quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Como o bebê aprende a andar?

Conheça as etapas de desenvolvimento da criança até que ela consiga dar seus primeiros passinhos

A evolução das habilidades motoras, necessária para o bebê andar, só acontece graças a um amadurecimento do sistema nervoso, que ocorre literalmente da cabeça aos pés. Nos primeiros meses de vida, os neurônios e as fibras nervosas vão ganhando uma camada de gordura isolante, a bainha de mielina.
Com os fios, digamos, encapados, as ordens do cérebro podem chegar e gerar respostas mais precisas nos músculos. Aos três meses, ao mesmo tempo que o cérebro e a rede de nervos progridem, a musculatura da coluna, especialmente da porção superior, também se desenvolve. A partir desse momento, o bebê já pode sustentar o pescoço.
Conheça a seguir os próximos passos dessa história:
 (Ilustrações: Erika Onodera/SAÚDE é Vital)

O que fazer para estimular o pequeno a engatinhar e andar

Rotas próprias: deixe a criança criar seus caminhos pelo chão, em casa… Explorar faz parte do desenvolvimento.
Sem broncas: se o pequeno derrubar ou quebrar algum objeto no percurso, não brigue com ele para não desestimulá-lo.
Iscas lúdicas: coloque brinquedos a uma certa distância para que ela se sinta motivada a se locomover até lá.
Em segurança: certifique-se de montar um ambiente que não favoreça escorregões, quedas, trombadas e machucados.
Apoio bem-vindo: bote o bebê no chão com os braços apoiados em um móvel e distancie-se para que ele vá em sua direção.
Nada de andador: já está comprovado que o utensílio atrapalha o progresso das passadas. Melhor não usar.
Fontes: Ana Paula Macchia, neuropsicóloga do Instituto Ideia (SP); Ana Gabriela Paschoal, neuropediatra do Hospital São Luiz / Morumbi (SP); Felipe Kalil, neuropediatra, João Krauzer, pediatra, e Lauro Machado Neto, ortopedista pediátrico do Hospital Moinhos de Vento (RS); Wilson Lino Júnior, ortopedista do Hospital Infantil Sabará (SP).

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Gordura no fígado: laser infravermelho pode ajudar no tratamento

Associado a dieta equilibrada e prática de exercícios, o método tem potencial para combater a esteatose hepática não-alcoólica

A esteatose hepática não-alcoólica, conhecida popularmente como gordura no fígado, acomete bastante gente no Brasil. Estima-se que 30% da nossa população conviva com o problema. Só que, por não dar sintomas claros, ele costuma demorar a ser descoberto. Um perigo: além de aumentar o risco de diabetes e doenças cardíacas, o quadro pode evoluir para uma cirrose ou um tumor.
Para combater o acúmulo de gordura no órgão, é crucial investir em hábitos saudáveis, como ter uma alimentação equilibrada e se dedicar a atividades físicas. Mas, agora, pesquisadores do Grupo de Óptica do Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo (IFSC/USP) descobriram mais um aliado de peso: o laser infravermelho.
Segundo dados publicados no Jornal da USP, os cientistas recrutaram 20 homens obesos de 20 a 40 anos de idade. Durante dois meses, por três vezes na semana, todos os participantes fizeram uma hora de exercícios aeróbicos (a exemplo da corrida) e de resistência (musculação). Eles também receberam informações sobre nutrição equilibrada e a importância de evitar bebidas alcoólicas.

Em seguida, só metade recebeu a aplicação de laser infravermelho por dez minutos – foram colocadas placas nas regiões do abdômen, quadríceps, glúteos e bíceps. Os pesquisadores perceberam, então, que essa terapia serviu como um baita complemento às mudanças alimentares e aos exercícios: os voluntários que se submeteram ao tratamento com luz experimentaram uma redução de 80 a 90% maior em relação a certas enzimas do fígado. E isso sinalizaria uma melhor saúde do órgão. Em entrevista ao Jornal da USP, o profissional de educação física Antonio Eduardo de Aquino Júnior, um dos autores da investigação, comentou que a equipe deseja oferecer uma estratégia alternativa no combate à gordura no fígado. Até porque não seria tão complicado para os educadores físicos recorrerem ao lasers (desde que possuam o equipamento, é claro). Quanto mais armas disponíveis para usar nessa briga, melhor.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Vacina da febre amarela pode ser recomendada a todo o Brasil

A campanha de vacinação talvez se estenda até para estados que hoje estão livres do vírus da febre amarela. Entenda se já é o caso de todo mundo se imunizar

