

O que não fazer:
• Não assopre — em contato com o ar, a lesão dói mais.
• Não use gelo — o frio exagerado pode suspender a circulação do sangue no local.
• Não aplique pasta de dente, nem alimentos como ovo, óleo de cozinha, manteiga ou borrão de café — além de dificultarem o diagnóstico, eles precisam ser retirados pelo médico, causando ainda mais dor. Sem contar o risco de infecção.
• Não use pomadas à base de picrato de butensin — esse produto já foi proibido nos Estados Unidos.
• Não force a retirada da roupa grudada na pele — tire apenas o que se soltou.

O que fazer:
1 - Resfrie a região por alguns minutos com água corrente ou compressa de água gelada — nunca gelo. Isso bloqueia a onda de calor que se forma na pele queimada. Se ela for adiante, uma queimadura de primeiro grau pode evoluir para segundo.
2 - Ainda que seja uma queimadura pequena, não a subestime se ela incomodar. Proteja-a com um pano limpo ou com filme plástico — desses usados para cobrir alimentos. E então procure atendimento médico. Tirar a lesão do contato com o ar já reduz a dor.

QUEIMADURA DE SEGUNDO GRAU
O que é uma queimadura de segundo grau:
Ela atinge não só a camada mais externa, a epiderme, como parte da derme, a segunda camada da pele. Eventualmente, pode necessitar de cirurgia reparadora para cicatrizar. Nela, surgem bolhas porque, extremamente aquecidos, os vasos da derme se dilatam e deixam escapar o soro do sangue. Por conta desse vazamento de líquido, aliás, a queimadura de segundo grau pode causar desidratação. Além disso, após as primeiras 48 horas, ela predispõe a infecções no local queimado, que, malcuidadas, podem se tornar até generalizadas se a colônia de bactérias ganhar a corrente sanguínea.

O que fazer se as bolhas são pequenas:
1 - Resfrie a região afetada com água corrente ou compressa de água gelada.
2 - Depois, lave com água corrente e sabão neutro.
3 - Aplique uma pomada de sulfadiazina de prata na região, mantendo-a arejada.
4 - Tome um analgésico.

O que fazer se as bolhas são grandes:
1 - Depois de resfriar a área, proteja as lesões com um pano limpo ou filme plástico — usado para cobrir comida — e corra para um pronto-socorro.
2 - Não aplique nada sobre o local, nem mesmo a pomada de sulfadiazina de prata. No hospital, é possível que a vítima tenha que tomar a vacina antitetânica por conta do risco de infecção.


QUEIMADURA DE TERCEIRO GRAU
O que é uma queimadura de terceiro grau
Ela destrói toda a espessura da pele e atinge o tecido subcutâneo, com risco de chegar até os ossos. Dada a profundidade das lesões, pode causar infecções, provocar amputações ou até matar. O tratamento geralmente é demorado e requer várias cirurgias reparadoras. A lesão de terceiro grau costuma ser esbranquiçada, endurecida e insensível ao toque, já que, nesse nível, o calor destruiu completamente as terminações nervosas. Nesse grupo estão, principalmente, as queimaduras provocadas por choques elétricos e produtos químicos.

Em primeiro lugar:
Chame o serviço de emergência se a pessoa estiver com boa parte do corpo comprometida.
O que fazer:
1 - Resfrie a região com água corrente ou compressa de água gelada. Ainda que a pele esteja totalmente chamuscada, é preciso insistir em conter o calor.
2 - Não tente tirar à força pedaços de roupa grudados nos ferimentos, mesmo após o resfriamento.
3 - Remova a vítima para o pronto-socorro mais próximo, com as lesões cobertas por pano limpo ou filme plástico, aquele usado para proteger comida.

QUEIMADURA QUÍMICA
Causada por produtos químicos, como o próprio nome diz, ela pode danificar os tecidos profundamente, como se tivesse sido provocada por fogo. Em casa, tome cuidado com soluções para limpeza de azulejos, pedras ou mármore.

Como proceder:
1 - Retire o produto químico usando água corrente em abundância por vários minutos. Depois, faça compressas de água gelada.
2 - Remova a roupa contaminada em que o produto respingou. Evite que ela tenha contato com partes do corpo não afetadas.
3 - Retire o rótulo do produto que causou o acidente para mostrar ao médico.
4 - Leve a vítima para o pronto-socorro.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Nasce bebê submetido a cirurgia inédita no mundo para tratar doença congênita da medula

Joaquim Reis Ubaldino foi operado ainda dentro do útero materno devido a um problema chamado espinha bífida, que pode provocar hidrocefalia e paralisia. O bebê passa bem e médicos estão esperançosos

