sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Ministro da Saúde defende cooperação internacional no combate à tuberculose

Gilberto Occhi diz em reunião da ONU que "nehuma pessoa afetada pode ficar para trás"
Gilberto Occhi
O ministro da Saúde, Gilberto Occhi, propõe tratamentos mais simples e rápidos para enfrentar a tuberculose, responsável por 1,6 milhão de mortes em nível global ( Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil )
A Organização das Nações Unidas (ONU) realizou, nesta quarta-feira (26), a primeira reunião de alto nível sobre tuberculose, com o objetivo de acelerar as ações de combate à infecção que mais mata no mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), no ano passado, a doença foi responsável por 1,6 milhão de mortes em nível global, e um quarto da população mundial pode desenvolvê-la. O Brasil foi representado no evento por Gilberto Occhi, ministro da Saúde.
Em seu último relatório, a ONU alertou que os países não têm feito o suficiente para combater a doença. No encontro, em Nova York, representantes de países com altas taxas de tuberculose aprovaram por aclamação a declaração política governamental “Unidos pelo fim da tuberculose: uma resposta global a uma epidemia global”. Esse documento ressalta que a tuberculose é problema de saúde pública e reforça o comprometimento dos estados para atingir a meta de eliminação da doença até 2030, conforme estabelecem os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.
Política Externa e Saúde Global
Gilberto Occhi discursou como representante da Iniciativa da Política Externa e Saúde Global, que integra Brasil, África do Sul, França, Indonésia, Noruega, Senegal e Tailândia. Criada em 2007, a união tem o objetivo de incluir a saúde como pauta prioritária na política externa dos países.
Em sua fala, Occhi destacou que a tuberculose é um dos maiores “riscos transfronteiriços” e que o enfrentamento à doença não é possível sem cooperação internacional. O ministro brasileiro enfatizou a importância do investimento em pesquisa e inovação para produção de novos medicamentos.
O ministro defendeu ainda o desenvolvimento de tratamentos mais simples e rápidos, além de uma vacina eficaz que seja acessível a toda a população. “Não podemos deixar nenhuma pessoa afetada pela tuberculose para trás. É preciso proteger os mais vulneráveis, é preciso prevenir, diagnosticar e tratar todas as pessoas afetadas pela doença de forma universal.”
Pesquisas
Integrantes do Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), realizaram um encontro prévio, na terça-feira (25), para discutir formas de cooperação que acelerem as pesquisas sobre a infecção. Juntos, os países do Brics respondem por 40% dos casos de tuberculose no mundo. O Brasil tem um terço de toda a carga de tuberculose das Américas e cerca de 34% dos casos de coinfecção TB-HIV.
Representantes da sociedade civil, especialistas e integrantes da Rede Brasileira de Pesquisas em Tuberculose (Rede-TB) também participaram da reunião de alto nível. A delegação brasileira está na expectativa de que os países do Brics anunciem aporte significativo de recursos para pesquisa em tuberculose.
A meta da ONU é que o investimento global para prevenção, diagnóstico e tratamento da tuberculose alcance até 2022 o volume de US$ 13 bilhões por ano. Para pesquisa global, o objetivo é chegar a US$ 2 bilhões de investimento, para cobrir a lacuna atual estimada em US$ 1,3 bilhão.

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Doação de órgãos: Ceará tem rejeição menor

No Dia Nacional da Doação de Órgãos, o Movimento Doe de Coração visa reduzir a rejeição à causa
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Em relação à porcentagem de rejeição, a meta da Central de Transplantes do Ceará é reduzir o índice para 30%
Em 2018, o Estado do Ceará registrou uma média de 38% de rejeição à ideia de doar órgãos, segundo dados divulgados pela Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO). A média brasileira, de acordo com a instituição, é de 43%.
"Isso coloca o Ceará abaixo da média nacional, sendo também uma das rejeições mais baixas do Nordeste", diz Eliana Barbosa, coordenadora da Central de Transplantes do Ceará. Com o objetivo de continuar reduzindo este índice, o Movimento Doe de Coração, da Fundação Edson Queiroz, acontece hoje (27) na Praça do Ferreira, de 9h às 11h, com uma programação voltada ao estímulo da doação de órgãos no Ceará.
A ação integra a comemoração do Dia Nacional da Doação de Órgãos, e inclui a distribuição de folhetos e adesivos do movimento e de balões com a marca da campanha para a população.
Membros da Liga de Transplantes da Universidade de Fortaleza (Unifor), formada por alunos do curso de Medicina da Unifor, também estarão presentes para tirar dúvidas da população acerca da doação voluntária de órgãos e tecidos. "O foco desse ano é a palavra. Quem quer ser doador deve falar sobre isso com sua família, para que, um dia, se houver a oportunidade de doar, as pessoas já saibam", explica a professora Sílvia Melo, coordenadora do curso de Medicina da Unifor. Segundo ela, toda a campanha é voltada para esclarecer a importância de se assumir como doador, para que a família esteja ciente da decisão.
Neste ano, até o dia 24 de setembro, foram realizados 1.078 transplantes de órgãos e tecidos no Ceará. Para Eliana Barbosa, o Movimento Doe de Coração consegue mobilizar a população que, uma vez esclarecida, decide doar. "O cearense não precisa ir para outro Estado para se transplantar", ressalta.
Em relação à porcentagem de rejeição, a meta da Central de Transplantes do Ceará é reduzir o índice para 30%.
Sofrimento
"É um momento de muito sofrimento para a família que está diante de um ente querido prestes a perder a vida. E a família não está preparada para tomar essa decisão. Também a falta de informação e segurança de saber se o parente tinha realmente vontade de doar", descreve Sílvia Melo.
O fato de o Ceará ser referência em transplantes, diz Eliana Barbosa, alerta a população para a discussão entre familiares e, consequentemente, enaltece valores de cidadania e solidariedade, "que contribuem para criar a cultura da doação".
INFO

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

A luta pela doação

Cerca de 40% das famílias brasileiras não autorizam doar órgãos, mas está em ação um grande esforço para derrubar esse alto índice de recusa. Uma medida simples pode ajudar muito: é só avisar aos mais próximos de que deseja ser doador