O Ministério da Saúde vai discutir já estuda a possibilidade de ampliar a recomendação da vacina de febre amarela para todo o país ainda neste ano por causa da circulação do vírus em novas áreas. O ministro da Saúde, Ricardo Barros, apresentou a proposta durante reunião da Comissão Intergestores Tripartite, em Brasília, e também pretende levar a discussão para entidades como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).
Se a ideia for pra frente, a estratégia de imunizar toda a população deve ser feita de forma gradual. Segundo o ministro, haveria uma programação diferente para cada estado.
Atualmente, áreas do Nordeste, do Sul e do Sudeste do país não fazem parte das regiões de recomendação de vacina por não apresentarem circulação do vírus. E a proposta serviria justamente para manter esses locais livres da febre amarela, assim como diminuir o risco de viajantes acabarem contraíndo a enfermidade ao visitarem outro canto do Brasil.
Cabe lembrar que, esse ano, foram registrados casos de febre amarela dentro da cidade de São Paulo – um local que, até pouco tempo atrás, também não sofria com a presença do vírus. Mas atenção: não estamos falando de febre amarela urbana. Até o momento, os paulistanos que caíram de cama com a doença frequentaram regiões dentro da capital com matas onde macacos mortos foram encontrados (parques, por exemplo).
Com esse projeto, mais 34 milhões de pessoas seriam imunizadas, sendo 11 milhões nas regiões Sul e Sudeste, além de 23 milhões no Nordeste. Para dar conta do recado, o Ministério da Saúde aguarda o funcionamento da nova fábrica da Libbs Farmacêutica, em São Paulo, que poderá produzir mais 4 milhões de vacinas por mês.
 Eu devo tomar a vacina da febre amarela?
Enquanto a decisão não sai, convém seguir o bom senso. Ou seja, antes de tudo converse com um profissional sobre sua situação de saúde. Pessoas com mais de 60 anos, crianças com menos de 2 anos, gestantes, pacientes com doenças reumatológicas estão entre as populações que exigem mais cuidado, sob o risco de sofrerem com reações adversas graves da vacina.
Além disso, veja se você mora ou vai a municípios com risco de infecção – são muito, como você pode ver clicando aqui. No momento atual, convém atualizar as informações com um profissional – como já dissemos, até regiões da cidade de São Paulo estão sob risco.
Agora, se você vive em um local sem circulação do vírus e pretende ficar por aí, não há porque sair correndo atrás de um posto. Nesse cenário, não há risco de transmissão no momento. Melhor esperar a campanha de vacinação, caso de fato ela seja estendida ao Brasil inteiro.

Novos casos da doença

Entre 1º de julho de 2017 e 20 de fevereiro deste ano, foram confirmados 545 casos de febre amarela no país, com 164 óbitos. Para efeito de comparação, de julho de 2016 a 20 de fevereiro de 2017, foram 557 casos, com 178 mortes – uma diferença não muito grande, que sugere um surto bastante sério.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Chega ao Brasil novo tratamento contra câncer de mama avançado

O remédio, da Pfizer, conseguiu frear o avanço de tumores de mama mesmo em casos avançados

 
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou a comercialização de mais um tratamento contra o câncer de mama no Brasil. Trata-se do palbociclibe, da farmacêutica Pfizer, que é voltado especificamente para os casos avançados, em que a doença já acometeu boa parte da região ou mesmo se espalhou para outros cantos do corpo.
São basicamente duas indicações para essa droga. A primeira envolve mulheres na pós-menopausa com tumores nos seios que são estimulados pelo hormônio feminino estrogênio, mas que não possuem relação com gene HER-2. Essas particularidades podem parecer um pouco complicadas, mas fique sabendo que tal perfil responde por mais ou menos 60% dos casos de câncer de mama.
Nessa situação, o palbociclibe entra em cena como primeiro tratamento de escolha em conjunto com o letrozol, um tipo de hormonioterapia que inibe a ação do estrogênio nas células cancerosas. Isso, como já dissemos, quando o tumor invadiu outros órgãos.
De acordo com os estudos que garantiram a comercialização, o palbociclibe e a hormonioterapia, juntos, foram capazes de frear a progressão do câncer, em média, por 25 meses. Já quando aplicada em associação com uma pílula sem qualquer efeito real, a terapia hormonal garantiu não mais do que 14 meses de sobrevida livre de progressão da doença.
Mas há ainda outro cenário em que o fármaco da Pfizer pode ser prescrito. Estamos falando de adultas em qualquer faixa etária nas quais aquele tipo de câncer de mama tenha avançado mesmo após o uso de alguma hormonioterapia isolada. Aí, ela entra como uma segunda linha de tratamento, em conjunto com outra substância – o fulvestranto.
Vale destacar que não estamos falando necessariamente de mais tempo de vida. As pesquisas mostram, acima de tudo, que a paciente que recebe o palbociclibe permanece um maior período com sua doença controlada – o que já é uma ótima vantagem principalmente em termos de qualidade de vida.

Como funciona o novo remédio

Em resumo, ele inibe a ação de moléculas que incitam a proliferação do câncer de mama e, de certa forma, impede que a doença desenvolva uma resistência contra a hormonioterapia. É por isso que os oncologistas prescreverão as duas estratégias em conjunto.
Por atuar de maneira mais seletiva, o palbociclibe oferece menos reações adversas do que as sessões tradicionais de quimioterapia. E pode ser administrado oralmente – sem a necessidade de infusões.

