sexta-feira, 31 de julho de 2015

Vacina contra ebola se mostra eficaz em testes na Guiné

Vacina foi aplicada em mais de 4 mil pessoas.
Vacina pode ajudar a acabar com epidemia no oeste da África.

Do G1, em São Paulo
 
Infográfico sobre ebola, V6 (Foto: Infográfico/G1) Uma vacina contra o ebola desenvolvida em tempo recorde se mostrou 100% eficaz contra o vírus mortal em um grande estudo feito na Guiné e agora pode ser usada para ajudar a acabar com a epidemia no oeste africano, afirmaram pesquisadores internacionais independentes nesta sexta-feira (31).

Os resultados do estudo, que testou a vacina desenvolvida por Merck e NewLink Genetics em mais de 4 mil pessoas que estiveram em contato próximo com um caso de ebola confirmado, mostrou que a vacina deu 100% de proteção depois de 10 dias da aplicação.
O estudo foi publicado nesta sexta na revista britânica "The Lancet" e afirma que a vacina VSV-EBOV poderia ser "altamente eficaz em prevenir a doença do vírus ebola".
O vírus infectou 27.748 pessoas e matou 11.279 desde o ano passado no oeste da África. A epidemia do ebola na África Ocidental teve início no sul da Guiné, em dezembro de 2013. Trata-se a maior crise desde a identificação do vírus em 1976.

Mais de 99% das vítimas se encontram na Guiné, Serra Leoa e Libéria.

Resultado promissor
Especialistas em saúde descreveram os resultados como "notáveis" e "virada no jogo".

A Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou o resultado como "extremamente promissor" e disse que "são necessárias mais evidência conclusivas para a capacidade de proteger as populações contra o que é chamado de 'efeito rebanho'". Para isso, a autoridade regulatória da Guinea aprovou a continuação dos estudos, diz a OMS em comunicado.

"O crédito vai para o governo da Guiné, as pessoas que vivem nas comunidades e nossos parceiros neste projeto. Uma vacina eficaz será mais um instrumento muito importante para os atuais e futuros surtos de ebola", disse em comunicado a diretora-geral da OMS, Dr. Margaret Chan.

Depois, em coletiva de imprensa, afirmou: "Esta vai ser uma virada de jogo", disse ela a jornalistas. "Vai mudar a gestão do atual surto de Ebola e de futuros surtos".

"Acreditamos que o mundo está prestes a ter uma vacina eficaz contra o Ebola", disse a especialista em vacinas Marie Paule Kieny, da OMS, em uma entrevista à imprensa em Genebra.

Jeremy Farrar, um especialista em doenças infecciosas e diretor da fundação Wellcome Trust, que ajudou a financiar o estudo, disse que os resultados foram "notáveis".
            
"Esse estudo se atreveu a usar um projeto altamente inovador e pragmático, que permitiu à equipa na Guiné avaliar esta vacina no meio de uma epidemia", disse em comunicado.
            
"Nossa esperança é que esta vacina ajude agora a acabar com essa epidemia e esteja disponível para as futuras epidemias inevitáveis."
Bertrand Draguez, diretor do Médicos sem Fronteiras (MSF), que tem liderado a luta contra o ebola na África Ocidental, disse: "Pela primeira vez há uma perspectiva de uma ferramenta que poderia proteger vidas e quebrar cadeias de transmissão."
                    
Corrida contra o tempo
Este e outros estudos de vacinas foram rastreados de maneira rápida com enorme esforço internacional de pesquisadores, que correram para testar terapias e vacinas potenciais enquanto o vírus ainda estava circulando.

"Sabíamos que era uma corrida contra o tempo e que o experimento tinha de ser realizado sob as circunstâncias mais difíceis", diz John-Arne Röttingen, chefe da área de controle de doenças infecciosas no Instituto Norueguês de Saúde Pública e presidente do grupo de acompanhamento do experimento.
Outdoor na Libéria com a frase 'Ebola deve ir embora'; país africano foi um dos três mais atingidos pela epidemia do vírus. (Foto: Zoom Dosso/France Presse)Outdoor na Libéria com a frase 'Ebola deve ir embora'; país africano foi um dos três mais atingidos pela epidemia do vírus. (Foto: Zoom Dosso/France Presse)
Curandeiros queimam pé de bananeira em vilarejo da Guiné que deu origem à epidemia de ebola (Foto: AP Photo/Youssouf Bah)Curandeiros queimam pé de bananeira em vilarejo da Guiné que deu origem à epidemia de ebola (Foto: AP Photo/Youssouf Bah)
 Menina é levada a ambulância depois de apresentar sintomas da infecção por ebola em vilarejo a cerca de 50 km de Monrovia, capital da Libéria (Foto: AP Photo/Jerome Delay) Menina é levada a ambulância depois de apresentar sintomas da infecção por ebola em vilarejo a cerca de 50 km de Monrovia, capital da Libéria (Foto: AP Photo/Jerome Delay)

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Coreia do Sul declara fim da epidemia do vírus MERS

Há 23 dias sem novas infecções, o primeiro-ministro sul-coreano declarou que o país está livre da doença. A OMS ressalta, contudo, que é necessário esperar 28 dias sem novos casos para oficializar o fim do surto

Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS)
Na Coreia do Sul, o surto da síndrome causou 36 óbitos e infectou 186 pessoas(Pichi Chuang/Reuters)
Nesta terça-feira, a Coreia do Sul declarou o fim do surto de MERS (Síndrome Respiratória do Oriente Médio). Durante o pronunciamento, o primeiro-ministro sul-coreano Hwang Kyo-ahn afirmou que o país está há 23 dias sem novas infecções e que a população pode parar de se preocupar com a doença.
No entanto, para a Organização Mundial da Saúde (OMS), são necessários 28 dias - o que corresponde ao dobro do período de incubação do vírus - sem novos casos antes de oficializar o fim do surto. O último caso de MERS na Coreia do Sul foi confirmado no dia 4 de julho.
O primeiro-ministro sul-coreano afirmou que, apesar da declaração, as precauções contra novas infecções, incluindo a triagem nos aeroportos, continuarão até que a situação se normalize. Ele também se desculpou pela reação lenta das autoridades no combate à doença.

O governo da Coreia do Sul foi acusado de reagir lentamente à crise, já que a maioria das infecções aconteceu em centros de saúde que não estavam preparados adequadamente para uma doença contagiosa. O coronavírus, originário do Oriente Médio, chegou ao país no dia 26 de maio, trazido por um homem de 68 anos que havia viajado para a Arábia Saudita. Desde então, 186 pessoas foram infectadas e 36 morreram.
O Mers é considerado um "primo", mais mortal, mas menos contagioso, do vírus responsável pela Síndrome Respiratória Aguda Severa (Sars) que, em 2008, fez cerca de 800 mortos em todo o mundo. Como o Sars, o MERS provoca infecção pulmonar e os afetados têm febre, tosse e dificuldades respiratórias. Por enquanto, não existe um tratamento preventivo para a doença. De acordo com a OMS, o vírus apresenta uma taxa de mortalidade de quase 35%.
(Da redação)

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Falso médico preso no interior do Acre teria atendido mais de 300 pacientes

Mauricio Alves foi preso na tarde de segunda-feira (27), em Sena Madureira.
Suspeito prestava serviço ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais.