Yuri Sousa Aurélio, 29 anos, Bruna Damasceno de Sousa, 30 anos, Cilene Pereira, 52 anos, Edson Araki, 56 anos, Fabiana Pighini, 37 anos, Luana Farias, 36 anos. Dar o nome e sobrenome das pessoas que aparecem nas fotos desta reportagem é uma obrigação jornalística. Nesse caso, no entanto, é acima de tudo a forma de evidenciar por meio das histórias desses seis indivíduos a importância de apenas um gesto para que a vida continue. De outro jeito, é verdade, mas ela continua. Todos foram beneficiados por doações de órgãos imprescindíveis para que pudessem continuar seus caminhos. Sem o ato de generosidade de alguém que não conhecem — e que não os conhece — certamente não estariam aqui estampando o sorriso que ilumina esses retratos, feitos pelo fotógrafo Lincoln Chessa.
As fotos farão parte de uma exposição a ser montada em São Paulo como parte de um pacote de iniciativas para estimular a doação de órgãos no Brasil. A decisão de exibir as cicatrizes intenciona, também, quebrar o conceito equivocado de que corpo bonito é corpo sem marcas. A ideia da mostra partiu da Bruna, que passou por quatro transplantes (três de fígado e um de rim), necessários por causa de complicações causadas por uma doença metabólica, e do cantor Bruno Saike, ativista e idealizador da ação #Juntos pela doação de órgãos. Na quinta-feira 27, comemora-se o dia da Nacional de Incentivo à Doação de órgãos, e até lá serão realizadas outras ações. Do movimento #Juntos, por exemplo, incluem-se o lançamento nas plataformas digitais de uma coletânea com gravações de artistas como Pitty, Ira! e He Saike e um ato na quarta-feira 26, na Arena Corinthians, antes do início da semifinal entre Corinthians e Flamengo pela Copa do Brasil. A Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO) também preparou um calendário de eventos que terá seu ponto alto no dia 27, com a iluminação em verde (cor da campanha) do prédio da FIESP, na Avenida Paulista.
São ações mais do que necessárias. Entre janeiro e junho, quase 33 mil adultos aguardavam por um órgão, segundo a ABTO. Crianças somavam 706. A fila maior é para rins, seguida pela de fígado e de coração. Dos 5,4 mil adultos que ingressaram na lista no primeiro semestre, 728 morreram. Das 159 crianças, 7 perderam a vida antes que conseguissem uma doação.
Falar em doação de órgãos é daqueles assuntos sobre os quais ninguém quer conversar a respeito. Discutir o tema lembra a morte e, por isso mesmo, é compreensível que cause desconforto. Mas é nessa mudança de comportamento que residirá boa parte da virada de jogo para tirar muita gente da espera e tornar o Brasil mais solidário. O número de pacientes que aguardam por um transplante só é tão alto porque, basicamente, faltam doadores. Capacidade técnica, em gente e em equipamentos, o País possui. “Poderíamos aumentar o total de cirurgias porque os hospitais têm estruturas muito bem estabelecidas”, afirma o cirurgião André Ibrahim David, do Departamento do Transplante de Fígado da ABTO.
É verdade que há deficiências, como limitações nos hospitais para o reconhecimento de potenciais doadores e sua notificação à central de Transplantes. Mas é fato que times bem organizados — médicos, enfermeiras, assistentes sociais, psicólogas, nutricionistas — trabalham com maestria desde a captação de órgãos até a recuperação do transplantado. Um belo exemplo é a equipe chefiada pela enfermeira Vanessa Gonçalves, coordenadora de uma das quatro que atuam na capital paulista na captação de órgãos. Ela comanda uma espécie de esquadrão da vida acionado sempre que chega ao serviço a informação de um possível doador nos hospitais.
Momento difícil e decisivo
E é aí, com treinamento e sensibilidade, que começa um trabalho que, horas depois, pode transformar a morte em vida novamente. Vanessa e seu time têm a missão de explicar aos familiares que órgãos da pessoa que acabam de perder podem ser doados se apresentarem condições para tal. Antes de abordar a família, é preciso identificar a reação emocional dos envolvidos e aproximar-se quando for possível. É um momento difícil, mas decisivo. Ainda atordoados pela notícia do falecimento, os familiares precisam entender conceitos como o de morte encefálica — completa e irreversível parada das funções cerebrais — e decidir se permitem a doação.Só quem pode autorizar são parentes em até segundo grau, cônjuges ou companheiros. Em geral, quatro em cada dez famílias não permitem a doação. Nos primeiros seis meses do ano, o índice médio de recusa no País foi de 43%. No Mato Grosso, 90% disseram não à doação. O mais impressionante é que 60% das negativas acontecem porque a família simplesmente não sabe se a pessoa queria ser doadora. Na dúvida, prefere manter o corpo preservado. Quando as pessoas sabem do desejo que o indivíduo tinha de doar, a autorização é dada sem vacilação. É uma forma de cumprir o último desejo de quem partiu. Às vezes, os familiares intuem a opção por doar, como foi o caso de Sérgio Miwa quando seu pai, Setsuo Miwa, morreu, há dois anos. “Ele foi uma pessoa que ajudava os outros. Achei que gostaria de ter ajudado mais uma vez”, conta Sérgio. A doação de Setsuo salvou três pessoas.
ESQUADRÃO da vida Vanessa (ao centro) lidera uma das quatro equipes da capital paulista que faz a captação de órgãos (Crédito:Marco Ankosqui)
Por essa razão, um dos esforços é estimular que as pessoas digam, principalmente aos familiares, que desejam ser doadores. “Informe a sua família sobre seu desejo”, diz a enfermeira Vanessa. Em outra frente, especialistas envolvidos na batalha pelo aumento dos transplantes lutam pela criação de um estatuto do doador com medidas que possibilitem, por exemplo, que as pessoas registrem seu posicionamento. “Também pensamos em criar um aplicativo por meio do qual o usuário registre que é doador. Pode servir de fonte de pesquisa para a família se solicitada a doar os órgãos do parente falecido”, conta o cirurgião André Ibrahim. Colocar-se à disposição para salvar vidas, portanto, é mais simples do que parece. É só dizer “Sim, sou doador.
Eu recebi um fígado. E dei o meu à outra pessoa
Eu sou a Cilene Pereira que assina a reportagem sobre a importância de doar órgãos e a Cilene Pereira que aparece no início do texto, na lista dos transplantados. A foto é minha e faz parte da exposição programada para acontecer na Arena Corinthians, na quarta-feira 26, antes da semifinal entre Corinthians e Flamengo pela Copa do Brasil. Em 31 anos de jornalismo, jamais imaginei que um dia eu seria personagem da minha própria matéria. Personagem, no jargão jornalístico, é a pessoa que serve para ilustrar uma história. Mas aqui estou eu contando minha trajetória publicamente para, quem sabe, contribuir para que o número de doações cresça no Brasil, ajudando mais gente que, como eu, dependia de um transplante para que a vida seguisse como deve seguir.
Sou portadora de Polineuropatia Amiloidótica Familiar (PAF), doença neurodegenerativa rara de origem genética. A mutação provoca uma alteração estrutural na proteína transtirretina, produzida principalmente no fígado, tornando-a instável. O resultado é que ela acaba se depositando sobre diferentes tecidos, provocando danos sistêmicos que vão de prejuízos cardíacos à perda progressiva de movimentos, à atrofia muscular e a outra série de efeitos que fazem a vida do paciente minguar aos poucos. Sem tratamento, pode levar à morte em dez anos.
Não foi um diagnóstico fácil, como não são fáceis os diagnósticos de doenças raras. Contei com a sorte de ter sido atendida, de pronto, quando os sintomas apenas se insinuavam, pelo cardiologista Bruno Bueno, do Hospital Samaritano, em São Paulo. Competente, atencioso e dono de um raciocínio diagnóstico impressionante – assim como de um bom humor que tornou tudo mais leve -, Bruno persistiu na busca de respostas e me guiou durante um ano e oito meses até que descobríssemos o que eu tinha.
O transplante de fígado foi a primeira forma encontrada pela medicina para impedir ou retardar a progressão da enfermidade. Hoje, há medicações que atuam no mesmo sentido, uma delas disponível no País. Cheguei a experimentá-la, mas aparentemente não houve benefício para o meu caso. Decidimos pelo transplante como forma de barrar a evolução da doença que roubaria minha autonomia. Sou jornalista, mãe de três filhos, inquieta, inconformada com platitudes, curiosa e apaixonada por conhecer pessoas e lugares, como mandam minha profissão e minha personalidade. Não andar e depender de alguém para cuidar de mim a essa altura da minha vida me apavorava.
De repente, me vi na condição que descrevera em reportagens sobre gente que esperava na fila do transplante. Mas desta vez era o meu nome que estava no registro da Central de Transplantes e era eu que entrava periodicamente no sistema para saber se minha vez estava próxima. A espera durou cerca de três meses. Recebi o telefonema de que haviam achado um doador no início da manhã do dia 14 de setembro do ano passado. Doze horas depois me deitava na mesa cirúrgica do Hospital Samaritano para fazer o transplante, conduzido com excelência pela equipe do cirurgião André Ibrahim David.
Por uma peculiaridade da minha doença, meu fígado não servia para mim, mas servia para outro paciente. Por isso, passei pelo o que os médicos chamam de transplante dominó, uma modalidade possível somente nos casos de PAF e de outras formas de doenças metabólicas genéticas do fígado. Na mesma noite em que recebi um fígado novo, doei o meu para outro paciente, que aguardava por uma nova chance de vida no Hospital das Clínicas de São Paulo (HC/SP), localizado a apenas alguns quilômetros de distância do centro cirúrgico onde eu estava. Os cirurgiões retiraram o meu fígado e o entregaram para os colegas do HC/SP. Naquela noite, duas pessoas ganharam uma chance de seguir com a vida. Eu, graças à doação que havia recebido. O paciente do HC/SP, graças ao fígado que eu havia doado.
Nunca na minha vida havia pensado que um dia eu precisaria de um transplante – exceto pacientes com doenças que se manifestam cedo, ninguém em sã consciência pensa que um dia estará nessa situação. Por isso, em meio à agitação estranha aos nossos olhos de pacientes dentro da sala de cirurgia e à ansiedade com o que estava por vir, fiz uma pausa por alguns segundos. Fechei meus olhos e agradeci do fundo do coração à pessoa de quem eu receberia o fígado. Como é de praxe, não sei quem foi meu doador. E também não sei quem recebeu o meu fígado. Na verdade, isso não importa. O que importa é que por causa de uma doação de órgão eu sigo com minha vida, com as alegrias, os fracassos, os encantamentos, as angústias e as esperanças que fazem dela algo tão fascinante e desafiador. E torço muito para que a pessoa que recebeu meu fígado esteja, como eu, feliz e pronta para a vida que há para ser vivida.

