segunda-feira, 29 de abril de 2019

Casos de malária caem 38% – mas os números ainda assustam

Foram registrados incríveis 31 872 novos episódios só de janeiro a março de 2019. E, acredite se quiser, a situação está melhor do que no passado

Entre janeiro e março de 2018, o Brasil notificou 51 076 casos de malária. No mesmo período de 2019, foram 31 872 infecções – uma redução de 38%. Apesar da boa notícia, os números seguem altíssimos e fizeram o Ministério da Saúde lançar a campanha Brasil Sem Malária, com foco na região amazônica, que concentra mais de 99% dos casos.
Populações das capitais dos nove estados que compõem essa área (Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Mato Grosso, Roraima, Rondônia, Tocantins e Maranhão), além de locais de mata, assentamentos rurais, garimpos, periferias e áreas indígenas são o público-alvo principal. Já na região extra-amazônica, Bahia e Espírito Santo são consideradas prioridades por enfrentarem, segundo o governo, dificuldades para conter surtos.
Os desafios para combater a malária foram elencados pelo Ministério da Saúde:
  • Promover ações de vigilância, melhorando o diagnóstico e o tratamento
  • Dar resposta rápida a surtos
  • Criar uma mobilização social em torno do tema
Confira os dados completos de casos de malária por estado, segundo dados oficiais do governo:
Casos notificados de malária
UF 2018 (ano inteiro) 2019 (janeiro a março) 2018 (janeiro a março)
AC 26 306 3 334  9 787
AM 71 729 11 240 19 280
AP 15 246 2 879  2 726
MA 935 132  308
MT 878 81  186
PA 45 705 7 550  10 751
RO 9 445 1 970  1 684
RR 23 265 4 666  6 143
TO 25 3  12
Região Amazônica 193 534  31 855 50 877
AL 2
2
BA 89 1  56
CE 19
 10
DF 21 3  9
ES 159 1 9
GO 49 3  17
MG 48
 9
MS 10
 1
PB 4
 3
PE 9
 4
PI 18
 4
PR 48 1  9
RJ 58 3  20
RN 9
 4
RS 19
 4
SC 29 1  7
SE 5
 0
SP 141 4  31
Região Extra-Amazônica 737 17 199
BRASIL 194 271 31 872 51 076

O que é a malária

Trata-se de uma doença infecciosa febril aguda, causada por parasitas do gênero Plasmodium, que são transmitidos pela picada de um mosquito do gênero Anopheles. O paciente com malária não é capaz de passar a enfermidade diretamente para outra pessoa – é preciso que haja a participação do inseto no meio do caminho.
Entre os principais sintomas estão febre alta, calafrios, tremores, sudorese ou dor de cabeça. Alguns indivíduos, antes de apresentarem esses sintomas, sentem náuseas, vômitos, cansaço e falta de apetite. A malária tem cura, mas, se não for diagnosticada e tratada em tempo oportuno, pode evoluir para formas graves.

Prevenção

Embora algumas vacinas estejam sendo testadas na África, ainda não há um imunizante disponível por aqui. As medidas para evitar a malária, portanto, envolvem impedir a picada do mosquito do gênero Anopheles, principalmente nas regiões mais acometidas pela doença. Elas incluem:
  • Usar mosquiteiros impregnados com inseticidas
  • Vestir roupas compridas, que protejam pernas e braços
  • Instalar telas em portas e janelas
  • Aplicar repelentes
  • Borrifar inseticida intradomiciliar de efeito residual
Este conteúdo foi produzido originalmente na Agência Brasil.

quinta-feira, 25 de abril de 2019

Em busca da melhor água para a saúde

Sua importância é incontestável. Em meio a tanta novidade no mercado de água mineral, bate a dúvida: o que levar em conta na hora de escolher?