Vivian Carrer Elias
Joaquim Ubaldino
Joaquim Reis Ubaldino foi o primeiro bebê que recebeu a cirurgia desenvolvida pela médica brasileira Denise Pedreira para tratar espinha bífida. Ele foi operado ainda dentro do útero materno e nasceu em 15 de junho de 2013, aos sete meses de gestação
Nasceu no último sábado, dia 15 de junho, em São Paulo, o primeiro bebê a ser submetido, ainda dentro do útero, a uma cirurgia feita com uma técnica brasileira até então inédita no mundo para tratar mielomeningocele, ou espinha bífida. Essa é uma doença congênita da medula espinhal que pode causar hidrocefalia ou fazer com que a criança perca a capacidade de andar. Joaquim Reis Ubaldino nasceu aos sete meses de gestação e pesando 1,5 quilo. O bebê não precisou ficar na UTI e sua evolução está sendo “acima do esperado”, segundo a médica responsável pela cirurgia.
A cirurgia feita em Joaquim, realizada no dia 1º de maio deste ano no Hospital Samaritano, em São Paulo, fez uso de uma técnica desenvolvida pela médica brasileira Denise Pedreira, especialista em medicina fetal e perinatal, após 14 anos de estudo. Ao longo desses anos, Denise tinha como objetivo colocar em prática uma abordagem mais rápida, barata, segura e eficaz para operar fetos com espinha bífida. E parece que conseguiu.
Técnica — A espinha bífida é caracterizada pela má-formação dos ossos da coluna vertebral, que não se fecha totalmente até o nascimento e faz com que a medula espinhal fique em contato com o líquido amniótico (fluido que envolve o embrião no útero).
Na operação de Joaquim, Denise fez uso da endoscopia fetal, que exige apenas alguns "furinhos" na barriga da gestante por onde entraram câmera e instrumentos cirúrgicos. A medula do feto foi colocada no canal medular, onde deveria estar desde o começo, e o buraco na pele deixado pela medula que ficou exposta foi costurado pele com pele. Uma película feita de celulose foi colocada sob a pele para evitar que a medula prendesse na pele.
“Eu só havia testado essa técnica em animais até então. Por isso, havia uma expectativa para saber se o procedimento também daria certo em um ser humano”, disse Denise ao site de VEJA. “Havia muita ansiedade para vermos se a pele dele foi completamente fechada, se ele não teria que ser submetido a outra correção após o nascimento. E foi o que aconteceu: sua pele estava completamente fechada.”
De acordo com a médica, Joaquim está mexendo as pernas, mas ainda corre o risco de não conseguir andar. “Isso vai depender da altura da lesão em sua medula. Mas o ortopedista que avaliou o bebê está muito confiante de que ele vai conseguir andar”, diz. Denise explica que os resultados finais da cirurgia em Joaquim somente poderão ser completamente observados quando ele tiver entre um e dois anos.
Próximos passos — Quase duas semanas depois da operação de Joaquim, Pedro foi o segundo bebê a receber a cirurgia desenvolvida por Denise Pedreira. E, na próxima segunda-feira, a médica realizará a operação no terceiro bebê. “Médicos dos Estados Unidos devem vir ao Brasil para acompanhar a cirurgia pois estão interessados na técnica”, diz Denise. “Antes, o procedimento era desconhecido e não sabíamos de que forma indicá-lo pois nunca havia sido feito em seres humanos. Agora sabemos que dá bons resultados e é uma boa opção para operar bebês com espinha bífida.”
info espinha bífida

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Senado aprova projeto de lei do Ato Médico

JOHANNA NUBLAT
GABRIELA GUERREIRO
DE BRASÍLIA
O plenário do Senado aprovou, na noite desta terça-feira (18), o polêmico projeto de lei apelidado de Ato Médico. Após pouco mais de dez anos de discussão, a proposta segue para sanção da presidente Dilma Rousseff.
Ao regulamentar a profissão do médico, o texto colocou em lados opostos o CFM (Conselho Federal de Medicina), que apoia a proposta, e os conselhos de outras profissões da saúde, que veem no projeto uma restrição à sua prática diária.
Editoria de Arte/Folhapress
Ficam definidos como atos privativos do médico, por exemplo, o diagnóstico da doença e a respectiva prescrição terapêutica e a indicação e realização de cirurgias e procedimentos invasivos.
Esses procedimentos, segundo o texto, são a invasão da derme e epiderme com uso de produtos químicos ou abrasivos; invasão da pele que atinja o tecido subcutâneo para injeção, sucção, punção, drenagem ou instilação; ou ainda invasão dos orifícios naturais do corpo, atingindo órgãos internos.
Profissionais de outras áreas da saúde temem que, com essas definições, possam ficar restritas ao médico ações como a acupuntura, a realização do parto normal e a identificação de sintomas de doenças corriqueiras.
Por outro lado, o projeto especifica que não são privativos do médico os diagnósticos funcional, psicológico, nutricional e avaliações comportamentais.
O único ponto ainda em aberto é a decisão sobre realização e a emissão de laudo dos exames citopatológicos (como papanicolaou). Segundo a senadora Lúcia Vânia (PSDB-GO), uma das líderes do debate, o texto aprovado diz que essas ações não são privativas dos médicos. No entanto, a mesa do Senado entendeu que, de acordo com a votação, ficou decidida a exclusividade do médico na realização desses testes.
As medidas valem 60 dias após a lei entrar em vigor.
Para a senadora Lúcia Vânia, o projeto não relega outras profissões da saúde a uma categoria de inferioridade em relação ao médico.
"É evidente que esse projeto não se superpõe à legislação de quaisquer profissões da saúde regulamentadas."
O CFM sustenta que a intenção não é limitar as demais profissões, mas afirmar a necessidade da presença do médico em todos os locais.
O conselho argumentou, durante a tramitação, que não pode haver uma divisão econômica e social, em que parte da população tem seus procedimentos feitos por um médico, e outra parte, não.
Uma consequência desse projeto, segundo a entidade, é que todas as equipes de saúde da família deverão ter médicos --o que ocorre hoje em cerca de 50% dos casos, de acordo com o CFM.
Para o Conselho Federal de Enfermagem, o texto "mantém a formulação de uma organização hierárquica entre os que pensam e os que executam, a clara intenção de reserva de mercado e de garantia de espaço de poder sobre a atuação dos outros profissionais de saúde (...) reservando para a enfermagem a condição de subsidiária em atividades manuais sob prescrição e supervisão médica".

