sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Operação fará 30 cirurgias gratuitas de fissura labial


A iniciativa mudou a vida do pequeno Jonas Nunes Pequiar, que aparece na foto ao lado da mãe Jessica Brenda Nunes da Silva Pequiar ( Foto: Reinaldo Jorge )
Olhares preconceituosos e curiosidade invasiva. É o que Jessica Brenda Nunes da Silva Pequiar vivenciava quando saía com seu filho, Jonas Nunes Pequiar, que nasceu com lábio bilateral, um tipo de fissura labiopalatal. Em 29 de outubro de 2016, dia em que completou 1 ano de idade, Jonas passou por sua primeira cirurgia de reconstrução através da Operação Sorriso.
A iniciativa chegou à Fortaleza há 20 anos, e comemorará esse marco no sábado (28). A partir das 8h, serão selecionados 30 pacientes para receberem cirurgias gratuitas que serão realizadas entre 30 de outubro e 2 de novembro, no Hospital Infantil Albert Sabin (HIAS).
Os procedimentos incluem operações regulares de lábio e palato, mas trazem uma novidade em relação aos anos anteriores: o enxerto ósseo. É um procedimento padrão para casos em que há falta de estrutura óssea próxima à gengiva, em pacientes com idade a partir de sete anos que possuem dentição mista, e será realizado pela Operação Sorriso na capital cearense pela primeira vez.
A ação reúne 60 voluntários profissionais, do Brasil e de outros países, incluindo cirurgiões, anestesistas, pediatras, enfermeiros, dentistas, fonoaudiólogos e psicólogos. Será "um coro multidisciplinar", como descreve Ana Stabel, diretora executiva da Operação Sorriso.
Para participar, basta comparecer à seleção no dia 28, levando documentos de identificação do paciente e também do responsável, caso o paciente seja menor de idade. No mesmo dia, os 70 pacientes operados no ano passado poderão retornar para a consulta pós-operatória de 1 ano.
Amparo
A iniciativa mudou a vida de Jonas Nunes Pequiar logo no começo. "Ano passado, ele foi agraciado com uma das vagas para fazer a cirurgia. Ele fechou os dois lados do lábio e levantou um pouco o nariz", explica Jessica Brenda Nunes da Silva Pequiar, mãe do bebê. Com quase 2 anos de idade, Jonas ainda precisa passar por outras cirurgias, dentre elas, a de enxerto ósseo, que só poderá realizar mais tarde.
Até os 18 anos, ele continuará a ser acompanhado por um dentista e um fonoaudiólogo do Hospital Infantil Albert Sabin. Apesar do longo processo, Jessica descreve a experiência da primeira cirurgia como "algo lindo".
"A equipe da Operação Sorriso é esplêndida. Eles estiveram comigo em todos os momentos, foi incrível. Eles me deram suporte da hora em que eu entrei no hospital até hoje. Eles ligam perguntando como está o Jonas, como eu estou. Eu me senti muito amparada", relata Jessica.
A Operação é uma organização médica voluntária global que, neste ano, junto ao Hospital Infantil Albert Sabin, zerou a fila de espera para cirurgia de correção de fissura labial. "Com isso, podemos criar outros polos de cirurgia dentro do Estado", diz a diretora executiva Ana Stabel. (Colaborou Barbara Câmara)

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Câncer infantil: desafios em busca da cura

Conheça as particularidades do tratamento de tumores em crianças

Poucas pessoas sabem, mas o câncer infantil é mais agressivo e invasivo quando comparado aos tumores que acometem os adultos. Na maioria dos casos, os sintomas são difíceis de ser reconhecidos e facilmente confundidos com os de outras condições, o que provoca atraso no diagnóstico. Logo, não é incomum se fazer a detecção quando a doença já está disseminada.
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), os tumores representam a primeira causa de morte por doença entre crianças e jovens de 1 a 19 anos. Só em 2017 estima-se que ocorrerão 12,6 mil novos casos no Brasil.
O cenário pode soar desanimador, mas existe um lado positivo: pelo mesmo motivo que o câncer infantil é agressivo, as chances de cura também são altas. Isso acontece porque as doenças da infância, caso da leucemia linfoide aguda (LLA), têm uma característica que as torna mais responsivas a certos tratamentos. A LLA ataca os glóbulos brancos e faz com que tais células se multipliquem mais rápido. Ora, são justamente as células em constante proliferação que respondem melhor à quimioterapia.
O diagnóstico precoce também é importante, mas demanda que sejam trabalhados outros fatores essenciais para alcançarmos um modelo de saúde qualificado e favorável à cura do câncer. É o que mostrou um estudo recente e do qual fiz parte publicado na revista científica The Lancet Oncology. Do que falamos? De educação da comunidade, aumento no número de profissionais capacitados, pesquisas relevantes no setor, uma rede de conexão entre hospitais regionais, colaboração internacional e acesso a diagnóstico e tratamentos precisos.
No Hospital Santa Marcelina, onde atuo em São Paulo, já foram atendidos, em parceria com a TUCCA, mais de 2 900 crianças e adolescentes de todo o país desde 1998. Dos 286 casos de câncer diagnosticados na oncopediatria do hospital em 2016, o tipo mais comum foi a LLA, representando 28,4% dos episódios.
Na sequência aparecem o retinoblastoma (um tumor ocular), ocupando 13,7%, e os tumores do sistema nervoso central, com 10,2%. Os linfomas configuram 9% dos casos e, em números menores, vêm os tumores renais, ósseos, sarcomas e o neuroblastoma.
Somente com a união de políticas e estratégias em prol do diagnóstico precoce, do tratamento efetivo e da cura é que vamos prosperar na luta contra o câncer infantil.
*Sidnei Epelman é oncologista pediatra, diretor do Serviço de Oncologia Pediátrica do Hospital Santa Marcelina (SP) e presidente da TUCCA (Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer)

