quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Acidente vascular cerebral é a doença que mais mata no Brasil

Em 2000 foram 84.713 óbitos, passando para 99.726 em 2010

Agência Brasil
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O acidente vascular cerebral (AVC) é a doença que mais mata no Brasil. Segundo o Ministério da Saúde, o número de mortes pelo AVC chega a quase 100 mil pessoas. Em 2000 foram 84.713 óbitos, passando para 99.726 em 2010.

É importante ressaltar os cuidados que devem ser adotados para a prevenção da doença: controle da pressão arterial, da taxa de glicose no sangue e do colesterol. Além disso, é necessário manter uma dieta balanceada, fazer exercícios físicos, não fumar e nem ingerir bebidas alcoólicas.

A neurologista da Academia Brasileira de Neurologia, Gisele Sampaio, disse que se medidas saudáveis forem adotadas as chances de se ter um AVC ou qualquer outra doença relacionada aos fatores de risco como hipertensão, diabetes, colesterol alto e tabagismo são mínimas. "Além de obter hábitos mais saudáveis, é importante fazer um companhamento médico regular. Caso os sintomas sejam identificados, procure um atendimento médico o mais rápido possível", alertou.

Para diminuir a mortalidade e ampliar a assistência das vítimas do AVC, o Ministério da Saúde investirá até 2014 R$ 437 milhões no Sistema Único de Saúde (SUS). Desse total, R$ 370 milhões vão financiar leitos hospitalares. Também serão investidos recursos na incorporação e oferta do medicamento usados no tratamento. No Brasil, mais de 200 hospitais estão preparados para atender pacientes com AVC.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Cientistas britânicos desenvolvem exame mais barato para identificar câncer e aids

Sistema usa código de cores para identificar presença de vírus

Agência Brasil
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Pesquisadores britânicos desenvolveram um novo exame, mais barato, que pode detectar diferentes vírus e também alguns tipos de câncer. O exame ainda é um protótipo e revela uma doença ou um vírus – mesmo em pequena quantidade no corpo – usando um sistema de cores. A pesquisa do Imperial College de Londres foi divulgada na revista especializada Nature Nanotechnology.

Um reagente químico desenvolvido pelos cientistas muda de cor quando entra em contato com o sangue do paciente. Caso um determinado componente da doença ou vírus esteja presente no organismo, o reagente químico fica azul. Se não houver doença ou vírus, o líquido fica vermelho.

São necessários testes mais amplos antes que o novo exame possa ser usado. Os pesquisadores do Imperial College de Londres esperam que o novo exame custe dez vezes menos que os testes já disponíveis.

O pesquisador Molly Stevens, do Imperial College, disse que o novo método "deve ser usado quando a presença de uma molécula-alvo em uma concentração ultrabaixa puder melhorar o diagnóstico da doença". "Por exemplo, é importante detectar algumas moléculas em concentrações ultrabaixas para verificar a reincidência de câncer depois da retirada de um tumor", destacou.

Segundo Stevens, o exame em desenvolvimento também pode ajudar no diagnóstico de pacientes infectados com o vírus HIV cujas cargas virais são baixas demais para serem detectadas com os métodos atuais. Os primeiros testes do novo exame mostraram a presença dos marcadores para HIV e câncer de próstata.

"O exame pode ser significativamente mais barato, o que pode abrir caminho para um uso maior de exames de HIV em regiões mais pobres do mundo", disse Roberto de la Rica, pesquisador que participou do desenvolvimento do novo teste.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Mulheres que param de fumar antes dos 30 anos reduzem risco de morte prematura em até 97%

Estudo que envolveu mais de 1 milhão de mulheres no Reino Unido também revelou que há uma perda de 11 anos na expectativa de vida para fumantes na casa dos 70 e dos 80 anos

Tabagismo
Abandonar o cigarro até os 30 anos diminui o risco de mortalidade prematura em 97%, aponta estudo britânico (Thinkstock)
As mulheres que abandonam o cigarro antes dos 30 anos de idade tem o risco de morte prematura por doenças causadas pelo cigarro reduzido em 97%. Quanto mais tarde a mulher deixava de fumar, no entanto, menor é a taxa de reversão. Os resultados fazem parte de uma extensa pesquisa realizada por mais de uma década com 1,3 milhão de mulheres no Reino Unido, conhecida por Million Woman Study. Publicado no periódico médico The Lancet, o estudo coincide com o centenário de Richard Doll (1912-2005), um dos primeiros cientistas a identificar a ligação entre câncer de pulmão e o tabagismo.

CONHEÇA A PESQUISA

Título original: The 21st century hazards of smoking and benefits of stopping: a prospective study of one million women in the UK

Onde foi divulgada: The Lancet

Quem fez: Kirstin Pirie, Richard Peto, Gillian K Reeves, Jane Green, Valerie Beral

Instituição: Million Woman Study

Dados de amostragem: 1,3 milhão de mulheres que tinham de 50 a 65 anos na época do início do acompanhamento

Resultado: Os resultados da pesquisa mostraram que mulheres que abandonam o cigarro até os 30 anos reduzem o risco de morte prematura em 97%. O estudo mostrou que 2/3 das mortes de mulheres fumantes foram ocasionados por doenças relacionadas ao tabaco.
Entre 1996 e 2001, o Million Woman Study, projeto colaborativo do Cancer Research UK e do Serviço de Saúde Nacional (NHS, na sigla em inglês), reuniu 1,3 milhão de mulheres que tinham entre 50 e 65 anos na época do ingresso no estudo. Inicialmente, 20% das mulheres fumavam, 28% tinham abandonado o cigarro e 52% não eram fumantes. Cada uma foi acompanhada por um período de 12 anos.
Quando um primeiro recenseamento foi realizado, três anos após o início da pesquisa, constatou-se que as fumantes tinham quase três vezes mais chances de morrer nos nove anos seguintes comparadas às não fumantes. Isso significa que dois terços de todas as mortes de mulheres fumantes na casa dos 50 aos 70 anos são ocasionados por males relacionados ao tabagismo, como câncer de pulmão, enfermidades pulmonares crônicas, doenças do coração ou derrame cerebral. Ao longo do levantamento, 66.000 participantes morreram. Nestes casos, o NHS informava os pesquisadores a causa da morte.
Apesar de o risco de morte estar relacionado com a quantidade de cigarros consumidos por cada pessoa, o MiIlion Woman Study mostrou que mesmo as mulheres que fumavam menos de 10 cigarros por dia tiveram uma mortalidade duas vezes mais alta em comparação com as não fumantes.
Efeitos reversivos – Outro resultado do estudo mostrou que há uma perda de 11 anos na expectativa de vida entre as mulheres fumantes na casa dos 70 e dos 80 anos.
Richard Peto, professor da Universidade de Oxford e co-autor da pesquisa, afirmou que as mulheres que abandonam o cigarro ganham, em média, 10 anos a mais de vida. Segundo Peto, o Million Woman Study permitiu que pela primeira vez fossem observados diretamente a relação do tabagismo prolongado com a mortalidade prematura de mulheres. Isso porque "tanto no Reino Unido quanto nos EUA as mulheres que nasceram na década de 40 formaram a primeira geração na qual muitas fumaram um número substancial de cigarros ao longo da vida adulta", disse

domingo, 28 de outubro de 2012

Mais longe das cirurgias

Novos tratamentos e técnicas de reabilitação Impedem que pacientes com dor nas costas sejam operados sem necessidade

Monique Oliveira
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MOBILIDADE
Marcelo da Silva não precisou fazer cirurgia para
hérnia de disco depois de diagnóstico mais preciso
Cerca de 85% das pessoas passarão por algum tipo de dor reincidente nas costas em algum momento da vida. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, três de cada dez brasileiros apresentam problemas crônicos na região. Geralmente oriunda de uma inflamação gerada por má postura ou esforço repetitivo, a maioria dessas dores pode ser revertida, desde que eliminada sua causa, sem que seja preciso uma intervenção cirúrgica. Apesar disso, não são raros os casos de pacientes que recebem a indicação para operações desnecessárias.

Para mudar essa realidade, o “Jornal Americano de Radiologia” publicou novas diretrizes segundo as quais o primeiro passo é a investigação meticulosa da origem da dor. A lombalgia (dor na região lombar), por exemplo, deve ser dividida por tipo de causa: não específica (infecção, torção da coluna, doenças inflamatórias) ou específica (na ocorrência de um estreitamento anormal do canal espinhal lombar ou mais frequentemente na hérnia de disco).
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Também a fisioterapia e a reeducação postural, de acordo com as diretrizes, fazem diferença contra as dores. Centros de excelência no País apresentam resultados animadores que comprovam a eficácia da terapia. Em São Paulo, o Projeto Coluna, do Hospital Albert Einstein, já tirou da fila da cirurgia 72% dos pacientes que lá chegaram com indicação para a intervenção. “Avaliamos a postura do indivíduo de forma minuciosa”, diz a fisioterapeuta Marília Diniz, integrante do projeto. O Hospital Nove de Julho, também em São Paulo, mantém um programa que reúne de fisioterapeutas a neurologistas para identificar a causa da dor e depois tratá-la. “Vários profissionais que possam analisar o problema são fundamentais”, diz Cláudio Correa, coordenador do Centro de Dor do hospital. Na Inglaterra, o Instituto Nacional de Saúde e Excelência Clínica usa ainda a terapia cognitivo-comportamental – busca modificar padrões de pensamentos e comportamentos associados à dor crônica – para aliviar tensões emocionais que agravam o problema.