Quem vai ter acesso

No momento, o valor do palbociclibe ainda precisa ser discutido com as agências reguladoras nacionais. Mas é certo que, em um primeiro momento, ele sequer fará parte da cobertura obrigatória dos planos de saúde. No setor público, uma eventual incorporação deve demorar.
O remédio já está disponível desde 2015 nos Estados Unidos. E, na União Europeia, foi aprovado em 2016.
Cabe destacar, no entanto, que há mais possíveis tratamentos para outros subtipos da doença, em diferentes estágios. Quando o tumor é detectado em seus primeiros passos, a chance de cura é mais alta e envolve métodos mais conhecidos, como a cirurgia.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Fortaleza tem surto de conjuntivite confirmado

Rede pública de oftalmologia tem atendido dez pessoas por dia com a doença, mas o normal são duas
Com a mudança climática e a incidência de chuvas do mês de fevereiro, as emergências oftalmológicas tiveram uma movimentação mais intensa. Chegando a ser considerada um surto, ainda que esperado, pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS), a conjuntivite é um vírus que pode causar de leves irritações até graves sequelas. A orientação da SMS é clara: nunca medicar-se sozinho, ainda que já tenha tido a doença antes, já que existem diferentes tipos de diagnósticos para a enfermidade, que pode ser viral ou bacteriana.
A transmissão da conjuntivite infecciosa, que é a mais comum, acontece através do contato físico, tendo um alto nível de contágio, segundo a assessora técnica em oftalmologia da SMS, dra. Joana Gurgel. "A doença pode complicar. Tem quadros de conjuntivites graves, que podem levar ao comprometimento da córnea. Por isso, é tão importante procurar o médico. Certos casos podem prejudicar, inclusive, a visão", afirma.
Para evitar a transmissão, as principais dicas são lavar as mãos frequentemente, principalmente antes de comer e evitar coçar os olhos. Entre os sintomas da doença destacam-se a sensação de areia nos olhos, vermelhidão, intolerância à luz e lacrimejamento.
Vandameire Sousa, auxiliar administrativa, foi acometida pela conjuntivite no início deste mê, após sete pessoas da sua família terem sido contaminadas com a doença. "A minha foi a conjuntivite bacteriana, no dia que os sintomas começaram, já fui ao médico, corria risco de ter um derrame no olho. Passei uma semana doente e foi muito complicado", relata.
Atualmente, duas clínicas atendem a emergências oftalmológicas pelo Sistema único de Saúde (SUS) em Fortaleza, a Oftalmolaser, na Avenida Oliveira Paiva, e a Oftalmoclínica, na Av. 13 de maio. De acordo com a médica Joana Gurgel, em geral, os locais mencionados recebem cerca de 1 ou 2 casos por dia, já neste mês, a incidência é de 10 pacientes diariamente. "Pode-se considerar um surto por que é uma quantidade acima do normal, mas já era esperado devido ao período sazonal", explica Joana. Segundo ela, mesmo com o aumento dos casos, a rotina das emergências continua a mesma, sem alteração no atendimento.
Dado alarmante
Contudo, o Hospital de Olhos Leiria de Andrade declarou ter tido um aumento de quase quatro vezes no atendimento devido aos casos de conjuntivite neste mês. Apenas na segunda-feira (19), 900 pacientes foram atendidos na unidade, quando o normal são 250. Segundo o Hospital, esse é o maior surto de conjuntivite da história.
De acordo com Joana, o dado alarmante não foi notificado pela SMS, mas será investigado. "Eu estou vendo com a Vigilância Epidemiológica da Prefeitura uma forma de levarmos uma equipe ao Hospital para entender esse surto. É um dado que realmente merece ser estudado e entendido por nós", revelou a assessora.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Vacina fracionada da febre amarela é eficaz em 98% dos casos

Estudo com essa dose, que está sendo oferecida nas campanhas de vacinação, mostra que a maioria das pessoas imunizadas criam anticorpos contra a doença

Esta notícia é para quem estava cético com a vacina fracionada da febre amarela. Um estudo de diversas entidades internacionais, entre elas o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, revela que essa dose gera uma resposta imunológica positiva em 98% dos casos – uma taxa parecida com a da versão convencional.
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores coletaram amostras de sangue de 716 indivíduos antes e um mês após receberem a vacina fracionada. Isso aconteceu na República Democrática do Congo no ano de 2016, em uma epidemia de febre amarela que assolou o país.
Foi com base nesses testes que se notou a produção de anticorpos contra essa infecção na enorme maioria das pessoas que tomaram a injeção. “Descobrimos que a resposta imunológica à dose fracionada foi apropriada entre pessoas com mais de 2 anos”, escreveram os cientistas no artigo. “A proporção de pacientes que apresentaram soroconversão [que passaram a desenvolver anticorpos contra febre amarela] foi similar ao da dose completa”, completam.
O levantamento não incluiu gestantes – portanto, segue a regra de que elas devem tomar a versão tradicional da vacina, desde que com o aval do médico. As crianças também exigem cuidados especiais.
Mais: embora não tenha sido alvo da pesquisa, as reações adversas graves com a vacina fracionada na República Democrática do Congo foram raras, de acordo com dados epidemiológicos. A cada 200 mil doses aplicadas, uma gerava problemas sérios – taxa parecida com a observada durante campanhas que usaram a versão convencional no Oeste africano.

