quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Doenças mentais têm fatores genéticos em comum, diz estudo

O estudo analisou e comparou os genes de mais de 33 mil pacientes com algum desses transtornos com quase 28 mil sem nenhum deles
Doenças mentais como o autismo, o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), a depressão, o transtorno bipolar e a esquizofrenia podem ter em comum fatores de risco genéticos, segundo um novo estudo publicado nesta quinta-feira na revista médica britânica The Lancet.
Cientistas do Consórcio de Genômica Psiquiátrica (Carolina do Norte) descobriram que há variantes genéticas que influem nestas doenças que eram consideradas clinicamente diferentes.
O estudo analisou e comparou os genes de mais de 33 mil pacientes com algum desses transtornos com quase 28 mil sem nenhum deles. O objetivo da pesquisa era encontrar variações genéticas comuns que pudessem ser fatores de risco de algum dos cinco distúrbios mentais.
Finalmente, foram descobertas quatro variantes genéticas comuns (duas das quais controlam os níveis de cálcio no cérebro) que parecem aumentar o risco de transtorno bipolar, depressão e esquizofrenia em adultos.
Análises posteriores revelaram que os genes que controlam os canais de cálcio - encarregados da relação entre as células do cérebro através de sinais elétricos - também podem ser importantes no desenvolvimento das cinco doenças.
"(A descoberta) pode mudar o modo com que definimos e diagnosticamos as doenças, baseado em causas biológicas. Alguns desses distúrbios têm mais relação entre si do que havíamos imaginado", disse o coordenador do estudo, Jordan Smoller, professor de psiquiatria de Harvard (Boston, EUA).
No entanto, os especialistas ainda não entendem exatamente como essas variantes estão relacionadas às doenças.
"É a primeira pista que temos sobre genes específicos e vias que podem causar uma maior suscetibilidade perante um determinado número de distúrbios", acrescentou Smoller.
O cientista apontou, ainda, que os fatores genéticos descobertos podem ser apenas uma pequena parte do risco que finalmente desemboca em distúrbios como a depressão e a esquizofrenia.
"Não são suficientes para prever o risco de um indivíduo. Uma pessoa pode ter todas essas variações e, por outro lado, nunca desenvolver um distúrbio psiquiátrico", ressaltou.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Pesquisa confirma que dieta do Mediterrâneo protege o coração


Em um extenso estudo, pesquisadores espanhóis observaram que esse tipo de alimentação reduz a chance de problemas cardiovasculares

Dieta do mediterrâneo é baseada nos alimentos característicos de alguns dos países banhados pelo mar Mediterrâneo
Dieta do mediterrâneo é baseada nos alimentos característicos de alguns dos países banhados pelo mar Mediterrâneo(Thinkstock)
Um extenso estudo feito ao longo de cinco anos e que envolveu quase 7.500 pessoas confirmou que a dieta do Mediterrâneo, baseada em alimentos como peixes, legumes, frutas, castanhas, grãos integrais e azeite, protege a saúde do coração. De acordo com uma equipe de pesquisadores de universidades e centros médicos da Espanha, esse tipo de alimentação reduz a chance de problemas cardiovasculares, como o derrame cerebral, em pessoas com mais de 55 anos que já apresentam um alto risco cardíaco.

Saiba mais

DIETA DO MEDITERRÂNEO
É baseada nos alimentos característicos de alguns dos países banhados pelo mar Mediterrâneo. É rica em frutas, legumes, peixes, grãos integrais, gordura saudável, como o azeite, e quantidades moderadas de álcool, especialmente de vinho.
A dieta do Mediterrâneo já foi associada por diversos estudos a benefícios a saúde, entre eles a uma maior proteção ao sistema cardiovascular. No entanto, essas pesquisas limitaram-se a evidenciar uma relação estatística entre essa alimentação e menores eventos cardíacos. O novo estudo, que foi publicado nesta segunda-feira no periódicoThe New England Journal of Medicine, submeteu parte dos voluntários à dieta do Mediterrâneo e o restante deles, a uma dieta com baixo teor de gordura. Depois de cinco anos, a saúde de todos foi comparada.
Os 7.447 participantes do estudo tinham de 55 a 80 anos de idade. Nenhum deles sofria de doença cardíaca, mas todos tinham um alto risco do problema, já que apresentavam diabetes, obesidade ou colesterol e pressão altos.
Dieta 'fácil' — Segundo os autores da pesquisa, as dietas às quais os voluntários foram submetidos não eram rígidas e nem limitavam calorias ingeridas, já que o objetivo do trabalho não era promover a perda de peso entre os indivíduos. Talvez por isso, os pesquisadores afirmam, o índice de desistência das dietas foi baixo: apenas 7% dos participantes abandonaram a nova alimentação, sendo que o grupo da dieta com baixo teor de gordura apresentou o dobro de desistência do que as pessoas que seguiram a dieta do Mediterrâneo.
Após cinco anos acompanhando os participantes, os autores observaram que aqueles que seguiram a dieta do Mediterrâneo apresentaram um risco 30% menor de sofrer algum evento cardiovascular em comparação com o restante dos voluntários. "Em conclusão, nesse estudo de prevenção primária, nós observamos que uma dieta do Mediterrâneo sem restrição calórica, com suplementos de azeite extravirgem ou de nozes, resultou em uma redução substancial da chance de eventos cardiovasculares em pessoas com alto risco. Os resultados sustentam os benefícios da dieta mediterrânea para a prevenção primária da doença cardiovascular”, escreveram os autores nas conclusões do estudo.


terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Quase metade dos médicos do país não tem especialização

Para CFM, esse número é preocupante e mostra que população está exposta a atendimento pouco qualificado e a profissionais menos experientes

Vivian Carrer Elias
Médico com estetoscópio
Médicos: Apenas pouco mais da metade dos profissionais do país possui ao menos uma especialização (Thinkstock)
Quase metade dos médicos em atividade no Brasil não possui um título de especialista, que é emitido por sociedade de especialidade ou obtido com a conclusão de residência médica. Segundo dados divulgados nesta segunda-feira pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), as regiões do país que concentram o menor número de profissionais, como a Norte e a Nordeste, são as mesmas que possuem menos médicos especializados. O CFM considera esse dado "preocupante", já que, mesmo sem nenhuma especialização, os médicos podem exercer qualquer ramo da medicina, o que acaba expondo a população a um atendimento menos qualificado.
Esses números fazem parte do estudo Pesquisa Demografia Médica no Brasil 2: Cenários e Indicadores de Distribuição, desenvolvido pelo CFM em parceria com o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp). De acordo com o levantamento, dos 388.015 médicos do país, 180.136 deles, ou 46%, não têm especialidade. Se excluídos os profissionais mais jovens, que ainda não ingressaram ou não concluíram o curso de especialização, e os mais velhos, que desistiram de tentar uma vaga em residência médica, restam ainda 88.000 médicos sem especialização — 22% do total de profissionais no país.
Segundo Desiré Callegari, conselheiro federal e diretor de comunicação do CFM, a legislação do Brasil permite que qualquer médico graduado, mesmo sem ter feito residência médica, exerça qualquer especialidade médica. "Esses médicos que, por algum motivo, não obtêm especialização costumam ir para áreas da medicina que necessitam de mais profissionais, como na atenção primária de saúde ou nos atendimentos de urgência ou emergência", disse Callegari ao site de VEJA. "A população acaba sendo exposta a profissionais menos experientes e qualificados nesses atendimentos. O médico exerce a sua profissão com pouca experiência em relação a diagnósticos e orientações de tratamentos, por exemplo."
Falta de vagas — Desiré Callegari considera que esse dado é um reflexo do aumento do número de vagas em faculdades de medicina, da má qualidade do ensino médico e do problema de falta de vagas em residências médicas para todos os estudantes da área. "Essa abertura indiscriminada de cursos de medicina está nos colocando em um caminho errado", diz.
Para Roberto Luiz d'Avila, presidente do CFM, cabe ao governo "proporcionar um sistema formador em condições de atender essa demanda reprimida e os futuros egressos das escolas. Todos devem ter a possibilidade de aperfeiçoar sua formação, o que resultará em benefícios diretos para o paciente e a sociedade", diz. Ele acredita que a solução não está em criar ainda mais vagas em cursos de medicina, mas sim garantir uma estrutura adequada de pós-graduação, como número de vagas suficientes e de boa qualidade.
Regiões — Outros dados desse mesmo estudo do CFM divulgados na última semana já haviam revelado que, embora o número e a proporção de médicos por habitantes no Brasil aumentem a cada ano, a distribuição dos profissionais ao redor do país continua sendo um problema. Enquanto no Sudeste são 2,67 profissionais disponíveis para cada 1.000 pessoas, na região Norte há um médico para o mesmo número de habitantes.
Os números da pesquisa divulgados nesta segunda-feira mostram que a maior concentração de médicos em determinadas regiões também vem acompanhada por um maior número de profissionais que têm um ou mais títulos de especialização e vice-versa. Ou seja, no Sudeste estão 56% de todos os médicos em atividade do país e 54,5% de todos os profissionais brasileiros que possuem especialização. Por outro lado, o Norte concentra 4,26% de todos os médicos do Brasil e apenas 3,5% dos especializados do país.
Especialidades concorridas — Ainda de acordo com dados do estudo do CFM divulgados nesta segunda-feira, apenas sete das 53 áreas médicas reconhecidas no Brasil concentram 53% dos profissionais no país. A pediatria é a especialidade mais procurada pelos médicos brasileiros, concentrando 11,2% de todos os profissionais do país. Em seguida, estão ginecologia e obstetrícia, cirurgia geral, clínica médica, anestesiologia, medicina do trabalho e cardiologia.
Por outro lado, as dez especialidades menos procuradas concentram apenas 2,2% de todos os médicos do país. Entre as três menos procuradas estão a radioterapia (0,19%), a cirurgia de mão (0,15%) e a genética médica (0,07%). "O governo deveria, além de criar mais vagas de residência médica, olhar para as especialidades as quais o Brasil mais carece, e suprir essa necessidade", diz Callegari.
Tabela CFM

