domingo, 30 de setembro de 2012

Confira remédios que você nunca deve misturar

Combinação errada pode levar a efeitos colaterais sérios

Terra
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Todo medicamento tem efeitos colaterais e, por mais que eles tenham sido criados para combater doenças, também podem oferecer riscos para a saúde. “A diferença entre o remédio e o veneno está na circunstância e na dose”, afirma o toxicologista Anthony Wong, coordenador do Centro de Assistência Toxicológica do Hospital das Clínicas da USP. Por isso, os medicamentos devem ser encarados de uma forma séria.
Santo remédio? Veja medicamentos que parecem "inofensivos", mas que oferecem riscos à saúde
Um levantamento divulgado esta semana indicou que a maioria de intoxicações por medicamentos acontecem com remédios considerados inofensivos pela população como analgésicos, anti-inflamatórios e antigripais. No Brasil a situação não é muito diferente. Segundo levantamento do Sistema Nacional de Informações Tóxico Farmacológica (Sinitox), ligado ao Instituto Fio Cruz, os medicamentos são os principais responsáveis por intoxicação humana superando venenos, drogas e agrotóxicos.
A situação piora bastante quando há uma combinação entre diferentes medicamentos. “Muitas vezes o problema vem de uma automedicação. Um amigo ou familiar recebeu uma prescrição de um remédio e repassa para o paciente quando está com sintomas parecidos, apenas querendo ajudar. Porém, não é porque uma medicação funcionou bem para um que terá o mesmo efeito no outro. Isso traz um risco muito grande de complicações”, alerta o ex-presidente da Sociedade Brasileira de Toxicologia Carlos Augusto Mello da Silva, do Centro de Informações Toxicológica do Rio Grande do Sul. Além de outros medicamentos, alguns alimentos, hábitos e doenças também podem alterar o metabolismo de remédios. Por isso, é importante deixar seu médico a par da situação geral de sua saúde e questioná-lo sobre as restrições que envolvam seu tratamento.
Outro problema comum é um paciente que já faz um tratamento com acompanhamento médico esquecer de informar durante a consulta com outro especialista quais são os medicamentos que já estão sendo usados. Para evitar esse problema, Carlos Augusto indica que o paciente sempre leve as receitas para consultas em médicos e visitas ao hospital. “Outra opção, especialmente para as pessoas mais idosas que costumam usar diversos remédios regularmente, é anotar os nomes dos medicamentos, horários e doses em um papel. Dessa forma os riscos de o especialista receitar um produto que terá uma interação prejudicial com outros diminuirá muito”, aconselha ele.
Segundo Anthony, a interação entre medicamentos pode intensificar ou anular o efeito deles, além do risco de gerar algum novo problema. “Cada paciente tem uma reação imunológica diferente. Isso também varia durante a vida. Algo que causava alergia em você durante a infância pode não oferecer riscos na vida adulta, você pode desenvolver uma hipersensibilidade durante a gravidez ou depois de algum vírus que causou mudanças em seu sistema imunológico. Então, o acompanhamento médico é sempre algo indispensável”, justifica ele.
Confira algumas combinações perigosas:
Anticoncepcional + antidepressivo fitoterápico (hipérico ou erva de São Jorge)
A mistura diminui em até 60% o efeito contraceptivo da pílula.
Anti-inflamatórios + ácido acetilsalicílico (aspirina)
A mistura pode causar uma irritação na mucosa gástrica devido a um efeito somatório, aumentando o risco de desenvolvimento de gastrite e úlceras.
Anti-inflamatórios + paracetamol
Os dois remédios juntos podem gerar problemas renais, levando a quadros hepáticos.
Antidepressivos + antigripal (anfetamina)
Essa combinação pode gerar grande aumento da pressão, levando até a delírios.
Anti-inflamatórios + corticoides
Aumenta a retenção de líquidos e sal, causando inchaço, e pode levar ao aumento de pressão. Também pode irritar o estômago, gerando, em alguns casos, sangramentos e formação de úlceras.
Antiácidos + antibióticos
O antiácido pode interferir na absorção do antibiótico, diminuindo sua eficiência.
Anti-hipertensivo + calmantes
Causa sonolência e queda de pressão.
Remédios para disfunção erétil + antidepressivos
Aumenta os riscos de priapismo, quando o pênis fica ereto por mais de seis horas, causando problemas para o órgão.
Anticoncepcional + anti-inflamatórios
Em algumas situações pode causar sangramentos.
Colírios + descongestionantes nasais
Em alguns casos pode gerar aumento de pressão, especialmente em idosos e crianças.
Anti-hipertensivo + diurético
A combinação pode levar a perda de sais minerais, causando desidratação e problemas renais.
Anticoncepcional + antibiótico
Alguns tipos de antibióticos podem causar alterações pontuais no metabolismo do anticoncepcional.
Remédios para emagrecer + antidepressivo
Pode causar taquicardia e aumento da pressão arterial.
Inibidores de apetite + ansiolíticos
A combinação traz possibilidade de o paciente sentir irritabilidade, confusão mental, alterações de batimentos cardíacos e tontura.
Anticoncepcional + hormônios femininos, como estrógeno
Dependendo do tipo de pílula pode haver excesso de estrógeno, aumentando o risco de coagulação sanguínea.
Anticoagulantes + antifúngicos
Há alteração no metabolismo dos medicamentos e pode causar arritmias cardíacas.
Anticoagulante + anti-inflamatório
Aumentam os riscos de hemorragia.

sábado, 29 de setembro de 2012

O alívio da asma

Os novos tratamentos e aparelhos que ajudam a evitar as crises da enfermidade

Michel Alecrim
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INTERVENÇÃO
A solução para tratar as crises das gêmeas
Natália e Isabela foi submetê-las a uma cirurgia
Conviver com as formas mais graves da asma tem um preço alto para a qualidade de vida. A comerciante Cleusa Nunes, 57 anos, de Porto Alegre, por exemplo, perdeu a conta das noites passadas no pronto-socorro e das internações para tratar crises constantes e intensas. Novos medicamentos, aparelhos e tratamentos, porém, estão mudando a vida de pacientes na mesma condição. Cleusa, por exemplo, foi submetida a um procedimento inovador, chamado de termoplastia brônquica, testado em um estudo pioneiro com 45 voluntários feito no Hospital da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

A nova terapia consiste na introdução de uma cânula muito fina, com um eletrodo na ponta, pela garganta do paciente até chegar ao interior dos pulmões. Lá dentro, o eletrodo emite ondas de calor. “Elas diminuem o espessamento da musculatura ao redor das vias respiratórias, causado pela força que o asmástico faz para tentar respirar e tossir”, explica o médico Adalberto Rubin, que coordenou a pesquisa no País. O método já foi aprovado nos Estados Unidos e começa a ser usado em pacientes americanos.

No Brasil, a técnica aguarda aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária para fazer parte do arsenal dos médicos. “Fizemos parte de uma pesquisa mundial que comprovou a eficácia do método, mas ainda não podemos oferecê-lo aqui por causa da burocracia”, lamenta o especialista. Para Cleusa, a terapia foi revigorante. “Ainda uso a bombinha, mas vivo melhor, vou à academia e consigo até correr na esteira”, diz ela. Procurada pela reportagem, a Anvisa não se pronunciou.
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Outra novidade é o aparelho de fabricação sueca Airsonett, que elimina inimigos como a poeira e os ácaros enquanto fica ligado em local próximo à pessoa. Na área das medicações, um dos avanços mais recentes foi a utilização, para as pessoas muito afetadas pela enfermidade, de uma substância chamada omalizumabe, disponível há um ano para os pacientes brasileiros. O remédio se destina a conter a produção excessiva de anticorpos que deflagram a crise. A dona de casa carioca Marcleide Cabral, 31 anos, que participa de um programa de assistência a asmáticos no Hospital Universitário Pedro Ernesto, no Rio de Janeiro, começou a receber injeções desse medicamento há três meses. “Nas últimas semanas, eu me livrei das crises e estou conseguindo levar uma vida normal”, comemora.

Segundo o médico Eduardo Costa, do Hospital Pedro Ernesto, no Rio, o omalizumabe é um medicamento a ser dado apenas depois que foram esgotadas todas as possibilidades de terapia com os remédios existentes. “O principal problema é o custo de cerca de R$ 5 mil das aplicações. Mas compensa se levarmos em conta que a pessoa vai parar de gastar com internações rotineiras”, afirma o especialista.

Na maioria dos casos, o acesso a essa medicação tem sido obtido na Justiça, por liminar. O uso de drogas chamadas anticolinérgicas, que agem sobre os nervos que desencadeiam a reação alérgica, também mostrou bons resultados em pesquisa realizada pelo Imperial College, da Inglaterra.

Em algumas situações, o alívio ao sofrimento imposto pela doença pode vir também na forma de uma cirurgia. A administradora Mara Souza, 41 anos, de São Caetano do Sul, na Grande São Paulo, decidiu submeter as filhas gêmeas Natália e Isabela, 4 anos, a uma operação de retirada da adenoide – um tecido de dentro da narina que pode infeccionar e bloquear a respiração. Foi a solução para as crises. “Depois desse procedimento elas estão muito bem e até ganharam peso”, diz Mara.
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Na opinião da pneumologista Márcia Pizzichini, da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, não há um tratamento padrão para a doença. É necessário avaliar a intensidade do problema e observar a reação do paciente às terapias até encontrar a combinação de técnicas mais adequada. A maioria se beneficia com a inalação do medicamento corticoide associado a um broncodilatador. “Hoje em dia praticamente não trazem efeitos colaterais”, afirma Márcia. Há casos, porém, que não se resolvem com esses recursos. Por isso novas opções são tão bem recebidas.
Fonte: Ministério da Saúde
Fotos: João Castellano/istoe

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Descoberta pode impulsionar novos tratamentos para fibrose cística

Cientistas concluíram que equilíbrio, e não a ausência, de bactérias no pulmão pode ajudar a tratar doenças pulmonares crônicas

Ilustração para fibrose cística
Fibrose cística: Com a doença, secreção pode se acumular nas vias aéreas e desencadear doenças graves nos pulmões (Getty)
Uma pesquisa feita na Universidade Stanford, nos Estados Unidos, pode alterar a forma como é tratada a fibrose cística — doença hereditária que faz com que determinadas glândulas do corpo produzam secreções anômalas, desencadeando lesões nos pulmões e no trato gastrointestinal. As conclusões do estudo foram publicadas nesta semana na revista Science Translational Medicine.