“Em excesso, até água faz mal.” Quem nunca ouviu essa máxima? Pois ela é uma prova de quão imaculada é a reputação do líquido. Ora, se “até” ele tem lá seus riscos, a depender do volume ingerido, o que dizer de outros alimentos? Apesar de tamanho prestígio, e dos constantes avisos para capricharmos na hidratação, ainda não dá para dizer que a água ocupa o merecido espaço em nossa rotina – o que tem feito mais mal ao cidadão, nesse sentido, é a falta dela.
Em estudo recente conduzido pela Danone Research, pesquisadores avaliaram o consumo da bebida em 13 países, incluindo o Brasil. Os resultados apontam que tomamos, em média, 1 830 mililitros de líquidos por dia, mas apenas 42% do volume, ou 769 mililitros, seria proveniente de água pura. Bem longe, portanto, dos cerca de 2 litros que nos incentivam a ingerir.
É claro que refrigerantes, sucos e chás acabam fornecendo água. Só que seus benefícios podem ser suplantados pelos prejuízos ocasionados por açúcar e outros aditivos normalmente encontrados nesses produtos.
A nefrologista Camila Rodrigues, do Hospital das Clínicas de São Paulo, observa que, para evitar a formação de pedras nos rins, por exemplo, o tipo de líquido faz toda a diferença. “Pesquisas mostram que o consumo de refrigerantes adoçados aumenta o risco de cálculo renal, enquanto o de água diminui essa propensão”, conta.
Para além dos rins, a fórmula composta de duas moléculas de hidrogênio e uma de oxigênio (H2O) participa sem descanso dos processos digestivo, respiratório e cardiovascular. “E também desempenha papel fundamental na manutenção do volume de sangue, no controle da temperatura corporal, no transporte de nutrientes e na eliminação de substâncias que não são utilizadas pelo organismo”, lista a nutricionista Ana Carolina Colucci Paternez, coordenadora do curso de nutrição da Universidade Presbiteriana Mackenzie, na capital paulista.
Embora algumas entidades façam recomendações sobre a quantidade adequada de consumo de água – para a Autoridade Europeia de Segurança Alimentar, por exemplo, a dose para homens e mulheres é de 2,5 e 2 litros, respectivamente -, os experts frisam que os valores variam bastante. “Certas pessoas precisarão de 4 litros ou mais, como os esportistas”, ilustra Ana Carolina.
Há ainda situações específicas que exigem hidratação mais intensa. “Presença de febre, transpiração excessiva e muito calor são algumas delas”, enumera a nutricionista Lara Natacci, diretora clínica da DietNet, em São Paulo.

Mas como escolher?

Há algum tempo, a pergunta soaria estranha. Mas, hoje, além do líquido que escoa pela nossa torneira (e costuma passar por um filtro), vemos diversas opções de água mineral engarrafada nas prateleiras. É que esse mercado, embora tímido, está em franco crescimento em nosso país.
“Trata-se de um fenômeno mundial, incentivado pela tendência de buscar produtos benéficos à saúde”, analisa o geólogo Carlos Alberto Lancia, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Águas Minerais, a Abinam.
Para Antônio Vidal, superintendente da empresa Minalba Brasil, o modelo sustentável também agrada à sociedade atual. “A legislação é bem rígida. Precisamos, entre outras coisas, respeitar a capacidade do lençol freático, explorando uma quantidade limitada de água mineral”, explica.
Para garantir a qualidade do produto, o aquífero deve ser rodeado de natureza – nada de fábricas, plantações ou qualquer outro sistema capaz de contaminar o local. Afinal, a bebida extraída do lençol não pode sofrer alterações até chegar ao consumidor. “Ela é retirada da fonte e diretamente envasada. É 100% natural”, descreve Luiza Rossi, gerente de água e chá da Coca-Cola Brasil.
Outro diferencial é que, por ter contato com rochas, o líquido absorve sais minerais e os chamados oligoelementos – seria, portanto, mais rico.
Os diferentes “tipos” de água Tem água para todos os gostos. Conheça as particularidades das mais citadas por aí
Mineral: retirada de fontes naturais e protegidas, não passa por nenhum tratamento. De onde é extraída, absorve elementos como cálcio, sódio, e por aí vai. A fórmula exata e concentração dependem do perfil do aquífero. Para uma empresa explorá-lo, é preciso autorização do Departamento Nacional de Produção Mineral.
Com gás: pode vir gasosa direto da fonte (o que é mais raro) ou receber adição de dióxido de carbono – veja o rótulo. A nutricionista Mariana Passadore, do Centro Universitário São Camilo, em São Paulo, avisa que ela pode gerar desconforto em quem tem problema gástrico. Também favorece a formação de gases. No mais, hidrata legal.
Da torneira: vem de lençóis freáticos, rios, lagos e represas. Mas, antes de surgir na torneira, passa por um tratamento que envolve várias etapas, como adição de cloro, substância supereficiente para matar bactérias, vírus e fungos. Algumas pessoas são mais sensíveis ao sabor, mas a maior parte dos filtros caseiros consegue removê-lo.
Aromatizada: algumas marcas já oferecem essa opção. A nutricionista Lara Natacci sugere olhar o rótulo para fugir de produtos com açúcar e aditivos. A verdade é que os nutris preferem a aromatização caseira, com os mais variados tipos de frutas, além de folhas de hortelã, paus de canela e pedaços de gengibre. “É uma forma de estimular o consumo”, diz Lara.
Alcalina: é aquela que possui um pH acima de 7. Segundo a nutricionista Ana Carolina, a água pode ser naturalmente alcalina ou passar por um processo de ionização. Ganhou fama por causa da promessa de equilibrar a acidez do organismo, evitando, assim, várias encrencas. Mas não há provas de que ela tenha essa poder.
Destilada: passa por transformações para remover tudo o que está no líquido. “É a forma mais pura da água”, define Lara. Mas isso não é um elogio. Além de não hidratar direito, ela ocasiona a perda de minerais essenciais. Logo, ignore o papo de que traz vantagens à saúde. Seu uso faz sentido em indústrias e laboratórios.