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Casos de dengue crescem 190% no Brasil em um ano

De acordo com levantamento do Ministério da Saúde, até 16 de fevereiro foram registrados 204.650 casos da doença, contra 70.489 no mesmo período de 2012

Marcela Mattos, de Brasília
'Aedes aegypti'
Aedes aegypti, o mosquito transmissor do vírus da dengue: pesquisa constatou que em janeiro deste ano 267 municípios estavam com risco de epidemia, 487 em alerta e 238 em situação satisfatória (Thinkstock)
"Nós temos, sim, epidemia em alguns estados no país" — Alexandre Padilha, ministro da saúde
O número de casos de dengue no Brasil apresentou um aumento de 190% em relação ao mesmo período do ano passado. De acordo com levantamento do Ministério da Saúde divulgado nesta segunda-feira, até 16 de fevereiro foram registrados 204.650 casos da doença, contra 70.489 no mesmo período de 2012. Apesar da maior incidência, houve redução de 20% na quantidade de óbitos e de 44% nos casos graves.
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, afirmou que atualmente "nós temos, sim ,epidemia em alguns estados no país". Oito deles concentram 84% dos casos: Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Mato Grosso e Espírito Santo.
O boletim constatou o aumento da dengue em quase todo o Brasil, com destaque para a região Sul (2.836%) e Centro Oeste (801%). Somente a região Nordeste registrou uma queda nas ocorrências: caiu 51% em relação a 2012. Ainda assim, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, alerta que a região apresenta tendência diferente das demais. "Tradicionalmente, o número de casos no Nordeste aumenta a partir de março. Tivemos um período forte de seca e as chuvas devem vir. Está claro qual deve ser o alvo das ações", afirmou o ministro.
Alguns estados merecem um alerta específico. Mato Grosso do Sul destaca-se como o maior número de casos por 100.000 habitantes: a média foi de 1.677,2, o que representa um aumento de 4.757% em relação ao ano passado. Padilha ressaltou que apesar de não haver transmissão autóctone (quando se contrai a doença na própria cidade) no Sul do país, todas as cidades em situação de risco são do Paraná. Neste ano, subiu de 361 para 12.040 casos. Segundo o ministro, a explicação é motivada pelas condições climáticas da região, bastante parecidas com as do Centro-Oeste. São Paulo também mereceu destaque. De acordo com o ministro, o local historicamente registra baixa transmissão, mas agora evidencia um número que merece atenção: foram 21.691 registros da doença, um aumento de 526%.
O boletim constatou que o DENV-4, um dos quatro sorotipos no Brasil, corresponde à maioria dos casos: 52,6%. Esse novo tipo da doença, que chegou ao país no final de 2010, apresenta os mesmos sintomas, profilaxia e tratamento. No entanto, por ainda ser relativamente novo, encontra maior vulnerabilidade entre a população, o que pode explicar o índice maior de ocorrências. O secretário de vigilância do MS, Jarbas Barbosa, afirma que o DENV-4 chegou a praticamente todos os estados, e que a tendência é que a disseminação seja mantida.
Redução de mortes — Apesar de já se falar em epidemia, o ministério da Saúde comemorou a redução do número de mortes e de casos graves. De acordo com a pasta, a redução deve-se às medidas adotadas para este ano, entre elas, principalmente, um maior investimento. Em 2012, o foram repassados 1,73 bilhão de reais para custear as ações de vigilâncias dos estados e municípios. O montante recebeu um acréscimo de 173,3 milhões de reais neste ano, destinados às secretarias municipais e estaduais de saúde.
"Mas não podemos relaxar. Estamos apenas no início do enfrentamento da dengue, que se estenderá até maio. Temos de agir para evitar mais casos”, pondera Padilha. O ministro explicou ainda o perfil dos casos de óbito. Normalmente, são pessoas idosas e já com debilidades decorrentes de outras doenças, como hipertensão e diabetes.  
Infestação — O ministério da Saúde também mapeou onde estão concentrados os focos de reprodução do mosquito da dengue. De acordo com o Levantamento de Índice Rápido de Infestação por Aedes aegypti (Lira), realizado em 983 municípios, a maior incidência de larvas em reservatórios de água ocorreu no Nordeste, com 76,2% do motivo dos registros. Já a região Sudeste destaca-se por concentrar o maior foco em depósitos domiciliares: 63,6%. A pesquisa constatou que em janeiro deste ano 267 municípios estavam com risco de epidemia, 487 em alerta e 238 em situação satisfatória.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

A volta de Dom Pedro I

A exumação dos corpos do imperador e de suas duas mulheres elucida dúvidas sobre a monarquia, reconta detalhes da história e traz o passado do País para mais perto dos brasileiros

