sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Onde mais se faz exercício no Brasil – e o porquê

Mais que vencer a preguiça: estudo da ONU mostra como a desigualdade social do nosso país afeta a prática de atividade física e o sedentarismo

 
Se você é homem, branco, possui uma renda superior a 5 salários mínimos e concluiu o ensino superior completo, tem uma chance consideravelmente maior de fazer exercícios físicos com frequência. Quem atesta isso é um estudo da Organização das Nações Unidas (ONU), que coloca a desigualdade social como uma barreira considerável para ser fisicamente ativo no Brasil.
De acordo com a pesquisa, 37,5% dos brasileiros se envolveram com a prática de algum esporte pelo menos uma vez em 2015. Mas, entre os com renda igual ou superior a 5 salários mínimos, a proporção sobe para 60%. Esse dado é de 56,7% para quem tem ensino superior completo, versus 17% entre aqueles sem instrução formal.
A liberdade para a prática de exercícios físicos depende de três fatores: tempo livre, recursos financeiros e valor cultural da atividade física para a comunidade. Sem esses pontos, a chance de uma pessoa suar a camis frequentemente é menor.
“Os dados analisados reforçam a compreensão de que realizar atividades físicas não se restringe somente a uma decisão individual, mas é também produto de como a sociedade pauta a vida coletiva”, pondera o estudo.
Em outros termos: de nada adianta fazer campanhas que incentivem a movimentação no cotidiano “sem criar oportunidades efetivas para as pessoas se engajarem com essas práticas”.

Questões de gênero

Em geral, homens são mais propensos a praticar um esporte a do que as mulheres. No entanto, quando se envolve em uma atividade do tipo, a ala feminina a faz com mais frequência: 35% das que são ativas destinam tempo para a malhação de quatro a sete vezes por semana, contra 27,3% dos homens.

Estados

O Distrito Federal é a unidade da federação com menores taxas de sedentarismo, de acordo com o artigo. Por lá, metade da população afirmou que se envolveu com exercícios físicos no último ano. Não por acaso, estamos falando da unidade com o maior índice de desenvolvimento humano (IDH) do país.

Como mudar o quadro?

Em resumo, haveria uma “alta concentração do investimento privado” na promoção das atividades físicas no Brasil — o que corrobora a desigualdade. Em 2013, as famílias investiram 51 bilhões de reais em esporte. No mesmo ano, os clubes investiram 4 bilhões de reais e as empresas, 2,13 bilhões de reais. O governo federal, em contrapartida, financiou apenas 590 milhões de reais no setor.
“As políticas de promoção de atividades físicas e esportivas não podem estar focadas somente na responsabilização individual e na mudança de comportamento. Diversas condições estruturais causam impacto nessa prática. Assim, as políticas devem corrigir desigualdades, bem como pensar em soluções sistêmicas, com ênfase na participação e no controle social”, diz o texto.

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Paciente descobre que 'tumor' era peça de brinquedo aspirada há 40 anos

Em um primeiro diagnóstico os médicos não hesitaram em dizer que poderia ser um câncer, mas após exames descobriram a real causa dos sintomas
O paciente explicou aos médicos que os Playmobils eram seus brinquedos favoritos na infância, e as peças pequenas acabavam se perdendo ( Foto: BMJ/O Globo )
FolhaPress
Um britânico de 47 anos, que não quis ser identificado, procurou um hospital na cidade de Preston após alguns sintomas preocupantes. Fumante, a tosse forte e o muco já o assombravam a mais de um ano - ele se recuperava, inclusive, de uma pneumonia.
O primeiro diagnóstico não foi muito animador. Segundo o jornal "O Globo", após uma radiografia detectar uma massa atípica em um dos pulmões, os médicos não hesitaram em dizer que poderia ser um câncer.
Mas, com uma bronquioscopia (exame que filma o interior dos brônquios) o "corpo estranho" pode ser identificado melhor. O tumor era, na verdade, um brinquedo aspirado pelo paciente há décadas.
Em um artigo publicado no "BMJ Case Reports" (plataforma para que médicos compartilhem pesquisas e estudos de caso), os médicos descrevem o objeto como um "cone de trânsito do Playmobil há muito perdido".
O paciente explicou aos médicos que os Playmobils eram seus brinquedos favoritos na infância, e as peças pequenas acabavam se perdendo. "Ele lembrou ter ganhado este conjunto de Playmobil de presente no aniversário de 7 anos, e acredita ter aspirado o cone de trânsito logo depois", afirmaram os médicos.
Assim que a miniatura, com cerca de 1cm, foi removida, o paciente se curou e o diagnóstico de câncer teve um final feliz. Como escreveram os médicos no artigo científico "os sintomas melhoraram e ele finalmente encontrou sua peça de Playmobil no último lugar em que poderia procurar".
Caso incomum
A inalação de peças de brinquedo por crianças é comum. No entanto, os efeitos e sintomas de tal ato são, normalmente, imediatos.
Segundo os autores do artigo, "um caso em que o conjunto de sintomas ocorra tanto tempo depois da aspiração é desconhecido". Este é o primeiro caso de um objeto estranho que permaneceu nas vias aéreas por 40 anos.
Os médicos explicam o motivo: "Talvez seja porque a aspiração ocorreu na infância e as vias aéreas foram capazes de se remodelarem e se adaptarem à presença deste corpo estranho."
No entanto, é importante reforçar que qualquer inalação ou ingestão de objetos por crianças devem ser avaliadas medicamente para que o pior não aconteça - nem pais nem filhos vão querer esperar quatro décadas para ver o resultado.

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

O que é o exame de eletrocardiograma

Para que serve esse teste (também chamado de ECG ou eletro) que mede a atividade elétrica do coração e quando você deve fazê-lo

O eletrocardiograma (ECG) é feito com um aparelhinho ligado a eletrodos que avalia o ritmo dos batimentos cardíacos em repouso. É um exame bem simples, usado rotineiramente tanto na triagem dos prontos-socorros quanto em checkups preventivos solicitados pelo cardiologista.

Para que serve

O objetivo é ver se há alguma falha na condução elétrica pelo coração. Ou seja, se existem bloqueios ou partes do músculo que não estão se movendo como deveriam, o que pode sinalizar problemas cardíacos.
O eletro é muito utilizado para flagrar arritmias e taquicardias ou bradicardias, quando o peito bate rápido ou devagar demais, respectivamente. Mas é um teste inicial. Ou seja, ele aponta possíveis suspeitas, que devem ser confirmadas com outros exames.

Como é feito

O indivíduo deita em uma maca e o médico espalha eletrodos para averiguar os impulsos elétricos de áreas diferentes do coração. A oscilação captada é conduzida ao eletrocardiógrafo, aparelho que durante cerca de cinco minutos registra a informação em gráficos impressos numa bobina de papel.
Para não comprometer a leitura, a pele deve estar limpa e livre de roupas. Já os eletrodos devem ficar bem fixados — por isso que, às vezes, a retirada deles pode doer um pouquinho.

Os resultados

O cardiologista interpreta as ondas do gráfico, identificando marcadores como cadência e frequência do coração. O ritmo considerado normal é entre 60 e 100 batimentos por minutos, mas há outros parâmetros contemplados pelo eletrocardiograma, como o tamanho e a duração das ondas em cada segmento.

Periodicidade

O exame pode ser solicitado tanto pontualmente, quando alguém dá entrada num serviço de emergência ou há suspeitas de doenças cardíacas, quanto como medida preventiva nos checkups anuais, em geral receitados por volta dos 40 anos.

Cuidados e contraindicações

Como é supersimples e nada invasivo, todos podem realizar esse exame. O eletrocardiograma também não precisa de um preparo prévio — nada de jejum ou algo do tipo.
Fontes: Ariovaldo Mendonça, patologista e coordenador médico do Grupo Hermes Pardini, em São Paulo, e João Vicente da Silveira, cardiologista do Hospital Sírio-Libanês (SP).