Saiba mais

PROBIÓTICOS
São microrganismos 'do bem', bactérias (como os lactobacilos) que contribuem para o bom funcionamento do organismo. Nos intestinos grosso e delgado, ajudam a regular movimento peristáltico e síntese de vitaminas, por exemplo, além de auxiliar no equilíbrio entre as bactérias que habitam os intestinos. Os probióticos estão presentes em alimentos como os iogurtes, mas podem ser adquiridos também em suplementos alimentares.
Atualmente, o tratamento contra fibrose cística consiste no uso de antibióticos a longo prazo. Quando a doença afeta os pulmões, as pequenas vias aéreas são bloqueadas por secreções espessas. É nesse 'muco estagnado' que as bactérias conseguem crescer e se espalhar, tornando crônicos os quadros inflamatórios nos pulmões.
Até a publicação desse estudo, considerava-se que o que diferenciava os pulmões de pessoas com e sem fibrose cística era simplesmente a presença de comunidades de bactérias. No entanto, os pesquisadores americanos descobriram que os indivíduos saudáveis também têm bactérias em seus pulmões, e que a boa saúde dos órgãos depende não da ausência desses microrganismos, mas sim do equilíbrio entre eles — assim como ocorre com a flora intestinal.
A partir dessa descoberta, então, os cientistas buscaram entender qual é, de fato, a diferença entre os pulmões de pessoas saudáveis e os de indivíduos com fibrose cística. Para isso, eles sequenciaram o genoma dos micróbios existentes no muco dos pulmões de 16 indivíduos com fibrose cística e de nove pessoas saudáveis.
Diversidade — Os autores descobriram que pacientes com fibrose cística apresentam um grupo de bactérias em seus pulmões que não existe entre indivíduos saudáveis. Apesar disso, eles têm uma diversidade "muito menor" de bactérias que vivem nos pulmões. A conclusão da pesquisa, portanto, é de que doenças pulmonares graves não estão ligadas à quantidade geral de bactérias, mas sim de uma menor diversidade dos organismos e da maior presença de um determinado grupo de micróbios.
Para o coordenador do estudo, David Cornfield, esses achados abrem portas para potenciais tratamentos à base de probióticos, que são bactérias ‘do bem’, como os lactobacilos, que ajudam a manter a flora intestinal saudável, auxiliando no equilíbrio entre as bactérias que habitam os intestinos. Segundo ele, o mesmo poderia ser feito nos pulmões. “Eles teriam um efeito similar quando são dados para manter a flora intestinal saudável. Eles seriam dados antes de os médicos precisarem entrar com antibióticos”, disse o pesquisador ao site de VEJA.

Opinião do especialista

Neiva Damaceno
Pneumologista responsável pelo laboratório de fibrose cística da Santa Casa, em São Paulo

"Esse artigo e é muito importante. Ele traz uma nova informação sobre a existência de um microbioma em indivíduos saudáveis e que difere do padrão encontrado nos pacientes com fibrose cística. Isso poderá ter implicações futuras para mudanças no tratamento da doença pulmonar.
A diferença entre pessoas saudáveis e com a doença está, portanto, na diversidade. Então, talvez a chave para o tratamento esteja em encontrar uma forma de reestabelecer o microbioma dos pulmões de pacientes com fibrose para que eles se assemelhem ao dos indivíduos sem a condição. Essa é a base de tratamentos contra problemas da flora intestinal."

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Doe de Coração completa 10 anos levando esperança de nova vida

Iniciativa contribui para a colocação do Ceará em segundo lugar no ranking dos estados que mais fazem transplante
Joana da Silva tem três anos e 11 meses. Há três anos, ela ganhou um novo coração e a esperança de um futuro, graças à solidariedade de uma família, que perdeu um menino de 11 anos, e à ação efetiva da Campanha Doe de Coração, da Fundação Edson Queiroz com apoio do Sistema Verdes Mares e parceria da Universidade de Fortaleza (Unifor). Hoje, Dia do Doador de Órgãos e Tecidos, a iniciativa comemora dez anos de existência e a contribuição decisiva para a colocação no Ceará em segundo lugar no ranking dos estados que mais fazem transplante no Brasil.

Joana da Silva, de três anos e 11 meses, recebeu um transplante de coração há três anos, o que mudou a vida dela e de sua mãe, Josicléia Foto: Alex Costa


Nascida em Tauá, no Sertão dos Inhamuns, Joana foi diagnosticada com cardiopatia congênita ainda com três meses de idade, o que obrigou a família a vir duas vezes na semana até Fortaleza, distante daquela cidade 377 quilômetros. A rotina foi essa por 11 meses, do seu nascimento até o transplante, que mudou a sua vida.

De acordo com a reitora da Universidade de Fortaleza (Unifor), Fátima Veras, a Campanha Doe de Coração chega a ser um programa. "Porque conscientiza e orienta a população, em especial, a menos esclarecida, através de meios de comunicação como o Diário do Nordeste, que chega ao Interior do Estado e da Televisão Verdes Mares, que tem amplo alcance", avalia.

Conforto
Para a reitora, o movimento da Fundação Edson Queiroz tem muita importância não só para quem recebe o órgão e uma nova condição de sobrevida, como Joana, mas para quem doa. "Além de diminuir o tempo de espera por um órgão, ainda beneficia a família que perde algum ente querido, que tem a oportunidade de fazer um ato de grande importância para o outro. Foi quebrado um tabu, já que, antes da Doe de Coração, várias pessoas ainda tinham preconceito e temiam ser doadoras", ressalta.

O empresário Edmar Montenegro sabe muito bem do conforto que ajudar alguém, com a doação de órgãos, pode proporcionar. Quando a filha, a empresária Marcela Montenegro, foi assassinada, em 2010, em uma tentativa de assalto, ele decidiu transformar a sua morte em vida para pessoas que esperavam por um órgão na lista de espera por um transplante.

"Eu já havia registrado antes na minha carteira de identidade que sou doador e pensei que, como a minha filha era jovem, não fumava e não bebia, os órgãos dela poderiam estar em bom estado e viáveis para salvar alguém. Esse ato solidário me aliviou um pouco da dor que senti quando perdi minha filha", conta.

Números
De acordo com a assessoria de imprensa da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), até ontem, 893 transplantes foram realizados no Estado neste ano. Essa quantidade só perde para os números de 2011, quando, até dezembro, foram feitos 1.295 procedimentos desse tipo.

Na fila de espera, hoje, 724 pessoas aguardam órgãos. A maior procura é por uma córnea, com 329 pacientes. Em segundo lugar, com 253 casos, estão os que precisam de um rim. Também estão nessa lista os que aguardam fígado, pulmão, coração, pâncreas e medula óssea. Este número é o menor da história. No ano passado, por exemplo, 1.200 pacientes esperavam um transplante.

Conscientização
Na opinião do chefe de Transplantes Cardíacos do Hospital Dr. Carlos Alberto Studart Gomes, João David Souza Neto, a Campanha Doe de Coração tem muita importância nessa redução histórica na fila de espera. "Se a população está mais consciente, as doações aumentam e a fila de espera diminui, e isso se deve às campanhas que informam sobre isso. As equipes também estão mais estruturadas e experientes", explica.

Em caso de morte encefálica, o coração é o órgão que exige mais urgência. "A maioria dos transplantes de coração são feitos com doadores de Fortaleza, porque o tempo máximo de espera é de quatro horas para que seja feito o procedimento", esclarece o médico.

FIQUE POR DENTRO
Cearense vira garota- propaganda
Com 12 anos e vivendo há oito com coração doado, a menina Nívia Maria Castro Alves é a cearense que irá estampar com sua história as campanhas de doação e transplantes de órgãos do Ministério da Saúde. Acompanhada da mãe, Francisca, ela foi a Brasília, em agosto, para ser produzida e fotografada para a campanha.

Nívia recebeu coração saudável em 2004, aos quatro anos, no Hospital de Messejana Dr. Carlos Alberto Studart Gomes, da Secretaria da Saúde do Estado. Ele está na relação dos 285 transplantes de coração realizados no Ceará desde 1998, quando foi implantada a Central de Transplantes do Ceará.

Nova Central é inaugurada hoje
As novas instalações serão no Bloco E da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa) e contam com 12 salas e sete médicos Foto: Viviane Pinheiro
No Dia Nacional do Doador de Órgãos e Tecidos, a Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa) aproveita para inaugurar a Central de Transplantes do Estado. As novas instalações estão no Bloco E da Sesa e contam com 12 salas e um número maior de médicos. Há sete anos, a equipe só contava com dois médicos e, agora, dispõe de sete. Outra novidade é o acréscimo de três aparelhos de eletroencefalograma, que diagnosticam a morte encefálica. Antes, só existia um equipamento.

Neste dia, considerado um dos mais expressivos para o calendário da saúde, ainda irá acontecer um aulão sobre órgãos e tecidos na sede da Sesa, às 9h de hoje, após a inauguração da nova Central de Transplantes. O encontro irá levar informações aos jovens e terá a participação de 50 estudantes da Escola Estadual de Ensino Profissionalizante Marvin, localizada no bairro Pirambu, e bolsistas do Núcleo de Iniciação Profissional Primeiros Passos.