João Loes
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Não são muitas as oportunidades de testemunhar a história ser reescrita. Às vezes, na academia, ela até ganha novas leituras à luz da época e das teorias de quem se propõe a reinterpretá-la. Mas fatos novos surgirem é coisa rara. Isso torna ainda mais importantes as descobertas que começam a ser feitas a partir da exumação inédita dos corpos de dom Pedro I, imperador do Brasil, e suas duas mulheres, dona Leopoldina e dona Amélia. Fruto do extenso trabalho que envolveu 11 instituições dos três âmbitos de governo e mobilizou uma equipe liderada pela arqueóloga e historiadora Valdirene do Carmo Ambiel, os resultados iniciais, divulgados pelo jornal “O Estado de S. Paulo”, têm o fascínio de trazer o passado para os dias de hoje. O interesse despertado pela pesquisa também é sinal da onda de valorização da história que se nota no mundo todo, com um público global que parece ávido por saber um pouco mais sobre o que já foi um dia. Os estudos que a intrincada exumação incentiva devem ainda dar início a um processo de revisão e redescobrimento da história nacional. Em breve, teorizam historiadores ouvidos por ISTOÉ, poderemos até ver algumas modificações nos livros didáticos brasileiros a partir do que dizem os restos mortais da família imperial. Entre os personagens examinados, dom Pedro I e a imperatriz Leopoldina renderam as revelações mais saborosas da pesquisa. Ele, em especial, por sua importância histórica e por ser o eixo central dos três exumados, foi quem mereceu mais atenção.
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TRABALHO MINUCIOSO
Estudos dos restos mortais do imperador e de suas esposas
permitem rever fatos históricos. Abaixo, dona Amélia mumificada
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Dom Pedro I, feito imperador do Brasil em 12 de outubro de 1822, morreu e foi enterrado em Portugal em 1834. Ele havia abdicado do trono brasileiro três anos antes e regressado para a Europa. Seus restos mortais foram trasladados para o País em 1972, na comemoração dos 150 anos de Independência, sendo abrigados na cripta do Monumento à Independência, em São Paulo. A abertura do caixão, em fevereiro do ano passado, foi trabalhosa e demorada (leia mais às págs. 62 e 63). Um levantamento preliminar do material já permitiu a revisão de algumas verdades estabelecidas sobre o imperador, além de novas interpretações de fatos conhecidos.
Por mais de um século, a imagem propagada de dom Pedro I era a de um homem esguio, forte e alto. Assim ele foi retratado em telas e, posteriormente, no cinema e na tevê. Por isso, o patriarca da independência que habita o imaginário brasileiro é o do imperador montado no cavalo branco, grande e imponente como o pintou Pedro Américo num dos principais quadros do Museu da Independência. Ou o dom Pedro I galã, interpretado, em 1972, por Tarcísio Meira no filme “Independência ou Morte”. A verdade, porém, é que nem porte de galã ele tinha. Segundo as conclusões iniciais da pesquisa, ele media entre 1,66 m e 1,73 m. Portanto, era baixinho para os padrões atuais, mas de boa estatura para a época. A partir da estrutura óssea pode-se inferir que era atlético. “Bate com os relatos que temos de que ele era um sujeito hiperativo, sempre envolvido com algum tipo de atividade física”, afirma Mary del Priore, historiadora e autora de “A Carne e o Sangue”, sobre a família imperial.
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A exumação também revelou que quatro costelas do lado esquerdo estavam quebradas. Elas são resultado de acidentes em vida porque havia marcas de cicatrização, processo que cessa após a morte. É um achado que confirma a documentação existente sobre os acidentes sofridos por dom Pedro I – um em 1823 e outro em 1829 –, mas que também expande a discussão sobre as aptidões e o estilo dele para exercer o poder. “De informações como essa, que confirmam lesões graves decorrentes dos riscos que o imperador assumiu, podemos inferir que ele não era um homem talhado para a vida em gabinete”, diz a historiadora Maria Aparecida de Aquino, da Universidade de São Paulo (USP).
De fato, dom Pedro I era mais talhado para a ação do que para reflexões. Ao regressar para Portugal, por exemplo, depois da abdicação do trono no Brasil, fez treinamento na França para melhorar a condição física como preparação para a guerra que travaria com seu irmão, dom Miguel, pelo trono português. Negociar uma saída diplomática não era sequer uma possibilidade. “Todo governante constrói para si a imagem que deseja ter, e dom Pedro I sempre quis ter fama de cavaleiro destemido e apaixonado”, diz o historiador Maurício Vicente Ferreira Jr., diretor do Museu Imperial em Petrópolis. “De certa forma ele conseguiu, tanto para o bem quanto para o mal.”
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FAMÍLIA
A historiadora e arqueóloga Valdirene Ambiel com o crânio de dom Pedro I.
No alto, a segunda mulher, dona Amélia, e acima a primeira, dona Leopoldina
Dona Leopoldina, sua primeira mulher, sentiu na pele o lado passional de dom Pedro I. Dado a variações de humor, toda energia que ele tão facilmente depositava nas causas em que acreditava podia rapidamente se tornar agressividade. A imperatriz narrava em suas cartas a violência psicológica a que era submetida. Queixava-se do marido à irmã mais velha, Maria Luisa de Áustria, e a amigas como Maria Graham, sua educadora na infância. A correspondência mais reveladora, de 8 de dezembro de 1826, endereçada a Maria Luisa, fala de sofrimento e morte iminente – a imperatriz morreria três dias depois de ditar esta carta. “Há quatro anos, minha adorada mana, como a ti tenho escrito, por amor de um monstro sedutor me vejo reduzida ao estado de maior escravidão e totalmente esquecida pelo meu adorado Pedro”, desfia. Mais adiante, faz menção a um “horroroso atentado que será a causa de minha morte”.
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Isso ajudou a propagar a história de que dom Pedro I, em um acesso de raiva, teria dado um pontapé na imperatriz grávida, jogando-a escada abaixo no palácio na Quinta da Boa Vista, em São Cristovão, no Rio de Janeiro. O ataque teria quebrado o fêmur da imperatriz, causado seu último aborto e deflagrado a infecção generalizada que a matou em 1826. A origem da briga era a relação de dom Pedro I com a amante Domitila de Castro e Canto Melo, a Marquesa de Santos, a quem ele havia promovido a dama de companhia da imperatriz. A gota d’água para Leopoldina foi o fato de dom Pedro resolver assumir publicamente Isabel Maria, a filha que teve com Domitila, concedendo o título de duquesa de Goiás à menina de dois anos. Leopoldina o censurou numa carta: “Escolhes entre a esposa e a amante!” A reação brutal do imperador foi testemunhada pelo Barão de Mareschal, um agente do governo da Áustria, além de outras duas pessoas. Segundo Mareschal, ele gritou com a mulher que “lhe tiraria os cavalos para passeio e outros impropérios”. O austríaco também teria sido um dos responsáveis por espalhar na corte que dom Pedro espancara a esposa.
Uma das revelações importantes dos restos exumados de dona Leopoldina foi a de que não havia sinais de fratura em seu fêmur. Essa informação, em tese, desmentiria o episódio da Quinta da Boa Vista. “É uma história de origem pouco conhecida, mas que foi repetida infinitamente e acabou sendo tratada como verdade”, diz Isabel Lustosa, historiadora da Fundação Casa de Rui Barbosa e autora do livro “D. Pedro I: Um Herói Sem Nenhum Caráter”. Na Europa, tias e amigas de dona Leopoldina na Áustria espalharam a versão sobre a morte da imperatriz pelas cortes do continente. No Brasil, ela ganhou as páginas de jornais de oposição, como o republicano “O Repúblico”, que chegou a chamar dom Pedro I de monstro. Seria uma mancha imensa na história da família imperial, se é que a história é verdadeira. Mas os ossos intactos deram ânimo aos descendentes da monarquia. “Ele não era esse monstro”, rebate dom Antônio João Maria de Orléans e Bragança, 62 anos. “Está provado que não houve nenhuma agressão”, reforça dom Betrand Maria de Orléans e Bragança e Wittelsbach, 72 anos, que autorizou as exumações, nas quais estiveram presentes um sacerdote. A pesquisadora responsável pelo estudo, porém, diz não ser possível fazer tal afirmação. “O que dá pra dizer é que ela não foi vítima de violência com força suficiente para quebrar um fêmur”, esclarece Valdirene.
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Os ossos da imperatriz, no entanto, desfazem a imagem de que ela era rechonchuda. Quando a jovem Leopoldina chegou ao Brasil, aos 19 anos, era “pequena, muito branca e com cabelos de um loiro fosco”, segundo historiadores. Depois de algum tempo no Rio de Janeiro teria engordado, passando a ser descrita como “baixa e corpulenta”. Uma amiga que a visitou no Paço Imperial, a Baronesa de Monet, chegou a ser ferina no relato da silhueta da imperatriz: “Parece talhada numa peça só.” Mas os exames da ossada sugerem, segundo Valdirene, que ela era uma mulher magra. Talvez o fato de dona Leopoldina ter tido nove gestações durante os nove anos em que viveu no Brasil tenha contribuído para essa imagem de gordinha.
No fim da vida, a depressão tomou conta da imperatriz que, além de tudo, estava sem dinheiro. Ela contraiu dívidas com comerciantes para dar conta de suas despesas enquanto dom Pedro I, sovina, regulava até a despensa da casa e a privava da mesada que seus familiares austríacos mandavam. Isso poderia explicar porque a imperatriz foi enterrada praticamente sem joias, apenas com um brinco simples e sem luxo, supostamente ornado por uma gota de resina, como mostrou a exumação. “Não dá para dizer qual é o material porque os exames ainda não foram concluídos”, ressalva a arqueóloga Valdirene. “E ainda que seja resina, há resinas caríssimas, como o âmbar.” Mesmo assim, surpreende a ausência de outras joias no caixão. “Onde estão as tiaras, os colares e as pulseiras que condizem com o status de imperatriz que ela tinha?”, questiona Maurício Vicente Ferreira Jr., do Museu Imperial de Petrópolis. “dona Leopoldina foi enterrada com o vestido que usou para a coroação do marido, é esperado que ele tenha sido desenhado com um conjuto de joias próprio, que, surpreendetemente, não está presente.”
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HOMENAGEM
Os corpos das três figuras históricas estão abrigados na cripta imperial
do Monumento à Independência, no parque da Independência, em São Paulo
As vestimentas do enterro de dom Pedro I também foram motivo de surpresa para os pesquisadores. Não havia qualquer comenda brasileira entre as seis encontradas nas roupas militares do imperador. “É preciso entender o contexto da morte dele”, diz o professor Paulo Jorge Fernandes, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. dom Pedro I morreu em Portugal como dom Pedro IV depois de se sair vitorioso de uma dura batalha contra o irmão tirano, dom Miguel. O foco estava na pátria-mãe. “É natural que ele ganhasse estas insígnias, não há desrespeito com a história brasileira”, afirma.
Para entender a divergência, convém separar a vida de dom Pedro I em três estágios distintos. O primeiro, em Portugal, como primogênito de dom João VI, o segundo, no Brasil, como imperador, e o terceiro, de volta a Portugal, como o rei soldado dom Pedro IV. Quando ele voltou a Portugal, sua vida havia mudado de tal maneira que ele já estava, inclusive, casado com sua segunda mulher, dona Amélia de Leuchtenberg, que também foi exumada da cripta do Monumento à Independência. Do caixão dela veio uma das maiores surpresas de toda operação: seu estado de conservação. Ela tinha pele, olhos, cílios e cabelo intactos. Em 1982, quando houve o traslado do seu corpo para o Brasil, foi constatado que ela estava preservada, mas sua localização na cripta era a pior, por isso, a expetativa era de grande deterioração.
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Curiosamente, dona Amélia queria um velório simples. “Em testamento, ela pediu, textualmente, para não ser autopsiada ou embalsamada”, afirma a pesquisadora Cláudia Thomé Witte, especialista na história da segunda mulher do imperador. Porém, o texto foi lido dois dias depois do enterro, na Ilha da Madeira, onde dona Amélia morava na época. Quem preparou seu corpo foi o médico Francisco Antônio Barral, também responsável por embalsamar a filha dela, Maria Amélia do Brasil, que morreu de tuberculose aos 21 anos em 1853. Na época, era comum europeus com a doença rumarem para ilha atrás de ar puro e repouso. Para o corpo da jovem, a imperatriz havia pedido o melhor método de embalsamamento da época, pois ela tinha intenção de velá-la por muito tempo – a cerimônia fúnebre durou impressionantes dois meses. E quando dona Amélia morre,u Francisco Barral decidiu usar na imperatriz a mesma técnica aplicada na infanta. O acaso ainda colocou dona Amélia no caixão e sarcófago mais bem fechados dos três que estão na cripta, o que criou uma situação ideal de preservação. Quando foi aberto, em 10 de agosto de 2012, o cheiro de cânfora dominou o ambiente, pois a substância era um dos principais ingredientes do embalsamamento.
Dona Amélia teve uma vida muito mais calma do que dona Leopoldina. Dom Pedro I, mais velho e consciente da dificuldade que seus assessores tiveram para lhe encontrar uma segunda mulher – sua fama de violento ainda dominava as cortes europeias e ele ouviu oito recusas, da Baviera ao Piemonte, até ser aceito –, foi amoroso e atencioso com a nova imperatriz. Para a pesquisadora Cláudia, isso explica o fato de dona Amélia ter guardado luto por 39 anos, até sua morte. Ela foi enterrada de preto.
Muitas outras interpretações ainda serão feitas a partir da pesquisa da arqueóloga Valdirene, apresentada como um projeto de mestrado no departamento de história da Universidade de São Paulo na semana passada. Novos dados também surgirão a partir da análise da montanha de informação acumulada pelas fotos e exames médicos desses três protagonistas da nossa história. A análise levará anos e ajudará a compor um perfil mais fiel da família imperial. Há muito trabalho por fazer e Valdirene Ambiel, 41 anos, pretende se encarregar de pelo menos parte dele em um doutorado. “São poucas as oportunidades que temos de mostrar ao grande público, de forma tão clara e direta, que a história não é uma verdade única e inquestionável, descansando em um livro”, diz a historiadora Maria Aparecida de Aquino. Estamos diante de uma delas.
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Colaboraram: Laura Daudén, Mariana Brugger e Juliana Tiraboschi
Montagem sobre de João Castelano/Ag. Istoé; Divulgação