Água limpa e segura

O risco de contaminação é pequeno, mas existe – vamos supor que uma indústria menos cuidadosa não preservou direito o entorno de seu lençol freático. De qualquer forma, Lancia conta que há mecanismos para flagrar desajustes e tirar a fórmula de circulação. Isso porque o produto passa por uma fiscalização contínua.
“A cada três anos, um laboratório oficial do governo coleta água direto da origem para realizar análises. O fabricante só permanece autorizado a comercializá-la caso esteja tudo certo com a composição”, explica o presidente da Abinam.
Com tanto detalhe em jogo, dá para entender por que a água mineral é associada a uma escolha mais acertada para a saúde do que o líquido da torneira, que é retirado de lençóis freáticos e águas superficiais (de rios, lagos e represas) e passa por uma estação de tratamento. Nela, é submetido a vários processos, como coagulação, decantação, filtragem, desinfecção e fluoretação – em resumo, tudo que resulta em uma água potável. Só que uma parte da população não confia no funcionamento dessa orquestra.
Segundo o engenheiro civil Marcelo Libânio, professor do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Minas Gerais, de fato é impossível afirmar que a água de torneira de todos os cantos do Brasil é perfeita. “Não podemos falar em uniformidade em um país tão desigual”, analisa. “Porém, as águas tratadas em sistemas bem operados são, sim, excelentes”, crava.
Em geral, companhias de saneamento, autarquias municipais e empresas privadas são as que garantem um ótimo serviço. “Eu não tomo água envasada. Meu trabalho me mostra que isso não é necessário”, completa Libânio.
Já o patologista Paulo Saldiva, diretor do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, diz não ter dúvidas de que a água mineral tem, em geral, mais qualidade. “Mas não acho que os brasileiros estão em uma situação de precisar comprá-la. É uma escolha. Em São Paulo, bebo água de torneira tranquilamente”, relata.
É preciso levar em conta que uma água que sai limpinha da companhia de abastecimento pode sofrer estragos depois. “Se a tubulação é antiga, com infiltrações no meio do caminho, já não dá para assegurar a qualidade do líquido”, exemplifica o biólogo José Wilson Albuquerque, do Instituto Vital Brazil, no Rio de Janeiro.
Sem falar quando o desastre ocorre em casa: se a caixa-d’água não estiver nos trinques, há possibilidade de contaminação. “O ideal é higienizá-la a cada seis meses”, orienta o médico Alberto Chebabo, diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Já na cozinha, o foco é o filtro. Não adianta comprar um modelo de última geração e desencanar da manutenção. “Ele fica saturado e perde função”, adverte Chebabo. Moral da história: micróbios e impurezas retidos ali podem migrar para o copo.

