sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Paciente poderá escolher a quais procedimentos será submetido no fim da vida

Testamento vital pode ser feito por qualquer pessoa maior de idade. No documento, o paciente escolhe a quais tratamentos não deve ser submetido quando não há mais chances de recuperação

Médico examina paciente
Testamento vital: nova regra do Conselho Federal de Medicina dá ao paciente o direito de escolher se vai receber tratamentos invasivos quando estiver em estado terminal (Thinkstock)
Pacientes sem possibilidade de recuperação poderão decidir se querem ou não usar tratamentos invasivos e dolorosos. Nova regra do Conselho Federal de Medicina (CFM), divulgada nesta quinta-feira e chamada de Diretiva Antecipada de Vontade, dá ao paciente o direito de escolher os procedimentos aos quais não quer ser submetido quando estiver em estado terminal. A Resolução 1.995/2012 será publicada no Diário Oficial da União nesta sexta-feira. Sem a regra, a decisão ficava a cargo dos médicos, que determinavam que procedimentos seriam feitos.

Testamento vital

Confira os principais pontos da Diretiva Antecipada de Vontade, nova Resolução do Conselho Federal de Medicina

  1. • O médico registrará no prontuário as diretivas antecipadas de vontade que lhes foram diretamente comunicadas pelo paciente
  2. • Não há necessidade de registro em cartório, apenas se esse for o desejo do paciente
  3. • O testamento pode ser cancelado, desde que o paciente esteja lúcido. Ele deve procurar o médico para manifestar a mudança, bem como alterar no cartório, caso seja registrado
  4. • Não é necessário a presença ou assinatura de testemunhas
    1. • É possível eleger um procurador, que pode ser qualquer pessoa de confiança.
    2. • O médico deixará de levar em consideração as diretivas antecipadas de vontade que, em sua análise, estiverem em desacordo com os preceitos ditados pelo Código de Ética Médica
Também conhecida como “testamento vital”, a diretiva deverá ser formalizada no prontuário do paciente, podendo ou não ser registrada em cartório. O documento pode ser feito em qualquer momento da vida, mesmo por pessoas que não estão doentes, e pode ser modificado ou revogado a qualquer momento. O testamento é permitido somente a maiores de 18 anos, ou por pessoas emancipadas, que estejam em perfeita capacidade mental.
De acordo com o CFM, a nova medida é uma maneira de oferecer ao paciente a chance de expressar sua vontade em ser submetido ou não a tratamentos extenuantes, quando já não há chances de recuperação. A pessoa que optar pelo documento poderá, por exemplo, escolher se quer ser submetida a procedimentos como ventilação mecânica, tratamentos com medicamentos ou cirúrgicos que sejam dolorosos e à reanimação em casos de parada cardiorrespiratória.
Para Roberto D’Ávila, presidente do CFM, a diretiva está diretamente relacionada à possibilidade de ortotanásia, que é a morte sem sofrimento. O procedimento tem prática validada pelo Conselho Federal de Medicina pela Resolução 1805/2006. "Com a Diretiva Antecipada de Vontade, o médico atenderá ao desejo de seu paciente. No entanto, isso acontecerá dentro de um contexto de terminalidade da vida", diz.
Médicos — Segundo o CFM, um estudo realizado em 2011 pela Universidade do Oeste de Santa Catarina mostrou que 61% dos profissionais de saúde entrevistados afirmam que levariam em conta a vontade do paciente. A prática do testamento é adotada em países como Espanha, Holanda, Portugal e Argentina.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Pesquisa da Incor pode mudar exame para diagnóstico de doença coronariana obstrutiva

Segunda o estudo, coordenado pela universidade americana Johns Hopkins, a tomografia computadorizada é capaz de diagnosticar com mais precisão quais pacientes precisam de procedimentos invasivos, como a angioplastia

Aretha Yarak
Sistema circulatório
Na doença coronariana obstrutiva, o entupimento dos vasos leva a interrupção do fluxo sanguíneo
Atualmente, pacientes com dor torácica, mas sem diagnóstico de infarto, precisam fazer dois exames: o cateterismo, que identifica o grau de obstrução das artérias do coração, e a cintilografia com estresse, que avalia como está o fluxo sanguíneo na região obstruída. Por ser um procedimento invasivo, o cateterismo expõe o paciente a um maior risco de complicações, como perfuração de vasos sanguíneos. E a cintilografia representa exposição à radiação. Ambos os exames devem ser substituídos pela  tomografia computadorizada de 320 cortes (TC 320), que produz imagens precisas do coração sem necessidade de cateterismo e com menor radiação (quando comparado ao TC 320, a cintilografia representa uma exposição 50% maior à radiação).  
A eficácia do exame foi comprovada pelo Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da USP (Incor), que participou do estudo internacional CORE320, validando a técnica para o diagnóstico de doença coronária. Segundo a pesquisa, coordenada pela Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos, o exame TC 320 é capaz de diagnosticar com mais precisão quais pacientes precisam de procedimentos invasivos, como a angioplastia. O estudo foi apresentado nesta terça-feira durante o Congresso Europeu de Cardiologia, na Alemanha.

Saiba mais:

ANGIOPLASTIA
Procedimento realizado para desobstruir uma artéria. É colocado um balão de proporções minúsculas na ponta de um catéter. Esse balão é inflado dentro da artéria danificada, permitindo que o sangue volte a fluir. Em alguns casos, é usado ainda um stent para manter a artéria aberta.
TE 320
Detector de tomografia computadorizada de 320 cortes, que emite sinais de Raio-X e tem forma de arco. É ultrarrápido e, portanto, expõe menos o paciente à radiação. Ele 'fatia' em imagens um quadro completo do coração em apenas uma volta em torno do corpo.
"É preciso decidir como o fluxo sanguíneo foi afetado antes de se decidir pelo tratamento", diz Carlos Rochitte, coordenador da pesquisa no Incor e primeiro autor do estudo. De acordo com o especialista, cerca de 60% das pessoas que passam pelo cateterismo não têm obstrução ou têm o problema em grau mínimo (o equivalente a até 49% do diâmetro do vaso). "Nessa condição, não é necessário um tratamento invasivo com angioplastia ou cirurgia de revascularização", diz Rochitte.
O TC 320 entraria, então, para substituir ambos os exames. Ele consegue prever com 89% de certeza quais pacientes não têm obstrução importante — e que não precisam ir para a mesa de cirurgia. O índice de acerto sobe para 93% quando o grupo de voluntários selecionados é de apenas pessoas que não têm histórico de doença coronária prévia.
Nos pacientes com obstruções graves, e que necessitem de intervenção cirúrgica, o TC 320 é mais eficiente em apontar a quantidade e os locais aonde estão instalados esses bloqueios nos vasos. Todos os voluntários serão acompanhados por mais cinco anos, para avaliação de possíveis eventos cardíacos como infarto, internações por problemas no coração e eventuais cirurgias cardíacas.