Requisitos
A legislação brasileira de transplantes estabelece critérios para as doações de órgãos e tecidos. Para ser doador não é necessário deixar nada por escrito, mas é fundamental comunicar à família o desejo da doação.

Segundo o Registro Brasileiro de Transplantes (RBT), no primeiro semestre deste ano, o Ceará notificou 200 potenciais doadores. Foram realizadas 138 entrevistas familiares. A maioria das famílias disse sim à doação. Em 45 casos, houve recusa dos parentes.

Defensor será homenageado
O defensor público Régis Gonçalves Pinheiro irá receber, hoje, em Brasília, o prêmio anual do Ministério da Saúde "Destaque na Promoção da Doação de Órgãos e Tecidos no Brasil". Gonçalves desenvolveu um trabalho pioneiro no Brasil, através da assinatura de um termo de cooperação técnica entre a Secretaria de Saúde e a Defensoria Pública, para agilizar os transplantes que encontram barreiras burocráticas, como a obrigatoriedade da assinatura do pai e da mãe em caso de doador menor de idade.

Com essa iniciativa, a Defensoria passou a cuidar desses casos específicos, que antes não eram levados em consideração e nem eram procurados para a doação de órgãos e tecidos.

Depois do início dessas ações da Defensoria Pública, em setembro de 2011, 24 pessoas já foram transplantadas com órgãos de doadores que antes nem eram contabilizados. "Após a assinatura desse termo, nós estamos atuando de forma efetiva para agilizarmos os transplantes que antes encontravam entraves legais. No caso de um dos pais não poder comparecer para assinar, nós entramos em contato até por telefone e, caso não se saiba o paradeiro de um deles, entramos com uma ação judicial, tudo para que o órgão possa ser aproveitado", ressalta.

Além desse caso, também é preciso que a Defensoria Pública ajude no caso de o doador só ter o companheiro como parente mais próximo. "Se a pessoa não for casada, o defensor público vai até a residência da pessoa e pega o depoimento de três testemunhas para que seja comprovada a união estável", esclarece.

Trabalho
Por conta de a maioria dos casos ocorrerem no fim de semana ou à noite, a Defensoria Pública chega a realizar um trabalho de plantão. "Recentemente, conseguimos a autorização da mãe de um doador que morava no interior do Amazonas e que mandou o documento através de um fax da delegacia da cidade", relata o defensor público.

A experiência já é difundida em outros Estados. "No último congresso, divulgamos a nossa experiência e, em breve, outros Estados poderão adotar essa iniciativa", afirma Gonçalves.

De acordo com o defensor público, com a construção dos hospitais regionais do Cariri e de Sobral, a entidade poderá ampliar a ação também para essas regiões. "Ainda não temos uma data, mas queremos ampliar essa ação para o Cariri e Sobral em breve", anuncia.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Paciente é preparado para receber órgão

No pós-operatório e durante todo o processo, receptor e familiares recebem assistência psicológica

Antes de receber qualquer órgão, o paciente é preparado clínica e psicologicamente, medida fundamental para o sucesso de um transplante. Os hospitais que realizam esse tipo de cirurgia no Ceará possuem uma equipe multidisciplinar, composta por médico, enfermeira, nutricionista, assistente social e psicólogo, responsável por fazer todo o acompanhamento a quem vai ser transplantado.

Nas unidades do Ceará, como o Hospital de Messejana, uma equipe multidisciplinar, formada por médicos, enfermeira, nutricionista, assistente social e psicólogo, acompanha quem vai passar por transplante Foto: José Leomar

Aliás, antes mesmo de entrar na lista de espera por um órgão, o paciente já recebe apoio. Cabe ao médico, por exemplo, fornecer o diagnóstico e analisar a situação do doente. A enfermeira providencia os exames. A nutricionista cuida da alimentação. E a assistente social faz a avaliação familiar e socioeconômica. "Encaminhamos os pacientes para a Casa de Apoio, fazemos a visita domiciliar para verificar as condições da casa que vai receber o transplantado e orientamos a família para o tratamento", lista a assistente social do Hospital de Messejana, Marilza Pessoa.

No pós-operatório, pacientes e familiares recebem assistência psicológica. O medo é o principal sentimento de todos eles. Da morte, de não dar certo e da rejeição. Tudo começa com a angústia da espera por um órgão. A psicóloga do Hospital de Messejana, Márcia Gurgel, revela que a fantasia também faz parte do processo. "Eles acham que, ao receber um órgão de outra pessoa, haverá interferência na personalidade. Além disso, existe a preocupação quando o doador era fumante, por exemplo", descreve. Ela explica, no entanto, que são mitos que surgem quando não há a informação. Daí a necessidade de orientar sobre todas as fases de um transplante.

Para a psicóloga, receber um órgão é uma ressignificação da vida. "O mais importante de tudo é que eles adquirem novos valores. Alguns fazem as pazes com familiares. É um aprendizado", revela.

Segundo o presidente da Associação Cearense de Transplantados e Pacientes Hepáticos (Acephet), e também transplantado, José Wilter Ibiapina, a pessoa vive um impacto emocional muito grande. É uma mistura de agonia, medo, desinformação e ansiedade. Ele acredita que o acompanhamento da equipe multidisciplinar é de extrema importância nesse momento de fragilidade. "Isso tranquiliza o paciente. Quando soube que ia passar pela cirurgia de fígado, tive depressão, mas, com o tempo, a gente vai se inteirando da situação e as coisas vão melhorando", narra.

O Hospital de Messejana Dr. Carlos Alberto Studart Gomes, referência no Norte e Nordeste em transplante do coração, já realizou, neste ano, 23 cirurgias. A unidade também fez sete transplantes pulmonares, desde 2011. Hoje (26), a unidade promove diversas ações como parte da Campanha Nacional de Doações de Órgãos e Tecidos que, neste ano, tem como lema "Fazer o bem, faz bem. Doe órgãos".

Doe de Coração
Com o pedido "Doe de Coração", a campanha realizada pela Fundação Edson Queiroz, com apoio do Sistema Verdes Mares e parceria da Universidade de Fortaleza (Unifor), tem mobilizado muitas famílias a doarem órgãos em dez anos de atuação.

O movimento aniversaria em setembro, justamente quando se comemora o Dia Nacional da Doação de Órgãos. Neste momento, uma ampla campanha de comunicação é veiculada em meios variados, através de anúncios de jornal, inserções em TV e distribuição de folders, cartazes, adesivos e camisas.


LINA MOSCOSOREPÓRTER

terça-feira, 25 de setembro de 2012

IJF é o maior centro de captação do Estado

Até agosto deste ano, 86% dos corações transplantados no Ceará foram colhidos pela unidade
Somente neste ano, o Ceará realizou 880 transplantes. A maioria dos órgãos captados até o primeiro semestre foi no Instituto Doutor José Frota (IJF), que colheu 499 órgãos e tecidos. A unidade é considerada o maior centro de captação de órgãos do Estado.

Na Associação dos Transplantados Cardíacos do Ceará, Anderson Silva comemora a nova vida após a cirurgia. "Posso trabalhar, caminhar e estudar", diz Foto: JL Rosa


Até agosto, foram efetuados 21 transplantes de coração no Ceará. Desses, 86% foram captados no IJF. Além disso, o trabalho realizado pela Comissão Intra-hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (Cihdott) foi responsável pela captação de 100% dos pulmões e pâncreas, 87% dos rins, 86% das córneas e 59% dos fígados que foram transplantados no Estado.

Outras unidades hospitalares também contribuem para as captações no Ceará. Segundo a coordenadora da Central de Transplantes do Ceará, Eliana Barbosa, o Hospital Geral de Fortaleza (HGF) é responsável por 29% destas notificações, depois vem a Santa Casa de Sobral, com 16% e a Região do Cariri, com 2,3%. "Até o dia 13 de agosto, tivemos 257 notificações de possíveis doadores. Destes, 75 foram do HGF, e efetivados foram 19. Não podemos esquecer de outros hospitais, que também contribuem, mas em menor quantidade", completou.

Eliana Barbosa atribui o sucesso tanto ao trabalho da Cihdott com as famílias dos doadores quanto ao movimento Doe de Coração, promovido pela Fundação Edson Queiroz.

"Uma campanha contínua e intensa, com várias ações durante todo o ano, seja no rádio, na TV ou no jornal impresso. Ações como estas são únicas no País e fortalecem o trabalho de conscientização da população", declarou Eliana. De acordo com ela, antes mesmo de a Central de Transplantes existir, a Cihdott já fazia um trabalho junto às famílias, como a sensibilização para causa da responsabilidade social e esclarecendo dúvidas em relação à morte encefálica.

O baiano Anderson Santana Silva, 33 anos, é testemunha da solidariedade do povo cearense. Há três anos, ele veio morar no Ceará, em busca de tratamento para uma cardiopatia grave. Porém, a solução do problema era um transplante de coração.

"Passei um mês na fila, e logo consegui um coração novo, que me deu uma vida nova. Hoje, posso trabalhar, caminhar e estudar. Estou vivo porque alguém quis doar, e a Doe de Coração ensina às pessoas a amar a vida, e dá a possibilidade de alguém viver", disse Anderson.

A enfermeira integrante da Cihdott, Lisiane Paiva, explica que, há um ano, este trabalho tomou proporções ainda maiores. "Antes, fazíamos um trabalho que não era 24 horas e, hoje, ele é diuturno. Acolhemos as famílias no momento mais doloroso, que é o momento do luto, da perda, momento extremo da dor. E disponibilizamos a esta família a oportunidade de dar o consentimento para doação", acrescenta.

Mérito
A campanha Doe de Coração está em sua 10ª edição e vem contribuindo para fomentar a conscientização pela doação voluntária de órgãos no Ceará.

