segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Ceará conclui o ano com recorde de transplantes

Até 28 de dezembro de 2012, foram realizados, no Ceará, o número de 1.217 transplantes de órgãos e tecidos
O Ceará termina o ano de 2012 com uma boa notícia: o número de transplantes de rim e medula óssea no Estado registrou um novo recorde. O índice de transplantes de rim atingiu a marca de 282. A quantidade é 26 a mais do que o ano de 2011, quando foram registrados 256.

O número de transplantes de rim atingiu a marca de 282. A quantidade é 26 a mais do que o ano de 2011, quando foi registrado um total de 256. Os transplantes de medula óssea, neste ano, chegaram a 26 FOTO: MARÍLIA CAMELO


Os transplantes de medula óssea, neste ano, chegaram a 26. Em 2011, ocorreram 17. Até 28 de dezembro de 2012, foram realizados 1.217 transplantes de órgãos e tecidos. Os dados são da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa).

Quanto aos transplantes de coração, os dados também são animadores. Durante 2012, até o momento, foram realizados 28 transplantes de coração, três a mais do que 2011, quando o número foi de 25. Em 2010, os transplantes do órgão chegaram a 16, já no ano de 2009, o total foi de 15. Além dos transplantes de medula óssea e coração, ocorreram, no Ceará, dez de rim/pâncreas, 158 de fígado, quatro de pulmão, 15 de valva cardíaca, 680 de córnea um de pâncreas isolado, dois de pâncreas pós-rim e 11 de esclera.

Os índices são responsáveis por posicionar o Ceará, ainda no primeiro semestre deste ano, como o segundo Estado com maior número de doadores efetivos de órgãos e tecidos do País. São 140 doadores efetivos de órgãos e tecidos para transplantes no Estado registrados até o mês de setembro deste ano. Por milhão da população (pmp), o Ceará teve 22,1 doadores efetivos.

A primeira posição ficou com Santa Catarina, que teve 25,6 doadores efetivos por milhão da população, ou seja, 120 doadores em número absoluto. Em terceiro lugar, aparecem o Distrito Federal, com 20,8 doadores efetivos pmp, depois, São Paulo, com 19,1. Os dados são do Registro Brasileiro de Transplantes (RBT), divulgado pela Associação Brasileira de Transplante de Órgãos e Tecidos (ABTO).

Desde 2007, o Ceará bate recordes. Naquele ano, foram realizadas 654 cirurgias, contra as 446 do ano anterior. Em 2008, a marca passou dos 742. Em 2009, no total, 760 procedimentos foram feitos e, em 2010, 872. Já 2011, fechou o ano com um total de 1.297 transplantes.

Doe de Coração
Com a intenção de contribuir para a conscientização da doação voluntária de órgãos no Ceará, a Campanha Doe de Coração, há dez anos, vem realizando iniciativas que têm levado esperança e alegria a milhares de pessoas.

A campanha é promovida pela Fundação Edson Queiroz com o apoio do Sistema Verdes Mares e parceria da Universidade de Fortaleza (Unifor). Em 2008, a Doe de Coração foi reconhecida nacionalmente pela Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) recebendo o prêmio Amigo do Doador concedido à Fundação Edson Queiroz.

Estado visa ampliar doações
O secretário da Saúde do Estado do Ceará, Arruda Bastos, adiantou que para 2013, a expectativa é ampliar o número de transplantes com a inauguração do Hospital Regional do Norte, em Sobral, o que deverá contribuir para realização de transplantes e captação de órgãos. "É fundamental que continue se ampliando as doações. Temos equipes e hospitais para realizar ainda mais transplantes".

O gestor atribui o bom desempenho do transplante de rim e medula óssea à reestruturação pela qual passou a Central de Transplantes do Ceará, com a contratação de médicos e enfermeiros, aquisição de novos equipamentos e à capacitação das equipes que trabalham nos hospitais abordando os familiares dos possíveis doadores.

Acrescenta que houve uma maior sensibilização da população, através de ações do governo estadual, municipal e de instituições privadas, a exemplo da campanha Doe de Coração, promovida pela Fundação Edson Queiroz. Além disso, cita que o Estado ampliou também as unidades hospitalares, como o Hospital do Cariri, que capta órgãos.

Para salvar vidas através da doação, basta que a família do possível doador esteja ciente da vontade da pessoa.

LÍVIA LOPES/ LUANA LIMAREPÓRTERES

domingo, 30 de dezembro de 2012

Hospitais terão vacina contra vício de cocaína em até 3 anos, prevê médico

Injeção tem função terapêutica e não previne vício, mas ajuda a tratá-lo.
Método também vai servir contra crack, diz pesquisador.

Rafael Sampaio Do G1, em São Paulo
Cocaína apreendida (Foto: Claudio Oliveira/EPTV)
Cocaína em processo de refino era secada com uso de holofotes em Ribeirão  (Foto: Claudio Oliveira/EPTV) Uma vacina contra o vício em cocaína deve estar pronta para ser usada em hospitais em até três anos, disse em entrevista ao G1 um dos principais pesquisadores do projeto para desenvolver o produto nos Estados Unidos, o professor de psiquiatria da Universidade Baylor de Medicina, Thomas Kosten.
O tratamento tem função terapêutica e não "previne" o vício, mas fortalece o sistema imunológico do dependente e ajuda a combater o uso da droga, segundo o médico. "Ela [a vacina] ajuda a produzir anticorpos específicos contra a cocaína", ressalta.
O princípio da vacina é o de vincular uma quantidade bem pequena da droga a uma proteína inofensiva. A substância resultante da combinação, ao ser injetada no organismo do viciado, faz com que seu sistema imunológico produza anticorpos contra a cocaína e a proteína, ressalta Kosten.
"Estes anticorpos 'seguram' a cocaína no sangue e evitam que ela chegue ao cérebro, prevenindo efeitos da droga, como euforia", afirmou o médico.
Os testes, até agora, indicaram que 40% dos vacinados tiveram redução no uso da cocaína. Após receber as aprovações necessárias do governo dos EUA, a vacina deve estar disponível também em farmácias, diz Kosten.
Contra o crack
A vacina também vai servir contra o vício em crack. O tratamento exige cinco rodadas de injeções ao longo de 12 semanas, para que sejam produzidos anticorpos em nível adequado. Após isso, é necessária uma nova aplicação a cada três meses, para fortalecer o sistema imunológico do dependente.
"Não há, até agora, efeitos colaterais ou riscos significativos observados", diz Kosten. Ele ressalta que a vacina pode, em teoria, ser usada por mulheres grávidas, "mas não há planos de testar neste segmento da população".
Recaídas
A injeção pode servir para evitar recaídas em viciados sob tratamento, entre outras funções, afirma o médico. "Um novo estudo nacional para medir a eficácia da vacina acabou de ser finalizado, e os resultados devem ser liberados na primavera de 2013 [entre março e abril, segundo as estações do ano nos EUA]."
A vacina é um "bloqueador", então seu uso deve evitar overdoses de cocaína, ressalta Kosten. Além das injeções, ele aponta que é importante que os viciados passem por terapia com psicólogos e tratamentos auxiliares, para se recuperar totalmente.
"É preciso pelo menos mais um teste clínico antes que o tratamento possa ser analisado pela FDA [agência de controle de medicamentos dos EUA], para distribuição no país", pondera o médico.
Outras injeções
Kosten diz estar pesquisando injeções para tratar outros tipos de vício em drogas. Entre as substâncias cujo vício pode ser combatido estão a morfina e a metanfetamina. "As vacinas estão sendo testadas em animais. No caso da metanfetamina, talvez em dois anos nós consigamos testar em humanos", diz o médico.
Os primeiros testes de vacinas contra drogas realizados em humanos ocorreram em 1996, e o primeiro estudo clínico do tratamento contra cocaína foi em 2009, de acordo com Kosten.

sábado, 29 de dezembro de 2012

Pesquisadores desenvolvem 'atlas' do sistema imunológico

Análise de diferentes tecidos humanos permitiu mapear os linfócitos T, principais células de defesa do organismo

Linfócito T
Linfócito T: principal célula de defesa do organismo, também denominada célula T (Thinkstock)
Pesquisadores da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, criaram o primeiro 'atlas' das células do sistema imunológico do corpo humano, descrevendo a função e distribuição dos linfócitos T em pessoas saudáveis. Essas descobertas podem impactar no desenvolvimento de novas vacinas e imunoterapias (tratamentos para câncer que promovem a estimulação do sistema imunológico). O estudo foi publicado online na edição deste mês do periódico Immunity.

CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Distribution and Compartmentalization of Human Circulating and Tissue-Resident Memory T Cell Subsets

Onde foi divulgada: periódico Immunity

Quem fez: Taheri Sathaliyawala, Masaru Kubota, Naomi Yudanin, Damian Turner, Philip Camp, Joseph J.C. Thome, Kara L. Bickham, Harvey Lerner, Michael Goldstein, Megan Sykes, Tomoaki Kato e Donna L. Farber

Instituição: Universidade de Columbia, nos Estados Unidos

Resultado: Através da análise de tecidos de 24 indivíduos saudáveis, doadores de órgãos, os pesquisadores observaram que os linfócitos T presentes na corrente sanguínea são diferentes daqueles encontrados nos tecidos. Além disso, cada tecido apresenta uma combinação específica dos diversos tipos dessa célula.
Os linfócitos T, também chamados de células T, são células do sangue e principais responsáveis pela defesa do organismo. Existem diversos subtipos dessas células, que protegem o organismo contra doenças, agentes patológicos e corpos estranhos.
Para estudar as células T, os pesquisadores utilizaram amostras de tecido humano, obtidas a partir de 24 indivíduos doadores de órgãos. As amostras foram recolhidas do baço, pulmão e intestinos. Os doadores tinham entre 15 e 60 anos e não apresentavam doenças crônicas ou imunológicas. O uso de tecidos humanos nesse estudo é um fator importante, pois a maior parte dos conhecimentos sobre células T humanas até o momento vinha de estudos realizados com o sangue, por ser mais fácil de obter amostras.
Mapeamento — Os pesquisadores descobriram através dessa análise que cada tecido apresenta uma certa quantidade de células T e uma proporção específica dos diferentes tipos dessa célula compondo um todo, que se manteve muito simular em todos os doadores, apesar das diferenças de idade e estilo de vida. Além disso, eles observaram que as células T presentes nos tecidos não são iguais àquelas que circulam no sangue.
De acordo com os autores do estudo, esse conhecimento sobre o sistema imunológico de indivíduos saudáveis pode ser utilizado para melhorar o entendimento de como cada tecido responde a doenças, podendo ajudar na confecção de vacinas. "Para fazer vacinas melhores, pode ser necessário gerar uma resposta das células T no local da infecção, não na circulação de modo geral", afirma Donna Farber, integrante do grupo de pesquisadores. Para isso, os autores afirmam que o próximo passo da pesquisa é descobrir quais são os tipos de células T presentes nos tecidos e sua função específica.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Os outros danos da hipertensão