Especialista responde

Carlos Rochitte
Coordenador da pesquisa no Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da USP (Incor) e primeiro autor do estudo multicêntrico CORE320

Qual a importância do uso do TC 320 no diagnóstico do problema coronário?
Nosso trabalho é a primeira evidência forte de que a técnica pode ajudar no diagnóstico da doença coronária obstrutiva. Nem todas as obstruções são iguais. Mesmo olhando anatomicamente, é muito difícil identificar se essa obstrução causa uma redução no fluxo sanguíneo sem um procedimento invasivo. Com esse exame é possível ter uma precisão alta se há interferência no fluxo, sem que um exame invasivo seja necessário.
O exame irá baratear o diagnóstico da doença coronária?
Primeiro, nos preocupamos em validar o método, em garantir que ele fosse, de fato, eficiente. Os custos não foram uma preocupação direta. Mas, para se ter uma ideia do benefício financeiro que ele pode trazer, o cateterismo custa, em média, 8.000 reais e a cintilografia, 1.900 reais. O TC 320 custa 3.300 reais.
Quando ele entrará no rol oficial de exames?
Nosso próximo passo é definir exatamente qual o paciente que precisa do exame. Acreditamos que seja aquele de risco intermediário, mas isso precisa ser definido em projetos científicos. Mas acredito que depois da publicação do trabalho, que está em processo de aprovação por um periódico, os grandes hospitais já irão começar a se preparar para oferecer o exame.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Em decisão inédita, Previdência dá salário-maternidade a homem

Foi julgado caso de dois pais adotantes, em união homoafetiva, que receberão o benefício do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS)

Do Portal Terra
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O Ministério da Previdência Social reconheceu nesta terça-feira (28) o direito de um homem receber salário-maternidade por 120 dias. O Conselho de Recursos da Previdência Social (CRPS) julgou na manhã desta quarta-feira a questão de dois pais adotantes, em união homoafetiva, que receberão o benefício do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A decisão foi inédita, no âmbito administrativo do órgão, e não pode mais ser contestada pelo instituto, exceto na Justiça.
 
Na legislação, o salário-maternidade é pago à mulher segurada em decorrência do parto (inclusive o natimorto), aborto não criminoso, adoção ou guarda judicial para fins de adoção pelo período de 120 dias (licença-maternidade).
 
De acordo com a presidente da 1ª Câmara de Julgamento do CRPS, Ana Cristina Evangelista, que presidiu o julgamento, as quatro conselheiras que participaram do processo votaram em unanimidade pelo direito de os pais receberem o benefício, baseadas na análise da Constituição e do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
 
"Estamos falando da Previdência reconhecendo salário-maternidade para um homem. Não poderíamos negar um direito que existe de fato por causa de uma questão semântica [na legislação, consta que 'beneficiária' tem direito ao salário]. A criança tem o direito, o ECA assegura e esse foi o entendimento da composição da Câmara. Isso foi um grande avanço tanto para a área administrativa quanto para a previdenciária", disse a presidenta Ana Cristina.
 
A decisão, no entanto, não significa que o direito ao salário-maternidade é extensivo a todos os pais que se enquadrarem em situação semelhante. A legislação previdenciária continua não prevendo um salário para os pais, espécie de "salário-paternidade", informou Ana Cristina. Os interessados terão de pleitear esse direito e as situações serão analisadas caso a caso.
 
Em nota divulgada pela Previdência, o beneficiário, Lucimar Quadros da Silva, diz que ele e o companheiro querem ter o direito de cuidar do filho. "Além disso, os cuidados e atenção são um direito da criança, não meu ou do meu companheiro. Quem sabe com essa decisão outras crianças possam ter o mesmo direito", disse o pai, na nota.
 
O INSS informou, por meio de nota, que a decisão é interna e administrativa do CRPS e que o presidente do Conselho, Manuel Dantas, não irá se pronunciar.
 
Outro ponto inédito no julgamento foi o fato de ter ocorrido pela primeira vez um processo virtual no órgão. A Câmara da Previdência fica localizada em Brasília e as partes interessadas participaram do julgamento por meio de videoconferência no Rio Grande do Sul. Para a presidenta da Câmara, a possibilidade de usar processos virtuais no órgão irá inaugurar uma "nova era".

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Um novo passo contra a paralisia

A cura de lesões na medula espinhal ainda é um dos grandes quebra-cabeças da Me­­dicina, por isso, cientistas de várias partes do mundo buscam insistentemente uma solução para o problema. É o caso de pesquisadores do Projeto Miami – centro norte-americano especializado em danos de medula espinhal –, que receberam, no fim do mês passado, a liberação do Food and Drug Administration (FDA) para iniciar a primeira fase de testes em humanos de uma nova técnica cirúrgica que pretende amenizar as consequências dessa complicação.
A prática consiste em transplantar um tipo de célula nervosa da perna para a espinha danificada de pacientes recém-paralisados na tentativa de restaurar algumas funções e sensações. Experimentos iniciais realizados em ratos, porcos e primatas mostraram que, em muitos casos, os animais recuperaram 70% das funções e sensações perdidas.
Cenário nacional
No país há poucas pesquisas sobre lesão medular
“Atualmente, o tratamento das lesões medulares graves continua um desafio para a Medicina, mas já há vários estudos em andamento em grandes centros do mundo, com altos investimentos, que trazem esperança aos pacientes com sequelas neurológicas”, afirma o neurocirurgião dos hospitais Nossa Senhora das Graças, Erasto Gaertner, Cruz Vermelha e São Vicente Rodrigo Leite de Morais. Mas, ainda que muitos pesquisadores estejam debruçados sobre os casos de lesões de medula espinhal para chegar o mais perto possível de um tratamento perfeito, no Brasil o cenário deixa a desejar, conforme explica o professor de ortopedia e traumatologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) Luiz Roberto Vialle. “Ainda não estamos num nível bom. Os dois centros que mais pesquisam aqui [no Brasil] estão na USP [Universidade de São Paulo] e na nossa PUC. Eventualmente, um ou outro trabalho de mestrado é feito, mas os que têm uma rotina de pesquisa e publicação são mesmo poucos. Falta estudo no país”, afirma.
“É um excelente projeto, que traz novas esperanças para a recuperação neurológica do paciente com lesão medular”, afirma o neurocirurgião do Hospital Nossa Senhora das Graças Rodrigo Leite de Morais. Contudo, ele ressalta que as conclusões esperadas não são definitivas, já que por enquanto tudo “não passa de uma pesquisa científica e não está disponível para tratamento, até mesmo porque é necessário aguardar os resultados”.
Já, segundo o professor de ortopedia e traumatologia da PUC-PR Luiz Roberto Vialle, são poucas as perspectivas em relação ao transplante, pois, para ele, a técnica segue a mesma linha de outras já realizadas anteriormente e que pouco influenciaram na reabilitação do paciente. “Isso foi feito com nervos intercostais, com nervos da perna. Eu mesmo tenho paciente que foi fazer uma cirurgia em outro país, com transplante de nervo intercostal, e a experiência não deu certo. Apesar, claro, de que todo projeto é válido”, argumenta.
Comprimidos
Paralelamente ao estudo do Projeto Miami, pesquisa­­dores ligados à Fundação AOSpine (formada por profissionais que se dedicam a estudar a medula espinhal) deverão colocar em prática ainda neste ano a segunda fase de testes de um medicamento já disponível no mercado para tratar degeneração do tecido nervoso e que, agora, eles acreditam poder utilizá-lo em pacientes com lesão medular.
A pesquisa já passou por um projeto piloto que avaliou a eficácia e a segurança da droga e, nesta segunda fase, propiciará o uso do medicamento para pacientes selecionados que tenham sofrido a lesão recentemente. Aqui no Brasil, a perspectiva é de que o Hospital Universitário Cajuru, da PUC-PR, integre a lista de hospitais participantes, informou Vialle, que também é presidente internacional da Fundação AOSpine.
Uso de células tronco tem resultados
Em 2011, uma experiência li­­derada por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) da Bahia em parceria com o Centro de Biotecnologia e Terapia Celular do Hospital São Rafael, em Salvador, con­­se­­guiu recuperar parte dos movimentos das pernas do ex-policial baiano Mau­­rí­­cio Ribeiro, que havia ficado paraplégico.
A técnica consistiu em um transplante de células tronco adultas obtidas do próprio paciente na área de lesão na medula espinhal, como explicou a pesquisadora titular da Fiocruz Milena Botelho Pe­­reira Soares. “Este estudo foi baseado em um anterior, no qual testamos a técnica em cães e gatos que tiveram lesões raquimedulares. Como os resultados no estudo em animais foram promissores, esperávamos obter resultados semelhantes em pacientes. Não foi uma grande surpresa.”
A pesquisa, que está em fase final de análise, tratou 14 pacientes com lesão na medula espinhal, e todos apresentaram graus variados de melhoras sensitivas e motoras. O fato, segundo Milena, pode significar um novo caminho para a recuperação de pacientes com a medula lesionada, embora estudos assim ainda enfrentem um cenário não muito favorável. “Apesar de ter havido investimento considerável nas pesquisas com células tronco no Brasil, esses recursos não são comparáveis aos investimentos feitos em vários países da Europa, Ásia e América do Norte”, diz ela.
Na tentativa de reverter es­­se quadro e ampliar o uso da medicina regenerativa na recuperação de pacientes que dependem do SUS para tratamentos como regeneração do coração, movimento das articulações e tratamento da esclerose múltipla, o Ministério da Saúde prometeu, em abril, que em 2012, R$ 15 milhões seriam investidos em terapia celular. Destes, R$ 8 milhões seriam destinados à conclusão da estruturação de 8 Centros de Terapia Celular responsáveis pela produção nacional de pesquisas com células tronco (um deles na PUC-PR).