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Trombose e a síndrome da classe econômica: risco negligenciado

Médica que pesquisa e dá aulas sobre o tema relata uma experiência pessoal que teve com a doença

Conhecer novos lugares, culturas diferentes… Enfim, enriquecer social e culturalmente. Viajar é uma maravilha. Mas, como em quase tudo na vida, o turismo também exige cuidados específicos para que as coisas corram conforme o planejado, inclusive em relação à saúde.
Senti um dos efeitos colaterais de uma viagem longa de avião na própria pele. Logo eu, que sou médica hematologista e trabalho na conscientização de pacientes e estudantes de medicina sobre os perigos da trombose, fui vítima de uma embolia pulmonar grave ao voltar de Lisboa. Mal desembarquei da aeronave e tive de ser socorrida pela equipe do Aeroporto Internacional de Guarulhos.
A embolia pulmonar é uma das manifestações da trombose venosa que mais trazem risco à vida. Ela ocorre quando um coágulo, geralmente formado nas veias dos membros inferiores, se desprende e se aloja nos vasos pulmonares, obstruindo-os.
A imobilização prolongada das pernas, a posição sentada e o aperto provocado pelos assentos de avião fazem o sangue nas veias dos membros inferiores estagnarem. E essa alteração no fluxo sanguíneo é tida como a principal causa da trombose venosa. Aliás, a tal trombose venosa, quando relacionada à viagem, é conhecida como “síndrome da classe econômica”.
Esse quadro é pouco falado no Brasil – e aí que reside o perigo. Um estudo prospectivo observacional publicado em 2008 calculou que o risco de embolia pulmonar grave imediatamente após um voo aumenta com a duração da viagem e varia de zero em voos com duração inferior a três horas a 4,8 eventos por milhão em viagens com duração acima de 12 horas.
O 13 de outubro é o Dia Mundial da Trombose e temos que aproveitar a data para falar sobre os problemas decorrentes da doença e conscientizar a população. Especificamente no caso da síndrome da classe econômica, a maioria das companhias aéreas internacionais inclui, em sua revista de bordo ou em vídeo, orientações a respeito da prevenção da trombose venosa. Estou falando de recomendações de exercícios que devem ser feitos durante a viagem, do estímulo à ingestão de líquidos. Só não vale bebidas alcoólicas, que causam justamente o efeito contrário.
Infelizmente, no Brasil nenhuma das companhias aéreas nacionais com trajetos acima de quatro horas apresentam em qualquer local informação similar. Além disso, ao menos em minha experiência pessoal, a equipe médica de atendimento do aeroporto não se mostrou preparada para considerar o diagnóstico e muito menos para conduzir um tratamento adequado.
Foi meu conhecimento médico que me permitiu analisar o quadro e organizar a minha própria remoção para um hospital local, onde foi confirmado o diagnóstico e iniciado o tratamento. Aqui é importante lembrar que o serviço médico da operadora aeroportuária estatal está incluso na taxa de embarque, que é paga por todos os passageiros.
Esta é uma situação particularmente preocupante, tendo em vista o incremento do número de passageiros em viagens aéreas internacionais. De acordo com dados do Ministério do Turismo, mais de 10 milhões de passageiros desembarcaram de voos internacionais no Brasil em 2016. Baseados nessa informação, temos uma dimensão de quantas pessoas podem ter desenvolvido trombose venosa sintomática, embolia pulmonar grave e embolia pulmonar fatal imediatamente após o voo.
É fundamental que, no Dia Mundial da Trombose, disseminemos ao máximo essas informações para que os nossos representantes na esfera legislativa atentem para a situação e trabalhem em um projeto de lei que torne obrigatória a inclusão das informações de prevenção e tratamento desse problema em voos de duração superior a quatro horas.
Também é urgente a necessidade de capacitação das equipes médicas dos aeroportos para o pronto atendimento e diagnóstico das diversas manifestações da trombose venosa, em especial da embolia pulmonar. De novo, estamos falando de uma condição potencialmente fatal.
Dessa maneira, todos teremos a garantia de que as únicas recordações de nossas viagens serão as felizes.
*Médica hematologista, PhD em Hematologia pelo Imperial College London, Universidade de Londres e pós-doutora em Epidemiologia Clínica pela Universidade de Leiden, Países Baixos.
Professora associada da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais.
Membro do Conselho Diretor da International Society of Thrombosis and Haemostasis (ISTH) e coordenadora do ISTH Regional Training Center em Belo Horizonte. 