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

“Meu coração parou por 25 minutos”

Engenheiro sobrevive a quatro paradas cardiorrespiratórias e fica sem sequelas depois de ser submetido à hipotermia terapêutica, técnica que salva vidas e acelera a recuperação de pacientes enfartados

Crédito: Fabio Braga
NOVA CHANCE O engenheiro Carlos Neves e o aposentado Antônio Carlos (abaixo): graças às técnicas revolucionárias, eles sobreviveram (Crédito: Fabio Braga)
O engenheiro Carlos Alberto Neves sofreu um infarto enquanto dirigia em uma avenida movimentada de São Paulo. Depois de perder os sentidos e bater o carro, Neves foi ajudado por um policial militar que passava pelo local. A caminho do Instituto do Coração (Incor), o engenheiro teve outras quatro paradas cardiorrespiratórias. A mais severa delas durou 25 minutos. Nesse tempo, seu coração literalmente parou de bater. “Eu não lembro de quase nada”, diz. “Todos achavam que não sobreviveria ou que poderia ficar vegetando em uma cama. Quando voltei, minha família não acreditou. Posso dizer que nasci de novo.” Como isso foi possível? Neves foi submetido à hipotermia terapêutica, técnica ainda pouco difundida no País que, ao lado de outras inovações no tratamento a pacientes enfartados, pode salvar incontáveis vidas. Apenas no Brasil, ocorrem 720 paradas cardíacas por dia.
Crédito: Marco Ankosqui
A técnica consiste em reduzir a temperatura do indivíduo para até 32 graus, quando o normal é 36,5. O paciente é envolvido por uma manta fria ou, em algumas situações, por cubos de gelo espalhados pele corpo. O processo dura no mínimo 24 horas e tem como objetivo fazer o organismo trabalhar menos, reduzindo o seu metabolismo. “Hoje em dia é mandatório que pacientes que tenham sofrido paradas cardiorrespiratórias passem por esse procedimento”, diz Sergio Timerman, diretor do Centro de Treinamento em Emergências do Incor e um dos responsáveis pela chegada da nova técnica ao Brasil. “O procedimento permite que o indivíduo tenha uma recuperação melhor, menos agressiva e fique quase sempre sem sequelas neurológicas permanentes.”
Redução de danos

Outro procedimento promete ser ainda mais eficaz. Nele, a pessoa é submetida a um cateterismo que induz a hipotermia em no máximo 18 minutos. O cateter é inserido na veia femural (que fica na perna) e, antes de chegar ao coração, resfria o sangue do paciente para uma temperatura entre 32 e 34 graus. Segundo Timerman, essa técnica reduz os impactos do infarto. “O procedimento melhora o pós-operatório, evitando arritmia, cicatrizes grandes e um futuro AVC”, afirma. A diferença desse método é que, além de ser mais rápido, ele permite que o paciente fique acordado o tempo todo.
Vítima de um segundo infarto, o aposentado Antônio Carlos Ramos passou pelo procedimento no ano passado. Ao sair da igreja, sentiu dores no peito, ligou para o filho e pediu ajuda. Quando chegou ao hospital, já estava enfartando. “O médico informou ao meu filho que iram fazer o cateterismo que induz a hipotermia para preservar a integridade do coração”, diz Ramos. Depois de passar 10 dias na UTI, recebeu alta sem ficar com sequelas. Para Natali Giannetti, cardiologista do Incor, a técnica permite a independência do paciente depois da alta, já que na maioria dos casos é possível levar uma vida normal. “Acompanhamos os pacientes até o trigésimo dia depois do infarto e todos tiveram boa recuperação”, diz a médica.
INOVAÇÃO Diretor do Incor, Sergio Timerman foi um dos responsáveis por trazer a técnica ao Brasil (Crédito:Kelsen Fernandes)
Estudos publicados na Europa mostraram que a técnica diminui as sequelas em 35% dos casos. O procedimento foi aplicado em 50 pacientes entre maio de 2016 e fevereiro deste ano. Marko Noc, coordenador da pesquisa e chefe do Centro de Medicina Intensiva da Universidade de Ljubljana, na Eslovênia, ressalta a importância do tratamento. “Eu vejo a técnica como uma terapia adjunta, contribuindo para a diminuição da lesão e aumentando a recuperação do miocárdio”, disse à ISTOÉ. “Vale ressaltar que o que faz um infarto ser categorizado como menor é a melhora dentro de um ano e também não ter insuficiência cardíaca depois da alta”. Desde o ano passado, 32 pacientes foram submetidos no Brasil ao novo método de hipotermia.

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

5 trocas saudáveis e gostosas para o café da manhã dos diabéticos

Nem pense em pular essa refeição. Dá para deixá-la bem apetitosa

Controlar as taxas de açúcar no sangue pode parecer um bicho de sete cabeças às vezes. Mas não dá para bobear. Manter os níveis sem grandes oscilações poupa as artérias, os olhos, os rins…
E algumas substituições no cardápio permitem aos diabéticos fazer uma boa manutenção da glicemia. Só que o cardápio não precisa ficar sem graça. “A refeição deve satisfazer a expectativa do indivíduo, e não ser vista como remédio”, diz Flora Spolidoro, da Day by Diet, em São Paulo.
Com isso em mente, veja sugestões de trocas para o café da manhã.

Pão com manteiga e café com leite por mingau

Veja bem, o clássico combo matinal não precisa ser abolido. Mas substituí-lo, vez ou outra, por um mingau bem completo pode agregar ingredientes protetores. A sugestão da nutricionista Maria Cecília Corsi é preparar uma receita com quinua, aveia, leite desnatado, castanha-do-pará e canela. Essa combinação entrega fibras, proteína e gorduras benéficas, num mix que favorece a manutenção do açúcar no sangue.

Pão francês por pão integral com sementes

Chia, linhaça e nozes são exemplos de alimentos que turbinam o pão com fibras e gorduras bem-vindas. Mas a receita também pode acabar calórica, daí vale maneirar na fatia. Olho vivo no rótulo para garantir também que a maior parte da farinha usada seja mesmo integral.

Iogurte integral com polpa por iogurte desnatado batido com suco

Livre de gordura, a versão desnatada é rica em proteína e contribui com doses de cálcio, mineral que, além de fortalecer os ossos, ajuda no controle da pressão. Não custa reforçar que o diabético deve zelar pelas suas artérias.

Flocos de milho por cereais sem adição de açúcar

Aposte em uma mistura variada de grãos, sem esquecer a festejada aveia. Coloque leite desnatado e, para arrematar, adicione frutas, que são redutos de vitaminas e minerais. Não bastasse economizar no açúcar, essa receita beneficia o intestino.

Suco de laranja por suco verde

Que tal bater couve, abacaxi e hortelã? A combinação hidrata e oferta poucas calorias – ao contrário do suco de laranja. Só não precisa cair na mesmice. A dica de Flora Spolidoro é variar, recorrendo também a hortaliças, como cenoura, pepino e agrião.

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Muito além do fígado: hepatite C causa de depressão a diabetes

Essa infecção deflagra problemas que vão além da cirrose e do câncer. Mas a boa notícia é que os tratamentos modernos também combatem esses efeitos

De 100 pacientes infectados com o vírus da hepatite C, mais ou menos 80 não conseguem se livrar dele naturalmente. Desses, cerca de 25 vão apresentar lesões graves no fígado — a famigerada cirrose — em até 20 anos. Mas não faça pouco caso: além de os danos hepáticos serem letais, quase todos os enfermos que carregam esse inimigo no organismo vão sofrer com ele de alguma forma.
Quem chamou atenção para os efeitos menos conhecidos da hepatite C foi o hepatologista Jorge Daruich, da Universidade de Buenos Aires, na Argentina. “Nós falhamos em nos concentrarmos muito nos problemas causados no fígado. Eles de fato são perigosos, mas, como não aparecem desde o princípio, fizeram com que muita gente negligenciasse a hepatite C”, disse o especialista, durante uma palestra do 15º Seminário Latinoamericano de Jornalismo de Ciência em Saúde, sediado em Boston, nos Estados Unidos.
Essa encrenca, que acomete 71 milhões de pessoas no mundo — muitas das quais não sabem disso —, afeta do coração ao cérebro. Já há estudos contundentes mostrando que ela aumenta o risco de infartos e AVCs, para ser mais exato.
“Acreditamos que isso acontece porque o vírus gera uma inflamação no corpo inteiro, que provoca danos com o tempo”, explica Daruich. E que fique claro: isso ocorre mesmo se o fígado estiver funcionando plenamente.
Como se fosse pouco, há uma associação da hepatite C com depressão, cansaço e dificuldades cognitivas. Isso pode ter a ver com o sofrimento do diagnóstico, mas é fato que o vírus em questão consegue invadir o cérebro e incendiar a região. Segundo Daruich, nota-se entre os pacientes uma maior dificuldade de concentração e de realizar tarefas que exigem mais da massa cinzenta.
Diabetes, hiper e hipotireoidismo e até linfoma (um tipo de câncer) já foram ligados a essa infecção. “E há outras possíveis consequências. Precisamos tratar todos os pacientes, não só os com lesões hepáticas”, arremata Daruich.