Composto aumenta ação de vacinas contra HIV, herpes e gripe

Estudo mostrou que uma substância chamada polietilenoimina melhora a resposta imunológica contra os vírus que provocam a aids e a herpes, além de proteger completamente contra uma forma letal da gripe

Imunização: a vacinação contra a gripe protege contra a cepa do Influenza A H1N1
Vírus da gripe: camundongos foram completamente protegidos contra forma letal da doença após receberam vacina com polietilenoimina (Thinkstock)
Um time de pesquisadores da Universidade de Oxford, na Grã-Bretanha, descobriu um composto capaz de aumentar significativamente o efeito de vacinas já existentes contra a gripe, além daquelas que ainda não são eficazes, como as que combatem o vírus HIV e o da herpes. Segundo os especialistas, as vacinas para essas três doenças são algumas das mais difíceis de serem desenvolvidas, já que os vírus que causam a aids e a gripe, por exemplo, conseguem se modificar, escapando da resposta imunológica do organismo.
A pesquisa, pulicada nesta segunda-feira na revista Nature Biotechnology, identificou a polietilenoimina, um composto químico amplamente utilizado nos estudos de genética e biologia celular, como um eficaz adjuvante. Os adjuvantes são substâncias adicionadas às vacinas para aumentar a resposta imunológica do organismo e, portanto, proteger contra infecções. O composto mais comumente utilizado com essa finalidade é uma substância chamada alume que, embora seja o mais aplicado, não é eficaz para vários modelos de vacina. Por isso, os pesquisadores consideram que há uma grande necessidade de novos adjuvantes que sejam potentes para vários modelos de vacina diferentes.

O estudo mostrou que camundongos que receberam vacinas contendo polietilenoimina apresentaram uma resposta imunológica contra os vírus HIV e da herpes maior do que a observada em testes feitos com outros adjuvantes que vêm sendo pesquisados atualmente. Além disso, segundo a pesquisa, quando os animais receberam uma vacina contra a gripe junto com essa substância, eles foram completamente protegidos contra uma dose letal da doença. Esses resultados, segundo os autores, foram significativamente melhores quando comparados aos animais que receberam a vacina, mas não o composto.
O próximo passo da equipe é aplicar esses testes em furões, que são modelos animais ideias para o estudo da gripe, para descobrir por quanto tempo esse efeito protetor dura. Os autores acreditam que em dois anos será possível testar o adjuvante em seres humanos. "Obter proteção completa a partir de apenas uma dose de vacina contra a gripe é algo totalmente novo, mesmo em estudos com camundongos", diz Quentin Sattentau, que coordenou a pesquisa.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Nova terapia gênica pode oferecer tratamento mais eficaz contra o glaucoma

Pesquisa brasileira consegue reduzir o processo de morte celular e controlar evolução da doença degenerativa

Aretha Yarak, de Águas de Lindóia
O glaucoma, uma doença ainda sem cura, é a terceira causa de cegueira no Brasil
O glaucoma, uma doença ainda sem cura, é a terceira causa de cegueira no Brasil (Thinkstock)
O glaucoma, segunda principal causa de cegueira do mundo, pode ter um tratamento mais eficaz dentro de alguns anos. De acordo com pesquisa apresentada durante a Reunião Anual da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (FeSBE), em Águas de Lindóia (SP), uma nova técnica de terapia genética proporciona um importante efeito neuroprotetor às células da retina – o que impediria, assim, a evolução da doença.
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o glaucoma atinge até 2% da população mundial acima dos 40 anos. A doença é a terceira causa de cegueira no Brasil e pode ser causada por condições como diabetes, lesões oculares e hereditariedade. A doença não tem cura. O tratamento do glaucoma é feito com o uso contínuo de colírio diário. “Essa terapia tem uma adesão complicada, porque o paciente aplica corretamente o colírio na fase crítica. Mas, com o passar do tempo, ele começa a descuidar do tratamento”, diz a biomédica Hilda Petrs Silva, uma das coordenadoras do estudo e pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Gene - Na nova terapia, ainda em fases clínicas de estudo, a equipe passou a analisar os fatores de transcrição que estavam envolvidos no processo de morte da célula ganglionar. Pela facilidade de acesso, os estudos foram conduzidos nas células da retina – usada como um modelo de sistema nervoso. Descobriu-se, então, que um gene chamado MAX, que deveria estar no núcleo celular, aparecia no citoplasma quando a célula era induzida à morte. Quando a morte celular era bloqueada, o gene se mantinha no interior do núcleo. “Chegamos a conclusão, então, de que esse fator de transcrição poderia ter um papel importante no processo de morte celular”, diz Hilda.
Para averiguar a tese, a pesquisadora usou um modelo de vetor viral (adenovírus) para conseguir levar o gene MAX às células ganglionares estudadas in vitro. Na sequência, os testes foram feitos em quarenta ratos com glaucoma agudo induzido. A técnica foi eficiente para salvar de 45% a 55% das células locais – sem o tratamento, a morte celular era de 80% a 90%. “Uma vantagem do gene MAX sobre os demais é que ele não está associado com formações tumorais”, diz Hilda. Pesquisas preliminares, pelo contrário, apontam que esse gene está relacionado com a redução do efeito proliferativo das células cancerígenas. Sem efeito colateral registrado durante os cinco anos de pesquisas, a terapia tem o gene inserido no olho por injeção intravítrea.
Um segundo modelo, similar ao do gene MAX, também segue em estudo paralelo. “Como os protocolos já foram estabelecidos durante as fases iniciais de estudo do MAX, agora queremos testar também outros modelos”, diz Hilda. A pesquisa com a proteína CHIP, que está relacionada com a formação de novas proteínas dentro da célula, ainda está em fases preliminares de estudo. “Nossos próximos passos agora são determinar de que modo essa neuroproteção acontece e dar início a testes em modelos maiores para podermos chegar aos testes em humanos”, diz Hilda