terça-feira, 24 de outubro de 2017

Febre amarela na cidade de São Paulo: o que é importante saber

Um macaco encontrado morto com o vírus dessa doença iniciou um plano emergencial de vacinação na capital. Fique por dentro

  A febre amarela voltou a ganhar os holofotes graças a confirmação de que um macaco encontrado morto no parque do Horto Florestal, na zona norte de São Paulo, tinha o vírus. De lá para cá, milhares de paulistas que moram na região foram vacinados – e o governo estadual pretende imunizar pelo menos 1 milhão de habitantes dessa parte da cidade.
Por medidas de segurança, tanto o Horto Florestal quanto o parque da Cantareira foram fechados. Outros macacos mortos estão sendo investigados pelas autoridades.
Alguns postos das redondezas já estão disponibilizando vacinas contra a febre amarela. Aí é uma questão de os moradores irem a esses estabelecimentos e tomarem a dose.
O secretário estadual da saúde, David Uip, reitera que não há motivo para pânico. Segundo ele, as autoridades estão agindo rapidamente para minimizar qualquer risco de espalhamento da doença e dificilmente o problema atingirá a capital como um todo.
Vale ressaltar que o estado inteiro de São Paulo contabiliza 22 casos e 10 mortes por febre amarela. E nenhum representa um “caso urbano” – ou seja, transmitido dentro de grandes centros urbanos. Não há episódio desses no estado desde 1942.

Eu devo me vacinar?

No momento, a recomendação é que as pessoas da região que nunca se vacinaram busquem os postos de saúde para se proteger. E, claro, sempre é bom adotar medidas contra os mosquitos transmissores da febre amarela.
Que bichos são esses? Eminentemente, o Haemagogus e Sabethes, comuns em regiões rurais. Via de regra, eles picam um macaco infectado e, aí, podem repassar a doença para os seres humanos que estão nos arredores.
O famigerado Aedes aegypti, endêmico nas cidades grandes, também é capaz de espalhar a doença, mas isso é menos comum. De qualquer forma, evitar o acúmulo de água parada é, sim, uma ótima medida nesse momento. Até porque também afasta dengue, zika e chikunungya.
E um recado: a vacina da febre amarela pode gerar efeitos colaterais, embora isso seja raro. Até por isso, não é indicada para gestantes, mulheres que estão amamentando, crianças com menos de 6 meses e pessoas imunodeprimidas.
O ideal é conversar com um médico para ver se você se beneficiaria da vacina. A orientação geral é a de que não há necessidade de tomá-la, a não ser que você vá para uma região com risco de infecção. E um adendo: a Organização Mundial da Saúde defende que apenas uma vacinação ao longo da vida já garante proteção. E o governo brasileiro incorporou essa regra este ano.
Em fevereiro, essa mudança ainda não havia acontecido por aqui. E foi nessa época que a SAÚDE gravou uma entrevista com o infectologista Jessé Alves, da Sociedade Brasileira de Infectologia, sobre os sintomas da febre amarela e o que fazer para se proteger. Claro que, de lá para cá, a situação mudou. Mas vale a pena rever para se resguardar:

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Cachorros podem ter Alzheimer?

Bichos mais velhos também estão sujeitos ao declínio cerebral. Nosso colunista explica essa história e no que ficar atento em casa

 
O aumento da longevidade dos cães observado nas últimas décadas fez com que algumas doenças típicas de animais idosos se tornassem mais prevalentes na medicina veterinária. A exemplo do que acontece em nós, humanos, problemas como diabetes, insuficiência cardíaca e insuficiência renal são cada vez mais frequentes nos velhinhos de quatro patas. Mas e o Alzheimer, que tanto nos preocupa em função do envelhecimento da população? Será que algo similar existe no mundo animal?
Pois saiba que cachorros podem sofrer com uma condição chamada Síndrome da Disfunção Cognitiva (SDC), popularmente conhecida como Alzheimer canino. Estudos recentes mostram que a incidência vem aumentando, e sabemos que o envelhecimento constitui fator determinante para o aparecimento e progressão da doença.
Uma pesquisa com 189 cães demonstrou há pouco que 28% dos animais entre 11 e 12 anos de idade apresentavam algum sinal da síndrome. Entre os cães com idades entre 15 e 16 anos o número de acometidos saltou para 68%!
E como reconhecer essa doença? Como identificar seus sinais? No mundo animal, de fato, fica mais complicado detectar alterações já que nossos amigos não se expressam falando. No entanto, os donos de cães idosos podem ficar alertas para indícios importantes de mudança comportamental, como urinar ou defecar em locais não habituais, portar-se de maneira não usual ao interagir com outros bichos ou pessoas, tornar-se muito agressivo ou, por outro lado, apático.
A qualidade do sono também pode ser afetada e o animal não raro apresenta períodos mais prolongados de vigília ou sono. A desorientação espacial, por sua vez, costuma vir acompanhada de dificuldade para percorrer rotas conhecidas, distinguir a saída da casa ou prever a hora da alimentação. Perda auditiva, redução da acuidade visual, olhar fixo e diminuição da resposta a comandos aprendidos são outros sinais de alteração neurológica correlacionados à síndrome.
Diante de suspeitas, a recomendação é procurar um especialista. O diagnóstico é realizado por um neurologista veterinário, que descartará outras condições por meio do exame clínico, testes de sangue, tomografia e ressonância magnética, além da resposta ao tratamento instituído.
Algumas medicações podem ser usadas para melhorar o impulso da transmissão entre os neurônios, outras atuam aumentando a vasodilatação cerebral (isto é, o aporte de sangue e nutrientes ao cérebro). Costuma-se associar aos remédios uma dieta especial para retardar a progressão do declínio neurológico. Alimentos ricos em antioxidantes, como vitaminas E, C e do complexo B, a gordura ômega-3 e o aminoácido L-carnitina tendem a ingressar no cardápio.
Inclusive, pensando nesse nicho, a multinacional suíça Nestlé lançou recentemente no Brasil uma ração específica para cães com alterações neurológicas, a Proplan Neurologic Care, primeiro produto com essa indicação no mercado pet mundial. Enriquecida com ácidos graxos de cadeia média, oferecem uma fonte alternativa de energia para melhorar a função cerebral. Segundo o fabricante, resultados de melhora de sintomas neurológicos podem ser observados em até 90 dias do início da nova dieta.
Nesse meio tempo, diante do crescimento das doenças neurodegenerativas entre os bichos mais idosos, estudos têm sido realizados com o objetivo de incrementar o diagnóstico e o tratamento. Tudo para ampliar a qualidade de vida dos pets que entram ou entrarão na terceira idade.