O que é a vacina fracionada e quanto dura

Não tem segredo. Em resumo, essa versão possui apenas um quinto da dose tradicional. Com isso, uma mesma quantidade do imunizante pode ser oferecida a mais pessoas, o que expande o acesso à vacina em situações de surto como o do Brasil.
O artigo científico em questão dá segurança para que as pessoas saiam dos postos de saúde sabendo que estão realmente protegidas contra a febre amarela, mesmo que tenham tomado a versão fracionada.
Mas por quanto tempo dura essa blindagem? Ainda não dá pra saber ao certo, mas, de acordo com outro estudo, pelo menos oito anos. É um tempo mais do que suficiente para revertermos essa crise que ameaça principalmente São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia. Já a vacina tradicional tem eficácia garantida para o resto da vida.

As campanhas de vacinação

O mais importante recado é: se você faz parte do grupo de risco, pode aproveitar as campanhas para tomar a vacina fracionada numa boa. Até o momento, vários municípios de São Paulo e Rio de Janeiro registram taxas de adesão baixas, o que favorece a disseminação da febre amarela.

A Bahia começa sua campanha hoje, dia 19 de fevereiro. E o estado paulista já anunciou que vai prorrogar sua campanha até o dia 2 de março.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Ômega-6 afastaria o diabetes

Essa gordura não tão festejada parece ter agora motivos para se gabar contra a glicemia alta. Será que ela ajuda no tratamento?

Uma revisão australiana de 20 estudos englobando dados de 39 740 pessoas concluiu que, quanto maior o consumo de ácido linoleico (uma versão do ômega-6), menor o risco de encarar o diabetes tipo 2. Já o ácido araquidônico, substância originada a partir dessa gordura – e muito associada a processos inflamatórios -, não traria riscos nem benefícios nesse contexto.
Para o nutricionista Dennys Cintra, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), os achados devem ser vistos com cautela. Encontrado nos óleos de milho e girassol, o ômega-6 é essencial para o organismo.
“Só que, por ser mais comum na natureza que o ômega-3, é mais fácil sofrer pelo excesso do que pela falta dele”, diz. Aliás, é isso o que costuma ocorrer por aqui – e o resultado é inflamação. “No estudo, o ômega-6 pode ter entrado no lugar da gordura saturada, cujo excesso é prejudicial”, raciocina Cintra.

Os diferentes ômegas

Ômega-3: é reconhecido pela ação anti-inflamatória. Chia, linhaça, nozes, óleo de canola e peixes de água fria são as principais fontes.
Ômega-6: o ideal seria ingerir três partes dele para uma de ômega-3. Mas estima-se que chegamos a 50 partes para uma, o que contribuiria para estados inflamatórios.
Ômega-9: outra gordura com habilidade para barrar inflamações. Está no azeite de oliva, no óleo de canola, no abacate e no amendoim.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Marca-passo contra o Alzheimer

Implantado no cérebro, aparelho retarda a evolução da doença e atenua sintomas como falhas de raciocínio e de memória

Crédito: Divulgação
ROTINA LaVonne segue tocando piano, uma de suas atividades preferidas (Crédito: Divulgação)
É um marca-passo como o colocado no coração. A diferença é que ele foi implantado no cérebro e, pela primeira vez, melhorou a qualidade de vida de pacientes com a doença de Alzheimer. Médicos da Universidade de Ohio, nos Estados Unidos, anunciaram os primeiros resultados de um experimento pioneiro baseado no uso de eletrodos para controlar o avanço da enfermidade. As conclusões apontam uma perspectiva promissora, especialmente no auxílio para a realização de tarefas como se vestir, arrumar a casa, fazer comida, ler ou praticar hobbies cultivados ao longo da vida. Coisas simples para quem não tem a doença, mas desafios para seus portadores. “Estamos otimistas”, disse à ISTOÉ o neurocirurgião Ali Rezai, um dos coordenadores do projeto. “Ficamos surpresos em ver como o método melhorou os sintomas.”
Marca-passos são usados para regular a transmissão de sinais elétricos entre uma célula e outra nas áreas onde são implantados. Sem o equilíbrio no fluxo de eletricidade, o funcionamento nessas regiões fica prejudicado. Na neurologia, os dispositivos têm sido utilizados com sucesso no tratamento do Parkinson, atenuando sintomas como tremores e falta de coordenação motora depois de serem colocados em estruturas cerebrais relacionadas a essas funções.
A experiência de Ohio é a primeira a testar sua aplicação clinicamente contra a doença de Alzheimer. Nesse caso, o implante foi feito no lobo frontal. Uma das afetadas pela doença, a região é responsável por funções como julgamento, tomada de decisão e planejamento de ações. Foram apenas três pacientes, entre elas LaVonne Moore, 85 anos. Antes do implante, ela não conseguia mais cozinhar ou se vestir. Hoje, dois anos depois, faz isso sem a ajuda do marido, Tom — além de continuar tocando piano, uma paixão.
Efeito potencial
É cedo para avaliar a importância que o recurso ganhará na luta contra o Alzheimer. “São ainda poucos pacientes e é preciso saber, por exemplo, o custo que ele terá”, afirma o neurologista Denis Bichuetti, membro da Academia Brasileira de Neurologia. Apesar das ponderações, o neurocirurgião Murilo Meneses, do Instituto de Neurologia de Curitiba, acredita no potencial do método. “Ele tem um valor enorme. Abre uma nova possibilidade de tratamento”, diz o especialista. Meneses foi um dos primeiros do Brasil a implantar marca-passos contra o Parkinson e acaba de concluir um artigo no qual apresenta as coordenadas para a implantação dos aparelhos na mesma área agora usada como alvo pelos pesquisadores americanos. Nos EUA, o próximo passo é ampliar o número de pacientes estudados.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Febre amarela é detectada em urina