terça-feira, 25 de setembro de 2018

Profissão de risco

Pesquisa mostra que um em cada cinco profissionais de saúde já sofreu agressão física e mais de 70% já passaram por algum episódio de violência. Demora no atendimento é a principal razão para ataques contra médicos e enfermeiros

Profissão de risco
CÂMERAS Circuito interno de TV de pronto-socorro de Santos captou quando a enfermeira Maria Lúcia Bortolucci foi esmurrada pela filhas de um paciente que já havia conseguido internação. Profissional passou por cirurgia e agressoras foram detidas. Maioria dos profissionais da saúde agredidos é mulher
Cuidar da saúde dos outros é uma atividade cada vez mais perigosa no Brasil. Filas imensas, demora no atendimento, falta de leitos, equipes reduzidas e, acima de tudo, um cotidiano de agressões por parte de pacientes e familiares torna a vida de médicos, enfermeiros e farmacêuticos insegura. Quase todos já presenciaram ofensas, palavrões, ameaças, socos e pontapés, principalmente entre quem atua na rede pública. Uma pesquisa encomendada pelos conselhos regionais de medicina, enfermagem e de farmácia de São Paulo com 6.832 profissionais da saúde apurou que 71,6% já passaram por pelo menos um episódio de violência. Um em cada cinco já sofreu agressões físicas. Há registro de vítimas nocauteadas, assim como ameaças vindas de procurados pela Justiça e, pior, até de agentes da lei. Como componente adicional, essas covardias costumam ocorrer contra mulheres. Entre o pessoal da enfermagem, 84% das vítimas são do sexo feminino, entre os médicos, 57%.
Esse foi o drama enfrentado pela enfermeira Maria Lúcia Bortolucci, em Santos (SP), e pela pediatra Lyse Soares, em Niterói (RJ). Durante um plantão no Pronto-Socorro da Zona Noroeste, em 10 de agosto, a enfermeira foi jogada no chão e espancada por duas mulheres enquanto tentava internar o pai de ambas. Ela precisará de uma cirurgia no maxilar. O caso foi parar na delegacia. Na madrugada de 2 de abril, Lyse foi agredida no Hospital Icaray, depois que um casal exigiu, sem sucesso, a internação do filho, que estava só em estado febril. A pediatra foi agarrada pelos cabelos e estapeada pelos pais. O caso ganhou repercussão e os agressores, um advogado e uma fisioterapeuta, perderam seus empregos.
Os homens também são vítimas. Em 3 de janeiro, no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (SP), o obstetra Conrado Ragazini foi nocauteado sem aviso pelo marido de uma paciente. Ele sofreu fraturas nos ossos da face e ficou afastado por um mês. Dois dias antes, o obstetra havia feito o parto do filho do agressor. Como o bebê precisou ser encaminhado para uma UTI neonatal, o pai culpou o médico. Já o enfermeiro Wagner Batista passou a sofrer de síndrome de “burnout” após ser ameaçado de morte por um foragido da Justiça. O caso ocorreu em março, na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) São João Lavras, um das mais movimentadas de Guarulhos, Grande São Paulo, e terminou com sua demissão. Batista havia optado por manter um paciente alcoolizado no ambulatório, dando lugar para quem necessitasse de internação. Após seis horas, o paciente e seu filho tentaram esmurrá-lo e o ameaçaram. A polícia foi chamada e descobriu-se que o filho era procurado. Dias depois, pessoas estranhas passaram a ameaçá-lo na unidade. O enfermeiro começou a sofrer de ansiedade, cansaço crônico e pressão alta.
“Me recusei a passar dados sigilosos e o PM quis me prender. Tinha uma paciente com hemorragia na sala. ‘Que morra’, ele gritou” Edwiges Dias da Rosa, 61 anos, cirurgiã agredida por policiais no ABC Paulista
Sucateamento da saúde
A principal causa das agressões estaria no sucateamento do sistema de saúde pública, acredita o otorrinolaringologista Florisval Meinão, diretor da Associação Paulista de Medicina (APM). Para ele, não dá para culpar diretamente os pacientes, que estão em situação de grande vulnerabilidade. “Porém, há limites”, diz. A presidente do Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP) Renata Pietro vai na mesma linha. “Descontam em quem está na linha de frente para ajudar”, diz. A solução seria aumentar a segurança nas unidades, para amenizar o problema a curto prazo, e aplicar mais recursos na Saúde, já que a maior causa de conflitos (33%) está na demora de atendimento.
TRUCULÊNCIA PMs deixaram hematomas em braço de médica
e tentaram detê-la por desobediência (Crédito:Gabriel Reis)
A proposta para endurecer a punição a quem abusar de profissionais de saúde tem tudo para dar em nada. “Quem agride não está pensando”, diz Meinão. Sem contar que boa parte dos agredidos (80%) opta por não prestar queixa. E quando as autoridades são acionadas, de pouco adianta. Há dois anos a médica clínica K.V.G. foi assaltada dentro do consultório, em um posto de saúde no Capão Redondo, periferia de São Paulo. Um homem armado entrou com um paciente e levou seu celular. “Nunca mais voltei”. Ela deixou a rede pública e hoje só atua para convênios.
Pior é quando o profissional é vítima de quem deveria protegê-lo. Durante um plantão noturno, em 29 de julho, na UPA Baeta Neves, em São Bernardo do Campo (ABC-SP), a cirurgiã gástrica Edwiges Dias da Rosa, de 61 anos, ganhou hematomas nos braços ao ser segura com força por policiais militares. Tudo começou quando um PM exigiu a cópia do prontuário de uma vítima de violência doméstica. A cirurgiã informou que isso só seria possível mediante um pedido formal de delegado, já que os dados são sigilosos – algo usual. PMs tentaram detê-la por desobediência e o atendimento de uma idosa com foi comprometido. “Nunca vi tanta truculência”, conta. O caso está na Corregedoria da PM. É mais uma amostra de que a medicina é uma profissão de alto risco.

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Ômega-3 teria potencial de evitar a ansiedade

Estudo brasileiro sugere que o consumo da gordura vinda de peixes, linhaça e chia poderia afastar o problema

A nutricionista Lara Natacci, diretora clínica da Dietnet, em São Paulo, tem observado que, hoje, não faltam estudos científicos sobre o papel do ômega-3 contra a depressão. Afinal, trata-se de uma gordura com ação anti-inflamatória e protetora do sistema nervoso. Em paralelo, em sua prática clínica, a expert percebe que outro distúrbio mental tem afetado cada vez mais gente: a ansiedade.
“Muitas pessoas relatam que, por causa dela, comem demais”, conta. Juntando uma coisa e outra, ela resolveu investigar, em seu trabalho de doutorado, se o tal do ômega-3 teria alguma influência na ocorrência de transtornos ansiosos.
Para isso, ela analisou os hábitos alimentares de 12 268 adultos – registrados através de questionário alimentar. “Não incluímos, na pesquisa, pessoas que consumiam o nutriente por meio de suplementos”, avisa.
Com base nesses dados, ela conseguiu separar os indivíduos por níveis de ingestão de ômega-3. Foi aí que percebeu que os maiores consumidores da gordura apresentavam menor risco de sofrer de ansiedade em relação às pessoas com baixa ingestão.
De acordo com Lara, por causa do modelo do estudo, é cedo para cravar que o nutriente de fato evita que alguém desenvolva o transtorno. “Esse tipo de trabalho é similar a uma foto. A gente vê o que está acontecendo naquele momento”, diz. “Só que ele ainda não mostra uma relação de causa e efeito”, completa.
De qualquer maneira, é um achado que empolga e abre as portas para pesquisas mais robustas e capazes de analisar esse elo com um maior grau de detalhes. “Nesse momento, com base nas informações que temos, meu conselho é que as pessoas obtenham o ômega-3 por meio da alimentação”, diz Lara. Chia, linhaça, algumas oleaginosas e peixes como salmão, atum e sardinha são os grandes aliados nessa empreitada.
Além de turbinar o consumo de ômega-3, Lara lembra que é importante maneirar nas fontes de ômega-6, como óleos de milho e girassol. É que essa gordura, tão comum em nosso dia a dia, tem sido engolida aos montes. Aí, o resultado é o oposto do desejado: o organismo se torna mais inflamado. Portanto, para realmente tirarmos proveito dos benefícios do ômega-3, as duas gorduras precisam estar em equilíbrio.
E lembre-se: o melhor é ajustar a dieta. “Os suplementos só devem ser usados após avaliação. Há diretrizes indicando que as cápsulas de ômega-3 são bem-vindas apenas em casos de triglicérides elevados”, ensina Lara.