No ficar atento ao verificar a embalagem de água mineral

Sódio: se houver mais de 200 miligramas por litro de água, a embalagem precisa avisar. O abuso faz a pressão subir. E a dieta já nos fornece mais que o necessário. Compare os rótulos.
Validade: com o tempo, as características da bebida envasada mudam. Por isso, o prazo de validade costuma ser de um ano. Se a água for gaseificada, dura cerca de nove meses.
Flúor/fluoreto: combate cáries, mas, em concentrações elevadas, contribui para a fluorose, causadora de manchas nos dentes. Crianças devem evitar águas com mais de 1 miligrama por litro.
Tampa: veja se está bem lacrada – sobretudo ao comprar na rua. Tem até um teste simples para isso: vire a garrafa e aperte o fundo. Se a tampa encher, é porque já foi aberta. Passe longe.
Nitrato: o limite é de até 50 miligramas por litro. Mas escolha a opção com menos nitrato. É que, quanto maior o teor dele, sinal de que mais vulnerável à contaminação aquela fonte está.
Denominação: há águas que são purificadas e têm adição de sais minerais – isto é, não são naturais de fonte. Se quiser comprar a que veio direto do aquífero, basta ler o rótulo.

O que é irrelevante no rótulo da garrafa

Ph: Não gaste seu tempo (e dinheiro) procurando um valor acima de 7. A chamada água alcalina não equilibrará a acidez nem protegerá contra doenças. Por um motivo simples: ao chegar ao estômago, que tem pH ácido, ela é naturalmente neutralizada.
Cálcio, magnésio e companhia: A composição das águas varia de acordo com a fonte de origem. Mas dá para encontrar desde substâncias de nomes mais familiares, como cálcio e magnésio, até as mais excêntricas, a exemplo de estrôncio e vanádio. Só que as concentrações são tão modestas que não chegam a impactar o organismo.

Água cara de beber

O mercado de água mineral anda tão aquecido que há espaço até para opções premium. É o caso da norueguesa Voss, vendida em garrafa de vidro, e da Fiji, retirada de minas profundas da ilha de Viti Levu, na Oceania. Para tomar 330 mililitros, é preciso desembolsar cerca de 15 reais.
O preço é reflexo de fatores como recipiente, transporte e impostos. Mas não só. “Muitas vezes essas águas vêm de aquíferos que não produzem tanto”, diz Renato Frascino, técnico sensorial de bebidas e alimentos, de São Paulo.
Ou seja, o que pega é a exclusividade. Para Frascino, elas são mais indicadas para acompanhar uma refeição especial.

A água também precisa de proteção

Agora, nossa responsabilidade quanto às características da água não se restringe aos cuidados após recebê-la pelo cano. A bióloga Gisela Aragão, professora da Universidade Estadual de Campinas, no campus de Limeira, interior paulista, lembra que as condições do líquido da torneira dependem de seu estado bruto, lá na origem. E tudo que utilizamos no dia a dia – de remédios a cosméticos – vai parar no esgoto e, em última instância, na água destinada ao consumo. “Por isso precisamos ter cautela na hora de descartar produtos”, defende.
Para Gisela, o grande problema no Brasil está relacionado justamente à proteção dos mananciais. “Já reparou nos lixões que circundam nossos rios?”, questiona.
As plantações dependentes de pesticidas também dão sua péssima contribuição. Para ter ideia, a atrazina, agrotóxico vinculado a malefícios à saúde, já é detectada na água a dezenas de metros de profundidade. “Ela vem do solo”, informa a bióloga.
Assim, a gente deve cobrar as autoridades. Mas fazer escolhas mais conscientes e instruir as próximas gerações é tarefa nossa. “Temos que começar a tratar a água com seu devido respeito”, reflete Saldiva. Senão, poderá faltar.

terça-feira, 23 de abril de 2019

O que é raquitismo e como tratar?

Essa doença rara aparece ainda na infância e enfraquece os ossos. Conheça suas causas, sintomas e tratamentos (há inclusive uma novidade na área)