Mais três médicos são presos por suspeita de envolvimento em mortes em UTI do Hospital Evangélico

Profissionais eram subordinados a Virgínia Soares de Souza, que já está presa

Acusada de maus tratos por cometer eutanásia em pacientes, a médica chefe da UTI do Hospital Evangélico Virginia Helena Soares de Souza, é presa por policiais do NUCRISA (Núcleo de Repressão aos Crimes Contra Saúde)
Médica chefe da UTI do Hospital Evangélico, Virginia Soares de Souza, é acusada de homicídio qualificado (Henry Milléo/Gazeta do Povo/Futura Press)
A Polícia Civil do Paraná prendeu neste sábado três médicos suspeitos de envolvimento nas mortes ocorridas na UTI do Hospital Evangélico, em Curitiba. Eles eram subordinados à médica Virgínia Soares de Souza, de 59 anos, presa na última terça-feira. A Justiça paranaense concedeu, na noite de sexta-feira, quatro mandados de prisão temporária contra profissionais da unidade. Um médico está foragido.
A Justiça também converteu o mandado de prisão temporária de 30 dias contra Virgínia em prisão preventiva. Dessa forma, não há mais um prazo legal para liberação da médica. Virgínia foi chefe da UTI do Hospital Evangélico por sete anos e está sendo investigada por homicídio qualificado, acusada de ordenar a membros de sua equipe o desligamento de aparelhos que mantinham pacientes vivos.
A denúncia que culminou na prisão de Virgínia surgiu em 2012, feita por uma pessoa que conhecia a rotina da UTI. "A pessoa entrou em contato com a Ouvidoria, que nos repassou a denúncia e iniciamos a investigação", afirmou a delegada Paula Brisola. Desde que o caso veio à tona, pelo menos 50 denúncias contra a médica foram registradas no Núcleo de Repressão aos Crimes Contra a Saúde (Nucrisa) por ex-companheiros de trabalho e familiares de antigos pacientes.
Na quinta-feira, um membro da família de uma ex-paciente da UTI contou que parente escreveu um bilhete para a filha pedindo que a retirassem dali. "Eu preciso sair daqui, pois tentaram hoje me matar desligando os aparelhos", diz trecho do bilhete. A paciente estava entubada quando teria escutado alguém mandar desligar o aparelho.
O Hospital Evangélico confirmou a troca de 34 enfermeiros e 13 médicos do setor de UTI. Segundo o diretor-clínico Gilberto Pascolat, o objetivo da troca, que atende a um pedido da Secretaria Municipal de Saúde, é evitar pânico entre os familiares de pacientes. "É uma forma de dar mais tranquilidade às famílias", disse.
Por meio de nota, o Conselho Federal de Medicina (CFM) confirmou que há chance de cassar o registro da médica que a autoriza a exercer a profissão. "Se for confirmado o delito, o CRM-PR proporá a abertura de processo contra a médica denunciada, que ficará passível de receber penas como a cassação do exercício profissional", diz a nota.
Defesa — O advogado de defesa de Virgínia, Elias Mattar Assad, divulgou uma carta em que a médica alega inocência. "Da leitura atenta dos autos do inquérito, com meu advogado, não está provada sequer a existência do fato, quanto mais a materialidade de qualquer crime."

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Médicos veem crise global de falsificação de remédios

RAFAEL GARCIA
ENVIADO ESPECIAL A BOSTON
Quando a multinacional Pfizer contratou John Clark, um ex-funcionário de alto escalão da Alfândega dos Estados Unidos, para coordenar sua divisão de segurança e propriedade intelectual em 2008, a empresa colecionava relatos de casos de falsificação de 20 de suas drogas, incluindo o Viagra, a droga mais visada no mundo por esse tipo de crime.
Cinco anos depois, 60 drogas do laboratório estão sendo alvo do mesmo crime. Não existe um levantamento preciso sobre o mercado de medicamentos falsos, mas a opinião de sanitaristas, laboratórios e agências de fiscalização é que há uma crise.
"O problema está crescendo exponencialmente agora", afirma Clark. "A estimativa geral é de que esse mercado movimenta US$ 75 bilhões de dólares por ano."
Clark foi um dos palestrantes num seminário promovido, no último domingo, pela AAAS (Associação Americana para o Avanço da Ciência), que reuniu cientistas e juristas em Boston.
Um relatório do Instituto de Medicina, a divisão de saúde da Academia Nacional de Ciências dos EUA, pede à Organização Mundial da Saúde que lidere a produção de um tratado internacional para combater o problema.

Editoria de Arte/Folhapress
O documento foi preparado na esteira dos casos de falsificação do medicamente oncológico Avastin nos EUA, mas reconhece que as regiões mais afetadas são as mais pobres. Na África já foram achadas fraudes das 20 drogas mais usadas contra pneumonia, diarreia e malária, as três principais causas de mortalidade infantil no continente.
No Sudeste Asiático, onde a malária também é endêmica, 36% das drogas contra a doença são falsas, estima um estudo do sanitarista Paul Newton, da Universidade de Oxford, que coordenou o seminário em Boston.
O Brasil também é bastante afetado: é o décimo país com maior número de detenções ou prisões por falsificações e o quarto no ranking de incidentes mantido pelo Pharmaceutical Security Institute, conselho de combate a danos de propriedade intelectual que reúne as 25 maiores farmacêuticas do mundo.
VENENO
Os medicamentos falsificados afetam a saúde pública não só por serem inócuos, pois muitos deles são deliberadamente nocivos. Alguns contêm de tijolo e gesso a tinta com metais pesados, pesticidas e veneno de rato.
Ao analisar um lote de drogas anti-HIV, o bioquímico Facundo Fernandez, do Instituto de Tecnologia da Georgia, descobriu que a pílula tinha um antibiótico que nada tem a ver com prevenção da Aids. Por que usar um ingrediente ativo alterado, se é mais barato não usar nada?
"Se você toma um remédio e ele não tem gosto de remédio nem efeitos colaterais, você começa a desconfiar muito rápido."
O bioquímico desenvolve métodos para analisar drogas, um dos principais gargalos para a fiscalização. Os equipamentos que revelam rapidamente a composição de uma droga são grandes máquinas de laboratório, e investigações de campo têm de usar aparelhos menores.
O principal problema para detectar drogas falsas hoje é a alta qualidade das cópias das embalagens.
"Os inspetores de remédio na maior parte do mundo não carregam nenhuma ferramenta a não ser seus próprios olhos", diz Newton, de Oxford.

Novo remédio para gripe é eficaz contra tipos resistentes do vírus

Ainda em fase de testes animais, o medicamento conseguiu impedir que um tipo letal do vírus se espalhasse pelas células de camundongos

Vírus da gripe
Representação do medicamento (em amarelo) ligado ao vírus da gripe (azul) (CSIRO/Magipics)
Um novo remédio para a gripe promete ser eficaz contra diferentes variações do vírus influenza, inclusive aqueles tipos que são resistentes a medicamentos. Desenvolvido por pesquisadores da Universidade da Colúmbia Britânica e outras instituições no Canadá, na Austrália e no Reino Unido, o medicamento foi descrito em um artigo publicado no periódico Science Express. A droga foi eficaz contra uma variação letal do influenza em camundongos e conseguiu impedir a morte de todos os animais infectados. Segundo a pesquisa, o medicamento agiu no organismo evitando que o vírus se espalhasse pelas células do organismo, retendo assim a infecção.

Conheça a pesquisa

TÍTULO ORIGINAL: Mechanism-Based Covalent Neuraminidase Inhibitors with Broad Spectrum Influenza Antiviral Activity
ONDE FOI DIVULGADA: periódico Science Express
QUEM FEZ: Jin-Hyo Kim, Ricardo Resende, Tom Wennekes, Hong-Ming Chen, Nicole Bance, Sabrina Buchini, Andrew G. Watts, Pat Pilling, Victor A. Streltsov, Martin Petric e Stephen G. Withers
INSTITUIÇÃO: Universidade da Colúmbia Britânica, Canadá
RESULTADO: Testado em camundongos com uma variação letal do vírus, o medicamento evitou a morte de todos os animais.
O vírus da gripe possui em sua superfície uma proteína específica que se conecta ao ácido siálico, presente nas células humanas. Assim, ele consegue penetrar na célula e replicar seu material genético. Uma vez que a célula está infectada, o vírus quebra sua ligação (através de uma enzima denominada neuraminidase) e parte para repetir o mesmo processo, infectando outras células. O medicamento estudado possui uma substância (de um grupo denominado DFSA) que se conecta ao ácido da célula humana e impede que o vírus rompa a ligação com a primeira célula. Dessa forma, o vírus fica "preso" à célula que infectou, sem poder atingir novas células.
Avanço — De acordo com Steve Withers, integrante do grupo de pesquisadores, outros medicamentos já existentes têm como alvo a mesma enzima, mas esse novo remédio é mais estável. Além disso, o remédio se mostrou eficaz contra tipos do vírus que são, normalmente, resistentes a alguns medicamentos. Withers explica que isso acontece porque a substância presente nessa nova droga é muito mais semelhante ao ácido siálico do que as anteriores. Assim, o vírus não consegue diferenciar o que é a célula humana e o que é o medicamento, e acaba ficando preso a ele.
De acordo com o pesquisador, o remédio tem duas vantagens em relação à vacina: ele é mais rápido de se produzir e funciona contra diversos tipos de vírus. O próximo passo será um teste com furões. Para Withers, será preciso colher mais dados antes de tentar partir para testes em humanos.
Gripe — Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a gripe afeta de três a cinco milhões de pessoas em todo o mundo anualmente, causando de 250.000 a 500.000 mortes. Em anos de pandemia, esse número pode aumentar para milhões. “Um dos principais desafios do tratamento da gripe, atualmente, é que novas variações do vírus estão se tornando resistentes a medicamentos, nos deixado vulneráveis a uma pandemia”, diz Withers.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Quem come abacate se alimenta melhor, diz estudo

Pessoas que consomem a fruta todos os dias parecem ingerir também maiores quantidades de nutrientes, como fibras e vitaminas, e apresentam melhores indicadores de saúde em comparação com quem nunca come abacate

Abacate
Abacate: consumo diário da fruta está relacionado a uma saúde melhor, mostra estudo (Thinkstock)
Pessoas que têm o costume de consumir abacate todos os dias tendem a alimentar-se, de maneira geral, melhor do que aquelas que nunca comem a fruta. Isso porque, de acordo com um estudo da Nutrition Impact, uma consultoria americana especializada em alimentação e nutrição, o hábito eleva a probabilidade de um indivíduo ingerir mais nutrientes, como fibras e vitaminas. Com isso, aumenta a chance de essa pessoa ter peso, índice de massa corporal (IMC) e circunferência abdominal menores. A pesquisa foi publicada neste mês no periódico Nutrition Journal.