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Dores crônicas afetam pelo menos 37% dos brasileiros. O que fazer?

Os incômodos que insistem em não ir embora são mais comuns do que se imagina, segundo um estudo. E trazem problemas consideráveis, como a depressão

Pelo menos 37% da população brasileira, ou 60 milhões de pessoas, sentem dor de forma crônica (aquela que persiste por mais de três meses). Pelo menos é isso o que sugere um estudo da Sociedade Brasileira de Estudos da Dor (Sbed), da Universidade Federal de Santa Catarina, da Faculdade de Medicina do ABC e de uma clínica de tratamento da dor.
Para o levantamento, foram entrevistadas 919 pessoas de todo o país. A Região Sul é a mais afetada pelos desconfortos contínuos (42% dos voluntários), seguida do Sudeste (38%), Norte (36%), Centro-Oeste (24%) e Nordeste (28%).
Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Intervencionistas em Dor (Sobramid), Paulo Renato Fonseca, a dor crônica é tão nociva que está ligada à depressão, à transtornos de ansiedade e até ao suicídio. “A dor, de modo geral, talvez seja umas das situações humanas que mais causam sofrimento. Ela não só provoca um sintoma desagradável, mas traz repercussões biológicas, psicológicas, sociais e espirituais”, diz Fonseca.
De acordo com o médico, é preciso tratar esses desconfortos prolongados com vários profissionais da saúde e médicos intervencionistas que fazem procedimentos para melhorar o sintoma. “Imagine uma pessoa com dor todo dia, o dia inteiro, durante meses”, questiona.

As dores mais comuns e como evitá-las

Entre elas estão as que atingem a região lombar, as articulações, a face, a boca, o pescoço. As dores de cabeça em geral e as enxaquecas também são frequentes.
Para prevenir os incômodos, os médicos indicam a prática de exercícios físicos, correção postural, alimentação adequada, vacinação (em especial contra herpes zoster) e controle do peso e de doenças crônicas, como diabetes e hipertensão. Ao mesmo tempo em que as dores sinalizam doenças, podem agravar condições crônicas e gerar quadros de sedentarismo e obesidade.
Segundo Fonseca, vários tratamentos para dor crônica estão disponíveis tanto no Sistema Único de Saúde (SUS) quanto nos planos de saúde. “Muitas pessoas acham que são procedimentos custosos. Alguns são caros, mas a maioria não é”. Ele ressaltou que as técnicas intervencionistas ajudam a reduzir o consumo de analgésicos.
“Uma das novidades a serem tratadas no congresso é a chegada da medicina regenerativa, que utiliza células-tronco, plasma rico em plaquetas, que são substâncias retiradas do próprio corpo da pessoa que podem ser utilizadas para dor. Teremos também a presença de 15 estrangeiros que mostrarão novas tecnologias”.
Conteúdo da Agência Brasil.

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Método Canguru: afeto para promover saúde de bebês

Apesar dos benefícios, o Brasil tem 1.465 leitos a menos que o ideal. No Ceará, na Maternidade Escola, são apenas cinco
Theyse Viana - Repórter
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A posição canguru consiste em manter o recém-nascido prematuro ou de baixo peso em contato pele a pele junto ao peito dos pais ou de outros familiares, estimulando o seu desenvolvimento ( Foto: José Leomar )
As dúvidas da adolescência ainda nem tinham ido embora quando Camila Gomes, 28, recebeu Alícia, há 11 anos, na Maternidade Escola Assis Chateaubriand (Meac). Se ser mãe já é transformação complexa, vivenciá-la aos 16 foi desafio dobrado para a autônoma - superado com o auxílio do Método Canguru, que completa 20 anos de prática no Ceará, focando no reforço do vínculo afetivo com a família para desenvolvimento do bebê.
"Passei 15 dias na Unidade Canguru, e foram os melhores da minha vida, porque lá aprendi a ser mãe. Eu não estava pronta para cuidar de uma criança prematura. Com o método, aprendi e saí pronta para cuidar da minha filha", relembra.
A posição canguru consiste em manter o recém-nascido prematuro ou de baixo peso (menos de 2,5kg) em contato pele a pele junto ao peito dos pais ou de outros familiares, conforme descreve a Portaria Nº 1.683/07, do Ministério da Saúde, que orienta a prática no Brasil. Segundo a chefe da Unidade Canguru da Meac, Rosalina Araújo, o método é, além de política pública de saúde da mulher e da criança, "uma filosofia de trabalho".
"Ele melhora a qualidade de atendimento dos bebês desde a gravidez, passando pelo parto humanizado. Existe um cuidado especial com o prematuro porque tem possibilidades de complicações, mas é aplicável a todos os bebês", explica. Atualmente, a Unidade Canguru da Meac conta com cinco leitos para atendimento de mães e filhos, que devem ser expandidos para 12, sem prazo informado.
Em Fortaleza, o centro de referência na adoção do método é a Meac, que iniciou a prática dois anos antes de se tornar política pública, no ano 2000. Para Rosalina, o fortalecimento do vínculo afetivo entre mãe e filho "já seria justificativa suficiente" para adoção do Canguru, mas a isso se agregam, ainda, os benefícios à saúde física do bebê. "O pele a pele ajuda no desenvolvimento da criança porque ela sente a mãe, desenvolve o equilíbrio. A mãe tem uma flora normal de bactérias, então o bebê já desenvolve anticorpos e combate a flora patogênica. Além disso, gera diferença imensa no aleitamento, contribuindo para a produção de leite", lista a neonatologista da Meac.
Experiências
Esse "pele a pele", aliás, torna Talita Alves, 20, e as gêmeas Isabele e Alice, de 22 dias, uma só, aninhadas o dia inteiro sobre o peito. Nascidas com apenas 31 semanas e meia, as "surpresas dobradas" da mãe de primeira viagem vieram por parto cesárea. "Meu primeiro contato com a Alice foi pelo método, porque ela ficou duas semanas na UTI, entubada. Eu pensei que não ficaria com elas, entrei em desespero. Mas o Canguru salvou, e contribui demais para ela crescer, se desenvolver, e para me passar confiança", relata Talita, que precisa revezar as pequenas junto ao peito a cada uma hora e meia, já que o pai "ainda não tem coragem, porque são muito molinhas".
A miudeza de Kaíque também assustou a dona de casa Mardna Barros, 26, apesar de já ser o seu quarto filho, o primeiro a precisar do Canguru, cuja contribuição no desenvolvimento, segundo a mãe, é visível. "No começo, fiquei muito angustiada em ver ele tão pequeno, mas a cada dia vejo melhora. Ele já tá pegando o peito!", anima-se.
No Brasil, segundo a consultora da Coordenação Geral de Saúde da Criança e Aleitamento Materno do Ministério da Saúde, Luiza Machado, 132 maternidades aplicam o Método Canguru, e 714 leitos são habilitados como Unidades de Cuidado Intermediário Neonatal Canguru (Ucincas). A necessidade, porém, é de 2.179.

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Gastrite: o que é, causas, sintomas, tratamento e alimentação adequada

Saiba o que é bom para evitar e combater essa doença, responsável por provocar queimação no estômago e outros problemas

A dor e a queimação, sintomas típicos da gastrite, são consequência de uma inflamação nas paredes internas do estômago. E qual a causa disso?Pesquisas mostraram que a maioria dos episódios desse problema é provocado por uma bactéria, a Helicobacter pylori. Esse micro-organismo se instala abaixo da camada de muco do estômago e vai liberando a urease, uma enzima capaz de mudar o pH das áreas próximas.
A multiplicação desenfreada desse agente infeccioso gera uma reação inflamatória. Se as células de defesa não conseguem conter o avanço, a mucosa que protege as paredes do estômago é corroída – e o órgão então sofre diretamente a ação do ácido gástrico, dando origem à ardência.
A H. pylori pode contaminar água e alimentos, mas o principal meio de transmissão é de pessoa para pessoa. Ainda assim o fato é que muita gente carrega esse inimigo, mas não sofre com suas consequências.
Alguns fatores, ou uma associação deles, também desencadeiam a irritação: alimentação inadequada, abuso de remédios (sobretudo anti-inflamatórios), e consumo exagerado de bebida alcoólica. O estresse é outro componente importante na origem das crises de gastrite: em situações de tensão, nosso organismo aumenta a liberação de cortisol e de adrenalina, hormônios que, por sua vez, elevam a fabricação de ácido pelo estômago.