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

“Fonte da juventude” é achada no intestino de idosos saudáveis

Estudo foi atrás do que pessoas mais velhas e cheias de saúde têm em comum com gente de 30 anos ou menos para descobrir as bases da longevidade

Como envelhecer com saúde? Essa pergunta é tão importante quanto difícil de ser respondida. Sabemos que estilo de vida é tão crucial quanto a genética, mas não o quê, exatamente, faz a diferença entre uma velhice difícil e uma velhice saudável.
Foi exatamente isso que um estudo sino-canadense se propôs a investigar. Eles reuniram mais de mil voluntários chineses, de 3 a 100 anos. Todos eles tinha uma coisa em comum: eram muito saudáveis para sua faixa etária.
O que os cientistas queriam entender, especificamente, era o que os idosos com a saúde acima da média tinham em comum com os voluntários mais jovens que também eram supersaudáveis. E encontraram semelhanças enormes no intestino deles: os quase centenários tinham a flora intestinal (ou microbiota) quase idêntica a dos voluntários de 30 anos.
Vale lembrar que, no nosso intestino, carregamos a maior concentração de micro-organismos encontrada no corpo humano. Esse conjunto de bactérias é altamente personalizado e pode ter uma baita influência no metabolismo e no bem-estar em geral
O que acontece é que, conforme envelhecemos, a diversidade da microbiota diminui. Se há um desequilíbrio, bactérias oportunistas podem ganhar espaço excessivo e provocar estragos.
O que o novo estudo descobriu é que essa queda na biodiversidade do intestino não é obrigatória – e que a microbiota que se mantém tão diversa quanto a de um corpo 60 anos mais jovem está fortemente associada a uma saúde melhor para o corpo inteiro.
Como sempre, ainda falta entender se é uma questão de causa ou consequência. Será que os idosos com um estilo de vida saudável vivem melhor e, portanto, tem uma microbiota mais diversa? Ou então seria ao contrário: as bactérias do intestino (que são tão essenciais) ajudam a manter o corpo todo em melhor estado?
A resposta dessa pergunta é essencial para entender quão longe se deve ir para alcançar as mesmas condições intestinais do idosos supersaudáveis.
A opção mais simples, é claro, são mudanças na alimentação e probióticos, mas tem médicos apostando tanto na importância do intestino para o organismo que testam transplantes fecais para “reviver” a flora intestinal de pessoas com problema de saúde. E você, aceitaria um supercocô para melhorar seu organismo?

terça-feira, 17 de outubro de 2017

Quase um pâncreas: nova tecnologia promete ajudar os diabéticos

O dispositivo, apelidado de "pâncreas artificial", dá conforto aos pacientes afasta o risco de complicações, como hipoglicemia

  A empresa de tecnologia Medtronic acaba de lançar no Brasil o Sistema MiniMed 640G, uma espécie de pâncreas artificial concebido para pessoas com diabetes tipo 1. Ele faz a monitorização constante do organismo e libera doses de insulina, responsável por colocar o açúcar dentro das células — os portadores da condição não produzem esse hormônio.
Caso o aparelho perceba uma diminuição da glicemia, interrompe automaticamente o funcionamento da bomba. Assim, evita que episódios de hipoglicemia deem as caras e causem encrencas sérias. “O sistema está mais indicado para crianças, gestantes, pessoas com grande variação nas taxas ou quedas muito severas da glicose e aquelas com problemas nas terminações nervosas”, lista o endocrinologista Marcio Krakauer, da Sociedade Brasileira de Diabetes.
Pâncreas artificial para diabetes
(Ilustração: Rodrigo Damati/SAÚDE é Vital)