Exame de sangue pode detectar risco de câncer oral causado pelo HPV

Anticorpos específicos que agem contra o vírus podem ser detectados no sangue mais de dez anos antes do aparecimento de sintomas do câncer oral

HPV-16: a cepa do vírus é a responsável por causar o câncer cervical, segundo tipo mais comum entre as mulheres, e outros tipos de câncer no homem
HPV16: a cepa do vírus, quando transmitida pelo sexo oral, é a principal causadora do câncer de boca (Latinstock)
Pesquisadores acreditam que um simples exame de sangue será capaz de, no futuro, detectar quais pessoas apresentam um risco alto de câncer de boca causado pelo papilomavírus humano, o HPV, quando transmitido por meio do sexo oral. Isso porque um novo estudo da Agência Internacional para a Pesquisa do Câncer (Iarc, sigla em inglês) descobriu que a presença de determinados anticorpos no sangue de uma pessoa pode acusar o câncer anos antes de a doença se instalar.

CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Evaluation of Human Papillomavirus Antibodies and Risk of Subsequent Head and Neck Cancer

Onde foi divulgada: periódico Journal of Clinical Oncology

Quem fez: KAimée R. Kreimer, Mattias Johansson, Tim Waterboer, Rudolf Kaaks, Jenny Chang-Claude, Dagmar Drogen, Anne Tjønneland, Kim Overvad, J. Ramón Quirós, Paul Brennan e outros

Instituição: Agência Internacional para a Pesquisa do Câncer e outros

Dados de amostragem: 50.000 pessoas monitoradas desde a década de 1990

Resultado: As pessoas podem apresentar anticorpos E6, que lutam contra o HPV16, a principal cepa do vírus relacionada ao câncer de boca, até 12 anos antes de virem a apresentar sintomas desse câncer. Um exame de sangue que detecta a presença de tais anticorpos pode ser, no futuro, usado para prevenir o avanço da doença.
A pesquisa da Iarc, que é um órgão ligado à Organização Mundial da Saúde (OMS), será publicada no periódico Journal of Clinical Oncology. “Até agora, não se sabia se esses anticorpos estavam presentes no sangue antes que o câncer se tornasse clinicamente detectável. Se esses resultados se confirmarem, futuras ferramentas de triagem poderão ser desenvolvidas para a detecção precoce da doença”, diz Paul Brennan, coordenador do estudo. “Quanto mais precoce for a detecção, melhor o tratamento e maior a sobrevivência.”
Um vírus, muitas doenças — O HPV é mais conhecido por causar cânceres genitais e de colo do útero, mas ele é também responsável por um número crescente de casos de boca e garganta, especialmente entre homens. Segundo a AIPC, cerca de 30% de todos os cânceres orais estão relacionados ao HPV. Neste mês, o ator norte-americano Michael Douglas revelou que o câncer de garganta que o acometeu foi causado pelo HPV transmitido via sexo oral.
A nova pesquisa da Iarc, que teve participação de especialistas de institutos da Alemanha e dos Estados Unidos, usou dados de 50.000 pessoas de dez países europeus que foram monitoradas desde a década de 1990. Os pesquisadores observaram que, de 135 pessoas do estudo que desenvolveram câncer, 47 (cerca de um terço) apresentavam anticorpos E6 contra o HPV16, a principal cepa do vírus relacionada ao câncer de boca, até 12 anos antes do surgimento de sintomas da doença.
De acordo com Brennan, o exame usado no estudo é relativamente simples e barato, e pode ser desenvolvido como uma ferramenta para uso mais generalizado dentro de cinco anos, caso os resultados se confirmem em novos estudos. O pesquisador alertou, no entanto, que é preciso melhorar a precisão dos testes, já que houve na pesquisa cerca de 1% de “falsos positivos” para o anticorpo do HPV16.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Falta de vitamina D pode explicar por que obesos têm mais alergia

Novo estudo feito nos Estados Unidos concluiu que níveis de vitamina D podem prever o risco de um jovem com sobrepeso apresentar asma ou alergia