Descoberta científica poderá auxiliar no aprimoramento dos testes realizados para diagnosticar a doença
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O vírus é alvo de estudos há quase um século, mas não se tinha certeza ainda de que ele poderia ser encontrado no líquido e também no sêmen ( FOTO: AFP )
São Paulo/Washington. Um grupo de cientistas brasileiros conseguiu detectar o RNA do vírus da febre amarela - isto é, seu material genético- na urina e no sêmen de um paciente com a doença.
De acordo com os autores da nova pesquisa, a descoberta poderá ser útil para aprimorar os testes diagnósticos da doença.
O RNA do vírus é normalmente detectado no sangue de pacientes infectados, mas até agora não havia sido observado no sêmen e na urina. A nova pesquisa teve seus resultados publicados na "Infectious Diseases", revista científica dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) do governo dos Estados Unidos.
"Nossos resultados sugerem que o sêmen pode ser um material clínico útil para o diagnóstico da febre amarela e indica a necessidade de realizar testes de urina e coletar amostras de sêmen de pacientes com a doença em estágio avançado", diz o artigo. Esses testes poderão aprimorar os diagnósticos, reduzir os resultados falsos negativos e reforçar a confiabilidade dos dados epidemiológicos durante a atual e as futuras epidemias", escreveram os cientistas.
De acordo com o coordenador do estudo, Paolo Zanotto, pesquisador do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de São Paulo (USP), embora a descoberta também levante alguma preocupação - por mostrar que o vírus permanece no organismo por mais tempo do que se pensava -- o seu impacto é predominantemente positivo.
"É uma boa notícia, porque com a presença do RNA do vírus na urina podemos ter acesso a uma nova ferramenta diagnóstica. Outro aspecto positivo é que aumentamos nosso conhecimento sobre a biologia do vírus. O vírus já é estudado há quase 100 anos e ainda não se sabia que ele podia ser detectado na urina e no sêmen.
Embora o RNA do vírus tenha sido encontrado também no sêmen, o cientista diz que ainda não é possível saber se o vírus é realmente excretado pelo sêmen, ou se a detecção ocorreu porque a uretra do paciente estava contaminada com o vírus excretado na urina.
Segundo o pesquisador, o caso estudado indica que o período de transmissibilidade do vírus é maior do que se pensava. Hoje aceita-se que esse período tem início entre 24 horas e 48 horas antes do aparecimento dos sintomas e se estenderia por mais uma semana.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Produto que mata as larvas do Aedes aegypti é lançado no Brasil

Ele vem na forma de tabletes, funciona por 60 dias e acaba com o inseto por trás de dengue, zika e chikungunya

 
Na última década, mais de 12 milhões de brasileiros foram diagnosticados com dengue, doença transmitida por uma picada do Aedes aegypti. Como se não bastasse, o mesmo mosquito começou a ser o culpado por outras infecções no nosso país, como o zika e o chikungunya – e ainda há o temor de a febre amarela, por ora restrita aos ambientes silvestres, migrar para as cidades e ser mais um vírus que depende desse inseto para circular no meio urbano.
Nesse verdadeiro cenário de guerra, surge uma nova estratégia para combater essa ameaça tripla (quase quádrupla): a empresa BR3, do Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec) da Universidade de São Paulo, começou a vender recentemente o DengueTech, um comprimido que é colocado em recipientes que tenham água parada, como vasos de plantas, calhas, flores grandes e cascas de árvores.
DengueTech, larvicida dengue como matar mosquitpApós algum tempo, o tablete se dissolve e libera uma série de proteínas e bactérias da espécie Bacillus thuringiensis israelensis, conhecida pela sigla BTI. Esse micro-organismo mata as larvas do Aedes que se aproveitam daquele espaço. “Esse agente biológico não agride o ambiente, não permite que o mosquito desenvolva uma resistência à sua ação e ainda é recomendado pela Organização Mundial da Saúde”, lista o engenheiro Rodrigo Perez, da BR3.
Embalagens do DengueTech (Foto: Divulgação/SAÚDE é Vital)
O produto, que já está aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), é resultado de três décadas de pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro. “Eles fizeram um trabalho colossal de coletar e estudar inúmeras cepas de bactérias da biota brasileira até descobrirem as potencialidades da BTI”, destaca Perez. Após todo esse período na bancada do laboratório e uma série de ensaios científicos, o composto está finalmente disponível para a população.
Outro ponto positivo do DengueTech está em sua sustentabilidade: ele não interfere no meio ambiente ou na saúde de outros animais. Nem mesmo o pernilongo comum morre se tiver contato com a recipiente onde um tablete foi colocado. Cachorros e gatos também não terão nenhum problema se, porventura, tomarem a água empoçada que recebeu o novo tratamento.