Pesquisa revela que mesmo pressões limítrofes, logo acima de 120 por 80 milímetros de mércurio, podem afetar a chamada “substância branca” do cérebro
Mariana Scoz
Além do acidente vascular cerebral (AVC), o aumento da hipertensão arterial pode causar outros danos ao cérebro. Estudos recentes mostram que o efeito pode ser ainda mais silencioso e mostrar sinais em longo prazo. Uma pesquisa da Universidade da Califórnia, publicada na revista Lancet Neurology, descobriu que mesmo pressões limítrofes, logo acima de 120 por 80 milímetros de mércurio (mmHG), afetam a chamada “substância branca” do cérebro e causam demência vascular.
A neurologista e professora da Universidade Federal do Paraná Viviane Flumignan Zétola explica que os médicos passaram a prestar atenção nessa porção desconhecida do cérebro somente com o avanço da tecnologia. “A ressonância magnética começou a detectar lesões na substância branca em pacientes que não tinham os fatores de risco clássicos, mas apresentavam uma limitação cognitiva”, diz.
A hipertensão é um dos fatores ligados a esses danos cerebrais, que não são exclusividade de idosos. “Por exemplo, pacientes com enxaqueca também podem apresentar lesões na chamada ‘white matter’, mas não se sabe se isso é um sinal ou uma consequência desta condição, o que ainda desafia os neurologistas”, explica.
Estreitamento
Por muito tempo, as pessoas acreditavam que uma pressão de até 140 por 90 mmHg era considerada normal, mas novas pesquisas revelam que esses valores já são preocupantes. O cardiologista da Unidade de Hipertensão do Instituto do Coração da Universidade de São Paulo (USP) Dante Giorgi afirma que a cada 20 mmHg além de 115 na pressão máxima dobra o risco da pessoa ter um enfarte ou derrame. “Entre 112 e 135, a frequência ainda é baixa, mas, a partir de 140 por 90, já é recomendado o tratamento”, diz.
As principais doenças estão relacionadas ao estreitamento dos vasos. O rim, por ser muito vascularizado, sofre diversas consequências. “As alterações da função renal também são reflexos, podendo levar à insuficiência renal no decorrer dos anos, mas sempre de forma silenciosa”, diz o cardiologista do Hospital Costantini Everton Dombeck.
A visão também é afetada, explica o nefrologista e professor da UFPR Rogério Andrade Mulinari. “As artérias do fundo do olho são bastante similares às do cérebro e coração. Além disso, podem ocorrer alterações vasculares nos membros inferiores”, afirma. Os médicos concordam que é necessário aferir a pressão com certa frequência, variando de três meses a um ano, dependendo dos fatores de risco. Segundo os especialistas, uma boa atitude é adquirir aparelhos de medição eletrônicos, desde que eles tenham selos de aprovação de órgãos responsáveis.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Violência doméstica pode estar relacionada a distúrbios mentais

Uma pesquisa britânica mostrou que a violência doméstica aumenta as chances da vítima apresentar diferentes tipos de doenças mentais

Violência doméstica
O estudo mostrou que mulheres que sofrem de Estresse Pós-Traumático têm sete vezes mais chances de terem sido vítimas de violência doméstica (Thinkstock)
Uma pesquisa da Universidade King’s College de Londres mostrou que pessoas com distúrbios mentais têm chances maiores de ter vivido experiências de violência doméstica, em comparação à população em geral. O estudo, publicado nesta quarta-feira no periódico Plos One, é uma revisão de 41 estudos sobre o assunto realizados em diversas partes do mundo.

CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Experiences of domestic violence and mental disorders: a systematic review and meta-analysis

Onde foi divulgada: periódico Plos One

Quem fez: Kylee Trevillion, Siaˆn Oram, Gene Feder e Louise M. Howard

Instituição: Universidade King’s College de Londres

Resultado: Os resultados mostraram que mulheres com distúrbios depressivos têm chance cerca de duas vezes e meia maior de terem sofrido violência doméstica na vida adulta. Para mulheres com distúrbios de ansiedade, a chance é três vezes e meia maior e para Transtorno do Estresse Pós-Traumático, a prevalência aumentou em cerca de sete vezes.
 
Os resultados mostraram que mulheres com distúrbios depressivos têm uma chance cerca de duas vezes e meia maior de terem sofrido violência doméstica na vida adulta. Para mulheres com distúrbios de ansiedade, a chance é três vezes e meia maior e para Transtorno do Estresse Pós-Traumático, a prevalência aumentou em cerca de sete vezes.
O risco de ter sofrido violência doméstica também é maior em mulheres com outras doenças relacionadas à saúde mental, como Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), transtornos alimentares e outros distúrbios mentais comuns, como esquizofrenia e transtorno bipolar.
O estudo também encontrou relação entre homens com distúrbios mentais e o risco mais elevado de violência doméstica, mas a prevalência desse tipo de agressão é considerada mais alta e mais intensa em mulheres.
Possibilidades — A conclusão do estudo, porém, não é uma relação de causa e consequência. "Nesse estudo, nós descobrimos que tanto homens quanto mulheres com problemas de saúde mental apresentam um risco maior de sofrer violência doméstica. Evidências sugerem que duas coisas estão ocorrendo: a violência doméstica pode fazer com que as vítimas desenvolvam problemas de saúde mental, e pessoas com problemas de saúde mental são mais propensas a sofrer violência doméstica", afirma Louise Howard, um dos autores do estudo. Para ele, esses dados são importantes para que os profissionais da área de saúde mental fiquem atentos à possibilidade de seus pacientes serem vítimas de violência doméstica.
No Brasil, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2009, quatro em cada dez mulheres (43%) já foram vítimas de violência doméstica. Entre os homens, esse porcentual é de 12,3%.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O que é RPG


Fisioterapeuta e paciente (foto: Keith Brofsky/Getty Images)
Até hoje muitos se perguntam o que é e para que serve a RPG, ou Reeducação Postural Global, método desenvolvido em 1981 pelo fisioterapeuta francês Philippe Emmanuel Souchard. A técnica, que chegou ao Brasil em meados dos anos 90, tem como principal objetivo atuar na causa do problema – e não apenas nos sintomas. O tratamento visa, portanto, cuidar do corpo como um todo e não somente da região em que esta localizada a dor. A visão é global: alongar, equilibrar, tonificar e reeducar as cadeias musculares seja para tratar ou prevenir lesões.
A RPG pode ser utilizado não apenas como terapia, mas também com funções estéticas, para melhorar a postura, e até como aliado no desempenho do exercício físico. O método é muito indicado para atletas, pois proporciona melhora da conscientização corporal, o que auxilia no treino e na prática de esportes, evitando lesões e minimizando as consequências da sobrecarga provocada pela atividade física.
As sessões geralmente são individualizadas e têm duração entre 30 e 60 minutos. Alguns problemas bastante comuns podem apresentar melhora com a prática da RPG: lombalgias, cervicalgias, dores de cabeça/ enxaqueca, alterações posturais como escoliose, hiperlordose e hipercifose, problemas reumatológicos, quadros inflamatórios como bursites e tendinites.
Em geral os pacientes que recebem esse tratamento ficam bastante satisfeitos, pois conseguem realmente eliminar o foco do problema. O resultado é positivo porque o paciente melhora sua percepção corporal – o que colabora para que outras lesões possam ser evitadas.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Busca por acupuntura no SUS cresce 429% em cinco anos

Até setembro deste ano, rede pública realizou mais de 500.000 sessões em todo o país, sendo a maioria feita em unidades básicas de saúde

Lombalgia: pacientes que acrescentaram a acupuntura ao tratamento tiveram um melhor resultado na redução das dores
Procura por acupuntura no SUS cresce mais do que 400% em cinco anos (Thinkstock)
O número de procedimentos de acupuntura realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em todo o país cresceu 429% em cinco anos. Em 2007, foram feitas 97.274 sessões, enquanto que neste ano, até setembro, foram 514.659 — incluindo as realizadas com agulhas, ventosas ou por eletroestimulação. As aplicações de acupuntura feitas exclusivamente com agulhas somam mais da metade dos casos de 2012: 369.320, apontou um levantamento do Ministério da Saúde.

Saiba mais

ACUPUNTURA
A acupuntura faz parte da medicina tradicional chinesa, sistema que busca prevenir e tratar doenças por meio de um conjunto de práticas que inclui fitoterapia, exercícios físicos e alimentação adequada. Acredita-se que, ao introduzir as agulhas (muitas vezes com baixas correntes elétricas que as aquecem) em pontos especificos, o fluxo do qi (força vital) é desbloqueado, retomando o equilíbrio entre o yin e yang (forças opostas que se manifestam no corpo pelos extremos, calor e frio, excesso e deficiência). Estudos já provaram que a acupuntura alivia dores e sintomas como náuseas e vômitos. Ela age interrompendo a percepção de dor enviada ao sistema nervoso central e liberando 'analgésicos naturais' na corrente sanguínea .
Ainda segundo os dados, no estado de São Paulo, por exemplo, foram 39.631 atendimentos na rede pública em 2007. Neste ano, até o mês de setembro, esse número foi de 219.988 atendimentos — um aumento de 455%.
Técnica — O acesso às sessões de acupuntura é oferecido principalmente nas unidades básicas de saúde, que são responsáveis por 70% dos atendimentos, seguido por 25% dos atendimentos feitos nas unidades especializadas (ambulatórios específicos) e 5%, nos hospitais (nos cuidados paliativos). As principais indicações da técnica são alívio da dor crônica — como hérnias de disco, artrites e enxaquecas —, melhora da função respiratória, insônia, ansiedade, depressão e redução dos sintomas como dormência e enjoos em pacientes com câncer.
Investimento — Em 2011, o Ministério da Saúde destinou 5,6 milhões de reais para os procedimentos de acupuntura, incluindo as consultas, realizados nos 678 estabelecimentos que prestam o serviço pela rede pública. Neste ano, até agosto, já foram repassados quatro milhões de reais.
Apesar de a prática da acupuntura já ser reconhecida pelo SUS desde 1988, o salto nos atendimentos é atribuído à implementação da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), em 2006. A medida, que tem como objetivo a prevenção, promoção e recuperação da saúde passou a oferecer à população o acesso às terapias não convencionais, o que inclui acupuntura, práticas corporais (como lian gong e tai chi chuan), homeopatia, fitoterápicos e plantas medicinais.