Temos os recursos para vencer essa batalha

A grande notícia é que, nos últimos anos, vimos uma verdadeira revolução no tratamento da hepatite C. Se antes os médicos tinham remédios muito tóxicos e que exterminavam o vírus em não mais do que 50% dos casos, agora contam com drogas que oferecem uma resposta excelente em no mínimo 90% dos pacientes.
Essas opções já estão disponíveis no Brasil e, de quebra, ajudam a enfrentar a maioria das manifestações da hepatite C. “Só que isso depende também de quando iniciamos o tratamento”, pondera Daruich.
Indivíduos que recebem os fármacos em situações muito avançadas tendem a não reverter todas as consequências provocadas pela doença. Fora isso, se o paciente já desenvolveu diabetes, não vai “se curar” dele com os remédios para a hepatite C.
Conclusão: diagnóstico precoce é fundamental. Você já fez o teste para hepatite C?

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Teste diagnostica dengue, zika e chikungunya em cinco horas

Atualmente, são feitos três exames separados e os resultados podem levar até dez dias para serem obtidos
01:00 · 20.09.2017 por Vanessa Madeira - Repórter
Um projeto científico desenvolvido no Ceará pode dar resposta ao desafio da saúde pública de diagnosticar, de forma ágil, as principais epidemias do País: dengue, chikungunya e zika. Com altos custos e demora para obter resultados, os testes utilizados hoje no Estado têm se tornado empecilho para o tratamento adequado dos infectados e o planejamento de ações de vigilância. Para superar a dificuldade, pesquisadores criaram kits capazes de analisar as três arboviroses ao mesmo tempo e determinar, em poucas horas, qual delas se manifesta nos pacientes.
O teste rápido é fruto do trabalho realizado há cerca de um ano pela empresa cearense Greenbean Biotecnologia e coordenado pela professora Izabel Guedes, da Universidade Estadual do Ceará (Uece). Segundo ela, o projeto tem por base a produção, em laboratório, de proteínas recombinantes dos vírus das três doenças e de reagentes específicos para cada uma delas. Esses reagentes, ao entrarem em contato com o sangue de pessoas infectadas, apenas terão efeito sobre as proteínas da arbovirose pela qual o paciente foi acometido. O resultado, conforme explica a professora, pode ser obtido em até cinco horas.
Vantagens
O método apresenta duas vantagens em relação aos exames atuais. Hoje, para chegar ao diagnóstico preciso, são necessários testes diferentes para dengue, chikungunya e zika. Além disso, os resultados podem levar até 10 dias para serem obtidos.
"A grande dificuldade é a demora para o diagnóstico. Quando ocorre, ao mesmo tempo, uma multivirose em Fortaleza, os sintomas se confundem e o medico saber qual é o vírus que está infectando o paciente. Isso tudo dificulta a conduta médica e também a recuperação do paciente, porque o médico tem que esperar o resultado do teste", afirma Izabel.
"Ainda tem a questão da vigilância. Se você souber de antemão se está circulando mais zika, mais dengue ou mais chikungunya numa determinada região, a vigilância pode tomar medidas e traçar estratégias mais eficientes", completa.
Além da maior rapidez, a utilização dos testes desenvolvidos no Estado reduziria custos. Os kits atuais contem reagentes importados, o que aumenta o valor do material. "Esse alto custo dificulta fazer diagnósticos durante uma epidemia, então apostamos em testes mais baratos, que tenham condições de testar maior número de pacientes ao mesmo tempo e dar resultado rápido", destaca Izabel.
Disponibilização
A coordenadora do projeto explica que os testes ainda estão em fase de experimentação, mas já apresentam resultados promissores. No entanto, não é possível definir quando poderão ser fabricados em larga escola e disponibilizado no Estado. A expectativa da equipe é que isso aconteça até o próximo ano.
"Esperamos que os testes tenham o interesse da Secretaria da Saúde, mas ainda precisa passar pela parte burocrática das boas práticas de laboratório, confirmações, análises estatísticas e outros processos", diz.
O último boletim de arboviroses da Secretaria de Saúde do Estado (Sesa), datado de 1º de setembro, revelou que, neste ano, já foram confirmados 20.884 casos de dengue (12 óbitos), 82.017 de chikungunya (87 óbitos) e 483 de zika. De acordo com o órgão, a distribuição dos casos acontece por todas as faixas etárias, com maior incidência entre adultos jovens e pacientes do sexo feminino.

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Um respiro contra o câncer

Dois novos tratamentos para tumores de pulmão devem mudar o combate a esse tipo de doença

Um respiro contra o câncer
Duas novidades que devem mudar o combate ao câncer de pulmão, o mais comum no mundo, foram divulgadas na semana passada durante o congresso europeu de oncologia (Esmo), em Madri. A primeira delas combate a doença num estágio onde não havia tratamento disponível. “Nós ficamos sem avanços nesse campo por muitos anos, décadas”, disse à ISTOÉ o médico que conduziu a pesquisa, Luis Paz-Ares. “Resultados robustos assim eram muito aguardados.” A segunda promete mudar a forma de cuidar de pacientes que sofrem de outro tipo de tumor pulmonar, mais avançado. “Nós concluímos que esse será o novo padrão de tratamento para pacientes com essa forma de câncer”, afirma o doutor Suresh Ramalingam, responsável pelo estudo.
CONGRESSO Luis Paz-Ares, que conduziu os estudos do Durvalumabe: resultados robustos (Crédito:Divulgação)
A primeira pesquisa foi sobre testes clínicos do novo remédio Durvalumabe, que funciona inibindo uma proteína ligada à ação de células cancerígenas. Poderão usar o medicamento pessoas que tenham tumor de pulmão “não pequenas células” (mais de 80% dos casos) em estágio 3 (espalhado em vários pontos do mesmo órgão) que não possam ser operadas. Os cientistas descobriram que o Durvalumabe diminui pela metade a chance de a doença progredir, num período em que os médicos só podiam aplicar quimio e radioterapia e desejar o melhor – o que é incomum. Para 85% dos pacientes, o câncer acaba avançando. “Atualmente, tudo o que nós podemos fazer é esperar e observar”, diz Mohammed Dar, vice-presidente de biologia clínica da MedImmune, subsidiária da farmacêutica AstraZeneca, que desenvolveu o composto.
O segundo estudo foi sobre os exames do novo remédio Osimertinibe, que inibe mutações que ajudam o câncer a crescer. Poderão usar o medicamento pessoas que também tenham o mesmo tumor de pulmão “não pequenas células”, mas em estágio 4 (quando ele já se espalhou por vários órgãos) – e que possuam uma mutação no gene EGFR (que ajuda no crescimento do câncer e infelizmente é frequente, acometendo 15% da população ocidental e 35% da asiática). Descobriu-se que o Osimertinibe é 54% mais eficaz do que as drogas hoje existentes para combater essa mutação no que se refere à progressão do tumor. Ainda são esperados dados para se saber se ele também diminui o risco de o paciente morrer da doença, o que é plausível, porém que ainda não está provado em definitivo. “Atualmente, não vejo competição para esse tratamento”, afirma Klaus Edvardsen, chefe global de desenvolvimento de medicamentos oncológicos da AstraZeneca.
As duas novidades surfam na esteira do que é descrito como um a época de ouro no combate ao câncer, envolvendo imunoterapias (Durvalumabe) e terapias-alvo (Osimertinibe). Ao contrário da quimio e da radioterapia, elas poupam células saudáveis. Para entender como funcionam, imaginemos que os tumores sejam carros querendo chegar em casa. As terapias-alvo bloqueariam uma das ruas que pudesse servir de caminho, apesar de outras poderem continuar abertas. Já as imunoterapias usariam o próprio sistema de defesa do organismo para chamar a polícia e prender o condutor, independentemente do caminho.
As duas pesquisas ficaram entre os maiores destaques do Esmo, um dos maiores congressos do mundo na área. “Foram dois dos estudos mais importantes apresentados”, diz o médico brasileiro Fabio Kater, do hospital BP Mirante, em São Paulo. De acordo com a médica italiana Floriana Morgillo, da Segunda Universidade de Nápoles, “os impactos nas doenças são grandes, então se espero que sejam aprovados o mais rápido possível”. Ainda não há data confirmada para que as agências internacionais aprovem as indicações, mas a expectativa é que em até um ano eles estejam disponíveis ao público.
Impactos psicossociais da quimio são maiores que os físicos
Alguns dos destaques do Esmo que não aparecem em outros grandes eventos semelhantes dizem respeito ao bem-estar das pessoas com câncer. Nesse ano, chamou atenção uma pesquisa que descobriu que os efeitos psicossociais da doença são maiores do que os físicos. Os cientistas analisaram pessoas com câncer de mama e ovário e perguntaram o que mais lhes incomodava. Os primeiros lugares ficaram com “dificuldade de dormir” e “como isso vai afetar meu parceiro”. Num estudo igual feito em 1983, os campeões eram “vômito” e “náusea”. Para Beyhan Ataseven, que conduziu o estudo numa clínica de Essen, Alemanha, isso se deu porque os tratamentos melhoraram. “A prevalência dos problemas de sono nos surpreendeu, pois eles não apareciam anteriormente”, afirmou à ISTOÉ. “Deveríamos ao menos perguntar aos pacientes se eles querem prescrições de remédios para dormir.”
ENTENDA OS AVANÇOS
Os remédios que ajudam na luta ao câncer de pulmão
Durvalumabe