Os primeiros anos de vida são cruciais para o desenvolvimento do corpo: qualquer transtorno pode deixar marcas duradouras. E uma condição que exemplifica isso é o raquitismo.
Estamos falando de uma doença rara que atinge especialmente crianças. Causado por deficiência nutricional de vitamina D, cálcio ou fósforo e por fatores genéticos, o raquitismo atinge os ossos, deixando-os fracos e predispostos a envergarem.
“Isso ocorre porque são aqueles elementos que deixam o tecido rígido”, justifica a endocrinologista Marise Lazaretti Castro, diretora da clínica Croce, em São Paulo.
A especialista conta que os sintomas surgem quando os pequenos começam a andar. “As perninhas entortam para dentro ou para fora. Surge fraqueza muscular e amolecimento da caixa craniana e torácica”, relata.
Esse abalo nas estruturas não raro prejudica o crescimento e culmina em diversas cirurgias de correção do esqueleto. As complicações variam bastante de caso a caso.
Quando a razão por trás do transtorno é uma carência nutricional, existe cura – e ela é simples. Basta suplementar os nutrientes que estão em falta por um tempo e ajustar a dieta. Esse tipo do raquitismo é mais frequente em países muito pobres, onde a fome atinge proporções epidêmicas.
“Agora, para as versões genéticas não há cura”, aponta Marise. Nessas situações, o uso de suplementos é mandatório durante toda a vida.
No Brasil, a modalidade mais comum do problema é de origem genética. Trata-se do raquitismo hipofosfatêmico, que atinge um a cada 20 mil nascidos vivos por aqui.
“Seus portadores têm uma mutação genética que leva à perda de fósforo no rim. Dessa forma, a criança não consegue retê-lo”, explica a endocrinologista. A alteração está ligada ao excesso de uma substância, o chamado FGF-23, que estimula a liberação do mineral pela urina.
Independentemente do tipo, são necessários testes laboratoriais para fechar o diagnóstico. Exames de sangue e de urina, por exemplo, constatam a quantidade de cálcio, fósforo e vitamina D presentes no organismo e verificam se o rim está funcionando corretamente.
Um raio-x também é útil para identificar lesões nos ossos, principalmente dos punhos e joelhos. Porém, alguns sinais ajudam a levantar suspeitas. “Atraso de crescimento, fraqueza muscular e deformidades ósseas na infância são exemplos”, informa Marise.

Novo remédio é aprovado pela Anvisa

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou recentemente a burosumabe, primeira droga voltada para a causa do raquitismo hipofosfatêmico no Brasil. Ele já havia sido liberado em 2018 nos Estados Unidos.
Em vez de repor o fósforo, o burosumabe captura o FGF-23 e o neutraliza. Aí esse mineral não é mais “sequestrado” e volta a circular em níveis normais. Resultado: a criança provavelmente crescerá sem deformidades.
“É uma notícia muito boa por tratar de forma mais específica o raquitismo e por ser indicado para todas as faixas etárias”, conclui a especialista.
Injetável, o fármaco precisa ser administrado a cada duas semanas, via de regra. E que fique claro: ele não cura o raquitismo. Se o paciente abandonar o tratamento, a molécula FGF-23 volta a reduzir a concentração de fósforo no organismo.

quarta-feira, 17 de abril de 2019

Epidemia de dengue tipo 2, mais grave, pode voltar ao Ceará

Desde 2008, o Estado não registra esse tipo da doença, considerado mais agressivo. No entanto, epidemias em várias cidades do País acendem o alerta para o retorno da doença, caso medidas de prevenção não sejam reforçadas