Sinais e sintomas

– Dor de barriga
– Sensação de queimação no estômago
– Enjoo
– Falta de apetite
– Perda de peso

Fatores de risco

– Predisposição genética
– Consumo excessivo de alimentos gordurosos e ácidos
– Abuso de anti-inflamatórios
– Estresse
– Consumo exagerado de bebida alcoólica
– Ingestão excessiva de itens com cafeína
– Tabagismo
– Doença de Crohn

A prevenção e a alimentação

Diminuir o consumo de alimentos que aumentam a acidez do estômago, como comidas picantes, álcool e café, é o caminho indicado para atenuar o ataque às paredes do estômago. Alimentos mais gordurosos, que exigem mais quantidade de ácido para serem digeridos, também entram na lista dos desencadeadores da gastrite. Cuidado também com o leite puro, que estimula a secreção de suco gástrico.
Só tenha em mente que, dependendo da severidade, do tempo sem crise e de questões individuais, é possível ingerir esses alimentos com moderação. Discuta isso com um profissional de saúde.
Ficar muito tempo em jejum é outro perigo. Sem alimentos na barriga, o ácido gástrico se acumula e começa a lesionar o estômago. Vale, portanto, fracionar as refeições. E comer devagar. A mastigação, como primeira fase da digestão, poupa os esforços do estômago.
Além disso, quem fuma tem mais este motivo para tentar abandonar o cigarro. O vício aumenta a produção de ácido no estômago e, dessa forma, favorece a queimação.
Por fim, fuja da automedicação: o uso de anti-inflamatórios sem receita e sem as devidas orientações do médico também contribui para o aparecimento das crises estomacais.

O diagnóstico

Sentir dores no estômago uma vez ou outra não significa que a pessoa tem gastrite. Agora, se os sintomas se arrastam por duas semanas, é melhor consultar um gastroenterologista.
O médico irá solicitar a realização de uma endoscopia. Nesse exame, feito com o paciente sob efeito de sedativo, uma microcâmera desce pela boca até o estômago, e as imagens registradas mostram se há inflamação na mucosa do órgão.
Para confirmar se o problema foi causado pela bactéria H. pylori, durante a endoscopia é feita uma biópsia. A análise do material revela se o micro-organismo está alojado por ali.

O tratamento

Controlar a alimentação é fundamental para aliviar o mal-estar digestivo, mas nem sempre uma dieta equilibrada basta. Para combater a inflamação já instalada, o médico pode receitar antibióticos, além de antiácidos para atenuar os sintomas.
Nos casos em que a H. Pylori é a causa da gastrite, às vezes só um revezamento de antibióticos consegue dar fim ao problema. Isso porque essa bactéria é muito resistente.
Ao término do tratamento, o especialista pode recomendar  outro exame para confirmar se o micro-organismo foi eliminado de vez. Esse teste detecta a presença a H. Pylori pelo ar expelido dos pulmões. Se o resultado der negativo, significa que foi exterminada. Caso contrário, é preciso tomar novas medidas contra ela.
Ao longo do tratamento, é preciso ficar longe de determinados alimentos. Até que a regeneração do estômago seja completa, deve-se evitar refrigerantes, águas gasosas e sucos cítricos. Chocolates, balas e doces também ficam de fora do cardápio – o açúcar fermenta na barriga e, para piorar, estimula a liberação de ácido clorídrico.
Uma vez que a causa da gastrite sai de cena, seja ela qual for, a pessoa fica curada em no máximo três semanas. Esse é o prazo necessário para o estômago recuperar suas rugosidades naturais, destruídas pela agressão.

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Os alimentos que ajudam a aliviar e até adiar a menopausa

A dieta tem um peso importante nessa fase da vida da mulher. Descubra quais ingredientes ajudam a amenizar os sintomas do climatério

Quando a vida reprodutiva está chegando ao fim, boa parte das mulheres sente as manifestações da gangorra hormonal – afinal, os ovários estão encerrando o expediente. Cerca de 80% delas penam com ondas de calor (ou fogachos) e suor intenso. A libido cai e a vagina fica mais ressecada. E há quem sofra com insônia e até depressão. Tudo sintoma desse período chamado climatério – menopausa mesmo é só a última menstruação. Não é à toa que a ampla maioria gostaria de postergar ao máximo sua chegada.
“Tem mulheres que passam muito mal mesmo”, relata a ginecologista Mariana Maldonado, membro da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana. Cientes disso e das repercussões da fase na saúde feminina, profissionais vêm se dedicando a encontrar formas de atrasar a menopausa ou amenizar suas consequências.
E uma pesquisa inglesa indica que a dieta pode interferir na idade em que a produção hormonal cessa. Após analisar os hábitos à mesa de 914 mulheres com idades entre 40 e 65 anos, uma equipe da Universidade de Leeds descobriu que, entre aquelas que comiam mais peixes e legumes frescos todos os dias, o fim da menstruação chegou até três anos mais tarde do que a média britânica (51 anos).
Quem manteve um cardápio rico em carboidratos simples (massa, arroz…), por sua vez, teve a menopausa antecipada em até um ano e meio.

A vantagem do primeiro grupo estaria na ingestão de ômega-3, vitaminas e outros antioxidantes, que favoreceriam o bom funcionamento das células, inclusive as dos ovários. O estudo não encerra a questão, mas reforça o conselho de manter uma alimentação balanceada – até pelos quilos extras!
“O consumo excessivo de farinha de trigo refinada e açúcar contribui com o ganho de peso, comum nesse período”, nota a endocrinologista Mariana Halla, diretora da Sociedade Brasileira para Estudos do Envelhecimento.

Alguns alimentos e nutrientes ajudam a atenuar os efeitos da menopausa

Peixes: O consumo regular de espécies oleosas como salmão, atum e sardinha está ligado a uma menopausa mais tardia.
Legumes: É para comer todo dia. E dê prioridade às versões frescas. Vale vagem, ervilha, grão-de-bico, lentilha…
Nozes e castanhas: São fontes de gorduras boas e antioxidantes, que reduzem os danos às células dos ovários.
Ovos: Têm proteína e vitaminas, como a D, que atua na absorção de cálcio e, assim, ajuda a prevenir a osteoporose.

terça-feira, 11 de setembro de 2018

Pratique tai chi chuan para combater a fibromialgia

Estudo mostra que essa prática milenar é tão ou mais benéfica que os exercícios aeróbicos tradicionais no alívio da dor e de outros sintomas

A atividade física em geral tem papel fundamental no tratamento da fibromialgia – doença cujo principal sintoma é a dor espalhada pelo corpo, sem motivo aparente. Porém, um estudo do Hospital Universitário da Universidade Tufts, nos Estados Unidos, revelou que o tai chi chuan é especialmente positivo, mesmo quando comparado aos exercícios aeróbicos
Os cientistas avaliaram, por 52 semanas, 226 pacientes que não experimentaram o tai chi ou qualquer tipo de tratamento alternativo nos seis meses anteriores e que sentiam dores crônicas, em média, há nove anos.
Aí, 151 voluntários ficaram de praticar a arte marcial por 12 ou 24 semanas, podendo escolher ainda se iriam para a aula uma ou duas vezes a cada sete dias. Os outros 75 passaram a realizar exercícios aeróbicos duas vezes por semana, durante oito meses.
Antes de começarem a rotina de treinos, todos responderam um questionário sobre o impacto da fibromialgia na vida – e voltaram a preenchê-lo outras três vezes até o fim do experimento. Cabe destacar que esse método é usado para avaliar o grau de sintomas físicos e psicológicos do transtorno, como intensidade da dor, função física, fadiga, depressão, ansiedade e bem-estar no geral.
A boa notícia é que, ao final de 52 semanas, todos os participantes apresentaram melhoras. Em outras palavras, enfrentar o sedentarismo ajuda a combater a fibromialgia.
Mas… o tai chi alcançou uma pontuação significativamente maior no geral. E mais: quem optou por praticar a arte marcial por 24 semanas colecionou benefícios adicionais em comparação com os indivíduos que pararam nas 12 semanas. Por outro lado, não houve grande diferença entre aqueles que reservaram um dia ou dois na agenda para essa atividade física.

Como tratar a fibromialgia

O tratamento é baseado em remédios e psicoterapia. Contudo, modalidades aeróbicas, como caminhada, natação, ciclismo e dança normalmente são indicadas para alívio dos sintomas. Os exercícios melhoram o condicionamento físico, aumentam o ânimo, auxiliam na diminuição da rigidez muscular e reduzem as dores.
Apesar de todos esses benefícios, as pessoas sentem dificuldade de transformar essa prática em hábito, já que precisam vencer a dor física e o desânimo causados pela fibromialgia. Por ser mais leve e oferecer um forte componente mental, o tai chi seria uma boa alternativa.
Independentemente da atividade escolhida, o importante é não deixar de conversar com o médico e um profissional de educação física para ajustar a intensidade do treinamento – cargas mais pesadas podem intensificar os incômodos.