Conheça a pesquisa

TÍTULO ORIGINAL: Avocado consumption is associated with better diet quality and nutrient intake, and lower metabolic syndrome risk in US adults: results from the National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES) 2001–2008
ONDE FOI DIVULGADA: periódico Nutrition Journal
QUEM FEZ: Victor L Fulgoni, Mark Dreher e Adrienne Davenport
INSTITUIÇÃO: Nutrition Impact
RESULTADO: Pessoas que comem abacate todos os dias, em comparação com quem não consome a fruta, ingerem 48% mais vitamina K, 36% mais fibras, 23% mais vitamina E, 16% mais potássio e 13% mais magnésio em um dia. Elas também pesam, em média, 3,5 quilos a menos e têm a circunferência abdominal, em média, quatro centímetros menor. Esses indivíduos podem ter um risco até 50% menor de síndrome metabólica.
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores se basearam nos dados de 17.567 pessoas com mais de 19 anos que participaram do Levantamento e Exame de Saúde e Nutrição Nacional (NHANES, na sigla em inglês) dos Estados Unidos. A equipe olhou para a diferença dos hábitos alimentares entre pessoas que consumiam e aquelas que nunca comiam abacate.
Dos participantes da pesquisa, 347 consumiam abacate, em qualquer quantidade, ao menos uma vez por dia. A média do consumo diário dessas pessoas era de meio abacate de tamanho médio (cerca de 5,5 gramas). Esses indivíduos, em comparação com aqueles que nunca comiam a fruta, consumiam, em média, a mesma quantidade de calorias totais em um dia. No entanto, eles ingeriam mais nutrientes essenciais para uma boa saúde – 48% mais vitamina K, 36% mais fibras, 23% mais vitamina E, 16% mais potássio e 13% mais magnésio em um dia.
O estudo também observou que os indivíduos que comiam abacate todos os dias, em média, pesavam 3,5 quilos a menos e tinham uma circunferência abdominal quatro centímetros menor do que a das pessoas que não consumiam a fruta. Eles também apresentavam níveis maiores de HDL, o colesterol "bom", no sangue.
Síndrome metabólica — A partir desses benefícios associados ao hábito de comer abacate diariamente, os pesquisadores concluíram que o consumo da fruta pode reduzir o risco de síndrome metabólica em até 50%. Essa síndrome acontece quando uma pessoa apresenta três ou mais das seguintes características: hipertensão, açúcar elevado no sangue, excesso de gordura abdominal, baixo nível de bom colesterol e índices elevados de ácidos graxos. A condição predispõe às doenças cardiovasculares, ao diabetes e, quando as doenças ocorrem associadamente, à morte prematura.
"Esses resultados sugerem uma associação interessante entre o consumo de abacate e uma melhor nutrição e boa saúde", diz Victor Fulgoni, coordenador do estudo. Segundo o pesquisador, novos estudos sobre a fruta e sua contribuição à saúde cardiovascular já estão em andamento e devem aprofundar os conhecimentos em relação ao alimento.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Faca é retirada do peito de pedreiro de Araxá, MG, após três meses

Objeto foi esquecido no corpo de Claudinei durante cirurgia.
Mesmo com a retirada, caso será investigado pela Secretaria de Saúde.

Do G1 Triângulo Mineiro
Cirurgia foi considerada tranquila pela equipe
médica (Foto: reprodução/TV Integração)
Cirurgia foi considerada tranquila pela equipe médica (Foto: reprodução/TV Integração) Foi operado na noite desta terça-feira (19), na Santa Casa de Araxá, no Alto Paranaíba, o pedreiro Claudinei Geraldo da Silva, que estava com uma faca alojada no tórax desde de novembro de 2012. De acordo com a equipe médica, a cirurgia para a retirada da lâmina foi um sucesso. A lâmina foi descoberta na última quinta-feira (13), mas o paciente precisou esperar seis dias para ser operado.

Agora Claudinei está se recuperando em casa depois de quase três meses sentindo dores no peito. "Estava vivendo na base de remédios, pois doía demais. Não podia movimentar o braço", contou. De acordo com o médico Avenor Lemos, que fez a cirurgia para a retirada do objeto, o procedimento foi simples e a lâmina não atingiu nenhum músculo na região do ferimento. "É um ferimento simples. É claro que no lugar onde abrimos para chegar até a lâmina foi feito um ferimento um pouco maior e vai doer um pouco mais, pois incomoda por mexer no músculo. Mas isso não vai impedí-lo de fazer as coisas daqui para frente", explicou o médico.
Passado o susto, o pedreiro só pensa em voltar ao trabalho. "Quero ver se me recupero rapidamente e voltar ao trabalho para pagar minhas contas", afirmou. E mesmo com a cirurgia realizada, o secretário de Saúde de Araxá, Luis Fernando Alves de Castro, informou que analisará os prontuários do paciente e que o caso será investigado.
Entenda o caso
Ferido em novembro do ano passado, ao ser vítima de uma tentativa de assalto, o pedreiro procurou o Pronto Atendimento do município para assistência, mas o médico que estava de plantão fechou o ferimento sem perceber que o objeto utilizado no crime ainda estava no corpo dele.

Quando percebeu que havia algo estranho, Claudinei Geraldo da Silva resolveu procurar ajuda, contudo, disse que enfrentava dificuldades para fazer uma cirurgia. Claudinei contou, ainda, que no dia em que foi encaminhado pelos policiais ao Pronto Socorro, o atendimento não durou mais do que 40 minutos e que quando foi embora começou a sentir um objeto na região do peito.
Lâmina mede aproximadamente 11 centímetros (Foto: reprodução/TV Integração)Lâmina mede aproximadamente 11 centímetros
(Foto: reprodução/TV Integração)
Com o exame de raio-x em mãos, ele viu que havia uma faca alojada na região do tórax e que a lâmina de aproximadamente 11 centímetros chegava a passar entre os ossos da costela.
A preocupação do pedreiro aumentou depois que ele passou a perceber que a faca estava se deslocando. “Quando o mexo com o braço esquerdo, chega a dar uma ferroada. Parece que está entrando cada vez mais”, contou, alegando sentir muita dor.
A Secretaria Municipal de Saúde emitiu um relatório no dia 24 de novembro do ano passado dizendo que o paciente esteve no posto médico e que foi feita apenas a limpeza do local, além de um curativo. Já o médico que fez o atendimento não quis falar sobre o assunto.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Novo vírus similar ao da SARS está adaptado para infectar humanos

Um dos primeiros estudos a analisar esse coronavírus, que foi identificado pela primeira vez em 2012, sugere, porém, que infecção pode ser combatida com drogas que reforçam o sistema imunológico

Imagem mostra o vírus NcoV, coronavírus descoberto em 2012
Imagem mostra o vírus NcoV, coronavírus descoberto em 2012 (Britain's Health Protection Agency)
O vírus NcoV, que foi identificado pela primeira vez em setembro de 2012 no Oriente Médio e que já causou seis mortes, está bem adaptado para infectar os humanos, mas possivelmente poderá ser tratado com medicações que reforçam o sistema imunológico. Esses dados fazem parte de um estudo sobre o vírus publicado nesta terça-feira no mBio, periódico da Sociedade Americana de Microbiologia.
O NcoV é um coronavírus, uma grande família de vírus que inclui tanto a gripe comum como a  SARS (sigla em inglês para Síndrome Respiratória Aguda Grave), doença que apareceu em 2002 na China e matou 800 pessoas no mundo no mesmo ano. Os sintomas do NcoV incluem doença respiratória severa, febre, tosse e dificuldades respiratórias. Até agora, há 12 casos confirmados infecção por esse novo vírus – quatro foram na Grã-Bretanha, um na Alemanha, dois na Jordânia e cinco na Arábia Saudita.
Em um dos primeiros estudos publicados sobre o NcoV, pesquisadores do Instituto de Imunobiologia do Hospital Cantonal, da Suíça, disseram que ele consegue, com a mesma facilidade do resfriado comum, entrar no revestimento pulmonar e escapar ao ataque do sistema imunológico. O vírus, então, "cresce muito eficientemente" nas células humanas, o que sugere que o NcoV está bem equipado para contaminar humanos.
Vírus desconhecido — De acordo com os pesquisadores, porém, é desconhecida a real prevalência do vírus — é possível que, além dos 12 casos graves que foram diagnosticados, haja pessoas com sintomas mais brandos. "Não sabemos se os casos (até agora) são a ponta do iceberg, ou se há muito mais gente infectada sem mostrar sintomas severos. Não temos casos suficientes para formarmos um quadro completo da variedade dos sintomas", disse Volker Thiel, coordenador do estudo.
Ainda segundo Thiel, embora o vírus possa ter saltado de animais para humanos muito recentemente, sua pesquisa mostrou que o NcoV está tão bem adaptado quanto os vírus de resfriados e da SARS para infectar o trato respiratório humano. O estudo indicou também que o NcoV está suscetível a tratamento com interferons, remédios que reforçam o sistema imunológico e que também são usados com sucesso para o tratamento de outras doenças virais, como a hepatite C.
(Com agência Reuters)

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Governo acelera inclusão de drogas no SUS

JOHANNA NUBLAT
DE BRASÍLIA
No último ano, o governo federal acelerou o ritmo das análises feitas para incorporar à rede pública novos remédios e procedimentos.
É o que indica um balanço feito pelo Ministério da Saúde a pedido da Folha sobre o primeiro ano de funcionamento da Conitec, comissão do ministério que avalia os pedidos de incorporação feitos pelo próprio governo, por empresas e entidades.
Em 2012, a comissão analisou 135 pedidos e aprovou 29 tecnologias --entre elas a vacina contra hepatite A.
Outros 61 pedidos de inclusão foram negados e 45 ainda estão em avaliação.