Aline Nascimento Do G1 AC
Falso médico (de branco) e mais quatro pessoas foram presas em Sena Madureira (Foto: Divulgação Polícia Civil)Falso médico (de branco) e mais quatro pessoas foram presas em Sena Madureira (Foto: Divulgação Polícia Civil)
A Polícia Civil do município de Sena Madureira (AC), distante 145 km da capital Rio Branco, prendeu na tarde de segunda-feira (27), Mauricio Alves Gomes, de 41 anos, suspeito de se passar por médico e vender remédios sem autorização. Segundo as investigações, o falso médico prestava serviços para o Sindicato dos Trabalhadores Rurais da cidade e teria atendido mais de 300 pacientes. Além de Gomes, foram presos a secretária, o vigilante, a assistente social e o vice-presidente do sindicato.
De acordo com o delegado de Polícia Civil, Rêmullo Diniz, o suspeito oferecia exames, consultas e medicação para os trabalhadores. Diniz disse ainda que a polícia conseguiu identificar apenas 32 pacientes de Sena Madureira. Os demais são de outros municípios, já que o suspeito tinha convênio com sindicatos de várias cidades.
“Ele diagnosticava, passava exames e inclusive exames neurológicos. Oferecia até cirurgias plásticas de redução e próteses de silicone. Começamos a investigar depois de ouvir anúncios na rádio e panfletos espalhados pela cidade. A partir daí, conseguimos chegar até ele”, relata.
Ainda de acordo com o delegado, o suspeito teria feito um acordo com a presidência do sindicato para dividir os lucros das consultas. A polícia apreendeu ainda com o suspeito uma máquina utilizada para realizar exames, mais de R$ 3 mil em dinheiro e vários comprovantes de depósitos de consultas realizadas.
“Ele cobrava até R$ 300, porque além da consulta, sempre vendia e incitava os pacientes a comprar remédios que eram muitos caros, teve gente que gastou mais de R$ 1 mil. Eu tenho uma lista com 32 nomes, mas no computador dele tem registro de pelo menos 300 pessoas enganadas”, detalhou o delegado.
O delegado destacou ainda que a secretaria Eliane Campos, o vigilante Luciano Firmino dos Santos, a assistente social Izanira da Silva Alves, e o vice-presidente do sindicato, Manoel de Jesus Cesar, todos presos juntos com o falso médico, devem responder pelos crimes de venda ilegal de medicação, crime à saúde e associação criminosa. Gomes deve responder por esses crimes e exercício ilegal da medicina.
Diniz revelou ainda que a presidente do sindicato, Cirleide Silva, também foi indiciada pelos crimes e deve responder em liberdade. Os demais suspeitos estão detidos no presídio do município de Sena.
“Eles [suspeitos] teriam feito um acordo que parte dos ganhos seriam divididos com o sindicato. Ele tinha parceria com quase todos os sindicatos da cidade. Só no dia de ontem, ele arrecadou mais de 6 mil reais, até a hora da prisão”, finaliza.
O G1 encontrou em contato com a presidente do sindicato, Cirleide Silva, por duas vezes. Na primeira tentativa, a sindicalista disse que estava em reunião e que falaria depois. Já durante a segunda tentativa, a presidente não foi localizada.

terça-feira, 28 de julho de 2015

Brasileiros desconhecem como se contrai hepatite C, mostra pesquisa

Dia Mundial de Luta Contra as Hepatites Virais é nesta terça-feira (28)
Contágio é principalmente por compartilhamento de objetos pontiagudos.

Do G1, em São Paulo
Campanha em alusão ao Dia Mundial de Combate às Hepatites será realizada no próximo sábado (28), em Belém (Foto: Cristina Cabral)Teste rápido de hepatite é realizado durante campanha (Foto: Cristina Cabral)
 

Os  brasileiros têm poucos conhecimentos sobre as formas de contágio da hepatite C. Segundo uma pesquisa feita pelo Instituto Datafolha, 36% das pessoas pensam que a doença é transmitida no ato sexual, o que é mais raro. As pessoas também consideram erroneamente que a doença pode ser transmitida por picada de mosquito e por animais domésticos. Além disso, 18% admitiu que não sabe como se pega a doença.
As formas mais comuns de contágio por hepatite C são, na verdade, por compartilhamento de objetos pontiagudos, o que pode acontecer na manicure, no estúdio de tatuagem ou de colocação de piercing, por exemplo. O compartilhamento de seringas também pode levar à infecção.
Os dados são de uma pesquisa feita pelo Datafolha a pedido da Sociedade Brasileira de Hepatologia (SBH) e da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). O levantamento ouviu 2.125 pessoas de 120 municípios e foi divulgado nesta terça-feira (28), que é o Dia Mundial de Luta Contra as Hepatites Virais.
Entre os entrevistados, apenas 38% afirmaram que já realizaram algum exame para detectar a hepatite C. Isso é preocupante porque a doença pode levar anos até que comece a manifestar os sintomas. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Hepatologia, há cerca de 2 milhões de brasileiros infectados com hepatite C, porém mais de 60%  não sabe que tem a doença.
O Ministério da Saúde anunciou, nesta segunda-feira, a inclusão de um novo tratamento contra hepatite C pelo SUS, que inclui as drogas daclatasvir, simeprevir e sofosbuvir. A nova opção, que estará disponível até dezembro, vai beneficiar pacientes que não podiam receber os tratamentos disponíveis até então, entre eles aqueles que também têm HIV ou que não responderam bem às drogas convencionais.
Veja, no infográfico abaixo, informações sobre contágio, prevenção e tratamento da hepatite A, B e C.
Infográfico explica a hepatite C (Foto: G1)

segunda-feira, 27 de julho de 2015

13,8% dos remédios usados contra câncer estão em falta no DF

Secretaria de Saúde diz que realiza mutirão para comprar medicamentos.
Há casos de pacientes que passaram semanas sem fazer quimioterapia.

Raquel Morais Do G1 DF
VEJA REMÉDIOS EM FALTA NO DISTRITO FEDERAL
Quimioterápicos Indicações
Rituximabe 1. Linfoma não-Hodgkin
Citarabina 1. Leucemias agudas
Bleomicina 1. Linfoma de Hodgkin
2. Câncer de testículo
Carboplatina 1. Câncer de pulmão
2. Câncer de mama
3. Câncer no útero
4. Câncer de cabeça e pescoço
5. Câncer de bexiga
Tamoxifeno 1. Câncer de mama
Topotecana 1. Câncer de ovário
2. Câncer de pulmão
Gentacibina 1. Câncer de pâncreas
2. Câncer de pulmão
3. Câncer de mama
4. Câncer de ovário
Melfalano 1. Mieloma múltiplo
Fonte: Secretaria de Saúde do DF
Nove dos 65 medicamentos usados pela rede pública no tratamento contra câncer têm estoques zerados no Distrito Federal. Quatro deles estão em falta desde o segundo semestre do ano passado. A Secretaria de Saúde afirmou que deu início a um mutirão para adquirir remédios e que a medida deve sanar o problema. Não há prazo para o reabastecimento.
De acordo com a pasta, as medicações Rituximabe (50 ml), Citarabina e Bleomicina estão em falta desde outubro do ano passado. O estoque de Rituximabe (10 ml) acabou em novembro de 2014. As doses de Carboplatina terminaram em março, e as de Tamoxifeno, em maio. Já Topotecana, Gencitabina e Melfalano estão indisponíveis desde junho (veja mais na tabela).
Os nove se somam a outros 62 remédios indisponíveis na rede. Na lista constam ainda antibióticos contra toxoplasmose, sífilis, tétano, tuberculose e infecções no coração, além de um tipo de Ritalina – usado contra déficit de atenção e hiperatividade. A secretaria afirma que o vazio nas prateleiras está relacionado a dívidas com fornecedores herdadas da gestão anterior e alegações dos laboratórios de escassez de matéria-prima e diz não faltar dinheiro para a compra de medicamentos.
O oncologista Sandro José Martins afirma que, via de regra, não há tratamento que seja insubstituível. Mas, segundo ele, troca das medicações, no entanto, interfere de modo imprevisível sobre o resultado final para o paciente, porque já não se sabe mais qual a chance de dar certo.
"A quimioterapia do câncer é uma modalidade de tratamento que requer o uso diligente de medicamentos: na hora certa, na dose certa, para o paciente certo. Falha em observar qualquer uma destas condições interfere de modo desconhecido com a segurança e eficácia do tratamento", explica.
A preocupação passou a fazer parte da rotina do técnico em informática Israel Cardoso dos Santos, que conta que a mãe luta contra um câncer nos ovários desde 2013. Sem o medicamento Gencitabina na rede, a idosa de 69 anos está há três semanas sem fazer quimioterapia.
“Não avisam antes. Na hora que chega para consultar é que avisam que está faltando o remédio, mandam de volta para casa”, afirma. “Eu me sinto péssimo, quantos anos minha mãe contribuiu para o INSS e hoje aposentada não tem direito [a tratamento?] A gente fica constrangido.”
Santos diz ainda que a mãe desenvolveu depressão por causa da doença e ficou pior depois que o medicamento ficou indisponível na rede. “Ela está preocupada com isso. E eu fico com medo de perdâ-la, corro para cá, corro para lá, fico angustiado.”
Relatório médico aponta falta do medicamento Gencitabina, usado em quimioterapia no tratamento contra câncer (Foto: Israel Cardoso dos Santos/Arquivo Pessoal)Relatório médico aponta falta do medicamento Gencitabina, usado em quimioterapia no tratamento contra câncer (Foto: Israel Cardoso dos Santos/Arquivo Pessoal)
O oncologista afirma que situações do tipo causam "muito sofrimento" ao doente e aos familiares, atrapalhando a terapia. "Qualquer condição estranha ao tratamento que possa interferir na sua continuidade como previsto – exemplo: falta de medicamentos, autorizações de convênio atrasadas, dificuldades pessoais e econômicas – causam enorme frustração, sensação de impotência e medo – emoções que prejudicam sobremaneira o paciente."
Dados da pasta mostram que, entre 1º de janeiro e 15 de julho, o DF recebeu 336 notificações judiciais para fornecimento de remédios. Os principais medicamentos oncológicos solicitados por meio de demandas judiciais são o Bortezomibe, a Abiraterona e o Fingolimode.
Tratamento
A secretaria não respondeu o número de pessoas atualmente em tratamento contra câncer na rede pública. Os tipos mais comuns em homens são próstata, cólon e reto e traqueia, brônquio e pulmão, enquanto mulheres são atingidas em maior frequência na mama, cólon e reto e no colo do útero.
O tratamento é oferecido em oito hospitais: da Criança, Base, regionais de Taguatinga , Asa Norte, Sobradinho, Gama e Ceilândia, além do Materno Infantil. As consultas são marcadas pela central de regulação. A rede oferece quimioterapia e radioterapia.