Durante a consulta, pediatras devem alertar os pais sobre o ganho indevido de peso de seus filhos
Obesidade na adolescência: Pouca vitamina D pode explicar o motivo pelo qual jovens obesos têm maior tendência a sofrer com alergias (ThinkStock)
Crianças e adolescentes obesos são mais propensos a sofrer com asma e alergias do que jovens com o peso normal – e a deficiência em vitamina D pode ser uma das razões pelas quais isso acontece. É o que indicou um novo estudo americano que será apresentado nesta terça-feira no encontro anual da Sociedade Endócrina, em San Francisco, Estados Unidos.
“O aumento do risco de asma e alergias entre jovens com sobrepeso nunca foi compreendido. Porém, pesquisas anteriores mostraram que a vitamina D é importante para o sistema imunológico e que a deficiência do nutriente é comum em pessoas obesas”, diz Candace Percival, médica do Centro Médico Militar Walter Reed, nos Estados Unidos, e coordenadora do trabalho.
O novo estudo se baseou em 86 jovens de 10 a 18 anos de idade, sendo que 54 deles eram obesos ou tinham sobrepeso. Os participantes passaram por um exame de sangue que mediu seus níveis de vitamina D, e os pesquisadores observaram que todos os indivíduos obesos tinham quantidades insuficientes da vitamina.
Depois, a equipe mediu em parte desses jovens os níveis de imunoglobulina E (IgE), um anticorpo que é um dos principais fatores que desencadeiam reações alérgicas – grande parte das pessoas que têm alguma alergia possuem altos níveis de IgE. Alguns participantes também tiveram medidos os seus níveis de citocinas, moléculas envolvidas no processo que desencadeia respostas imunes no organismo.
Os pesquisadores encontraram uma relação significativa entre a gravidade da obesidade dos participantes, maiores níveis de citocinas e de IgE e menores quantidades de vitamina D. “Concluímos que o aumento do risco de alergia em obesos pode ser, de certa forma, medido pelos seus níveis de vitamina D”, diz Candace. “Esse é o primeiro estudo, até onde sabemos, que reúne a relação de deficiência em vitamina D e maior risco de alergia entre adolescentes obesos.”

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Medicamento para combate ao câncer pode levar à cura do Alzheimer

Estudos realizados com ratos mostraram redução da placa cerebral que causa a doença

Agência Brasil
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Quatro equipes de cientistas independentes concluíram que um medicamento usado normalmente no combate ao câncer pode levar à redução da placa amilóide no cérebro e contribuir para a cura do mal de Alzheimer. Os testes foram feitos em ratos e obtiveram sucesso. A pesquisa foi publicada  na revista norte-americana Science. Porém, cientistas advertem que é necessário ter cautela sobre os efeitos do tratamento.

O estudo mostra que ratos tratados com bexaroteno demonstravam mais rapidez e inteligência e que a placa no cérebro, que causava o Alzheimer, começava a desaparecer em horas. "Queríamos repetir o estudo para verificar o que pode ser analisado e conseguimos fazê-lo", disse o professor de neurologia da  Universidade da Flórida, David Borchelt. “Mas é preciso ter certa cautela sobre o futuro no que se refere aos pacientes”, alertou.

Os cientistas observaram que o medicamento funcionava incrementando os níveis da proteína apolipoproteína E (ApoE), que ajuda a eliminar a acumulação da placa amilóide no cérebro, uma característica considerada chave do Alzheimer.

O principal autor do estudo, Gary Landreth, professor no Departamento de Neurociências da Case Western Reserve University School of Medicine, não escondeu a surpresa. “Ficamos surpresos e assombrados. Isso jamais havia sido visto antes”, ressaltou.

Os cientistas se dividiram em quatro grupos distintos para analisar os efeitos da aplicação do medicamento nos ratos. Um grupo notou avanços mentais nos animais. O mal de Alzheimer é uma doença neurológica progressiva e incurável, que se manifesta geralmente com a perda da memória e de outras capacidades mentais, com o surgimento da demência até a morte.

De acordo com especialistas, a doença se desenvolve atacando as células nervosas (neuronas), que morrem, e as diferentes zonas do cérebro se atrofiam. A doença afeta 36 milhões de pessoas no mundo.

domingo, 16 de junho de 2013

Médico brasileiro mede o cérebro para detectar avanço da esclerose múltipla

Neurologista usa régua do computador para identificar redução milimétrica a partir de imagens de ressonância magnética. Estudo alerta para a evolução da doença mesmo em casos que clinicamente são considerados estabilizados