> Como funciona: Inibe a proteína PD-L1, ligada à ação de células cancerígenas
> Para quem: Pacientes com câncer de pulmão estágio 3 (espalhado pelo órgão)
> Resultados: A progressão diminuiu em 48%, numa fase para a qual não havia drogas
Osimertinibe
> Como funciona: Anula mutação que estimula o crescimento do câncer
> Para quem serve: Pessoas com câncer de pulmão em matástase e mutação EGFR
> Resultados: A evolução diminuiu em 54% em relação ao tratamento-padrão

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Verão 2017: confira dicas para entrar em forma

Novos aparelhos de estética prometem corpo esbelto rápido. Dieta e exercício têm resultado certeiro

Rio - Faltando três meses para o verão, foi dada a largada para o corre-corre às academias e dietas. Tudo para chegar com corpo bem definido e saudável à estação do ano mais querida dos cariocas. Mas é possível ganhar um visual sarado até lá? Segundo alguns especialistas, sim. Tanto naturalmente, quanto por equipamentos modernos, que, em alguns casos, prometem modelar o físico em 20 minutos. Nutricionistas e preparadores físicos mostram caminhos saudáveis para se atingir o corpo adequado e bem estar sem gastos extras.
Para Olivia Andriolo, hábitos saudáveis deixam o físico e mentesadios Divulgação
Para combater a flacidez e a gordura localizada, porém, são necessários acompanhamentos médicos e nutricionais. Também é preciso ter cuidado com exageros e atenção às restrições. No quesito tecnologia, três aparelhos chegam cheios de promessas. O mais novo, não invasivo, a laser, que chegará ao Rio nas próximas semanas, importado de Israel, é o Alma Prime. Promete modelagem do corpo em menos de meia hora, com ondas de ultrassom.
Tratamento estético Arte O Dia
"Em até seis sessões, conforme pesquisas, em intervalos de uma semana a 15 dias, o paciente consegue excelentes resultados", explicou o dermatologista Thales Brettas, da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). Cada sessão custará R$ 500.
Thales lembra que o Alma não pode ser usado por grávidas, portadores de marca-passo, menores de 12 anos e quem tem problemas de circulação: "Fica pequena vermelhidão e sensação de calor local passageiras". Mais informações no site www.lbtlasers.com.br.
Thales Brettas será um dos primeiros dermatologistas a operar o equipamento Derma Prime no Brasil Divulgação
Dois outros equipamentos causam frisson. Um deles é o TightSculpting. "Permite esculpir o corpo e dá mais firmeza a pele", garante a dermatologista Paula Chicralla, também da SBD. A profissional explica que a combinação de ondas de lasers destrói células gordurosas, através de aumento da temperatura, sem lesionar a pele, e estimula a produção de colágeno. O processo promete reduzir gordurinhas no abdome, flancos, costas, coxas, braços, seios, nádegas e papada. O preço é salgado: R$ 1 mil por sessão.
O outro aparelho é o Coolsculpting, com ponteiras, para reduzir até 30% de gordura em uma sessão. O tratamento inovador é a base de Cryolipolysis, no qual células gordurosas são eliminadas com o frio. Tudo sem corte, sem anestesia, ou substância injetável.
Cássia Oliveira, nutricionista: "Dieta balanceada e exercícios evitam tratamentos caros" Divulgação
Olivia Andriolo, especialista em pilates, treino funcional e idealizadora do método Emagrecimento Corpo D21, lembra que os hábitos saudáveis no dia-a-dia mantém a boa saúde física e mental, dispensando a necessidade de se apelar para equipamentos emagrecedores. "E melhoram a autoestima, os sintomas de depressão e ansiedade, reduzindo riscos de doenças cardíacas".
A nutricionista Cássia Absolon (que dá as dicas de alimentação saudável no quadro ao lado), da Clínica Prevenf, lembra que nenhuma dieta é milagrosa. "É preciso reeducação alimentar, com novos hábitos. Dietas da moda são prejudiciais", alerta.
O educador físico Daniel Pinheiro, do Grupo São Cristóvão Saúde, reforça a necessidade de aquecimento antes de se exercitar, para evitar lesões. "A intensidade de cada exercício deve ser ajustada de acordo com cada um", recomendou.
DICAS DE ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL
Prefira frutas, legumes e verduras, que são menos calóricos do que alimentos industrializados
Aumente a ingestão de água e sucos naturais. Evite refrigerantes
Dê preferência a chás gelados, de baixas caloria
Diminua o consumo de sal, pois o sódio aumenta a pressão arterial e retém líquido, causando inchaço
Evite frituras e salgadinhos
Prefira carnes magras: peixe, frango e patinho (carne vermelha). Assadas ou grelhadas
Consuma alimentos integrais, para melhor funcionamento intestinal
Paula Chicralla: "Tecnologia segura e resultados rápidos Divulgação
Troque um doce por uma fruta
Evite temperos prontos, que têm mais sódio e conservantes
Priorize temperos frescos como alho, cebola, salsa, e manjericão
Durma bem e acorde cedo
Exercícios físicos: mínimo três vezes por semana e, no máximo, cinco vezes, com média de 30 a 90 minutos, dependendo da capacidade física

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Saiba como está a pesquisa da vacina brasileira contra a dengue

Após alguns atrasos nos prazos iniciais, projeto do primeiro imunizante nacional contra a infecção avança e chega ao estágio final