Acupuntura no Brasil

Final do século 19 A acupuntura chega junto com a imigração japonesa. Os imigrantes trouxeram agulhas apropriadas e livros que ensinavam a técnica, e, sem o domínio necessário da língua portuguesa, se fiavam nas habilidades dos acupunturistas para tratar diversos problemas de saúde.
Década de 1950 Com a urbanização do Brasil, os japoneses que viviam no campo se mudam e a prática chega às cidades.
Década de 1960 Os médicos brasileiros passam a se interessar pela técnica, mas percebem que é preciso buscar mais informações sobre a prática.
1973 A médica fisiatra Dra. Satiko Imamura introduz a eletro-acupuntura Ryodoraku na Divisão de Medicina Física do Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC-FMUSP).
1992 A Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), cria, dentro do Departamento de Ortopedia e Traumatologia, o Setor de Medicina Chinesa, que oferece vários cursos de acupuntura voltados para os médicos, inclusive de pós-graduação.
1995 O Conselho Federal de Medicina (CFM) reconhece a técnica como especialidade médica.
1999 A Agência Nacional de Saúde (ANS), que regulamenta os planos de saúde no Brasil, inclui a acupuntura no rol de procedimentos cobertos pelos convênios.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Médicos da USP farão autópsia virtual para entender doenças

DÉBORA MISMETTI
EDITORA-ASSISTENTE DE "CIÊNCIA+SAÚDE"
Exames de tomografia, raio-X, ultrassom e ressonância magnética em cadáveres vão ajudar a responder a questões sobre cuidados com a saúde dos vivos, de acordo com pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP.
Editoria de Arte/Folhapress
O programa de imagem na sala de autópsia envolve 17 departamentos da faculdade e deve receber US$ 10 milhões, somando recursos da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e da própria USP, além de uma parceria com um fabricante de aparelhos.
O plano é realizar autópsias virtuais em mil corpos examinados no Serviço de Verificação de Óbitos.
Paulo Saldiva, professor de patologia na Faculdade de Medicina da USP e especialista em poluição atmosférica, diz que os resultados da autópsia comum, feita com cortes e análise física dos órgãos, e a da virtual, realizada por meio de exames, serão postos lado a lado.
"A qualidade da informação fornecida pelos dois métodos será comparada."
A primeira finalidade do projeto é gerar conhecimento para ensino e pesquisa, mas há outros objetivos de médio e longo prazo.
Um deles é aumentar a adesão às autópsias. Uma família que negaria o exame invasivo pode ter mais chances de aprovar a autópsia digital.
E hospitais que hoje não realizam autópsias poderiam passar a fazer exames pós-morte não invasivos.
"Sai o bisturi para todos os casos e entra o tomógrafo e o raio-X", diz Saldiva.
O exame também pode incluir a realização de biópsias -a retirada de amostras de tecido para confirmar diagnósticos.
Outro objetivo é avaliar novas tecnologias de exame, que poderão ser testadas nos cadáveres.
Será possível saber a dose de radiação ou o campo magnético máximo que pode ser usado em uma pessoa viva.
Também pode ser avaliada a qualidade de diferentes exames para o diagnóstico de câncer de mama ou próstata, por exemplo, e estudar se a adoção de um novo equipamento vai fazer diferença no cuidado com os pacientes.
MÁQUINA NOVA
Em cerca de dois anos, o projeto da USP deve receber uma nova máquina de ressonância magnética, muito mais potente do que as presentes hoje nos hospitais.
O aparelho será usado nos cadáveres, e esses testes vão ajudar a avaliar a segurança de seu uso nos vivos.
Tornar os exames de imagem feitos para fins diagnósticos em pessoas vivas mais precisos também é uma meta do grupo a longo prazo, como explica o médico Edson Amaro Jr., professor associado do Departamento de Radiologia da Faculdade de Medicina da USP.
Uma das formas de fazer isso é usar os dados das autópsias comuns e das digitais para investigar a correlação entre as imagens e a análise dos tecidos, isto é, fazer uma ligação direta entre o que aparece no exame e o que está acontecendo no corpo.
Hoje, é comum que testes de imagem cheguem com um resultado dúbio: há uma mancha no filme, e o médico não sabe se aquilo pode ser um tumor ou não ser nada.
Como pode não ser recomendável ou mesmo viável retirar uma amostra de tecido para realizar um diagnóstico, resta ao paciente esperar e repetir o teste depois.
"Dependendo da pessoa, isso é uma fonte de angústia. Ao receber um laudo dizendo que você tem algo no seu coração, mas que os médicos não sabem o que é, o paciente não vai entender que isso é um problema de especificidade. Vai achar que tem algo grave, vai procurar no 'doutor Google' ", diz Amaro.
Testes de imagem para detecção de Alzheimer, por exemplo, podem se tornar mais precisos por meio dos estudos com cadáveres.
Para o radiologista, não há lugar melhor do que a Faculdade de Medicina para esse tipo de estudo.
"Este é o maior centro de autópsia do mundo, com cerca de 15 mil realizadas por ano."

domingo, 23 de dezembro de 2012

Caminho nem um pouco suave

Publicitário brasileiro ganha concurso de acessibilidade do Google com projeto que instala câmeras em cadeiras de rodas e mapeia as calçadas de São Paulo

Edson Franco
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VIA-CRÚCIS
Cerca de 30 cadeirantes irão percorrer as calçadas
de São Paulo e flagrar os obstáculos à mobilidade
Numa tarde de setembro deste ano, o publicitário Eduardo Battiston saiu para almoçar com a cabeça fervilhando por conta de um novo projeto. Na verdade, um concurso. O Google havia lançado o desafio: crie um sistema que use produtos da empresa e mostre como a “tecnologia e a criatividade podem mudar a vida das pessoas”. Diante do restaurante, o publicitário notou como era impossível a um cadeirante vencer sozinho aquele labirinto de rampas e degraus. Isso inspirou Battiston a criar um projeto para mapear todas as calçadas da cidade, com câmeras acopladas a cadeiras de rodas. Um Google Street View para cadeirantes. Na semana passada, foi anunciado como vencedor do concurso. Como parte do prêmio, vai levar R$ 35 mil para colocar a ideia em prática.
Em janeiro, Battiston embarca para Palo Alto, na Califónia. Ali irá se encontrar com executivos do Google para acertar os detalhes finais. No início, 30 cadeirantes da AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente) receberão o equipamento e passarão a percorrer as calçadas paulistanas. “Será um trabalho demorado. Para fazer o Street View de carro, foi preciso um ano e meio. Imagine fazer isso em cadeira de rodas e passando duas vezes pela mesma rua, pois todas têm uma calçada de cada lado”, diz Battiston. Apesar disso, ele calcula que pelo menos parte do projeto pode estar na rede logo depois do Carnaval de 2013.
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Isso porque, além do mapeamento feito por cadeirantes, o plano contempla um aplicativo para celular por meio do qual todos poderão colaborar. “Assim, qualquer pessoa poderá informar onde tem uma calçada ruim, a falta de rampa ou outros problemas de acessibilidade.” A verba recebida do Google não é suficiente para cobrir os custos de todo o projeto. Battiston corre atrás de patrocínios e empresas que forneçam equipamentos em troca de exposição. Ele diz que já tem um fornecedor de câmeras. Além disso, associações de amparo a deficientes procuraram o publicitário para conhecer e participar do projeto. “Quanto mais iniciativas como essa, melhor. Sou fã da tecnologia e acho que ela pode ajudar muito quem tem deficiência. Essa ideia é tão boa e útil quanto o GPS para cegos”, diz João Felippe, coordenador de programas especiais da Laramara – Associação Brasileira de Assistência ao Deficiente Visual.
A meta final é que o trabalho vire no futuro um botão dentro da página do Google Maps, o serviço de mapas da gigante americana de tecnologia. “Aí, será a glória”, sonha Battiston.
Fotos: MARCIO FERNANDES/AE; Divulgação

sábado, 22 de dezembro de 2012

Famílias acusam médicos do SUS de cobrar até R$ 1,4 mil por cesárea

Chico Siqueira - ESPECIAL PARA O ESTADO
Famílias vítimas de médicos que cobravam por cesárias e laqueaduras feitas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no interior de São Paulo contam que os profissionais se recusavam a fazer os procedimentos se não tivessem o pagamento em mãos. Nesta semana, o Ministério Público Federal pediu a prisão preventiva de oito médicos envolvidos no esquema.
 Chico Siqueira/Estadão
Viviane Scotto da Silva com o filho Lucca diz que médico do SUS cobrou R$ 600 pelo parto
Viviane Scotto da Silva com o filho Lucca diz que médico do SUS cobrou R$ 600 pelo parto - Chico Siqueira/EstadãoUm dos casos mais emblemáticos é o da família da diarista Marlene Oliveira Santos Lopes, de 46 anos, que não tinha R$ 1,4 mil para pagar a cesariana da filha, Edna Tatielle Lopes. O neto de Marlene, Deryc, só nasceu depois que o MPF determinou ao hospital que fizesse uma cirurgia de emergência. Após esperar durante nove dias, Edna deu à luz um bebê com paralisia cerebral e hidrocefalia.
"Ele deveria ter nascido em 20 de julho, mas só foi retirado no dia 29 – e isso porque recorremos ao MP", conta Marlene. Segundo ela, a gravidez era de risco e havia vazamento de líquido amniótico, mas mesmo assim os médicos recusaram a fazer o parto porque a família não tinha dinheiro para pagar o pacote de R$ 1,4 mil, depois reduzido para R$ 1,2 mil.
"Eles diziam que sem dinheiro não tinha cesariana", contou. Marlene tentou vender a própria casa, mas não encontrou compradores. "Queria salvar meu neto, mas ninguém tinha dinheiro nem para nos emprestar." Quando a família percebeu que não havia outro jeito, a gestante foi internada e o MP, acionado.
Mas o pior só foi descoberto mais tarde. "Os médicos diziam que o bebê estava bem. Mas depois, quando ele já tinha 1 ano, percebemos que não se sentava, não andava. Fizemos uma tomografia e apareceram os problemas." Em 2012, Edna e o marido se mudaram de Jales para São José do Rio Preto para dar um tratamento melhor para Deryc, de 3 anos. "É muito difícil passar pelo que passamos só porque somos pobres."
Pressão. Outra vítima do esquema que funcionava havia 15 anos em Jales, Urânia e Estrela D´Oeste foi a estudante Joice de Lima Pereira, de 17 anos. "Tentamos de tudo, pedimos muito ao médico, mas ele foi irredutível. Minha família fez muita pressão, e quando ele decidiu fazer a cesariana minha filha estava morta", conta Joice, com as roupinhas da filha, Isadora, sobre a cama.
Joice deu entrada no hospital em 26 de julho, mas só em 1.º de agosto os médicos fizeram o parto. "O médico e a enfermeira sabiam que minha filha já estava morta", afirma. "Eu vi quando a enfermeira disse a ele que não ouvia mais o coraçãozinho da minha filha. Eu não entendo por que eles deixaram acontecer isso comigo, não entendo." O médico que atendeu Joyce é um dos que tiveram a prisão pedida.
No caso da camareira Viviane Scotto da Silva, o pagamento de R$ 600 garantiu uma cesariana segura. "O primeiro pacote que me ofereceram era de R$ 19, mil. Depois, caiu para R$ 1 mil e mais R$ 1 mil de laqueadura. Mas eu ainda não podia pagar. No final, eles me transferiram para uma cidade vizinha e fizeram a cesariana por R$ 600. Fiquei sabendo que também receberam uma quantia do SUS", conta Viviane.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Criança que faz refeições em família come mais frutas e verduras

Segundo pesquisa, ter pais que consomem com frequência esses alimentos e morar em uma casa com grande variedade de vegetais também são fatores contribuem com boa alimentação das crianças

Alimentação
O estudo mostrou que, em média, as crianças inglesas consomem 293 gramas por dia de frutas e verduras, o que equivale a 3,7 porções (Thinkstock)
O hábito de realizar refeições junto com pais e familiares faz com que as crianças consumam mais frutas, legumes e verduras. E, quanto maior a frequência com que isso ocorre, maiores são as chances de o jovem atingir as recomendações diárias de ingestão desses alimentos. É o que mostra uma pesquisa realizada na Inglaterra e publicada nesta quarta-feira no periódico Journal of Epidemiology and Community Health. Ainda segundo o estudo, que foi feito na Universidade de Leeds, na Grã-Bretanha, outros fatores, como a dieta dos pais e a variedade de vegetais disponíveis na casa da criança, também ajudam a elevar esse consumo.

CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Family meals can help children reach their 5 A Day: a cross-sectional survey of children’s dietary intake from London primary schools

Onde foi divulgada: periódico Journal of Epidemiology and Community Health

Quem fez: Meaghan S Christian, Charlotte E L Evans, Neil Hancock, Camilla Nykjaer e Janet E Cade

Resultado: Crianças cujos pais afirmaram que comem juntos “às vezes”, consumiram 95 gramas por dia a mais do que aquelas que nunca comem com os familiares, o que equivale a 4,6 porções. Já aquelas que sempre fazem as refeições em família consumiram 125 gramas de frutas e verduras a mais diariamente, atingindo a quantidade recomendada de cinco porções.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda a ingestão diária de cinco porções de 80 gramas cada de frutas, verduras e legumes, para que as quantidades necessárias de vitaminas e minerais sejam obtidas. Isso porque esses alimentos ajudam a evitar diversas doenças e prevenir a obesidade. No entanto, os níveis reais de consumo continuam abaixo dessa meta na maior parte dos países da Europa e também no Brasil.
Segundo escreveram os autores desse estudo no artigo, o ambiente do lar é um fator importante, pois é onde os hábitos alimentares se desenvolvem, e onde os pais, que são quem mais influenciam a qualidade da dieta dos filhos, dão os exemplos a serem seguidos.
Participaram da pesquisa mais de 2.000 crianças com idade média de oito anos que estudavam em 52 escolas primárias de Londres. Os pais responderam questionários sobre a alimentação de seus filhos, a frequência com que as refeições em família eram realizadas e a quantidade de frutas e verduras que os próprios pais consumiam.
Consumo saudável — O estudo mostrou que, em média, as crianças consumiam 293 gramas por dia de frutas e verduras, o que equivale a 3,7 porções dos alimentos ao dia. Porém, aquelas que costumavam realizar refeições em família apresentaram um consumo mais elevado desses alimentos.
Segundo os resultados, crianças cujos pais afirmaram que comiam juntos aos seus filhos “às vezes” consumiam, ao dia, 95 gramas de frutas, legumes e verduras a mais do que aquelas que nunca comiam com seus familiares. Esses jovens ingeriam o equivalente a 4,6 porções desses alimentos todos os dias. Por outro lado, os participantes cujos pais afirmaram que sempre realizavam as refeições em família consumiam, por dia, 125 gramas desses alimentos a mais do que os jovens que nunca comiam com seus pais, atingindo a recomendação da OMS — ou seja, ingeriam cinco porções diárias de frutas, legumes e verduras.
Dieta dos pais — Os pesquisadores identificaram ainda outros fatores capazes de influenciar a qualidade de vegetais ingeridos pelos jovens. As crianças cujos pais declararam comer frutas e verduras todos os dias consumiam, ao dia, 88 gramas desses alimentos a mais do que aquelas com pais que nunca ou raramente consumiam esses alimentos.
Além disso, as crianças consumiam 44 gramas a mais desses alimentos todos os dias quando seus pais cortavam as frutas e verduras da criança para facilitar o consumo. A variedade dos ingredientes também se mostrou importante: os pesquisadores relataram um aumento de cinco gramas no consumo para cada variedade adicional desses alimentos disponíveis na casa.



Opinião da especialista

Maysa Penteado Guimarães
Médica nutróloga dos hospitais São Luiz, Albert Einstein e Leforte

"O trabalho é bastante interessante, com grande número de participantes e com resultados que nos fazem pensar no exemplo que damos às nossas crianças. Certamente no Brasil a população infantil não atinge a ingestão recomendada de inúmeras vitaminas e minerais, bem como de fibras alimentares, nutrientes presentes em abundância em frutas e vegetais.
A principal razão pela qual a meta de OMS não é atingida, por crianças e adultos, é a falta do hábito de ter uma alimentação saudável. As pessoas acabam achando mais fácil comer um alimento industrializado ou um lanche. Falta consciência sobre a alimentação adequada.
Além disso, em geral são os pais que fazem as compras da casa, de modo que cabe a eles adquirirem alimentos saudáveis e variados, incentivando assim os filhos.
O ato de reunir a família em torno da mesa durante as refeições estimula uma melhor qualidade da dieta de todos os membros, crianças e adultos, uma vez que retiramos o foco da comida e dificilmente nos empanturramos quando há outras pessoas observando".

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

SUS recebe primeiro lote de medicamento contra o câncer produzido no Brasil

A droga Mesilato de Imatinibe é indicada para tratar pacientes com leucemia mieloide crônica ou tumor maligno no intestino

Cartela com remédios comprimidos
Medicamentos oncológicos: SUS recebe primeiro lote de droga genérica contra o câncer (Medioimages/Thinkstock)
O ministro da saúde, Alexandre Padilha, anunciou nesta quarta-feira que o Sistema Único de Saúde (SUS) recebeu o primeiro lote do medicamento oncológico brasileiro Mesilato de Imatinibe. A droga, indicada para tratar leucemia mieloide crônica e estroma gastrointestinal (tumor maligno no intestino), é o primeiro medicamento genérico para tratamento contra o câncer produzido no Brasil.
A produção será feita a partir de uma parceria entre o Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o Instituto Vital Brazil (da Secretaria de Saúde do Estado do Rio de Janeiro) e cinco empresas privadas. O acordo prevê a transferência de tecnologia para fabricação e distribuição do medicamento pelos próximos cinco anos. A medida, segundo o Ministério da Saúde, beneficiará cerca de 8.000 pessoas. A previsão é de que em 2013 sejam entregues ao SUS cerca de 4 milhões de comprimidos do medicamento.
O Ministério da Saúde estima que, nesse período de cinco anos, a iniciativa gerará uma economia de R$ 337 milhões ao SUS. Hoje, rede pública compra o medicamento por R$ 20,60 (100 gramas) ou R$ 82,40 (400 gramas) — com a produção nacional, o preço passará a ser de R$ 17,50 e R$ 70, respectivamente.
(Com Estadão Conteúdo)

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Instituto usa técnica menos invasiva em cardíacos idosos

Procedimento dispensa abertura do tórax do paciente e agiliza recuperação

coração
Coração: células produzem proteína que recupera áreas danificadas por infarto (Thinkstock)
O Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio de Castro (Iecac) começou a usar uma técnica de válvula aórtica para prolongar a vida de idosos com estenose aórtica. O novo método consiste em implantar uma válvula no coração por meio do procedimento de cateterismo. Com a técnica, não há necessidade de abrir o tórax do paciente. Na estenose, a válvula aórtica não abre completamente, diminuindo o fluxo de sangue que sai do coração.
Segundo o diretor do Iecac, Antônio Ribeiro, a válvula prolonga a vida do paciente com idade avançada e reduz o índice de mortes em situações de alto risco cirúrgico. “"A válvula é colocada dentro do coração para a circulação sanguínea. A cirurgia comum leva de quatro a seis horas. Com este procedimento, duraria de 20 a 30 minutos. Com o uso do cateter, não precisa abrir o tórax. Além disso, uma cirurgia convencional pode levar dez dias, no mínimo, de recuperação".”
Ainda de acordo com ele, os hospitais públicos ainda não usam esse procedimento, que é referência do Iecac, porque é necessário investimento em equipamentos e pesquisas - o que custa caro.
(Com Estadão Conteúdo)

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Clima de Natal já toma conta dos hospitais infantis

Pequenos que sofrem com câncer receberam o Papai Noel e tiveram momentos de alegria em festa tradicional
As histórias são parecidas: relatos sobre o medo, o sofrimento durante o tratamento, as dificuldades de aceitação e a esperança de superar a doença. A alegria de participar de uma comemoração de Natal, com direito a conversar com Papai Noel, doces e brincadeiras também. E foi assim para 500 crianças atendidas pela Associação Peter Pan, Instituto do Câncer e Lar Amigos de Jesus na 6ª edição da Festa dos Voluntários da Alegria. O evento aconteceu na manhã de ontem no Iate Clube de Fortaleza e reuniu os pequenos e suas famílias.

O pequeno Cícero Matheus Alves foi um dos que participaram da animada festa no Iate Clube de Fortaleza. As crianças ganharam presentes, brincaram e puderam conversar um pouco com o Papai Noel FOTO: ALEX COSTA

"Levar a alegria e esperança para uma criança não tem preço, e a gente faz isso com amor", afirmou uma das coordenadoras da festa, Fernanda Azambuja. Ela conta que a ideia partiu de uma das integrantes da entidade, Sônia Oliveira, que há oito anos perdeu um filho vítima da doença. "Passamos dois anos sem poder realizar o encontro porque não tínhamos local. Hoje, além da distribuição de presentes, as crianças terão um dia de muita diversão com várias brincadeiras, palhaços, lanche e músicas infantis", informou.

Mudança de rotina
Se a proposta foi quebrar a dura rotina dos pequenos pacientes, nada melhor para as amigas inseparáveis Ana Karla e Carolina, ambas com três anos de idade e, coincidentemente, passando por tratamento desde julho deste ano. As duas meninas deixaram de lado por um instante as dores e o sofrimento e quase não pararam um instante sequer. Quiseram aproveitar tudo: fizeram pedidos ao Papai Noel, merendaram, sorriram com os palhacinhos, se encantaram com os garotos do circo-escola do Palmeiras, correram e dançaram. "Elas buscam força uma na outra, parecem irmãs", conta a mãe de Ana Karla, Deliane Rocha. Com os olhinhos vidrados nas apresentações, elas conseguiram viver momentos de descontração, deixando suas mães esquecerem a luta que é enfrentar a doença de um filho. "Tem dias muito difíceis, complicados mesmo e ver minha menina assim, descontraída, feliz, me sinto no céu", diz Deliane.