Um dos motivos pelos quais tratamentos desse gênero mostram-se na maioria dos casos mais eficazes do que as cirurgias é o fato de que a dor tem mecanismos complexos. Por isso, geralmente não é solucionada com apenas uma intervenção. “Pode ser que o paciente até tenha uma hérnia de disco, mas ela pode não ser a causa da sua dor”, diz Mario Ferretti Filho, do Albert Einstein. O analista de banco de dados Marcelo da Silva, 31 anos, por exemplo, tinha indicação para cirurgia de hérnia de disco, mas após ter seu problema mais bem avaliado e se submeter ao programa de reabilitação, viu-se livre da dor que o incomodou por anos. “Segui o programa com disciplina”, diz. Outra razão apontada é que, embora a maioria das pessoas apresente alterações em exames de imagem, elas nem sempre representam um prejuízo ao paciente ou necessidade de uma operação.

Mesmo para os casos em que a dor é tão grave que impede maior adesão à fisioterapia, a medicina disponibiliza procedimentos minimamente invasivos guiados por aparelhos de imagem em que analgésicos e anti-inflamatórios são injetados no foco da dor por meio de uma agulha. “Essa analgesia é mais eficiente e pode durar meses”, explica o médico Luciano Miller, diretor da Colunar, clínica especializada em cirurgias minimamente invasivas da coluna vertebral, em São Paulo. “O paciente pode, assim, dedicar tempo ao tratamento convencional sem sentir dor”, completa.
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Para quem necessita mesmo se submeter à cirurgia, há métodos menos agressivos, como o que usa aparelhos com uma microcâmera na ponta que conseguem excepcional visualização durante o tratamento de hérnia de disco, com incisões que não chegam a um centímetro. Eles resultam em menos risco e em recuperações mais rápidas. “Antes, para chegar até a coluna as incisões eram grandes, lesionava-se muito o tecido, o que dificultava a recuperação. Essas novas técnicas estão revolucionando a cirurgia para hérnia de disco”, diz Miller.

Lá fora, há novos caminhos em estudo. Cientistas da Universidade de Frankfurt, na Alemanha, mostraram que o ozônio pode aliviar a pressão dos discos vertebrais sobre as estruturas nervosas que os envolvem, processo envolvido na dor. Na pesquisa, com uma única injeção de ozônio, 37% dos pacientes relataram estar livre de dor por seis meses após a aplicação. Na Universidade de Brighman, nos Eua, estuda-se um disco artificial flexível, que permite o movimento mais natural das vértebras. Em outra linha, diversos centros de pesquisa do mundo realizam estudos com células-tronco, fatores de crescimento e terapia gênica para aplicar em discos doentes e com isso reverter o processo degenerativo. Mas ainda não há aplicabilidade em humanos.

sábado, 27 de outubro de 2012

Praticar mais atividade física aumenta a felicidade, diz estudo

Segundo pesquisadores americanos, pessoas que se comprometem a exercitar-se relatam maior satisfação com a vida no mesmo dia

Atividade física: O quão uma pessoa se exercita afeta de forma direta e positiva o seu bem-estar
Atividade física: O quão uma pessoa se exercita afeta de forma direta e positiva o seu bem-estar (Thinkstock)
Praticar mais atividade física do que o costume pode influenciar de forma positiva o quão satisfeita uma pessoa se sente com sua vida. Essa conclusão, que faz parte de uma pesquisa da Universidade de Penn State, nos Estados Unidos, reforça a ideia de que exercitar-se é um hábito cujos benefícios excedem a saúde física, e é fundamental também para o bem-estar psicológico. O estudo foi publicado nesta semana na revista médica Health Psychology.

CONHEÇA A PESQUISA

Título original: A Daily Analysis of Physical Activity and Satisfaction With Life in Emerging Adults

Onde foi divulgada: revista Biological Psychiatry

Quem fez: Jaclyn Maher, Shawna Doerksen, Steriani Elavsky, Amanda Hyde, Aaron Pincus, Nilam Ram e David Conroy

Instituição: Universidade de Penn State, Estados Unidos

Dados de amostragem: 253 pessoas de 18 a 25 anos

Resultado: Pessoas que praticam mais atividade física se sentem mais satisfeitas com a vida do que as que praticam menos. Aumentar os níveis de atividade física também proporciona maior felicidade no mesmo dia
Participaram da pesquisa 253 pessoas de 18 a 25 anos. Segundo os autores, os indivíduos dessa faixa-etária são aqueles cujos relatos sobre satisfação com fatores como trabalho, família e vida social são os mais instáveis. “Nessa idade há uma série de mudanças ocorrendo, pois essas pessoas estão saindo de casa, mudando de trabalho ou cursando uma universidade. Então, a satisfação com a vida pode despencar de uma hora para a outra”, diz Jaclyn Maher, que coordenou o estudo.
Os participantes da pesquisa foram orientados a escrever, durante um período que variou de oito a 14 dias, um diário no qual relatavam como se sentiam em relação a vários aspectos da vida (profissional, pessoal, autoestima e etc) e também informavam sobre a quantidade de atividade física que praticavam a cada dia. Além disso, quando o estudo começou, a equipe traçou as características da personalidade de cada um.
Os resultados mostraram que a quantidade de atividade física com a qual uma pessoa se compromete a fazer em um determinado dia influencia diretamente no quão satisfeita ela se sente com a vida naquele momento. Ou seja, quanto mais alguém se exercita, mais feliz relata se sentir. Além disso, o estudo descobriu que aqueles que já costumam praticar exercícios frequentemente, quando aumentam a quantidade de atividade em um dia, também relatam maior contentamento.

Sete dias em outro mundo

Livro de neurocirurgião americano sobre o que viu e sentiu durante a semana em que esteve em coma reacende interesse pela chamada experiência de quase morte

Mônica Tarantino


 

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VIAGEM
O médico Eben afirma ter estado consciente e
viajado para uma outra dimensão do universo
Quando recuperam a consciência depois de sobreviver a traumas graves, algumas pessoas relatam o que teriam vivenciado, como visitas a lugares desconhecidos. Chamadas de experiências de quase morte (EQM), essas situações são estudadas por cientistas interessados nas relações entre o cérebro e a espiritualidade e na compreensão da consciência. É um campo polêmico, no qual há poucas certezas e muitas hipóteses. Na última semana, chegou às livrarias americanas um relato único sobre o tema, escrito na primeira pessoa pelo neurocirurgião Eben Alexander III, do Brigham & Women Hospital e da Harvard Medical School, em Boston, nos Estados Unidos. O livro se chama “Proof of Heaven: A Neurosurgeon’s Journey into the Afterlife” (Prova do paraíso: a jornada de um neurocirurgião à vida após a morte, em tradução livre). É a história de um médico que por mais de 25 anos manteve o ceticismo frente aos testemunhos de EQM de seus pacientes. Há quatro anos, porém, o próprio Alexander passou por uma experiência desse tipo, o que abalou seriamente as suas convicções sobre a natureza dessas vivências. “Não acreditava nesse fenômeno. Para mim, sempre houve boas explicações científicas para essas viagens fora do corpo descritas por pessoas que haviam escapado da morte”, diz o médico.
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Na obra, que o médico considera também uma resposta à descrença polida dos colegas que ouviram sua história, Alexander detalha a odisseia transcendental que experimentou durante a semana em que esteve em coma profundo por causa de uma forma rara de meningite bacteriana. Em estado vegetativo e com poucas chances de se recuperar, ele abriu os olhos no sétimo dia. Nesse período, conta que viu e sentiu coisas estranhas. “Enquanto meu corpo estava em coma, minha consciência viajou para outra dimensão do universo que eu nunca sonhei que existisse”, diz. “É um novo mundo onde somos muito mais do que nossos cérebros e corpos e a morte não é o fim da consciência”, afirma. Perplexo diante do que viveu, ele se questiona: “Os principais argumentos contra as EQM sugerem que elas são resultado do mau funcionamento do córtex (região do cérebro). No meu caso, ele não estava funcionando. Isso está documentado por exames neurológicos.” Disponível também em versão eletrônica, o livro de Alexander será lançado no Brasil em abril de 2013 pela Editora Sextante.