A dengue é um dos mais graves problemas de saúde pública no Brasil. Em 2015, foram registrados mais de 1,6 milhão de casos no país e 972 mortes. No ano passado, a doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti atingiu 1,4 milhão de pessoas e provocou 602 óbitos, de acordo com os boletins epidemiológicos publicados pelo Ministério da Saúde.
Entre as estratégias para conter essa ameaça está a vacinação. Um imunizante, inclusive, já está disponível no Brasil desde 2016. Feito pelo laboratório francês Sanofi Pasteur, ele é vendido em clínicas particulares e faz parte de programas piloto de vacinação pública, como no estado do Paraná. O produto requer três aplicações com um intervalo de seis meses entre elas. Nos estudos que serviram de base para a aprovação, foi observada uma proteção de 66% contra os quatro sorotipos da dengue.
Mas a grande promessa do momento é uma vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan, em São Paulo, em parceria com os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla em inglês). Ela está na última fase de estudos e procura atualmente voluntários de várias idades.
Se os resultados forem positivos, a nova versão, que exige uma única aplicação, será submetida à aprovação das agências regulatórias em alguns meses. A expectativa é a de que essa opção tenha inclusive maior eficácia do que a disponível hoje.
Para saber mais sobre as etapas de desenvolvimento da vacina e os desafios envolvidos nesse processo, conversamos com a bióloga Lilian Ferrari e com os infectologistas Alvino Maestri e Esper Kallas, coordenadores da pesquisa. Nas respostas, você também confere como pode se tornar voluntário:

Como está o desenvolvimento da vacina contra a dengue do Instituto Butantan/NIH?

A vacina está na última fase de testes antes de ser submetida à aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para que possa ser produzida em larga escala e disponibilizada para campanhas de imunização em massa na rede pública de saúde em todo o Brasil. Os estudos envolvem 17 mil voluntários em 16 centros de pesquisa nas cinco regiões do país.

Vocês estão em busca de voluntários? Quais os requisitos para participar da pesquisa?

O Instituto Butantan quer verificar como a vacina reage em organismos de adultos, adolescentes e crianças para se certificar, no caso de comprovada a eficácia, que ela poderá ser disponibilizada para todos esses públicos, ampliando assim o espectro de uso do produto. Para se voluntariar, a pessoa precisa estar saudável, e pode ou não ter sido diagnosticada com dengue no passado. A última etapa consiste na aplicação da vacina em dois terços dos voluntários de 2 a 17 anos, enquanto um terço receberá a aplicação de uma substância placebo, que não tem efeito.

O que deve ser feito por quem se interessar em ser voluntário?

Os interessados devem ligar de 2ª a 6ª feira, das 8h às 17h, no Hospital das Clínicas de São Paulo para o agendamento de consulta. Os telefones são: (11) 2661-3344 e 2661-7214.

Quando devem sair os resultados da pesquisa e quais as expectativas que vocês têm em relação a eles?

As informações disponíveis até agora foram coletadas nos momentos anteriores de testes da vacina e apontam que o imunizante é seguro e potencialmente eficaz. No entanto, é esta última fase de testes que vai dizer se ele realmente protege contra os quatro tipos da dengue e qual é o nível de proteção para cada um dos vírus. Sendo assim, quanto antes vacinarmos todos os voluntários nessa última fase, mais cedo teremos os resultados para submissão do pedido de registro.

O que a vacina traz de benefício para a população brasileira?

A primeira vacina brasileira é produzida com vírus vivos, mas geneticamente atenuados, isto é, enfraquecidos. Quando aprovada, ela será uma importante arma na luta contra a doença, que atinge não somente a população brasileira, mas indivíduos de vários outros países.

O que o desenvolvimento da vacina representa para a ciência brasileira?

Nosso projeto fortalece o cenário da pesquisa nacional pelo envolvimento massivo dos pesquisadores distribuídos pelas cinco regiões brasileiras, bem como pelo fato de ocorrer em Unidades Básicas de Saúde e atrelado à Estratégia Saúde da Família em alguns estados.

Quais obstáculos vocês encontraram pelo caminho?

A principal dificuldade atualmente é o recrutamento de crianças e adolescentes. Qualquer medicamento ou vacina só pode ser oferecido ao público dessa faixa etária se for aplicado antes em adultos. É importante dizer que essa é a terceira e última etapa dos testes. Isso significa que a segurança já foi testada em duas outras ocasiões: uma nos Estados Unidos, pelos parceiros do Instituto Butantan, e outra aqui no Brasil, na cidade de São Paulo.
Somando as duas fases, cerca de 900 pessoas receberam doses. Os dados disponíveis até agora dessas duas etapas anteriores mostram que ela é segura. No entanto, como em qualquer pesquisa clínica, a segurança precisa ser avaliada durante todas as fases. Por isso, também estamos verificando se a vacina mantém o padrão demonstrado anteriormente. Além disso, o Instituto Butantan teve a preocupação de desenhar o estudo de forma que primeiro sejam vacinados os voluntários adultos, depois os adolescentes e só por último as crianças.

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Vacina é opção para combate ao quadro epidêmico de dengue

O Paraná foi o primeiro Estado brasileiro a adotar a vacina, adquirindo inicialmente 500 mil doses
Segundo o Centro Estadual de Epidemiologia do Paraná, o resultado que se pode adiantar até aqui é que se trata de uma vacina muito boa ( Foto: Nah Jereissati )

A dengue no Ceará continua chamando atenção pela alta incidência e o registro de mortes. Foram, somente este ano, 20.884 casos confirmados e, destes, 12 pessoas vieram a óbito, de acordo com dados do último boletim epidemiológico da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa). O cenário gera o alerta constante e a necessidade de medidas preventivas e de combate ao agente transmissor, o mosquito Aedes aegypti. Uma das estratégias de reversão do quadro epidêmico pode estar na disponibilidade de uma vacina contra a doença, a exemplo da que já é fabricada pelo laboratório Sanofi Pasteur, capaz de proteger contra os quatro sorotipos da doença.
Após 20 anos de testes, a Dengvaxia foi a primeira vacina contra a dengue a ter a comercialização autorizada no País, há pouco mais de um ano. O Paraná foi o primeiro Estado brasileiro a adotar a estratégia, adquirindo inicialmente 500 mil doses da vacina e distribuindo em 30 municípios. A estratégia adotada por lá, segundo explicou o chefe do Centro Estadual de Epidemiologia, João Luis Crivellador, foi atender às localidades que tiveram três ou mais epidemias nos últimos cinco anos.
Em 28 delas, onde a incidência passou dos 500 casos para cada grupo de 100 mil habitantes, como acrescenta, a faixa etária incluída na campanha vacinal foi de 15 a 27 anos. "É uma faixa etária que geralmente não busca a unidade de saúde, então buscamos alternativas diferenciadas, colocando a vacinação em supermercados, shoppings, academias, colégios e universidades", comentou. Já nos dois municípios onde a incidência ultrapassou 8 mil casos para 100 mil habitantes - Paranaguá e Assai - o público alvo determinado foi de 9 a 44 anos.
Muito boa
Os resultados, ainda segundo João Luis Crivellador, serão definidos por meio de estudo após o fim da campanha vacinal. A 3ª e última fase terão início no dia 20 de setembro e segue até o dia 27 de outubro. Neste período, 99 mil pessoas devem ser vacinadas. Na 1ª etapa, 200 mil pessoas foram imunizadas e na 2ª mais de 153 mil. "O resultado que podemos adiantar é que se trata de uma vacina muito boa. Tivemos pouquíssimos eventos adversos, o que mostra que é uma vacinação segura", afirma.
Pioneira no mundo, segundo destaca a diretora médica da Sanofi Pasteur, Sheila Homsani, a vacina tem como público-alvo pessoas na faixa etária de 9 a 45 anos de idade, tendo eficácia de 66%, agindo com 93% de eficiência nos casos graves da doença e prevenindo em até 81% o número de internamentos. A aplicação é subcutânea e deve ser administrada em três doses, com intervalo de seis meses entre elas, não havendo registro de efeitos colaterais. "Os pacientes tiveram sintomas leves mas nenhum relacionado à vacina. Cerca de 400 mil pessoas foram imunizadas no Paraná e não tivemos incidentes", reforça.
Campanhas
Dentro do contexto da imunização, Sheila Homsani destaca a importância de os governos aderirem a campanhas de conscientização. Na avaliação da médica, este seria o momento ideal de uma iniciativa como essa, enquanto o sorotipo 2 da doença não está tão presente. "Geralmente, o sorotipo 2, depois de uma grande circulação do tipo 1, pode trazer muita gravidade. Como a vacina é em três doses, se tivermos campanhas agora, essa proteção é antecipada, ou seja, quando o sorotipo 2 começar a circular com mais vontade, a população já estará protegida contra a gravidade que a gente espera", esclarece.
Os testes da vacina no Brasil envolveram 3,5 mil voluntários, entre eles, 599 cearenses. A imunização se dá por meio de um vírus atenuado e que, cultivado em condições adversas, perde a capacidade de provocar a doença. O método é realizado com a mesma estrutura do vírus que imuniza contra a febre amarela. Na rede particular, a vacina já pode ser adquirida pelo preço de R$ 136,00, cada dose.
Este ano, a incidência da dengue já acometeu 155 municípios do Ceará (84,6%), segundo o último boletim emitido pela Secretaria da Saúde do Estado. Os casos confirmados estão distribuídos em todas as faixas etárias, mas mostram uma concentração maior (63,5%) entre as pessoas de 15 a 49 anos de idade, e mais da metade das confirmações (56,2%) atingiu o sexo feminino. Entre os casos mais preocupantes, o Estado confirmou 86 de dengue com sinais de alarme (DCSA) em 2017 e 17 casos de dengue grave (DG).