domingo, 26 de julho de 2015

Saúde na pele

A medicina investe na criação de adesivos que imunizam contra doenças ou tratam males como a diabetes. Eles permitem ação rápida e prometem menos efeitos colaterais. No Brasil, a última novidade é um produto que controla os sintomas do Parkinson

Helena Borges (helenaborges@istoe.com.br)
Asubstituição de pílulas ou injeções por adesivos ganha destaque na prevenção e combate às doenças. Mais conhecida por ser uma alternativa de administração de anticoncepcionais ou de substâncias para ajudar a parar de fumar, por exemplo, a opção está sendo estudada para ministrar vacinas e combater males como a diabetes. No Brasil, a última novidade nesse campo foi a chegada do primeiro tratamento transdérmico para a doença de Parkinson, enfermidade neurodegenerativa caracterizada por tremores e dificuldades de movimentos.
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Chamado de Neupro e fabricado pela UCB Pharma, o adesivo é o único do mundo com esta indicação e está disponível em mais de 40 países. Ele deve ser colocado sobre a pele (dos ombros, dos braços ou do abdome). O produto libera ao longo de 24 horas a rotigotina, composto absorvido pela cútis e cuja função é agir sobre os receptores de dopamina, substância envolvida no processamento dos movimentos e que, na doença de Parkinson, encontra-se em quantidade desequilibrada. “A liberação contínua do remédio é uma vantagem”, explica a neurologista Roberta Saba, da Universidade Federal de São Paulo.
A ideia é a de que, dessa forma, os sintomas seriam controlados de maneira mais uniforme. Outra característica apontada pelos defensores do tratamento é o fato de, por ser absorvida através da pele e cair direto na corrente sanguínea, a rotigotina não passaria pelo trato gastrointestinal, como ocorre com as pílulas. “Muitos remédios por via oral são agressivos para o sistema gástrico”, afirma o neurologista Delson José da Silva, membro da Academia Brasileira de Neurologia e chefe da Unidade de Neurologia e Neurocirurgia do Hospital das Clínicas de Goiás. “O adesivo proporciona melhor alívio dos sintomas com menos efeitos colaterais.” No entanto, há especialistas com outra opinião. “A via oral ainda é o consenso nos remédios de Parkinson porque é a mais fácil de administrar e tem maior absorção”, diz o neurocirurgião Cláudio Fernandes Corrêa, presidente do Instituto SIMBIDOR, que realiza o Simpósio Brasileiro e Encontro Internacional sobre Dor.
Apesar das controvérsias, a busca por opções do gênero contra a doença continua pelo mundo. Na Coréia do Sul, pesquisadores da Universidade Nacional de Seul desenvolvem um adesivo que utiliza nanopartículas de sílica ativadas por calor. Elas monitoram a atividade muscular, aumentando ou diminuindo a liberação da rotigotina de acordo com a necessidade. Segundo os cientistas, o modelo seria muito apropriado para tratar a doença de Parkinson porque os tremores que a caracterizam não são constantes.
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SÓ QUANDO PRECISA
Zhen Gu é um dos criadores de adesivo que libera insulina
de acordo com a necessidade
Nos Estados Unidos, foi criado um adesivo com capacidade semelhante, dirigido ao tratamento da diabetes. Ele tem duas funções: primeiro detecta o aumento do nível de açúcar no sangue, característico da doença. Em seguida, para regularizar a taxa glicêmica, libera doses de insulina. O hormônio é o responsável pela passagem do açúcar do sangue para dentro das células.
De formato quadrado, com menos de um centímetro de área, o adesivo é coberto com cerca de cem microagulhas que possuem, em seu interior, cargas microscópicas de insulina e enzimas sensíveis à glicose. “Criamos uma alternativa contra a diabetes que funciona rapidamente e é fácil de usar”, disse Zhen Gu, um dos envolvidos no desenvolvimento do adesivo. Os testes feitos em cobaias cujos resultados foram divulgados na última semana mostraram que o tratamento manteve baixo o nível de glicemia dos animais por mais de nove horas.
A tecnologia empregada no novo adesivo é vista com otimismo pelos especialistas. “Quando a insulina é injetada de modo tradicional, há um pico na sua concentração”, explica o endocrinologista Adolpho Milech, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “E depois que ela passa pelo fígado, ocorre uma queda brusca na sua quantidade. Neste novo modelo a liberação é pequena, mas sustentada.”
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Mais adiantados estão os estudos para a fabricação de vacinas em forma de adesivos. Cientistas da Universidade King’s College, de Londres, desenvolveram um produto repleto de microagulhas que perfuram a pele, injetando as substâncias ativas das vacinas. Não há a dor da injeção. Ele é feito de silicone e tem o tamanho de uma moeda de um centavo. Como o adesivo mantém sua efetividade à temperatura ambiente, a técnica foi considerada revolucionária, já que um dos maiores problemas de saúde pública é levar os remédios e vacinas a países que não possuem infraestrutura de armazenamento. “Mostramos que é possível manter a eficácia de uma vacina tradicional usando as microagulhas”, explicou a pesquisadora Linda Klavinskis, do Departamento de Imunologia de King’s College.
Para quem sofre de enxaqueca, há um adesivo eletrônico, aprovado pelo FDA, órgão americano de controle de drogas e alimentos. Ele utiliza cargas elétricas para liberar sumatriptano, princípio ativo que já se encontra no Brasil em comprimidos e em spray nasal. “Há um estímulo elétrico, mas é tão leve que a pessoa não sente nada”, explica a neurologista Célia Aparecida Roesler, membro da Sociedade Internacional de Cefaleia. O remédio ainda não chegou ao País.
Fotos: Dae-Hyeong Kim / Nature Nanotechnology; Courtesy of Zhen Gu, PhD; divulgação

sábado, 25 de julho de 2015

Primeira vacina contra malária está prestes a ser aprovada

Nesta sexta-feira, o órgão europeu regulador de medicamentos deu o aval à imunização