Altos e baixos

Confira as taxas-limite de glicemia para se manter em segurança
Hipoglicemia
Abaixo de 70 mg/dl
Faixa normal
Entre 70 e 140 mg/dl
Hiperglicemia
Acima de 140 mg/dl

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Suor excessivo nas axilas pode ser doença

Solução vai de remédio até operação

Rio - Aquele cheirinho indesejado nas axilas pode ser um sinal de doença de pele. A bromidrose se instala no corpo quando há umidade gerada pelo suor excessivo, causando condições favoráveis à proliferação de fungos e bactérias. O problema, que atinge homens e mulheres, gera constrangimento e deixa até marca nas roupas, mas a boa notícia é que tem solução. Para eliminar de vez o mau cheiro há desde intervenções cirúrgicas até aplicação de produtos farmacêuticos e dermatológicos.
Suor excessivo Arte O Dia
Segundo o médico cirurgião Ricardo Rocha, algumas pessoas têm um desequilíbrio no sistema nervoso autônomo que provoca o descontrole das glândulas sudoríparas, responsáveis pela produção do suor. Embora o fluído seja inodoro, a persistência dessa condição favorece a formação de colônias bacterianas nas áreas do corpo afetadas, o que torna o mau odor um problema crônico, agravado muitas vezes por fatores psicológicos, como a ansiedade.
"É uma daquelas questões para a qual a ciência e a medicina têm solução, mas não descobriram a causa. O problema é desencadeado por um gatilho, que não se sabe exatamente o que é. O nervosismo não faz a pessoa começar a suar acima do normal, mas faz ela não parar mais. É um ciclo vicioso", explicou.
Para resolver o distúrbio, alguns pacientes recorrem à injeção da toxina botulínica conhecida como Botox nas partes do corpo onde mais se transpira. O tratamento custa entre R$ 2,5 mil a R$ 3 mil e precisa ser feito repetido após um ano aproximadamente, pois perde o efeito à medida em que o tempo passa.
"A substância inibe a ação das glândulas e o paciente quase não transpira no lugar que fez a aplicação por mais ou menos um ano", disse o médico.
Estudante de Publicidade e Propaganda, David Mufarrej, 19 anos, sofria com o suor excessivo nas axilas e optou por fazer o tratamento com Botox há cerca de um ano. Hoje se prepara para fazer novamente o procedimento. "O que mais me incomodava era a marca nas camisas. Tudo piorava em situações que eu ficava nervoso ou ansioso. Mas o tratamento deu certo. Agora só passo desodorante dermatológico", declarou David.
O uso de talco antitranspirante, antibióticos, sabonetes e cremes antibacterianos também ajuda a solucionar o problema. Ricardo Rocha ainda recomenda banhos, reaplicação do desodorante e troca de roupa no meio do dia, para evitar que fungos e bactérias se espalhem. "Em geral, não há efeitos colaterais decorrentes desses tratamento mais convencionais, mas se houver alguma reação alérgica pontual, é possível contê-la com produtos diferenciados".
CUIDADOS NA PUBERDADE
Integrante da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), Sílvia Rodrigues destaca a incidência do mau cheiro em jovens, principalmente os que iniciam a puberdade, fase em que há alta produção de hormônios. "O problema é mais comum do que se imagina. Mas muitas vezes não é nem por causa do suor ou do estágio da vida, e sim por conta de hábitos de higiene inadequados. Tem gente que deixa de se secar bem depois do banho, por exemplo. Os fungos se aproveitam disso". Os tratamentos para adolescentes são os mesmos usados em adultos, de acordo com Sílvia.
"Pessoas que têm familiares com esse problema são propensas a desenvolvê-lo, mas nada impede que ele surja sem que haja histórico familiar", afirmou Rocha.
Os pelos podem ser os vilões no combate ao mau cheiro, pois acumulam a umidade do suor e da água do banho. Desta forma, eles se tornam um ambiente fértil para fungos e bactérias se reproduzirem. Por isso, a depilação é necessária como parte do tratamento nos casos de pessoas com grande volume de pelos no corpo. O cuidado deve ser redobrado ainda mais em regiões onde o clima combina calor e umidade, pois o ambiente favorece ainda mais o suor.
Ao contrário do que muitos pensam, a bromidrose é transmissível, pois os agentes causadores bactérias e fungospodem aderir à superfícies dos tecidos que entram em contato com a pessoa infectada.
"É importante detectar e tratar o mau cheiro porque ele pode ser passado de pessoa para pessoa, quando ocorre compartilhamento de peças de roupa, por exemplo. Se isso acontecer, a pessoa que pega também precisa se tratar com um profissional", esclareceu o médico Ricardo.
O estudante David Mufarej sofria com o suor e optou pelo botox Divulgação
Cirurgia impede transpiração, mas existe efeito colateral 
Aquele cheirinho indesejado nas axilas pode ser um sinal de doença de pele. A bromidrose se instala no corpo quando há umidade gerada pelo suor excessivo, causando condições favoráveis à proliferação de fungos e bactérias. O problema, que atinge homens e mulheres, gera constrangimento e deixa até marca nas roupas, mas a boa notícia é que tem solução. Para eliminar de vez o mau cheiro há desde intervenções cirúrgicas até aplicação de produtos farmacêuticos e dermatológicos.
Segundo o médico cirurgião Ricardo Rocha, algumas pessoas têm um desequilíbrio no sistema nervoso autônomo que provoca o descontrole das glândulas sudoríparas, responsáveis pela produção do suor. Embora o fluído seja inodoro, a persistência dessa condição favorece a formação de colônias bacterianas nas áreas do corpo afetadas, o que torna o mau odor um problema crônico, agravado muitas vezes por fatores psicológicos, como a ansiedade.
"É uma daquelas questões para a qual a ciência e a medicina têm solução, mas não descobriram a causa. O problema é desencadeado por um gatilho, que não se sabe exatamente o que é. O nervosismo não faz a pessoa começar a suar acima do normal, mas faz ela não parar mais. É um ciclo vicioso", explicou.
Para resolver o distúrbio, alguns pacientes recorrem à injeção da toxina botulínica conhecida como Botox nas partes do corpo onde mais se transpira. O tratamento custa entre R$ 2,5 mil a R$ 3 mil e precisa ser feito repetido após um ano aproximadamente, pois perde o efeito à medida em que o tempo passa.
"A substância inibe a ação das glândulas e o paciente quase não transpira no lugar que fez a aplicação por mais ou menos um ano", disse o médico.
Estudante de Publicidade e Propaganda, David Mufarrej, 19 anos, sofria com o suor excessivo nas axilas e optou por fazer o tratamento com Botox há cerca de um ano. Hoje se prepara para fazer novamente o procedimento. "O que mais me incomodava era a marca nas camisas. Tudo piorava em situações que eu ficava nervoso ou ansioso. Mas o tratamento deu certo. Agora só passo desodorante dermatológico", declarou David.
O uso de talco antitranspirante, antibióticos, sabonetes e cremes antibacterianos também ajuda a solucionar o problema. Ricardo Rocha ainda recomenda banhos, reaplicação do desodorante e troca de roupa no meio do dia, para evitar que fungos e bactérias se espalhem. "Em geral, não há efeitos colaterais decorrentes desses tratamento mais convencionais, mas se houver alguma reação alérgica pontual, é possível contê-la com produtos diferenciados".