terça-feira, 12 de setembro de 2017

Para ficar forte, não adianta comer muita proteína de uma só vez

Distribuir a ingestão de alimentos ricos nesse nutriente ao longo do dia em vez de concentrá-la só no almoço ou no jantar ajuda a preservar a musculatura

  Notícia quentinha para quem pretende preservar seus músculos por anos e mais anos. Segundo um estudo publicado no periódico científico American Journal of Clinical Nutrition, distribuir o consumo de carnes, ovos e outras fontes de proteína ao longo do dia – em vez de concentrá-lo no período da tarde ou da noite – pode ser uma medida importante para frear a perda de massa muscular, comum com o avançar da idade.
Capitaneada pelo Centro de Saúde da Universidade McGill, no Canadá, a pesquisa contemplou as informações médicas e os hábitos alimentares de quase 1 800 pessoas na faixa etária de 65 a 84 anos. Eles foram acompanhados por uma média de três anos.
“Aqueles que ingeriam proteína de uma maneira balanceada durante o dia tinham mais força muscular em comparação com os que comiam mais no jantar e menos no café da manhã”, exemplificou, em comunicado à imprensa, a nutricionista Samaneh Farsijani, umas das autoras do trabalho.
Embora mais estudos sobre o assunto sejam necessários, talvez o organismo consiga absorver melhor o nutriente em questão quando a ingestão é fracionada e começa já nas primeiras horas do dia. Mas uma coisa é certa: o debate acerca da recomendação diária para proteína ainda vai esquentar muito.
Enquanto ainda sobram dúvidas sobre o assunto, elencamos duas possibilidades de café da manhã que agregam proteínas ao cardápio. Confira:
Ovo, torrada e vitamina
Essa combinação tem proteínas e minerais de sobra – só cuidado com o colesterol! As frutas oferecem vitaminas, enquanto a torrada proporciona fibras.
• 1 torrada integral
• 1 ovo cozido
• 1 copo de vitamina de banana com mamão
Vai uma tigela de cereal? 
Os grãos fornecem bastante energia e fibras, enquanto os morangos trazem vitaminas e minerais. Já o leite assegura o aporte de proteínas.
• 1 xícara e meia de chá de cereal
• 1 copo de 240 ml de leite
• 8 unidades de morangos médios

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

O novo lar dos idosos

Ao combinar condomínio fechado e centro de repouso, empreendimentos transformam a cara dos asilos. Além de serviço médico 24 horas, há atividades culturais, boliche e até aulas de “zumba sênior”

Crédito: Gabriel Reis
CONVÍVIO Nair Salomão, 101 anos, moradora de residencial para idosos em São Paulo (Crédito: Gabriel Reis)
Com a foto do cantor John Lennon na mão, Nair Mendonça Ribeiro Salomão, 101 anos, abre um sorriso. A brincadeira para estimular a memória, em que é preciso reconhecer o artista estampado nas cartas, é uma das atividades diárias propostas aos moradores do Cora Residencial, de São Paulo, voltado para pessoas com mais de 60 anos. Em uma mesa no hall do prédio, ela põe o cartão com a imagem do ex-Beatle de lado. Quer contar sua história. “Sou do tempo do suicídio de Getúlio Vargas.” Depois da morte do marido, passou a morar com a filha, mas se incomodava ao percebê-la sobrecarregada com as responsabilidades da família e os cuidados com a mãe. Nair pediu que a levasse a uma casa de idosos, e o combinado foi que ficaria uma semana para testar. Já tinha 100 anos e lá ficou. No local, vive como se estivesse em um condomínio fechado: tem seu quarto e autonomia para sair e voltar quando quiser. Mas dispõe também de serviços específicos, atendimento médico 24 horas e alimentação com nutricionista, além de uma programação que afasta a alcunha de casa de repouso com atividades que vão de boliche a “zumba sênior”.
ALMOÇO COLETIVO Locais contam com acompanhamento nutricional e outros serviços na área da saúde (Crédito:Gabriel Reis)
Chamadas de instituições de longa permanência para idosos, os residenciais voltados para a terceira idade tentam quebrar a imagem estigmatizada dos asilos ao criarem um híbrido de condomínio com centro de convivência. O Cora Residencial, com sete unidades na capital paulista, é um deles. Os valores mensais ficam em uma média de R$ 7,5 mil dependendo do tipo de quarto, que pode ser individual, duplo ou triplo, e do tratamento. O modelo existe em diferentes cidades brasileiras e é inspirado em empreendimentos que são praxe em outros países, como Estados Unidos, Canadá e Inglaterra (leia mais no quadro ao lado), onde a população idosa cresce gradativamente. Assim como no Brasil, cuja taxa da população com mais de 60 anos foi de 9,8% para 14,3% de 2005 a 2015. Na verdade, aqui o aumento é mais rápido do que em países desenvolvidos e chegará a 35% em 2070, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Médico geriatra e especialista em doenças cognitivas do envelhecimento, Rodrigo César Schiocchet da Costa afirma que a depressão, doença de grande incidência entre idosos, pode atingir níveis mais altos entre pessoas que vivem em instituições de longa permanência. “Os estudos que mostram isso focam em asilos tradicionais, com perfis diferentes dos residenciais para idosos”, afirma. A ideia desses novos centros, segundo Costa, é benéfica no sentido de estimular o desenvolvimento cognitivo, o
CARINHO Ana Maria Benavente, 80 anos: opção de viver em condomínio para idosos não significa abandono da família. “Meu filho me adora e me visita regularmente” (Crédito:GABRIEL REIS)
convívio social e a qualidade de vida geral. Com isso, evita-se quadros depressivos, que podem ser fator para uma série de outras doenças na terceira idade. “Desde a alimentação à atividade física, tudo deve ser pensado para a saúde física e mental.” Segundo a mais recente Pesquisa Nacional de Saúde do IBGE, divulgada em 2014, a faixa etária entre 60 e 64 anos é a maior entre todos os brasileiros diagnosticados com depressão: 11% do total.
Amor da família