Ed. de arte/Folhapress
Estrutura que antecedeu a Conitec, a Citec avaliou 174 pedidos e incorporou 81 itens entre 2006 e 2011. O levantamento abarca as tecnologias mais relevantes, já que nem toda incorporação tinha que passar pela antiga Citec.
Ou seja, o estudo aponta para um aumento de quase quatro vezes no número de análises feitas em 2012 --conclusão reforçada por estudos feitos pela indústria de medicamentos no país aos quais a reportagem teve acesso.
Para o ministro Alexandre Padilha (Saúde), esse crescimento demonstra que foi correta a ideia de organizar os fluxos e criar prazos para a avaliação. "E não se confirmou a preocupação de alguns usuários de que a Conitec ia retardar a incorporação."
NA PRÁTICA
Apesar de especialistas e pacientes comemorarem o ritmo mais intenso de avaliações e as novas regras que instituem um tempo máximo para que um pedido seja julgado, há ressalvas à atuação da nova comissão.
A principal crítica é que a comissão rejeita a incorporação de drogas usadas com bons resultados sob a alegação de que não há comprovação científica de eficácia.
Foi o que ocorreu com o trastuzumabe, aceito pela comissão para pacientes com câncer de mama inicial e localmente avançado, mas negado para os casos metastáticos da doença.
O medicamento começou a ser distribuído nesta semana pelo ministério.
Já o pedido de inclusão do remédio everolimo, demandado à Conitec para combater um tumor benigno cerebral que se desenvolve em pacientes com esclerose tuberosa, foi negado. A doença pode causar problemas cognitivos e convulsões.
André Freitas /AgNews
A atriz Bel Kutner e seu filho, Davi, no Rio de Janeiro
A atriz Bel Kutner e seu filho, Davi, no Rio de Janeiro
Sem o everolimo na rede pública, a atriz Bel Kutner brigou por seis meses na Justiça contra o governo até conseguir o medicamento para o filho Davi, de 7 anos.
Há seis meses tomando o remédio, Davi conseguiu uma redução importante no tamanho do tumor, diz Kutner.
"As convulsões estão controladas, ele está se expressando, se desenvolvendo", comemora a atriz, de 42 anos.
O ministro Padilha diz que a comissão se pauta por evidências clínicas e científicas.
"Temos uma série de tecnologias que não têm evidências consolidadas em trabalhos científicos ou experiências de países que adotaram para o sistema público e que, por isso, têm uma decisão inicial pela não incorporação."
O que não impede, continua o ministro, uma reavaliação frente a novos estudos.
TRANSPARÊNCIA
Para pacientes e médicos, falta transparência às decisões da Conitec, comissão que avalia a incorporação de novas tecnologias à rede pública.
"Gostaria de uma explicação para o que chamam de 'documentação inadequada'. É dado científico insuficiente, é papel mal preenchido?", questionou Rafael Kaliks, diretor científico do Instituto Oncoguia, entidade que apoia pacientes com câncer.
Kaliks afirma que não basta avaliar o funcionamento da comissão em termos quantitativos e que é preciso verificar o que aguarda uma posição ou o que foi rejeitado.
O instituto tem feito críticas à negativa dada ao uso do remédio trastuzumabe para o câncer de mama metastático.
Cláudia Maia, da Sociedade Brasileira de Dermatologia, diz que as decisões da comissão deveriam ser mais discutidas com os especialistas --para além das consultas públicas antes das decisões da Conitec.
Um exemplo são as drogas biológicas pedidas para uso de doentes com psoríase grave --a aprovação foi negada.
"Eles [a comissão] se reuniram sem representantes das especialidades e não levaram em consideração os argumentos da consulta pública."
O ministro Alexandre Padilha nega que haja excesso de burocracia. "A maior demonstração disso é termos analisado quatro vezes mais e incorporado duas vezes mais."

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Concentração de médicos no Sudeste é o dobro do Norte, diz CFM

No Norte há 1,01 médico para mil habitantes; no Sudeste, são 2,7 médicos.
Para conselho, interiorização dos cursos de medicina não resolve problema.

Felipe Néri Do G1, em Brasília
Integrantes do CFM responsáveis pela pesquisa
apresentaram resultados da 'Demografia Médica' nesta
segunda (18), em Brasília (Foto: Amanda Lima/G1)
Integrantes do CFM e responsáveis pela pesquisa apresentaram os resultados da "Demografia Médica" na manhã desta segunda (18), em Brasília (Foto: Amanda Lima/G1) Uma pesquisa divulgada nesta segunda-feira (18) pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) aponta que o número de médicos para cada grupo de mil habitantes na Região Sudeste é mais que o dobro do Norte. Segundo o estudo Demografia Médica, os estados do Sudeste têm 2,7 médicos por mil habitantes, enquanto no Norte o número de profissionais baixa para 1,01.
A média nacional é de 2 médicos para cada grupo de mil habitantes, de acordo com o levantamento. "Quem mora nas regiões Sul e Sudeste tem duas vezes mais médicos do que quem vive no Norte e no Nordeste", disse o coordenador da pesquisa, Mário Scheffe
No Nordeste, o número de médicos por mil habitantes é de 1,23, também abaixo da média nacional. O índice é maior nas demais regiões, chegando a 2,05 no Centro-Oeste e 2,09 no Sul.
Segundo o levantamento, em outubro do ano passado havia 388.015 médicos em atividade no país. O aumento do efetivo  de profissionais tem se mantido entre 4% e 5% por ano, segundo o presidente do CFM, Roberto D'Avilla. Apesar do crescimento, ele afirma que é preciso reduzir essa diferença de concentração entre as regiões.
"O número de médicos e faculdades de medicina é suficiente. O que precisamos é levar jovens estudantes para regiões que têm mais necessidade", disse D'Avilla.
A pesquisa também aponta que 215,6 mil, ou 55% dos médicos que atuam no Brasil, estão no sistema publico de saúde.
"Defendemos uma carreira de estado para médicos do SUS (Sistema Único de Saúde), com dedicação exclusiva para o serviço público, salário digno e aperfeiçoamento contínuo", afirmou D'Avilla. O presidente do CFM disse ainda que acredita que, até 2020, o país deverá alcançar a média de 2,5 médicos por mil habitantes, comparável aos países desenvolvidos.
Concentração nas grandes cidades
O estudo aponta também que as maiores cidades continuam atraindo boa parte dos profissionais, mesmo aqueles que estudaram em outras regiões.
"Os grandes centros oferecem muito mais atração para os médicos. As escolas não vão mantê-los na localidade. [...] E não vai se resolver esse fluxo nos grandes centros com a interiorização dos cursos de medicina", disse Scheffer.
Segundo o levantamento, em um grupo de 107 mil médicos que se graduaram – ao longo de 30 anos – em um lugar diferente de onde nasceram, apenas 25% permaneceram na cidade onde estudaram. Na opinião do presidente do CFM, uma das medidas que devem ser tomadas pelo governo é a garantia de residência nas cidades com mais carência de profissionais.
De acordo com D'Avilla, atualmente a oferta de vagas para residentes atende à metade dos estudantes concluintes. "Só a faculdade no interior não resolve o problema", declarou D'Ávilla.
Os estados com maior numero de médicos para cada mil habitantes são o Distrito Federal (4,09), Rio de Janeiro (3,62) e São Paulo (2,64). Já as capitais com maior concentração são Vitória (11,6), Porto Alegre (8,7) e Florianópolis (7,7).
Novas normas para cursos de medicina
No início de fevereiro, o Ministério da Educação divulgou que o próprio governo definirá os municípios que devem ter cursos de medicina. Segundo a pasta, a partir deste ano novas graduações serão abertas somente com a publicação de editais de chamamento público para determinadas cidades.
Segundo o MEC, no Brasil funcionam hoje 197 cursos de medicina, dos quais 78 estão em instituições públicas. Outros 70 aguardam decisão do MEC – 51 para autorização de abertura de curso e 19 para aumento de vagas. A liberação deles representaria mais de 6 mil novas vagas.
Ao divulgar o novo modelo, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, informou que as instituições que abrirem cursos nas regiões selecionadas terão acesso a crédito do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A medida faz parte do pacote de avanços na política de regulação dos cursos de medicina.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Cientistas israelenses criam capacete contra fumo e depressão

GUILA FLINT
DE TEL AVIV PARA A BBC BRASIL
Dois cientistas israelenses desenvolveram um capacete que emite ondas magnéticas para o cérebro e que, segundo pesquisas, tem efeitos significativos no combate a transtornos como a depressão e o vício do fumo.
O capacete, desenvolvido pelo neurocientista Abraham Zangen e pelo físico Yiftach Roth, emite ondas magnéticas em alta frequência para regiões mais profundas no cérebro, que até hoje podiam ser acessadas só com intervenções cirúrgicas ou choques elétricos.
Por intermédio dos estímulos, eles obtiveram resultados positivos tanto em casos de pacientes que sofrem de depressão profunda como em pessoas que já tinham tentado parar de fumar por outros meios e não conseguiram.
Entretanto, de acordo com Roth, o sistema, denominado Estimulação Transcraniana Magnética Profunda (Deep TMS em inglês) pode ser eficaz no tratamento de um leque "muito amplo" de problemas, como o mal de Parkinson, distúrbio bipolar, mal de Alzheimer, autismo, distúrbio obsessivo-compulsivo, dependência de drogas e alcoolismo.