Malária
Se aprovada, a vacina pode se tornar a primeira imunização humana licenciada contra essa doença parasitária que mata milhares de pessoas anualmente(Thinkstock/VEJA)
A primeira vacina do mundo contra a malária está mais próxima da aprovação. Nesta sexta-feira, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) considerou a imunização segura e eficaz para ser usada em bebês na África.
A dose, chamada Mosquirix ou RTS,S, foi desenvolvida pela farmacêutica britânica GlaxoSmithKline em conjunto com a PATH Malaria Vaccine Initiative. Se aprovada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), pode se tornar a primeira vacina humana licenciada contra essa doença parasitária que mata centenas de milhares de pessoas anualmente.
De acordo com a organização, a avaliação da vacina irá começar em outubro. O principal obstáculo a ser enfrentado para a aprovação é o fato de o tratamento oferecer apenas uma proteção parcial.
"Embora a RTS,S por si só não seja a resposta completa à malária, seu uso junto com outras medidas, como mosquiteiros e inseticidas, daria uma contribuição muito significativa para controlar o impacto da malária em crianças nessas comunidades africanas que mais precisam dela", disse Andrew Witty, CEO da GlaxoSmithKlinie.
Atualmente, a malária mata 660.000 pessoas todo ano. Na África Subsaariana, região mais afetada pela doença, 1.300 crianças morrem diariamente -- o equivalente a uma por minuto. No Brasil, o número de casos de malária tem diminuído, com 178.000 doentes e 41 mortes no ano passado.
(Com Reuters)

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Cientistas propõem tipo inédito de cirurgia para combater a obesidade

Procedimento desvia fluxo de bílis para a parte final do intestino delgado.
Resultado é comparável ao oferecido por métodos como a cirurgia bariátrica.

Da EFE
Redução de estômago é alternativa para curar doenças (Foto: Reprodução/RBS TV)Redução de estômago é alternativa para curar doenças decorrentes da obesidade (Foto: Reprodução/RBS TV)
Um grupo de cientistas testou com sucesso em ratos uma nova técnica cirúrgica que pode chegar a substituir as "complicadas" e "invasivas" operações de redução de estômago em humanos, publicou nesta terça-feira (21) a revista britânica "Nature".
Este novo procedimento, desenvolvido por especialistas do Vanderbilt University Medical Center de Nashville, nos Estados Unidos, consiste em desviar o fluxo de bílis para a parte final do intestino delgado, o íleon.
O resultado sobre a perda de peso nos roedores obesos é comparável ao oferecido por métodos mais tradicionais, como a gastrectomia vertical ou a cirurgia bariátrica.
Nesta última, que requer uma mínima incisão ao ser por via laparoscópica, são usados instrumentos cirúrgicos para reduzir o estômago do paciente e ligá-lo diretamente ao intestino delgado pelo chamado bypass gástrico.
A gastrectomia vertical retira até 90% do estômago do paciente e o órgão fica reduzido a uma espécie de canal com capacidade de absorção aproximada de 50 a 60 gramas.
Em ambos os casos, o resultado é que o paciente come menos e, ao mesmo tempo, absorve menos do alimento que ingeriu, por isso estão entre os métodos cirúrgicos "mais efetivos" para conseguir "uma perda de peso duradoura" e "reverter os sintomas do diabetes em humanos", apontaram os autores da pesquisa liderada pelo especialista Naji Abumrad.
Intervenção menos dolorosa
Estudos anteriores também já mostraram que os ácidos biliares potencializam os "efeitos metabólicos positivos" que gerados pelos bypasses gástricos.
Levando em conta esse conhecimento, Abumrad e seus colegas conectaram a vesícula biliar de ratos obesos a diferentes partes do intestino delgado e compararam depois os "benefícios metabólicos" desta intervenção com os de um bypass durante um período de até oito semanas.
Os especialistas descobriram que a simples injeção de fluxo de ácido biliar no íleon é suficiente para obter efeitos similares aos gerados por "procedimentos cirúrgicos tradicionais mais complicados".
Aparentemente, esses efeitos são consequência de uma redução na absorção de gordura no intestino delgado e a mudanças na microbiota (flora intestinal), segundo o estudo.
Embora esse novo procedimento seja "menos invasivo" e mais simples do ponto de vista técnico, os autores alertam que sua segurança e eficácia a longo prazo ainda não foram determinados.
Além disso, os especialistas defendem que essa técnica pode ser inviável para pacientes obesos ou diabéticos cujas vesículas biliares foram retiradas para combater os cálculos biliares.
Os pesquisadores também disseram que ainda é cedo para saber com exatidão até que ponto essa nova intervenção cirúrgica é reversível.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Disfunção erétil pode estar associada a diabetes

Segundo estudo, homens com problemas de ereção correm maior risco de ter diabetes tipo 2


Sexo: Em pesquisa feita com mais de 5.000 homens, 14% deles afirmaram sofrer com falta de desejo sexual durante, ao menos, dois meses
Novo estudo revela que disfunção erétil pode estar ligada à diabetes tipo 2(Thinkstock/VEJA)
Um estudo realizado pela Universidade de Toronto, no Canadá, revelou que homens de meia-idade com problemas de ereção correm um risco duas vezes maior de ter diabetes em comparação aos homens que não apresentam esse tipo de problema.
A análise, publicada recentemente na revista científica Annals of Family Medicine, utilizou dados de uma pesquisa realizada pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, coletados entre 2001 e 2004. Os pesquisadores analisaram informações de homens com idade entre 40 e 59 anos. No grupo dos homens que afirmaram não conseguir (ou conseguir com pouca frequência) manter uma ereção, 10% sofriam de diabetes tipo 2. Para o grupo que não tinha disfunção erétil, a taxa era de 5%.

Não é novidade entre os médicos que a disfunção erétil pode ser um indicador de doenças cardiovasculares, mas o novo estudo aponta que a diabetes também pode estar associado ao problema. Os pesquisadores acreditam que o achado comprova que a disfunção erétil é um problema médico e que não afeta apenas o estilo de vida do homem -- mas o organismo como um todo.
Uma das possíveis explicações é o fato de a doença favorecer uma "deficiência" dos vasos sanguíneos. Para a ereção é necessário que o pênis receba aporte sanguíneo adequado.

terça-feira, 21 de julho de 2015

Estudar música na adolescência estimula a linguagem e a audição

Pesquisadores americanos avaliaram alunos do ensino médio que praticavam música de duas a três horas por semana

Adolescente tocando bateria
O aprendizado de música durante a juventude pode trazer benefícios ao cérebro (iStockphoto/Getty Images)
Ter uma formação musical durante a adolescência estimula regiões do cérebro associadas à audição e à linguagem. É o que revela o novo estudo da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos, publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences. Até poucos anos atrás acreditava-se que o cérebro era influenciado pela música de tal forma apenas durante a infância -- dos 3 aos 10 anos, especificamente. Ou seja, dificilmente a música surtiria grandes efeitos depois disso.
Os pesquisadores da Universidade Northwestern avaliaram um grupos de 40 adolescentes americanos do ensino médio, ao longo de três anos. Metade da turma estava envolvida em atividades escolares musicais - eles praticavam diversos instrumentos musicais na banda do colégio, de duas a três horas por semana. A outra metade participava de atividades físicas em vez de música.

Os estudiosos utilizaram eletrodos para analisar o cérebro dos adolescentes. O recurso mostrou que o cérebro dos alunos que treinavam música sofreram uma maturação mais veloz nas regiões associadas a audição. Significa que os alunos tornaram-se mais sensíveis a detalhes sonoros. Os jovens também tornaram-se mais hábeis na comunicação. Os benefícios cerebrais não foram observados no grupo da atividade física. "Esses resultados mostram a importância de submeter os adolescentes a estímulos musicais", diz Nina Kraus, autora do estudo.

domingo, 19 de julho de 2015

Negligenciada, esquistossomose tem transmissão descontrolada no MA

Pesquisador da UFMA afirma: 'É preciso ter cuidado. A situação é de alerta'.
G1 mostra como as populações convivem com a doença no norte do Estado.