Bem resolvida com sua escolha de moradia, Ana Maria Benavente, 80 anos, não titubeia ao afirmar que viver em uma casa geriátrica nada tem a ver com abandono familiar. “Meu filho me visita regularmente, ele me adora”, diz, rindo. Morando sozinha até sete meses atrás, um dia levantou da cama e caiu. Foi quando achou que valeria tentar o residencial para sua faixa etária. “Gosto daqui”, diz ela, cabelos loiros e sobrancelhas desenhadas com lápis. “Mas prefiro morar sozinha, gostava mais da minha casa, do meu lugar.” Por enquanto, porém, o plano é continuar vivendo no residencial. “Fui pintora, tinha um ateliê, e posso fazer isso aqui. Hoje mesmo tem aula de teatro, estou animada.” Para Costa, o tabu sobre casas para idosos vem sendo quebrado com as novas instituições, mas ainda é visto com ressalvas, principalmente pela família. Aos poucos, os asilos deixam de ser relacionados a abandono e passam a funcionar como centros de lazer e de cuidados. Um lugar melhor tanto para hóspedes quanto para familiares.
Vilas nasceram na Flórida
Gabriel Reis
Na ânsia de ter um espaço de alto padrão para aposentados, os americanos criaram não um condomínio, mas toda uma vila para pessoas com mais de 55 anos. Fundada em 1972, The Villages é hoje uma cidade com 120 mil habitantes. Em 2000, eram apenas 8.300. É também um forte reduto republicano, com apoio declarado a Donald Trump. A média de preço de uma casa vai de R$ 800 mil a R$ 3 milhões. O custo mensal, que inclui manutenção de piscinas, quadras de tênis e campos de golfe, além de atividades recreativas e serviços básicos como água e TV a cabo, é de R$ 3 mil. O empreendimento é um dos pioneiros no mundo no setor de moradias para idosos que dispõem de serviços variados e se afastam da ideia de asilo. Hoje há vários outros modelos parecidos ao redor do mundo. Em Londres, o Battersea Place conta com uma ala de enfermagem de luxo. Na Nova Zelândia, uma casa na vila Settlers Albany sai por R$ 4 milhões. Na Holanda, a vila de Hogeweyk foi projetada para idosos com demência e Alzheimer e tem uma estrutura específica para ajudar os moradores.

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Prevenção pode diminuir em 90% casos de cegueira

A conscientização é essencial no tratamento de doenças oculares, ocasionadas por outras enfermidades
O encontro, considerado um dos três maiores relacionados à oftalmologia em todo o mundo, prossegue até este sábado, no Centro de Eventos do Ceará ( JL Rosa )
por Patrício Lima - Repórter
Prevenção. Essa é a palavra de ordem para evitar o aumento do número de casos de cegueira no Brasil, durante o 61º Congresso Brasileiro de Oftalmologia - CBO 2017, realizado em Fortaleza de 6 a 9 de setembro, no Centro de Eventos do Ceará. Em dados divulgados no evento, cerca de 90% dos casos de cegueira em pessoas com diabetes, por exemplo, poderiam ser revertidos, com exames preventivos. No encontro, também foram discutidos outros temas em painéis, simpósios, cursos e entrevistas.
Para Silvana Vianello, médica oftalmologista de Juiz de Fora (MG), os cuidados nos procedimentos relacionados ao tratamento de cegueira têm evoluído nos últimos anos; porém, a atenção e a conscientização dos pacientes são essenciais para a diminuição dos casos. Outro assunto na pauta do Congresso foi a utilização do injeções intravitreas, que são injeções aplicadas diretamente no olho durante o tratamento da cegueira, ocasionada principalmente por diabetes, hipertensão e degeneração macular, que é o envelhecimento da retina, ocasionada em pessoas de mais idade.
Recomendações
"Dentro do evento, definimos algumas recomendações para médicos oftalmologistas que lidam com casos mais delicados de cegueira. Entre elas, a necessidade do tratamento em centro cirúrgico, acompanhamento pós procedimento. A única forma de evitar é prevenção. A educação física e nutricional é de suma importância também para impedir esses problemas", destaca.
Outro ponto discutido durante a programação foi a importância da manutenção da segurança da saúde ocular dos pacientes. "Em alguns centros, os médicos não têm a mínima condição necessária para realizar procedimentos delicados. Faltam recursos financeiros e temos que cobrar isso do poder de público. O Ceará é um bom exemplo dessa eficiência. Vocês têm aqui uma oftalmologia de ponta. A fila de transplante de córnea aqui é muito rápida. Nem todos os estados conseguem esses feitos", afirma Maurício Maia, oftalmologista e professor da Universidade Federal de São Paulo.
Já o médico oftalmologista André Jucá Machado, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), destaca que o Estado tem um bom nível de condição estrutural e profissional para atendimento de doenças relacionada aos olhos. "Temos um excelente nível. Estamos muito perto de tudo que acontece no Brasil e exterior. É um grande orgulho recebemos um evento desse porte, com os melhores profissionais do Brasil e do mundo", aponta André Jucá.
Público
Considerado um dos três maiores da área no mundo, o Congresso se realiza no Centro de Eventos do Ceará e contempla temas atuais relacionados às diversas subespecialidades. A expectativa é receber 5 mil profissionais até o próximo sábado, último dia de realização.
Discussões sobre os últimos avanços nas áreas de retina, glaucoma, tumores, catarata e lentes intra-oculares são destaques do CBO 2017, que tem participação de dois médicos brasileiros atuantes em universidades dos Estados Unidos (EUA). São eles a Dra Zélia Correia, uma das principais especialistas em tumores intra-oculares na atualidade e professora da Universidade de Cincinnati (Ohio); e o Dr Felipe Medeiros, professor da Universidade da Califórnia em San Diego (Califórnia) e um dos principais especialistas em glaucoma do mundo.
Para o médico David Lucena, presidente do Congresso, "contar com a presença de médicos oftalmologistas de todos os níveis de prática é importante para uma rica troca de experiências e exposição de trabalhos científicos, além de unir a classe médica em torno de uma programação social e técnica".

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

A redenção da gordura

Um novo conjunto de estudos mostra que o consumo de ovos, laticínios e carnes não faz tão mal quanto se imaginava. E os médicos já começam a recomendá-lo, desde que seja com moderação


Duas novidades recentes pavimentam um caminho que parece sem volta em direção à redenção da gordura. Durante décadas, o nutriente, encontrado em queijos, ovos e óleos, por exemplo, foi demonizado por boa parte da ciência, médicos e nutricionistas. Seu consumo estava associado ao aumento do risco de morte, especialmente as provocadas pelo infarto e acidente vascular cerebral. Por via das dúvidas, era desaconselhado. Mas um conjunto cada vez mais robusto de evidências científicas mostra que a verdade aproxima-se do contrário. Incluir mais gordura no cardápio pode levar a uma vida longeva e saudável.
Na semana passada, a apresentação dos resultados de uma pesquisa sobre o assunto fortaleceu a teoria. Coordenado por cientistas da McMaster University, no Canadá, e publicado na periódico acadêmico The Lancet, o estudo revelou que quem ingere mais gordura e menos carboidrato tem risco menor de morte. É um dos maiores levantamentos na área. Foram seguidos cerca de 135 mil pacientes, de dezoito países, acompanhados por mais de sete anos. Nesse período, os indivíduos adeptos de dietas nas quais 35% das calorias ingeridas diariamente advinham de gordura manifestavam chance menor de morrer em comparação a aqueles em cujos cardápios 60% das calorias eram obtidas de carboidratos como pães, massas e pizzas. “Esses dados contrariam as diretrizes atuais limitando a 30% o total de gordura consumido por dia”, disse à ISTOÉ Mahshid Denghan, líder do estudo. ”Sugerimos a mudança nas orientações.”
O resultado foi recebido com um misto de surpresa e inquietação. Afinal, como mostra a jornalista americana Nina Teicholz em seu livro recém-lançado no Brasil, “Gordura sem Medo”, perdura em parte do meio científico a resistência em acreditar que a ingestão de alimentos gordurosos não faz tão mal quanto se acreditava. Defensores desse conceito, entre eles o cardiologista Robert Atkins, pai da famosa Dieta Atkins, penou entre seus pares por conta do preconceito em relação à proposta.
Nina, que também estudou biologia, pontua no livro as principais conclusões que inocentam a gordura – seu consumo moderado, registre-se. “Os primeiros estudos que condenaram a gordura saturada foram malfeitos; os dados epidemiológicos não evidenciam nenhum correlação negativa; o efeito da gordura saturada sobre o colesterol LDL (o ruim) é neutro; e um número significativo de estudos clínicos feitos nos últimos dez anos demonstra a ausência de quaisquer efeitos negativos da gordura saturada sobre as cardiopatias, a obesidade e a diabetes”, escreve. Entre os tipos de gordura, a saturada – presente em ovos e laticínios – era considerada a mais nociva.
CARDÁPIO Mahsid (no centro), do Canadá, defende mudança na quantidade ingerida do nutriente (Crédito:Divulgação)
PICO DE INSULINA