Para a dona de casa Elizângela Lopes do Carmo, mãe de uma das crianças beneficiadas com o evento, a iniciativa aproxima o filho de vivências consideradas normais para jovens da idade dele. "Eu acho maravilhoso esse momento, pois meu filho esquece por um tempinho a doença e brinca bastante como qualquer uma das crianças que tem a sua idade".

Outra mãe, a empregada doméstica Eleni Paulino dos Santos, acredita que a festa gerou até alguma ansiedade positiva na criança, que contou as horas para participar do momento e também de estar ao lado do bom velhinho, o Papai Noel. "Essa iniciativa ajuda no tratamento das crianças que sofrem este problema. Minha filha, por exemplo, quase não dormiu na expectativa de participar da festa e participar de tudo".

Dificuldades

O mesmo relato fazem os pais de Cícero Matheus Alves, de dez anos. Ana e Edilson deixam as lágrimas caírem enquanto contam que desde os nove anos, quando Cícero foi diagnosticado com leucemia, eles quase deixaram o desespero tomar conta.

"A gente nunca espera por isso. Aceita, mas não se conforma", frisa Edilson.

Ana lembra que o garoto nasceu prematuro, aos sete meses, e passou um período de dois meses na incubadora da maternidade. "Pensei que ele, a partir dali, tivesse a saúde perfeita, mas infelizmente, não foi isso que ocorreu, mas temos fé em Deus que conseguiremos superar a doença e seguir vivendo".

A animação começou por volta das 8h da manhã e só terminou depois do meio-dia. A futura primeira-dama de Fortaleza, Caroline Cunha Bezerra, participou da festa e adiantou que, mesmo sem assumir nenhuma secretaria, irá comandar visitas às creches e escolas infantis do município para fazer um diagnóstico e, partindo daí, formular as diretrizes da ação social de Fortaleza a partir do próximo ano com a gestão de seu marido, Roberto Cláudio (PSB).

"Elegemos a criança e o adolescente nosso foco na ação social municipal, isso sem esquecer o resto, mas precisamos beneficiar e proteger nossas crianças", disse.

LÊDA GONÇALVESREPÓRTER

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

População mundial vive mais, porém cada vez mais doente

Maior levantamento já feito sobre saúde global mostrou que doenças crônicas, causadas por fatores de risco como hipertensão, tabagismo e obesidade, estão se tornando cada vez mais prevalentes no mundo

Hipertensão: sem tratamento, a doença agride as artérias dos rins, do coração e do cérebro, e pode causar insuficiência renal, infarto e derrame
Hipertensão: Condição é o principal fator de risco à saúde no mundo. Sem tratamento, a doença agride as artérias dos rins, do coração e do cérebro, e pode causar insuficiência renal, infarto e derrame (Thinkstock)
A revista médica The Lancet dedicou toda a sua nova edição, publicada nesta sexta-feira, ao estudo Global Burden of Disease Study 2010 (Carga de Saúde Global 2010), que avaliou as doenças e mortes em todo o mundo ao longo de 20 anos. O documento mostrou que, nesse período, a população mundial passou a viver mais, mas com pior saúde. Em partes, isso se deve ao fato de que, enquanto as doenças graves infecciosas estão sendo cada vez mais combatidas, cresce o número de condições crônicas. Ou seja, condições que fazem mal, causam dores e prejudicam a qualidade de vida, mas que não matam de forma imediata.

CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Global Burden of Disease Study 2010

Onde foi divulgada: revista The Lancet

Quem fez: Christopher Murray e equipe

Instituição: Instituto de Métrica e Avaliação em Saúde e Universidade de Washington, Estados Unidos

Dados de amostragem: População de 180 países

Resultado: A longevidade da população mundial aumentou, mas ela está vivendo cada vez mais doente. Fatores de risco que levam a doenças crônicas, como hipertensão e obesidade, estão aumentando cada vez mais. A mortalidade infantil e a desnutrição, por outro lado, diminuíram em 20 anos.
O projeto, feito pelo Instituto de Métrica e Avaliação em Saúde (IHME, sigla em inglês) e pela Universidade de Washington, nos Estados Unidos, também contou com a colaboração de mais de 300 instituições de todo o mundo, inclusive do Brasil. Ao todo, o estudo analisou os quadros de saúde de 180 países. O trabalho é considerado o maior já feito para descrever as doenças e os fatores de risco ao redor do mundo.
A pressão arterial é o maior fator de risco para a saúde atualmente, tendo sido responsável por nove milhões de óbitos no mundo em 2010, apontou a pesquisa. Em segundo e terceiro lugares estão, respectivamente, o tabagismo e o alcoolismo, que ultrapassaram a fome infantil. Na maior parte do que o projeto chamou de América Latina Tropical, que inclui o Brasil, porém, o álcool figura como o principal fator de risco para a saúde. Doenças associadas à bebida mataram quase cinco milhões de pessoas em todo o mundo em 2010.
População pesada — Enquanto a mortalidade global por desnutrição caiu, o fator de risco para a saúde que mais cresceu nos últimos vinte anos foi o excesso de peso — em 1990, ele correspondia ao décimo lugar ; em 2010, ao sexto. Hoje, maus hábitos alimentares e sedentarismo correspondem a 10% da carga de doença global. De acordo com os resultados, o sobrepeso foi responsável por três milhões de mortes ao redor do mundo em 2010 — um número três vezes maior do que os óbitos por desnutrição.
"Passamos de um mundo de 20 anos atrás em que as pessoas não comiam o suficiente para um mundo, inclusive em países em desenvolvimento, onde há muita comida, mas não saudável, que nos faz muito mal", diz Majid Ezzati, do Imperial College de Londres e um dos autores do estudo.
Má qualidade de vida — O estudo também listou os principais fatores responsáveis por piorar a qualidade de vida conforme a idade avança. São eles: dor nas costas, depressão, anemia por deficiência em ferro, dor no pescoço, doença pulmonar obstrutiva crônica, problemas muscoesqueléticos, distúrbios de ansiedade, enxaqueca, diabetes e quedas.
Mortalidade — Um dos avanços significativos que o estudo observou ao longo desses vinte anos foi a queda da mortalidade infantil. No entanto, isso não quer dizer que os números já são ideais. Condições como diarreia por rotavírus e sarampo ainda matam mais de um milhão de crianças menores do que cinco anos todos os anos, apesar da existência de vacinas eficazes contra tais doenças.
Se, por um lado, a mortalidade infantil está diminuindo a cada ano, o relatório observou um aumento de 44% no número de mortes entre pessoas de 15 a 49 anos entre 1970 e 2010. Os autores atribuem esse dado, entre outras coisas, ao aumento da violência e ao vírus HIV, para o qual ainda não foi encontrada uma cura. Em 2010, a aids foi a sexta principal causa de morte no  mundo - com 1,5 milhão de mortes.
"Estamos descobrindo que poucas pessoas estão vivendo com perfeita saúde e que, com a idade, elas acumulam condições crônicas", dize Christopher Murray, diretor do IHME. "A nível individual, isso significa que nós devemos repensar como a vida será para nós aos 70 ou 80 anos de idade. Esses resultados também devem provocar profundas implicações para os sistemas de saúde em termos de definir prioridades.”

Principais fatores de risco à saúde em 1990

1º lugar: Baixo peso infantil
2º lugar: Poluição dentro de casa
3º lugar: Tabagismo
4º lugar: Pressão alta
5º lugar: Deficiência de amamentação
6º lugar: Alcoolismo
7º lugar: Poluição ambiental
8º lugar: Baixa ingestão de frutas
9º lugar: Altos níveis de açúcar no sangue
10º lugar: Obesidade

Principais fatores de risco à saúde em 2010

1º lugar: Pressão alta
2º lugar: Alcoolismo
3º lugar: Tabagismo
4º lugar: Poluição dentro de casa
5º lugar: Baixa ingestão de frutas
6º lugar: Obesidade
7º lugar: Altos níveis de açúcar no sangue
8º lugar: Baixo peso infantil
9º lugar: Poluição ambiental
10º lugar: Sedentarismo

domingo, 16 de dezembro de 2012

O HIV que salva

Médicos usam o vírus da Aids para mudar o material genético de células de defesa, tornando-as capazes de vencer a leucemia

Cilene Pereira
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ESPERANÇA
Emma, na foto com sua mãe, Kari, fez o tratamento
e não tem sinais da doença há sete meses
Médicos da Universidade da Pennsylvania, nos Estados Unidos, anunciaram na semana passada um feito memorável. Usando uma forma alterada e inativa do HIV (não causa doença), o vírus da Aids, eles conseguiram conter a progressão da leucemia – tumor nos glóbulos brancos do sangue (leucócitos). A divulgação da façanha ocorreu durante a realização do encontro anual da Sociedade Americana de Hematologia e logo repercutiu no mundo. “É um marco”, afirmou o oncogeneticista brasileiro José Cláudio Casali da Rocha, do Hospital Erasto Gaertner, referência no tratamento do câncer em Curitiba, e do Centro Oncológico de Niterói, no Rio de Janeiro. “É usar os nossos inimigos a nosso favor.”