Como outras pessoas que tiveram uma EQM, Alexander levou meses para começar a entender o que lhe sucedera. Foi assim também com o advogado Solon Michalski, 65 anos, de Petrópolis, no Rio de Janeiro. Aos 21 anos, ele ficou em coma por dez dias após um acidente de carro. “Eu via meu corpo na cama do hospital e ouvia as pessoas chorando. Sentia uma sensação de alívio crescente do desconforto que era estar preso a um corpo machucado”, conta. “Revi também as mancadas que dei na vida e fiquei muito envergonhado antes de recuperar a consciência e abrir os olhos”, conta ele, que teve depois outra EQM. “Foi durante uma cirurgia na perna. Eu via luzes da sala de operação de um ângulo que me deu a impressão de estar colado no teto e percebi que os médicos estavam tentando me acordar”, relata. Por mais de quatro décadas, ele meditou sobre essas sensações, que acabaram mudando sua vida. “Sou uma pessoa melhor. Li muito e entendi que somos parte de um tecido universal que está sempre se ajustando”, diz Michalski.
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No Brasil, as EQM serão em breve investigadas com critérios científicos. Um grupo de professores da Universidade Federal de Juiz de Fora, ligado às redes internacionais de estudo sobre o tema, está prestes a dar início a um estudo para mapear casos de quase morte em pacientes que tiveram parada cardíaca nos hospitais da cidade. “Serão colocadas prateleiras acima dos leitos das UTIs e, em cima delas, figuras impressas de fácil identificação. Tais imagens ficam a 30 centímetros do teto, onde só podem ser vistas por alguém que esteja flutuando”, explica o psiquiatra Alexander Moreira-Almeida, coordenador do Núcleo de Espiritualidade e Saúde da universidade e autor de livros e artigos sobre espiritualidade e saúde. Os pacientes serão também submetidos a testes para descartar doenças neurológicas ou transtornos psiquiátricos.
Foto: divulgação
Foto: Daniela Dacorso/ag. Istoé

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Pela primeira vez o implante, que desaparece do organismo após desobstruir vasos entupidos, foi inserido na artéria principal do corpo. Sucesso da cirurgia mostra que a técnica também é possível em casos mais complexos

Vivian Carrer Elias
O Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia
O cardiologista Alexandre Abizaid e sua equipe no Hospital Dante Pazzanese momentos antes da cirurgia de desobstrução arterial com o stent bioabsorvível (Ivan Pacheco)
Nesta quarta-feira à tarde, no Hospital Dante Pazzanese, em São Paulo, uma equipe de médicos liderada pelo cardiologista Alexandre Abizaid realizou um procedimento de desobstrução arterial com um stent bioabsorvível. Embora essa não seja a primeira vez em que esse dispositivo tenha sido implantado em um paciente — inclusive no Brasil, onde a primeira operação do tipo foi realizada em agosto de 2011 no mesmo hospital —, a cirurgia foi um marco para a cardiologia moderna.
Um dos motivos é o fato de que o procedimento foi muito mais complexo — pela primeira vez, esse stent foi implantado na principal artéria do corpo humano, e não nas secundárias, como as outras operações realizadas ao redor do mundo haviam feito. A cirurgia foi transmitida ao vivo em um telão instalado em Miami, nos Estados Unidos, onde estavam reunidos mais de 10.000 médicos no Transcatheter Cardiovascular Therapeutics (TCT), a principal conferência sobre medicina intervencionista do mundo.
O suporte cardiovascular bioabsorvível foi desenvolvido em 2011 pelo laboratório Abbott e é vendido sob o nome de Absorb. Uma vez implantada nos vasos entupidos, a prótese 'empurra' as placas de gordura, desobstruindo os vasos e normalizando o fluxo sanguíneo. Após seis meses, o dispositivo começa a ser absorvido pelo organismo e, em até dois anos, ele desaparece (dentro de seis a nove meses, os vasos não precisam mais de ajuda para se manter abertos). O fato de ser absorvido é a grande deferença entre esse stent e os demais (conheça a evolução e os tipos de stents). Os dispositivos mais utilizados atualmente são os stents farmacológicos metálicos, que são feitos de aço inoxidável e cuja superfície contém medicamentos anticicatrizantes. Como eles não são absorvidos, ficam expostos na corrente sanguínea e apresentam um risco maior de coágulos, de reentupimento das veias e, consequentemente, da realização de uma nova operação de implante de um novo stent ou ponte de safena.
Pesquisa — O uso comercial do suporte cardiovascular bioabsorvível já é aprovado em vários países, mas, no Brasil, a técnica somente é autorizada no âmbito da pesquisa médica. A cirurgia realizada nesta quarta-feira, em um paciente de 33 anos com um grave quadro de colesterol alto, faz parte de um estudo mundial sobre o dispositivo que está sendo desenvolvido em outros 25 países sob a coordenação de Abizaid. "Estamos expandindo o dispositivo para lesões e anatomias mais delicadas. A cirurgia foi um sucesso, uma manifestação pública de que estamos autorizados a implantar o stent bioabsorvível em situações mais complexas", disse o médico ao site de VEJA.
Um dia antes da operação no Hospital Dante Pazzanese, foram divulgados os resultados dos exames de saúde em 500 pacientes que haviam recebido o dispositivo bioabsorvível há seis meses e de 250 que haviam recebido o suporte há um ano. "Foi relatada uma incidência muito baixa de eventos cardíacos, confirmando os dados de estudos anteriores. O retorno da lesão ficou abaixo de 2%, uma taxa praticamente desprezível, e cerca de 0,05% dos pacientes apresentaram trombose. Os dados nos dão ainda mais segurança para tratar pacientes mais complexos", diz Abizaid.
Os resultados dos trabalhos, segundo o cardiologista, precisam ser submetidos a uma série de entidades médicas, entre elas Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para que o dispositivo bioabsorvível seja comercializado no Brasil. Ele acredita que isso ocorra até o final de 2013 e que o implante tenha valores semelhantes aos metálicos farmacológicos — algo entre 6.000 e 8.000 reais. Os stents farmacológicos utilizados hoje são cobertos pelos planos da saúde, mas não são oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Padrão — Embora o stent bioabsorvível tenha muitas vantagens sobre os metálicos farmacológicos, Abizaid acredita que os dispositivos utilizados atualmente não deixarão de existir conforme o novo suporte for ganhando espaço na prática médica. "Há algumas situações em que os stens metálicos ainda são melhores, especialmente em casos de operação em vasos muito pequenos e tortuosos. Isso porque os dispositivos metálicos ainda são muito mais finos do que os bioabsorviveis", disse o cardiologista. No entanto, ele acredita que, com o tempo, os bioabsorvíveis se tornarão uso padrão em grande parte dos casos, especialmente em pacientes mais jovens ou com problemas de saúde, como o diabetes, que fazem com que a doença progrida muito mais rápido.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Brasileiro produz vacina contra HIV

Apesar de o novo tratamento com anticorpos ser mais caro, ele quase não tem efeitos colaterais
Londres. Um tratamento inovador contra o HIV, com substâncias obtidas a partir do organismo de pessoas imunes ao vírus, teve eficácia mais duradoura que drogas antirretrovirais convencionais em testes com cobaias. Após usar anticorpos (moléculas de ataque do sistema de defesa do organismo) para tratar camundongos geneticamente modificados, Michel Nussenzweig, o cientista brasileiro que liderou a pesquisa, quer agora iniciar um ensaio clínico em pacientes humanos.


O tratamento experimental desenvolvido sob coordenação do brasileiro Michel Nussenzweig pode evitar a infecção de novas células FOTO: DIVULGAÇÃO

Junto com seus colegas da Universidade Rockefeller, de Nova York, Nussenzweig descreveu o sucesso do experimento num estudo que será publicado hoje pela revista científica britânica "Nature".

Sumiço
Os anticorpos monoclonais (clonados a partir de uma só célula) usados no teste conseguiram reduzir a infecção por HIV a níveis indetectáveis nos camundongos. Como o vírus da Aids não infecta roedores naturalmente, cientistas tiveram de fazer o teste com camundongos geneticamente modificados, cujo sangue tinha características moleculares humanas.

Os anticorpos monoclonais são uma técnica sofisticada que já vem sendo usada para tratar alguns tipos de câncer e doenças autoimunes. As proteínas usadas no experimento liderado por Nussenzweig, que já tinham sido descritas em outro estudo em 2011, são capazes de neutralizar muitas variedades do vírus.

Segundo ele, outras pesquisas que tentaram usar terapia similar falharam por não ter anticorpos tão robustos à mão.

Apesar de os anticorpos monoclonais serem uma abordagem mais cara que os antirretrovirais, existe uma perspectiva de uso para a técnica no tratamento de soropositivos, pois eles quase não trazem efeitos colaterais. Os anticorpos são um produto natural, feito pelo organismo humano, disse o cientista.

"Os voluntários num teste clínico serão aqueles que não toleram bem as drogas, aqueles nos quais as drogas estão falhando ou os que queiram receber um tratamento com doses uma vez a cada poucos meses em vez de ter de tomar algo todos os dias".

No experimento com os camundongos "humanizados", tanto a terapia de anticorpos quanto as drogas antirretrovirais foram eficazes em manter a carga de vírus em níveis baixos. Quando o tratamento foi cessado, porém, o vírus voltou a proliferar em poucos dias nos roedores tratados com medicamentos.

Testes em humanos

O teste da nova terapia contra Aids em humanos ainda não tem data para começar. Nussenzweig e seus colegas ainda precisam levantar verbas, por exemplo. "Um teste como esse custa caro, mesmo que seja pequeno, e provavelmente sai entre US$ 2,5 milhões e US$ 5 milhões.

Michel Nussenzweig, porém, diz-se otimista. Existe até mesmo a chance de que os anticorpos monoclonais levem à cura da infecção pelo HIV. "Não é provável, mas é possível, pois alguns animais foram efetivamente ´curados´ no contexto do experimento", disse.

O entusiasmo com a ciência faz parte do cotidiano desde a infância de Nussenzweig. O brasileiro passou os primeiros anos de vida no país onde nasceu. Foi para Nova York a partir dos 12 anos, onde os pais - os renomados parasitologistas Victor e Ruth - foram fazer um pós-doutorado e acabaram se instalando.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Decisão é aprovada por médicos do Estado

Hormônios usados, alertam médicos, podem causar alterações metabólicas e cardiovasculares
A resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM), publicada no último dia 19 no Diário Oficial da União, que proíbe aos médicos do País a indicação e a aplicação dos chamados tratamentos antienvelhecimento, com a utilização hormônios, antioxidantes ou vitaminas, repercutiu e encontrou boa aceitação entre os médicos cearenses.