domingo, 26 de agosto de 2012

Brasil aprova primeiro remédio para endometriose

CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO . A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) autorizou a venda no país do primeiro remédio específico para tratar a dor da endometriose, doença que afeta o endométrio (membrana interna do útero) e atinge 6 milhões de brasileiras.
Segundo os médicos, a principal vantagem do novo medicamento (Allurene) é o uso prolongado e por via oral.
Antes, o único tratamento aprovado para a doença eram drogas que interrompem o funcionamento dos ovários, causado uma menopausa temporária (análogos do GNRH). São administradas por injeção ou aerossol nasal.
O problema é que elas não podem ser usadas por mais de seis meses porque tiram o cálcio dos ossos, levando à perda óssea (osteoporose).
Outra opção (off label, ou seja, usada sem indicação oficial para esse fim) é o DIU Mirena, que bloqueia a menstruação e inibe o crescimento do endométrio. Mas muitas mulheres não se sentem confortáveis com ele.
Para o ginecologista da Unicamp Carlos Alberto Petta, o Allurene não é a droga definitiva para tratar endometriose, mas é a única novidade nos últimos anos.
Estudos clínicos demonstraram que o remédio alivia, principalmente, as dores menstruais e as que surgem durante relação sexual.
Petta afirma, porém, que ainda não foram estudados os efeitos do remédio em grupos específicos de mulheres com endometriose, como aquelas em que a doença já se instalou no intestino ou na parede externa dos ovários (endometrioma).
AÇÃO DO REMÉDIO
O remédio é um repositor hormonal que inibe a produção do estrógeno no endométrio- o estrógeno é que alimenta a doença.
Segundo o ginecologista Maurício Simões Abrão, professor da USP, o medicamento pode causar alteração do sangramento menstrual.
Outros efeitos colaterais são dores de cabeça, desconforto nos seios e depressão.
O preço da droga, em torno de R$ 170 (para cada caixa com 28 comprimidos de 2 mg), é um outro fator limitante para mulheres com poder aquisitivo menor.
Petta e Abrão também alertam que ainda não há cura para a doença e que o tratamento deve ser adaptado para cada paciente. "Não existe uma única abordagem ideal", diz Petta.
Estudos demonstram que quase metade das mulheres com endometriose pode sofrer de infertilidade.
O diagnóstico costuma ser tardio. A mulher leva, em média, sete anos entre o início dos sintomas e a detecção e tratamento da doença.
DEMORA
Entre as mais jovens (abaixo dos 20 anos), o tempo é ainda maior: 12 anos.
"A demora do diagnóstico está claramente associada ao avanço da doença", diz Abrão. Falta de informação e acesso aos serviços de saúde são as principais motivos.
Segundo Abrão, o Ministério da Saúde estuda montar um programa com capacitação de médicos do SUS para um diagnóstico mais rápido e eficaz da doença. Hoje, o tratamento está disponível, principalmente,em centros médicos ligados às universidades públicas.

Editoria de arte/folhapress

sábado, 25 de agosto de 2012

Injeção de nanopartículas pode ajudar a salvar vítimas de trauma cerebral

Tratamento testado em animais ajuda a restaurar equilíbrio vascular do cérebro

Soldado americano ferido durante combate é socorrido no Afeganistão. Pesquisadores afirmam que injeção de nanopartículas poderá ser útil para médicos que atuam em zonas de comba
Soldado americano ferido durante combate é socorrido no Afeganistão. Pesquisadores afirmam que injeção de nanopartículas poderá ser útil para médicos que atuam em zonas de combate (Kevin Frayer/AP)
Vítimas de traumas cerebrais graves podem vir a ser salvas com injeções de nanopartículas aplicadas logo após as lesões terem acontecido, diz um novo estudo conduzido por pesquisadores americanos.
Os cientistas afirmam que o novo tratamento ajuda a restaurar o equilíbrio do sistema vascular do cérebro, normalizando o fluxo de sangue. Entre os pacientes que podem vir a ser beneficiados estão vítimas de acidentes de trânsito, soldados feridos em combate, pessoas que sofreram derrame e até mesmo pacientes que passaram por transplantes.
As nanopartículas (partículas com tamanho da ordem de milionésimos de milímetros) ainda estão sendo aperfeiçoadas por pesquisadores da Universidade de Rice e da Faculdade de Medicina Baylor (ambas situadas no Texas), mas já foram testadas em animais. Os primeiros resultados foram publicados em um artigo no ACS Nano, o periódico da Sociedade Americana de Química.

CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Antioxidant Carbon Particles Improve Cerebrovascular Dysfunctio Following Traumatic Brain Injury

Onde foi divulgada: ACS Nano

Quem fez: Brittany R. Bitner, Daniela C. Marcano, Jacob M. Berlin, Roderic H. Fabian, Leela Cherian, James C. Culver, Mary Dickinson, Claudia S. Robertson, Robia G.Paulter, Thomas A. Kent e James M. Tour 

Instituição: Universidade de Rice e Faculade de Medicina Baylor

Dados de amostragem: Testes em animais

Resultado: Nanopartículas aplicadas em cérebros que sofreram trauma podem ajudar a equilibrar fluxo vascular.
Equilíbrio — Segundo o artigo, a solução de nanopartículas é feita de um combinado de carbono hidrofílico com polietilenoglicol, conhecidos pela sigla PEG-HCC, que ajuda a eliminar a superatividade de um superóxido no sangue.
Quando ocorre um trauma no cérebro, como um choque que provoca sangramento, as células liberam uma quantidade excessiva de uma espécie reativa de oxigênio conhecida como superóxido (SO) para o sangue.
Os superóxidos são radicais livres tóxicos que o sistema imunológico usa para matar micro-organismos invasores. Organismos saudáveis equilibram o SO com o superóxido dismutase (SOD), que funciona como uma enzima neutralizante.
Mas no caso de um trauma grave, o cérebro pode liberar superóxidos em níveis que o SOD não consegue lidar, sobrecarregando as defesas do órgão e causando uma série de problemas de saúde, como infecções.
Os cientistas descobriram que o composto PEG-HCC ajudou o cérebro a recuperar rapidamente seu equilíbrio, eliminando o excesso de SO.
"Enquanto uma enzima SOD pode alterar apenas uma molécula de SO de cada vez, uma única dose de PEG-HCC pode extinguir centenas ou milhares de superóxidos. Esta é uma das descobertas mais notáveis e eficazes que já vimos. Literalmente em poucos minutos depois de injetá-lo, o fluxo sanguíneo cerebral está de volta ao normal, e nós podemos mantê-lo assim com injeções simples", disse Thomas Kent, um dos coautores do estudo, e que atua como professor de neurologia da Faculdade de Medicina Baylor.
A equipe afirma que as nanopartículas testadas não apresentaram sinais de toxicidade. A meia-vida do PEG-HCC no sangue — a quantidade de tempo que leva para que a metade das partículas deixem o corpo — é de duas a três horas. Segundo os pesquisadores, novos testes ainda são necessários para comprovar isso.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Nova doença apresenta sintomas semelhantes aos da aids

Mal, identificado na Ásia, também enfraquece o sistema imunológico, mas não é provocada pelo vírus HIV e parece não ser contagiosa

Técnica genética poderá abrir caminho para a cura da aids em humanos
Aids: nova doença descrita em artigo apresenta sintomas aos da doença provocada pelo vírus HIV (Hemera)
Pesquisadores americanos identificaram em asiáticos uma doença de causa desconhecida cujos sintomas são semelhantes aos da aids. Em artigo publicado nesta quinta-feira no periódico The New England Journal of Medicine, eles afirmaram que trata-se também de uma imunodeficiência adquirida, ou seja, que não é hereditária e que prejudica o sistema imunológico. A condição, no entanto, não é provocada pelo vírus HIV e parece não ser contagiosa.