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Dois remédios para fibrose cística chegam ao Brasil. O que ela é?

Aproveitamos o desembarque de duas medicações modernas contra essa doença para revelar suas causas, sintomas, métodos diagnósticos e tratamentos

Setembro, também conhecido como o Mês Nacional de Conscientização da Fibrose Cística, trouxe uma ótima notícia para os brasileiros com essa doença: a chegada no Brasil do remédio Kalydeco, da farmacêutica Vertex, que melhora bastante a vida de parte dos pacientes. Meses antes, outro medicamento – o Orkambi, da mesma empresa – também havia sido aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para outros subtipos da enfermidade. Para abordar essas novidades, precisamos antes explicar o que é a doença, quais seus sintomas e como era o tratamento antes.

O que é fibrose cística?

Ela é uma doença rara, que atinge cerca de 70 mil pessoas no mundo. Por defeitos no gene CFTR, o paciente praticamente não fabrica uma proteína, também chamada de CFTR, ou a gera com diferentes defeitos. E daí?
“Essa proteína é fundamental na liberação de água das células para a produção de secreções do corpo”, explica Rodrigo Athanazio, pneumologista e parceiro do Instituto Unidos Pela Vida, uma organização focada na fibrose cística. Isso, por sua vez, faz com que diferentes líquidos originados pelo organismo, do catarro (muco) ao suor, fiquem mais espessos do que o normal.
A questão é que essas mudanças nas secreções do organismo provocam diferentes repercussões pelo corpo. Uma das mais graves atinge os pulmões: 80% dos indivíduos com fibrose cística morrem por complicações nesse órgão, segundo Athanazio.
Isso porque o espessamento do muco facilita infecções graves e uma inflamação que danifica os pulmões, o que, com o tempo, afeta demais a respiração. Aliás, o catarro mais viscoso típico da fibrose cística também favorece sinusites de repetição nos seios da face.
O pâncreas é outra parte do corpo muito atingida. Para quem não sabe, essa estrutura gera diferentes enzimas digestivas, que ajudam a quebrar os alimentos e aproveitar os nutrientes. Ocorre que as alterações dessa doença culminam em danos a esse órgão e comprometem o seu trabalho.
Resultado: logo na infância, a criança não consegue digerir alimentos, causando desnutrição e atraso no desenvolvimento. Daí porque, mesmo se não diagnosticada antes com exames, essa doença tende a ser flagrada ainda nos primeiros anos de vida. Entretanto, é possível que quadros, digamos, mais leves só sejam detectados na fase adulta.
Tem mais. Embora seja uma consequência menos comum, a fibrosa cística pode injuriar o fígado em cerca de 5% dos casos, eventualmente levando a uma cirrose.
Não há prevenção para esse transtorno, até porque ele é puramente genético. “A pessoa só vai desenvolver a fibrose cística se herdar genes CFTR defeituosos tanto do pai quanto da mãe”, esclarece Athanazio. É o que os especialistas chamam de uma doença autossômica recessiva.

Sintomas e sinais

• Infecções de repetição nas vias respiratórias
• Falta de ar
• Tosse crônica
• Desnutrição
• Perda de peso
• Dor abdominal
• Diarreia amarelada, gordurosa e com odor forte
• Sinusite
• Fadiga
• Desenvolvimento atrasado na infância

Diagnóstico

Uma das particularidades da fibrose cística é afetar as glândulas sudoríparas, que geram suor. Com isso, esse líquido fica especialmente salgado. Tanto que muitas mães sentem esse gosto ao beijarem seus pequenos – ao ponto de essa chateação ganhar o apelido de “doença do beijo salgado”.
Mas o que isso tem a ver com o diagnóstico? “Nós temos um teste que dosa a presença de cloro no suor. Se sua concentração é muito elevada em duas avaliações, confirmamos a presença da fibrose cística”, informa Athanazio.
Há também exames genéticos que identificam aquelas mutações no gene CFTR. Contudo, a verdade é que o teste do suor é bastante confiável (e menos custoso).
“Porém, é importante dizer que, desde 2014, o e de petestzinho deveria incluir a triagem para a fibrose cística”, complementa Athanazio. Em outras palavras, aquela gotinha de sangue tirada do calcanhar do seu bebê na maternidade já levantaria suspeitas para esse problema – converse com os profissionais do hospital para checar essa questão. E a detecção precoce é fundamental para um tratamento efetivo.

Tratamento

Chegamos, enfim, às maneiras de contra-atacar essa doença. Antes da criação do Kalydeco e do Orkambi, a estratégia era basicamente controlar as consequências da fibrose cística.
Se o pâncreas não produz enzimas digestivos direito, o sujeito engole cápsulas com essas moléculas durante a refeição. Para evitar o acúmulo de muco nos pulmões, ele se submete a inalações com substâncias específicas, que ajudam a tornar essa secreção mais fluida. Sessões de fisioterapia respiratória e uso de antibióticos para conter as infecções também são bem comuns.
“O que esses novos medicamentos fazem é agir na doença em si. É como se eles reparassem aquela proteína defeituosa”, contextualiza o pneumologista Rodrigo Athanazio. Aí, as secreções corporais se tornam menos espessas, o que alivia os sintomas e, em tese, diminuiria o ritmo de progressão da doença.
No Brasil, ambas as drogas estão indicadas a partir dos 6 anos de idade. Já nos Estados Unidos, são aprovadas inclusive para maiores de 2 anos. “E há estudos com pacientes ainda menores. Existe a perspectiva de, com a evolução dos estudos, talvez oferecer esse tipo de remédio pouco tempo depois do nascimento”, afirma Athanazio.
O tratamento precoce evita danos irreversíveis da fibrose cística. Por serem novos, ainda não dá pra saber se esses medicamentos aumentarão a expectativa de vida dos enfermos, hoje estimada em 44 anos. “Mas temos evidências iniciais que apontam nesse sentido”, adianta Athanazio.
Ainda assim, é crucial ressaltar que essa nova classe de medicações não vai dispensar o manejo das consequências da fibrose cística. Mais do que isso, ela ainda não é aplicável a todos os acometidos por ela.
Veja: o Kalydeco é eficaz para um conjunto de mutações do gene CFTR comuns a não mais do que 5% das pessoas com fibrose cística. O Orkambi, por sua vez, mira outro subgrupo de alterações no DNA, que correspondem a mais ou menos 20% do total de brasileiros com a doença. A boa notícia é que vários outros fármacos modernos estão sendo experimentados e podem, no futuro, ampliar o acesso.
Na linha de complicações, ambas as drogas não devem ter um preço barato por aqui. O processo de definição do custo ainda está sendo finalizado na Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos, porém, nos Estados Unidos, o tratamento anual fica em torno de 150 mil dólares. E, sim, os comprimidos precisam ser ingeridos pelo resto da vida.
“A expectativa é, com o tempo, pressionar o SUS para incorporar esses remédios”, diz Athanazio.

sábado, 8 de setembro de 2018

‘Estou bem e me recuperando’, diz Bolsonaro no Twitter

Crédito: Reprodução / Instagram
Jair Bolsonaro, candidato do PSL à Presidência, em foto tirada dentro do hospital, após ele ser esfaqueado em Juiz de Fora, MG (Crédito: Reprodução / Instagram)
O candidato à Presidência da República pelo PSL, Jair Bolsonaro, afirmou na tarde desta sexta-feira (7) em sua conta no Twitter que está se recuperando após ter levado uma facada durante ato de campanha no Centro de Juiz de Fora, em Minas Gerais.
“Estou bem e me recuperando”, disse.
Depois, em outro tweet, Bolsonaro agradeu a família e aos médicos;
Bolsonaro foi internado na manhã desta sexta no Hospital Albert Einstein, na Zona Sul de São Paulo. A transferência de Bolsonaro da Santa Casa de Juiz de Fora para o centro médico da capital paulista foi decidida pela família após médicos considerarem o estado de saúde dele “extremamente estável”.
Os principais riscos que serão monitorados são pneumonia (pois o candidato ficou muito tempo em choque e perdeu cerca de 2 litros de sangue) e infecção (por causa do vazamento de massa fecal na cavidade abdominal).
A previsão de internação é de sete a dez dias. A retomada das atividades só deve ocorrer em 20 dias.
No início da tarde, o hospital divulgou boletim médico informando que Bolsonaro deu entrada às 10h43 e levado à Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O candidato “passará por exames e uma avaliação médica realizada por equipe multidisciplinar”, segundo o boletim, assinado pelo diretor superintendente do hospital, Miguel Cendoroglo. As informações são do G1.