Para Eliana Barbosa, grande parte do mérito pelo quinto recorde consecutivo em transplantes no Ceará deve-se à campanha, considerada por ela a mais completa nacionalmente. Hoje, o Estado está em primeiro lugar no Brasil em cirurgias de fígado e em segundo de coração "Sempre falo que é um movimento que faz a diferença, atinge a todos os públicos, com linguagem e informações desmistificadoras sobre o processo da doação", afirma Eliana.

Ela informou que, em 2003, quando a campanha foi lançada, o Estado deu um salto significativo nos transplantes. Segundo a coordenadora, a variação foi de 41,8% em relação ao ano anterior, no caso, 2002.

"Nós vínhamos com aumentos tímidos, que oscilavam de um ano para o outro. Se em 2000 foram 272 transplantes, em 2001, caía para 202. Mas, em 2003, começou um processo crescente desses procedimentos. Em 2002, foram 296. No ano seguinte, fomos para 420 e, em seguida, para 559", explica.

II Semana de Doação de Órgãos é aberta em Sobral

A II Semana de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante se estenderá até o dia 29 deste mês, com diversas programações no Ceará FOTO: JÉSSYCA MARQUES

Sobral. A cidade iniciou, ontem, as comemorações da II Semana de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante, que irá até o dia 29 deste mês, com programação especial e tendo como público-alvo os profissionais e acadêmicos na área da saúde.

Na ocasião, estiveram presentes Cristiano Araújo Costa, médico de referência da Organização de Procura de Órgão (Opos) de Sobral, além da coordenadora da Central de Transplantes do Ceará, Eliana Barbosa, e do coordenador da Faculdade de Medicina da UFC, Vicente de Paulo Teixeira.

Durante toda a semana, a equipe da Opos de Sobral e participantes do Fórum Sobre Doação de Órgãos estarão presentes nas ruas da cidade com o intuito de conscientizar a população sobre a importância da doação.

Segundo o coordenador da Faculdade de Medicina da UFC, Vicente de Paulo Teixeira, Sobral, hoje, é referência em doação de órgãos, sendo a única cidade da região a realizar captação e transplantes de córneas, além de permanecer um ponto acima da média nacional de transplantes.

Ele ressaltou a importância da anuência expressa para doação. "Hoje, a família ainda é um dos maiores obstáculos para os doadores, não entendendo a existência da morte encefálica. Para eles, a morte é quando o coração para de bater".

Trabalho
A estudante de enfermagem Geovania Sousa de Albuquerque é bolsista da Opos e atua na organização da Semana. Ela explica que, em Sobral, há um trabalho, através da instituição, na busca e monitoramento de possíveis doadores. "Para ser apto à doação, o paciente deve apresentar morte encefálica, e o trabalho da Opos é manter o cadáver em condições normais de um corpo, mantendo algumas características de uma pessoa viva, como a pele quente", explica.

Neste ano, em Sobral, foram realizadas dez captações de múltiplos órgãos, 12 anucleações de córneas e 19 transplantes de córneas, segundo os dados cedidos pela Opos. "Sobral e o Ceará são referências no âmbito nacional de doação. Em alguns pontos, Sobral está acima da estatística do Brasil, e o Ceara está em segundo lugar em doações, perdendo apenas para Santa Catarina", lembra Geovania.

THAYS LAVOR
REPÓRTER

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Atividade física pode ajudar na prevenção de doenças metabólicas

Agência Fapesp
Pesquisa realizada na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP) desvendou parte dos mecanismos metabólicos pelos quais a prática de atividade física ajuda a prevenir problemas de saúde causados pela má alimentação, como diabetes e acúmulo de gordura no fígado.
Meta do estudo era verificar se a prática de atividade física de fato poderia prevenir doenças - Evelson de Freitas/AE
Evelson de Freitas/AE
Meta do estudo era verificar se a prática de atividade física de fato poderia prevenir doenças
O experimento foi feito com camundongos que receberam uma ração incrementada com chocolate, bolacha de maisena, amendoim e açúcar. A dieta, batizada de Cafeteria, tinha o objetivo de mimetizar os hábitos alimentares humanos, explicou a Fabiana de Sant'Anna Evangelista, coordenadora da pesquisa financiada pela FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa - Regular.
“Padronizamos a dieta em um estudo anterior e vimos que após seis semanas com essa alimentação os animais já desenvolviam um quadro de intolerância à glicose, resistência à insulina e obesidade”, contou a pesquisadora.
Embora o valor calórico da dieta de Cafeteria não seja muito diferente - 4,23 quilocalorias por grama (kcal/g) contra 3,78 kcal/g da ração normal - o teor de gordura salta de 4% para 18,74%. O valor proteico, por outro lado, cai de 22% na ração padrão para 15%. As fibras também são reduzidas de 6% para 3,24%. Já a porcentagem de carboidratos das duas dietas é parecida, em torno de 55%, mas aqueles presentes na Cafeteria têm maior índice glicêmico.
“Como essa dieta tem sabor agradável, desencadeia um comportamento alimentar compulsivo. Os animais passam a comer por prazer, como os humanos. Isso leva a uma ingestão calórica maior, aumento da adiposidade e da glicemia e maior resistência à ação da insulina”, disse a pesquisadora.
Para verificar se a prática de atividade física era de fato capaz de prevenir esse quadro, os animais foram submetidos a um programa de treinamento de dois meses, que incluía 1 hora uma de exercício físico aeróbio na esteira com intensidade moderada, cinco dias por semana.
Os camundongos foram divididos em três grupos. O primeiro, considerado o controle, recebeu a ração normal e permaneceu sedentário. O segundo recebeu a dieta de Cafeteria e também não praticou atividade física. O terceiro recebeu a dieta de Cafeteria e foi incluído no programa de treinamento físico.
Enquanto o aumento de peso no grupo controle foi de 13,3%, nos animais sedentários que receberam a dieta de Cafeteria foi de 21,3%. Já os animais que praticaram atividade física tiveram elevação de peso de 8,7% e não desenvolveram hiperglicemia, intolerância à glicose ou resistência à insulina. Além disso, tiveram um aumento bem mais discreto nos níveis de colesterol.
“O interessante foi ver o que aconteceu no tecido adiposo dos dois grupos que receberam a dieta de Cafeteria. Ficou evidente que o exercício físico evitou a hipertrofia das células adiposas e a consequente alteração da sinalização celular que contribui para regular o metabolismo energético”, afirmou Evangelista.
Sinais confusos. Nos animais sedentários, as células adiposas hipertrofiadas passaram a secretar mais substâncias pró-inflamatórias e menos adiponectina - proteína essencial para o bom funcionamento dos mecanismos responsáveis pela captação de glicose.
“Esse conjunto de alterações acaba levando à resistência à insulina. E é só uma questão de tempo para esse quadro evoluir para diabetes do tipo 2”, explicou Evangelista.
Os adipócitos hipertrofiados também passaram a produzir mais leptina, hormônio responsável por desencadear duas importantes respostas no organismo: inibição do apetite e estimulação do metabolismo energético.
“Mas quando a massa adiposa e a produção de leptina aumentam muito, o organismo se torna resistente à ação desse hormônio por perda de sensibilidade nos receptores e toda a sinalização de saciedade e gasto energético de repouso fica comprometida”, explicou.
Como nos animais que praticaram exercícios o tecido adiposo praticamente não aumentou, a leptina ficou estável e continuou desempenhando seu papel de controlar o apetite e estimular o metabolismo energético.
A análise do tecido adiposo mostrou ainda que os animais que praticaram atividade física tinham concentrações maiores da enzima citrato sintase, essencial para que as moléculas de gordura sejam oxidadas para o fornecimento de energia. “A produção dessa enzima é estimulada pela atividade mitocondrial, que aumenta com os exercícios”, disse Evangelista.
O treinamento, portanto, não apenas aumentou o consumo de energia no tecido muscular esquelético, como já era esperado, como também o metabolismo energético no próprio tecido adiposo.
Balanço energético. De acordo com a pesquisadora, os animais sedentários alimentados com a dieta de Cafeteria passaram a produzir em menor quantidade uma proteína chamada AMPK, fundamental para o balanço entre a atividade lipolítica - quebra de gordura para consumo - e lipogênica - armazenamento de gordura no tecido adiposo.
Os pesquisadores verificaram que a dieta de Cafeteria induziu nos dois grupos de camundongos o aumento da atividade lipolítica, ou seja, mais moléculas de gordura estavam sendo quebradas e jogadas na corrente sanguínea para serem transformadas em energia.
Mas como os organismos sedentários não têm maquinário adaptado para oxidar esses ácidos graxos e usá-los como fonte de energia, os lipídeos acabam indo para o fígado, onde podem se acumular e causar um quadro de esteatose hepática. Uma parte da gordura volta para o tecido adiposo e é reestocada.
“Embora os dados na literatura científica sejam contraditórios, a redução da atividade da AMPK é frequentemente observada em diabéticos do tipo 2 e obesos, e está associada à redução da capacidade oxidativa e aumento da lipogênese”, disse Evangelista.
Já o grupo treinado alimentado com dieta de Cafeteria apresentou aumento significativo da AMPK, contou a pesquisadora, e a repercussão observada foi manutenção da lipólise aumentada, melhora na capacidade oxidativa e menor lipogênese.
A pesquisa orientada por Evangelista deu origem ao mestrado de Talita Sayuri Higa, realizado na Escola de Educação Física e Esporte da USP. Os dados preliminares foram apresentados na 27ª Reunião Anual da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (FeSBE), realizada em Águas de Lindoia no mês de agosto, onde o trabalho recebeu menção honrosa.
“O próximo passo agora é entender melhor o impacto dos exercícios no metabolismo do tecido muscular esquelético para desvendar a cooperação entre tecido adiposo e músculo esquelético para a prevenção de doenças metabólicas”, contou Evangelista.