Arsenal ampliado

A novidade se soma a uma série de outras estratégias que tentam controlar o Aedes aegypti, como mosquitos transgênicos e a inoculação de bactérias Wolbachia. Além delas, eliminar qualquer ponto de água parada continua como uma atitude essencial que todos nós devemos fazer sempre em nossas casas e em nossos bairros, principalmente nos meses de verão, quando chove mais em todo o país.
O DengueTech será vendido no site da empresa e em pontos de venda físicos, como farmácias. A embalagem com três tabletes custará R$16,50, enquanto a com dez unidades sairá por R$49,99.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

O que é a síndrome do túnel do carpo e como ficar bem?

Dor e formigamento nas mãos são alguns dos sintomas desse problema, causado pela compressão de um nervo situado entre a mão e o punho. Mas há solução

Já ouviu falar da síndrome do túnel do carpo? De nome difícil, a complicação causa dores intensas, sensação de choque e formigamento nas mãos e pode levar até à perda da função desses membros. A leitora Marta Reis Santana nos pediu para investigar mais a fundo a condição – e descobrir se é possível reverter os seus sintomas. As respostas a essas e outras dúvidas (digitar no computador causa o problema?) você conhece abaixo.

O que é

A síndrome do túnel do carpo surge a partir da compressão do nervo mediano, que passa dentro de uma estrutura batizada de – adivinhe! –  túnel do carpo. Ela fica localizada entre o punho e as mãos. Os incômodos, no entanto, podem se alastrar para os braços e até os ombros.

Sintomas

Nas mãos, dores, formigamento e sensação de choque são os mais comuns. Mas, se o problema não for tratado adequadamente, pode levar a outras complicações. “Com o tempo, a síndrome do túnel do carpo dificulta os movimentos, limitando o uso das mãos e causando atrofia”, explica Francisco Gondim, médico da Academia Brasileira de Neurologia.

Causas

Segundo o especialista, é possível que o perrengue apareça sem um fator específico. Mas há algumas questões que, se observadas com cautela e tratadas adequadamente, ajudam a evitar que a condição se instale nas mãos. E olha que a atenção deve ser redobrada entre as mulheres, mais predispostas à complicação. Eis os principais fatores de risco:
  • Hipotireoidismo
  • Acromegalia
  • Diabetes
  • Obesidade
  • Artrite reumatoide
  • Fraturas
  • Gravidez

Como evitar?

De acordo com Gondim, prevenir a obesidade e o diabetes através de um estilo de vida saudável é chave. O diagnóstico precoce das causas da síndrome do túnel do carpo também ajuda, porque permite um tratamento adequado dos fatores de risco.
“Também é importante evitar traumas na região das mãos”, completa o neurologista. Portanto, não se esqueça dos equipamentos de segurança para, por exemplo, andar de moto ou skate.
É possível que movimentos repetitivos, como a digitação no computador, estejam por trás da síndrome. Contudo, isso ainda não foi comprovado. Por outro lado, esses gestos podem, sim, agravar dores na mão e no pulso.

Tratamento

O mais tradicional envolve o uso da órtese de punho para a região, além de injeções de corticoesteroides. O doutor enfatiza, porém, que, nas formas mais graves, é necessária a realização de uma cirurgia para aliviar a compressão do nervo mediano.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Mamografia para câncer de mama: o que é e quando fazer esse exame

O teste é rápido e detecta os tumores no seio, mas não deve ser feito pelas mulheres a qualquer momento. A partir de quantos anos ele é indicado?