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Hipotireoidismo: sintomas, diagnóstico, prevenção e tratamento

Saiba o que é esse distúrbio da tireoide pra lá de comum e quais as suas causas. E, claro, como detectar, controlar ou mesmo evitar o problema

O que é o hipotireoidismo? Trata-se, em resumo, da queda na produção dos hormônios da tireoide – a triiodotironina (T3) e a tiroxina (T4). Ele é o distúrbio mais comum dessa glândula, que fica na região do pescoço e lembra uma borboleta.
Seu desempenho repercute em todo o organismo, interferindo nos batimentos cardíacos, no ritmo do intestino, no humor e no ciclo menstrual das mulheres. A liberação das substâncias tireoide é orquestrada a partir da hipófise, estrutura que fica lá no cérebro.
Embora produzido em menor quantidade, o T3 é o composto que atua pra valer no ritmo do funcionamento de nossos órgãos. O T4, fabricado em maior volume, é bem menos potente. Durante seu trajeto pelo corpo, ele acaba transformado em T3 – esse, sim, o agente das principais operações do organismo.
No hipotireoidismo, ocorre uma diminuição da quantidade T3 e T4 que vai para a corrente sanguínea. Uma das causas da pane é a tireoidite de Hashimoto, doença autoimune em que o próprio sistema de defesa cria anticorpos para atacar as células da tireoide.
O hipotireoidismo costuma ser associado a um leve ganho de peso (eminentemente por acúmulo de líquidos) e uma dificuldade para se livrar de quilos extras. Mas essas são apenas as consequências mais visíveis da crise.
No déficit de T3 e T4, o coração diminui o bombeamento de sangue e pode sofrer com uma insuficiência cardíaca. Os rins não conseguem filtrar o líquido vermelho direito. O intestino fica mais lento e a pele resseca. Os olhos, por sua vez, correm um sério risco de glaucoma.
Crianças não estão livres de uma tireoide em marcha lenta. A falta dos hormônios prejudica o crescimento e pode levar à deficiência intelectual. Como nas primeiras semanas de vida é difícil perceber qualquer sinal do problema, o famoso teste do pezinho, feito em até 48 horas após o parto, é um grande aliado, pois consegue detectar o mau funcionamento da glândula do pescoço. Aí é possível iniciar o tratamento quanto antes para afastar o risco de danos neurológicos.
A causa mais frequente da baixa produção hormonal em crianças e adolescentes é a síndrome de Hashimoto. Ela pode aparecer em qualquer idade e, em geral, é notada nos mais jovens com baixo crescimento, atraso na puberdade, coceira e voz rouca.

Sinais e sintomas do hipotireoidismo

– Sonolência
– Leve ganho de peso
– Cansaço
– Alterações no humor
– Perda de memória
– Pele seca
– Prisão de ventre
– Unhas fracas
– Queda de cabelo
– Pés e mãos gelados
– Sensação de frio excessivo
– Anemia
– Alteração na libido
– Colesterol alto

Fatores de risco

– Mulheres com mais de 30 anos
– Idade superior a 60 anos
– Predisposição genética
– Menopausa
– Diabetes
– Gravidez
– Período pós-parto
– Poluição
– Excesso de iodo na alimentação

A prevenção

O fator mais importante para a formação dos hormônios T3 e T4 é a ingestão adequada de iodo. Cerca de 150 microgramas do mineral é a quantidade perfeita para resguardar a tireoide.
O composto está presente no sal de cozinha, nos frutos do mar e em peixes como cavala, salmão, pescada e bacalhau. Por outro lado, exagerar no uso do saleiro — fato bastante comum entre os brasileiros — impacta a glândula e pode desencadear o hipotireoidismo. O mesmo vale para quem acredita, levado por falsas promessas, toma lugol sem prescrição médica.
Para quem já sofre com os efeitos do descontrole hormonal, a recomendação na alimentação é maneirar em vegetais como repolho, nabo e couve. Eles contêm uma substância chamada tiocianato, que pode inibir o trabalho da tireoide. Há suspeitas também sobre a soja: a isoflavona da leguminosa alteraria o ritmo da produção tireoidiana e atrapalharia a absorção do iodo. Converse com o profissional sobre esse assunto.

O diagnóstico

Mesmo na ausência dos sintomas do hipotireoidismo, é importante informar ao médico se há casos da doença em parentes próximos. Também vale relatar qualquer cirurgia ou radioterapia realizada na região do pescoço. Todas essas informações são valiosas para flagrar uma possível falha no fornecimento de T3 e T4 para o organismo.
No exame clínico, o endocrinologista apalpa o pescoço para ver se há alguma alteração na tireoide. Porém, para confirmar se a glândula está trabalhando lentamente, é preciso fazer um exame de sangue. O teste consegue medir as dosagens de T3 e T4. Se a dupla estiver lá embaixo, há suspeita de hipotireoidismo. Acontece que as quedas hormonais não são perceptíveis no início do quadro. O tira-dúvidas é a medição do TSH, o hormônio da hipófise. Se ele estiver muito elevado, é sinal de problema.
O uso do ultrassom pode ser indicado para continuar a investigação. Num quadro de hipotireoidismo, a glândula tende a ficar atrofiada. Se o médico suspeitar de um tumor, um exame chamado de cintilografia pode ser prescrito.
Com exceção do teste do pezinho, que denuncia o hipotireoidismo congênito no recém-nascido, o ultrassom do pescoço e os exames que calculam os hormônios TSH, T3 e T4 não precisam ser feitos com frequência em sujeitos mais jovens, a não ser quando existir algum sintoma ou histórico de doenças da tireoide na família. Fora isso, o checkup deve ser solicitado somente para indivíduos acima dos 40 anos, especialmente as mulheres, que costumam apresentar mais doenças ali.

O tratamento

Quando a produção da tireoide está baixa, a saída é fazer a reposição com uma versão sintética do hormônio T4. No organismo, ele é convertido em T3 para agir nas células. Para reproduzir esse funcionamento ideal da tireoide, é preciso tomar o remédio todos os dias e a dose vai depender do grau de desequilíbrio na glândula. O ajuste fino não é fácil – até por isso não se pode usar o medicamento sem a indicação do endocrinologista.
O comprimido tem que ser tomado de manhã, em jejum, cerca de meia hora antes do café. É que ele precisa de um pH mais ácido no estômago para ser absorvido. Se algo é ingerido, a acidez se reduz e compromete o aproveitamento do fármaco.
Em geral, o tratamento para o hipotireoidismo deve ser feito por toda a vida. Isso só não acontece nas formas transitórias de hipotireoidismo, como as que costumam se manifestar em algumas mulheres no pós-parto ou mesmo as ocasionadas por um efeito colateral de medicamentos. Nesses casos raros, a reposição hormonal nem sempre é necessária e as funções da tireoide tendem a se normalizar com o tempo ou com a suspensão do remédio causador do desbalanço.

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Limão e alho é a solução para limpar as veias do coração? Não é bem assim

Vários sites dizem por aí que essa é a melhor receita para diminuir o colesterol alto e afastar doenças cardíacas. Investigamos o que há de verdade nisso

 
Que alho e limão são dois alimentos saudáveis (e gostosos), ninguém duvida. Mas será que consumi-los diariamente é a melhor solução para baixar o colesterol e evitar que os vasos sanguíneos fiquem entupidos? Isso é o que dizem vários portais de internet e vídeos que pipocam pelas redes sociais. Muitos deles juram que essa mistura funciona como um verdadeiro remédio para o coração.
Para tirar essa história a limpo, conversamos com a nutricionista Marcia Gowdak, diretora do Departamento de Nutrição da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo. O veredicto: não dá pra afirmar com certeza que esses dois ingredientes, juntos, têm algum efeito sobre os níveis de LDL, o colesterol ruim. Quanto mais que eles são a solução perfeita para varrer as artérias.