Ciclos de doenças estouram e encolhem, mas deixam sequelas na população. A dengue, com quatro sorotipos identificados, é uma das ameaças que perduram no Ceará há mais de 30 anos. Os vírus alternam a predominância e põem em xeque novas populações suscetíveis. Atualmente, especialistas veem com preocupação o aumento do número de casos da dengue tipo 2 (Denv-2), considerado mais agressivo, nas regiões Centro e Sudeste, o que ameaça outros estados e pode levar a uma possível epidemia no Ceará, já no fim desta quadra chuvosa ou no início do ano que vem. A última epidemia causada por esse tipo foi em 2008.
De acordo com Fábio Miyajima, especialista em Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no Ceará, foram registrados dois casos do tipo 2 da doença no Estado, em 2019. Um foi confirmado pelo boletim epidemiológico da Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza (SMS) que contabiliza notificações até 6 de abril. O outro, segundo o boletim da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa) divulgado no fim de março, ocorreu no município de Palhano, no Vale do Jaguaribe, a cerca de 160 km da Capital.
Detecção
"Acredita-se que eles tenham origem exterior, mas não tem nada confirmado ainda porque, por enquanto, estão sob inquérito. Se forem autóctones, o risco é bem maior. Temos que ficar alerta", aponta o pesquisador. Os sinais já se espalham pelo Brasil: 85,2% das 608 amostras colhidas e analisadas em onze estados deram positivo para o Denv-2, segundo o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, de março.
"Temos epidemias em São Paulo, Campo Grande, Minas Gerais, Brasília e Tocantins. Em Fortaleza, não deixamos de detectar o tipo 2, mas ele não é predominante. Quem predominou depois de 2008 foram o 1 e 4", explica Nélio Morais, coordenador da Vigilância em Saúde da SMS.
Segundo ele, o caso identificado na Capital foi de uma mulher que trabalhava no bairro José Walter, mas morava em Maracanaú. Como ela transitava entre os dois municípios, ficou difícil determinar a origem da doença. Mesmo assim, foram eliminados criadouros e utilizadas bombas costais nas regiões que ela frequentava, a fim de matar outros focos.
Risco
Apesar das duas únicas confirmações oficiais, Fábio Miyajima ressalta motivos para uma possível subnotificação do sorotipo no Ceará. Um é a sobrecarga de exames centralizada no Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen). O outro é a "janela diagnóstica" para detectar a sorotipagem, já que o vírus só circula no sangue por quatro ou cinco dias, então demanda maior rapidez. Se a base médica for apenas os sintomas, o diagnóstico fica dificultado.
Ou seja, se uma epidemia se configurar no Estado, ela pode começar já no fim do primeiro semestre deste ano. No entanto, como tal período coincide com o fim da quadra chuvosa (fevereiro a maio), espera-se que um pico severo ocorra no início de 2020.
Por isso, para Nélio Morais, não adianta comemorar a baixa transmissibilidade da doença em Fortaleza, já que o período mais crítico de transmissão começa nesta segunda quinzena de abril e se estende até junho. "Mesmo sem epidemia, esse é o período com maior número de casos", afirma. "Não há nada que impeça o tipo 2 de se instalar, mas temos que trabalhar pra não virar epidemia. Nossa preocupação é essa tendência de casos mais graves", completa.
Conforme a Sesa, é preciso ficar atento a quadro de febre, geralmente por um período entre dois dias e uma semana, em paralelo a duas ou mais das seguintes manifestações: náuseas, vômitos, exantema (vermelhidão na pele) e dores musculares, de cabeça ou nas articulações, especialmente em pessoas que vivam ou tenham viajado, nos últimos 14 dias, para área onde esteja ocorrendo transmissão de dengue ou tenha a presença do mosquito Aedes aegypti. Também merecem olhares atentos as crianças provenientes ou residentes em área com transmissão de dengue, com quadro febril agudo sem foco de infecção aparente.
Vulneráveis
De acordo com os especialistas, além dos nascidos depois de 2018, quem já pegou a dengue tipo 2 pode estar suscetível mais uma vez. "Dez anos é tempo mais que suficiente para renovar o vírus por mutação e aumentar o nível de suscetibilidade. O anticorpo circula meses e anos, mas uma década inteira é capaz de diminuir a imunização", informa Miyajima.
Nélio Morais complementa que os anticorpos que atuam contra outros sorotipos da dengue também podem acabar facilitando o processo de invasão celular do novo vírus. A resposta imunológica, porém, será individual. A melhor forma de prevenir a doença, alertam, ainda é evitar o acúmulo de água parada e a reprodução do mosquito.

DENGUE DENGUE

segunda-feira, 15 de abril de 2019

Hábitos saudáveis evitariam um terço das mortes por câncer no Brasil

Alimentação desequilibrada, sedentarismo, tabagismo, excesso de peso e consumo de álcool respondem por vários casos de câncer, segundo estudo