O presidente em exercício do Cremec diz que envelhecer é natural e não há provas de que as substâncias atrasem este processo biológico Foto: Marília Camelo


De acordo com o CFM, o tratamento com hormônios, vitaminas e antioxidantes não teria o resultado esperado, e o uso dessas substâncias é permitido apenas em caso de deficiência no organismo diagnosticada.

Ontem, o presidente em exercício do Conselho Regional de Medicina no Ceará (Cremec), Lúcio Flávio Gonzaga Filho, lembrou que as entidades há tempo vinham preocupados com a questão, que culminou com a publicação da Resolução 1999/2012, "que deve ser obedecida por todos os médicos brasileiros, sob pena de serem punidos por seus órgãos de fiscalização profissional".

Os Conselhos Regionais de Medicina de todo o Brasil, incluindo o Cremec, estão atentos, garantiu Lúcio Flávio Gonzaga Filho. Mas, embora no mês de agosto passado o Diário do Nordeste tenha publicado matéria mostrando que dois médicos cearenses foram citados no programa Fantástico da Rede Globo, por oferecerem tratamentos hormonais rejuvenescedores ineficazes, o presidente do Cremec preferiu apenas esclarecer que os conselhos profissionais "agem a partir de denúncias ou quando tomam conhecimento de casos que se tornam públicos, por exemplo via imprensa".

Além de ressaltar que envelhecer é um processo biológico e natural do ser humano, o médico Lúcio Flávio Gonzaga Filho informou não haver comprovação científica "de nexo causal entre deficiências hormonais ou de substâncias outras e o processo de envelhecimento". Essas substâncias são potencialmente danosas para o ser humano e oferecem riscos de efeitos adversos graves, alertou.

Os hormônios, por exemplo, só devem ser usados por pacientes com deficiência comprovada deles, por exame médico e laboratoriais. "Do contrário, podem causar distúrbios importantes na saúde das pessoas, incluindo alterações metabólicas, cardiovasculares e até mesmo o câncer", citou.

Segundo o médico endocrinologista e membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM)no Ceará, Glauber Rocha, os estudos científicos mostram que esses tratamentos são ineficazes. "Sem dúvida, a medida do Conselho é bem-vinda", disse, adiantando que SBEM já havia feito recomendações semelhantes aos seus associados. "Os endocrinologistas que prezam pela boa prática não deveriam fazer uso dessas substâncias", frisou.

Necessárias
As recomendações da SBEM, contudo, não possui força de normatização. "Mas o CFM tem o poder de ditar as normas que regem a profissão médica e julga-as necessárias", esclareceu, observando que a prática de uso de terapia antienvelhecimento é prescrita por profissionais das áreas mais diversas, como clínicos, ginecologistas e até ortopedistas e, principalmente, pelos ortomoleculares, e nem sempre estes têm diploma médico.

MOZARLY ALMEIDAREPÓRTER

terça-feira, 23 de outubro de 2012

O que escolher nos restaurantes a quilo




Grande parte da população, principalmente nas áreas urbanas, alimenta-se diariamente em restaurantes que servem refeições “por quilo ” ou “por peso”.  É um sistema rápido e eficiente, que atende às demandas da vida moderna, mas que pode oferecer riscos à saúde se a pessoa não souber fazer boas escolhas. Em geral, esses restaurantes apresentam quantidade e variedade tão grande de alimentos que é comum os consumidores exagerarem. Há algumas regras para quem deseja manter a saúde – e principalmente do peso –  tendo que se alimentar nesses estabelecimentos:
1- Preste atenção na higiene do local. Observe o visual dos pratos e a qualidade dos alimentos
2- Lembre-se de que quanto antes chegar ao restaurante,  maior a chance de consumir os alimentos mais frescos. Evite chegar no último horário.
3- Hoje em dia já é comum encontrarmos  restaurantes que oferecem churrasquinhos bem tostados.  São apetitosos, porém perigosos, já que as carnes quando submetidas à  altas temperaturas acabam sendo prejudiciais à saúde.  Carnes cruas também podem oferecer risco na segurança alimentar, assim opte por carnes bem cozidas ou assadas.
4-  Limite o consumo de frituras a uma ou duas vezes na semana
5- Cuidado com aqueles restaurantes que colocam os doces antes das entradas frias.  Essa técnica induz o cliente ao consumo exagerado de doces
6- Prefira sempre  uma fruta fresca ou salada de frutas, no lugar dos doces. Isso porque as frutas,  especialmente aquelas ricas em vitamina C (abacaxi, laranja, morango, kiwi) ajudam a absorver o mineral ferro presente nas carnes
7- Evite a monotonia alimentar,  experimente novos sabores e preparações dentro dos grupos de alimentos (verduras, legumes,carnes, leguminosas, cereais, frutas). O prato deve estar sempre colorido, quanto mais cores, melhor a alimentação
8- Sabe aquele pastelzinho de queijo ou carne, ou coxinha, pão de queijo ou bolinha de queijo, ou ainda a farinha de mandioca? Esses são os grandes responsáveis por aumentar o número de calorias e gorduras da dieta.  O ideal é reduzir o consumo, ou consumir apenas um deles, uma vez na semana
9- E os pães e torradas?  Não é preciso incluí-los nessas refeições, já que no almoço consumimos outras fontes de carboidratos como massas, arroz, batata, assim acaba sendo um excedente.
10- Quanto às saladas, tempere-as com azeite e limão, evitando molhos prontos que são ricos em gorduras e sódio
11- Alguns restaurantes disponibilizam o cardápio do dia seguinte no site e mídias sociais (facebook e twitter), se sobrar um tempinho um dia antes,  já dá para pensar e elaborar  um prato saudável até antes de chegar ao restaurante.  Caso essa alternativa não exista, assim que chegar ao restaurante dê uma olhada geral nas opções disponíveis antes de começar a montar o seu prato; isso favorecerá uma melhor organização das suas escolhas
12- O que vai beber? O ideal é não consumir líquidos às refeições, isso favorece a boa digestão. Caso não consiga ficar sem a bebida, opte por água ou suco de frutas natural. Melhor ainda é consumir somente meio copo ou 100 ml. Que tal dividir a bebida com um colega?

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Diabete e hipertensão, uma combinação fatal

Cresce o número de idosos que têm simultaneamente as duas doenças que mais atingem quem já passou dos 60 anos: a hipertensão e o diabete do tipo 2. De acordo com estatísticas do Vigitel 2012 (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico) do Mi­nistério da Saúde, 21,6% dos brasileiros nessa faixa etária têm diabete, e 59,7% têm hipertensão. Quando se analisam os dados de quem tem as duas doenças, o porcentual costuma atingir mais de 30% dessa população.
Riscos
Cuidado com a gordura da barriga
Não é apenas uma questão de estética. A gordura localizada ou central, mais conhecida como barriguinha (às vezes, barrigão), é extremamente prejudicial para a saúde. Como ela está localizada muito perto do fígado, é quase certa a sua “migração” para o sistema hepático, de acordo com a médica endocrinologista e chefe do Setor de Endocrinologia e Diabetes do Hospital Evangélico, Mirnaluci Ribeiro Gama. Ela tem até uma brincadeira que ajuda os pacientes a se lembrarem dos riscos dessa gordurinha. “A gordura periférica, localizada nas pernas, braços e bumbum, é como uma prisão de segurança máxima, ficam lá. Já a gordura visceral, da barriga, é como uma prisão de segurança mínima. Com o mínimo descuido, fogem para o sistema hepático.” Para evitar essa fuga em massa, a médica recomenda muito exercício, em especial caminhadas, que ajudam a dissipar a energia inútil acumulada na barriga e evitam a morte celular.
Brasileiros desconhecem sintomas
A hipertensão ainda é desconhecida para grande parte da população brasileira. Essa é a conclusão de uma pesquisa feita em oito capitais – São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Brasília e Porto Alegre – com 7 mil pessoas pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) em conjunto com o laboratório farmacêutico Bayer. Em 70% dos casos, os entrevistados não relacionaram a doença ao aumento da pressão arterial, seu principal sintoma.
Os fatores de risco também são ignorados pela maioria. Somente 18% responderam “obesidade”, e outros 18%, o fator “sedentarismo”; 12% lembraram do “estresse” e 10%, da “ingestão de sal em excesso”. Para 5%, o fator lembrado foi o “hereditário”. Já 14% não souberam associar a nenhuma das opções e 23% escolheram outros fatores.
Em relação às complicações, 20% consideraram o AVC. Outros fatores também fo­­ram citados: obesidade (14%), morte súbita (13%) e enfarte do miocárdio (12%). Outros 17% não souberam responder. Para a SBC, a pesquisa evidencia a necessidade de mais campanhas de conscientização da população por parte de órgãos oficiais e não oficiais sobre o problema, que atinge 70% dos idosos com mais de 70 anos.
Menopausa
Mulheres na menopausa devem tomar cuidado, pois as mudanças hormonais pelas quais passa o corpo feminino potencializam os riscos. O estrogênio diminui drasticamente, o que faz com que a mulher adquira um corpo mais parecido com o masculino. Com isso, a tendência é que a gordura abdominal apareça também, elevando o risco de diabete e de hipertensão.
Esse fenômeno – hipertensão e diabete juntas – é típico de duas situações muito conhecidas dos brasileiros: o envelhecimento da população (já são 14 milhões de idosos no país) e o sedentarismo (49,2% dos brasileiros são inativos, de acordo com a Organização Mundial da Saúde). No primeiro caso, o passar dos anos gera um impacto sobre o corpo, que já não tem a capacidade de se recuperar tão bem das agressões ambientais. O resultado é uma falência progressiva de órgãos e tecidos.
Com isso, surgem doenças como a arteriosclerose senil (alterações das fibras elásticas da artéria, que geram a atrofia das células musculares e sua substituição por um tecido fibroso e enrijecido) e a perda da capacidade do pâncreas de produzir a insulina, hormônio que reduz o nível de glicose no sangue. São processos inevitáveis, embora também dependam da genética, da alimentação e dos hábitos de vida.
O sedentarismo tem papel tão ou mais importante para o surgimento dessas doenças, que já são consideradas uma epidemia pela OMS. No caso do diabete do tipo 2, a falta de atividade física tem papel-chave, uma vez que o ganho de peso e a obesidade estão relacionados à doença, em especial a gordura central, que se localiza na barriga. O tecido gorduroso produz substâncias que são capazes de destruir as células pancreáticas que produzem insulina.
De acordo com a endocri­nologista do Hospital Nossa Senhora das Graças de Cu­ri­tiba Luciana Pechmann, com exercícios físicos, o músculo responsável por captar a glicose do sangue e transformá-la em energia para suas células também se fortalece e minimiza os efeitos do envelhecimento. “A atividade física dá força a esse músculo para trabalhar e retirar o açúcar do sangue, evitando o aparecimento da diabete.”
A diabete, uma vez instalada, pode causar a hipertensão. Por ser uma doença do metabolismo, a diabete causa o aumento do nível de colesterol ruim (LDL), até pelo ganho de peso associado. “Ao ser oxidado, o LDL é capturado pela parede das artérias e, após ser digerido pelas células, gera arteriosclerose, que é uma ferrugem do tecido biológico, causando a hipertensão”, esclarece o cardiologista do Hospital Costantini, em Curitiba, Everton Dombeck.
Tal binômio, de acordo com os especialistas, é causador da maioria dos casos de enfarte do miocárdio e AVC (acidente vascular cerebral), o que exige mudança de hábitos. O primeiro mandamento é se exercitar, preferencialmente com atividades aeróbicas, que aumentam a oxigenação, além de abandonar as dietas calóricas e gordurosas e o fumo.