O que os cientistas fizeram foi utilizar o HIV como um veículo para atingir um objetivo. Os médicos queriam estimular o sistema imunológico dos pacientes a destruir as células tumorais. A maneira engendrada de fazer isso foi modificar geneticamente os linfócitos T (células de defesa) dos próprios doentes para torná-los mais aptos à tarefa. Milhões dessas células foram extraídas. Em seguida, os médicos criaram uma versão inativa do HIV e inseriram nele os genes que tornariam os linfócitos mais eficazes. Eles fizeram isso por um motivo simples: o vírus tem como alvo justamente os linfócitos T. Em seu estado natural, ele invade essas células e mistura nelas o seu material genético. A partir daí, elas viram uma espécie de fábrica de HIV, permitindo que o vírus se replique e se espalhe pelo corpo. Na versão modificada, porém, o HIV, em vez de colocar nos linfócitos seu material genético, colocou os genes que os médicos queriam.
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Depois de injetados novamente nos doentes, esses linfócitos modificados interromperam a progressão da doença em três adultos – dois não apresentam sinais da enfermidade há mais de dois anos – e em uma criança. Emma Whitehead, 7 anos, está há sete meses sem sinais da leucemia. “Nossa esperança é que o método possa substituir o transplante de medula óssea”, disse à ISTOÉ o médico David Porter, um dos coordenadores do experimento. O transplante pode curar a doença, mas apresenta riscos (o paciente tem seu sistema imunológico destruído e fica vulnerável a infecções). Já a terapia com o HIV pode causar complicações pulmonares e de pressão arterial e é também por essa razão que os médicos querem aprofundar as investigações. “Precisamos entender como lidar com os efeitos colaterais sem bloquear sua eficácia”, complementou Porter. Experimentos semelhantes estão sendo realizados no Instituto Nacional do Câncer e no Memorial Sloan-Kettering Center (Eua).
Foto: Jeff Swensen/The New York Times/Latinstock

sábado, 15 de dezembro de 2012

O novo stent

Hospitais brasileiros testam a primeira prótese que é absorvida pelo corpo depois de desobstruir as artérias, o que reduz o risco de novos entupimentos

Cilene Pereira e Monique Oliveira

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AÇÃO
O Absorb abre o vaso sanguíneo entupido por gordura e não causa alergia
Um novo tipo de stent – espécie de mola usada para desobstruir artérias do coração – está sendo testado no Brasil. Ao contrário dos stents disponíveis, feitos de aço inoxidável, o Absorb é produzido com ácido polilático, um material absorvido pelo organismo. O resultado é que, em vez de permanecer para sempre dentro do corpo, como os antigos, ele desaparece em até dois anos após sua colocação. Essa característica faz com que o recurso apresente algumas vantagens em relação aos demais. A primeira delas é não ser considerado pelo corpo um agente estranho, o que reduz o risco de causar alergias e, a longo prazo, de provocar fibrose no local de sua implantação e de induzir à formação de novos coágulos – fenômenos que podem levar novamente a um bloqueio do fluxo sanguíneo. Além disso, após o seu desaparecimento, o vaso sanguíneo recupera sua capacidade natural de se contrair ou de relaxar, algo impossível no caso das próteses de metal.
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Produzido pelo Laboratório Abbott, o dispositivo é objeto de teste no Instituto Dante Pazzanese e no Hospital Israelita Albert Einstein, ambos em São Paulo (SP), e no Instituto de Cardiologia do Triângulo Mineiro, em Uberlândia (MG), onde já foi colocado em 13 pacientes. “Os resultados são muito bons. É muito animador verificar que depois de sua absorção a artéria volta totalmente ao normal”, afirma o cardiologista Roberto Botelho, coordenador do trabalho em Minas Gerais. Seu desaparecimento começa a ser observado depois de seis meses, quando o stent apresenta os primeiros sinais de perda de sua força de sustentação para manter a artéria aberta (após ser implantado, ele funciona como uma armação: empurra as placas de gordura, que obstruem o local e impedem a passagem do sangue, e “segura” a parede do vaso para que ele continue aberto).
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Por enquanto, o Absorb é indicado para casos menos complexos, como naqueles nos quais as obstruções não se encontram em bifurcações de vasos. Recentemente, no entanto, a equipe do Dante Pazzanese realizou o primeiro implante no tronco da coronária esquerda. Foi a primeira vez no mundo que isso foi feito. “O tronco da coronária é de onde nascem duas das três artérias que nutrem o coração. Qualquer complicação ali mata. O mau desempenho do dispositivo nessa localização é muito perigoso”, explica o médico Botelho. “Essa artéria sempre foi tratada por meio de cirurgia, mas nos últimos dez anos os stents começaram a mostrar bons resultados nesse território. Há enorme expectativa do Absorb nesse ponto. Ser absorvido ali é muito mais importante que em qualquer outro território.” A cirurgia, comandada pelo médico Alexandre Abizaid, foi inclusive transmitida em tempo real a médicos reunidos no maior encontro de medicina intervencionista do planeta, realizado nos Estados Unidos.
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O novo stent está disponível em cerca de 30 países distribuí­dos pela Europa, América Latina e Ásia. No Brasil, o laboratório Abbott entrou recentemente com o pedido de aprovação na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas ainda não recebeu a liberação oficial. Dessa maneira, por aqui ele continua sendo usado apenas nos testes clínicos, não estando ainda disponível para a população em geral. Seu caminho até chegar definitivamente aos hospitais será o mesmo percorrido por todas as inovações médicas. Após sua aprovação pela Anvisa, deverá ser inicialmente disponibilizado na rede particular e pelos convênios. Sua entrada no sistema público de saúde deverá ocorrer por último. Para se ter uma ideia, os stents farmacológicos, revestidos de medicação anticicatrizante, são fornecidos há dez anos na rede particular e conveniada, mas ainda não são oferecidos pelo SUS. Como o Absorb não tem até agora liberação do governo brasileiro, não há preço estabelecido por aqui. Os farmacológicos custam em torno de R$ 8 mil a R$ 12 mil.
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Fotos: Kelsen Fernandes

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Para Agência Nacional de Saúde Suplementar, planos de saúde melhoraram. Queixas, no entanto, cresceram

Entre 2010 e 2011, subiu de 32% para 62% a proporção de operadoras de saúde com avaliação positiva. Para a ANS, aumento nos canais para reclamação são a explicação para a elevação nas queixas de usuários

Pâmela Oliveira, do Rio de Janeiro
Médicos
Médicos do serviço federal protestaram contra Medida Provisória 568, que reduziu a tabela salarial dos profissionais (Thinkstock)
As operadoras de planos de saúde melhoraram seu desempenho na avaliação da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), divulgada nesta segunda-feira, no Rio de Janeiro. A análise, no entanto, também indicou que os clientes estão menos satisfeitos. O trabalho apontou aumento da quantidade de operadoras de planos de saúde e odontológicos bem avaliados pela agência. Ou seja, aquelas que conquistaram pontuação entre 0.60 e 1, em uma escala de 0 a 1. Em 2010, as operadoras de planos de saúde com avaliação positiva representavam 32% do total das entidades. Em 2011 – último dado disponível – 62% (566) delas foram bem avaliadas. No setor odontológico, houve um aumento de 56% para 76% nas avaliações positivas nesse período.
Para chegar aos dados, que pela primeira vez estão disponíveis para consulta no site da ANS (www.ans.gov.br), a agência avaliou as 913 operadoras médico-hospitalares e 326 odontológicas em funcionamento no país. A análise considerou quatro quesitos: metas de atenção à saúde, como percentual de consultas e mamografias; estrutura da operadora; situação econômica e financeira da empresa; e a satisfação dos beneficiários.
O último item, que mede a percepção dos que usam os planos de saúde, teve avaliação pior do que em 2010. Em um ano, a queda foi de três pontos percentuais. O quesito reúne as multas recebidas pela operadora devido a problemas na prestação do serviço, a permanência de conveniados no plano - trocas constantes indicariam insatisfação - e a reclamação dos usuários registrada na agência. A avaliação não computa, por exemplo, o número de ações judiciais contra as operadoras.
Segundo Carla Godoy, gerente de qualidade e do conhecimento da ANS, não se pode afirmar, no entanto, que os planos pioraram na percepção dos usuários. “Os canais de acesso de reclamação aumentaram. Ou seja, o consumidor encontra mais facilidade para fazer sua crítica”, ameniza ela.
Diretor da ANS, o cardiologista André Longo afirmou que o objetivo da ANS é permitir que o consumidor tenha um parâmetro de qualidade que o auxilie na escolha de sua operadora de saúde.
“No site da agência, o consumidor poderá consultar as notas de 33 indicadores de qualidade de todas as operadoras. Esperamos que esses dados possam facilitar a vida do consumidor para que ele possa fazer suas escolhas mais conscientemente e de forma esclarecida, buscando os melhores produtos dentro dos planos de saúde. E isso auxiliar na melhora do setor”, afirmou Longo, acrescentando que os consumidores estão buscando operadoras mais qualificadas.
A ANS não divulgou o ranking, mas é possível verificar, individualmente, a notas de cada prestadora.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Venezuela espera novo parecer após êxito de operação de Chávez

Cirurgia contra câncer foi "complexa, difícil, delicada", disse vice-presidente

AFP
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A Venezuela, aliviada pelo êxito da operação de Hugo Chávez em Cuba, aguardava nesta quarta-feira um novo parecer sobre a evolução do presidente que, no dia 10 de janeiro, deve reassumir a Presidência após ser reeleito em outubro.

Para aumentar a tensão em torno do estado de saúde do presidente, o vice Nicolás Maduro disse nesta quarta que o processo pós-operatório de Chávez será "complexo e duro", afirmou nesta quarta-feira o vice-presidente, Nicolás Maduro. "A cirurgia de ontem foi uma operação complexa, difícil, delicada, o que nos diz que o processo pós-operatório também será complexo e duro", disse Maduro ao país em rede de transmissão obrigatória de rádio e televisão.

A quarta intervenção a que Chávez se submeteu desde que teve um câncer em 2011 aconteceu a menos de um mês de sua posse na Assembleia Nacional. "Queremos agradecer todo o amor, o puro amor (...) para que esta operação terminasse corretamente e fosse bem sucedida", disse Maduro, na noite de terça-feira ao país.

"Ontem (terça-feira) estava preocupado porque Chávez foi um ser humano que se preocupou com a gente, com o povo. Me alegro que a operação tenha sido bem sucedida", disse à AFP Heli González, um comerciante do município de Chacao. González, contudo, considerou difícil que o presidente retorne em breve ao país. "Estamos falando de câncer, é um processo terrível, eu passei por isso", disse.

Chávez não adiantou uma data de retorno ao anunciar, no sábado, esta nova operação imprescindível contra o câncer, mas admitiu que poderia ficar "impossibilitado" de exercer a presidência, designando, pela primeira vez um herdeiro político, o chanceler e vice Nicolás Maduro, de 50 anos. Neste caso, o presidente explicou que o vice-presidente assumiria a presidência temporária até que fossem convocadas novas eleições, em que Maduro seria o candidato governista.

A Constituição determina que, em caso de ausência absoluta do presidente antes de sua posse ou durante os primeiros quatro anos, dos seis de mandato, deverão ser realizadas novas eleições em um prazo de 30 dias.

O vice-presidente disse que Chávez, no poder desde 1999, tinha vencido o primeiro obstáculo" e que agora iniciava a etapa pós-operatória, que durará vários dias. "Comandante, aqui estamos esperando por você, ouviu? Você tem que voltar e todos estão esperando, nós, seus filhos", disse Maduro, visivelmente emocionado na mensagem em rede nacional de rádio e TV.

Desde que anunciou Chávez anunciou a recaída, houve diversos atos e manifestações de solidariedade dentro e fora do país. O ministro das Relações Exteriores do Equador, Ricardo Patiño, desejou a Chávez nesta quarta-feira uma rápida recuperação, pelo Twitter. Seus seguidores gritavam "Te queremos, Chávez, te queremos!" e "Viverá, viverá, o comandante viverá!", na terça-feira à noite, reunidos em vigília na praça central Bolívar de Caracas.

O governo tem mantido segredo sobre o tipo e o local do câncer que atinge Chávez, ao contrário de outros presidentes que também tiveram câncer, como recentemente o colombiano Juan Manuel Santos, que divulgou seus boletins médicos. Esta foi a primeira vez que o governo venezuelano informou ao vivo o início, o desenvolvimento e o fim de um processo cirúrgico.

A recaída de Chávez aconteceu paralelamente à campanha pelas eleições regionais de domingo. O representantes de Chávez estão presentes na maioria dos 23 estados e o governo quer conquistar os redutos opositores para acelerar seu projeto socialista. A batalha-chave será disputada no populoso estado de Miranda, que abarca parte de Caracas, entre o atual governador e ex-candidato presidencial, Henrique Capriles, e o ex-vice-presidente Elías Jaua.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Sete dores que não devem ser menosprezadas

Elas avisam: algo está errado. Mas preferimos pensar que vão passar depressa a procurar um médico. É aí que muitas vezes damos de cara com o perigo. Saiba como escapar de um engano por Débora Didonê | design Thiago Lyra
Levante a mão quem nunca se automedicou por causa de uma dor. É corriqueiro achar que ela é um mal passageiro, entupir-se de analgésico e esperar até ela se tornar insuportável para ir ao médico. Estudos indicam que 64% dos brasileiros tentam se livrar da sensação dolorosa sem procurar ajuda. Foi assim com a auxiliar de dentista Antônia Sueli Ferreira, 45 anos, de São Paulo. "Tomei muito remédio durante três meses por causa de cólicas fortíssimas e do que parecia ser uma lombalgia. Só depois fui ao médico. E então descobri que tinha um câncer colorretal. Tive de ser submetida às pressas a uma cirurgia. Por sorte, estou bem", conta. Segundo o cirurgião Heinz Konrad, do Centro para Tratamento da Dor Crônica, em São Paulo, "a dor é um mecanismo de proteção que avisa quando algo nocivo está acontecendo". A origem do malestar? Eis a questão — e, para ela, precisamos ter sempre uma resposta. "Na dúvida, toda dor precisa ser checada, ainda mais aquela que você nunca sentiu igual", aconselha o cardiologista Paulo Bezerra, do Hospital Santa Cruz, em Curitiba. Aqui, selecionamos sete dores que você nunca deve ignorar.

Dor de cabeça
Dos 10 aos 50 anos, ela geralmente é causada por alterações na visão ou nos hormônios — esta, mais comum entre as mulheres. E esses são justamente os casos em que a automedicação aumenta o tormento. "Isso porque, quando mal usado, o analgésico transforma uma dorzinha esporádica em diária", avisa o neurocirurgião José Oswaldo de Oliveira Júnior, chefe da Central da Dor do Hospital A.C. Camargo, em São Paulo. Acima dos 50 anos, as dores de cabeça merecem ainda mais atenção: é que podem estar relacionadas à hipertensão.

Dor de garganta
Costuma ser causada pela amigdalite de origem bacteriana ou viral. "Se não for tratada, a amigdalite bacteriana pode exigir até cirurgia", alerta o otorrinolaringologista Marcelo Alfredo, do Hospital e Maternidade Beneficência Portuguesa de Santo André, na Grande São Paulo. A do tipo viral baixa a imunidade e, em 10% dos casos, vira bacteriana. Portanto, pare de banalizar essa dor. Se ela parece nunca ir embora, abra os olhos: certos tumores no pescoço também incomodam e podem ser confundidos, pelos leigos, como simples infecções.

Dor no peito
"Quando o coração padece, a dor é capaz de se espalhar na direção do estômago, do maxilar inferior, das costas e dos braços", descreve o cardiologista Paulo Bezerra. Em geral, isso acontece quando o músculo cardíaco recebe menos sangue devido a um entupimento das artérias. "A sensação no peito é como a de um dedo apertado por um elástico. E piora com o estresse e o esforço físico", explica Bezerra. Não dá para marcar bobeira em casos assim: o rápido diagnóstico pode salvar a vida.

Dor nas pernas
Muita gente não hesita em culpar as varizes — às vezes injustamente. "A causa pode ser outra", avisa a fisiatra Lin Tchia Yeng, do Hospital das Clínicas, em São Paulo. Uma artrose, por exemplo, provoca fortes dores nos pés e nos joelhos. Se não for tratada, piora até um ponto quase sem retorno. "Em outros indivíduos a dor vem das pisadas", explica Lin. "É quando há um erro na posição dos pés ou se usam calçados inadequados." Sem contar doenças como hipotireoidismo e diabete, que afetam a circulação nos membros. "Há medicamentos específicos para resolver a dor nesses casos", diz a reumatologista Solange Mandeli da Cunha, do Centro de Funcionalidade da Dor, em São Paulo.

Dor abdominal

Uma dica: o importante é saber onde começa. Uma inflamação da vesícula biliar começa no lado direito da barriga, mas tende a se irradiar para as costas e os ombros. Contar esse trajeto ao médico faz diferença. "Se a pessoa não for socorrida, podem surgir perfurações nessa bolsa que guarda a bile fabricada no fígado", diz o cirurgião Heinz Konrad. Nas mulheres, cólicas constantes — insuportáveis no período menstrual — levantam a suspeita de uma endometriose, quando o revestimento interno do útero cresce e invade outros órgãos. "Uma em cada dez mulheres que vivem sentindo dor no abdômen tem essa doença", calcula a anestesiologista Fabíola Peixoto Minson, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.

Dor nas costas
A má postura e o esforço físico podem machucar a coluna lombar. "É uma dor diária, causada pelo desgaste físico e pelo sedentarismo", diz o geriatra Alexandre Leopold Busse, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Conviver com o tormento? Essa é a pior saída. A dor nas costas, além de minar a qualidade de vida, pode escamotear o câncer no pâncreas também. "No caso desse tumor, surge uma dor lenta e progressiva", ensina a fisiatra Lin Tchia Yeng. Por precaução, aprenda que a dor nas costas que não some em dois dias sempre é motivo de visitar o médico.

Dor no corpo

Se ele vive moído, atenção às suas emoções. A depressão, por exemplo, não raro desencadeia um mal-estar que vai da cabeça aos pés. "O que dá as caras no físico é o resultado da dor psicológica", diz Alaide Degani de Cantone, coordenadora do Centro de Estudos e Pesquisas em Psicologia e Saúde, em São Paulo. "Quem tem dores constantes aparentemente sem causa e que vive triste, pessimista, sem ver prazer nas coisas nem conseguir se concentrar direito pode apostar em problemas de ordem emocional", opina o psiquiatra Miguel Roberto Jorge, da Universidade Federal de São Paulo. E, claro, essas dores que no fundo são da alma também precisam de alívio.

Ajude o médico a descobrir a verdadeira causa de seus “ais”. Leve as seguintes informações para a consulta:

Quando
Puxe pela memória o dia, semana ou mês em que sua dor deu as caras e identifique a frequência com que ela aparece — se é diária, quantas vezes por dia se manifesta e quanto tempo costuma durar.

Onde
Aponte os lugares do corpo em que a dor ocorre. Se for difícil especificar um ponto, mostre a região afetada. Explique também se ela começa em um lugar e, dali, se irradia para outros.

Como
Descreva a sensação — queima? Dá pontadas ou agulhadas? Formigamento? No lugar onde dói, você sente um aperto ou pressão? Acredite: para os ouvidos dos especialistas, esse tipo de informação vale ouro.

Avaliação
Dê uma nota de 1 a 10 à sua dor, comparando-a a outras que você já sentiu. Avalie o grau e não deixe de contar ao especialista se teve febre, perda de apetite ou falta de sono depois que a dor apareceu.

Soluções
O que fez para diminuir a dor? Relate se uma bolsa de água quente ajudou. E preste atenção no seu corpo para dizer o que parece piorar a sensação dolorosa — comida gordurosa, esforço físico... o quê?

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Emoção na ida de Tainara para casa

Depois de quatro anos de internação, a menina de cinco anos de idade se despediu e arrancou lágrimas no Albert Sabin
O sorriso cativante de Tainara Sousa Marques, de cinco anos, é prova de que as limitações físicas são pequenas frente ao amor que ela dá e recebe. Portadora de atrofia muscular espinhal tipo 2, deixou o Hospital Infantil Albert Sabin (Hias) ontem, após passar quatro anos internada. A despedida da menina foi marcada por grande emoção, pela mistura de lágrimas e risos daqueles que conviveram com ela durante esse tempo.

Tainara Sousa Marques ganhou muitos amigos no longo período que ficou internada no hospital e agora poderá recebê-los em sua casa FOTO: MARÍLIA CAMELO

Tatá, como é chamada por quem a conhece, deixou o hospital e acenou para as pessoas com a mão. Gesto que, mais do que um adeus, pode ser entendido como uma conquista. Usava óculos escuros, lacinhos no cabelo e roupa rosa, combinando com a cor de seu novo quarto.

Assim como grande parte das crianças de sua idade, Tainara gosta de brincar e assistir a DVDs infantis. Mas, para ela, o mais divertido mesmo é brincar de cozinhar com suas panelinhas.

Moradia no hospital
Tainara e a mãe, Edinaiana Sousa, 23, são de Crateús. Como não tem parentes em Fortaleza, Edinaiana também morava no hospital e, durante o tempo que a filha passou internada, só foi em casa seis vezes. No Hias, ganhou uma segunda família, formada por profissionais de saúde, outras mães e voluntários, com os quais dividiu alegrias e tristezas. "Foi difícil no começo, mas me acostumei. Eles foram anjos na minha vida e continuam sendo", afirma, agradecendo pela oportunidade de morar numa casa com Tainara e uma irmã, que vem de São Paulo para ajudar a cuidar da menina.

A saída dela da unidade só foi possível graças ao Programa de Assistência Ventilatória Domiciliar (PAVD) do Hias e à ajuda do grupo de voluntários Amigos da Alegria, que alugaram e mobiliaram a casa onde Tainara vai morar com a mãe, Edinaiana Sousa. Entre o aluguel, a doação dos móveis e eletrodomésticos e a entrega da casa, foram cerca de 40 dias. Houve até um chá de panela no Hias.

Até a escolha da casa, na Rua Júlio Verne, nº 514, no bairro Serrinha, foi estratégica. Lá, mora o pequeno Duam Pinheiro, três anos. Ele é natural de Senador Pompeu e também é portador de doença neuromuscular.

A empresária Júlia Mapurunga, 30, é uma das coordenadoras do grupo Amigos da Alegria. Ela explica que o caso chamou bastante a atenção do grupo. Não pela doença, mas pelo fato da família da menina não ter condições financeiras para alugar uma casa em Fortaleza. A única renda de Edinaiana é a aposentadoria de Tainara.

Assistência

Atualmente, de acordo com a coordenadora do PAVD, Cristiane Rodrigues, existem 21 crianças sendo acompanhadas pelo programa. São 20 em Fortaleza e uma em Russas, todas portadoras de doenças neuromusculares. No Hias, com a saída de Tainara, ficaram sete. A menina, que depende de ventilação mecânica para sobreviver, será acompanhada por uma equipe multiprofissional do Hias, que inclui pediatra, cirurgião pediátrico, enfermeiras, fisioterapeutas, assistente social e nutricionistas.

FIQUE POR DENTRO
Doença rara se manifesta nos primeiros meses
As Atrofias Musculares Espinhais (AMEs) têm origem genética e caracterizam-se pela atrofia muscular secundária à degeneração de neurônios motores localizados no corno anterior da medula espinhal. O grupo I pode se manifestar desde a fase intra-útero até os três meses de vida extrauterina. Nos grupos II e III, os sintomas se manifestam entre três e 15 meses e de dois anos a vida adulta, respectivamente. O quadro clínico caracteriza-se por deterioração motora após um período normal.

RAONE SARAIVAREPÓRTER

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Terapia usa forma inativa do HIV para combater leucemia

Emma Whitehead vem saltitando pela casa ultimamente. É difícil acreditar, mas no início do ano, Emma, então com seis anos, estava prestes a morrer de leucemia. Ela tinha sofrido duas recaídas após fazer quimioterapia.
Seus pais procuraram um tratamento experimental no Children's Hospital da Filadélfia, nos EUA. O procedimento nunca tinha sido testado em uma criança nem em qualquer pessoa com o tipo de leucemia de Emma.
Realizado em abril, o experimento usou uma forma desativada do HIV para reprogramar o sistema imunológico de Emma, de modo a matar as células cancerígenas.

Jeff Swensen/The New York Times
Emma Whitehead, 7, recuperada de leucemia, com a mãe, Kari, na Pensilvânia, EUA
Emma Whitehead, 7, recuperada de leucemia, com a mãe, Kari, na Pensilvânia, EUA
O tratamento quase a matou. Mas agora, sete meses depois, ela está em remissão completa. Os pais de Emma, Kari e Tom, disseram que sua filha sofria de leucemia linfoblástica aguda desde 2010.
Ela faz parte de um grupo de uma dúzia de pacientes com leucemia avançada a terem recebido o tratamento experimental, desenvolvido na Universidade da Pensilvânia.
Abordagens semelhantes estão em teste no Instituto Nacional do Câncer dos EUA e no Memorial Sloan-Kettering, em Nova York.
"Nossa meta é a cura, mas não podemos proferir essa palavra", disse o médico Carl June, da Universidade da Pensilvânia.
Ele espera que o novo tratamento possa substituir o transplante de medula, um procedimento mais árduo, arriscado e caro e que hoje é o último recurso contra leucemias e doenças relacionadas.
Três adultos com leucemia crônica tratados na Universidade da Pensilvânia estão sem sinal da doença; dois estão bem há mais de dois anos.
Quatro adultos melhoraram mas não tiveram remissão completa e um foi tratado recentemente demais para ser avaliado. Uma criança tratada melhorou, mas depois sofreu recaída. Em dois adultos, o tratamento não funcionou. Os pesquisadores apresentaram os resultados em reunião da Sociedade Americana de Hematologia.
Uma grande empresa farmacêutica, a Novartis, está apostando na equipe da Pensilvânia e já destinou US$ 20 milhões para a construção de um centro de pesquisas na universidade.
Cientistas dizem que a mesma abordagem -a reprogramação do sistema imunológico do paciente- pode ser empregada contra tumores como de mama e próstata.
Para realizar o tratamento, médicos removem linfócitos T do paciente -um tipo de célula de defesa- e inserem genes que os capacitam a matar as células cancerígenas.
A técnica usa uma forma desativada de HIV, que leva material genético para dentro dos linfócitos. Os novos genes programam os linfócitos T para atacar as células B, uma parte normal do sistema imunológico que se torna maligna na leucemia.
Um sinal de que o tratamento está funcionando é que o paciente fica extremamente doente, com febres e calafrios, além de apresentar queda da pressão -efeitos que quase mataram Emma.
A pesquisa se encontra em fase inicial. Ainda não se saber por que o tratamento às vezes não funciona. Não está claro também se o o paciente precisa das células modificadas para sempre. Como elas matam as células B saudáveis, além das cancerosas, os doentes ficam vulneráveis a infecções e precisam usar imunoglobulinas para prevenir doenças.
Os pais de Emma dizem que a menina parece estar levando tudo muito bem. Ela voltou à escola e ao convívio com os colegas.
"Agora é hora de Emma recuperar sua infância", disse seu pai.

domingo, 9 de dezembro de 2012

Pacientes sem cordas vocais cantam em coral após superar câncer em SP

Doze pessoas interpretaram seis músicas ao lado de fonoaudiólogos.
Tumor de laringe atinge mais homens e fumantes, explica médico.

Luna D'Alama Do G1, em São Paulo
Dez pacientes que foram diagnosticados há alguns anos com câncer de laringe e submetidos a uma cirurgia para retirada total dessa parte da garganta, incluindo as cordas vocais, participaram nesta quarta-feira (4) de um coral no Hospital A.C. Camargo, especializado no tratamento de tumores, em São Paulo.
Sete homens e três mulheres, todos com mais de 60 anos, interpretaram seis músicas ao lado de um grupo de fonoaudiólogos, que fizeram a segunda voz, e da chefe da área, Elisabete de Angelis, que tocou violão. O evento, realizado pelo segundo ano, marca o Dia do Fonoaudiólogo, neste domingo (9).
Coral (Foto: Luna D'Alama/G1)Coral teve dez pacientes que retiraram a garganta e fonoaudiólogos que os tratam (Foto: Luna D'Alama/G1)
As canções escolhidas pelo coral “Sua voz” foram “A banda”, de Chico Buarque, “Samba da bênção”, de Vinicius de Moraes – intercalada com a leitura de uma poesia –, “Trem das onze” e “Tiro ao Álvaro”, de Adoniran Barbosa, “Whisky a Go Go”, conhecida na versão de Roupa Nova, “Peixe vivo” e “Bate o sino”.
Uma das pacientes, a aposentada Maria Clara Falcucci, de 61 anos, ainda leu uma carta que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, diagnosticado com câncer de laringe no ano passado, escreveu para parabenizar a iniciativa.
Segundo a fonoaudióloga Elisabete de Angelis, o grupo – que tem outros dois participantes, que faltaram à apresentação – ensaia uma vez por mês e canta por meio de três métodos diferentes: laringe eletrônica (que deixa a voz metalizada), prótese traqueoesofágica ou, ainda, voz esofágica, em que a pessoa treina para fazer o ar passar pelo esôfago e, então, conseguir falar. Essas duas últimas técnicas precisam da ajuda dos dedos para produzir os sons, e a prótese esofágica é a que garante uma voz mais forte, fluente e compreensível.
“Temos três objetivos, que são levar informação aos pacientes, com palestras mensais, buscar que eles deem apoio uns aos outros e cantar, que treina a voz e ao mesmo tempo tem um poder de cura”, diz Elisabete.
Antes de cantar, porém, os pacientes que tiveram câncer e retiraram a laringe passam por um processo de reabilitação, em que primeiro reaprendem a falar e a lidar com o orifício que fica aberto permanentemente no pescoço, chamado traqueostomia.
“Por causa disso, eles não podem mais mergulhar e precisam tomar cuidado na hora do banho. Além disso, os que usam prótese esofágica devem trocá-la a cada seis meses, porque acumula fungos, alimentos, etc”, explica a fonoaudióloga.
Maioria homem e fumante
Das dez pessoas que cantaram nesta quarta no Hospital A.C. Camargo, sete eram homens e apenas duas nunca haviam fumado na vida. As demais mantinham o vício há décadas, e algumas já haviam largado o cigarro quando descobriram o câncer.
Coral  (Foto: Luna D'Alama/G1)Três mulheres e sete homens cantaram no coral
(Foto: Luna D'Alama/G1)
A mineira aposentada Maria Clara Falcucci, por exemplo, fumava um maço por dia há mais de 40 anos quando foi diagnosticada, em 2007. Uma forte rouquidão, que foi piorando, foi o sinal de alerta. A partir daí, veio a necessidade de cirurgia para retirada do câncer.
“Com as sessões de fonoaudiologia, aprendi a controlar o ar, ganhar fôlego e formar frases. A doença não é nada, difícil é o tratamento. Fiz 37 aplicações de radioterapia e cinco de quimio, como prevenção”, conta Maria Clara, que até dois anos atrás só tinha cantado em karaokê. Hoje, a paciente viaja muito pelo mundo e pelo interior de Minas com as duas irmãs mais velhas.
“Sempre fui muito alegre, otimista. Estar vivo é uma graça”, diz.
História semelhante viveu o aposentado Coryntho Baldoíno, de 70 anos, que foi fumante por três décadas e venceu um câncer na laringe há sete anos, já depois de ter abandonado o vício.
Primeiro, Baldoíno passou por 38 sessões de radioterapia e três de químio. Mas a doença voltou e a cirurgia foi necessária. Hoje, além de trabalhar como advogado e cantar nas horas vagas – antes do coral, ele se definia como um “péssimo cantor” -, o paciente participa de corridas de rua. No próximo domingo, vai competir em uma prova de 10 km, no Centro de São Paulo.
“Antes do diagnóstico, também era alcoólatra, e controlei o problema com o esporte. Praticava caminhadas, depois comecei a correr, e nunca tive nenhuma recaída”, diz.
70% são casos avançados
Cerca de 70% dos pacientes com câncer de laringe que chegam ao consultório médico já estão em um estágio avançado da doença, segundo o cirurgião de cabeça e pescoço Thiago Chulam, do A.C. Camargo. Isso dificulta as possibilidades de tratamento e cura.
Dependendo do local da garganta onde o tumor está, os sintomas são diferentes. Na glote (estrutura na parte superior da laringe, que impede a entrada de alimentos e facilita a saída de ar), os sinais mais comuns são rouquidão e alterações de voz. Quando aparece na parte acima da glote, há dor de garganta e dificuldade para engolir. Já se estiver abaixo, costuma aparecer falta de ar.
“Cerca de 85% dos casos estão ligados ao consumo de cigarro e álcool. E a bebida potencializa o efeito do fumo”, explica.
De acordo com Chulam, o diagnóstico é feito por meio de exames clínicos, de imagem – como laringoscopia – e biópsia.  “Entre os pacientes que fizeram químio e rádio para preservar a laringe, cerca de 40% têm uma volta do câncer e precisam retirar a garganta”, diz o médico.
As chances de cura para os tumores iniciais chegam a 80%, e caem para 40% nos casos avançados.