Opinião do especialista

Stefan Cunha Ujvari
Infectologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e autor de Pandemias – A Humanidade em Risco

"Na verdade, essa doença é mais uma descrita entre as várias imunodeficiências que existem e já são conhecidas. A diferença é que ela interfere em um mecanismo de defesa do corpo que também é atingido, embora de outra forma, pelo vírus HIV.
Quando o corpo encontra um quadro de infecção, ele precisa das células CD4 para combatê-la. Enquanto o vírus HIV ataca diretamente essas células, essa nova doença parece interferir nas substâncias que ativam a sua ação. No fim, elas provocam os mesmos sintomas e tornam os pacientes vulneráveis a infecções parecidas.
Como ela não é contagiosa, atingiu poucas pessoas e em uma região específica do mundo, não há motivo para pânico. Além disso, não há risco de essa doença confundir o diagnóstico da aids, por exemplo."
Ainda de acordo com os pesquisadores, a doença se desenvolve em pessoas de, em média, 50 anos de idade. Como ela não é hereditária, é improvável que um único gene provoque o problema. Os autores afirmam que alguns pacientes, mas não especificaram quantos, morreram de infecções muito graves após apresentarem esse problema.
A pesquisa foi desenvolvida por especialistas do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID, sigla em inglês) dos Estados Unidos, que analisaram mais de 200 pessoas de 18 a 78 anos de Taiwan e da Tailândia, países que concentraram a maior parte dos casos registrados desde 2004. Segundo o artigo, a maioria dos indivíduos que tinha a nova doença produziu substâncias chamadas auto-anticorpos, que bloqueiam uma sinalização química do organismo que ajuda o corpo a identificar infecções. Ou seja, é diferente da ação do vírus HIV, que ataca as células do nosso sistema de defesa.
No entanto, quando esses sinais são bloqueados, os sintomas da doença se parecem com os da aids — vulneráveis à invasão de vírus, fungos, parasitas e especialmente de micobactéria não-tuberculosa, um microorganismo parecido com o que causa a tuberculose. Os pesquisadores não identificaram o que leva as pessoas a produzir esses auto-anticorpos, mas eles sugerem que eles surgem ao longo da vida em decorrência de uma combinação de fatores ambientais e genéticos.
Abordagens — De acordo com os especialistas, o uso de antibióticos nesses casos nem sempre é eficaz. Por isso, os médicos vêm tentando abordagens diferentes, incluindo o uso de uma droga contra o câncer que suprime a produção de anticorpos. O medicamento atenuou os sintomas da doença em alguns pacientes, mas não a eliminou completamente, o que leva os especialistas a acreditarem no caráter crônico da condição.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Pais mais velhos têm mais chances de passar mutações nocivas aos filhos


Pesquisa mostra que, quanto maior a idade do pai, maiores as chances de ele transmitir mutações genéticas prejudiciais aos filhos, como as responsáveis pelo autismo e esquizofrenia

Guilherme Rosa
pai
A idade cada vez maior em que os homens decidem virar pais pode ser uma das causas do aumento de diagnósticos de autismo (Thinkstock)
Estudo publicado nesta quarta-feira na revista Nature mostrou que a idade em que um pai tem seu filho pode influenciar no número de mutações genéticas que a criança vai herdar. Quanto mais velho ele for, maiores as chances de seu esperma carregar mutações que podem desencadear doenças como autismo e esquizofrenia.

Saiba mais

AUTISMO
Distúrbio que afeta a capacidade de comunicação e de estabelecer relações sociais. O autista comporta-se de maneira compulsiva e ritual. O distúrbio, que pode afetar o desenvolvimento normal da inteligência, atinge cinco em cada 10.000 crianças e é de duas a quatro vezes mais frequente no sexo masculino.
ESQUIZOFRENIA
O distúrbio mental é caracterizado quando há perda de contato com a realidade, alucinações (audição de vozes), delírios, pensamentos desordenados, índice reduzido de emoções e alterações nos desempenhos sociais e de trabalho. A esquizofrenia afeta cerca de 1% da população mundial. O tratamento é feito com uso de remédios antipsicóticos, reabilitação e psicoterapia.
A pesquisa foi conduzida por cientistas da deCODE Genetics, empresa dedicada ao estudo genético da população da Islândia. Eles analisaram as informações genéticas de 78 famílias, todas compostas por pai, mãe e filho. Desses filhos, 44 tinham autismo, e 21, esquizofrenia. Os pesquisadores procuraram por mutações no DNA das crianças que não estavam presentes em nenhum dos pais e deveriam ter surgido espontaneamente.
Ao analisar os resultados, os pesquisadores descobriram que os pais transmitiram quatro vezes mais mutações que as mães. A média foi de 55 mutações paternas contra 14 maternas. Segundo os pesquisadores, isso acontece porque o esperma é produzido continuamente ao longo da vida, pela divisão sucessiva das células reprodutivas. A cada divisão, elas podem adquirir novas mutações. As mães, ao contrário, já nascem com a quantidade de óvulos que vão usar por toda a vida.
O estudo também mostrou que o número de mutações passadas de pai para filho crescia conforme a idade paterna, numa média de duas novas mutações a cada ano de vida. Segundo os pesquisadores, um pai de 36 anos passaria a seu filho o dobro de mutações que um de 20 anos. Já um pai de 70 anos, passaria oito vezes mais.
Estilo de vida — Algumas das mutações genéticas identificadas pelos cientistas haviam sido relacionadas por outros estudos a condições como autismo e esquizofrenia. Por causa disso, uma das hipóteses levantadas pelos pesquisadores é que a idade cada vez maior em que os homens se reproduzem pode ser uma das causas do aumento do número de crianças com autismo nos Estados Unidos.
Na própria Islândia, a idade média em que os homens têm filhos aumentou de 28 para 33 anos entre 1980 e 2011. Nesse período, segundo o estudo, o número de mutações transmitidas para as crianças subiu de 60 para 70. Os cientistas destacam, no entanto, que a grande maioria dessas mutações não causa nenhum tipo de dano. Na verdade, algumas delas podem até trazer vantagens evolutivas.
 

Opinião do especialista

Mayana ZatzMayana ZatzGeneticista da USP e colunista do site de VEJA

“Esse resultado não é uma surpresa. Estudos estatísticos já mostravam que os pais mais velhos têm mais chances de transmitir mutações a seus filhos. A novidade dessa pesquisa foi ter chegado a essa conclusão a partir do sequenciamento dos genomas da população”
“Está acontecendo uma mudança na vida reprodutiva dos casais. Os pais estão tendo filhos cada vez mais tarde. Não penso que essa pesquisa vá convencer nenhum pai a ter filhos mais cedo.“
“Não é só entre os homens que a idade influencia na saúde dos filhos. Quanto mais velha for uma mãe, maiores as chances de acontecerem alterações na quantidade de cromossomos transmitidos à criança, e ele receber um cromossomo a mais. Na maioria dos casos, o embrião acaba não sendo viável. Em alguns outros, a criança pode desenvolver a Síndrome de Down.”