domingo, 21 de outubro de 2012

Obesidade pode afetar tomada de decisões

Estudo mostra que pessoas com alto índice de massa corporal (IMC) têm uma piora no desempenho das funções cognitivas do cérebro

Obesidade
Obesidade: De acordo com o estudo, IMC elevado está associado a conexões neuronais menos eficientes (Thinkstock)
Para uma pessoa obesa é mais difícil decidir parar de comer em uma festa, por exemplo, do que para pessoas com Índice de Massa Corporal mais baixo. É o que conclui um estudo, ainda não publicado, apresentado nesta semana no Neuroscience 2012, encontro anual da Society for Neuroscience, entidade internacional que congrega médicos e cientistas que estudam o cérebro. Isso aconteceria porque, segundo a pesquisa, a obesidade estaria ligada ao pior desempenho das funções cognitivas, apontando para  a existência de uma ligação direta entre a alimentação e a saúde do cérebro.
Participaram do estudo 29 adultos considerados saudáveis do ponto de vista neurológico, e com índice de massa corporal (IMC) variando do nível normal até a obesidade. Foram feitas imagens de ressonância magnética da atividade cerebral dessas pessoas em repouso, com objetivo de analisar a comunicação entre diferentes regiões do cérebro.
Algoritmo do peso — A partir das imagens, os pesquisadores observaram, nos indivíduos obesos, alterações na conexão entre o córtex orbital frontal, área do cérebro ligada à tomada de decisões e à recompensa, e o núcleo caudado, que participa do sistema de aprendizado e memória. Foi desenvolvido um algoritmo de computador capaz de descobrir se uma pessoa fazia parte do grupo que estava acima do peso ou do grupo de controle apenas analisando suas conexões cerebrais – e ele acertou em 75% dos casos.
Durante a sessão de ressonância magnética, as pessoas também passaram por um teste cognitivo. Em uma tela, apareciam diversas palavras, escritas em azul, vermelho ou verde. A tarefa era responder a cor em que a palavra estava escrita e ignorar o seu significado. O exercício ficou mais complicado quando apareceram nomes de cores escritos em outra cor, como a palavra “vermelho” escrita em azul, por exemplo. "Nesses testes a pessoa tem um conflito. Então o cérebro para e tenta resolvê-lo antes de permitir que você responda o exercício", disse Timothy Verstynen, professor da Universidade de Carnegie Mellon e integrante da equipe de pesquisadores, ao site de VEJA.
Os pesquisadores analisaram o grau de ativação do cérebro dos indivíduos ao realizar essa tarefa e perceberam que ele era maior no grupo obeso. "Isso significa que a pessoa está usando mais energia neuronal para chegar aos mesmos resultados, ou seja, suas conexões cerebrais são menos eficientes", afirma Timothy. "Nós achamos isso pode fazer com que a pessoa se torne menos eficiente para tomar decisões, o que pode levá-la a escolhas pouco saudáveis."

sábado, 20 de outubro de 2012

Mais magros sem glúten


Dieta que restringe o consumo de alimentos que contêm a proteína conquista cada vez mais adeptos com a promessa de emagrecimento rápido e saudável