Cortesia Brainsway
Cientistas israelenses criam capacete contra fumo e depressão
Cientistas israelenses criam capacete contra fumo e depressão
DIFERENTES
Mais de 3 mil pessoas, em Israel e no exterior, já participaram de experiências com o capacete, e recentemente a FDA --agência reguladora de medicamentos dos EUA-- outorgou um certificado para utilização do sistema no combate à depressão.
A ideia de desenvolver o sistema surgiu em 2000. Abraham Zanger, chefe do laboratório de Neurociência da Universidade Ben Gurion, explicou à BBC Brasil que, para cada problema, é criado um capacete diferente, "adaptado para transmitir as ondas magnéticas às áreas relevantes do cérebro".
"No começo do tratamento houve alguns pacientes que se queixaram de leves dores de cabeça, mas com o tempo as dores passaram", disse.
O psiquiatra Hilik Lewkovitz, do hospital psiquiátrico Shalvata, no qual o sistema já está sendo usado, disse que "o número de pacientes que reagiram de maneira positiva a esse tratamento é significativo".
Ele chamou a tecnologia de "revolucionária", pois "não é invasiva e tem poucos efeitos colaterais e que apresenta resultados positivos no tratamento de vários distúrbios psiquiátricos".
REMISSÃO
Uma pesquisa feita no hospital Beer Yakov concluiu que 32,6% tratados com as ondas magnéticas apresentaram uma remissão completa da depressão e outros 38,4% demonstraram melhora substancial.
De acordo com a bióloga Limor Klein Dinur, que dirigiu uma pesquisa com 115 participantes sobre os efeitos do sistema em fumantes, 44% delas pararam de fumar após o tratamento.
"Não houve danos às capacidades cognitivas dos participantes, e em alguns casos até observamos uma melhora cognitiva", disse a cientista à BBC Brasil.
De acordo com ela, 80% dos participantes que não pararam de fumar diminuíram o número de cigarros fumados em mais de 50%.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Uma arquitetura que salva crianças

Novos hospitais pediátricos investem em inovações de design que ajudam no tratamento, como prova a ciência médica

Monique Oliveira
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INTERAÇÃO
No jardim do Chicago Children's Hospital a luz
muda de cor quando alguém se aproxima
Um novo hospital inaugurado recentemente em Orlando, na Flórida, nos Estados Unidos, está sendo apontado como a mais nova referência mundial de design para hospitais pediátricos. O Nemour Children’s Hospital dispõe, por exemplo, de amplos jardins dotados de um sistema que permite a troca de cores de iluminação e de sons na medida em que o paciente se aproxima, áreas verdes no teto, tevês com internet que as crianças podem acessar e espaços especiais para as famílias, com home theaters e sofás mais confortáveis. Os quartos também são espaçosos e pintados com cores que tornam o lugar mais aconchegante. A área de serviços conta com uma concierge, uma figura importada da indústria hoteleira, sempre disposta a atender mesmo aos pedidos mais sofisticados. “O intuito é criar um ambiente de hospitalidade e familiaridade”, disse à ISTOÉ o arquiteto Mike Cluff, diretor do projeto.
A instituição é o exemplo mais bem-acabado de uma tendência que se consolida e cujo objetivo é tornar a internação de crianças um período o menos doloroso possível. Além do Nemour, um dos grandes destaques nessa área é o Chicago Children’s Hospital, em Chicago (Eua). Lá, um andar inteiro foi reservado para ser um jardim. O projeto inclui dúzias de bambus também equipados com um sistema moderno de iluminação, que possibilita a mudança de cor à medida que as pessoas passam por eles. Outra proposta são bancos de madeira com aparelhos que emitem sons de animais, assim como as árvores com equipamentos que simulam sons de pássaros e folhas balançando ao vento. Esse tipo de inovação foi desenvolvido obedecendo cuidados com a segurança. “O desafio foi fazer com que o ambiente fosse interativo, mas que dispensasse o toque, minimizando a proliferação de germes”, disse à ISTOÉ a arquiteta Mickoung Kim, responsável pelo projeto.
Espaços como esses têm como fundamentação os resultados de estudos de uma área da ciência médica denominada design-evidência, dedicada a avaliar o impacto do ambiente para a saúde. Há sólidas provas de que ele tem influência nisso. Uma das primeiras pesquisas foi feita na Universidade de Delaware (Eua). Os cientistas analisaram a recuperação de pacientes submetidos a uma cirurgia e concluíram que aqueles colocados próximos a janelas ou de quadros com paisagens tiveram alta um dia antes do que os que ficaram em outros lugares.
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CONFORTO
Na Flórida, projeto selecionou cores para tornar
ambientes aconchegantes e há lugares para as famílias
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Outro trabalho, da Universidade de Pittsburgh (Eua) provou que pacientes mais expostos a luz do sol tinham menos estresse e dor (tomaram 22% menos analgésicos). Uma revisão de mais de 600 pesquisas na área feita pelo Center for Health Design, entidade referência internacional nesse campo, não deixou dúvidas sobre o papel da arquitetura na recuperação dos doentes. “Ela reduz o estresse dos profissionais, melhorando seu desempenho, aumenta a segurança para o paciente, diminui o estresse do doente e de sua família e melhora a recuperação do indivíduo internado”, escreveram os autores.
Há benefícios também para a adesão ao tratamento. Nesses novos hospitais infantis, por exemplo, a tendência é colocar no mesmo andar consultórios e laboratórios de exames de uma especialidade. Além disso, os quartos dispõem de acomodações para mães e pais. “Isso comprovadamente faz com que haja um maior engajamento na terapia”, explica Jennifer Cartland, do Children’s Hospital.
A adoção de intervenções desse gênero não parece necessariamente encarecer o custo das construções. Uma série de artigos publicados no “Hastings Center Report”, instituição americana sem fins lucrativos que estuda o setor, mostrou que os incrementos não oneram tanto o orçamento dos hospitais. “As melhorias que fizemos baseadas em design-evidência corresponderam a apenas 2,5% de um projeto que custou US$ 150 milhões”, escreveu a arquiteta Cheryl Herbert, responsável pelo projeto do Dublin Methodist Hospital (Eua).
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O Brasil começa a entrar nessa tendência. “É crescente a preocupação em ampliar ambientes e adequá-los às necessidades dos pacientes”, diz Lauro Miquelin, diretor da empresa L+M Gets, especializada em projetos arquitetônicos para hospitais. A reforma do Hospital Menino Jesus, por exemplo, administrado pelo Hospital Sírio-Libanês, priorizou as demandas infantis e de seus familiares. Além de ampliar espaços, introduziu a identificação dos andares por animais e cores.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Câncer de pulmão superará câncer de mama em número de mortes na Europa

Um estudo realizado em toda a União Europeia mostrou que, por volta de 2015, mais mulheres devem morrer de câncer de pulmão do que de mama

Mulher fumando
O aumento das taxas de câncer de pulmão pode ser considerado reflexo da grande quantidade de mulheres que começaram a fumar nos anos 60 e 70, em decorrência de mudanças socioculturais da época (Thinkstock)
O câncer de pulmão superará o de mama como principal causa de morte pela doença entre mulheres europeias nos próximos anos, afirma estudo publicado nesta quarta-feira no periódico Annals of Oncology. Os pesquisadores analisaram dados de todos os tipos de câncer nos 27 países da União Europeia e descobriram que essa previsão já se concretizou na Grã-Bretanha e na Polônia.

Conheça a pesquisa

TÍTULO ORIGINAL: European cancer mortality predictions for the year 2013

ONDE FOI DIVULGADA: periódico Annals of Oncology
QUEM FEZ: M. Malvezzi, P. Bertuccio, F. Levi, C. La Vecchia e E. Negri
INSTITUIÇÃO: Universidade de Milão, Itália
RESULTADO: Em 2015, o câncer de pulmão deve superar o câncer de mama em número de mortes entre as mulheres europeias.
Os especialistas estimam que em 2013 por volta de 82.640 mulheres europeias morrerão devido a um câncer de pulmão enquanto 88.886 falecerão por câncer de mama. As mortes por câncer de pulmão aumentaram 7% entre as europeias desde 2009. O estudo prevê que, uma vez que essa tendência se mantenha, o câncer de pulmão vai ultrapassar o de mama em número de mortes em 2015.
Causas – Para Carlos de La Vecchia, professor da Universidade de Milão e um dos autores do estudo, o aumento das taxas de câncer de pulmão pode ser considerado reflexo da grande quantidade de mulheres que começaram a fumar nos anos 60 e 70, em decorrência de mudanças socioculturais da época. Como atualmente a quantidade de mulheres fumantes vem diminuindo na Europa, o pesquisador acredita que os níveis de morte por câncer de pulmão devem diminuir por volta de 2020 ou 2025.
Já as mortes por câncer de mama tiveram um declínio de 7% desde 2009 na União Europeia, o que, segundo La Vecchia, se deve ao aumento do diagnóstico precoce e avanços no tratamento da doença. De acordo com a publicação, há cada vez mais pessoas que desenvolvem câncer, mas são cada vez menos as que morrem por este mal.
(Com EFE)