Cecília Ritto, do Rio de Janeiro
Redução do cérebro de uma paciente com esclerose múltipla
Redução do cérebro de uma paciente com esclerose múltipla 
Ainda incurável e de causas não identificadas, a esclerose múltipla desafia a medicina. A partir de um estudo relativamente simples, um pesquisador do Rio de Janeiro faz um alerta: mesmo os pacientes com a doença estabilizada podem ter atrofia no cérebro. A atrofia pode ter consequências graves e, em casos extremos, levar à impossibilidade de andar ou à demência. O médico Fernando Figueira, chefe do departamento de neurologia do Hospital São Francisco e membro da American Society of Neuroimaging, constatou, através de estudo com um grupo de 191 pacientes, que mesmo em casos em que a doença não traz alterações perceptíveis, podem estar em curso alterações no cérebro – o que representa, por ano, a ausência de alguns milhões de neurônios. Figueira desenvolveu um método relativamente simples para detectar a diminuição no tamanho do cérebro. Agora, sugere que a nova metodologia seja incorporada ao tratamento dos portadores da doença: uma medição simples, com uma régua disponível, por exemplo, no software de edição de textos Word, da variação milimétrica que indica o processo de atrofia do cérebro.
O trabalho foi apresentado na última quinta-feira no XIV Congresso Brasileiro de Esclerose Múltipla, em Foz do Iguaçu. Em percentual, uma pessoa chega a perder por ano 1,3% do corpo caloso (que, quando danificado, diminui o processamento das informações). Os 191 pacientes estudados foram diagnosticados há 10 anos com esclerose múltipla. Desse total, 89 não apresentaram piora na capacidade de compreensão, não tiveram novas lesões no cérebro nem crises – que ocorrem quando é danificada a mielina, substância que envolve e protege as fibras nervosas do cérebro, da medula espinal e do nervo óptico, causando escleroses. E destes 89, 43 pacientes considerados estáveis tiveram redução intensa do cérebro, na comparação com o grupo controle. “Os exames não são eloquentes em relação à atrofia do cérebro”, pondera Figueira, explicando o porquê de se debruçar sobre uma nova forma de fazer a medição.
A percepção de que a doença se manifestava mesmo em pacientes sem crises, como as que deixam a visão dupla, foi uma observação dos médicos no final dos anos 90. Em 1994, chegaram os remédios para tratar das lesões agudas provocadas pela esclerose múltipla. Com o tempo, os pacientes deixaram de apresentar problemas graves, mas ainda se queixavam de lentidão para entender comandos e de baixo rendimento no trabalho. “Começamos a trabalhar essa doença invisível até então”, explica Figueira.
“Elaboramos uma metodologia simples para que o neurologista sem acesso a uma tecnologia avançada pudesse fazer uma medida confiável para avaliar a perda celular. E propusemos que a medição fosse feita através da ressonância magnética, que pode ser realizada em qualquer centro de imagem”, diz Figueira.
A atrofia cerebral dos pacientes é detectável no começo da doença, com dois ou três anos de esclerose múltipla. “O avanço é rápido no início. E, normalmente, aparece em pessoas ainda consideradas jovens e em plena atividade”, explica o neurologista. Com os resultados dos estudos, Fernando afirma: “Temos que mudar a estratégia de olhar para o doente e perceber melhor qual é o paciente que está piorando. É preciso que estes sejam tratados de forma mais agressiva. Temos que desenvolver novos remédios para controlar essa atrofia do cérebro. Estamos tratando de pneumonia com remédio para febre”, compara.

sábado, 15 de junho de 2013

As armadilhas do cérebro para sabotar a sua dieta

Novas pesquisas revelam os mecanismos cerebrais que levam as pessoas a comer mais. saiba como driblar essas ciladas da mente e resistir às tentações