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Pâncreas artificial é nova promessa para tratar diabete


Os pesquisadores avaliaram o funcionamento do dispositivo em 18 jovens de 12 a 15 anos, durante um acampamento de três dias

AE
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Um pâncreas artificial, que calcula o índice de glicose no sangue e libera insulina automaticamente sem a intervenção do paciente, é a mais nova promessa tecnológica para o tratamento de diabete tipo 1. Ainda em fase experimental, não há data para sua chegada ao mercado. Estima-se que 10% dos pacientes com diabete tenham o tipo 1.
O diabete tipo 1 é uma doença autoimune, caracterizada pela destruição das células do pâncreas que produzem insulina - o hormônio responsável pelo transporte do açúcar para dentro das células. Como nesses pacientes os níveis de açúcar no sangue ficam aumentados, eles precisam aplicar várias injeções de insulina diariamente para normalizá-los. Por isso o desenvolvimento de um pâncreas artificial, que assuma essas funções sem a intervenção do paciente, é uma das principais buscas de pesquisadores do mundo todo há mais de 15 anos.
O projeto Dream (sigla de Consórcio para o Pâncreas Artificial sem Fio, na tradução livre, e também "sonho", em inglês) é um dos experimentos nessa área. Trata-se de uma pesquisa internacional, liderada pelo pesquisador israelense Moshe Phillip, cujos resultados serão apresentados no Brasil no início de setembro, durante o Tratamentos & Tecnologias Avançadas para o Diabete, evento no Rio de Janeiro voltado às novidades.
 
Sob a pele
 
O grupo de Phillip desenvolveu um sistema chamado MD Logic. Trata-se de um sensor de glicose subcutâneo, que monitora os níveis de glicemia associados à bomba de insulina. Ambos são conectados por programas que informam e estipulam a quantidade de insulina a ser liberada para manter a glicemia dentro dos parâmetros normais. Tudo isso sem que o paciente tenha de realizar testes de ponta de dedo e calcular a quantidade de insulina a ser aplicada.
 
Os pesquisadores avaliaram o funcionamento do pâncreas artificial em 18 jovens de 12 a 15 anos, durante um acampamento de três dias. Foi a primeira vez que um aparelho do tipo foi testado em um ambiente real, fora do hospital. Um estudo anterior de outro grupo, usando um sistema semelhante, foi feito com 24 pacientes hospitalizados.
 
No caso de Israel, um grupo de engenheiros e médicos ficava em uma sala de controle, de onde supervisionavam remotamente as variações de glicemia das crianças, que realizavam atividades de lazer normalmente. Os resultados demonstram que a ideia funcionou - ainda que de maneira experimental.
 
Bomba
 
Hoje em dia já existe no mercado a bomba de infusão de insulina, que funciona de maneira parecida: um aparelho monitora a glicemia e envia um sinal para a bomba, que fica presa à cintura do paciente. Mas, para a bomba funcionar e liberar a insulina, o paciente precisa fazer o cálculo da quantidade e acionar o botão.
 
"As crianças tomam de quatro a seis picadas de insulina todos os dias, além de fazer o controle da ponta de dedo. O sonho de todo paciente é não ter de lembrar de tomar insulina várias vezes. E a promessa do pâncreas artificial é fazer tudo isso sozinho", diz o endocrinologista Luis Eduardo Calliari, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
 
A endocrinologista Denise Reis Franco, diretora da Associação de Diabetes Juvenil (ADJ), também vê com otimismo os resultados do pâncreas artificial. "A tecnologia está mais rápida que o desenvolvimento de novas drogas. O futuro é esse", afirmou. 

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Fumo passivo prejudica capacidade de jovens em manter suas vias respiratórias limpas


Exposição ao cigarro danifica um importante mecanismo de defesa do organismo

Fumo passivo: a exposição à fumaça do cigarro pode trazer problemas de saúde às crianças
Fumo passivo: a exposição à fumaça do cigarro pode trazer problemas de saúde aos jovens (Thinkstock)
Um novo estudo do Centro Monell, um instituto de pesquisas científicas dos Estados Unidos, mostrou que crianças frequentemente expostas à fumaça do cigarro têm menor capacidade de manter suas vias respiratórias limpas e proteger os seus pulmões. Isso ocorre por que o contato com a fumaça de cigarro diminui o recurso da tosse como resposta a agentes agressores. Assim, as crianças também tossem menos quando são expostas a compostos químicos, poluição, poeira e outros componentes que agridem o trato respiratório, prejudicando um mecanismo de defesa que é essencial para que o organismo elimine partículas tóxicas e evite infecções mais graves, como bronquite e pneumonia. Essas conclusões foram publicadas na edição desta semana do periódico Nicotine & Tobacco Research.

Opinião do especialista

Jaqueline Ribeiro Scholz Issa
Cardiologista e coordenadora do Programa de Tratamento do Tabagismo do Instituto do Coração (Incor)

"Esse estudo comprova mais um prejuízo à saúde acarretado pelo fumo passivo e corrobora com a ideia de que a exposição ao cigarro também agride os não fumantes. Ele também mostra que evitar o fumo em ambientes fechados não é frescura, como muitos pensam.
Outras pesquisas mostraram que fumantes passivos apresentam maior incidência de doenças como as relacionadas às infecções respiratórias. Esse trabalho mostrou o mecanismo pelo qual esse risco é aumentado.
A tosse é essencial quando somos expostos a compostos como poluição e poeira, por exemplo, já que só assim conseguimos expelir partículas que podem ser depositadas nas vias respiratórias e desencadear infecções"
“A tosse protege os nossos pulmões de fatores ambientais potencialmente prejudiciais à saúde. Ter pais que fumam enfraquece esse reflexo, que é um dos mais vitais do corpo humano”, diz Julie Menella, bióloga e uma das autoras do estudo. Ela explica que já era sabido que adultos fumantes têm menor sensibilidade a componentes que irritam as vias respiratórias do que aqueles que não fumam. Essa pesquisa buscou observar se esse efeito também ocorria entre jovens que são fumantes passivos.
Falta de sensibilidade — Para isso, os autores do trabalho selecionaram 38 jovens saudáveis de 10 a 17 anos de idade que tiveram de inalar concentrações de capsaicina, um composto químico presente nas pimentas que provoca irritação nas vias respiratórias. Eles observaram, então, que os participantes que eram frequentemente expostos ao cigarro precisaram do dobro da quantidade de capsaicina para tossir duas vezes em comparação com o restante dos jovens.
Segundo os pesquisadores, esse estudo mostra um risco à saúde provocado pelo fumo passivo que até então era desconhecido. O prejuízo a esse mecanismo de defesa, eles explicam, além de aumentar o risco de infecções respiratórias entre os mais jovens, também pode elevar as chances de eles se tornarem fumante durante a vida, já que essa ‘insensibilidade’ faz com que o contato com o cigarro seja menos desagradável.


*O conteúdo destes vídeos é um serviço de informação e não pode substituir uma consulta médica. Em caso de problemas de saúde, procure um médico.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Componente do vinho tinto pode ajudar a reduzir quedas entre idosos


Pesquisa indicou que resveratrol, também encontrado em chás, cebola e tomate, melhora o equilíbrio e o desempenho motor entre pessoas mais velhas