Monique Oliveira
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BELEZA 
Juliana Paes limitou a ingestão do composto e sentiu melhora no metabolismo
A lista de seguidores famosos é longa. No Brasil, celebridades do porte de Juliana Paes, Luciana Gimenez, Camila Morgado e Alice Braga. Lá fora, gente do calibre das atrizes Halle Berry, Rachel Weisz e Miley Cyrus. Todas aderiram à dieta do glúten, a mais nova febre entre quem pretende emagrecer e manter a silhueta desejada. Só nos Estados Unidos, cerca de 1,6 milhão de pessoas estão seguindo o regime, de acordo com levantamento recente realizado pela Clínica Mayo, prestigiada instituição de pesquisa daquele país. Os relatos de sucesso de quem se submeteu a esse método alimentar são impressionantes: dão conta da perda de cinco quilos já na primeira semana e até 15, 20 e 30 quilos meses depois. A apresentadora Luciana Gimenez, por exemplo, comemora cerca de 32 quilos a menos depois de aderir à restrição do glúten e aliar a estratégia a uma rotina intensa de exercícios. “Deu para perceber a diferença de resultado em relação a outros regimes”, conta. Juliana Paes reduziu a ingestão da substância depois do nascimento do filho, Pedro. A tática a ajudou a voltar à bela forma – e a mantê-la. “Comecei na época em que o estava amamentando”, conta. “Senti que melhorou muito o meu metabolismo, deixando-o mais acelerado, e também observei que diminuiu a sensação de inchaço e desconforto abdominal”, disse.
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Na contabilidade dos especialistas que estão indicando o regime, o saldo também é positivo. “A pessoa percebe uma mudança imediata, para melhor, em todo o seu estado geral, além do declínio do peso corporal”, afirma o endocrinologista Tércio Rocha, do Rio de Janeiro, integrante da Academia Brasileira Antienvelhecimento. “Após duas semanas já é possível notar nitidamente uma redução de inchaço”, diz a médica nutróloga Vânia Assaly, de São Paulo. “E o emagrecimento torna-se bem visível 45 dias depois do início da dieta”, completa.
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O glúten é uma proteína sem valor nutricional e sem calorias. Está presente no trigo, na cevada, no centeio e no malte. É ele que proporciona o aspecto viscoso e confere elasticidade a bolos, pães e massas. Na indústria de alimentos, é adicionado a embutidos e até aos chocolates, justamente por conta dessa propriedade. A dieta consiste em diminuir sua ingestão, como fez a atriz Juliana Paes, ou bani-lo do cardápio. Portanto, seus seguidores ficam sem comer a maioria dos carboidratos presentes à mesa, devem se manter longe da cerveja e do uísque e, na dúvida, precisam ficar de olho nos ingredientes contidos nos alimentos vendidos nos supermercados. “No Brasil é obrigatória a indicação, no rótulo, da ausência ou da presença da substância”, diz o nutrólogo Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia.
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O principal desafio dos adeptos do regime é encontrar substitutos à altura do trigo e dos produtos com ele produzidos. Aos poucos, porém, crescem as opções para quem deseja tirar o glúten da dieta. A Mundo Verde, empresa consolidada no setor de alimentação saudável, com 170 lojas no País, por exemplo, tem um catálogo de três mil itens livres da proteína. A Rede de Farmácias de Manipulação Officilab, do Rio de Janeiro, criou 12 produtos isentos de glúten. Vários restaurantes também estão incluindo no menu pratos sem o composto. É o caso do Biocarioca e da Delicatessen Zona Zen, no Rio, e do Outback, do América e do badalado Quattrino, em São Paulo, que possui opções no cardápio (leia receita à pág. 86). “Conheci os efeitos da retirada do glúten porque estudo muito sobre nutrição”, explica Mary Nigri, dona do Quattrino. “Fiz um teste comigo, vi resultados e resolvi criar as receitas”, lembra. Nos EUA, o mercado para atender à crescente demanda, o chamado “gluten-free market”, já gira na casa dos US$ 2 bilhões anuais. Entre as alternativas para substituir a farinha de trigo estão as farinhas de arroz e de amêndoas. “Outra substituição pode ser feita usando mandioca e batata”, explica Aline Möller, dona da consultoria Fit Gourmet, em São Paulo. A empresa presta consultoria àqueles que querem adotar uma alimentação livre de glúten “Ensinamos o cliente como seguir o regime”, diz
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RESULTADO 
A apresentadora Luciana Gimenez perdeu 32 quilos após iniciar
o regime e encarar um plano intensivo de exercícios físicos
Há algumas explicações para o êxito desse plano alimentar. A primeira é a mais óbvia: as pessoas emagrecem porque, ao riscar do cardápio os alimentos que contêm glúten, deixam de comer pães, bolos e massas brancas. Desse modo, não ingerem mais uma enorme quantidade de calorias. “Grande parte desses alimentos é bastante calórica”, explica Vânia Assaly. A segunda razão – e as outras também – é mais complexa. A proteína está associada a reações de intolerância. A mais intensa desenha um quadro conhecido como doença celíaca. Trata-se de uma resposta genética grave ao composto que pode deflagrar diarreia crônica, desnutrição, fadiga e, em crianças, também pode levar a distúrbios do crescimento. “É uma reação do sistema imunológico. Um anticorpo é criado contra o glúten”, explicou à ISTOÉ o gastroenterologista Joe West, da Universidade de Nottingham, no Reino Unido (leia mais no quadro à pág. 86). Estima-se que um a cada 214 brasileiros seja portador da enfermidade. A atriz Isis Valverde, 25 anos, descobriu que tinha a doença aos 19 anos. “Sentia dores abdominais, tontura, boca seca e perdi cabelo”, diz. Desde que tirou o glúten do cardápio, não manifesta mais os sintomas.
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Intolerâncias mais brandas também acontecem, e em número expressivo. “São mais frequentes do que a doença celíaca”, afirma o médico Luiz Carneiro, chefe do Departamento de Gastroenterologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. “Hoje sabemos que a sensibilidade ao glúten é dez vezes mais comum que a doença celíaca”, disse à ISTOÉ o nutricionista Tom O’Brien, da Universidade de Chicago (EUA). Nesses casos, o que ocorre é que, em vez de reações imediatas e mais fortes, como nos celíacos, há a deflagração de um fenômeno conhecido como reação alérgica tardia. “O indivíduo acumula anticorpos mais amenos ao glúten”, explica o microbiologista Bruno Zylbergeld, estudioso do tema. “Com o passar do tempo, isso pode desencadear os sintomas da intolerância”, diz. O fato é que essas respostas – mais ou menos severas, não importa – provocam no corpo inchaço, dificuldades digestivas e processos inflamatórios que contribuem para o acúmulo de peso. “A retirada do glúten evita essas reações”, explica a nutricionista Lucyanna Kalluf, de São Paulo.
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Intolerância desde o nascimento
O médico cirurgião Gustavo Mattos, 31 anos, de São Caetano do Sul, é celíaco. 
Embora esteja bem adaptado e nunca fuja da dieta, ainda sofre para encontrar 
pratos livres do composto em restaurantes. “Os funcionários não sabem
informa os clientes sobre esse tema. Falta informação.”
De acordo com o endocrinologista Tércio Rocha, entretanto, não ingerir glúten traz benefícios para a silhueta de todos, intolerantes à proteína ou não. “As pessoas apresentam redução do inchaço abdominal, observam melhora no funcionamento do intestino e também têm diminuição da compulsão alimentar”, assegura. Este último benefício seria resultado da baixa ingestão de carboidratos vindos de alimentos produzidos com farinha de trigo não integral – pães e massas brancas, por exemplo. Por mecanismos complexos, essa categoria de alimentos agrava o impulso de comer além da conta. Há também indicações de que a ausência da proteína na dieta promoveria mudanças no perfil metabólico que favoreceriam a queima calórica e elevariam a sensação de saciedade. Sobre esse ponto, porém, não há consenso médico. “A literatura científica não descreve essas interações”, ressalva o endocrinologista Freddy Goldberg, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.
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CUIDADO
A atriz Isis Valverde é portadora de doença celíaca. Por isso, não ingere mais a substância
Embora um dos maiores apelos da dieta seja a perda de peso, a restrição do nutriente é vista como uma maneira de melhorar a saúde de um modo mais amplo. Há muitos registros na ciência dando conta da associação da proteína com várias doenças. Um estudo da Universidade Karolinska, em Estocolmo, Suécia, por exemplo, relaciona o ingrediente à piora da artrite reumatoide, doença que deflagra um processo inflamatório crônico sobre as articulações. “Há evidências de que a saúde pode se beneficiar de mudanças alimentares e a dieta livre de glúten é uma delas”, disse o reumatologista Johan Frostegärd, da universidade sueca. Ele comprovou os benefícios do regime em pacientes que sofrem de artrite reumatoide.
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Cardápio familiar
O casal Rosa Araújo, 34 anos, e Marco Alberto Silva, 43, mudou as refeições da 
família por conta do sobrepeso de Silva, que chegou a 126 quilos. Agora, não 
há 
mais alimentos com glúten. Com o regime e uma rotina pesada de exercícios de duas a três
horas por dia, o empresário perdeu 38 quilos. Rosa acabou adotando a estratégia. Eles também
fornecem a mesma alimentação à filha Olívia, 3 anos. “É mais saudável”, explica Rosa
A ingestão do glúten está ainda vinculada à ocorrência de depressão, dores de cabeça e déficit de atenção. As pesquisas dão como hipótese mais provável para a relação entre a proteína e as doenças o processo inflamatório desencadeado pelo composto. Na opinião da nutricionista Lucyanna Kalluf, são os resultados em vários aspectos da saúde que acabam fazendo com que as pessoas mantenham a dieta. “Elas melhoram tanto que não querem mais voltar a ingerir a proteína.”
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O abandono do nutriente, porém, não seduz todos os especialistas. Há médicos que acreditam que a restrição total de glúten é radical demais e desnecessária. “Pessoas que não têm alergia ao composto dispõem de outras maneiras de perder peso”, opina o nutrólogo Durval Ribas Filho. O nutricionista Tom O’Brien é outro que chama a atenção para os problemas que a exclusão da proteína pode oferecer. “Os indivíduos podem ter dificuldade de encontrar alimentos substitutos e correm o risco de ter uma alimentação desequilibrada”, diz. No entanto, o aquecimento do mercado mostra que esse cenário está mudando. “Hoje é bem mais fácil substituir os alimentos com glúten por versões sem o nutriente, pois as lojas de produtos naturais já têm bastante variedade”, diz Juliana Paes, que optou pela moderação, reduzindo a presença da proteína à mesa, mas sem se privar dela por completo.
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Colaboraram: Mônica Tarantino e Simone Blanes
Foto: Felipe Lessa
Fotos: André Schliró; João Castellano/ag. istoé
Fotos: Kelsen Fernandes; João Castellano/ag. istoé; Steven Lawton/Getty Images; Marcus Mam/Madame Figaro/laif; Michael Tran/FilmMagic; Jen Lowery/Splash News

Cirurgia bariátrica diminui fatores de risco para ataque cardíaco e AVC


Pesquisa mostrou que o impacto do procedimento é maior e mais rápido do que o obtido com uso de remédios

coração
Cirurgia ajudou a aumentar a massa do ventrículo esquerdo do coração, deixando o músculo mais forte, aumentou a proporção de sangue bombeado pelo órgão e sua capacidade de relaxar depois de cada contração, mostrou estudo(Thinkstock)
A cirurgia bariátrica é capaz de reduzir drasticamente e num curto período de tempo os fatores de risco que podem desencadear doenças do coração e AVC – podendo salvar a vida de pacientes obesos. O impacto é muito maior e mais veloz do que do que o conseguido por meio do tratamento com remédios para o controle de peso ou diabetes. A conclusão faz parte de uma análise das pesquisas sobre o tema, publicada na última edição da revista Heart, periódico publicado pelo mesmo grupo que edita o British Medical Journal.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Bariatric surgery and cardiovascular outcomes: a systematic review

Onde foi divulgada: revista Heart

Quem fez: Amanda R Vest, Helen M Heneghan, Shikhar Agarwal, Philip R Schauer, James Young

Instituição: Clínica Cleveland, nos Estados Unidos

Dados de amostragem: 73 estudos, que envolveram quase 20.000 pessoas que passaram pela cirurgia bariátrica.

Resultado: Ao analisar os dados, os pesquisadores viram que, após a operação, 63% dos pacientes apresentaram melhoras nos índices de pressão alta, 73% nos de diabetes e 65% nos de gordura no sangue.
Segundo os pesquisadores, a obesidade mata mais de 2,6 milhões de pessoas todos os anos. Além disso, o excesso de gordura no corpo produz substâncias químicas prejudiciais e distorce a produção de hormônios, favorecendo a inflamação e a resistência à insulina – o que pode levar ao diabetes.
Para saber o efeito que a cirurgia bariátrica tinha nos pacientes obesos, os autores do estudo vasculharam os bancos de dados que reúnem pesquisas científicas produzidas entre 1950 e 2012. Eles encontraram 73 estudos, envolvendo quase 20.000 pessoas, que haviam avaliado o impacto do procedimento nos fatores de risco de doenças cardíacas e AVC. Ao analisar os dados, os pesquisadores viram que pacientes perderam, em média, metade do excesso de peso após a cirurgia.
Os dados indicaram que, antes do procedimento, 44% dos pacientes sofriam de pressão alta, 24% de diabetes e 44% tinham altos índices de gordura no sangue. Após a operação, 63% dos pacientes apresentaram melhoras nos índices de pressão alta, 73% nos de diabetes e 65% nos de gordura no sangue.
Mais forte - Os autores também analisaram 18 estudos, envolvendo 713 pessoas, que avaliavam o impacto da cirurgia bariátrica no risco de insuficiência cardíaca e em mudanças estruturais no coração. A análise mostrou que o procedimento aumentou a massa do ventrículo esquerdo do coração, deixando o músculo mais forte, aumentou a proporção de sangue bombeado pelo órgão e sua capacidade de relaxar depois de cada contração.
Segundo os pesquisadores, as descobertas mostram que a cirurgia bariátrica não funciona só como uma medida estética, mas ela realmente pode prevenir danos cardiovasculares e salvar vidas. "A magnitude do efeito nos fatores de risco cardiovasculares é impressionante, e até agora nenhuma terapia farmacêutica para o controle de peso ou diabetes mostrou um efeito comparável", escreveram no estudo. 