Usada para diagnosticar o câncer de mama, a mamografia é um exame não invasivo que captura imagens do seio feminino com o mamógrafo. Esse é um aparelho que usa a mesma radiação do raio-x tradicional, mas os feixes são projetados levando em conta a anatomia das mamas.
Para que funciona: para detectar tumores malignos na mama. Mas, sozinho, o exame dificilmente bate o martelo.
Geralmente o médico pede uma biópsia para confirmar eventuais suspeitas. Outros exames de imagem (mais caros e específicos) também podem entrar em jogo.
Como é feito: o mamógrafo é composto de duas placas que se encontram e pressionam o seio por poucos segundos para fazer as imagens, que saem registradas em uma chapa. O resultado fica parecido com o do raio-x convencional – porém, claro, com os seios em foco.
Nenhum preparo é necessário, exceto não ir de vestido. Isso porque a parte de cima da roupa terá que ser removida temporariamente para o exame.
Os resultados da mamografia: o mastologista, médico que cuida das glândulas mamárias, usa uma escala chamada BI-RADS para interpretar os achados nas imagens. São sete categorias, que vão de normal a tumor maligno ou benigno. O laudo pode vir ainda como inconclusivo, quando é preciso realizar novas investigações.
A partir de quantos anos fazer: é o ponto mais polêmico da mamografia. Alguns doutores costumam pedi-la dos 40 anos de idade em diante para todas as mulheres, anualmente. Tal postura é apoiada pela Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) e pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
Já o governo dos Estados Unidos sugere começar aos 45 anos. E o Instituto Nacional de Câncer (Inca) recomenda o rastreamento somente entre os 50 e os 69 anos, com mamografias a cada dois anos caso não haja nenhuma alteração.
A instituição alerta para o risco de sobrediagnóstico e resultados falso-positivo (quando o teste acusa uma alteração que não existe). Esses pontos podem levar a cirurgias e tratamentos desnecessários.
Diante dessas controvérsias, o ideal é conversar com um profissional. A partir da sua história familiar e de outras características pessoais, ele vai traçar a estratégia de rastreamento mais eficaz para você.
Cuidados e contraindicações: correu nas redes sociais um vídeo afirmando que a mamografia causa câncer de tireoide. Trata-se de um mito: ela é segura e necessária. Mas isso não quer dizer que deva ser feita à revelia, porque envolve radiação, ainda que em doses baixas.
Mais: mulheres com peitos maiores e mais densos (principalmente abaixo dos 40 anos), merecem um olhar mais atento. Às vezes, o tecido mamário dificulta a visualização do mamógrafo.
Fonte: Ricardo Luba, ginecologista do Hospital e Maternidade Leonor Mendes de Barros, em São Paulo.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Febre amarela pode virar uma endemia em São Paulo: o que fazer

A circulação do vírus no estado deve virar uma constante, o que exige cuidados a mais com vacinação e controle dos mosquitos nos próximos dias e anos

É possível que a febre amarela vira uma endemia no estado de São Paulo (SP). Ou seja, o ciclo de transmissão deve se manter ao menos pelos próximos anos. Segundo o coordenador de controle de doenças da Secretaria de Estado da Saúde, Marcos Boulos, o fato de macacos terem sido flagrados com o vírus no inverno sugere que essa doença veio para ficar, exigindo cuidados adicionais com a vacina.
Atenção: isso não quer dizer que todo ponto do estado possui um alto risco de infecções, nem que a febre amarela se urbanizou. Por enquanto, ela segue eminentemente restrita a zonas próximas a mata, onde os mosquitos Sabethes e Haemagogus a transmitem para os macacos e os seres humanos das redondezas.
A diferença é que, ao contrário de anos atrás, o vírus não é mais um visitante. Ele chegou às regiões de mata e, possivelmente, vai virar uma ameaça crônica a quem visita essas regiões ou cidades relativamente próximas a elas. Não há, por ora, risco iminente de a febre amarela ser transmitida pelo Aedes aegypti.
De qualquer forma, essa possibilidade de endemia em São Paulo reforça a necessidade de pensar na vacinação. No momento, os governos federal, estadual e municipal já estão conduzindo campanhas para bloquear o surto.
A ideia é, com o auxílio de doses fracionadas, impedir que a febre amarela se alastre para regiões urbanas. Mas a Secretaria do Estado de Saúde de São Paulo já disse que almeja imunizar praticamente toda a população sem contraindicação contra essa doença.
Da sua parte, é vital checar se a região em que você mora ou trabalha oferece um risco de contágio para febre amarela. Vai viajar? Então pesquise se o destino teve surtos ou se é uma zona com indicação para a vacina.
No mais, repelentes e outras formas de bloquear a picada dos mosquitos são bem-vindas. Principalmente a quem não pode tomar a vacina.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Como tratar a febre amarela?

A vacina ajuda a prevenir a doença. Mas como fica o tratamento de pessoas infectadas e com sintomas de febre amarela? SAÚDE responde

 
O primeiro passo para tratar a febre amarela direito é, assim que surgirem os sinais, buscar apoio médico. Os especialistas vão usar remédios para controlar os sintomas e, em casos graves, internar o paciente em UTIs, onde é possível contornar melhor as complicações enquanto o corpo enfrenta o vírus.
Portanto, não há um medicamento antiviral específico para vírus transmissor da febre amarela. Se a temperatura corporal sobe demais, o expert pode receitar um antitérmico. Se a dores ficam intensas, analgésicos costumam entrar em cena. E por aí vai. Há inclusive pessoas que pegam febre amarela e nem percebem: o organismo dá conta do recado sem sequer manifestar sintomas acentuados.
Uma coisa bem importante é se manter hidratado e repousar. E, acima de tudo, procurar um hospital quanto antes.
O tratamento fica mais complexo diante dos 15% de casos graves, que muitas vezes vêm acompanhados de icterícia, aquela coloração amarelada da pele e dos olhos. Nessa fase, o risco de hemorragias internas e falência de órgãos (rins, fígado…) põe a taxa de letalidade entre 20 e 50%.
Aí não tem jeito: a internação em uma UTI é mandatória. Só em um ambiente desses os médicos conseguem controlar as complicações, repor o sangue perdido por hemorragias e eventualmente “substituir” funções de certos órgãos com máquinas enquanto o organismo debela o vírus.
Agora um alerta: medicações anticoagulantes, a exemplo da aspirina, devem ser evitadas em qualquer infectado com febre amarela. Isso porque aumentam o risco de hemorragia.
E o tratamento das raríssimas reações adversas graves à vacina? Ele segue a mesma lógica da estratégia contra a febre amarela em si. Ou seja, ir para o hospital, manter-se hidratado, descansar e lidar com os sintomas que surgirem.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Conexão mente e corpo