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Queda é responsável por 70% das mortes acidentais de idosos

Médico especialista dá dicas de como prevenir esse tipo de acidente, que ocorre, na maioria das vezes, dentro de casa

  Patricia Pereira
Falta de equilíbrio, enfraquecimento dos músculos, perda da visão e audição e viver em ambiente inapropriado são fatores que contribuem para a queda de idosos, que é hoje a responsável por 70% das mortes acidentais de pessoas acima de 75 anos, segundo levantamento do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde. A queda é também a sexta causa de óbito entre a população com 65 anos ou mais.
De acordo com relatório do Instituto Médico Legal (IML) de Curitiba, houve 65 mortes causadas por queda de pessoas com mais de 65 anos em 2012 na capital e região metropolitana, o que gera uma média de cinco casos por mês. Os dados se referem ao período entre 1º de janeiro e 26 de dezembro e apontam somente a causa preliminar da morte, que pode ter sido confirmada ou não após avaliação médica.
Veja algumas atitudes que podem ajudar a prevenir quedas:
- Ingerir suplementos de Vitamina D e Cálcio;
- Praticar atividade física;
- Ter uma nutrição balanceada;
- Colocar tapetes com ventosas nos ambientes;
- Usar assento para banho e chuveiro ajustável;
- Elevar vaso sanitário e colocar alças de apoio;
- Usar esfregão com cabo longo para a limpeza;
- Prefira se vestir sentado para manter o equilíbrio;
- Coloque lâmpadas fotossensíveis nas passagens e em pontos estratégicos do quarto e nos corredores;
- Mantenha os pisos do banheiro, cozinha, lavanderia e entradas bem secos;
- Coloque fitas adesivas próprias sob os tapetes, passadeiras e capachos;
- Prefira carpetes com fios baixos são mais seguros;
- Considere a instalação de sensor de presença que acende a lâmpada quando uma pessoa se aproxima;
- Sempre use sapatos que tenham solado antiderrapante;
- Se usar bengala, coloque ponteira de borracha para evitar que escorregue.
O médico geriatra e membro da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, Rubens de Fraga Junior, também alerta que 5% das quedas resultam em fraturas, e que aproximadamente dois terços dos idosos que caíram uma vez, estatisticamente, poderão cair novamente nos próximos seis meses.
A aposentada Anna Rossetto, 77 anos, conta que já caiu duas vezes, ambas na Avenida República Argentina, no bairro Portão, em Curitiba. “Tinha um desnível na rua e eu caí, cheguei a quebrar o braço e precisei fazer cirurgia”, relatou. No outro acidente, ela estava com o marido e os dois caíram juntos. “Estávamos indo à missa, não sei bem como aconteceu, me desequilibrei e caímos os dois”, contou. O casal machucou os braços e joelhos. “Depois disso eu fiquei com medo de ir à missa”, lamentou. Na casa de Anna, há apoios no box do banheiro e somente tapetes antiderrapantes.

Atenção ao ambiente inapropriado
Segundo Fraga Junior, as quedas ocorrem, na maioria das vezes, em razão do ambiente inapropriado (54% dos casos, segundo o Ministério da Saúde), como piso escorregadio, objetos deixados no chão, degraus e cama com altura elevada, por exemplo. Em 66% das vezes, os idosos caem dentro da própria casa, em 22% na rua e o restante na casa de parentes e amigos.
Conforme o geriatra, é importante fazer algumas adaptações em casa, para evitar esses acidentes. “São adaptações simples, como usar tapetes com ventosas, colocar assento para banho e alças de apoio no chuveiro e elevar o vaso sanitário”, disse o médico. Ele também sugere que os idosos se vistam sentados, pois assim conseguem ficar equilibriados.
Além do ambiente, fatores que envolvem a saúde do idoso também contribuem para as quedas. Doenças neurológicas são responsáveis por 14% das quedas, segundo o Ministério da Saúde. “Idosos com demências, principalmente a doença de Alzheimer, estão propensos a quedas”, afirmou o especialista. Nesses casos, é recomendado que o idoso tenha acompanhamento constante de um parente ou profissional de saúde. Atividade física e a ingestão de suplementos de vitamina D e cálcio para fortalecer os ossos também ajudam a diminuir as quedas, segundo o médico.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Análise científica sugere restrição ao diclofenaco

De acordo com os autores, a droga, que é um anti-inflamatório não esteroide amplamente utilizado ao redor do mundo, apresenta mais riscos à saúde cardiovascular do que outros remédios do tipo

Depois do infarto: tratamento com analgésicos da classe dos antiinflamatórios não-esteróides podem elevar os riscos cardíacos
Diclofenaco, um analgésico da classe dos antiinflamatórios não-esteróides, eleva risco cardíaco mais do que outras drogas do tipo, diz análise (Thinkstock)
Uma análise publicada nesta quarta-feira no periódico PLoS Medicine sugere que o diclofenaco, um anti-inflamatório não esteroide, deixe de fazer parte das listas nacionais de medicamentos essenciais devido ao seu alto risco cardiovascular. Os autores do trabalho também afirmam que seria importante que as autorizações para o marketing do remédio ao redor do mundo fossem revogadas. “O diclofenaco não oferece maiores vantagens em termos de segurança gastrointestinal. Dada a disponibilidade de alternativas mais seguras, o remédio deveria ser removido da lista de drogas essenciais dos países”, escreveram os pesquisadores.

Conheça a pesquisa

TÍTULO ORIGINAL: Use of Non-Steroidal Anti-Inflammatory Drugs That Elevate Cardiovascular Risk: An Examination of Sales and Essential Medicines Lists in Low-, Middle-, and High-Income Countries
ONDE FOI DIVULGADA: periódico PLoS Medicine
QUEM FEZ: Patricia McGettigan e David Henry
INSTITUIÇÃO: Instituto de Pesquisa William Harvey,  Londres, e Instituto para Ciências de Avaliação Clínica, Canadá.
RESULTADO: O diclofenaco não apresenta maior segurança gastrointestinal do que outros anti-inflamatórios não esteroides. No entanto, promove um risco cardiovascular maior do que os outros, e semelhante ao apresentado pelo Vioxx, remédio que saiu de circulação devido ao seu risco ao coração. O diclofenaco é amplamente utilizado ao redor do mundo e chega a ser o anti-inflamatório não esteroide mais usado em alguns países. Por esse motivo, a análise sugere que o medicamento deixe de fazer parte das listas nacionais de drogas essenciais.
Os anti-inflamatórios não esteroides são uma classe de medicamentos prescritos para controlar a dor, a febre e a inflamação. Também fazem parte dessa classe drogas como o ácido acetilsalicílico, o ibuprofeno e o naproxeno. De acordo os autores do trabalho, já é sabido há algum tempo que alguns anti-inflamatórios não esteroides elevam o risco de uma pessoa sofrer algum evento cardiovascular, como ataque cardíaco ou derrame cerebral. E, da mesma forma, os especialistas também sabem que o diclofenaco parece aumentar essa chance mais do que outros remédios do tipo, como o naproxeno, por exemplo. Mesmo assim, em países como Canadá e Inglaterra, o diclofenaco é prescrito até três vezes mais do que o naproxeno.
Perigo conhecido — Ainda de acordo com o trabalho, o risco cardiovascular do diclofenaco é equivalente ao apresentado pelo Vioxx (rofecoxib), que um dia já foi o anti-inflamatório mais vendido no Brasil e cuja venda foi proibida em 2004 justamente pelo risco que apresentava ao coração. Segundo um estudo feito em 2000 pelo próprio fabricante do Vioxx, o laboratório Merck & Co., o consumo diário de 24 miligramas da droga por mais de 18 meses dobrava as chances de infarto e acidente vascular cerebral (AVC).
A análise publicada nesta terça-feira avaliou os medicamentos utilizados em 15 países de diferentes níveis socioeconômicos e descobriu que o diclofenaco é o anti-inflamatório não esteroide mais utilizado em todos eles. De acordo com a pesquisa, o diclofenaco também faz parte da lista de remédios essenciais de 74 países de baixa, média e alta renda.
A análise foi feita por especialistas do Instituto de Pesquisa William Harvey, em Londres, e do Instituto para Ciências de Avaliação Clínica, no Canadá. Os autores acreditam que esses dados revelam que os riscos associados ao diclofenaco não estão sendo passados para a população de uma forma clara e eficiente.

"Os cuidados tomados com o uso de anti-inflamatórios não esteroides são os mesmos para todos esses remédios"

Carlos Alberto Machado
Cardiologista e diretor de de promoção de saúde cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia

“Todo anti-inflamatório não esteroide apresenta um risco para a saúde cardiovascular, mas cada um o faz com intensidades diferentes. Isso porque esses remédios inibem a dilatação dos vasos e, portanto, podem impedir que a artéria permaneça aberta. Além disso, esses medicamentos danificam os rins, especialmente dos idosos, que compõem a maioria dos pacientes que fazem uso dessa droga.
O diclofenaco é um dos anti-inflamatórios não esteroide mais antigos e, portanto, um dos mais receitados. O fato de ele apresentar um risco maior do que os outros não quer dizer que os cuidados com o uso desses remédios devam ser diferentes. Os cuidados são um só.
Assim, e isso vale para todos os anti-inflamatórios não esteroides, o paciente que fizer uso de um medicamento do tipo deve ter um acompanhamento médico e não pode tomar o remédio por um tempo prolongado e de forma indiscriminada. Além disso, o médico deve informar o indivíduo sobre os riscos da droga. Por isso, eu acho que esses medicamentos deveriam ser vendidos somente com a apresentação da receita médica.”