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Seu corpo está pronto para o horário de verão?

Pedro Proença - Especial para o Estado
SÃO PAULO - À zero hora deste domingo, começa o horário de verão nas Regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Tocantins. Como ocorre todo ano, há aqueles que não gostam da ideia de perder uma hora de sono. A boa notícia, porém, é que os transtornos podem ser atenuados com pequenas mudanças na alimentação e no horário de ir dormir.
Fiorelli é responsável por ajustar 12 relógios públicos - Eduardo Nicolau/AE
Eduardo Nicolau/AE
Fiorelli é responsável por ajustar 12 relógios públicos
De acordo com Luciano Capelli, fisiologista do Centro de Medicina da Atividade Física da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o corpo leva de uma a duas semanas para se adaptar à nova rotina. "Algumas pessoas sofrem mais, outras menos. O ideal é tentar condicionar o corpo a dormir um pouco mais cedo", explica Capelli.
Uma outra dica do médico que pode ajudar na adaptação do organismo ao novo horário é evitar o consumo de alimentos e bebidas que contenham substâncias estimulantes, como café, chás com cafeína (como o preto) e chocolate, entre outros.
"À noite, para ajudar a dormir, a pessoa pode tomar um copo de leite quente, que tem tripotano, um aminoácido que ajuda a relaxar a musculatura, ou chás sem cafeína (como camomila e erva cidreira)", diz Capelli.
Nova rotina. O horário de verão altera o dia a dia de muitas pessoas. O professor de Educação Física Rodrigo Lobo, de 29 anos, proprietário da Lobo Assessoria Esportiva, que atua no ABC paulista, diz que há uma redução no número de alunos nos treinos de corrida e ciclismo. "Não sei precisar quantas pessoas faltam, mas nos primeiros dias há uma queda."
O advogado Sidnei Farina, aluno de Lobo, é um desses atletas que têm dificuldade de se adaptar. "Nunca gostei de acordar cedo. Você fica mais sonolento, menos disposto. Nessa fase de adaptação do corpo, tenho dificuldade para levantar", diz Farina.
O engenheiro Matheus Hidalgo, por sua vez, prefere aproveitar a hora extra de claridade para se exercitar em espaços abertos. "Como o sol se põe mais tarde, isso me permite correr na rua mais tarde."
Ajuste. Outra pessoa que tem a rotina afetada, ao menos por um dia, pelo horário de verão é o relojoeiro Augusto Fiorelli, de 52 anos. Ele é responsável pela manutenção dos 12 relógios públicos de São Paulo, como os das Faculdades de Direito e Medicina da Universidade de São Paulo, da Estação da Luz e da Praça da Sé. No domingo, dia da mudança, ele terá de adiantar os ponteiros das horas.
"É um processo mecânico. Lá em cima, não demora tanto, cerca de 10 a 15 minutos. O que leva tempo é para subir as escadas", diz Fiorelli.
Os trabalhadores noturnos também terão a rotina alterada, pelo menos por um dia, na virada do horário de verão. O pub O’Malley’s, por exemplo, fechará, como em todos os sábados, às 5 horas, o que garantirá uma hora a menos de trabalho aos funcionários. Outros bares vão prolongar o expediente, como o Prainha, na região da Avenida Paulista, que fechará entre 2h e 2h30 em vez de 1h30.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Pesquisadores brasileiros descobrem área cerebral responsável pelo sentimento de apego à família

Descoberta ajuda a entender onde se formam as emoções humanas e pode levar a novos tratamentos contra depressão e esquizofrenia

Guilherme Rosa
área cerebral
Usando dados coletados por meio de aparelhos de ressonância magnética, os pesquisadores puderam encontrar a área cerebral que é ativada nos momentos de carinho e ternura com a família (Divulgação)
Um estudo conduzido por neurocientistas brasileiros identificou as áreas do cérebro que são responsáveis pelos sentimentos de afiliação: o apego e a ternura que sentimos em relação aos membros de nossa família. Publicada no periódico científico Journal of Neuroscience, a pesquisa ajuda a entender como as emoções humanas são desencadeadas. Segundo os pesquisadores, a descoberta pode ajudar ainda na compreensão dos mecanismos cerebrais envolvidos em alguns distúrbios psiquiátricos, como a depressão e a psicopatia.

CONHEÇA A PESQUISA

Título original: A Neural Signature of Affiliative Emotion in the Human Septohypothalamic Area

Onde foi divulgada: revista Journal of Neuroscience

Quem fez: Jorge Moll, Patricia Bado e Ricardo de Oliveira-Souza

Instituição: Instituto D’or

Dados de amostragem: 27 voluntários, que leram frases que trouxeram a tona emoções afiliativas negativas e positivas

Resultado: A partir de dados de ressonância magnética, os pesquisadores descobriram que a região cerebral Septo-Hipotalâmica apresentava uma maior atividade quando as emoções afiliativas estavam envolvidas
As experiências afiliativas são inerentes aos seres humanos e também a outros mamíferos, ajudando na coesão social dessas espécies. Segundo os pesquisadores, a afiliação está envolvida em diversas experiências humanas, que podem inclusive despertar emoções opostas. Ela, por exemplo, está presente nos sentimentos de cuidado e ternura com pais, irmãos e filhos, sejam eles em momentos de felicidade ou tristeza. "A afiliação está envolvida quando uma mãe olha para o filho brincando, e sente alegria e satisfação. Mas a afiliação também está presente quando uma mãe vê seu filho se machucando e se sente ansiosa por isso. Esse é um sentimento negativo, mas ainda assim ela sente apego por seu filho", diz o neurocientista Jorge Moll Neto, presidente do Instituto D’or, responsável pelo estudo.

Pesquisas anteriores realizadas em animais já haviam apontado para regiões específicas do cérebro envolvidas neste tipo de emoção. Agora, a equipe de cientistas decidiu procurar por essa região no cérebro de seres humanos. Para isso, eles criaram algumas frases capazes de induzir os sentimentos de afiliação em humanos, que poderiam ser experimentados tanto de maneira positiva quanto negativa. (Veja alguns exemplos dessas frases no box abaixo)

O apego à família

Veja algumas das frases usadas no estudo, para trazer à tona os sentimentos de afiliação
Frases afiliativas positivas
- Você ensinou seu filho a andar de bicicleta e ele te agradeceu com um abraço
- Você juntou fotografias velhas de sua infância e fez um álbum para sua mãe

Frases não afiliativas positivas
- Você foi ao show de sua banda de rock preferida e eles te convidaram ao palco
- Você fez alguns comentários em uma reunião que deixaram seu chefe impressionado

Frases afiliativas negativas

- Você esqueceu seu aniversário de casamento e sua esposa ficou muito desapontada
- Você descobriu que seu pai está quebrado e acabou de perder o emprego

Frases não afiliativas negativas
- Você foi acusado por um problema que não foi sua culpa e perdeu o emprego
- Você foi a uma reunião no trabalho em que seu chefe o criticou publicamente
Em uma segunda fase da pesquisa, os cientistas estudaram a reação de 27 voluntários ao banco de frases. Dentro de um aparelho de ressonância magnética, eles tinham de ler cerca de 200 sentenças, que eram mostradas em uma tela de LCD. Enquanto os voluntários experimentavam as diferentes emoções descritas, o aparelho media quais áreas cerebrais eram ativadas. "A partir dos dados que recebemos da ressonância magnética, fizemos uma análise para encontrar qual foi a área que mais teve sua atividade aumentada por conta dos estímulos de afiliação", disse Jorge Moll Neto.

Região rica em oxitocina — Por fim, a pesquisa mostrou que a área envolvida nas emoções de afiliação era a região septo-hipotalâmica, localizada atrás do lóbulo frontal, na base do cérebro. Segundo os pesquisadores, isso não foi uma surpresa. "Testes em animais já haviam mostrado que essa área é rica em oxitocina e vasotocina, hormônios que agem nos mecanismos de ligação social", afirma o neurocientista. 

A descoberta mostra que o apego social sentido pelos seres humanos não é um mero acaso - mas produto de uma especialização cerebral, que pode ter razões evolutivas. Os cientistas dizem que novas pesquisas nessa região cerebral podem ajudar a explicar os mecanismo por trás de doenças que apresentam falhas nesse apego, como o autismo e a depressão pós-parto (ver entrevista abaixo).