Clarissa Carramilo Do G1 MA
Caramujo encontrado em rio de São Bento (MA) (Foto: Clarissa Carramilo/G1)Caramujo encontrado em rio de São Bento (MA)
(Foto: Clarissa Carramilo/G1)
A esquistossomose ou barriga d'água, doença que pode ser erradicada com medidas de saneamento básico, ainda ameaça as cidades da Baixada Maranhense, de acordo com o estudo do infectologista Raimundo Cutrim, do Departamento de Medicina da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). O médico doutor em Doenças Tropicais pesquisa as formas de contágio da doença há 30 anos e garante que não há controle da transmissão no Estado.
Sem registros detalhados sobre a enfermidade, o pesquisador recruta acadêmicos periodicamente para realizar atendimento voluntário nas cidades de maior incidência. O G1 acompanhou o grupo em Cururupu e São Bento, no norte maranhense. Em apenas uma manhã, foram diagnosticados 35 novos casos da doença. A Secretaria de Estado de Saúde informou que não há registros em 2015, enquanto o Ministério da Saúde exclui o Maranhão dos Estados que pertencem à área endêmica. Para o pesquisador, há algo errado na conta.
Infectologista Raimundo Cutrim conversa com moradora da Baixada (Foto: Clarissa Carramilo / G1)Infectologista Cutrim conversa com moradora
da Baixada (Foto: Clarissa Carramilo/G1)
"É preciso ter cuidado. A situação é de alerta. O governo federal negligenciou, entregou tudo para Estados e municípios e alguns não estavam preparados para receber, não tinham funcionários, a coisa não foi tão bem. De São Luís até Belém, tem até mil localidades com prevalência de esquistossomose, mais de mil", afirma.
Em Cururupu, município com pouco mais de 31 mil habitantes, há 23 estabelecimentos municipais de saúde e dois privados. Somente 4,1 mil, de aproximadamente 7,3 mil residências, possuem abastecimento de água encanada. A rede de esgoto é predominantemente formada por fossas sépticas e rudimentares. A incidência de pobreza é de 62,91%, de acordo com dados do IBGE.
Segundo o Ministério da Saúde, a doença é causada pelo Schistosoma, parasita que necessita, além do homem, da participação de caramujos de água doce, do gênero Biomphalaria, para completar seu ciclo vital. Na fase adulta, o parasita vive nos vasos sanguíneos do intestino e fígado do hospedeiro definitivo.
Rotina das comunidades é ligada ao rio
(Foto: Clarissa Carramilo/G1)
Rotina das comunidades é ligada ao rio, na Baixada Maranhense (Foto: Clarissa Carramilo/G1)Vida no rio
O ambiente de rios somado ao panorama de abandono da saúde pública são determinantes para o descontrole na transmissão da esquistossomose. Nos povoados quilombolas Aliança e Ceará, os moradores são categóricos em afirmar que ninguém se livra de contrair o verme.
"Todos! Todos! Todos os que estão vivos e os que já morreram, não escapou nenhum aqui no pedaço do caramujo. Essa região é o lugar que tem mais resultado desse verme. Quando chega lá na Funasa, já é conhecido o Ceará", conta o lavrador José Rodrigues.
Por que, meu Deus, será que ela [a doença] entrou no meu corpo e não sai?"
Raimundo Cornélio, 82
Na comunidade onde os moradores se mantêm da produção e venda de farinha de mandioca e da criação de animais, as casas são de barro e palhoça, não há água encanada e nem esgoto. A rotina ligada ao rio contribui para a disseminação dos casos.
"Eu acho que falta é saneamento básico. No caso, dentro da comunidade, a distribuição de água, né? Tem muitas casas que às vezes pega a água ainda na cacimba, próximo ao rio, então, eu acredito, com o pouco conhecimento que eu tenho, que isso prejudica muito. Se tivesse assim uns tanques pra pessoa trabalhar nas casas do forno. No caso, seria o município ter mais atenção na distribuição de água. Tanto que preocupa que isso tem forçado algumas pessoas até a mudar, tá fazendo um esforço com pouca condição. E evita as pessoas que vêm, as vezes parente que mora longe”, completa.
Raimundo Cornélio, 82, convive com a esquistossomose há anos (Foto: Clarissa Carramilo / G1)Raimundo Cornélio, 82, convive com o abdômen
dilatado (Foto: Clarissa Carramilo / G1)
Barriga d'água
Uma vez contraída, a esquistossomose pode causar coceira, febre, tosse, diarreia, enjoos, vômitos e emagrecimento. Na fase crônica, há o aumento do fígado e do baço, hemorragia no esôfago e dilatação do abdômen, característica que dá à doença o nome popular de barriga d'água.
O idoso Raimundo Cornélio, de 82 anos, convive com a esquistossomose há anos. Com a barriga volumosa, os pés inchados e dificuldades para falar e se locomover, ele não entende como contraiu a doença, que o leva a extrair sete litros de água por dia do abdômen.
Lavradora Maria Isabel dos Santos, 68 (Foto: Clarissa Carramilo / G1)Maria Isabel dos Santos, 68, conta que ela eos 13
filhos tiveram a doença (Foto: Clarissa
Carramilo / G1)
“Do nada apareceu esse negócio. A barriga cresceu em janeiro do ano passado. Eu quero uma explicação para eu entender o quê que é o meu sofrimento. Por que, meu Deus, será que ela [a doença] entrou no meu corpo e não sai? Ela tem que sair. Toda doença, ela tem remédio. Essa tá desse jeito. Como se formou, só Deus sabe”, lamenta.
Caramujo
A lavradora Maria Isabel dos Santos, de 68 anos, revela que ela, o marido e os 13 filhos já tiveram a doença e que não sabe como acontece a contaminação.
Não como, mas acho que bebo o caramujo"
Maria dos Santos, lavradora
"[O caramujo] tá ali no rio. Tem muito. Não como, mas acho que bebo o caramujo. Tô dizendo por dizer, porque eu não sei como é que ele vai pra gente. Eu não como, mas vai ver que eu bebo? Tem vez que dá quatro ovos, tem vez que já dá o ovado. Já tomei remédio três vezes. Sempre repete [os exames], todo ano tem que repetir. A gente faz poço, mas vai no rio lavar uma roupa e às vezes tem que tomar banho rápido", conta.
Ela, que se diz feliz de viver no lugar onde nasceu e se criou, conta que viu os filhos partirem um a um para morar em outras localidades em busca de melhores condições de vida. "Eu moro aqui, eu gosto daqui, mas tem esse problema de saúde, o caramujo. Aí toma remédio que passa muito mal. Às vezes eu fico tonta, dá aquela arrelia, mas tem que segurar porque se botar fora [o remédio], não adianta", avisa.
Dados
A Secretaria de Estado da Saúde (SES) informou ao G1 que foram confirmados 115 casos de Esquistossomose no Estado em 2014. A cidade com maior incidência é São Luís, com 48 casos, seguido de Tutoia com 32 e Maranhãozinho e Pastos Bons, ambos com 12 casos. Em 2015, ainda não há nenhum caso confirmado.
A SES destaca ainda que a efetivação do Programa de Controle da Esquistossomose é de responsabilidade direta dos municípios. O Estado dá suporte na capacitação dos recursos humanos das equipes municipais, realiza supervisão direta e monitora as ações de prevenção. Além disso, fornece os kits para preparação dos exames de detecção da doença e distribui o medicamento específico (Praziquantel 600 mg) para o tratamento dos casos positivos.
Estudantes de medicina atendem novos casos na Baixada Maranhense (Foto: Clarissa Carramilo/G1)Estudantes de medicina atendem novos casos na
Baixada (Foto: Clarissa Carramilo/G1)
Em nota ao G1, o Ministério da Saúde diz que a estimativa é de que, no Brasil, cerca de 25 milhões de pessoas vivem em áreas sob o risco de contrair a doença. Os estados das regiões Sudeste e Nordeste são os mais afetados, sendo que a ocorrência está diretamente ligada à presença dos moluscos transmissores.
Atualmente, a doença é detectada em todas as regiões do país. As áreas endêmicas e focais abrangem 19 Unidades Federadas e compreendem os Estados de Alagoas, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte (faixa litorânea), Paraíba, Sergipe, Espírito Santo e Minas Gerais (predominantemente no Norte e Nordeste do Estado).
Para o Ministério, Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás e no Distrito Federal, a transmissão é focal, não atingindo grandes áreas. O Sistema de Informações do Programa de Vigilância e Controle da Esquistossomose (SISPCE) mostra que, nessas áreas, foram realizados 360.820 exames em 2014, com 16.246 casos positivos.
Nas áreas não endêmicas, os casos são detectados nas unidades de saúde, ambulatórios ou hospitais e notificados e registrados no Sistema de Agravos de Notificação – Sinan. Em 2014, ocorreram 5.953 casos no Brasil, sendo 18 no Maranhão.
Não existem vacinas contra a esquistossomose. A prevenção consiste em evitar o contato com águas onde existam os caramujos hospedeiros intermediários. O tratamento para os casos simples é domiciliar.
O praziquantel, na apresentação de comprimidos de 600 mg é administrado por via oral, em dose única de 50 mg/kg de peso para adultos e 60mg/kg de peso para crianças. Como segunda escolha, a oxamniquina apresenta cápsulas de 250 mg e dose de 15 mg/kg para adultos e solução de 50 mg/ml e dose de 20 mg/kg, para uso pediátrico. Os casos graves geralmente requerem internação hospitalar e tratamento cirúrgico.