Tabagismo, consumo de álcool, excesso de peso, alimentação não saudável e falta de atividade física são associados a um terço das mortes causadas por 20 tipos de câncer no Brasil, segundo um novo estudo. Publicado na revista científica Cancer Epidemiology, o trabalho indica que, do total dos casos anuais de tumor, pelo menos 114 mil (27% do total) seriam evitados com um estilo de vida mais saudável. E 63 mil vidas (34% do total) poderiam ser poupadas.
Os dados vem de uma investigação realizada por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) e da Harvard University, nos Estados Unidos, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Segundo o levantamento, as incidências de câncer de pulmão, laringe, orofaringe, esôfago, cólon e reto seriam reduzidas pela metade se aqueles cinco fatores de risco fossem completamente eliminados. “De acordo com diversos trabalhos anteriores, não há outra medida capaz de prevenir tantos casos”, disse Leandro Rezende, pesquisador da FM-USP e um dos autores do artigo. “A prevenção primária por meio de modificações no estilo de vida é uma das abordagens mais interessantes e realistas para o controle da doença no Brasil”, arrematou, em entrevista para a Agência Fapesp.
O câncer está entre as principais causas de morte no Brasil. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), a expectativa é que, em 2025, os casos aumentem em até 50% no país, principalmente pelo crescimento e pelo envelhecimento da população.

A pesquisa

Há um consenso na literatura científica de que tabagismo, sedentarismo, consumo de álcool, excesso de peso e dieta desequilibrada estão associados ao desenvolvimento de 20 tipos de tumor. Entre outras coisas, o novo estudo calculou a fração atribuível populacional (FAP) – uma métrica capaz de estimar a proporção de casos que seriam evitados se esses cinco fatores de risco fossem eliminados de toda a população – nesses tipos de câncer.
Foi com base nisso que os pesquisadores chegaram nos dados que mencionamos antes. E mais: eles identificaram quanto cada um daqueles hábitos influenciava, isoladamente, no número de cânceres no Brasil, separando inclusive por sexo.
Pela análise, o tabagismo foi responsável por 67 mil casos e 40 mil mortes ao ano no Brasil. Ele liderou esse ranking inglório, seguido pelo excesso de peso (21 mil episódios da enfermidade e 13 mil óbitos) e pelo consumo de álcool (16 mil casos e 9 mil mortes).
“Avançamos muito nos últimos dez anos, com várias leis e ações que conseguiram reduzir em mais da metade a prevalência do tabagismo. No entanto, ele continua sendo a principal causa de câncer”, atestou Rezende. “Isso reforça a necessidade de campanhas, taxas e restrição de marketing”, completou.
Na análise por sexo, homens e mulheres foram afetados de forma diferente. Na ala masculina, o cigarro gerou um impacto maior na prevalência de câncer do que a alimentação inadequada, o excesso de peso, a falta de atividade física e o consumo de álcool juntos. Já nas mulheres, aconteceu o inverso: a soma desses quatro últimos fatores foi mais preponderante do que o tabagismo.
“A diferença ocorreu, porque a prevalência de tabagismo ainda é mais alta entre os homens no Brasil. Mas não é só isso: as mulheres são mais impactadas por outros fatores. Elas praticam menos atividade física e apresentam um índice de massa corporal maior”, concluiu Rezende.
Este conteúdo foi produzido pela Agência Fapesp.

quarta-feira, 3 de abril de 2019

Laudo descarta meningite como causa da morte de neto do ex-presidente Lula

Laudo descarta meningite como causa da morte de neto do ex-presidente Lula
Lula, o neto Arthur, e dona Marisa no aniversário de 70 anos do ex-presidente — Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação
A Prefeitura de Santo André informou que a causa da morte de Arthur Araújo Lula da Silva, de sete anos, neto do ex-presidente Lula, não foi meningite. O caso aconteceu no dia 1º de março deste ano. As informações são do jornal O Globo.
O neto do ex-presidente Lula deu entrada no Hospital Bartira por volta de 7h da manhã com febre, náuseas e dores abdominais. O quadro evoluiu para confusão mental e a criança morreu por volta do meio-dia. Na época, a causa atribuída pelo hospital foi meningite. “Apesar da notificação, o resultado do exame de líquor, realizado no mesmo dia pelo próprio Hospital Bartira, acusa bacterioscopia negativa”, informou a Prefeitura de Santo André.
Amostras de sangue foram enviadas para o Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, e o resultado divulgado nesta segunda-feira (1º) descartou todos os tipos de meningite como causas da morte. A Prefeitura de Santo André, no entanto, não informou qual o motivo do óbito de Arthur.
“Informações adicionais relacionadas ao caso dependem da autorização expressa da família da criança”, disse a Prefeitura em um comunicado.
Por conta da morte do neto, o ex-presidente Lula conseguiu sair da sede da Polícia Federal, em Curitiba, para participar do velório. A decisão foi tomada pela Justiça Federal do Paraná.