*Reportagem do estagiário Gustavo Côrtes, sob supervisão de Angélica Fernandes

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Aprovado novo tratamento contra dois tipos agressivos de câncer

Medicamento recém-liberado pela Anvisa reforça o arsenal de recursos para combater tumores no pulmão e na bexiga

Considerada pela Sociedade Americana de Oncologia Clínica como o maior avanço contra o câncer em 2017, a imunoterapia é a aposta da farmacêutica Roche no controle de casos em que a doença acomete o sistema respiratório ou o urinário. Seu novo lançamento no Brasil – o remédio atezolizumabe – segue os princípios dessa nova forma de combater a doença, ajudando o próprio organismo a detectar e agredir as células cancerosas em vez de tentar atacar o tumor diretamente.
Aprovada esta semana pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a molécula da vez é indicada para os seguintes cânceres: carcinoma urotelial, que afeta a região da bexiga, e o CPNPC, que se desenvolve a partir de células específicas do pulmão. Em ambos os quadros, a droga – aplicada na veia – só entra em cena se o paciente não responder bem a alternativas como a quimioterapia.
Em um dos estudos que justificaram sua liberação, o tratamento foi colocado à prova em 1 225 pacientes de várias partes do mundo. O aumento da média de sobrevida entre esses voluntários foi de aproximadamente 13,8 meses – o equivalente a 4,2 meses a mais do que o registrado com a quimioterapia.
Tal eficiência foi comprovada frente a tumores avançados, que se espalharam para outras áreas. É algo digno de nota, em especial se considerarmos que o subtipo de câncer de pulmão tratável com o atezolizumabe representa até 85% dos diagnósticos de sua categoria.
Mais: é difícil de identificar o tal CPNPC precocemente. Afinal, ele ganha espaço lentamente e, via de regra, seus sintomas demoram a se manifestar. Fora que tosse, dor no peito, rouquidão e por aí vai são comumente negligenciados.
A questão, agora, é discutir o acesso desse e de outros imunoterápicos para a população como um todo. Hoje, nenhum deles está disponível na rede pública.