sábado, 18 de julho de 2015

‘Tenho fobia de falar’: Britânica conta como é viver com mutismo seletivo

Sabrina Branwood começou a apresentar os primeiros sintomas deste tipo de ansiedade ainda na infância e hoje recorre a um aplicativo no tablet para se comunicar verbalmente com amigos e parentes.

Ashley John-Baptiste BBC Magazine
Sabrina Branwood começou a ter mutismo seletivo na infância  (Foto: BBC)Sabrina Branwood começou a ter mutismo seletivo na infância (Foto: BBC)
Mutismo seletivo, ou "fobia de falar", é um tipo de problema de ansiedade associado normalmente à infância e que afeta milhares de crianças. No entanto, adultos também sofrem com esta condição, mas são normalmente esquecidos. Como é viver assim para eles?
"Quando minha avó teve um derrame, fiquei tão ansiosa que não conseguia mais conversar com ela", diz a inglesa Sabrina Branwood, de 35 anos, que tem mutismo seletivo desde a infância.
 
Isso a impede de falar com determinadas pessoas ou em certas ocasiões e faz com que ela seja incapaz de conversar com alguns de seus parentes mais próximos. Antes de sua avó morrer, por exemplo, Sabrina não conseguiu dizer a ela o quanto a amava.
Hoje, Branwood depende de sua família e de um aplicativo em seu tablet para se comunicar.
"Quando pessoas me fazem perguntas, minha ansiedade faz com que seja difícil pensar", ela explica digitando no aparelho. "Sinto-me presa. Não fico em silêncio porque não quero falar. Gostaria de poder falar à vontade, mas é muito difícil e complicado."
Branwood diz que ter mutismo seletivo é como viver dentro de uma caixa. "Uma caixa com furos, porque você pode ver e ouvir as outras pessoas, mas não consegue sair de dentro dela por mais que tente", explica.
"Você pode gritar de dentro da caixa o quanto quiser, mas ninguém te ouve, nem quando você chora por estar machucado ou com medo."
Nervosismo, teimosia e agressividade
Segundo o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido, o mutismo seletivo aparece normalmente no início da infância, quando uma criança passa a frequentar novos ambientes sociais, como uma creche, e fica longe da família. Trata-se de um problema mais comum em meninas e em integrantes de minorias étnicas.
Quem sofre desta condição não se recusa a falar. A pessoa é "literalmente incapaz" de se comunicar verbalmente. Os sintomas em crianças incluem nervosismo, teimosia ou comportamentos agressivos quando voltam para casa após a escola. Elas também podem ficar paralisadas quando não conseguem falar.
As formas mais efetivas de tratamento incluem terapia comportamental e cognitiva. Se não for tratado, o problema pode perdurar até à fase adulta, como no caso de Sabrina Branwood.
Comunicar-se verbalmente é especialmente difícil para ela quando seu interlocutor está impaciente ou não compreende sua condição - neste caso, com frequência, esta pessoa considera que Branwood é uma pessoa teimosa ou sem educação.
Mas até mesmo conversar com seus pais e irmãos pode ser uma tarefa complicada se ela está preocupada ou chateada com alguma coisa. Em certas ocasiões, quando se sente pressionada por estranhos, ela tem ataques de pânico.
Isso faz com que ela sinta que sua vida está sendo desperdiçada. "Deixei de fazer tantas coisas que queria, como ter muitos amigos ou ir a lugares sem que minha família precise me acompanhar."
Com o tempo, ficou cada vez mais difícil lidar com seu mutismo seletivo. "Quando você é uma criança, seus pais podem ajudar muito mais, podem falar por você. Mas, quando se é adulto, você precisa fazer muitas coisas por conta própria, e as pessoas esperam que eu seja capaz disso, mas não sou."
'Fobia de falar'
As estimativas atuais apontam que uma em cada 150 crianças no Reino Unido tem mutismo seletivo. Esta taxa cai para um em cada 1 mil adolescentes e um em cada 2,4 mil adultos jovens. A proporção para adultos mais velhos é desconhecida.
Alison Wintgens, conselheira nacional para mutismo seletivo da organização Royal College of Speech and Language Therapists, diz que a presença desta "fobia de falar" em adultos "é alvo de pouquíssima pesquisa", o que faz com que ela "passe despercebida" e haja uma "deficiência real de serviços" para ajudá-los.
Esta condição é retratada na televisão pelo seriado americano The Big Bang Theory, em que o personagem Raj Koothrappali é incapaz de falar com mulheres que não são suas parentes, a não ser que esteja bêbado.
Wintgens explica que o gatilho para o problema ocorre normalmente durante a infância. "Pode começar com um evento bastante comum, por volta de dois ou três anos de idade, e depois se torna um padrão que vai sendo cada vez mais reforçado."
Além de a pessoa ficar paralisada em situações desconfortáveis, ela pode passar a evitar momentos em que pode se sentir assim.
"Hoje, é uma condição mais conhecida, mas ainda é cercada por muita ignorância. Funcionários de escolas e pais querem o melhor para as crianças, mas podem sem querer piorar o problema", acrescenta Wintgens.
Timidez
Sabrina Branwood diz que nunca teve qualquer tipo de apoio na escola. "Um professor especializado em necessidades especiais me disse que estava tudo na minha cabeça. A escola apenas ignorou o problema a partir daí."
Sua mãe, Dianne, diz que foi difícil notar o problema a princípio, já que Sabrina conversava normalmente com a família quando estava em casa.
"Ela costumava brincar com seus irmãos e irmãs e falar comigo e com seu pai. Como só acontecia quando ela não estava com a família, pensávamos que ela era muito tímida", conta Dianne.
"Isso faz com que eu sinta que falhei como mãe, porque não vi os sinais. Mas nunca tinha ouvido falar desta condição."
Interpretar equivocadamente o mutismo seletivo como timidez é um erro comum, segundo Wintgens, mas há diferenças psicológicas. A especialista explica que pessoas tímidas normalmente levam um tempo para se sentirem confortáveis, mas acabam participando de conversas e interagindo.
Já quem sofre de mutismo seletivo "apresenta um padrão de comportamento consistente e previsível, tornando impossível falar com as mesmas pessoas nos mesmos lugares".
Síndrome do pânico
Carl Sutton, fundador do grupo de apoio para mudos seletivos iSpeak, diz que, se a condição não for tratada, "outros problemas de ansiedade, como síndrome do pânico, costumam surgir em adultos".
Sutton acrescenta que a depressão é um efeito quase universal em pacientes assim e que, apesar de jovens adultos conseguirem contornar as dificuldades que enfrentam, muitos mudos seletivos acabam se isolando em suas casas.
Por três anos, até 2011, Sabrina Branwood se tratou com um psicólogo indicado por seu clínico geral. Mas diz que seu caso foi reavaliado, e seu tratamento acabou sendo interrompido. Desde então, todas as indicações de tratamento psicológico têm sido negadas pelo serviço de saúde, e ela só faz terapias de curto prazo.
Sua mãe diz que não existe no momento a possibilidade de Sabrina ter um emprego, apesar de ela ainda se manter independente e viver em sua própria casa.
"Ela fez trabalho voluntário, mas é difícil para ela estar em um emprego. Ela gosta quando consegue um. Apesar de ser difícil, ela costuma enviar mensagens de texto e emails para seus colegas."
Sutton fez uma pesquisa envolvendo 83 pessoas que têm ou já tiveram mutismo seletivo na fase adulta e sugere que o "ponto de virada" para superar este problema costuma ocorrer aos 22 anos de idade.
Mas, apesar de Sabrina Branwood ser mais velha, ela ainda tem esperança de se recuperar e atualmente estuda para se formar em Psicologia. "Quero trabalhar com quem também sofre deste problema."