domingo, 23 de setembro de 2012

Saúde receberá mais de 6 milhões de remédios para tratar Alzheimer

Agência Brasil
Até o fim da próxima semana, o Instituto Vital Brazil, vinculado à Secretaria Estadual de Saúde do estado, deve entregar ao Ministério da Saúde mais de 6 milhões de cápsulas de rivastigmina, medicamento usado no tratamento da doença de Alzheimer. O anúncio foi feito nesta sexta, 21, Dia Mundial do Alzheimeir.
A leitura é apontada como uma das grandes armas para retardar os avanços do Alzheimer - Divulgação
Divulgação
A leitura é apontada como uma das grandes armas para retardar os avanços do Alzheimer
Os remédios foram encomendados pelo Ministério da Saúde, em parceria com setores públicos e privados, para estimular a produção deles no Brasil e fortalecer o campo da saúde. O Instituto Vital Brazil será o único laboratório oficial responsável pela produção do medicamento. Segundo a assessoria do Vital Brazil, o Ministério da Saúde repassou ao instituto R$ 10 milhões em 2011 e mais R$ 70 milhões neste ano para fabricação do remédio. O governo estadual entrou com R$ 50 milhões.
Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) necessita de cerca de 25 milhões de cápsulas anuais para 6 mil pacientes cadastrados. Desde junho, o Ministério da Saúde pode atender aos usuários do SUS com menores custos, sem a necessidade de comprar o medicamento de empresas particulares. A distribuição ocorre gratuitamente nos polos de atendimento. Em junho, o instituto já havia entregado 6 milhões de cápsulas.
O diretor industrial do Instituto Vital Brazil, Jorge Luiz Coelho Mattos, explicou que a rivastigmina está sendo produzida em quatro concentrações: 1,5 miligrama (mg), 3mg, 4,5mg e 6mg, e será distribuída para 1,2 milhão de pessoas em todo o País. "Todo o Brasil recebe o medicamento. Tem estado que recebe mais, tem estado que recebe menos, dependendo da sua necessidade.”
Ele exemplificou com o Acre e o Rio de Janeiro. No Acre, serão distribuídas 1.440 cápsulas na concentração de 1,5mg e 900, na concentração de 4,5mg. O Rio de Janeiro receberá 460 mil cápsulas na concentração de 1,5mg, 66 mil na de 3mg; 51.600 na de 4,5mg e 90.180 na de 6 mg.
O Alzheimer é uma doença degenerativa ainda incurável, caracterizada pela perturbação de múltiplas funções cognitivas, como memória, atenção, aprendizado, cálculo e linguagem, além de acarretar no comprometimento de outras atividades. Os sintomas são acompanhados por deterioração do controle emocional, do comportamento social e da motivação.
O neurologista Rafel Zandonadi Brandão, da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, disse que, por ser uma doença grave, o Alzheimer pode tornar o paciente completamente dependente. De acordo com o médico, é comum a família dos doentes de Alzheimer abdicar de sua vida social para cuidar do paciente. "Imagina o que é a pessoa ter o pai como figura máxima, que ensinou tudo na vida e que, em determinado momento, passa a usar fraldas, que ela é obrigada a trocar, porque ele [o paciente] não tem controle das funções fisiológicas."
Brandão destacou o alto custo com medicamentos, nos quais, segundo ele, mesmo com subsídios de laboratórios, o paciente não gasta menos de R$ 800. "São remédios caros. O tratamento das complicações que o Alzheimer pode trazer, como pressão alta e diabetes, também é caro."
Situado em Niterói, o Instituto Vital Brazil é uma empresa de ciência e tecnologia do governo do Rio de Janeiro. É um dos 21 laboratórios oficiais brasileiros e um dos quatro fornecedores de soros contra o veneno de animais peçonhentos ao Ministério da Saúde.

sábado, 22 de setembro de 2012

Aumente o poder do cérebro com exercícios


Pesquisas revelam que a atividade física melhora concentração, memória, aprendizagem e estimula o nascimento de neurônios

Mônica Tarantino e Monique Oliveira
Conheça, em vídeo, histórias de crianças que ficaram mais espertas depois do fitness :
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Não é segredo que a atividade física produz inúmeros benefícios para o corpo, mas agora a ciência reuniu provas suficientes para adicionar um novo e poderoso efeito à sua lista de ações positivas: o aprimoramento do cérebro. As mais recentes descobertas indicam que a prática regular de exercícios ajuda a pensar com mais clareza, melhora a memória e proporciona um grande ganho na aprendizagem. Novos estudos sugerem que as mudanças podem ser ainda maiores, alterando a própria estrutura do órgão ao incentivar o nascimento e o desenvolvimento de neurônios.
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 Essas conclusões são de uma ampla revisão de pesquisas que acaba de ser divulgada nos Estados Unidos por uma das mais renomadas cientistas no campo da neurogênese, Henriette van Praag (Ph.D), do Laboratório de Neurociências do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos. Henriette e seus colaboradores afirmam que há maior produção de neurônios e um aumento das substâncias que atuam na nutrição e desenvolvimento dessas células em animais submetidos a exercícios regulares. O trabalho foi publicado pela revista “Current Topics in Behavioral Neurosciences”. A cientista detectou ainda que o exercício aumenta a capacidade do cérebro de se adaptar e criar novas conexões, a chamada neuroplasticidade. Em estudos com ressonância magnética feitos em indivíduos foi possível também observar que quem se exercita regularmente produz uma intensa atividade no hipocampo. Essa região cerebral está relacionada à memória e à aprendizagem, e lá estão armazenadas as células-tronco que darão origem aos novos neurônios.
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 As relações entre exercícios e cérebro estão no centro das atenções da neurociência por suas implicações imediatas e futuras na vida de milhares de pessoas. Há avanços em diversas frentes. Os cientistas comprovaram, por exemplo, que as vantagens começam com a elevação dos níveis de oxigenação e do fluxo sanguíneo no corpo como um todo. “Por si só essa mudança já melhora o funcionamento da memória e da concentração e previne o acidente vascular cerebral”, explica Gisele Sampaio Silva, gerente-médica do programa integrado de neurologia do Hospital Albert Einstein e professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
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 O incremento da circulação também estimula a comunicação mais eficiente entre os neurônios. A atividade física aumenta ainda a produção e a liberação de neurotransmissores. “Esses hormônios fabricados pelos neurônios atuam nas sinapses, a comunicação entre essas células”, explica Ricardo Arida, professor e pesquisador do Departamento de Fisiologia da Unifesp. Esses compostos participam da regulação de funções como memória, aprendizagem, emoções, sede, sono, fome, bem-estar, ansiedade e humor. O resultado é um reequilíbrio das quantidades dessas substâncias no cérebro, compensando déficits ou excessos, o que melhora o desempenho global do órgão.
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 Numerosos estudos estão focados na compreensão dos efeitos do exercício na proteína BDNF, uma espécie de tônico do surgimento, crescimento e especialização das células nervosas. Um trabalho ­coordenado pelo neurofisiologista Arida, da Unifesp, mediu a concentração dessa proteína no sangue de atletas internacionais, de nacionais e de pessoas sedentárias. As conclusões, publicadas na revista “Neuroscience Bulletin”, revelaram que os atletas de mais alto nível tinham quantidades maiores do composto circulando no sangue. Uma das prerrogativas da proteína é melhorar a troca de mensagens entre os neurônios.
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Crianças também podem vir a se beneficiar intelectualmente da atividade física, conforme sugerem dados colhidos pela Unifesp. Os pesquisadores analisaram as respostas de animais à ginástica logo após o desmame. “Nossos achados sugerem que fazer exercícios desde cedo ajuda a construir uma reserva neural que protege, inclusive, contra desordens cerebrais”, afirma Arida. Na Universidade de Darthmouth, em New Hampshire, o grupo do cientista David Bucci detectou diferenças nos resultados de quem começa a se exercitar na infância, na juventude ou mais tarde. “O exercício na fase de desenvolvimento do cérebro favorece a formação de uma rede neuronal mais densa e oferece mais apoio para funções como memória e aprendizagem”, disse o pesquisador à ISTOÉ.
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Nos Estados Unidos, essas informações estão se traduzindo em mudanças no currículo das escolas. Um dos responsáveis por essa transformação é o neuropsiquiatra John Ratey, da Universidade de Harvard. Ele percorre o país para promover a adoção de programas de fitness voltados para o aprendizado. O pesquisador partiu nessa cruzada convencido por suas pesquisas e por casos como o dos alunos da Naperville Central High School, situada em um distrito de Chicago. Ali, os estudantes se reúnem na escola todas as manhãs antes das aulas, colocam seus frequencímetros (relógios que calculam a frequência cardíaca) e saem correndo em uma pista. “A ideia principal é que os jovens consigam praticar atividades como a corrida mantendo uma taxa entre 65% e 80% de sua frequência cardíaca máxima, mantendo-a estável nessa faixa por 20 a 40 minutos três vezes por semana”, disse Ratey à ISTOÉ. Ele registrou essa experiência e outros estudos sobre a relação entre cérebro e exercício no livro “Corpo Ativo, Mente Desperta” (Ed. Objetiva), lançado recentemente no Brasil. No ano passado, o pesquisador ofereceu um programa de apoio com atividades físicas a 24 jovens do Ensino Médio com sérios problemas disciplinares, baixa frequência às aulas e dificuldades de aprendizagem da escola Barrie Central. “Em seis meses a melhora foi notável”, disse o neuropsiquiatra. Em breve Ratey irá à Coreia do Sul a convite do Ministério da Educação para falar sobre os efeitos do exercício no cérebro. Diante dessa nova abordagem da atividade física, escolas brasileiras já estão começando a rever a pauta das suas aulas de ginástica. No Colégio Ítaca, na zona oeste de São Paulo, o currículo de educação física foi reelaborado sob esse prisma. “Além de contribuir em várias áreas do conhecimento, o exercício é uma peça fundamental para a concentração”, diz Elisabete Vecchiato, assessora cultural do colégio.
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Muitos estudos ainda são necessários para determinar, por exemplo, como surgem e por quanto tempo persistem as alterações induzidas pela ginástica. “Os primeiros efeitos podem ser sentidos após uma semana”, diz Arida, da Unifesp. A recomendação é que se façam três sessões de 20 a 30 minutos de exercícios aeróbios por semana, mas duas já produzem algum efeito. O entusiasmado pesquisador Ratey, de Harvard, tem sugerido aos professores de educação física que ofereçam sessões de ginástica duas vezes por dia, uma antes do início das aulas, e outra no final, para produzir dois momentos de pico na produção das substâncias que melhoram o desempenho. “Minha convicção é que o foco no condicionamento físico tem um papel essencial nas realizações acadêmicas dos alunos”, afirma ele.
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Por hora, é consenso que a interrupção da atividade física cessa suas benesses. A avaliação de resultados de longo prazo, porém, está levando os especialistas a considerar a possibilidade de a prática persistente gerar mudanças estruturais no órgão. Pesquisa da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, mostrou um aumento do tamanho do hipocampo (associado a aprendizagem e memória) em adultos saudáveis após um ano de atividade física moderada, levando a um aprimoramento da memória. “Os resultados desse estudo são interessantes porque mostram que exercícios feitos por adultos mais velhos e sedentários, mesmo que em pouca quantidade, podem levar a uma substancial melhora da saúde cerebral”, disse Art Kramer, um dos autores do trabalho realizado em conjunto com outras universidades.
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Buscam-se também explicações para as respostas diferentes que o cérebro dá quando o corpo se exercita. A equipe do professor David B­uc­c­i revelou recentemente a presença de um gene que parece regular a intensidade da reação do órgão. A descoberta pode ser especialmente útil para ajudar a selecionar, no futuro, quem pode lucrar mais ao associar a atividade física ao tratamento de condições como depressão, a ansiedade e o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDHA). Essas aplicações estão sendo estudadas em centros como o Instituto Karolinska, na Suécia. “O exercício não só é eficiente no combate à depressão, como potencializa os efeitos dos medicamentos”, diz a neurocientista Astrid Bjornebekk. Ambos contribuem para a formação de novos neurônios em áreas no cérebro importantes para a memória e a capacidade de aprender e podem ser usados de maneira combinada. Em São Paulo, na Unifesp, o pesquisador Arida concluiu que a ginástica pode ajudar a reduzir pela metade as crises de epilepsia, doença tratada com medicamentos potentes e nem sempre eficazes. À luz dessas descobertas, o sedentarismo torna-se um fator de risco ainda mais perigoso.
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INVESTIGAÇÃO
O pesquisador Ricardo Arida, da Unifesp, estuda o impacto da 
atividade física sobre o cérebro. Um de seus trabalhos 
mostrou que exercícios podem reduzir crises de epilepsia 