Vinho tinto, um aliado da saúde
Vinho tinto: bebida possui um componente chamado resveratrol, que, segundo uma nova pesquisa, pode ser um aliado na redução de quedas entre idosos (Stockbyte)
O resveratrol, composto presente no vinho tinto — mas que também pode ser encontrado no mate, em chás, na cebola e na maçã —, pode ajudar a melhorar a mobilidade, o equilíbrio e evitar quedas entre idosos, concluiu um novo estudo da Universidade de Duquesne, nos Estados Unidos. Segundo os pesquisadores, não está claro de que maneira a substância age no organismo, mas eles acreditam que o componente evita a morte de neurônios no cérebro, melhorando o desempenho motor das pessoas mais velhas.
“Nossa pesquisa sugere que um composto natural, que pode ser obtido por meio da alimentação ou de suplementos dietéticos, pode realmente aumentar a qualidade de vida dos idosos e reduzir o risco de hospitalização e até de mortes decorrentes de quedas”, afirma a coordenadora do estudo, Jane Cavanaugh, que apresentou os resultados nesta segunda-feira no encontro anual da Sociedade Americana de Química, na Filadélfia.
Esse não é o primeiro estudo que indica algum efeito positivo do resveratrol no organismo. Outras pesquisas mostraram que a substância, por ser um agente antioxidante, que evita o envelhecimento das células, pode contribuir com a saúde cardiovascular e até reduzir o risco de câncer.
Esse trabalho se baseou em testes feitos com camundongos. Durante oito semanas, tanto os animais mais velhos quanto os mais jovens receberam suplementos de resveratrol. Eles foram testados periodicamente quanto à capacidade de atravessarem uma passarela de aço sem darem passos em falso. No indício da pesquisa, os camundongos mais velhos apresentaram uma dificuldade significativamente maior do que os mais jovens em atravessar a viga e passar por obstáculos. Porém, ao final das oito semanas, esses animais passaram a cometer menos erros, chegando a apresentar um desempenho quase igual ao dos mais novos. O trabalho, no entanto, não chegou a uma conclusão sobre a quantidade ideal de resveratrol que deve ser ingerida ao dia, já que os testes foram feitos com animais.

Não é para você

Apesar de a bebida alcoólica, com moderação, proporcionar benefícios para a saúde, ela não é indicada para todos. Existem pessoas que não devem ingerir quantidade alguma de álcool, já que os prejuízos são muito maiores do que as vantagens. Sinal vermelho para quem tem os seguintes problemas:
Doença hepática alcoólica: é a inflamação no fígado causada pelo uso crônico do álcool. Principal metabolizador do álcool no organismo, o fígado é lesionado com a ingestão de bebidas alcoólicas.

Cirrose hepática:
 o álcool destrói as células do fígado e é o responsável por causar cirrose, quadro de destruição avançada do órgão. Pessoas com esse problema já têm o fígado prejudicado e a ingestão só induziria a piora dele.

Triglicérides aumentado: 
o triglicérides é uma gordura tão prejudicial quanto o colesterol, já que forma placas que entopem as artérias, podendo causar infarto e derrame cerebral. O álcool aumenta essa taxa. Portanto, quem já tiver a condição deve manter-se longe das bebidas alcoólicas.

Pancreatite: a doença é um processo inflamatório do pâncreas, que é o órgão responsável por produzir insulina e também enzimas necessárias para a digestão. O consumo exagerado de álcool é uma das causas dessa doença, e sua ingestão pode provocar muita dor, danificar o processo de digestão e os níveis de insulina, principal problema do diabetes.

Úlcera: é uma ferida no estômago. Portanto, qualquer irritante gástrico, como o álcool, irá piorar o problema e aumentar a dor.

Insuficiência cardíaca: por ser tóxico, o álcool piora a atividade do músculo cardíaco. Quem já sofre desse problema deve evitar bebidas alcoólicas para que a atividade de circulação do sangue não piore.

Arritmia cardíaca: de modo geral, ele afeta o ritmo dos batimentos cardíacos. A bebida alcoólica induz e piora a arritmia.               


Redobre a atenção

Há também aqueles que devem ter muito cuidado ao beber, mesmo que pouco.Tudo depende do grau da doença, do tipo de remédio e do organismo de cada um.
Problemas psiquiátricos: o álcool muda o comportamento das pessoas e pode alterar o efeito da medicação. É arriscada, portanto, a ingestão de bebida alcoólica por aqueles que já têm esse tipo de problema.

Gastrite: é uma fase anterior à úlcera e quem sofre desse problema deve tomar cuidado com a quantidade de bebida alcoólica ingerida. Como pode ser curada e controlada, é permitido o consumo álcool moderado, mas sempre com autorização de um médico.

Diabetes: 
Todos os diabéticos devem ficar atentos ao consumo de álcool. A quantidade permitida dessa ingestão depende do grau do problema, dos remédios e do organismo da pessoa. Recomenda-se, se for beber, optar por fazê-lo antes ou durante as refeições para evitar a hipoglicemia.