Jorge Moll Neto

"O mecanismo de apego é fundamental para a nossa sobrevivência"

Jorge Moll Neto
Neurocientista, presidente do Instituto D’or

Qual a importância do sentimento de afiliação? Ele é um mecanismo fundamental de sobrevivência entre mamíferos - e possivelmente entre algumas aves. A afiliação está presente entre os animais que têm o comportamento de proteção à cria, mas é mais proeminente entre os humanos do que em qualquer outra espécie. Esse mecanismo de apego é fundamental para a nossa sobrevivência, uma vez que os pais criam seus filhos durante muitos anos antes de eles terem independência. Sem ele, as mães estressadas poderiam abandonar o cuidado dos filhos – como acontece em alguns casos de depressão pós-parto. Entender o funcionamento desse sentimento ajudará também a entender esse tipo de disfunção.
Qual o valor do sua descoberta? Antes de tudo, ela pode ajudar a resolver uma questão conceitual. Ao localizar as regiões responsáveis por sentimentos e motivações humanas, mostramos que nosso cérebro tem uma especialização maior no sentido de promover o comportamento de apego social. Além disso, o estudo pode ajudar a entender certos distúrbios de comportamento. Em alguns casos, o indivíduo pode ter todas as emoções preservadas, mas um comprometimento nos sistemas de afiliação. Podemos estudar o papel desses circuitos na psicopatia, na depressão pós-parto, no autismo e na própria depressão.
Então lesões nessa área podem levar a disfunções psicológicas? Em modelos de animais, a lesão dessas regiões leva a um comportamento extremamente agressivo. O indivíduo costuma se tornar violento com animais de sua própria espécie. Mais que isso, alguns camundongos começaram a devorar os próprios filhos.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Só 20% de grupos de alimentos têm teor de sódio adequado

Queijo ralado e macarrão instantâneo são os com maior quantidade de sal; excesso pode gerar hipertensão e diabetes

AE
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Pesquisa feita pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) identificou alto teor de sódio em alimentos vendidos no País. O trabalho foi feito com base na análise de 26 tipos de produtos, como bolachas e frios. Dos grupos analisados, apenas cinco apresentaram níveis do ingrediente considerados adequados.
 
O produto campeão em teor de sódio, de acordo com a pesquisa da Anvisa, é o queijo parmesão ralado: uma média de 1.981 miligramas por 100 gramas do produto. Em seguida está o macarrão instantâneo, com 1.798 miligramas por 100 gramas do produto. "O que nos preocupa é que boa parte dos alimentos com alto nível de sal é muito consumido por crianças", diz a gerente-geral de alimentos da Anvisa, Denise de Oliveira Resende.
 
O excesso de sódio na dieta é considerado fator de risco de problemas como hipertensão e diabete. Por isso, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que o nutriente seja usado com parcimônia: no máximo 2 gramas diárias de sódio, o equivalente a 5 gramas de sal. Para se ter uma ideia, 100 gramas de parmesão conteria a quantidade. O brasileiro consome 12 gramas de sal por dia, mais do que o dobro do recomendado pela OMS.
 
O macarrão, assim como bolachas e salgados de milho, integram o programa de redução de sódio de produtos processados no País, feito pelo Ministério da Saúde e Associação Brasileira de Indústrias de Alimentação. O acordo, anunciado em 2011, prevê a retirada gradual do sódio de alimentos processados. Até agora foram anunciadas reduções para 13 classes de alimentos. A meta é retirar até 20 mil toneladas de sódio até 2020.
 
A redução programada, porém, é considerada tímida por nutricionistas e entidades ligadas ao direito do consumidor. "Mesmo com a mudança, produtos vão continuar com alto teor de sódio. Em outras palavras: o brasileiro continuará consumindo muito mais do que o recomendado", diz o gerente do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), Carlos Tadeu de Oliveira. Ele cita como exemplo o macarrão: "A meta é 1.920 miligramas de sódio. Quase a necessidade de um adulto para o dia todo".
 
Denise afirma que uma redução drástica traria problemas para empresas e afastaria o consumidor. "As pessoas poderiam estranhar o sabor. Além disso, há um problema técnico: o sódio é importante para conservar os alimentos." Pelo cronograma, a partir de 2013 alguns produtos já devem ser comercializados com menos sódio em sua composição. "Pelas análises que fizemos, alguns produtos já apresentam uma média menor do que a foi acordada, como a maionese", afirma Denise. A meta é que o produto tenha, no máximo, 1.283 mg/100g. A média encontrada pela Anvisa está em 1.096.
 
Fiscalização
 
A gerente diz que o controle sobre o cumprimento do acordo começará a ser feito a partir de 2013. "Se números revelarem que a adesão está baixa, não está descartada a possibilidade de criar metas obrigatórias." Para Oliveira, no entanto, medidas mais ousadas poderiam ser adotadas rapidamente. "O acordo tentou abrandar as discussões sobre uma regulamentação mais severa. Autorregulamentação pode ser benéfica, mas os padrões têm de ser adequados."
 
Denise destaca que várias amostras de um mesmo produto apresentam teores diferentes de sódio, como o queijo parmesão: a diferença entre produtos chega a ser de 13,7 vezes. "Daí a importância de a população checar nos rótulos a composição." Denise afirmou que foram encontrados produtos com teores de sódio distintos da embalagem. As empresas, diz, foram autuadas. Procurada, a Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia) afirmou não conhecer os dados, o que a impediria de fazer uma avaliação do trabalho.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Canela e pé são as maiores vítimas da corrida, mostra estudo

RODOLFO LUCENA
DE SÃO PAULO
Canela, calcanhar e planta do pé são as maiores vítimas do impacto que ocorre na corrida --e não os joelhos, tão lembrados quando se fala em lesão de atletas.


É o que revela estudo pioneiro da Universidade Cidade de São Paulo publicado na "Sports Medicine", da Nova Zelândia, revista que lidera o ranking internacional de publicações sobre ciência do esporte feito pelo "Journal Citation Reports".
Para chegar a esse resultado, os pesquisadores analisaram 2.924 artigos. "Revisamos todas as pesquisas que descreveram as principais lesões em corredores", diz Alexandre Dias Lopes, fisioterapeuta, professor da Unicid e coordenador de um grupo de pesquisas sobre o tema.
No final da peneira científica, que descartou textos redundantes ou com definições insuficientes, só oito estudos foram considerados. No total, acompanharam 3.500 corredores e constataram 28 tipos de lesão. As três principais são: síndrome do estresse medial da tíbia (canelite), tendinopatia de Aquiles (tendinopatia do calcâneo) e fascite plantar (veja ao lado).
"Não dá para dizer qual é a principal. Essas três são as mais comuns", diz Lopes, que supervisionou o estudo conduzido pelo mestrando Luiz Carlos Hespanhol Júnior.
Nos consultórios, também são as campeãs, diz Jomar Souza, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte
São lesões causadas por sobrecarga, nenhuma é traumática (tipo pisar num buraco). Diferentemente do futebol, que machuca por macrotrauma, a corrida causa lesões por microtrauma de repetição. "Alguma estrutura biológica não aguenta o estresse e sofre inflamação", diz Lopes.
Márcio Freitas, especialista em pé e tornozelo, acrescenta: "A causa principal dessas patologias é o excesso de treino, com pouco tempo de recuperação dos tecidos [osso, tendão, músculo]".
Rogério Teixeira da Silva, ortopedista e coordenador do Núcleo de Estudos em Esportes e Ortopedia, bate na mesma tecla: "Uma das causas mais comuns de sobrecargas ósseas e de tendão é o músculo não estar forte o suficiente para suportar os treinos; no caso da fascite plantar e nas tendinites de joelho e de Aquiles, o encurtamento muscular também é uma causa importante".
Quando a advogada Cinthia Andrade, 35, sentiu pontadas no meio da canela, achou que era cansaço.
Os sintomas surgiam nos treinos e eram amenizados quando ela, que corre há seis anos, reduzia a intensidade ou caminhava. Com o tempo, a dor passou a prejudicar seu desempenho.
"Em maio, numa prova de 10 km, tive de caminhar a partir do km 6. Em setembro, participei de outra e tive de caminhar já no km 3. Fico chateada porque estou preparada, mas não consigo desenvolver por causa da dor."
Sem nunca ter deixado de treinar ""corrida até quatro vezes por semana mais bicicleta ao menos um dia--, resolveu enfim ir ao médico.
O exame indicou canelite nas duas pernas. Agora, ela começa nova etapa: fisioterapia, fortalecimento muscular, aplicação de gelo e redução do volume de treinos. Os resultados devem aparecer em um mês e meio.
A advogada quer acabar com a dor logo e se preparar para a São Silvestre, principal prova de rua do país."Vou correr de qualquer jeito!"

Editoria de Arte/Folhapress
MENOS, MENOS
O tratamento, pelo menos num primeiro momento, é sempre a redução do treinamento, tanto em volume (quilômetros rodados por semana) quanto em intensidade (ritmo). Há situações em que o corredor deve mesmo interromper seus treinos. E precisa tomar outras medidas.
"Além de fisioterapia, o paciente deve seguir um programa específico de treinamento, envolvendo alongamento e fortalecimento muscular. Como terapia complementar, a acupuntura, o RPG e a quiropraxia podem ser utilizados", diz Moisés Cohen, diretor do Instituto Cohen de Ortopedia, Reabilitação e Medicina do Esporte.
Os resultados dependem da paciência da pessoa, nem sempre disposta a abrir mão de seu esporte, constata Freitas: "Nós, que tratamos corredores, ficamos muitas vezes de mãos atadas, pois essas lesões requerem um tempo de tratamento, o que não é aceito por eles e, muitas vezes, não temos tecnologia para abreviar esse tempo, que é determinado pela biologia, não pela opinião médica".