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Foto: kelsen Fernandes
Fotos: Marco Ankosqui; Rogério Cassimiro - ag. istoé
Fotos: João Castellano e kelsen Fernandes/ag. istoé

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Descoberto gene que intervém nos cânceres de ovário mais agressivos

Efe
Cientistas de uma universidade britânica identificaram um gene que intervém em tumores de ovário muito agressivos e que poderia ser utilizado para prever se as pacientes responderão adequadamente à quimioterapia.
No experimento, especialistas bloquearam o gene nas células tumorais resistentes ao tratamento - BBC
BBC
No experimento, especialistas bloquearam o gene nas células tumorais resistentes ao tratamento

A descoberta, publicada no último número da revista médica "British Journal of Cancer", é fruto do trabalho de um grupo de pesquisadores da Universidade de Dundee (Escócia) liderados pela doutora Gillian Smith.

Os pesquisadores descobriram que esse gene, chamado FGF1, se encontra em grandes quantidades nas células tumorais de pacientes resistentes aos tratamentos com quimioterapia combinada com platina.

A equipe de Gillian considera que seria possível analisar os níveis deste gene para determinar se uma mulher responderá adequadamente a esses fármacos, antes de adminsitrá-los.

Em seu estudo, os pesquisadores analisaram uma grande variedade de genes que pareciam intervir no câncer de ovário de 187 pacientes e descobriram que o FGF1 desempenhava o papel principal na hora de determinar a evolução do tumor.

Os cientistas descobriram também que a atividade desse gene aumenta ainda mais quando as células do tumor se tornam resistentes à quimioterapia.

Em seu experimento, os especialistas bloquearam o gene nas células tumorais resistentes ao tratamento, que alcançaram vencer para torná-las sensíveis de novo à quimioterapia.

"Nosso estudo abre caminho para o desenvolvimento de novos testes que determinem se a quimioterapia funcionará nestes casos e sugere que os fármacos dirigidos ao gene FGF1 poderiam ser efetivos para um grupo de mulheres com um tipo de câncer de ovário que atualmente é muito difícil de tratar", explicou Gillian.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Hospital faz primeiros transplantes de útero de mãe para filha


Efe
Cirurgiões falam em coletiva de imprensa
Cirurgiões falam em coletiva de imprensa - Efe Uma equipe de médicos da Universidade de Gotemburgo e do Hospital Universitário Sahlgrenska, na Suécia, realizaram no fim de semana passado os dois primeiros transplantes de útero de mãe para filha no mundo, anunciou nesta terça-feira, 18, esta instituição acadêmica.

Trata-se de duas mulheres na faixa dos 30 anos que receberam os úteros de suas respectivas mães: uma teve o órgão extirpado após receber um tratamento contra o câncer de colo uterino e a outra tinha nascido sem útero.

Em agosto do ano passado uma equipe de médicos turcos em Antalaya realizou com sucesso o primeiro transplante destas características em uma jovem de 21 anos, mas a doação foi recebido de uma paciente falecida.

"Mais de dez cirurgiões participaram das operações, que foram realizadas sem complicações. As mulheres que receberam novos úteros estão bem, embora cansadas", assinalou em comunicado Mats Brännström, professor de obstetrícia e ginecologia da Universidade de Gotemburgo (sudoeste da Suécia) e líder da equipe.

Os transplantes são o resultado de um amplo trabalho de pesquisa iniciado em 1999 pelo próprio Brännström na Universidade de Gotemburgo.

O projeto resultou na publicação até agora de cerca de 40 artigos científicos e envolve 20 cientistas, médicos e especialistas.

Antes das operações as duas mulheres foram submetidas à fecundação in vitro e os embriões foram congelados.

Agora deverão esperar um ano para que esses embriões sejam implantados e tentar portanto ficar grávidas, explicou Brännström em um vídeo divulgado pela Universidade de Gotemburgo.

"Há boas possibilidades que possam ter filhos", assinalou o especialista sueco.

Ao redor de 15% das mulheres são estéreis, e entre 0,5% e 1% dos casos obedece a deficiências no útero, segundo dados desta universidade sueca.

Na Suécia há umas 2.000 mulheres de entre 20 e 40 anos que são candidatas potenciais a receber um transplante de útero.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Novo teste de papel mede danos ao fígado

Dispositivo é capaz de medir saúde do órgão a partir de uma gota de sangue

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Em contato com o sangue, o papel muda de cor. De acordo com a nova coloração, médicos poderão medir a presença de enzimas que indicam danos ao fígado (Diagnostics For All/Divulgação)
Um novo dispositivo de papel desenvolvido por pesquisadores americanos é capaz de monitorar os danos ao fígado causado por doenças e medicamentos. Para isso, ele só precisa de uma gota de sangue do paciente. A pesquisa foi publicada nesta quarta-feira na revista Science Translational Medicine.

Opinião do especialista

Maria Lucia Gomes Ferraz
Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Hepatologia e professora de gastroenterologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)

“Esses exames das enzimas hepáticas são muito comuns e simples de serem feitos. Eles servem para a triagem de doenças no fígado. Níveis elevados dessas enzimas significam que o órgão está doente, seja por causa do uso desses remédios, seja por causa da bebida ou obesidade. No Brasil, o teste está disponível a pacientes do sistema público de saúde.
“A novidade apresentada pelo estudo é essa forma rápida de fazer a dosagem das enzimas. Normalmente o paciente tem de ir ao laboratório, colher o sangue e esperar pelo resultado. O que esse novo método muda é a praticidade e a velocidade do teste.
"É importante destacar que esse exame não é como o teste de gravidez: ele não deve ser feito pelo próprio paciente. Ele tem de contar com a supervisão de um médico ou de enfermeiro, para saber a quantidade correta de sangue a ser medida e analisar corretamente o resultado."
Os remédios usados por pacientes portadores de HIV ou tuberculose podem causar alguns danos ao fígado. Em países desenvolvidos, esses pacientes passam por testes todos os meses para medir a toxicidade no órgão. Normalmente, seu sangue é retirado e enviado para análise em laboratórios, onde é medida a quantidade de duas enzimas que podem indicar dano ao fígado: a aspartato aminotransferase (AST) e a alanina aminotransferase (ALT). Nos países pobres, esses testes costumam ser caros, e os pacientes raramente têm acesso ao diagnóstico. Desse modo, eles não acompanham a saúde do órgão e não sabem se precisam de tratamentos adicionais.
O aparelho portátil de baixo custo desenvolvido pelos pesquisadores do Centro Médico Beth Israel Deaconess (BIDMC, na sigla em inglês), que pertence à Universidade de Harvard, pode ser um importante substituto para o teste. Do tamanho de um selo dos correios e custando alguns centavos de dólar, ele pode dar o resultado em 15 minutos. "Nosso aparelho pode ter impacto significativas ao redor do mundo, particularmente em nações em desenvolvimento, onde os testes de sangue podem ser muito caros e os resultados podem demorar semanas", disse Nira Pollock, médica da BIDMC.
Cores — Para usar o dispositivo, o paciente precisa aplicar uma gota de sangue no pedaço de papel. A presença das enzimas AST e ALT leva a mudanças nos níveis de corantes presentes em zonas específicas do papel. Ao medir a alteração das cores, os médicos conseguem saber os níveis de concentração de cada enzima. Uma mudança de cor do azul para o rosa, por exemplo, pode representar níveis elevados de AST, indicando danos ao fígado.
Para medir a eficácia de sua invenção, os pesquisadores realizaram o teste em 223 amostras de sangue. Como resultado, descobriram que ele mediu de modo correto a quantidade de enzimas em mais de 90% dos casos. Segundo os cientistas, o dispositivo poderá ser usado como uma espécie de triagem para os testes mais completos — e caros. Os pacientes só precisarão enviar seu sangue para análise em laboratórios quando as cores assinaladas no pedaço de papel indicarem níveis elevados das enzimas.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Enxaqueca aumenta problemas psicológicos em crianças