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

7 pontos mais importantes para a saúde de crianças e adolescentes

Manifesto reúne as principais medidas que devem ser adotadas a fim de garantir o bem-estar dos mais de 60 milhões de brasileiros com até 19 anos

  Crise econômica. Poucas vezes se falou tanto sobre esse assunto quanto agora. E é com base nesses debates acalorados que a Sociedade Brasileira de Pediatria acaba de divulgar tópicos que seus membros consideram fundamentais para o desenvolvimento de crianças e adolescentes.
O posicionamento alerta para o impacto do cenário atual no bem-estar dos brasileirinhos, além de sugerir melhorias em campos como direitos humanos, segurança pública e relações familiares. Abaixo, listamos as que estão diretamente ligadas à saúde. Confira:
1. Na rede pública, a quantidade de leitos de internação deve ser suficiente para atender à demanda de crianças e adolescentes.
2. Medicamentos e outros insumos essenciais para um bom atendimento em hospitais, postos de saúde e afins precisam estar à disposição.
3. Pais ou responsáveis têm de manter o calendário de vacinação dos filhos em dia.
4. Pediatras são os protagonistas da assistência a crianças e adolescentes.
5. Amamentação, alimentação saudável, atividade física e outros bons hábitos devem ser incentivados por meio de campanhas de conscientização, criação de espaços e suporte profissional.
6. Questões de segurança infantojuvenil precisam estar entre as prioridades para evitar mortes, acidentes, traumas e exploração.
7. Ao ver televisão ou navegar na internet, crianças e adolescentes devem ser protegidos de conteúdos sexuais, violentos ou impróprios.
O que achou desses tópicos? Dê sua opinião!

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

A quantidade de exercício físico que afasta a depressão

Até 12% dos casos desse problema psiquiátrico poderiam ser prevenidos com um pouco de atividade física por semana

 
Pesquisadores do Reino Unido, Austrália e Noruega concluíram que uma hora de exercício por semana é o mínimo necessário para evitar que você desenvolva depressão.
O estudo analisou dados da população norueguesa de um amplo levantamento conduzido entre os anos de 1984 e 1997. O objetivo era avaliar a relação entre a atividade física e problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão.
Antes desse trabalho, já se sabia que o exercício minimizava os efeitos negativos da depressão. Mas esse estudo liga a atividade à prevenção dessa condição. E, de quebra, oferece uma estimativa do mínimo necessário para colher esses frutos.

Segundo o levantamento, 12% dos casos de melancolia profunda poderiam ser evitados se todas os voluntários suassem a camisa por ao menos uma hora na semana. E outra coisa bacana: pelo visto, mesmo intensidades leves já dão conta do recado.
Para conduzir o estudo, foram analisados dados de 33 908 mil pessoas sem registros prévios de problemas de saúde mental. Elas foram observadas, em média, por 11 anos.
Este conteúdo foi publicado originalmente no site da Exame.com

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

O mal que mais mata nas UTIs brasileiras

Metade dos internados em instituições públicas e privadas com infecção generalizada morre. Por que o Brasil não consegue controlar a sepse?