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Homem que teve 42 paradas cardíacas em um dia luta por remédio

Paciente de Votorantim sofre de doença rara que pode causar 'morte súbita'.
Estado alega não encontrar fornecedores do medicamento.

Jomar Bellini Do G1 Sorocaba e Jundiaí
Homem sofre de doença que causa 'morte súbita' (Foto: Jomar Bellini/G1)
Um homem de Votorantim (SP) que sofre de uma doença rara que pode causar um tipo de "morte súbita" luta na Justiça para que o Estado de São Paulo forneça o remédio para seu tratamento. Ele é portador da síndrome de Brugada, que causa fortes arritmias no coração. Wallace Andrade da Silva, de 26 anos, conta que chegou a ter 42 paradas cardíacas em um período de 13 horas.
O medicamento usado para combater os efeitos da doença é a Quinidina, que tem venda proibida no Brasil. A ordem para que ele seja fornecido ao paciente foi expedida pela Justiça em abril e, apesar da multa diária, não vem sendo cumprida pela Secretaria de Saúde. Em nota, o governo afirma não encontrar fornecedores do remédio.
A primeira manifestação da chamada “morte súbita” em Wallace foi em novembro, quando ele “morreu” pela primeira vez. “Fiquei 20 minutos literalmente morto, depois de uma parada cardíaca. Mais tarde, tive 42 paradas em um mesmo dia”, conta.
Wallace, que trabalhava como açogueiro em um supermercado, vive com a mulher e três filhas em uma casa alugada no bairro Parque Jataí. A esposa, Amanda Cristina Gregório da Silva, diz que não vai esquecer tão cedo a manhã do dia 2 de novembro de 2014. Foi ela quem percebeu a primeira parada cardíaca de Wallace. “Estávamos deitados e o abracei. Ele estava frio, mas eu não sabia que ali ele já estava tendo a parada. Acendi a luz e vi os lábios roxos, ele estava completamente branco. Quando o resgate chegou, na hora já falaram que ele tinha morrido”, conta.
Fiquei 20 minutos 'morto'. Um mês depois, tive 42 paradas cardíacas em um mesmo dia"
Wallace Andrade da Silva
Após 20 minutos e várias massagens cardíacas, os socorristas conseguiram reanimar o ex-açougueiro. Ele foi encaminhado para um hospital de Votorantim e depois transferido para o Hospital Regional de Sorocaba (SP), onde ficou cinco dias em coma induzido. Em dezembro, uma ordem judicial determinou que ele fosse levado para o Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, na capital paulista.
No dia 27 daquele mês, Wallace teve o que os médicos chamam de "tempestade elétrica": ele sofreu 42 duas paradas cardíacas entre 8h e 21h. Foram 380 ciclos de desfibrilação para tentar reanimá-lo, um choque a cada três minutos.
Usado para tratar arritmias, a Quinidina não é vendida no Brasil (Foto: Jomar Bellini / G1)Usado para tratar arritmias, a Quinidina não é
vendida no Brasil (Foto: Jomar Bellini / G1)
Depois deste episódio, os médicos cogitaram um transplante de coração, que também não foi possível por conta das arritmias. "Ninguém sabia o que era, porque os exames não mostravam alteração nenhuma e eu estava bem. Para mim, era como se eu tivesse dormido. Precisaram me levar para a Espanha, onde conseguiram detectar a síndrome", conta.
Morte súbita
O primeiro sintoma da síndrome de Brugada é justamente a rápida taquicardia ventricular que causa a parada cardíaca, segundo o médico cardiologista Dalmo Antonio Ribeiro Moreira, que acompanha o caso de Wallace. A suspeita é levantada após avaliações, em que se detecta um elétron suspeito nos exames.
O cardiologista, que é chefe da Seção Médica de Eletrofisiologia e Arritmias Cardíacas do Dante Pazzanese, explica que a doença tem origem genética e geralmente se manifesta em homens entre os 20 e 40 anos. “É uma alteração nos canais iônicos de sódio cardíacos, responsáveis pela condução do estímulo elétrico, que pode causar uma arritmia ventricular fatal”, detalha.
"Quando descobrimos que ele sofre dessa doença genética ficamos aliviados por só termos tido filhas mulheres. Se tivéssemos menino, a chance dele ter a síndrome seria grande", afirma Amanda.
Além de tomar a Quinidina, o paciente da síndrome de Brugada deve implantar um tipo de marca-passo especial próximo ao coração, chamado de cardiodesfibrilador automático (CDI). O aparelho acompanha o ritmo do coração e reestabelece a condição normal em caso de paradas, como um desfibrilador portátil.
Segundo o médico cardiologista, ainda não existe cura para a síndrome de Brugada. “Com esta medicação, que não é vendida no Brasil, ele pode ter uma vida limitada, tendo que evitar a prática de esportes ou atividades que exijam esforço físico."
De acordo com ele, o medicamento evita que o paciente tenha as paradas cardíacas. “Caso isto se torne frequente, irá sobrecarregar o coração com choques do CDI e comprometer o músculo cardíaco”, explica.
Wallace mora com a família em casa alugada em Votorantim (Foto: Jomar Bellini / G1)Com renda de R$ 900, família de Votorantim mora
em casa alugada (Foto: Jomar Bellini / G1)
Sem aposentadoria
A família diz que contou com a ajuda de amigos para conseguir bancar o tratamento até agora. Segundo Wallace, o vidro de remédio, importado dos Estados Unidos, custa de R$ 350 a R$ 400 em média, já que não é vendido no Brasil.
Eles vivem com o salário de R$ 900 de Amanda, que trabalha como auxiliar de limpeza. "Eu não consigo trabalhar porque o médico não libera devido ao marca-passo, mas também não consigo me aposentar porque os exames não mostram o problema, então fica neste impasse. Estou sobrevivendo com a ajuda dos outros", diz.
A família decidiu, então, recorrer à Justiça. O advogado Vinícius Cirilo explica que vários pedidos já foram feitos ao governo. "O juiz já deferiu uma liminar para fornecer imediatamente o remédio, mas o Estado não está obedecendo. Temos diversas petições informando sobre esse descumprimento, além da multa de R$ 100 por dia. Não temos interesse na multa, mas ele precisa do remédio. Não podemos esperar o Wallace morrer para depois receber o medicamento."
Em nota, a Secretaria de Saúde afirmou que enfrenta dificuldades para encontrar fornecedores da Quinidina. "Os laboratórios consultados informaram que não estão mais produzindo o remédio. O Departamento Regional de Saúde segue buscando o produto no mercado, mas irá, paralelamente, informar o juiz via Procuradoria Geral do Estado sobre a dificuldade e consultar sobre a possibilidade de substituição do remédio por outro que tenha a mesma eficácia terapêutica", explica.
A secretaria ressaltou ainda que o DRS só pode adquirir medicamentos diretamente de laboratórios ou distribuidoras, e não de farmácias ou drogarias.
Homem com doença rara que causa morte súbita reclama de atraso no fornecimento de remédio (Foto: Jomar Bellini / G1)Homem com doença rara que causa morte súbita reclama de atraso no fornecimento de remédio (Foto: Jomar Bellini / G1)

quarta-feira, 15 de julho de 2015

TJ manda fabricante de cigarro pagar R$ 100 mil a cliente que ficou doente

Mulher fumava três carteiras por dia e já precisou amputar oito dedos.
Processo corre desde 2001 no DF; empresa diz que recorrerá da decisão.