Cilene Pereira e Monique Oliveira
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No esforço para reduzir a epidemia mundial de obesidade, a ciência tem centrado seu empenho em descobrir todos os fatores que propiciam o acúmulo de peso. Nesse campo, a última das principais descobertas joga luz sobre o papel do cérebro na questão. E, ao que parece, muitas vezes ele mais trabalha contra do que a nosso favor. Engendra armadilhas que impulsionam as pessoas a comer mais, a resistir menos, a fazer as escolhas erradas. Tudo isso sem que elas se deem conta de que estão sob sua influência. Ou seja, engordam, sem perceber que estão sendo levadas a isso.
As informações reveladas pelas pesquisas mais recentes apontam vários mecanismos pelos quais o cérebro tenta sabotar os esforços para emagrecer. O primeiro deles remonta ao início da evolução humana, quando o homem lançava mão de todas as estratégias para sobreviver. Entre elas estava o armazenamento da maior quantidade possível de energia obtida a partir dos alimentos – uma garantia de que o corpo teria combustível suficiente para funcionar mesmo em condições adversas. Foi algo útil naquelas circunstâncias, mas hoje perdeu o sentido. Trata-se, porém, de um estratagema gravado na memória. Por isso, a cada situação que o cérebro entende como uma ameaça ao estoque energético do organismo, a resposta é a mesma: uma ordem para guardar mais calorias. Instintivamente, o indivíduo vai procurar consumir as opções com maior teor calórico – leia-se, alimentos com mais gordura e açúcar – e haverá reações cerebrais para reduzir o ritmo metabólico.
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Isso fica claro quando se analisam, por exemplo, as conclusões dos novos estudos a respeito do impacto da falta de regularidade na ingestão de alimentos. Um dos mais recentes foi realizado na Cornell University (EUA). Os cientistas acompanharam as reações de 68 voluntários. Parte comeu algo horas antes de ir a um supermercado e a outra metade, não. Aqueles que entraram com fome não só compraram mais produtos como adquiriram 31% mais artigos com alto conteúdo calórico. Foi o cérebro mandando sinais para assegurar aporte energético. “Até pequenos períodos sem comer podem levar a escolhas em que são privilegiados os alimentos calóricos em detrimento dos saudáveis”, disse Brian Wansink, autor do trabalho. “Por isso, a melhor coisa a fazer é não pular refeições.”
Situação semelhante ocorre quando se dorme mal ou menos horas do que o necessário. O cérebro entende esses episódios como ameaças ao estoque de energia para o dia seguinte. Trabalha para dar mais combustível a um organismo que, na sua avaliação, precisará de mais esforço para vencer a jornada. Na Columbia University (EUA), os cientistas constataram uma reação interessante. Depois de acompanharem as respostas cerebrais de 25 indivíduos após oito horas de sono e depois de apenas quatro horas de descanso, eles verificaram que quando os participantes estavam sonolentos apresentavam uma reação mais intensa diante de imagens de opções muito calóricas e que apresentavam uma composição nutricional mais variada. “Nessas horas, ninguém procura um doce de abóbora”, explica o psiquiatra Adriano Segal, da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade. “Esse doce não concentra outros nutrientes necessários à vida, como proteí-na e carboidrato. É mais fácil recorrer a um pudim, que possui ambos.”
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A herança ancestral se manifesta também no funcionamento do relógio biológico. Ele foi programado para impelir o organismo a ter fome de doces à noite – para guardar energia visando o dia seguinte. “Isso serviu no passado, mas hoje aumenta o risco de ganho de peso”, afirmou à ISTOÉ Steven Shea, da Oregon Health & Science University (EUA). Ele conduziu um experimento no qual essa vontade de comer açúcar ficou patente a partir do entardecer. “E se você fica acordado até mais tarde, no período em que naturalmente tem mais fome por doces, comerá mais calorias, não irá gastá-las porque irá descansar depois e terá seu sono prejudicado”, disse o pesquisador. “Tudo isso leva à obesidade. Por isso, durma cedo.”
O consenso científico nesse ponto é de que as refeições mais fartas e calóricas devem ser as primeiras do dia. “As pessoas devem fazer um ótimo café da manhã o mais cedo possível e depois diminuir a quantidade de calorias ingeridas”, disse à ISTOÉ Marta Garaulet Aza, da Universidade de Murcia, na Espanha, coautora de uma experiência na qual foi constatado que pessoas habituadas a comer mais tarde perdem menos peso.
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Ao longo da evolução, o cérebro também foi sendo condicionado a interpretar a comida como fonte de prazer. É o que os cientistas chamam de fome ligada ao hedonismo. “Estudos comprovam a existência de mecanismos de neuroadaptação que nos levam a procurar recompensas emocionais, que atuarão nos nossos controles hormonais, em busca da manutenção da vida”, diz a nutricionista Alessandra Luglio, de São Paulo. Isso quer dizer que o órgão estimula o consumo de alternativas associadas a alto conteúdo calórico e também a maior sensação de bem-estar. É por essa razão que ninguém procura compensação em um prato de salada. Vai buscá-la em um pedaço de bolo, de chocolate ou em um hambúrguer.
Há dois problemas nessa armadilha. Além de serem muito calóricos, descobriu-se recentemente que alimentos como esses contêm nutrientes capazes de disparar, no cérebro, uma espécie de dependência. “A ingestão alimentar é controlada por fatores cognitivos, emocionais e de recompensa, envolvendo a mesma via neuronal pela qual é processado o vício em uma determinada substância”, afirma a nutricionista Elaine de Pádua, de São Paulo. De fato, após serem ingeridos, eles ativam em cheio o centro cerebral vinculado à dependência. Por isso, a ingestão constante desse gênero de produtos fará com que o indivíduo seja induzido a querer sempre mais para sentir o mesmo prazer.
