POR ACASO Silvia teve sintomas, mas não os associou à doença. Só
descobriu que tinha diabetes depois de exames de rotina
Como é possível vencer uma guerra quando não se sabe sequer
que há uma em andamento? É impossível. Nessa circunstância, a derrota é
certa. Pois é exatamente isso o que está acontecendo em relação ao
combate da diabetes tipo 2, doença associada à obesidade e ao
sedentarismo. De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes, 46,3%
das pessoas que apresentam a doença não sabem que são portadoras. Ou
seja, praticamente a metade dos pacientes simplesmente desconhece sua
condição.
O índice é uma bomba em termos de saúde individual e pública.
Primeiro porque, combinada a outros fatores – obesidade e hipertensão,
por exemplo – a diabetes tipo 2 eleva o risco para infarto e o acidente
vascular, as principais causas de morte no mundo. Sozinha, pode resultar
em complicações graves como a cegueira e a amputação de membros. Todos
esses prejuízos têm impacto muito negativo na vida do paciente e também
nos custos dos governos para tratá-los, já que eles demandam mais
medicações e internações.
“Há pessoas que sofrem infarto e só descobrem que
são diabéticas quando examinadas no hospital”
Luiz Turatti, presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes
TARDE DEMAIS
O problema é que por nem saberem que têm a doença, as pessoas só
procuram ajuda quando a enfermidade está tão adiantada que já provocou
algum dano. “Há casos de pacientes que sofrem um infarto e só descobrem
que têm diabetes quando são examinadas no hospital”, diz o
endocrinologista Luiz Turatti, presidente da Sociedade Brasileira de
Diabetes.
O desconhecimento se deve especialmente ao fato de que a enfermidade
não costuma dar sinais. Entre os mais clássicos, e mesmo assim muitas
vezes não reconhecidos, estão sede constante e vontade de urinar com
freqüência. A assistente social Silvia Regina de Carvalho, 60 anos, de
São Paulo, teve os sintomas, mas, à época, os atribuiu ao climatério
(período que antecede a última menstruação). Só teve a diabetes tipo 2
diagnosticada quando se submeteu a exames de rotina. “Não associei à
doença o que estava sentindo”, conta. Silvia também tinha taquicardia,
cansaço e dificuldade para dormir.
Para não se tornarem vítimas da epidemia silenciosa de diabetes –
hoje no mundo há 422 milhões de adultos diabéticos, 14 milhões deles no
Brasil -, a recomendação dos especialistas a todas as pessoas é que se
submetam regularmente ao exame que detecta se a taxa de açúcar acumulada
no sangue está além do limite. Obesos ou indivíduos com sobrepeso devem
ficar ainda mais atentos, uma vez que o acúmulo de gordura é um dos
fatores que levam ao surgimento da doença.
Uma vez identificada, a diabetes tipo 2 pode ser bem controlada. As
medidas incluem a adoção de dieta saudável e a prática de exercícios
físicos. Há várias opções de remédios e, mais recentemente, surgiu a
alternativa das cirurgias bariátrica e metabólica. Já está comprovado
que as duas modalidades são bastante eficazes no combate à enfermidade.
Um pedido para a liberação dos procedimentos a diabéticos não
necessariamente obesos aguarda aprovação pelo Conselho Federal de
Medicina.
O levantamento da Sociedade de Diabetes revelou ainda outros dados
muito preocupantes, que escancaram o grau elevado de ignorância da
população a respeito da doença. Mais gente sabe da possibilidade de a
diabetes tipo 2 causar amputações e cegueiras do que provocar infarto e
AVC, por exemplo. Por essas razões, é urgente a realização de campanhas
que informem e convençam a todos sobre a importância de diagnosticar
cedo a enfermidade. Recentemente, uma dessas iniciativas foi lançada
pela Sociedade Brasileira de Diabetes com o apoio dos laboratórios
Boehringer-Ingelheim e Eli Lilly.
Assista ao vídeo
DESINFORMAÇÃO PERIGOSA
Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes:
46,3% dos pacientes com diabetes tipo 2 não sabem que têm a doença
> Mais da metade da população acredita que a hipertensão é tão
grave quanto a diabetes. Porém, a enfermidade sozinha traz mais
prejuízos ao organismo
> Amputação, cegueira e problemas de circulação são os danos mais
conhecidos. A relação com doença cardíaca e AVC – duas das maiores
causas de morte no mundo – aparece em 11º e 12º lugar em uma lista dos
maiores prejuízos
> Os principais medos são os de ter um membro amputado ou de ficar
cego em decorrência da doença. O temor de sofrer um infarto é o
penúltimo da lista, atrás apenas de ser obrigado a fazer alguma
restrição alimentar
Foto: João Castellano/Agência Istoé