Raquel Morais Do G1 DF
Prédio do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (Foto: Raquel Morais/G1)Prédio do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (Foto: Raquel Morais/G1)
O Tribunal de Justiça do Distrito Federal condenou a Souza Cruz a indenizar em R$ 100 mil uma cliente que desenvolveu uma doença rara por causa do consumo de cigarros e já precisou amputar oito dedos. Ela afirma que fumou por quase 30 anos, estimulada pelas propagandas que associavam o hábito a pessoas atraentes e bem-sucedidas. A empresa nega responsabilidade e informou que vai recorrer da decisão.
Ela evita festas, ambientes com várias pessoas. Não casou, vive com a mãe e a irmã. E tem ainda outra coisa: ela não pode usar transporte público, porque, se alguém pisar no pé dela, encostar, vai piorar. Ela toma o máximo de cuidado com o tipo de sapato, não faz longas caminhadas. A dor é intensa e não passa. Ela aprendeu a conviver. Alivia, mas não passa"
Leonardo Roriz,
advogado da vítima
O processo corre desde 2001. Laudos anexados à ação mostram que a mulher, que atualmente tem 52 anos, desenvolveu tromboangeíte obliterante – uma síndrome que provoca o entupimento de veias e artérias em fumantes. A doença é progressiva e causa a necrose em pontas de membros do corpo humano.
Advogado da vítima, Leonardo Roriz afirma que ela teve dificuldades para deixar o vício de lado e no início da disputa judicial ainda pedia ajuda da Souza Cruz para custear os tratamentos de desintoxicação. O auxílio foi negado. Na época, ela fumava três maços por dia.
Desde então, a mulher toma medicação diariamente e, quando entra em crise, precisa receber cerca de 90 injeções ao longo de 30 dias. Cada dose custa R$ 150, e o remédio não é fornecido pela Secretaria de Saúde. A aquisição via rede pública depende sempre de processos judiciais.
"Depois que se larga o cigarro, a doença estabiliza, mas a pessoa precisa frequentemente ser encaminhada para tratamento", afirma o advogado. "Neste momento ela está em crise e está com um dos dedos em faixa de necrose. Essas aplicações são para facilitar a coagulação. O que acontece? O dedo começa a ficar vermelho e soltar uma secreção. Vai necrosando até aparecer o osso. Esse processo, quando não tem o tratamento, é muito rápido, demora um mês."
Roriz também diz que a condição causou vários outros danos à vida da vítima. A mulher trabalhava como assistente administrativa e teve de ser aposentada por invalidez. Além disso, não se sente confortável em locais públicos por ficar constrangida em relação às oito amputações de dedos dos pés e das mãos.
"Ela evita festas, ambientes com várias pessoas. Não casou, vive com a mãe e a irmã. E tem ainda outra coisa: ela não pode usar transporte público, porque, se alguém pisar no pé dela, encostar, vai piorar. Ela toma o máximo de cuidado com o tipo de sapato, não faz longas caminhadas. A dor é intensa e não passa. Ela aprendeu a conviver. Alivia, mas não passa", explica.
Para o juiz da 4ª Vara Cível de Taguatinga, José Roberto Moraes Marques, não há dúvidas de que existe relação entre o consumo de cigarros e os problemas de saúde desenvolvidos pela mulher. O caso passou a ser classificado em segredo de Justiça no site do tribunal nesta terça-feira (14).
“Nesse quadro, pelos elementos trazidos aos autos, indiscutível a figura do dano estético, dadas as diversas sequelas suportadas pela autora frente à doença", declarou o magistrado na sentença.
Por e-mail, a Souza Cruz disse que já foram proferidas mais de 500 sentenças que rejeitaram ações semelhantes. "A decisão contraria o entendimento consolidado em diversos tribunais de Justiça do país, inclusive no próprio Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios e no Superior Tribunal de Justiça, que já se pronunciou diversas vezes sobre o descabimento desse tipo de demanda."
Fábrica da Souza Cruz (Foto: Divulgação)Fábrica da Souza Cruz (Foto: Divulgação)
Decisão semelhante no Canadá
Um tribunal de Québec condenou no início de junho três empresas de tabaco multinacionais a pagarem 15,5 bilhões de dólares canadenses (US$ 12,3 bilhões ou R$ 39 bilhões) a um milhão de consumidores – uma indenização inédita no país, pondo fim a 17 anos de litígio.
As três multinacionais condenadas foram a Imperial Tobacco Canada (filial da British American Tobacco), Rothman's Benson & Hedges e Japan Tobacco International-MacDonald. Elas apelaram imediatamente do veredito proferido pelo juiz Brian Riordan, que se pronunciou sobre duas ações coletivas apresentadas em 1998.
Os processos foram movidos por quebequenses que não conseguiram largar o vício de fumar, têm enfisema pulmonar ou que sofrem de câncer de pulmão ou garganta. Eles argumentam que as empresas não avisaram adequadamente sobre os riscos do tabagismo e falharam na obrigação de "não fazer mal a outra pessoa", segundo a decisão do tribunal.
fumante (Foto: Reprodução / TV Globo)
Advertências nas embalagens
A Anvisa aprovou em abril resolução que determina um novo modelo de embalagem de cigarro. Além da foto na parte de trás do maço, que já vem com uma advertência sobre os efeitos nocivos do produto, a parte da frente da embalagem também deverá ser 30% ocupada por outro alerta.
Fumante (Foto: TV Globo/Reprodução)
O texto deve ser: "Este produto causa câncer. Pare de fumar. Disque saúde: 136". Os pacotes não poderão, de acordo com a norma, ter nenhum dispositivo que possa esconder ou dificultar a visualização da mensagem.
A resolução determina o cumprimento do que já havia sido definido pela lei 12.546, de 2011, conhecida como Lei Antifumo, por proibir o fumo em locais fechados, além do decreto 8.262, de 2014.
As embalagens com o novo modelo deverão começar a ser vendidas a partir de 1º de janeiro de 2016. Dados do Ministério da Saúde apontam que o índice de fumantes caiu 30,7% nos últimos anos. A faixa etária que mais consome o produto é entre 45 e 54 anos. A capital com maior percentual de adeptos é Porto Alegre (16,4%), e a com menos, São Luís (5,5%).

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Diabetes também pode prejudicar o cérebro

Segundo estudo publicado na revista científica 'Neurology', pessoas diagnosticadas com a doença podem apresentar declínio cognitivo

cerebro
O cérebro dos diabéticos pode sofrer alterações que afetam as funções cognitivas (VEJA.com/VEJA)
Um estudo publicado recentemente na revista científica Neurology revelou que as mudanças que ocorrem nos vasos sanguíneos do cérebro dos diabéticos também podem prejudicar as funções cognitivas. Para o estudo, os pesquisadores acompanharam 65 adultos com idade avançada - metade deles saudável e a outra metade com diabetes tipo 2 - durante dois anos.
Os participantes então foram submetidos a testes de cognição antes e depois do período de observação. Segundo os achados, o grupo de diabéticos teve um desempenho pior nas atividades cotidianas em comparação aos resultados do primeiro teste. Além disso, aqueles que estavam entre os saudáveis quase não apresentaram diferença nos resultados das avaliações cognitivas realizadas durante o acompanhamento.
Para os pesquisadores, esse declínio ocorreu devido à oscilação nos níveis de açúcar comum nos diabéticos, que é capaz de prejudicar as células e nervos, causando uma resposta inflamatória. Com isso, os vasos perdem flexibilidade e ficam mais maleáveis -- o que dificulta uma resposta a comandos simples, como mover os dedos, por exemplo.
A pesquisa mostrou ainda que essas dificuldades foram encontradas mesmo entre os diabéticos que tomavam medicamentos e que estavam com a doença controlada. "Não se trata apenas de controlar o açúcar no sangue para impedir esse tipo de prejuízo cognitivo. É preciso desenvolver novos medicamentos que também tratem as funções cerebrais dos diabéticos", diz Vera Novak, professora de neurologia na Universidade Harvard, nos Estados Unidos, e uma das pesquisadoras do estudo.