Levantamento conduzido por pesquisador brasileiro relaciona frequência de crises de enxaqueca com sintomas depressivos e de ansiedade

Estima-se que 90% das crianças brasileiras que têm enxaqueca não foram diagnosticadas
Estima-se que 90% das crianças brasileiras que têm enxaqueca não foram diagnosticadas (Thinkstock)
Crianças que têm enxaqueca são mais propensas a desenvolver problemas comportamentais, como sintomas de ansiedade, depressão e dificuldade de atenção. Quanto mais frequentes forem as dores de cabeça, maiores serão esses problemas. De acordo com a pesquisa, publicada no periódico médico Cephalagia, aproximadamente 1,7 milhão de crianças e adolescentes no Brasil têm 10 ou mais dores de cabeça por mês.
O estudo foi conduzido por Marco Arruda, diretor do Instituto Glia, em Ribeirão Preto, e por Marcelo Bigal, da Faculdade de Medicina Albert Einstein, em Nova York. Para o levantamento, foram avaliadas 1.856 crianças brasileiras. Todas tinham idades entre cinco e 11 anos. De acordo com os autores, esse é o primeiro grande estudo do tipo a procurar uma relação entre os problemas psicológicos e a enxaqueca e a dor de cabeça tensional com uma base geral — e não apenas em crianças que procuravam atendimento médico. Informações sobre a frequência das crises também foram incorporadas ao levantamento.
A enxaqueca se caracteriza por uma dor que, normalmente, afeta apenas um lado da cabeça. A dor costuma piorar com o esforço físico, luz, ruídos e odores, e pode ser de moderada a intensa. A enxaqueca pode ainda estar associada a náuseas e vômitos. Já dor de cabeça tensional provoca uma dor que vai de leve a moderada. Sua causa pode estar relacionado a situações de estresse, mas seu papel ainda não foi completamente compreendido pela medicina.

No estudo, foram usados questionários internacionais para dor de cabeça e o Child Behavior Checklist (CBCL), para avaliar os sintomas emocionais. Em crianças que tinham tanto enxaqueca (23%) como dor de cabeça tensional (29%), as dores de cabeça mais frequentes estavam relacionadas com um aumento anormal na pontuação da escala que mede o comportamento. Os tipos de comportamentos mais vistos eram aqueles caracterizados como internalizados — direcionados para si mesmo.
Enquanto menos de um quinto das crianças do grupo de controle (19% da amostra) tinha problemas com comportamentos internalizados, mais da metade daqueles com enxaqueca tinham o problema. Já os comportamentos externalizados, como se tornar mais agressivo ou desrespeitar leis, não se mostraram diferentes nos dois grupos. "Como previamente relatado, descobrimos que a enxaqueca estava associada com problemas sociais", diz Arruda.
Pesquisas anteriores já haviam apontado que crianças com enxaquecas eram mais propícias a ter outros problemas psicológicos ou fisiológicos – como ansiedade, depressão e problemas de atenção e hiperatividade. Até agora, no entanto, poucos estudos tinham examinado a relação desses mesmos problemas com a dor de cabeça tensional em crianças. Incluir a frequência da dor de cabeça nessa análise também era uma peça importante do quebra-cabeça que estava faltando.

"Quanto maior a frequência, maiores as alterações psicológicas" 

Marco Arruda
neurologista e coordenador do estudo e diretor do Instituto Glia, em Ribeirão Preto

Qual a importância da pesquisa?
A associação entre depressão e ansiedade e enxaqueca já era observada em crianças, mas não se sabia quais fatores que interferiam. Não se sabia se esses sintomas eram uma realidade para qualquer criança, tivesse ela baixa ou alta frequência de enxaqueca. Nós conseguimos descobrir que, quanto maior a frequência, maiores serão as alterações psicológicas. Crianças com enxaqueca por mais de 10 dias por mês têm, além de sintomas de depressão e ansiedade, têm mais dificuldades em prestar atenção, menos habilidades sociais, mal estares e dores pelo corpo.
Qual a relação entre a enxaqueca e os sintomas psicológicos?
Não sabemos. A hipótese mais provável, que surge a partir de estudos feitos em adultos, é de que os mesmos neurotransmissores estão relacionados com enxaqueca e depressão e ansiedade. Por isso, acreditamos que esses dois fenômenos tenham as mesmas bases neuroquímicas. Mas não podemos dizer se existe uma relação de causa e efeito.
A enxaqueca infantil é bem diagnosticada no Brasil?
Mais de 90% dos casos nunca foram diagnosticados e perto dos 80% nunca foram tratados. Geralmente, somente as crises são tratadas. Isso funciona na hora, mas não resolve o problema. O ideal seria fazer o tratamento preventivo. A falta de diagnóstico é mais crítica nas classes mais baixas.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Pâncreas mais gorduroso torna latinos mais vulneráveis ao diabetes tipo 2

Estudo realizado em Los Angeles afirmou que latinos são mais vulneráveis do que os brancos e os negros a armazenar gordura no pâncreas

AFP
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Os latinos são mais vulneráveis do que os brancos e os negros a armazenar gordura no pâncreas e, assim, a produzir menos insulina, o que os torna mais propensos a sofrer de diabetes tipo 2, alertou um estudo realizado em Los Angeles e publicado esta terça-feira. "A prevenção do diabetes é o nosso objetivo", afirmou Richard Bergman, diretor do Instituto do Coração Cedars-Sinai, em Los Angeles, e principal autor do estudo, publicado na revista especializada Diabetes Care.
"Nem todos os que têm sobrepeso ou são obesos desenvolvem diabetes, nem todos têm resistência à insulina. Se pudermos determinar quem é mais propenso a desenvolver diabetes e porque, podemos avançar na prevenção", acrescentou. O estudo comparou 100 indivíduos brancos, negros e latinos por volta dos 39 anos, de ambos os sexos, com um sobrepeso similar e que compartilham os mesmos sintomas pré-diabéticos.
Os pesquisadores descobriram que os latinos armazenam mais gordura no pâncreas, que se torna, então, menos capaz de produzir insulina suficiente, o que por sua vez explica porque têm mais risco de sofrer de diabetes tipo 2, segundo o estudo realizado pelo Cedars-Sinai e pelo Instituto de Pesquisas de Diabetes e Obesidade. Se não for controlado, o diabetes tipo 2 pode provocar graves problemas médicos, inclusive doenças do coração, problemas renais, amputações e cegueira. Em geral, é associado ao sobrepeso e causado porque a insulina não consegue metabolizar o nível de açúcar no sangue.
 
"Alguns indivíduos podem ser resistentes à insulina, mas não desenvolvem diabetes porque o pâncreas consegue compensar secretando mais hormônio. Em outros, o pâncreas não consegue compensar a insulina, razão pela qual têm risco maior de diabetes tipo 2", explicou o Cedars-Sinai em um comunicado. O diabetes, sétima causa de morte nos Estados Unidos, afeta a 25,8 milhões de pessoas no país e calcula-se que 79 milhões de americanos sejam pré-diabéticos, segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças.

domingo, 16 de setembro de 2012

Os filhos do preconceito


Durante sete décadas, crianças sadias, nascidas de pais com hanseníase, foram segregadas pelo Estado em instituições fechadas, onde faltava carinho e sobravam maus-tratos. Agora elas lutam pelo direito de reparação do governo brasileiro

Paula Rocha

Conheça, em vídeo, a história de Maria Teresa da Silva Oliveira :

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REENCONTRO 
Adulta, Teresa (ao centro) descobriu que tinha duas irmãs, Marisa 
(à esq.) e Elza. Seu caso motivou a criação de um banco genético
Aos 6 anos de idade, a assistente social Maria Teresa da Silva Oliveira, hoje com 56, sofria com um pesadelo recorrente. Ela se via como espectadora em uma sala de parto de um hospital, onde uma mulher gritava de dor enquanto pessoas de branco, unidas por cordas, se aglomeravam ao redor dela. A cena, que na época não passava de um tormento noturno para a pequena Teresa, hoje poderia ser interpretada como a única memória que ela guarda da mãe biológica. Separada da progenitora logo após nascer, ela foi adotada aos quatro meses de vida por outra família, na qual cresceu sem saber sua origem. Apesar da consciência de que era filha adotiva, há apenas oito anos, após confrontar o irmão de criação, ela pôde finalmente conhecer parte de sua história. Batizada originalmente como Maura Regina, Teresa é filha de uma portadora de hanseníase (doença também conhecida como lepra) que vivia internada em um hospital-colônia no interior do Estado de São Paulo. Para sua surpresa, sua trajetória se assemelha à de milhares de brasileiros que, entre 1920 e 1980, foram brutalmente retirados dos braços de suas mães doentes e enviados para internatos onde faltavam comida e afeto, mas sobravam maus-tratos. Agora, essa população que cresceu marginalizada, sofrendo com a desestruturação familiar e a falta de oportunidades, busca uma reparação do governo brasileiro.