O que a ciência diz

Até hoje, um único estudo científico foi realizado sobre o tema. Assinado por especialistas da Universidade de Ciências Médicas de Isfahan, no Irã, o trabalho acompanhou 112 pacientes — uma parte tomou o mix de alho e limão em diferentes doses, enquanto outro grupo não engoliu esse preparo. Os resultados mostram uma queda nos níveis de gordura e de pressão arterial entre aqueles que experimentaram os dois ingredientes durante oito semanas.
Mas esses resultados não são positivos? “Temos que encará-los com bastante ceticismo, pois eles foram publicados numa revista científica com baixo impacto entre a comunidade acadêmica”, analisa Marcia. Além disso, o ideal é que o estudo fosse repetido por outros grupos de cientistas e com um número maior de voluntários para ver se a conclusão seria a mesma.  
É preciso levar em consideração também as quantidades utilizadas. No experimento iraniano, os indivíduos engoliram uma colher de sopa do sumo de limão, o que é razoável. O problema foi mesmo o alho: o consumo era de 20 gramas todos os dias! Isso equivale a quatro ou cinco dentes do bulbo. Convenhamos: não há hálito que aguente…

Então, o que fazer?

Claro, a crítica à pesquisa não significa que esses dois alimentos sejam maléficos à saúde. Pelo contrário! “O limão, assim como laranja e acerola, é rico em vitamina C. um composto com alto poder antioxidante”, destaca a nutricionista. O alho, por sua vez, carrega uma substância chamada alicina, que já demonstrou potencial para evitar alguns tipos de câncer e baixar a pressão arterial. Dentro de uma dieta equilibrada e variada, eles dão um sabor mais que especial a vários pratos e receitas.
Só não dá pra dizer que, ao juntar esses dois ingredientes, é possível limpar as veias do coração – e, principalmente, abandonar tratamentos consagrados. Para proteger o músculo cardíaco, a recomendação é consultar o cardiologista e fazer exames de checkup, que vão avaliar indicadores importantes de uma boa saúde, como o colesterol, o triglicérides e a glicemia.
Caso esses números estejam fora dos limites, o médico sugere mudanças no estilo de vida, na alimentação e na prática diária de exercícios. E pode prescrever alguns medicamentos com eficácia realmente comprovada.

terça-feira, 4 de setembro de 2018

Rugas faciais podem sinalizar risco de morte por doença cardiovascular

Pesquisadores descobrem esse elo inusitado – e apontam, como possível causa, a chamada aterosclerose, uma condição por trás de infarto e AVC

Quem diria: as rugas faciais podem ser um sinal de alerta para o infarto ou AVC. E isso não tem a ver com o envelhecimento, segundo novo estudo.
A pesquisa foi apresentada no congresso anual da Sociedade Europeia de Cardiologia, em Munique, na Alemanha. Os cientistas analisaram o rosto de 3 200 adultos saudáveis entre 32 e 62 anos. Eles criaram uma pontuação que ia de 0 (ausência de rugas) a 3 (alto número dos sinais de expressão).
Os voluntários então foram acompanhados por 20 anos. Durante esse período, 233 participantes morreram por diversas causas.
Aqueles que somaram dois ou três pontos foram considerados até dez vezes mais propensos a morrer por piripaques cardíacos, quando comparados aos que não pontuaram. Os que fizeram um ponto apresentaram um risco só ligeiramente maior de falecer do que os que tiraram nota 0.
Cabe destacar que, nesse levantamento, os cientistas controlaram certos fatores de risco, como a idade e o estresse proporcionado pelo trabalho (ambos ligados a doenças cardiovasculares e rugas). Dito de outra forma, nem o envelhecimento e nem o estresse explicam por completo essa associação curiosa – e perigosa.

Aterosclerose, o possível elo perdido

Mas, então, o que está por trás da conexão entre rugas na testa e panes no coração? Embora não tenham avaliado essa questão diretamente, os autores do trabalho apostam na aterosclerose. Vamos explicar isso passo a passo.
A aterosclerose nada mais é que a formação de placas de gordura que entopem as artérias, tornando-as menos elásticas e estreitando o caminho do sangue. Esse processo impede o oxigênio de chegar na quantidade necessária aos órgãos – é o estopim para infartos e derrames.
Acontece que tanto a aterosclerose como as rugas se desenvolvem, entre outras razões, em decorrência do estresse oxidativo (o excesso de radicais livres). Além desse elo em comum, os vasos sanguíneos da testa são particularmente finos. Isso os torna mais sensíveis à formação das placas.
Simplificando tudo isso, é como se o acúmulo de rugas apontasse que a circulação sanguínea não anda lá muito bem. E, quando isso ocorre, o coração sofre.
“Esta é a primeira vez em que uma ligação entre rugas e problemas cardiovasculares é estabelecida. Então, as descobertas precisam ser confirmadas em novas pesquisas”, pondera, em comunicado à imprensa, Yolande Esquirol, líder do estudo e professora de saúde ocupacional no Centro Hospitalar Universitário de Toulouse, na França.
De qualquer maneira, os autores acreditam que a pontuação de rugas criada pode virar, no futuro, um método auxiliar para estabelecer o risco de um paciente infartar ou sofrer um AVC. Fora que esses sinais de expressão são facilmente detectáveis – eles estão na cara.

Possíveis causas da aterosclerose

Há vários fatores que incitam o acúmulo de gordura nos vasos. Por exemplo:
  • Tabagismo
  • Colesterol alto
  • Diabetes tipo 2
  • Hipertensão
  • Sedentarismo
  • Idade avançada
  • Genética (histórico familiar de doenças cardiovasculares)

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

A guerra do vírus

A China não envia aos EUA amostras de uma cepa agressiva do vírus da gripe. Resultado da briga comercial entre os países, a atitude deixa o mundo sob ameaça

Crédito: AP Photo/Vincent Yu
CONTÁGIO Agentes de saúde chineses recolhem aves mortas por causa do vírus: alerta global (Crédito: AP Photo/Vincent Yu)
Quando civis são feridos em um ataque durante uma batalha, o dicionário classifica o acidente como dano colateral. Na Era Trump, marcada por uma guerra comercial contra a China, colocando as duas maiores potências econômicas uma contra a outra, surge um novo tipo de casualidade. Pressionado pelos EUA a baixar tarifas de importação ao mesmo tempo em que vê seus produtos sobretaxados na América, o governo chinês, sob a liderança de Xi Jinping, revida como pode, incluindo atrasar o envio de amostras do H7N9 para o Centro de Controle de Doenças (CDC) dos EUA, em Atlanta. Trata-se de uma cepa do vírus da gripe aviária identificada em 2013 e de alta agressividade. Em cinco anos, cerca de 1,6 mil pessoas foram infectadas na Ásia; 40% morreram.
É prática entre os países cientificamente capacitados a troca de amostras de agentes infecciosos para fins de pesquisa e criação de medicações. O processo obedece a normas estabelecidas pela Organização Mundial de Saúde e prevê rapidez no intercâmbio particularmente em casos de ameaças urgentes. É o caso do H7N9. Desde que apareceu, o vírus se espalhou entre aves domésticas e adquiriu características que permitiram a infecção de humanos. A contaminação se dá pelo contato com os animais. Até agora não se registrou transmissão sustentada entre humanos. Porém, investigações recentes mostraram que o vírus pode ser transmitido em gotículas espalhadas por espirros, o que o deixa mais próximo de evoluir a ponto de ser passado de pessoa para pessoa. “Uma maior adaptação a humanos pode resultar em vírus transmissíveis com potencial pandêmico”, afirmou Yoshihiro Kawaoka, pesquisador das universidades de Tóquio, no Japão, e de Wisconsin-Madison, nos EUA.
“Dificultar o acesso a amostras de vírus e bactérias fragiliza nossa habilidade de criar meios de prevenir infecções que podem se espalhar pelo mundo em questão de dias” Michael Callahan, da Harvard Medical School
Questão de tempo
A informação deixou as autoridades de saúde em alerta. Há anos os cientistas preveem que a próxima pandemia será causada por gripe, e a agressividade do H7N9 o torna um dos principais candidatos a ser o responsável por um desastre global. Com base na constatação, a comunidade científica está apelando aos governos chinês e americano para que não tornem a guerra entre taxas de aço e de outras commodities mais um risco para a concretização da tragédia. “O cenário é diferente de uma eventual escassez de alumínio e de soja”, afirmou o infectologista Michael Callahan, da Harvard Medical School, uma das mais prestigiadas do mundo. “Dificultar o acesso a amostras de vírus e bactérias fragiliza nossa habilidade de criar meios de prevenir infecções que podem se espalhar pelo mundo em questão de dias.” Em circunstâncias assim, o tempo de resposta é decisivo. Mas faz mais de um ano que o CDC e outros centros de pesquisa no mundo estão solicitando as amostras e o governo chinês continua em silêncio.