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E de forma impulsiva, em muitos casos. Afinal, como revelou um trabalho feito na Universidade de Iowa (EUA), anunciado na última semana, os circuitos cerebrais envolvidos em comportamentos obsessivos-compulsivos estão conectados aos que controlam a ingestão de comida. “Pequenas perturbações nesse sistema podem levar à obesidade porque incentivam o consumo em demasia de opções gordurosas”, disse Michael Lutter, autor do trabalho.
Esses mecanismos explicam, por exemplo, por que é difícil comer apenas uma batatinha frita ou poucas pipocas. Simplesmente não se consegue parar. “São alimentos ricos em gordura e carboidratos, que estimulam mensagens de prazer para o cérebro e podem levar à dependência”, disse à ISTOÉ Tobias Hoch, da FAU Erlangen-Nuremberg, da Alemanha, estudioso do tema. Além disso, podem acionar os tais circuitos cerebrais vinculados a comportamentos obsessivos. Ou seja, provavelmente serão consumidos vorazmente, até o fim.
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E há mais informações indicativas de como o cérebro pode trabalhar contra. Em uma pesquisa divulgada na última semana, cientistas da Universidade de Wurzburg, na Alemanha, descobriram que, quando se está triste, a tendência não é só procurar opções mais gordurosas. A pessoa também tem reduzida sua habilidade de sentir quanto de gordura está ingerindo. É como se um véu descesse temporariamente sobre o paladar – e o indivíduo perde a conta de quanto está consumindo de algo que o fará ganhar alguns quilos.
Para tornar ainda mais difícil a briga contra a balança, o cérebro reage melhor a refeições repletas de gordura e açúcar, mesmo quando elas são menos saborosas do que outras, saudáveis. Cientistas da Universidade de Yale (EUA) provaram este efeito. Por meio da análise de imagens do cérebro de participantes após a ingestão de bebidas mais e menos açucaradas, eles viram que a sensação de satisfação era maior com as mais doces, mesmo com os voluntários achando as menos adocicadas mais saborosas.
O consumo constante de alimentos gordurosos provoca outros danos que levam à obesidade. O primeiro é ao funcionamento do hipotálamo, estrutura do cérebro responsável pela sensação de fome. Pesquisadores da Universidade de Washington (EUA) identificaram um processo de inflamação, e consequente lesão na região onde ele está localizado, deflagrado apenas três dias depois da ingestão de uma dieta rica em gordura. A observação foi feita em animais “Quando o cérebro está inflamado, o hipotálamo tem dificuldade de relacionar a ingestão versus saciedade”, explica a nutricionista Liliane Moitinho, do Rio de Janeiro. “Os prejuízos gerados pela inflamação podem reduzir o controle da pessoa sobre seus hábitos alimentares”, complementa a nutricionista Madalena Vallinoti, de São Paulo.
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O mesmo trabalho de Washington registrou que o consumo exagerado de gordura provoca ainda uma diminuição de 25% no número de determinadas células que desempenham papel importante no controle do peso, ajudando a regular o apetite. Mais um golpe contra qualquer tentativa de emagrecer.
Encher o prato com escolhas repletas de gordura e açúcar ainda prejudica o raciocínio, o que interfere no processo de tomada de decisão. “O alto consumo desses nutrientes tem impacto negativo no funcionamento do cérebro”, explicou o cientista Rosebud Roberts, da Clínica Mayo (EUA). Ele foi um dos pesquisadores que constataram um declínio cognitivo em pessoas habituadas a ingerir refeições gordurosas e com muito açúcar. Com o raciocínio enfraquecido, a tendência é errar no momento de optar entre o que faz bem, mas não parece tão atraente, e o que faz mal, mas salta aos olhos.
Essas informações reforçam a convicção científica de que, quando o assunto é obesidade, as pessoas podem não estar tanto no controle quanto pensam. Por outro lado, a mesma linha de pesquisa que embasa essa conclusão apresenta algumas estratégias para neutralizar as tentativas cerebrais de sabotagem. Nos últimos anos, dezenas de experimentos com o cérebro deixam patente que é possível treiná-lo – e, em muitos casos, enganá-lo (leia no quadro abaixo).
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Uma das armas que podem ser usadas é a memória. Uma experiência da Universidade de Bristol, na Inglaterra, revelou que somente a lembrança de ter saboreado uma farta refeição pode ser suficiente para deixar as pessoas com menos fome, mesmo horas depois do repasto. Os cientistas mostraram a voluntários pequenas ou grandes porções de sopa pouco antes do almoço. Em seguida, deram a cada um deles porções de tamanhos similares. Três horas após terem sido alimentados, os que tinham visto as frações maiores manifestavam menos fome. Vinte horas depois, a saciedade entre este grupo permanecia mais forte. “Esse estudo expõe o papel da cognição no controle da fome”, disse Jeffrey Brunstrom, líder do trabalho.
Uma pesquisa feita na Universidade de Cornell (EUA) comprova a tese da importância da mente quando ela é usada a nosso favor. Dois grupos de participantes foram investigados para saber como se sentiam 15 minutos depois de comer chocolate, torta de maçã e batatinha frita. Metade ingeriu frações grandes, que totalizavam 1,3 mil calorias. O restante foi alimentado com o equivalente a 195 calorias. “Os que comeram mais não ficaram mais saciados do que os que comeram menos”, escreveram os autores do trabalho. “Pequenas porções proporcionam satisfação similar à promovida pelas grandes. Então, da próxima vez que quiser um pedaço de bolo, lembre-se de que você pode ficar feliz com um pedaço menor”, aconselhou a cientista Ellen van Kleef. E se tiver um aroma mais forte, melhor ainda. Segundo experiência divulgada na revista científica “Flavour”, quanto mais intenso o cheiro do alimento, menor o tamanho das mordidas. “E as pessoas comem menos se a mordida for pequena”, disse à ISTOÉ René de Wijk, autor do trabalho que registrou uma redução de 5% a 10% no tamanho das mordidas quando a opção tinha um aroma mais pronunciado. 