Em junho, a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário Nunes, recebeu em seu gabinete, em Brasília, representantes do Morhan (Movimento pela Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase), instituição que luta pelos direitos dos ex-pacientes e dos filhos de portadores de hanseníase. Nessa reunião foi criado um grupo de trabalho na Secretaria de Direitos Humanos para reunir dados sobre a questão dos “filhos separados” (termo usado para designar os filhos de ex-pacientes hansenianos) no Brasil, incluindo um levantamento sobre quantos seriam (estimativas variam entre 25 mil e 40 mil pessoas) e estudos sobre a necessidade de o Estado propor uma reparação a eles. Desde 2007, ex-pacientes que ficaram internados em hospitais-colônia recebem uma pensão vitalícia do governo no valor de dois salários mínimos, o que poderia ser estendido também a seus filhos. “Há uma responsabilidade clara do Estado nessa questão, pois a maioria dos filhos que foram segregados perdeu totalmente os vínculos com sua família biológica e todos tiveram seus direitos humanos violados”, disse a ministra Maria do Rosário à ISTOÉ. “Porém, não podemos pensar exclusivamente em uma indenização de caráter financeiro. É preciso estudar outras formas de promover uma reinserção dessas pessoas na sociedade e possibilitar o resgate dessa história, infelizmente ainda pouco conhecida.” Segundo o coordenador nacional do Morhan, Arthur Custódio, a entidade não quer discutir o sofrimento vivenciado pelos filhos de ex-pacientes com hanseníase. “Mas sim a alienação parental que foi praticada pelo Estado brasileiro ao longo de tanto tempo”, disse.
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Durante sete décadas, o Brasil foi palco de uma verdadeira caça às bruxas contra os portadores de hanseníase, doença infectocontagiosa caracterizada por manchas na pele, danos ao sistema neurológico e perda de cartilagens, especialmente orelhas e nariz. Acossados pela “polícia sanitária” da época, aqueles que tinham a enfermidade, ou eram suspeitos de estar infectados, eram retirados compulsoriamente de suas casas e internados à força em leprosários, hospitais que funcionavam como uma cidade à parte. O sistema de enfrentamento da doença, adotado por Getúlio Vargas (1882-1954) tendo como modelo a política higienista do italiano Benito Mussolini (1883-1945), se baseava em três pilares: o dispensário, para aqueles que manifestavam sinais da doença; o leprosário, para os pacientes infectados; e os preventórios, para os filhos sadios dos portadores de hanseníase. O tratamento dispensado às crianças nascidas de pacientes infectados constava na legislação brasileira. Segundo o Decreto nº 16.300, de 31 de dezembro de 1923, filhos saudáveis de pais com a doença deveriam ser afastados do convívio familiar e segregados em instituições criadas para esse fim, os chamados preventórios ou educandários, geralmente administrados por congregações religiosas. Já a Lei Federal nº 610, de 13 de janeiro de 1949, determinava que todo recém-nascido filho de pais portadores de hanseníase deveria ser imediatamente afastado da mãe e não poderia nem mesmo ser amamentado por ela. 

Foi o que aconteceu com o aposentado José Irineu Ferreira, 63 anos. Filho de pai e mãe acometidos por hanseníase, Ferreira nasceu no hospital-colônia Doutor Pedro Fontes, em Cariacica (ES). Assim que sua mãe deu à luz, o capixaba foi levado para o educandário Alzira Bley, na mesma cidade. Ali ele viveu até os 16 anos. “Saí para ver o mundo pela primeira vez quando tinha 13 anos”, diz o ex-técnico em telecomunicações. Durante toda a sua infância e adolescência, Ferreira conta que era forçado a trabalhar na roça, apanhava quase diariamente e chegou diversas vezes a passar fome. Mas suas piores memórias remontam às poucas visitas que ele pôde receber dos pais enquanto esteve internado. “Lembro de vê-los através de um vidro no parlatório, mas eu não sabia quem eram aquelas pessoas. Depois, a gente se encontrava por meio de uma cerca, mas sempre com guardas monitorando e sem nenhum contato físico.” A vida após o preventório também não se mostrou fácil. Sem nunca ter recebido carinho ou orientação familiar, ele escondeu sua origem dos colegas de trabalho e até das namoradas. “Algumas pessoas me chamavam de ‘filho de leproso’. Mas, para mim, o preconceito é mais contagioso do que a lepra”, diz.
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As dificuldades enfrentadas por Ferreira dão a tônica dos depoimentos da maioria desses filhos separados, como explica Thiago Flores, 27 anos, pesquisador da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG) e autor do artigo de iniciação científica “Órfãos por imposição do Estado – Danos psicossociais causados pela política de segregação da hanseníase”, em parceria com a graduanda Pautília Paula de Oliveira Campos. “Relatos de maus-tratos são constantes entre as crianças que cresceram nos preventórios”, diz Flores. “A maioria sofria castigos físicos, muitos tinham a comida racionada e alguns chegaram até a sofrer abusos sexuais, enquanto outros eram dopados com medicamentos sedativos para que não dessem trabalho.” Na pesquisa que realizou com 27 filhos de ex-pacientes dos hospitais-colônia de Minas Gerais, ele chegou à conclusão de que os problemas vivenciados na infância e adolescência desses brasileiros influenciam sua saúde psíquica até hoje. “Os filhos separados, assim como seus pais, foram vítimas do holocausto silencioso instituído no País ao longo de décadas devido ao estigma e preconceito associados à hanseníase”, diz. Flores tem conhecimento de causa para falar sobre a hanseníase, mas sua história pode ser considerada o oposto da dos filhos separados. Assim que as colônias foram abertas, por volta de 1986, ele foi adotado por um casal de hansenianos, Zenaide e Nelson Flores, que não podia ter filhos. “Passei minha vida na colônia, sempre soube que era filho adotivo, mas só fui entender o que era hanseníase quando, ao contar para um colega de escola onde eu morava, ele se assustou.”

Chamada de “a doença mais antiga do mundo”, a hanseníase encontra seus primeiros registros datados de 1350 a.C., no Egito. A forma como a enfermidade é abordada na “Bíblia”, porém, contribuiu para o tratamento cruel e desumano que seria empregado às pessoas por ela atingidas. “Na ‘Bíblia’, a lepra é explicada como uma maldição, que afetaria só os pecadores. Isso gerou um preconceito muito grande contra os hansenianos”, afirma Flores. Por conta das crendices e da desinformação, os filhos separados tiveram de lidar com esse preconceito mesmo dentro de suas famílias. “Os próprios familiares rejeitavam essas crianças, com medo da contaminação”, diz a historiadora Yara Nogueira Monteiro, autora da tese de doutorado “Da maldição divina à exclusão social: um estudo da Hanseníase em São Paulo”, pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH – USP). Abandonadas pelas famílias e sem possibilidade de conviver com os pais biológicos, muitas das crianças moradoras dos preventórios foram encaminhadas ilegalmente para a adoção. “Os pais não perdiam o pátrio poder do ponto de vista legal, mas na prática muitas crianças eram adotadas. Meninos e meninas simplesmente sumiam e os progenitores, presos no isolamento, não podiam fazer nada”, afirma Yara.
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Maria José Amélia, a mãe da paulistana Teresa, até tentou saber notícias da filha, mas não obteve resposta. “Nos registros do preventório onde fui adotada, encontrei uma carta da minha mãe que nunca chegou a ser respondida. Nela só havia uma anotação da pessoa que a recebeu dizendo ‘esta carta não sei como responder, pois a filha foi entregue ao seu Antônio’, meu pai adotivo”, diz Teresa. Ela também descobriu no arquivo do preventório Santa Terezinha, em Carapicuíba (SP), documentos sobre duas irmãs biológicas, Marisa e Elza, que localizou e conheceu com a ajuda do cadastro de filhos separados do Morhan, no qual já constam dez mil inscritos. Seu caso motivou ainda a criação de um banco genético para tentar encontrar parentes entre portadores de hanseníase e ex-internos dos preventórios, chamado projeto Reencontro. “Oferecemos gratuitamente para essas pessoas exames de compatibilidade genética que elas não poderiam pagar por conta própria”, explica Lavínia Schuler Faccini, professora associada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS) e coordenadora do banco genético. “Até agora quatro casos já foram solucionados, três com resultado positivo e um com negativo”, diz. 

O exame de compatibilidade genética pode fazer a diferença na vida das cariocas Rita de Cássia, 58 anos, e Geovanna Barbosa, 38. Não que elas já não saibam que são mãe e filha. “É que, quando Geovanna nasceu, eu não pude ficar com ela, então meus pais a registraram como filha deles. Pela lei, ela é minha irmã”, afirma Rita. Grávida aos 20 anos de idade, Rita descobriu ser portadora da doença durante o pré-natal. Voluntariamente se internou na colônia de Curupaiti, no Rio de Janeiro, onde nasceu Geovanna. “Só vi minha filha de longe e dois dias depois ela já estava no educandário”, diz Rita. Geovanna passou oito anos na instituição, onde sofria diariamente com a saudade da mãe, a fome, a tortura psicológica e os castigos físicos impostos pelas freiras que administravam o preventório. “Me emociono só de lembrar de tudo o que passei lá. Me adaptar à vida aqui fora também foi um processo muito difícil”, diz a auxiliar de produção. Hoje, no entanto, Rita e Geovanna são um exemplo de que é possível encontrar felicidade mesmo sob a sombra de um passado tão dolorido. “Hoje minha mãe pode fazer pelo meu filho Jonathan tudo o que não pôde fazer por mim. Tenho muito orgulho dela, porque é uma guerreira”, afirma Geovanna. “Só espero que, ao divulgar essa história, as famílias brasileiras nunca mais tenham que ser separadas por causa de uma doença”, diz Rita. E que o Estado possa trazer um pouco de alento a todos aqueles que tiveram suas vidas sequestradas pela cruel política da segregação.  
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Fotos: João Castellano/ag. istoé; www.felipevaranda.com
Fotos: ODIN/ag. istoé; Gabriel Lordello/Mosaico Imagem
Fontes: Ministério da Saúde e Morhan (Movimento pela Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase)