sexta-feira, 30 de maio de 2014

No Brasil, 87% se arrependem de ter começado a fumar

De acordo com pesquisa divulgada pelo Inca, fumante brasileiro consome em média dezessete cigarros por dia

Cigarro: Mais da metade dos fumantes brasileiros sente que está muito dependente
Cigarro: Mais da metade dos fumantes brasileiros sente que está muito dependente (Thinkstock)
Uma pesquisa internacional divulgada nesta sexta-feira mostrou que 87% dos tabagistas no Brasil se arrependem de ter começado a fumar. O índice é maior do que os outros dois países da América Latina que participaram do estudo, México (74%) e Uruguai (66%). De acordo com o levantamento, os fumantes mais arrependidos são os da Tailândia (96%).
Os resultados, divulgados pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), fazem parte da Pesquisa Internacional de Tabagismo (ITC, na sigla em inglês), que foi coordenada pela Universidade de Waterloo, no Canadá, e realizada em vinte países. No Brasil, o estudo foi feito com 1 830 adultos do Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. Os participantes foram entrevistados duas vezes: uma em 2009 e outra entre 2012 e 2013.
Segundo a pesquisa, mais da metade dos fumantes do país tem uma opinião negativa sobre o tabagismo (56% dos homens e 66% das mulheres). A maioria sente que está muito dependente do cigarro (54%) e 80% já tentaram parar de fumar.
Hábitos — No Brasil, a maioria dos tabagistas (93%) fuma diariamente. O consumo médio é de dezessete cigarros por dia. Em 2013, 20% dos fumantes afirmaram que acendiam o primeiro cigarro do dia em até 5 minutos após acordar, e 50%, em até 30 minutos.
A pesquisa internacional também reforçou que o aumento dos impostos sobre o cigarro está diretamente associado à redução do número de fumantes. No Brasil, a tributação sobre o cigarro mais que dobrou (aumento de 116%) entre 2006 e 2013. Nesse mesmo período, a venda de cigarros no país caiu 32% e o número de fumantes, 28%.
No Brasil, 65% dos fumantes afirmam que o preço dos cigarros já fez com que eles pensassem em parar de fumar nos últimos seis meses. Trata-se de uma taxa menor do que países como Austrália (78%), França (74%) e Estados Unidos (75%).
Segundo talevanmento do Ministério da Saúde divulgado no mês passado, 11,3% da população brasileira é fumante. Há oito anos, o índice era de 15,7%.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Exercitar-se garante mobilidade na velhice

Pela primeira vez, estudo comprova que atividade física aumenta as chances de uma pessoa permanecer ativa e independente com o envelhecimento

Envelhecimento: Exercitar-se pode garantir mobilidade e independência de idosos
Envelhecimento: Exercitar-se pode garantir mobilidade e independência de idosos (Thinkstock)
Praticar exercícios físicos, mesmo que moderados — como uma simples caminhada diária —, é determinante para que um idoso mantenha a sua capacidade de movimentar-se e realizar atividades diárias sem precisar da ajuda de outra pessoa. A conclusão é de um novo estudo americano divulgado nesta terça-feira.
Os benefícios da atividade física à saúde das pessoas, idosas ou não, são amplamente conhecidos. Mas essa é a primeira vez que uma pesquisa mede a influência da atividade física para um indivíduo permanecer ativo e independente na velhice.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Effect of Structured Physical Activity on Prevention of Major Mobility Disability in Older Adults​

Onde foi divulgada: periódico Journal of the American Medical Association (Jama)

Quem fez: Marco Pahor, Jack M. Guralnik, Walter T. Ambrosius e Steven Blair

Instituição: Universidades da Flórida, Stanford, Northwestern, Pittsburgh, Tufts e Yale; Faculdade de Medicina Wake Forest; e Centro de Pesquisa Biomédica Pennington, nos Estados Unidos

Resultado: Idosos que passam a praticar atividade física moderada (150 minutos de caminhada por semana) reduzem suas chances de perder a mobilidade física e a capacidade de se locomoverem com o avanço da idade.
O estudo indicou que idosos que praticam atividade física aeróbica moderada têm uma maior probabilidade de manter a capacidade de andar com o avanço da idade do que idosos que não praticam esse tipo de exercício. O trabalho definiu essa capacidade como a habilidade de caminhar ao menos 400 metros de uma só vez. "Essa distância equivale a dois a três quarteirões", dizem os autores.
O estudo foi feito pela Universidade da Flórida, nos Estados Unidos, junto a outros sete centros de pesquisa americanos. Os resultados foram publicados na edição deste mês do periódico Journal of the American Medical Association (Jama) e serão apresentados nesta terça-feira no encontro anual do Colégio Americano de Medicina Esportiva, em Orlando.
Avaliação — Participaram da pesquisa 1 635 pessoas sedentárias de 70 a 89 anos. Todos os idosos conseguiam caminhar por 400 metros em 15 minutos, mas eram considerados como tendo um alto risco de perder a mobilidade. Os participantes foram, então, divididos em dois grupos: metade passou a praticar caminhada durante 150 minutos por semana, além de exercícios de alongamento, equilíbrio e flexibilidade; o restante começou a realizar apenas exercícios de alongamento. Todos foram acompanhados durante dois anos e meio.
Ao final deste período, os pesquisadores observaram que os idosos que praticaram caminhada tiveram um risco 18% menor de perder a mobilidade física em comparação com os participantes do outro grupo.
"Esse tipo de pesquisa é fundamental para definir quais recomendações de mudança de estilo de vida influenciam a saúde de idosos", diz Wendy Kohrt, professora de geriatria da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, que foi convidada para revisar a pesquisa. "Há um consenso sobre a atividade física ser boa para nós, então por que precisamos de mais estudos nessa área? Acontece que ainda não sabemos quais tipos ou doses de exercícios são melhores, particularmente para condições de saúde específicas. O novo estudo mostra que a atividade física moderada tem o potencial de ajudar os adultos a manter a independência funcional."

terça-feira, 27 de maio de 2014

Doenças mentais reduzem expectativa de vida mais do que tabagismo

Moléstias como esquizofrenia e bipolaridade podem encurtar a vida entre dez e vinte anos. Redução é de oito a dez anos para tabagistas

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Doenças psiquiátricas: comportamentos de alto risco são comuns entre quem sofre delas (Thinkstock)
Doenças mentais sérias podem encurtar a vida em até vinte anos. Esse número é equivalente ou até pior do que a queda na expectativa de vida decorrente do tabagismo, revelou um estudo da Universidade de Oxford, na Inglaterra, publicado nesta quinta-feira no periódico World Psychiatry.
Pesquisadores revisaram vinte estudos que mediram o risco de mortalidade de doenças mentais, dependência em álcool e drogas (cocaína, ópio e anfetamina), demência, autismo, dificuldades de aprendizagem e distúrbios de comportamento na infância. As pesquisas incluíam mais de 1,7 milhões de pessoas e relatavam 250 000 mortes.
Os estudiosos, então, compararam a expectativa de vida e a incidência de suicídio entre esses indivíduos com os dados da população em geral, assim como com os de tabagistas que fumam mais de um maço de cigarros diariamente.
"Nós descobrimos que muitos problemas mentais causavam uma queda na expectativa de vida tão grande quanto fumar vinte ou mais cigarros por dia", diz Seena Fazel, coautor do estudo e membro do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Oxford.
Expectativa de vida — A redução média da expectativa de vida foi de nove a vinte anos para bipolares, dez a vinte anos para esquizofrênicos, sete a onze para depressivos e nove a 24 anos para dependentes de álcool e drogas. Já entre os que fumavam intensamente, a diminuição foi de oito a dez anos.
Segundo Fazel, há muitas razões para as doenças mentais encurtarem a vida. "Comportamentos de alto risco são comuns em pacientes psiquiátricos, sobretudo decorrentes do abuso de drogas e álcool. Esses doentes também são mais propensos a morrer por suicídio. O estigma em torno da saúde mental pode fazer com que eles não sejam tão bem tratados pelos médicos quanto os pacientes com problemas físicos", explica.
Além disso, doenças psiquiátricas podem agravar enfermidades físicas, especialmente cardiopatias, diabetes e câncer. "Os psiquiatras têm uma responsabilidade especial como médicos em garantir que a saúde física de seus pacientes não seja negligenciada", afirma.
Pesquisadores, profissionais da saúde e governo precisam encarar as doenças mentais como prioritárias, diz Fazel. "O tabagismo é considerado um grande problema de saúde pública. Com vontade política e financiamento, as taxas de mortalidade relacionadas ao vício declinaram. Precisamos de um esforço semelhante quando o assunto é saúde mental."

domingo, 25 de maio de 2014

Maconha medicinal no Brasil

Vítimas de câncer, esclerose múltipla e mal de Parkinson vão se beneficiar da decisão da Anvisa, que deve autorizar a importação de remédios feitos a partir da cannabis. Saiba como essa decisão pode enriquecer o debate para a descriminalização da droga

Camila Brandalise (camila@istoe.com.br) e Fabíola Perez (fabiola.perez@istoe.com.br)
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Era 1997 quando a Justiça do Canadá autorizou Terrence Parker, 42 anos, a plantar e consumir maconha para tratar sua epilepsia. Quatro anos depois, o governo canadense foi o primeiro do mundo a regulamentar o uso medicinal da cannabis. O exemplo foi seguido pelo mundo. Nos Estados Unidos, já são 22 os Estados que permitem a produção e comercialização da erva para tratar doenças. No Reino Unido, um laboratório fabrica um medicamento em forma de spray com os dois componentes mais conhecidos da planta: o tetrahidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD). Recentemente, a França aprovou a venda desse mesmo remédio, assim como outros países europeus. Em Israel, também é possível adquirir a droga mediante autorização do governo. Na Holanda, compra-se a erva na farmácia. E no Brasil? Na quinta-feira 29, quando a diretoria da Anvisa aprovar a reclassificação do CBD, que deve ser liberado com uso controlado, será iniciado um novo marco na relação do País com a droga. ISTOÉ apurou que não há nenhuma resistência por parte dos cinco membros da diretoria técnica da Anvisa em votar pela mudança que autorizará a importação do medicamento. “Há uma tendência bastante grande em se aprovar, caso haja segurança nas informações”, afirmou à ISTOÉ o presidente da entidade, Dirceu Barbano. Ele e outros quatro diretores se encontram para discutir a alteração em reunião aberta ao público. “Aparentemente, são todos favoráveis”, disse o presidente. Com a reformulação, a substância passará a integrar a lista de classificação C1, que permitirá a prescrição e a importação do composto em forma de medicamento.
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Em território brasileiro, a função terapêutica da cannabis vem sendo estudada há décadas por pesquisadores. Mas a Anvisa se voltou para um de seus compostos, o CBD, há cerca de 40 dias, quando tomou conhecimento de que algumas famílias estavam importando sem autorização um remédio à base da substância, alegando impossibilidade de adquirir o produto de maneira legal (leia histórias de pessoas que se beneficiaram com o uso da erva ao longo desta reportagem). Há anos brasileiros recorrem à maconha medicinal, por conta própria, como último recurso para aliviar o sofrimento em situações-limite, como espasmos que impedem a pessoa de caminhar, convulsões e efeitos colaterais drásticos decorrentes de quimioterapia, entre outros sintomas. O que parece ter sacudido a equipe da agência foi a repercussão da história da menina Anny Fischer, 6 anos (leia na pág. 57). Sua história foi contada no documentário “Ilegal”, de Tarso Araújo, autor do “Almanaque das Drogas”, e ela passou a ser uma referência na luta pela importação do medicamento.
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Pioneiro na pesquisa sobre o assunto, o psicofarmacologista Elisaldo Carlini, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e diretor do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), explica que a maconha possui 66 canabinoides, substâncias de estrutura química peculiar que atuam em receptores do cérebro. “Entre eles, o THC e o CBD são estudados há mais tempo”, afirma Carlini, ele próprio autor de um trabalho de 1980 que demonstrava o uso terapêutico da cannabis em casos de epilepsia. Segundo o professor do laboratório de neurobiologia e comportamento da Universidade de Brasília (UnB), Renato Malcher, os canabinoides têm capacidade de atuar em diferentes males e imitam substâncias produzidas pelo nosso próprio organismo, em um sistema descoberto há cerca de duas décadas chamado endocanabinoide. “Eles controlam a hiperatividade dos neurônios, que são todos interconectados”, diz Lopes. Por isso, são tão citados em casos de convulsões e epilepsia, por exemplo. “Também evitam ruídos mentais no cérebro dos autistas.” A quantidade dos compostos necessários para um tratamento vai depender de cada caso, mas sabe-se que, enquanto o THC é euforizante, o CBD é ansiolítico.
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Se, por um lado, está claro que muitos pacientes seriam beneficiados pela regulamentação da maconha medicinal, por outro, ainda há uma grande resistência social em torno da erva. A primeira coisa que vem à cabeça quando se fala em cannabis é um cigarro de maconha. Mas, quando o assunto é saúde, pensar só no baseado é o primeiro erro. Um exemplo que ilustra essa questão é a planta da papoula, que pode gerar tanto a heroína, droga ilícita, quanto a morfina, analgésico muito utilizado para controle de dores fortes. Usar maconha terapeuticamente, portanto, não tem relação com ficar entorpecido – mesmo os portadores de doenças que fumam o baseado afirmam que só o fazem por não haver outra alternativa. Mas, apesar de a prescrição medicinal não ter relação com o uso recreativo da droga, como fazem questão de frisar os especialistas, a liberação dos medicamentos pela Anvisa irá colaborar para quebrar o estigma sobre esse entorpecente e deve contribuir para o debate sobre a sua descriminalização.
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Tão difícil quanto a mudança na legislação é a mudança de postura entre a comunidade médica. Pudera, já que, de acordo com a legislação sobre drogas, prescrever uma substância proibida é crime. Há receio, mas também há desinformação. Coordenador do comitê de ética em pesquisa do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA), Carlos Henrique Silva afirmou durante o IV Simpósio Internacional da Cannabis Medicinal, realizado em meados de maio, em São Paulo, nunca ter ouvido proposta de uso da planta no tratamento da doença, mesmo com depoimentos de pessoas relatando, durante o mesmo simpósio, que os efeitos da quimioterapia são amenizados pela maconha. A maioria dos médicos dos pacientes entrevistados para esta reportagem também preferiu não se manifestar. Segundo Carlos Vital, vice-presidente do Conselho Federal de Medicina, o uso medicinal da maconha será discutido pela entidade, que pode reconhecer a validade terapêutica.
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Colocar todas as ações relacionadas às drogas no mesmo patamar, o do crime, parece ser a maior falha da legislação brasileira. Até órgãos multilaterais se manifestaram sobre a questão. A Organização dos Estados Americanos (OEA), por exemplo, divulgou relatório em maio do ano passado afirmando que despenalizar, e não criminalizar usuários, deve ser a base para políticas de saúde pública. “A lei sobre drogas permite o uso medicinal, mas não há regulamentação. O que falta é a Anvisa dizer como se faz o uso terapêutico”, afirma o advogado Emílio Figueiredo, que defende cultivadores e usuários medicinais. É inconcebível, portanto, que uma pessoa que importe um remédio ou sementes para o tratamento de uma doença própria seja enquadrada como traficante internacional. “Teoricamente, é o que acontece hoje”, diz Figueiredo. Assim, o próximo passo da regulamentação do uso por doentes é garantir que o paciente usuário da droga não seja considerado criminoso.
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PIONEIRO
Elisaldo Carlini, da Unifesp, pesquisa as propriedades
medicinais da maconha há mais de 30 anos
Com toda a discussão sobre maconha medicinal no mundo, a indústria farmacêutica começa a lidar com um novo mercado. No Brasil, o laboratório Ipsen tem uma parceria com a empresa GW Pharmaceutical, detentora do Sativex, spray contendo THC e CBD. “Por isso, há planos de promover e distribuir o Sativex na América Latina”, afirma Mauricio de Souza, diretor médico do Ipsen. Por enquanto, a equipe trabalha em um dossiê regulatório antes de solicitar o registro à Anvisa. De acordo com a agência, se houver um pedido de registro, uma área técnica fará a análise e, caso aprovado, o medicamento deverá ser registrado com algum tipo de restrição, já que o CBD entra como substância de uso controlado. Mas o passo mais importante é a pesquisa, ainda restrita e dificultada pela burocracia de importação. Elisaldo Carlini, pesquisador da Unifesp que tenta desde 2010 criar uma agência brasileira da cannabis medicinal, afirma que os entraves do governo impedem o avanço científico. “Tentamos importar compostos e um medicamento para um estudo, mas parou na Anvisa. Agora, para tirar de lá, temos que pagar R$ 9 mil em taxas. Quando um centro de pesquisa de uma universidade pública vai ter esse dinheiro?” Além da Unifesp, a Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto estuda há alguns anos a função da maconha para tratamento do mal de Parkinson. Recentemente, divulgou um novo estudo sobre o uso do CBD para controle de distúrbios do sono ligados à doença. O psiquiatra Arthur Guerra de Andrade, coordenador do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas (Grea) do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, salienta a importância da produção científica para disseminar os benefícios da maconha medicinal. “A maconha tem propriedade terapêutica e funciona para algumas patologias? Sim. Funciona melhor do que medicamentos que temos hoje? Não sabemos. Acho que faltam mais dados científicos e comparações”, diz. Segundo ele, o fato de a maconha ainda ser ilícita faz com que comitês de ética de universidades e de órgãos públicos resistam em liberar a pesquisa. “O estudo dessa droga necessita que sejamos mais ousados.” Os pacientes agradeceriam.
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Fotos: Adriano Machado, João Ramid/AIB; Felipe Varanda/Ag. Istoé,João Castellano/Istoé; Rafael L G Motta

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Médicos sugerem: em até 3 minutos, ejaculação é precoce

Cartilha elaborada por pesquisadores pretende eliminar erros de classificação da síndrome

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Ejaculação precoce: síndrome ainda é pouco compreendida por médicos e pela população, dizem estudiosos (Thinkstock)
Embora tenha sido reconhecida como uma síndrome há 100 anos, a definição clínica da ejaculação precoce é ambígua e ainda carece de critérios objetivos e quantitativos. Por esse motivo, médicos têm dificuldade em diagnosticá-la e pesquisar novas formas de tratá-la. Um estudo publicado nesta quinta-feira no periódico Sexual Medicine sugere novas diretrizes para melhorar tanto o diagnóstico como o tratamento da ejaculação precoce.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: An Evidence-Based Unified Definition of Lifelong and Acquired Premature Ejaculation: Report of the Second International Society for Sexual Medicine Ad Hoc Committee for the Definition of Premature Ejaculation

Onde foi divulgada: periódico Sexual Medicine

Quem fez: Ege Can Serefoglu, Chris G. McMahon, Marcel D. Waldinger, Stanley E. Althof, Alan Shindel, Ganesh Adaikan, entre outros.

Instituição: Hospital Bagcilar Treinamento & Pesquisa, na Turquia

Resultado: Novas diretrizes para o diagnóstico e tratamento de ejaculação precoce, crônica e adquirida. A intenção é que não existam mais erros de classificação da síndrome.
Em 2008, a Sociedade Internacional de Medicina Sexual publicou uma definição sobre a ejaculação precoce crônica (se o homem sempre teve o problema), mas não sobre a ejaculação precoce adquirida (se a pessoa passa a sofrer da síndrome em algum momento da vida).
"A falta de uma definição para os pacientes com ejaculação precoce adquirida promove erros de classificação, resultando em estudos mal definidos e na dificuldade em interpretar dados", diz Ege Can Serefoglu, coautor de um dos estudos e urologista do Hospital Bagcilar Treinamento & Pesquisa, na Turquia.
Definição – Ao revisar a literatura médica sobre o assunto, Serefoglu e seus colegas propuseram uma definição unificada sobre a ejaculação precoce crônica e adquirida: ejaculação sempre ou quase sempre até cerca de 1 minuto depois da penetração vaginal (no caso da síndrome crônica) ou até 3 minutos (em sua forma adquirida); incapacidade de retardar a ejaculação sempre ou quase sempre na penetração vaginal; consequências pessoais negativas, como preocupação, frustração e tentativa de evitar a intimidade sexual.
"Essa nova diretriz deve formar a base para o diagnóstico clínico de ejaculação precoce e para a formulação de pesquisas científicas", afirma Serefoglu.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Perda de peso beneficia coração

Pesquisa examinou o impacto do estilo de vida sobre os fatores cardiovasculares de risco, desde 1946

pesquisa
Segundo pesquisadores, os resultados obtidos mostram a importância da manutenção de peso como uma prioridade de saúde pública
Foto: andré lima
São Paulo. Uma pesquisa publicada na revista médica "The Lancet Diabetes & Endocrinology" aponta que a perda de peso em qualquer idade na vida adulta pode levar a benefícios vasculares e cardíacos a longo prazo.
Os achados são de um estudo que examinou o impacto do estilo de vida sobre os fatores cardiovasculares de risco em um grupo de homens e mulheres britânicos, acompanhados desde seu nascimento, em 1946.
O acompanhamento dessas pessoas mostrou que a maior exposição ao excesso de gordura corporal aumenta os problemas cardiovasculares.
Mas, pela primeira vez, os dados também apontaram que quem "desce" um nível na escala do Índice de Massa Corporal (IMC) - de obeso para sobrepeso, por exemplo - em qualquer momento da vida adulta, mesmo que o peso seja recuperado depois, pode reduzir os problemas cardiovasculares no futuro. O estudo usou dados de 1.273 homens e mulheres do UK Medical Research Council National Survey of Health and Development (NSHD).
Os participantes foram classificados em relação ao peso (peso normal, sobrepeso ou obesidade) na infância e aos 36, 43, 53 e dos 60 aos 64 anos de idade.
Na faixa dos 60 aos 64 anos, os participantes foram avaliados quanto aos fatores de risco para doenças cardiovasculares.
Trabalho único
De acordo com o autor do estudo, John Deanfield, da University College London, o trabalho é único porque seguiu as pessoas por um período longo (mais de 60 anos), o que permitiu verificar o efeito da perda de peso para a saúde na terceira idade
Prioridade
Apenas 2% dos participantes do estudo tiveram uma redução sustentada do IMC (ou seja, não recuperaram o peso depois), o que, segundo os autores, mostra a importância de manter o peso e prevenir o ganho dos quilos perdidos como prioridade de saúde pública.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Governo já fala em prorrogar Mais Médicos até 2019

Inicialmente, programa deveria ser encerrado em 2016. Projeto foi desenvolvido para suprir falta de médicos em regiões do país

Médicos cubanos na chegada ao Brasil no aeroporto de Brasília, em agosto de 2013
Médicos cubanos na chegada ao Brasil no aeroporto de Brasília, em agosto de 2013 (Fernando Bizerra Jr/EFE)
O governo brasileiro considera a possibilidade de renovar o programa Mais Médicos por mais alguns anos, mesmo que a iniciativa não tenha completado sequer seu primeiro ano de vida. Em entrevista coletiva nesta segunda-feira, em Genebra, o ministro da Saúde, Arthur Chioro, deixou aberta a possibilidade de uma renovação além dos três anos originalmente planejados. Isso porque, de acordo com ele, o país precisará de mais tempo para formar novos médicos que possam atuar nas regiões supridas pelo programa. "Muito provavelmente será necessário renovar o programa mais uma vez", disse.
Em 2013, quando o programa foi criado, o governo insistiu que se tratava de uma medida de urgência e que tinha como objetivo suprir um déficit de médicos em diferentes regiões do país. Se o projeto for estendido por mais três anos a partir de 2016, terminaria apenas em 2019.
No total, 14.100 médicos passaram a fazer parte do programa, sendo que mais de 10.000 são cubanos e apenas 2.600 são brasileiros — entre eles, 1.200 estudavam ou atuavam no exterior e voltaram ao Brasil para o programa. "Só podiam pedir (o programa) municípios que estivessem dentro do critério que estabelecemos. Além disso, os primeiros a escolher onde queriam ir foram os brasileiros. O que sobrava foi para os cubanos", disse Chioro.
Segundo o ministro, cada uma das cidades atendidas será avaliada antes de uma eventual renovação e uma das esperanças é de que as vagas hoje preenchidas pelo Mais Médicos comece a ser ocupada por brasileiros que decidam permanecer nos municípios.
Formação — De acordo com Chioro, as ações do governo não se limitam a importar médicos. Mas o ministro alerta que a formação de novos médicos pode levar de seis a nove anos. Segundo ele, até 2017, 11.400 novas vagas serão abertas para o curso de medicina no Brasil.
O Ministério da Saúde também quer uma mudança no perfil dos médicos formados no Brasil. A grade curricular das faculdades mudou para colocar 30% do curso voltado à formação em atendimento básico. Para a residência, será necessário um ou dois anos de saúde familiar como precondição para que o aluno possa ir para sua especialidade.
(Com Estadão Conteúdo)

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Teste contra tumor de tireoide

Chega ao Brasil exame genético que promete indicar com 95% de precisão se há nódulos malignos na glândula

Mônica Tarantino (monica@istoe.com.br)
O diagnóstico da natureza dos nódulos de tireoide é um daqueles dilemas para os quais a medicina ainda busca soluções mais eficientes. Se forem benignos, podem ser monitorados pelo resto da vida. Se malignos, devem ser extraídos, o que implicará provavelmente retirada de parte da glândula e necessidade de fazer reposição hormonal contínua dos hormônios tireoidianos.
O mais novo progresso nesse campo é um teste que analisa a expressão de 167 genes encontrados em amostras de tecido aspiradas do próprio nódulo por meio de uma agulha muito fina. Primeiro a chegar ao País por meio de uma parceria entre o Fleury Medicina Diagnóstico e a empresa Genzyme, o exame identifica falhas na expressão dos 142 genes associados aos nódulos inofensivos e de 25 genes vinculados aos nódulos tumorais. Cada um desses genes é responsável por instruir as células envolvidas no funcionamento da tireoide a produzir substâncias específicas.
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DECISÃO
Rosa diz que exame ajudará a evitar cirurgias desnecessárias
Os exames genéticos são uma opção muito esperada para avançar no diagnóstico quando a análise das células obtidas pela punção deixa dúvidas, o que ocorre entre 15% e 30% dos casos. Até agora, o único recurso para elevar a margem de acerto era pedir aos laboratórios de análises clínicas para avaliarem novamente os tecidos em busca de marcadores tumorais (substâncias produzidas pelos tumores) nesses tecidos. “Com essa prova, que chamamos de imuno-histoquímica, a incerteza pode se restringir a 10% dos casos. E a esses pacientes eu recomendo a cirurgia para a extração da glândula”, diz a endocrinologista Maria Fernanda Barca, de São Paulo, com doutorado em doenças da tireoide.Esse tipo de resultado, no entanto, só é alcançado quando os testes são feitos em laboratórios muito bons, analisados por ótimos patologistas e entregues a médicos experientes e atualizados. Não é o que acontece normalmente no Brasil. Por isso, o número de pacientes operados acaba sendo muito maior, atingindo quase metade daqueles que fizeram a punção. As estatísticas internacionais apontam que apenas 5% de todos os nódulos são, de fato, malignos.
Considerando o contexto, a possibilidade de realizar um teste genético para elevar a acurácia do diagnóstico é muito oportuna. “A função do exame genético é auxiliar o médico na decisão de evitar uma cirurgia desnecessária”, diz a médica Rosa Paula Biscolla, assessora em endocrinologia do Fleury Medicina e Saúde.
De acordo com a Genzyme, empresa fabricante do teste, o kit aponta com 95% de precisão se o nódulo é benigno. No entanto, em 5% dos casos há chance de, apesar de o exame não indicar malignidade, ser realmente câncer.
O novo teste custa R$ 9 mil e, por enquanto, não é coberto pelos planos de saúde. Por ano, no Brasil, são descobertos 9.050 novos casos de câncer de tireoide, conforme o Instituto Nacional do Câncer.
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domingo, 18 de maio de 2014

Remédio para doença renal pode bloquear o desenvolvimento da aids

Em estudo com macacos, medicamento impediu trânsito de bactérias intestinais para o resto do corpo e reduziu complicações à saúde causadas pelo vírus HIV

HIV
Sevelamer: Tratamento surte efeito quando o intestino ainda está saudável (Thinkstock)
Um estudo com macacos revelou que os problemas de saúde ocasionados pelo vírus HIV podem ser amenizados com o uso de uma droga utilizada para o tratamento de diálise renal. A comprovação foi feita por pesquisadores da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, e publicada nesta sexta-feira no periódico Journal of Clinical Investigation.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Unraveling the relationship between microbial translocation and systemic immune activation in HIV infection​

Onde foi divulgada: periódico Journal of Clinical Investigation.

Quem fez: Liang Shan e Robert F. Siliciano.

Instituição: Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos.

Resultado: Macacos com SIV, forma primitiva de HIV, foram medicados com Sevelamer. O tratamento impediu que as bactérias do intestino invadissem o sangue e levassem à progressão da infecção do HIV para a aids.
A pesquisa, assim, sustenta a teoria de que terapias complementares às drogas antirretrovirais podem diminuir a progressão do HIV no organismo. O medicamento utilizado para a pesquisa foi o Sevelamer, que se mostrou eficaz no bloqueio da proliferação de bactérias provenientes do intestino e acabou por reduzir complicações de saúde.
Deficiência do sistema imunológico e inflamações são os principais determinantes da progressão da infecção do HIV para a aids. O que se acreditava, e que foi comprovado, é que uma das causas dessa progressão seria o trânsito de bactérias do intestino para o resto do corpo — facilitado pela mucosa intestinal danificada pelo HIV.
Os pesquisadores utilizaram para o estudo macacos previamente infectados com SIV, a forma primata do HIV. Parte dos animais foi medicada com Sevelamer via oral, indicado para tratar níveis elevados de fosfato no sangue de pacientes com doença renal crônica. A outra parte não utilizou a medicação. Nos macacos tratados com o remédio, o nível de uma proteína que indica translocação microbiana se manteve baixo. Já naqueles do grupo de controle, esses níveis aumentavam quase quatro vezes por semana após a infecção por SIV.
Segundo os pesquisadores, as bactérias se ligam ao Sevelamer, o que dificulta sua fuga para o resto do corpo e previne problemas mais sérios, como doenças cardiovasculares, enfraquecimento ainda maior do sistema imunológico e o desenvolvimento da aids.
Ivona Pandrea, coautora do estudo, ressalta que esse tratamento pode não surtir efeito depois que a infecção atinge maiores proporções, quando o intestino está demasiadamente danificado. "Nosso estudo aponta para a importância do rápido tratamento em pessoas infectadas com o vírus", diz.

Opinião do especialista

Dr. Esper Kallás
Infectologista do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, professor associado da disciplina de imunologia clínica e alergia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e Livre-Docente pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

"A pesquisa é promissora, principalmente porque o papel das bactérias do intestino no desenvolvimento da aids tem sido muito discutido no meio científico. O vírus HIV ataca as células de defesa do intestino, responsáveis pela resposta imunológica. Quando essas células morrem, as bactérias presentes no órgão passam com facilidade para o sangue, o que lentamente causa um processo inflamatório no organismo e causa a aids e outras complicações.
As bactérias do intestino são ricas em fosfato, e o medicamento utilizado se liga a essa substância, de modo que ela não passa para o sangue. Esse mecanismo, porém, só funciona na fase aguda — em média uma semana depois da contaminação pelo vírus, quando o intestino ainda está saudável — ou um pouco antes da contaminação.
Nesse momento, seria um passo muito grande considerar esse tratamento como certeiro. São necessárias outras pesquisas para comprovar sua eficiência."

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Exercício intenso pode causar problema cardiovascular

Estudos concluem que exagerar na atividade física eleva risco de ataque cardíaco, derrame e arritmia. Mas isso não é um convite ao sedentarismo: pesquisadores alertam que qualquer exercício é melhor do que nenhum

Estudo sueco constatou que realizar atividade física mais de cinco horas por semana aumenta as chances de desenvolver arritmia em 19%
Estudo sueco constatou que realizar atividade física mais de cinco horas por semana aumenta as chances de desenvolver arritmia em 19% (Thinkstock)
Fazer exercícios intensos regularmente pode ser maléfico à saúde cardiovascular. Segundo dois estudos, um alemão e outro sueco, ambos publicados quarta-feira no periódico Heart, exagerar na atividade física aumenta o risco de ataque cardíaco, acidente vascular cerebral (AVC) e arritmia.  Mas isso não é um incentivo a não fazer nenhum exercício. Os pesquisadores ressalvam que se exercitar em qualquer quantidade é melhor do que ser sedentário.
CONHEÇA A PESQUISA

Títulos originais:  ​A reverse J-shaped association of leisure time physical activity with prognosis in patients with stable coronary heart disease: evidence from a large cohort with repeated measurements e Atrial fibrillation is associated with different levels of physical activity levels at different ages in men​

Onde foram divulgadas: periódico Heart.

Quem fez: Ute Mons, Harry Hahmann e Hermann Brenner, do Centro de Estudo Alemão de Câncer. E ​Nikola Drca, Alicja Wolk, Mats Jensen-Urstad e Susanna C Larsson, do Departamento de Cardiologia do Instituto Karolinska.

Instituições: Centro de Estudo Alemão de Câncer, na Alemanha, e Departamento de Cardiologia do Instituto Karolinska, na Suécia.

Resultados: No estudo alemão, foi constatado que os participantes que fizeram atividades físicas intensas mais de quatro vezes por semana tinham duas vezes mais probabilidade de morrer de ataque cardíaco ou derrame do que aqueles que se exercitavam de duas a quatro vezes. Já a pesquisa sueca relatou que os homens que se exercitavam intensamente por mais de cinco horas semanais elevavam em 19% a probabilidade de terem arritmia aos 60 anos.
Os cientistas do Centro de Estudo Alemão de Câncer mediram por dez anos a frequência e a intensidade de atividade física, além da taxa de mortalidade, de mais de 1.000 pessoas com doença arterial coronariana cardíaca estável.

Todos os participantes, com idade média de 60 anos, tinham participado de um programa de reabilitação cardíaca, que incluía exercícios regulares. Dos voluntários, 30% praticavam exercícios menos de duas vezes semanais (sendo que 10% nunca ou raramente praticavam), 40% duas a quatro vezes e 30% mais que quatro.
Ao compilar os dados, os cientistas detectaram, sem surpresa, que os sedentários tinham quatro vezes mais probabilidade de morrer de quaisquer causas do que os ativos fisicamente, sendo o risco de ataque cardíaco ou derrame duas vezes superior.

A constatação inesperada foi que os voluntários que praticavam os exercícios intensos mais de quatro vezes por semana também tinham duas vezes mais probabilidade de morrer de ataque cardíaco ou derrame do que aqueles que malhavam com menor frequência.

Já a pesquisa sueca, realizada por estudiosos do Departamento de Cardiologia do Hospital Karolinska, perguntou a mais de 44.000 homens, com idades entre 45 e 79 anos, sobre o tempo dedicado à atividade física nas idades de 15, 30 e 50 anos, e sobre cada ano depois dos 60 anos. A saúde cardíaca dos participantes foi acompanhada por doze anos, em média, desde 1997, período em que foi documentado quantos voluntários desenvolveram arritmia cardíaca e fibrilação atrial, um conhecido fator de risco do derrame.
Os pesquisadores constataram que os homens que se exercitaram intensamente por mais de cinco horas semanais tinham 19% mais probabilidade de desenvolver arritmia aos 60 anos do que aqueles que praticaram atividade física por menos de uma hora por semana. O risco subiu para 49% quando se realizava mais de cinco horas de exercício por semana aos 30 anos — grupo que, posteriormente, fazia menos de uma hora de atividade aos 60 anos.
"Esses dados precisam ser analisados com cautela. Nós podemos, definitivamente, dizer que qualquer quantidade de exercício é melhor do que o sedentarismo", disse ao site de VEJA Ute Mons, líder da pesquisa alemã. "Minha recomendação é que pacientes com problemas no coração estabeleçam sua 'dose' de exercício junto com o médico e o educador físico."

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Menopausa precoce pode elevar risco de insuficiência cardíaca, diz estudo

Mulheres que pararam de menstruar entre os 40 e 45 anos tiveram 40% mais complicações cardíacas do que as que pararam dos 50 aos 54 anos

Insuficiência cardíaca foi mais elevada entre tabagistas
Insuficiência cardíaca foi mais elevada entre tabagistas (iStock)
Mulheres que entram na menopausa precocemente — isto é, entre os 40 e 45 anos — têm mais riscos de sofrer insuficiência cardíaca e doenças do coração. O tabagismo, no presente ou no passado, eleva esse risco ainda mais. Essa é a constatação de um estudo do Instituto Karolinska, na Suécia, publicado nesta quarta-feira no periódico Menopause.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Relationship between age at natural menopause and risk of heart failure​

Onde foi divulgada: periódico Menopause.

Quem fez: Iffat Rahman, Agneta Åkesson e Alicja Wolk.

Instituição: Instituto Karolinska, na Suécia.

Resultado: Mulheres que entraram na menopausa precocemente, entre os 40 e 45 anos, apresentaram uma taxa de insuficiência cardíaca 40% maior do que as que entraram na menopausa dos 50 aos 54 anos.
A pesquisa avaliou dados de 22.000 mulheres e é a primeira a relacionar insuficiência cardíaca, que é a deficiência do coração em bombear o sangue adequadamente, e menopausa precoce. Os estudiosos concluíram que mulheres que entraram na menopausa antecipadamente tiveram uma taxa de insuficiência cardíaca 40% maior do que as pararam de menstruar na idade mais usual — 50 a 54 anos.
A incidência de insuficiência cardíaca foi mais elevada entre tabagistas — tanto entre aquelas que fumam quanto entre as que fumaram no passado. Mulheres fumantes, como é comprovado, entram na menopausa em média um ano antes que as não-fumantes.
"A menopausa é sempre um bom momento de começar a tentar diminuir os riscos de doenças cardíacas. Isso pode ser feito com uma boa dieta, prática de exercícios, perda de peso e fim do tabagismo", diz Margery Gass, diretora executiva da Sociedade Norte Americana de Menopausa. "O estudo encoraja outras pesquisas a tentarem descobrir a fundo como que a menopausa está ligada à insuficiência cardíaca."

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Planos de saúde terão de oferecer remédios contra efeitos da quimioterapia

Decisão da ANS, de efeito imediato, inclui oito grupo de medicamentos - entre eles, os destinados a combater anemia, diarreia e dor neuropática

Tratamento: ANS determina que planos de saúde devem oferecer oito grupos de medicamentos contra efeitos adversos da quimioterapia
Tratamento: ANS determina que planos de saúde devem oferecer oito grupos de medicamentos contra efeitos adversos da quimioterapia (Jupiterimages/Thinkstock)
Operadoras de saúde agora estão obrigadas a custear para seus usuários medicamentos que controlam efeitos adversos da quimioterapia. A determinação, de efeito imediato, foi publicada nesta segunda-feira pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). A obrigação vale para oito grupo de medicamentos de uso domiciliar, que devem ser indicados de acordo com diretrizes, também publicadas na resolução da ANS.
A nova regra completa uma medida que entrou em vigor em janeiro deste ano, quando o tratamento de câncer com medicamentos via oral foi incluído no rol de procedimentos da ANS — lista com tratamentos, exames de diagnóstico, cirurgias e consultas que operadoras são obrigadas a garantir para seus clientes.
De acordo com a ANS, a distribuição dos medicamentos indicados para efeitos colaterais ficará a critério das operadoras de saúde, uma lógica que já é adotada para fornecimento de remédios via oral para tratamento de câncer. A estratégia pode ser centralizada (com distribuição direta para paciente, feita pela própria operadora), por meio de farmácia conveniada ou por reembolso (o paciente compra o medicamento e depois recebe o ressarcimento da empresa).
Os medicamentos inclusos na nova determinação da ANS têm as seguintes finalidades: terapia para anemia com estimuladores da eritropoiese; para profilaxia e tratamento de infecções; para diarreia; para dor neuropática; para profilaxia e tratamento da neutropenia com fatores de crescimento de colônias de granulócitos; para profilaxia e tratamento da náusea e vômito;para profilaxia e tratamento do rash cutâneo; e para profilaxia e tratamento do tromboembolismo.
Acesso — Em nota, a FenaSaúde informou que para ter acesso à medicação, o paciente deve apresentar um relatório detalhado do médico com as indicações, justificativas e o plano de tratamento. As informações são analisadas pelas operadoras, para verificar se elas se encaixam nas diretrizes determinadas pela ANS. A FenaSaúde observa também que a regra da ANS vale para contratos firmados a partir de janeiro de 1999. Aqueles celebrados antes desta data, chamados de "contratos velhos", não precisam atender a essa regra. Ainda em nota, o órgão informou que beneficiário deve consultar sua operadora de plano de saúde para informar-se sobre seu direito às novas coberturas.
A decisão de incluir medicamentos para tratamento de efeitos colaterais na lista de procedimentos obrigatórias foi adotada depois de discussão do Comitê Permanente de Regulação da Atenção à Saúde (Cosaúde). O grupo é formado por representantes da Câmara de Saúde Suplementar — que inclui integrantes das sociedades médicas e de profissionais de saúde, das operadoras, de órgãos de defesa do consumidor, do Ministério da Saúde.
(Com Estadão Conteúdo)

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Consumo de álcool no País supera média mundial, diz OMS

No País, o consumo médio é de 8,7 litros por pessoa por ano

AE
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O abuso no consumo de álcool no Brasil supera a média mundial e apresenta taxas superiores a dezenas de países. Os dados são da Organização Mundial da Saúde que, em um informe publicado nesta segunda-feira, 12, alerta que 3,3 milhões de mortes no mundo em 2012 foram causados pelo uso excessivo do álcool, 5,9% de todas as mortes. Segundo a entidade, não apenas a bebida pode gerar dependência, mas também poderia levar ao desenvolvimento de outras 200 doenças.
Entre os 194 países avaliados, a OMS chegou a conclusão de que o consumo médio mundial para pessoas acima de 15 anos é de 6,2 litros por ano. No caso do Brasil, os dados apontam que o consumo médio é de 8,7 litros por pessoa por ano. Esse volume caiu entre 2003 e 2010. Há dez anos, a taxa era de 9,8 litros por pessoa.
 
Mas as projeções até 2025 mostram que o consumo voltará a aumentar, ultrapassando a marca de 10,1 litros por ano por pessoa. Em 1985, o consumo não chegava a 4 litros por pessoa por ano.
 
No caso brasileiro, a diferença entre o consumo masculino e feminino é profundo. Entre os homens, a taxa chega a mais de 13 litros por ano. Para as mulheres, ela é de apenas 4 litros. 60% do consumo é de cerveja. Apenas 4% do consumo é representado pelo vinho.
 
Mas o que mais preocupa a OMS são os casos de abusos no consumo. No mundo, a média é de 7,5% da população que experimentou em algum ponto do ano um caso de um consumo excessivo de álcool. No Brasil, porém, a taxa é de 12,5%. Num ranking de números de anos perdidos de vida saudável, Brasil está entre os líderes.
 
Em todo o mundo, a Europa é a região onde os índices de consumo são os mais elevados per capta, com diversos países apresentando taxas acima de 10 litros por ano.

domingo, 11 de maio de 2014

Como diminuir o sofrimento de crianças vítimas de doenças crônicas graves

Elas já podem contar com serviços médicos para minorar as agruras físicas e psicológicas

Tranquilidade nos momentos difíceis - “No ano passado, entrei para os cuidados paliativos. Passei a receber uma atenção diferente. Em uma das minhas internações, uma amiga do hospital morreu com a mesma doença que eu tenho. Isso aconteceu de madrugada. No dia seguinte, quando acordei, minha médica já estava no quarto. Ela fez questão de conversar comigo e tirar todas a dúvidas que passavam pela minha cabeça. Ela me tranquilizou muito.”

Jaqueline Tebaldi, 14 anos, portadora de fibrose cística
Tranquilidade nos momentos difíceis - “No ano passado, entrei para os cuidados paliativos. Passei a receber uma atenção diferente. Em uma das minhas internações, uma amiga do hospital morreu com a mesma doença que eu tenho. Isso aconteceu de madrugada. No dia seguinte, quando acordei, minha médica já estava no quarto. Ela fez questão de conversar comigo e tirar todas a dúvidas que passavam pela minha cabeça. Ela me tranquilizou muito.” Jaqueline Tebaldi, 14 anos, portadora de fibrose cística (Fabiano Accorsi)
Aos 14 anos, Jaqueline Tebaldi tem os hábitos típicos das meninas de sua idade. Adora maquiagem, sobretudo as de cor rosa- clarinho. Vidrada no celular (rosa brilhante), vive a vaguear pelas redes sociais e a trocar mensagens com os amigos. Seus filmes prediletos são as comédias românticas. Sonha em entrar na faculdade e cursar medicina. Ao contrário da imensa maioria dos que atravessam a adolescência, aquela fase em que nós nos sentimos imortais e poderosos, Jaqueline reflete sobre a finitude e a fragilidade da vida. Aos 2 anos, ela foi diagnosticada com fibrose cística, um distúrbio hereditário, sem cura e, em geral, precocemente fatal. A doença atinge sobretudo os pulmões. “Desde pequena, sei o que eu tenho. Quando eu era internada, via outras crianças com problema igual ao meu. É difícil ver meus amigos indo embora”, diz ela. “Sempre me pergunto: quando será que eu vou também?” Com o vigor característico dos jovens, Jaqueline não se entrega. Como quer entrar na fila do transplante, segue à risca uma rotina rigorosa (e penosa) de tratamento — sessões diárias de inalação e diversos medicamentos. Atualmente, com a piora de sua capacidade respiratória, a menina está presa a um cilindro de oxigênio. Por causa do trambolho (incômodo, mas indispensável), ela se afastou da escola, onde tocava na fanfarra, do curso de inglês e das aulas de dança. Em breve, assim que se adaptar à nova condição, Jaqueline pretende voltar a estudar. E, quando isso acontecer, no primeiro dia de aula ela estará acompanhada por alguns dos profissionais de saúde da Santa Casa de São Paulo encarregados de seu caso. Eles devem explicar aos colegas de classe da adolescente tudo sobre a fibrose cística. “Vai ser bom porque muita gente pensa que a minha doença é contagiosa... As pessoas me olham com cara de dó”, diz. “Com o tubo ou sem o tubo, eu sou a mesma coisa.”
A atenção dos médicos, fisioterapeutas e psicólogos na adaptação de Jaqueline à nova rotina pode soar incomum em um tratamento médico. Mas não é. Esse tipo de preocupação é parte essencial de uma das áreas mais humanitárias da medicina moderna, a dos cuidados paliativos. Do latim pallium, nome dado ao manto que os cavaleiros utilizavam para se proteger do mau tempo, os cuidados paliativos pretendem aplacar o sofrimento causado pelos sintomas e pelas sequelas de uma doença grave, que ameaça a vida. O tempo de sobrevida do paciente é relativo. “Na pediatria, a duração da doença é mais imprevisível do que entre os adultos”, diz a pediatra Silvia Barbosa, chefe do departamento de cuidados paliativos do Instituto da Criança, da Universidade de São Paulo. Surgida na Inglaterra, no fim dos anos 60, a prática só chegaria às crianças vinte anos depois, com a inauguração, em Oxford, da fundação Helen and Douglas House. No Brasil, ela ainda está em seus primórdios, com, no máximo, trinta especialistas no país todo.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Em 70% dos casos, câncer de ovário é diagnosticado em estágio avançado

Estatística é do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo. Doença é o tipo de tumor ginecológico mais agressivo, mas não o mais prevalente entre mulheres

Câncer de ovário: 70% das mulheres com a doença atendidas em hospital de SP têm mais de 55 anos
Câncer de ovário: 70% das mulheres com a doença atendidas em hospital de SP têm mais de 55 anos (Thinkstock)
Um levantamento do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) mostrou que sete em cada dez mulheres com câncer de ovário que chegam ao hospital já apresentam uma forma muito avançada da doença, o que pode comprometer o sucesso do tratamento. O tumor é mais frequente em mulheres acima dos 55 anos – cerca de 70% das pacientes atendidas no Icesp são desta faixa etária, segundo os dados divulgados nesta terça-feira.
O câncer de ovário não é o tumor ginecológico mais frequente entre as mulheres, mas é o mais agressivo e com menores chances de cura. Na maioria das vezes em que os sintomas se tornam aparentes, a doença já está em um estágio muito avançado e é praticamente incurável.
Além disso, não há formas de detectar o tumor precocemente. As principais entidades médicas do mundo não recomendam exames de prevenção para a doença em mulheres saudáveis. Estudos concluíram que esses exames não reduzem a mortalidade e podem levar a cirurgias desnecessárias. “A visita anual ao ginecologista e a procura por médicos em casos de alguma anormalidade podem ajudar a antecipar o diagnóstico, aumentando as chances de sucesso do tratamento”, diz coordenadora da oncologia clínica do Icesp, Maria Del Pilar Estevez Diz.
Parte dos casos do câncer de ovário é hereditária. A incidência da doença pode ter relação com o número de ovulações — por isso, tomar pílula e engravidar muitas vezes pode ajudar a reduzir o risco do problema. Segundo o Icesp, obesidade, terapia de reposição hormonal e tratamento para a fertilidade podem aumentar a propensão ao câncer.
Estimativas do Instituo Nacional do Câncer (Inca) sugerem que o Brasil terá 6 000 novos casos de câncer de ovário neste ano – uma incidência dez vezes menor do que a do câncer de mama, por exemplo.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Tecido de coração de vaca salva bebê que nasceu com buracos no coração

Britânico nasceu com dois buracos no coração e estreitamento da aorta.
Em cirurgia, recebeu tecido de pericárdio bovino para reparar problemas.

Do G1, em São Paulo
Bebê nasceu com defeito congênito no coração, reparado com tecido de coração de vaca (Foto: Caters News)Ruben Weber-Jackson nasceu com defeito congênito no coração, que foi reparado com tecido de coração de vaca (Foto: Caters News)
Quando Ruben Weber-Jackson nasceu na cidade de Beverley, na Inglaterra, ninguém notou que havia algo diferente com o bebê. Duas semanas depois, sua mãe, Petra Weber-Jackson, de 29 anos, percebeu que ele passou a respirar com dificuldade. Exames mostraram que Ruben tinha dois buracos no coração e um estreitamento da aorta, o que comprometia severamente sua circulação.
Foram necessárias duas grandes cirurgias para tratar o defeito congênito, de acordo com agência Caters. A primeira foi feita ainda no primeiro mês de vida. No segundo procedimento, realizado logo depois, os médicos usaram tecido retirado de um coração de vaca para reparar os buracos no coração. Segundo a equipe médica que o atendeu, foi o que salvou sua vida.
Hoje, logo depois de completar um ano, os pais de Ruben dizem que temiam que a criança não vivesse até o primeiro aniversário. “Não há um dia que passa em que eu não pense sobre como nossas vidas poderiam ser diferentes agora, como chegamos tão perto de perdê-lo”, diz Petra. “De certa forma, eu acho que ele sabe no subconsciente – ele é um bebê tão feliz e parece querer fazer o máximo da vida.”
De acordo com a cardiologista pediátrica Simone Pedra, coordenadora da Unidade Fetal do HCor, em São Paulo, o uso do pericárdio bovino para tratar defeitos congênitos é comum. “O pericárdio é uma membrana que envolve o coração. Existe um banco desse tecido, em que ele é tratado com toda a antissepsia e vira como se fosse um retalho biológico, usado para ampliar vasos, fechar orifícios e outras funções”, explica.
A especialista diz que, a cada 100 bebês, um nasce com alguma alteração cardíaca. Entre os que têm esse problema, mais ou menos metade precisa de atendimento logo após o nascimento. “Há uma gama muito grande de defeitos possíveis, como buracos no coração, válvulas parcialmente ou totalmente fechada, troca na posição dos vasos”, diz.
Alguns sinais desses problemas são a pele de coloração arroxeada (que indica que a quantidade de oxigênio circulante no corpo está reduzida), a insuficiência cardíaca (visível quando a criança se mostra cansada e com respiração rápida) ou a presença de sopro no coração (detectado em um exame rotineiro feito pelo pediatra).
No caso de Ruben, além da respiração irregular, sua mãe também notou que ele estava com lábios arroxeados. Hoje, a criança vive saudável com a mãe, Petra, o pai, Mike Jackson, de 40 anos, e os dois irmãos: William, de 7, e Johannes, de 4 anos.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Complicação na gravidez causa 33 mortes por hora no mundo

Mortalidade materna é 45% menor do que em 1990, mas ainda é considerada alta pela OMS

Complicações na gravidez: Problema causou 289 000 mortes no mundo em 2013
Complicações na gravidez: Problema causou 289 000 mortes no mundo em 2013 (Jupiterimages/Thinkstock)
A cada hora, 33 mulheres morrem no mundo devido a complicações na gravidez, revelam dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgados nesta terça-feira. O número, embora seja considerado elevado pela entidade, é 45% menor do que há duas décadas. Em 2013, houve 289 000 óbitos por esse motivo e, em 1990, 523 000. Atualmente, a taxa de mortalidade materna no mundo é de 210 mortes por 100 000 nascimentos.
Ainda de acordo com a OMS, um quarto da mortalidade materna do ano passado foi causado por doenças que já acometiam as mulheres antes da gestação, como diabetes, malária, obesidade e infecção pelo vírus da aids. Outras causas incluem hemorragia grave da gravidez ou no parto (27%); pressão alta causada pela gestação (14%); infecções (11%); e complicações do aborto (9%).
"Nós precisamos documentar cada um desses eventos trágicos, determinar as suas causas e iniciar ações corretivas com urgência", diz Tim Evans, diretor de Saúde, Nutrição e População do World Bank Group, entidade que colaborou com os dados do levantamento.
Mundo — Segundo a OMS, a África Subsaariana é a região do mundo onde há o maior risco de morte por complicações na gravidez. Nessa região, a chance de uma menina de quinze anos morrer em decorrência de problemas na gestação é de 1 em 40 — na Europa, é de 1 em 3 300. Os dados ainda mostram que dez países concentram 60% da mortalidade materna do mundo todo: Índia, Nigéria, República Democrática do Congo, Etiópia, Indonésia, Paquistão, Tanzânia, Quênia, China e Uganda.
A OMS considera que, nos últimos anos, houve pouco avanço no mundo em prevenir a gravidez na adolescência, abortos, mortalidade materna, infecções sexualmente transmissíveis e transmissão do HIV. De acordo com o órgão, mais de 15 milhões de meninas de quinze a dezenove anos dão à luz todos os anos no mundo — ou uma em cada cinco jovens menores de dezoito anos.
Em 1990, a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu uma meta de reduzir em 75% a mortalidade materna até 2015. Os novos dados, porém, indicam que a maioria dos países não conseguirá atingir o objetivo. De acordo com a OMS, existe um consenso de que é possível eliminar as mortes maternas evitáveis se todas as mulheres tiverem acesso a um serviço de saúde de qualidade.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

OMS declara a poliomielite emergência de saúde pública

Embora doença tenha caído drasticamente nas últimas décadas, neste ano houve três casos em que o vírus da moléstia cruzou fronteiras

Criança recebe vacina contra a poliomielite no Afeganistão
Criança recebe vacina contra a poliomielite no Afeganistão (Julien Pereira/Fotoarena)
A Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou nesta segunda-feira que a poliomielite é uma emergência de saúde pública. O órgão realizou na última semana uma reunião de emergência para discutir formas de deter a propagação da doença na Ásia, África e Oriente Médio. Em comunicado, a OMS informou que a decisão de colocar a moléstia em estado emergencial foi unânime entre os especialistas que participaram do encontro. "Se não for controlada, a situação poderá colocar em risco a erradicação global da uma das mais graves doenças que pode ser evitada através da vacinação", diz o texto.
A poliomielite é transmitida facilmente de pessoa para pessoa e pode se espalhar rapidamente entre as crianças, especialmente em condições insalubres enfrentadas em regiões devastadas pela guerra, campos de refugiados e áreas onde serviços de saúde são limitados. Em alguns casos, pode causar paralisia ou ser fatal.

O número de casos de poliomielite no mundo caiu mais de 99% desde 1988, passando de 350.000 para 406 casos notificados em 2013. Em 2014, há apenas três países onde a doença é considerada endêmica: Afeganistão, Nigéria e Paquistão. "No entanto, a poliomielite continua a se espalhar internacionalmente a partir de países endêmicos e dos países reinfectados", segundo a OMS.
A entidade estima que o maior risco de propagação da poliomielite está no Paquistão, Camarões e Síria, e convoca as autoridades locais a agir com campanhas de vacinação para aqueles que precisam viajar. Entre janeiro e abril de 2014, houve três casos em que o vírus da doença cruzou as fronteiras desses países: do Paquistão ao Afeganistão, da Síria para o Iraque e de Camarões para a Guiné Equatorial, na África central. Os outros países onde a doença foi detectada, e que estão incluídos nesse estado de emergência, são Etiópia, Israel e Somália.
(Com AFP)

domingo, 4 de maio de 2014

A catástrofe das superbactérias

A Organização Mundial de Saúde faz um alerta global para avisar que a resistência aos antibióticos já se espalhou por todo o mundo e que o problema terá implicações devastadoras para a humanidade

Cilene Pereira (cilene@istoe.com.br)
Aproliferação de bactérias resistentes a todos ou quase todos os antibióticos deixou de ser uma ameaça para se tornar uma realidade. O alerta foi feito na quarta-feira 30 pela Organização Mundial de Saúde (OMS). De acordo com a entidade, esse tipo de micro-organismo já pode ser encontrado no mundo inteiro, o que configura um quadro de grave preocupação. “A resistência a antibióticos tem potencial para afetar qualquer um, em qualquer idade, em qualquer país”, alerta a OMS em seu relatório. O texto é claro:“É hoje uma das maiores ameaças à saúde pública e suas implicações serão devastadoras.”
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É a primeira vez que a OMS se posiciona com tamanha contundência em relação à questão – tema que já preocupa a comunidade médica há tempos. A entidade realizou um levantamento em 114 países e concluiu que até mesmo superbactérias capazes de sobreviver aos mais modernos antibióticos da atualidade – os carbapenêmicos – são encontradas em todas as regiões. Em alguns países, esses medicamentos não funcionam mais em metade dos pacientes internados em hospitais e infectados pela bactéria K. pneumoniae. Entre outras doenças, ela causa pneumonia e infecções em recém-nascidos e em doentes internados em unidades de terapia intensiva.
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RISCO
Fukuda, da OMS, diz que infecções comuns podem voltar a matar
Esse tipo de ocorrência sustenta previsões sombrias. “O mundo está entrando na era pós-antibiótico, em que infecções comuns tratadas há décadas podem voltar a matar”, afirmou Keiji Fukuda, diretor-geral assistente para Segurança em Saúde da OMS. De fato, pelo menos dez países – entre eles o Japão, a Noruega e a França – registram casos de gonorreia resistentes aos remédios atuais. Nos Estados Unidos, uma das superbactérias mais conhecidas, a MRSA, é responsável pela morte de 19 mil pessoas por ano. É mais do que mata a Aids naquele país.
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Na opinião do infectologista Jacyr Pasternack, da Comissão de Infecção Hospital do Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo, chegou-se ao limite na criação de novos antibióticos. “A indústria farmacêutica está fugindo desse campo. Uma das razões é que investir em remédios para para doenças crônicas, por exemplo, dá mais dinheiro”, afirma. O médico acredita que o problema só será controlado com o uso racional dos antibióticos. “Para isso, é preciso educar pacientes e médicos.”
Foto: Fabrice Coffrini/AFP

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Estudo desenvolve medicamento mais prático e seguro contra esclerose múltipla

Em teste, droga promoveu mesmos benefícios que remédio usado atualmente, mas com apenas uma injeção a cada duas semanas, e não uma por dia

Esclerose Múltipla: Doença ataca membrana que protege fibras nervosas do cérebro
Esclerose Múltipla: Doença ataca membrana que protege fibras nervosas do cérebro (Kiyoshi Takahase Segundo/Getty Images/iStockphoto)
Um novo medicamento contra a esclerose múltipla parece oferecer os mesmos benefícios que os remédios atuais, mas com menos efeitos adversos, sem a necessidade de ser usado diariamente e com um menor risco de resistência – ou seja, menos pacientes deixam de responder à droga.
Os efeitos do novo medicamento, desenvolvido por pesquisadores da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, foram observados em uma pesquisa feita com mais de 1.500 pessoas com esclerose múltipla de 26 países diferentes. O estudo foi publicado nesta quinta-feira na revista médica The Lancet Neurology. A droga, porém, ainda não está disponível no mercado.
A esclerose múltipla é uma doença de causas desconhecidas e para a qual não existe cura. Trata-se de uma doença autoimune – ou seja, o sistema de defesa de uma pessoa passa a atacar o próprio corpo. No caso da esclerose múltipla, ele danifica ou destrói a mielina, uma substância que envolve e protege as fibras nervosas do cérebro, da medula espinal e do nervo óptico. Quando isso acontece, são formadas lesões, ou escleroses, capazes de desencadear diferentes sintomas sensitivos, motores e psicológicos.
O primeiro medicamento aprovado para o tratamento da esclerose múltipla foi o interferon beta. A droga, injetável, bloqueia a ação de algumas células do sistema imunológico que atacam a mielina em pessoas com a doença. Seu efeito varia de acordo com o paciente – em alguns casos, o benefício é pequeno, mas, em outros, a droga pode reduzir em um terço os relapsos e níveis de inflamação causados pela doença.
No entanto, o fato de as injeções serem diárias torna comum que pacientes abandonem o tratamento. Mesmo assim, de acordo com os autores do novo estudo, o interferon beta parece ser mais seguro do que os medicamentos orais que surgiram mais recentemente para o controle da doença.
Nova abordagem — O novo medicamento desenvolvido pelos cientistas americanos é uma nova formulação química do interferon beta – e recebeu o nome, em inglês, de pegylated interferon beta.
No teste clínico da substância, que envolveu mais de 1.500 pessoas com esclerose múltipla, um terço dos participantes recebeu uma injeção de placebo a cada duas semanas; um terço recebeu uma injeção do novo medicamento a cada duas semanas; e o restante, uma injeção da droga por mês. O tratamento foi aplicado durante um ano.
Efeitos — Após esse período, os pesquisadores observaram que, em comparação com o plecebo, injeções a cada duas semanas de pegylated interferon beta diminuíram em 36% a taxa anual de relapsos da esclerose múltipla e em 67% o número de novas lesões no cérebro causadas pela doença. Já as injeções mensais da nova droga proporcionaram uma redução de 28% em ambos os aspectos.
Além disso, os participantes que receberam o novo medicamento, injetado tanto a cada duas semanas como mensalmente, apresentaram 38% menos incapacidade provocada pela doença — medida pela velocidade com que andam, qualidade da visão, força e sensibilidade.
O pegylated interferon beta demonstrou ser tão seguro quanto à formulação antiga – alguns pacientes apresentaram sintomas de gripe até 24 horas após a injeção — e, portanto, mais seguro do que medicamentos mais novos. De acordo com o coordenador do estudo, Peter Calabresi, professor de neurologia da Universiade Johns Hopkins, atualmente 20% dos pacientes com esclerose múltipla deixam de responder aos medicamentos. Essa taxa de resistência em relação à nova droga, porém, não chegou a 1%.
“Acredito que esse medicamento possa aumentar a adesão e tolerância dos pacientes ao tratamento, o que pode interferir positivamente na qualidade de vida das pessoas com esclerose múltipla”, diz Calabresi. “Nossos dados são muito claros. Nós podemos tornar as coisas mais fáceis aos pacientes sem efeitos adversos perigosos.”

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Apenas metade dos casos de AVC tem causas conhecidas

Hipertensão, tabagismo, diabetes, arritmia cardíaca e obesidade estão entre os fatores de risco do acidente vascular cerebral

cérebro
No estudo, hipertensão e tabagismo foram os fatores mais associados ao derrame
Apenas metade dos casos de acidente vascular cerebral (AVC) é relacionado a fatores de risco conhecidos. Essa é a revelação de um estudo do Centro Médico Erasmus, na Holanda, publicado na terça-feira no periódico Plos Medicine.
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Título original: Modifiable Etiological Factors and the Burden of Stroke from the Rotterdam Study: A Population-Based Cohort Study​

Onde foi divulgada: periódico PLOS Medicine.

Quem fez: Michiel J. Bos, Peter J. Koudstaal, Albert Hofman e M. Arfan Ikram.

Instituição: Centro Médico Erasmus, na Holanda.

Resultado: Apenas metade dos casos analisados pelos pesquisadores foi relacionado a causas conhecidas do AVC, como hipertensão e tabagismo. 
Os pesquisadores acompanharam por treze anos, em média, 6 844 participantes com idade superior a 55 anos e que nunca tiveram AVC. Durante esse tempo, houve 1 020 episódios de derrame. Ao examinar o fator causador para cada caso, os cientistas descobriram que metade estava relacionado a fatores conhecidos, como hipertensão, tabagismo, diabetes, arritmia cardíaca, obesidade e demais doenças cardiovasculares.

Hipertensão e tabagismo foram os elementos mais recorrentes — 36% e 16% dos episódios, respectivamente. A outra metade dos casos os pesquisadores não conseguiram relacionar a nenhuma causa.
"Essa descoberta encoraja não só o estudo mais aprofundado das causas estabelecidas, mas também o de outras que ainda não foram estudadas ou descobertas pela medicina", diz Michiel Bos, médico do Departamento de Epidemiologia do Centro Médico Erasmus e coautor do estudo.
Os pesquisadores alertaram para o fato de que as suas descobertas não podem ser aplicadas para populações com mais diversidade racial do que a analisada, que foi a da cidade de Rotterdam, na Holanda.