Por que métodos como a acupuntura, a ioga e a meditação alteram o funcionamento do organismo e promovem benefícios cada vez mais valorizados nos tratamentos tradicionais

Crédito: Gabriel Reis
AUXÍLIO Liaw, Filippo e Maria Angela: agulhas contra o câncer (Crédito: Gabriel Reis)
A procuradora de Justiça Maria Angela Gadelha de Souza, 57 anos, é uma das pacientes do recém-inaugurado Núcleo de Bem-estar e Terapias Integrativas da BP, Beneficência Portuguesa de São Paulo, o mais novo dos principais hospitais brasileiros a implantar um serviço que combina métodos como acupuntura, meditação, ioga e massagem em seu rol de recursos. No tratamento contra as metástases oriundas do câncer de pâncreas que teve diagnosticado em 2013, além de remédios tradicionais. Maria Angela recebeu a prescrição de sessões de acupuntura. “Elas aliviam a dor e me ajudam a ter tranquilidade”, afirma a paciente.
Além de ser usada contra o câncer, a medicina integrativa está incorporada ao tratamento de doenças cardiovasculares, reumatológicas (artrite reumatóide, por exemplo), ansiedade, depressão e dor crônica, entre outras. A adoção das técnicas por centros de referência do Ocidente demorou décadas para acontecer porque, durante anos, perduraram o antagonismo e desconfiança mútuas de um lado em relação ao outro. Os médicos não acreditavam em seus efeitos e os terapeutas rejeitavam os conceitos por trás da medicina ocidental. Por isso, a prática de coisas como a meditação ou a ioga era considerada alternativa. Ou seja, substituía, e não complementava.
Atração de opostos
A ciência apagou a distância e aproximou o que até então eram opostos. Foi construída uma sólida linha de pesquisas cujos objetivos são aferir e buscar explicações para os resultados das práticas. Os benefícios começaram a ficar evidentes em estudos conduzidos por instituições de renome mundiais. Um dos mais recentes, divulgado há um mês, foi produzido pela Harvard Medical School, dos EUA, uma das pioneiras na implantação de centros do gênero. Após analisarem 32 outras pesquisas, os cientistas concluíram que opções como a acupuntura e a meditação funcionam na melhora do estado clínico dos pacientes, e particularmente, no alívio da dor crônica. “A medicina integrativa reduz a necessidade de remédios”, escreveu Yuan-Chi Lin, um dos autores da revisão.
Ainda há muito o que descobrir sobre o tema, mas está claro que a conexão entre a mente e o corpo é mais forte do que se imaginava. Pensamentos, sensações, atitudes diante do estresse promovem alterações na forma de o organismo operar. “A cabeça cura o corpo de maneira bem eficiente”, afirma o médico Liaw Chao, um dos coordenadores do novo serviço da Beneficência Portuguesa .
A acupuntura é a técnica com maior evidência científica de benefícios. Há vários mecanismos fisiológicos que os explicam, mas o principal é seu impacto no cérebro. Está comprovado que a colocação das agulhas nos pontos certos equilibra o funcionamento de algumas áreas, como o sistema límbico, onde dor e emoções são processados. Por isso, além do efeito analgésico, o método auxilia no combate à ansiedade e à depressão e até na diminuição dos sintomas do autismo, como demonstrou investigação da Hong Kong Baptist University feita com crianças afetadas pela síndrome. Sintomas como dificuldade de interação social e elevada sensibilidade à luz e ao barulho foram atenuados com a técnica.
“Pacientes tinham vergonha de contar que usavam as técnicas. Agora, a relação está transparente” Ricardo Caponero, oncologista (Crédito: Marco Ankosqui )
Meditação e ioga também causam modificações cerebrais positivas. “Os dois métodos focam nos mecanismos da consciência e reduzem o processamento de informações não essenciais”, explica Peter Hall, da Universidade de Waterloo, no Canadá. “As pessoas ficam aptas para escolher facilmente o que deve ser prioritário.” Isso dá ao cérebro mais energia, assegurando combustível para que funções como o raciocínio e a memória se aprimorem. “Práticas como essas, que trazem contato com a respiração, são muito efetivas”, diz o endocrinologista Filippo Pedrinola, da coordenação do núcleo da Beneficência Portuguesa. Concentrada nos objetivos que importam, a pessoa consegue resposta superior nos tratamentos.
A comprovação dos benefícios permite que os pacientes tenham acesso ao que realmente funciona, sem risco de serem seduzidos pelo charlatanismo. E torna menos problemático um assunto antes evitado nos consultórios. “Grande parte dos pacientes tinha vergonha de contar que usava as técnicas no tratamento”, afirma o oncologista Ricardo Caponero, coordenador do Centro de Medicina Integrativa do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo. “Agora, a relação está mais transparente.”