domingo, 19 de agosto de 2012

Medicina personalizada ganha força com avanços da tecnologia genômica


Herton Escobar, O Estado de S.Paulo
Frederico e Griselda são os dois "funcionários" que mais trabalham no novo Centro de Oncologia Molecular do Hospital Sírio-libanês. Vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, literalmente, lá estão eles, processando amostras de DNA numa sala supergelada, com ar condicionado ligado a 14 °C constantes, nos fundos do Instituto de Ensino e Pesquisa (IEP) do hospital.
É assim que os cientistas veem as alterações cromossômicas detectadas no genoma do tumor - Galante et. al
Galante et. al
É assim que os cientistas veem as alterações cromossômicas detectadas no genoma do tumor
Estes são os apelidos dos dois aparelhos sequenciadores, de US$ 600 mil cada, que dão apoio às pesquisas de medicina personalizada no laboratório, inaugurado em abril. Mais um forte indicador de como o avanço superveloz das técnicas de sequenciamento genético está desencadeando uma lenta, porém consistente, revolução na medicina como um todo e na oncologia, mais especificamente.
Cada máquina tem capacidade para sequenciar o genoma inteiro de uma pessoa em até dez dias - algo inimaginável até poucos anos atrás. Mas não é exatamente nisso que os pesquisadores estão interessados, apesar de já ter muita empresa por aí vendendo sequenciamento como se fosse uma apólice de seguro contra todo tipo de doença. As amostras de DNA entregues a Frederico e Griselda são oriundas de células tumorais, nas quais os cientistas buscam mutações específicas que possam servir como marcadores genéticos da doença.
Marcadores específicos não só para cada paciente, mas para cada tumor individual. "O tumor já é personalizado por natureza. Falta a gente personalizar o tratamento", diz o bioquímico Luiz Fernando Lima Reis, diretor do IEP. Ele refere-se ao fato de que cada paciente tem um tumor diferente de qualquer outro, refletindo uma combinação única de alterações genéticas e de interações bioquímicas do genoma com o organismo e com o ambiente de cada indivíduo.
Algumas mutações são herdadas, outras são consequência natural do envelhecimento, outras são induzidas por fatores "ambientais", como o fumo ou a exposição excessiva à radiação solar. Independentemente de como foi plantada a semente, porém, a raiz do câncer é sempre genética.
E assim como duas árvores da mesma espécie e muito parecidas podem ter raízes distribuídas de forma muito diferente pelo solo, dois pacientes diagnosticados com a mesma doença e com sintomas muito semelhantes podem ter tumores com raízes genéticas completamente diferentes espalhadas por seus genomas. O que significa que suas doenças, ainda que dadas o mesmo nome, vão evoluir de forma diferente e responder a determinados medicamentos de formas diferentes.
Um conceito que se tornou óbvio para médicos e cientistas nos últimos dez anos, à medida que as tecnologias desenvolvidas para sequenciar o genoma humano foram ficando mais rápidas, eficientes, baratas e acessíveis. Daí nasceu a promessa da "medicina personalizada", que adota o sequenciamento genético como sua ferramenta básica de trabalho.
Em várias situações, já é possível customizar o tratamento de pacientes com câncer com base na presença ou ausência de determinadas alterações genéticas. No câncer de pulmão, por exemplo, sabe-se que pacientes portadores de uma mutação no gene EGFR respondem muito bem a drogas inibidoras de EGFR (Receptor do Fator de Crescimento Epidermal, em inglês), enquanto que tumores com mutações no gene K-RAS são resistentes a essas mesmas drogas. "Em vez de testar vários remédios, você dá o remédio certo logo da primeira vez", explica Reis.
Ótimo, mas não suficiente. Além de escolher o melhor tratamento, cientistas agora querem usar a genômica para monitorar a recuperação dos pacientes e garantir que o câncer, uma vez "curado", não retorne mais tarde de forma sorrateira, sem ser percebido, como muitas vezes acontece.
Monitoramento. Nesse cenário, um dos projetos do Centro de Oncologia Molecular é usar a genômica personalizada para desenvolver métodos de detecção supersensíveis, capazes de denunciar a presença de tumores "invisíveis" - pequenos demais para serem vistos até numa tomografia -- com base em uma amostra de sangue. A denúncia, neste caso, não é anônima: vem com o nome e o retrato falado do suspeito, identificado pelas mutações específicas que aquele tumor utiliza para funcionar.
Imagine a seguinte situação: Um paciente com câncer de reto faz quimioterapia e radioterapia e, ao fim do tratamento, uma análise clínica conclui que não há mais vestígios do tumor naquele local. Do ponto de vista clínico, o paciente está curado.
O que seria motivo para comemoração apenas, porém, marca também o início de um dilema. O procedimento padrão é retirar o reto assim mesmo, por precaução - uma cirurgia complicada e com impactos profundos na qualidade de vida do paciente. A pessoa pode optar por não operar, mas há sempre o risco de o câncer voltar, pois sempre podem sobrar algumas células tumorais que os exames clínicos não conseguem detectar.
É com esse tipo de caso que os pesquisadores estão trabalhando para desenvolver um método de detecção precoce de tumores via sequenciamento. "O objetivo é prever a volta do tumor antes mesmo que ele seja detectável clinicamente", explica a geneticista Anamaria Aranha Camargo, coordenadora do centro e diretora do Instituto Ludwig para Pesquisa do Câncer no Brasil.
O primeiro passo é obter uma amostra do tumor. O segundo é sequenciar o genoma das células tumorais. O terceiro, e mais trabalhoso, é identificar, com base nesse sequenciamento, marcadores moleculares que sejam específicos daquele tumor e permitam diferenciá-lo das células sadias do organismo. "Tiramos uma impressão molecular do tumor, como se fosse a impressão digital de uma pessoa doente", compara Anamaria.
Os marcadores selecionados não são mutações pontuais na sequência de DNA, mas alterações cromossômicas chamadas translocações, em que pedaços de um cromossomo se fundem com outro cromossomo - algo que não ocorre em células sadias e pode ser detectado com facilidade via sequenciamento.
Detecção. Por menor que seja, à medida que um tumor se desenvolve ele libera DNA e células tumorais na corrente sanguínea, que carregam a "impressão molecular" da doença. Com as tecnologias modernas de biologia molecular, é possível rastrear e amplificar (produzir milhões de cópias) desse "DNA circulante" do sangue com facilidade. Se a impressão molecular do tumor estiver circulando por ali, é fato que ela será detectada.
"Com o custo do sequenciamento caindo cada vez mais, já é hora de começarmos a fazer isso", argumenta Anamaria. Seu grupo, que trabalha em parceria com a médica Angelita Habr-Gama, está testando a metodologia em amostras de tumor e sangue de sete pacientes que tiveram câncer de reto. Um deles passou por terapia, continuou com o tumor, e fez a cirurgia para remoção do reto. Outro passou pela terapia, ficou sem sinais clínicos de tumor, mas optou por retirar o reto assim mesmo. (Neste caso, uma análise posterior do órgão retirado confirmou que o tumor realmente havia desaparecido - ou seja, a cirurgia não era necessária e poderia ter sido evitada se o teste molecular já estivesse disponível.)
Os outros cinco pacientes tiveram resposta clínica positiva ao fim do tratamento e, após vários meses, três continuam sem sinais clínicos da doença e dois tiveram recidiva e foram obrigados a operar.
Com o apoio de Frederico e Griselda - e de uma equipe robusta de biólogos e bioinformatas - Anamaria já mapeou as translocações dos sete pacientes e espera ter esses dados confirmados nas próximas semanas. Em seguida, vai procurar por essa "impressão digital" nas amostras de sangue e ver se os resultados moleculares batem com o que foi observado clinicamente. No sangue do paciente que retirou o reto sem necessidade, por exemplo, espera-se não encontrar nenhum vestígio de DNA tumoral circulante. "A avaliação da eficácia do tratamento é fundamental numa situação como essa", aponta Anamaria.
Apesar da metodologia estar sendo testada em câncer de reto, se comprovada, ela tem potencial para ser aplicada em uma grande variedade de tumores. Essencialmente, em qualquer situação clínica em que haja risco de recidiva. E também para detectar a presença de metástases - tumores secundários, derivados do tumor principal, que podem permanecer escondidos em outros órgãos depois que o foco da doença foi eliminado. Uma vez registrada a impressão molecular do suspeito, basta procurar por ele - ou por seus filhos - numa amostra de sangue. "Se o DNA tumoral estiver no sangue, pode procurar que em algum lugar ainda tem tumor", conclui Reis. 

Cinco 'lanchinhos' ideais para uma dieta correta


Nutritivos e pouco calóricos, alimentos certos para serem consumidos entre as refeições principais ativam o metabolismo e até diminuem a fome

Vivian Carrer Elias
Lanche natural
Pão integral: carboidrato 'mais saudável' pode ser opção nutritiva antes da prática de alguma atividade física (Thinkstock)
Bastante difundida, a ideia de que comer entre as refeições engorda é falsa. Uma dieta saudável depende do consumo de algum alimento a cada três horas - o que significa os "lanchinhos" devem ter lugar cativo entre as grandes refeições.
Embora coadjuvantes, os lanchinhos fazem com que as pessoas não sintam tanta fome na hora do almoço ou do jantar e, mais importante, ajudam a regular o metabolismo,  “Comer pouco e de forma fracionada aumenta gradativamente o metabolismo basal (quantidade de calorias que alguém queima quando está em repouso) e faz com que o corpo seja mais eficaz em metabolizar os alimentos que são ingeridos”, diz o endocrinologista João Eduardo Nunes Salles, diretor da Regional São Paulo da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM-SP).
Nutrição em poucas calorias — Para que essas refeições intermediárias sejam benéficas à dieta, segundo Salles, elas devem conter entre 100 e 150 calorias. Além disso, é ideal dar preferência a alimentos contendo nutrientes que aumentam a saciedade e evitam que uma pessoa sinta muita fome na hora da refeição seguinte. É o caso das fibras e da proteína, que podem ser encontradas em frutas, laticínios e barras de cereais, por exemplo. No entanto, quando o lanchinho é feito antes de alguma atividade que exija um gasto de energia maior, como a prática de atividade física, o ideal é que sejam consumidas mais calorias, além de carboidratos integrais, que são ideais antes do exercício.
Conheça cinco alimentos ideais para a hora do lanche:
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Barra de cereais

Quantidade: Uma barra de até 30 gramas
Por que comer: Como esses produtos são ricos em fibras, eles provocam saciedade por mais tempo, reduzindo a fome na hora das refeições principais, ajudam no funcionamento do intestino e reduzem o índice glicêmico do sangue. O alimento também possui carboidratos, o que ajudar a fornecer a energia necessária para a prática de atividades físicas.
Por que não exagerar: Uma barra de cereal contém a quantidade ideal de calorias para a hora do 'lanchinho'. Várias delas acabam fornecendo uma energia que não será gasta — ou seja, o exagero engorda. O mesmo vale para o excesso de carboidratos.