Uma das explicações para conclusões como essas é a de que, como apontam investigações recentes, a insistência em reduzir o consumo de gordura faz com que as pessoas aumentem a ingestão de carboidratos, esses sim envolvidos no desencadeamento de doenças cardiovasculares e distúrbios metabólicos que podem levar, por exemplo, à diabetes. “O alto consumo de carboidratos obriga a maior produção de insulina”, explica o médico Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia. Fabricado no pâncreas, o hormônio permite a entrada, nas células, da glicose circulante no sangue. Se deixar de ser produzido ou não funcionar adequadamente, o açúcar se acumula na corrente sanguínea, caracterizando a diabetes. “O problema é que, se for muito exigido, o pâncreas pode cansar”, diz. Massas, pães e doces também engordam, enquanto a gordura poderia ter o efeito contrário. “Ela eleva a saciedade”, afirma Rodrigo Polesso, especialista em nutrição. Na fórmula de Mahshid Denghan, do Canadá, o ideal é equilibrar as proporções de consumo dos nutrientes. “É o melhor a fazer.”

terça-feira, 5 de setembro de 2017

Cirurgia plástica com inovação no SUS

Pós-bariátrica no Hospital do Andaraí reúne procedimentos em uma operação

Rio - Desenvolvida no Hospital Federal do Andaraí (HFA), técnica inovadora de cirurgia plástica pós-bariátrica já beneficiou mais de 700 pessoas no mundo. O método permite remodelar várias partes do corpo simultaneamente, retirando de abdômen, peito, braços, coxas e costas todo o excesso de pele resultante do processo de emagrecimento. Cada procedimento é feito em uma operação diferente.
Carlos Roxo, chefe do setor de cirurgia plástica do Hospital Federal do Andaraí, é o criador da técnica inovadora de cirurgia pós-bariátrica Divulgação
Principal responsável pela inovação, o cirurgião plástico Carlos Roxo, chefe do Serviço de Cirurgia Plástica do HFA, trabalha no aprimoramento da técnica desde 2000. "Transformamos uma cirurgia complexa em algo mais simples e seguro, com ganhos estéticos melhores. Temos possibilidade de mais simetria e de colocar as cicatrizes em lugares escondidos", diz o médico, que apresentará sua criação em países como Líbano, Grécia, China e Inglaterra nos próximos meses.
A retirada do excesso de pele após a cirurgia bariátrica melhora aparência e qualidade de vida. Dobras exageradas provocam dificuldade ao andar e mais sudorese do que o habitual, elevando o risco de assaduras, micoses e proliferação de odores. Além disso, podem atrapalhar a micção e as relações sexuais. Para ser operado, é preciso obter encaminhamento para o HFA via Sistema Nacional de Regulação (Sisreg).
Reportagem de Camilla Muniz

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Surpresas para o câncer

Remédio que combate inflamação e terapia genética são as duas novas armas contra a doença

Surpresas para o câncer
A redução da inflamação diminui o risco de doença cardíaca. No domingo 27, no Congresso Europeu de Cardiologia, a constatação foi confirmada e trouxe implicações maiores: inibir processos inflamatórios pode derrubar também a incidência e a mortalidade por câncer de pulmão. O estudo Cantos, comandado por Paul M. Ridker, diretor de Centro de Prevenção de Doenças Cardiovasculares no Brigham and Women’s Hospital, em Boston (EUA), e Peter Libby, especialista em medicina cardiovascular do mesmo hospital, mostrou que a administração do anti-inflamatório canakinumabe em pacientes com taxas de colesterol moderadas, que tiveram anteriormente um ataque cardíaco e apresentavam elevados níveis de proteína C reativa, um marcador de inflamação, diminuiu em 15% o risco de um novo evento como o infarto e o acidente vascular cerebral e a chance de morte.
PROMESSA Ridker (à esq.) e Libby lideraram estudos sobre a droga. Estão animados (Crédito:Divulgação)
O estudo revelou ainda que o remédio reduziu em 77% as taxas de mortalidade por câncer, especialmente o de pulmão, assim como sua incidência (67%). Isso sugere que a mesma via inflamatória que é um fator de risco para doenças cardíacas também pode iniciar ou estimular o crescimento de tumores. “Os dados são emocionantes porque apontam para a possibilidade de retardar a progressão de certos tipos de câncer”, disse Ridker à ISTOÉ. Para Libby, o resultado abre uma nova porta no tratamento dessa doença. “É um resultado preliminar que tem que ser estudado mais profundamente, mas é uma nova era anti-inflamatória que pode ser muito eficaz.”
A outra boa novidade foi a liberação para a venda, pelo órgão regulador americano FDA, da primeira terapia genética contra o câncer. Conhecida como CAR-T, ela consiste na alteração de células do próprio paciente para que identifiquem e combatam com maior eficácia as células tumorais. “É uma nova fronteira na luta contra a doença”, disse Scott Gottlieb, diretor da FDA.
DUAS DOENÇAS, O MESMO ALVO
Como age o medicamento

• Ele reduz a inflamação
• Hoje se sabe que o processo está envolvido  em várias patologias, entre elas a depressão,  ou eventos como o infarto
• Estudos indicam que está relacionado  também ao câncer, em especial o de pulmão
• Por isso, a pesquisa sobre a droga  gerou a hipótese de que o tratamento  e a redução da inflamação pode reduzir  a incidência e a mortalidade desse tipo  de tumor

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Cigarro aumenta em três vezes o risco de câncer na bexiga

Pesquisa divulgada no Dia Nacional de Combate ao Fumo aponta o tabagismo como responsável por 65% dos casos desse tumor em homens e 25% em mulheres

Ninguém duvida que o cigarro faz mal à saúde – e um estudo realizado durante os últimos 12 meses traz mais um argumento para sustentar essa afirmação. Segundo o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), o tabagismo está relacionado a um risco três vezes maior de desenvolver câncer de bexiga.
Feita com pacientes atendidos pela equipe de urologia dessa instituição, a pesquisa demonstra um elo entre o cigarro e 65% dos casos desse tipo de tumor em homens, e 25% nas mulheres. O hábito é o maior fator de risco para essa versão da doença.
Apesar de o pulmão ser visto como a principal vítima do tabagismo, a bexiga também é fortemente afetada pelas substâncias químicas — muitas delas carcinogênicas — do cigarro. Depois de inaladas, elas entram na corrente sanguínea e são filtradas pelos rins. E, lá adiante, na bexiga, a urina ainda contém componentes do cigarro, o que pode danificar células da região.
Verdade que o câncer nesse órgão não é tão comum. Em contrapartida, tem uma taxa de mortalidade bastante alta — seis vezes maior do que a do tumor mais comum entre os homens, o de próstata. Dentre os voluntários analisados na pesquisa do Icesp, por exemplo, 30% já estavam com esse mal em estágio avançado, sendo necessária a retirada completa do órgão.
Os principais sintomas da doença envolvem, além de sangue e espuma na urina, dor e dificuldade para fazer xixi. Infecções urinárias frequentes também acusam o problema. E vale lembrar: mesmo que não indiquem um tumor, esses sinais podem levar à descoberta de outras chateações do trato urinário – portanto, sempre merecem atenção.
Fora o tabaco, o levantamento do Icesp aponta tinturas de cabelo e tintas em geral, tecidos, borracha e petróleo entre as substâncias de risco para o câncer na bexiga. Para quem trabalha com esses tipo de composto, o instituto alerta: use equipamentos de proteção, como luvas e máscaras.