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Anvisa decide anular prova de concurso, mas não define nova data

Agência ainda não divulgou quando será realizado o novo teste.
Dirigentes da Anvisa vão solicitar que a PF monitore o novo exame.

Fabiano Costa Do G1, em Brasília
O diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Dirceu Barbano, afirmou nesta sexta-feira (14) que a agência vai anular o concurso público realizado no último dia 2 para preencher 314 vagas. Foram registrados problemas operacionais em provas aplicadas na Bahia, no Distrito Federal, em Alagoas e no Rio de Janeiro. Com a decisão, todos os candidatos, mesmo aqueles dos estados onde não houve falhas, terão que refazer a prova.
"Há a necessidade de reaplicação da prova, nacionalmente, para todos os cargos. Ainda que os problemas tenham sido localizados, não é possível afirmar com clareza que não houve contaminação para o restante das pessoas. Não podemos ter concurso gerando qualquer atitude não isonômica de participação dos candidatos", enfatizou Barbano.
Os diretores da Anvisa se reuniram na manhã desta sexta com integrantes da comissão organizadora do concurso, formada por servidores do órgão público. Durante o encontro a portas fechadas na sede da agência, os dirigentes discutiram um relatório apresentado no dia anterior pela comissão, que detalhava recomendações aos diretores, entre elas a anulação da prova.
Ao final da reunião, o diretor-presidente da Anvisa afirmou que ainda não há uma previsão de quando o novo exame será realizado. A expectativa da Anvisa é de que o novo teste seja aplicado no primeiro final de semana de agosto, porém, a data ainda terá de ser confirmada pela comissão organizadora com base em um cronograma que será apresentado nas próximas semanas pela empresa que está administrando o concurso.
Apesar dos problemas da primeira prova, o processo seletivo será novamente organizado pela empresa Cetro Concursos, ressaltou Barbano. De acordo com o presidente do órgão federal, a substituição da empresa iria obrigar que todas as fases do concurso fossem refeitas, incluindo a etapa de inscrições. Para evitar ainda mais atrasos, a agência optou por manter a Cetro no comando do exame.
Barbano, no entanto, enfatizou que a diretoria da Anvisa determinou que as áreas da agência responsáveis por avaliar o cumprimento do contrato de prestação de serviço analisem as cláusulas que foram descumpridas pela Cetro. Conforme o dirigente, para cada falha identificada será aplicada uma penalidade contra a empresa. "Ela [a Cetro] tem o dever de cumprir o contrato. A empresa precisa ser penalizada e as punições têm de ser aplicadas o quanto antes. A cada falha se aplicará uma multa, de forma cumulativa", explicou.
Punições
Além disso, a Anvisa resolveu advertir a Cetro de que, se na nova prova se repetirem os mesmos problemas que levaram à anulação do último teste, ela poderá ser eliminada da organização do exame e ainda poderá ser suspensa por até dois anos de contratar com o serviço público federal. Outra punição prevista para o caso de novas falhas, destacou o diretor-presidente, é a inclusão da empresa no cadastro de empresas inidôneas, o que a impediria de prestar serviços para a administração federal.
Segundo Barbano, a Anvisa já pediu para que a Polícia Federal (PF) investigue de quem são as responsabilidades pelos problemas registrados no primeiro teste. Ele observou que a agência não tem como "afastar" a possibilidade de que grupos ou pessoas tenham atuado para fraudar o exame público.
Nesta sexta, os dirigentes da Anvisa também definiram que irão solicitar que a PF faça a segurança dos locais de prova para evitar novas falhas no próximo concurso.
Falhas no primeiro exame
Na primeira tentativa de aplicar a prova, candidatos de Brasília reclamaram de atraso na entrega dos cadernos com as questões e de provas violadas. Os transtornos aconteceram em pelo menos dois locais onde as avaliações ocorreram na capital federal.
No Rio de Janeiro, candidatos reclamaram que não foram informados da mudança de local da aplicação da prova. Prevista para o Cefet da unidade Maracanã, o local foi transferido para a Escola Vicente Januzzi, na Barra da Tijuca.
Em Maceió (AL), dezenas de candidatos prestaram queixa na Polícia Civil para denunciar que as folhas de resposta das provas estavam com um número de questões menor. Já na capital baiana, candidatos reclamaram ter recebido a prova que havia sido aplicada em outro turno.
Candidatos
O diretor-presidente da Anvisa confirmou nesta sexta que todos os candidatos que foram impedidos de realizar a prova em razão de falhas de organização, como as que foram registradas no Rio, poderão participar do novo teste. A diretoria da agência, entretanto, ainda vai analisar se estende a decisão para todos os candidatos inscritos que não compareceram à prova.
Já os concorrentes que não tiverem interesse de prestar novo exame poderão reivindicar à Cetro Concursos o ressarcimento da taxa de inscrição.
Os diretores da Anvisa ordenaram que a empresa organizadora desclassifique do concurso todos os candidatos que foram flagrados desrespeitando o edital do concurso, como aqueles que usaram celulares dentro das salas em que foram aplicadas as provas.
"É uma obrigação do candidato cumprir o edital. No momento em que ficar comprovado que ele [o candidato] descumpriu, não fará a nova prova. A empresa [organizadora] tem a obrigação de controlar, mas quem tem a obrigação de não usar celular é o candidato. Com isso, ele está correndo risco de ser afastado da prova e, inclusive, de responder criminalmente", advertiu Barbano.
O concurso da Anvisa oferece 157 vagas para especialista em regulação e vigilância sanitária, 29 vagas para analista administrativo, 100 vagas para técnico em regulação e vigilância sanitária e 28 vagas para técnico administrativo. Os salários variam de R$ 4.760,18 a R$ 10.019,20. Todas as vagas são para Brasília. O concurso recebeu 125.585 inscrições.