RAFAEL CISCATI
Quando Tancredo Neves morreu, em abril de 1985, os jornais informaram que o presidente sofrera “um processo infeccioso abdominal”. Por 38 dias, o país acompanhou apreensivo a trajetória de deterioração da saúde do presidente, que nem sequer chegara a tomar posse – de como suas dores abdominais evoluíram para um quadro de insuficiência renal e cardíaca. Tancredo morreu no dia 21. Ele foi uma das muitas vítimas ilustres da sepse, antigamente chamada septicemia e popularmente conhecida como infecção generalizada. Mais de 30 anos depois, o mal que matou Tancredo ainda é o que mais mata nas UTIs brasileiras. Segundo uma nova pesquisa feita em todo o país, o problema afeta, de maneira similar, instituições públicas e particulares – e mais de 20% delas não contam com estrutura mínima para tratar adequadamente dos doentes.
Pacientes internados em Unidade de Terapia Intensiva (UTI): metade dos pacientes com sepse morrem nos hospitais brasileiros (Foto: Thinkstok)
A sepse ocorre quando o organismo reage de maneira exagerada a uma infecção que não consegue combater. Há casos em que o problema inicial parece banal – como uma infecção urinária. Na tentativa de expulsar o invasor – ou quando a pessoa não recebe o tratamento adequado –, o corpo dá início a um processo inflamatório violento que acaba por comprometer seu próprio funcionamento. Se diagnosticada ainda nos estágios iniciais, a sepse pode ser controlada. Mas não é esse o destino da maioria das pessoas que, no Brasil, sofre com a doença.
Segundo um levantamento organizado por pesquisadores da Universidade  Federal de São Paulo (Unifesp) e do Instituto Latino Americano de Sepse (Ilas), ao menos 30% dos leitos de UTIs no país são ocupados por pacientes com a doença. Desses, 56% acabam morrendo. Dos 420 mil casos tratados por ano, 230 mil terminam em morte. É muito: nos Estados Unidos, por exemplo, 29% dos doentes com sepse morrem. “É um problema mais fatal que infarto do miocárdio”, diz Flávia Machado, professora da Unifesp e uma das coordenadoras do novo estudo.
Fatal e, até agora, pouco compreendido. O levantamento organizado por Flávia, publicado na revista científica The Lancet, foi o primeiro a apontar, de maneira acurada, qual o alcance da sepse no Brasil.  Para fazer isso, os pesquisadores dividiram o país em 40 regiões. Coletaram os dados de 15% das UTIs em cada uma dessas regiões até chegar ao número de 230 instituições participantes. Eram UTIs públicas e privadas, com perfis econômicos variados. O esforço resultou na amostra mais representativa já examinada sobre o assunto no país: “Nos trabalhamos anteriores, acabavam participando somente as melhores unidades”, diz Flávia. Esses estudos com instituições-modelo criavam um retrato enganoso e apontavam que cerca de 40% dos pacientes com sepse morriam – e não os 56% descobertos. Flávia constatou, ainda, que o problema afeta, igualmente, instituições públicas e privadas. Nas públicas, 56% dos pacientes morrem. Nas privadas, 55%.
Os números ruins do Brasil são resultado de uma combinação infeliz de fatores que, dentro e fora das UTIs, atrasam o início do tratamento e comprometem seus resultados. Dentro das UTIs, pesa contra os pacientes a infraestrutura inadequada de muitas instituições. Os dados coletados por Flávia demonstram que elas estão mal preparadas para oferecer aos doentes cuidados básicos – como acesso aos antibióticos adequados e a outros itens simples, como soro fisiológico. A equipe de pesquisadores elaborou uma lista com oito desses itens e práticas importantes para o tratamento de sepse para avaliar a qualidade da infraestrutura oferecida pelas UTIs. Em 23% delas, faltavam dois ou mais dos itens essenciais. Eram instituições de “baixo recurso”, na classificação dos pesquisadores. “E estar internado em uma UTI de baixo recurso aumenta as chances de o paciente morrer”, diz Flávia. É esse o destino de 66% dos pacientes internados com sepse nesse tipo de UTI.
Mal sem distinções (Foto: Época )
Fora das UTIs, a falta de informação sobre a doença aumenta a letalidade do problema. De acordo com uma pesquisa Datafolha feita em parceria com o Ilas em março deste ano, 86% dos brasileiros jamais ouviram falar sobre sepse e não são capazes de reconhecer os sintomas da doença. São sinais como confusão mental, tontura, febre e sonolência, acompanhados por uma infecção. O resultado é que as pessoas demoram a procurar ajuda. Educar a população é importante porque, ao contrário do que comumente se pensa, quase metade dos casos de sepse começa fora do ambiente hospitalar: 40% dos pacientes desenvolvem o problema em casa.
Dos outros 60%, mais da metade desenvolve durante o atendimento de emergência ou durante a internação no hospital. Daí, vão para a UTI. “São casos que derivam de infecções por bactérias resistentes, presentes nesses ambientes”, diz Jorge Salluh, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, do Instituto D’Or e especialista em medicina intensiva, que não participou da pesquisa. “A sepse é um problema que chama a atenção na UTI, porque é onde as pessoas morrem. Mas ele começa fora.” Nessas situações, é importante que a equipe do hospital esteja pronta para agir com presteza. O problema é que também lhe falta preparo: uma pesquisa feita pelo Ilas em 2010, com 917 médicos, concluiu que somente 27,3% deles eram capazes de diagnosticar a sepse. E que 44% não estavam preparados para diagnosticar a sepse grave, uma evolução do problema. Isso retarda o início do tratamento – e reduz as chances de sobrevivência. Do grupo acompanhado pelos pesquisadores da Unifesp, somente 53% dos pacientes receberam o antibiótico adequado já na primeira hora de manifestação da doença – uma prática considerada básica. Sinal de que o diagnóstico demorou a ser feito: “Em média, os hospitais levam seis horas para reconhecer que aquele paciente internado desenvolveu sepse”, diz Flávia.
Quando falta o básico  (Foto: Época )
Há maneiras de reverter esse quadro: “Nós temos bons exemplos, no Brasil, de hospitais que foram capazes de reduzir a mortalidade. E que podem servir de modelo”, diz Flávia. Outro estudo organizado por ela, e publicado ainda neste ano, mostrou que, por vezes, bastam intervenções simples. Flávia acompanhou um conjunto de 63 UTIs (25 públicas e 38 privadas) por quatro anos, enquanto elas implementavam programas de melhoria de qualidade. Ao fim desse período, 58% das instituições particulares tinham se tornado capazes de oferecer os antibióticos essenciais ao tratamento dos pacientes – e haviam reduzido a mortalidade de 47,6% para 27,2%. Nas instituições públicas, o resultado não foi tão bom – somente 15,7% delas, ao final dos quatro anos, eram capazes de oferecer esses antibióticos. Não houve redução significativa da mortalidade.
A percepção política do problema também parece mudar. No começo deste ano, a  Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu a sepse como um problema global. Foi um passo importante: esse reconhecimento significa que a entidade passará a cobrar de seus países-membros políticas públicas específicas para a sepse para tratar do problema e informar melhor suas populações. “É preciso que se crie, para a sepse, a mesma cultura que se criou em torno do infarto do miocárdio”, diz Salluh. “Todo mundo sabe que as chances de uma pessoa que sofreu um infarto sobreviver aumentam se ela for atendida precocemente. O mesmo vale para a sepse.”
Para saber, alguns dos estudos citados:
* The epidemiology of sepsis in Brazilian intensive care units (the Sepsis PREvalence Assessment Database, SPREAD): an observational study
* Two decades of mortality trends among patients with severe sepsis: a comparative meta-analysis
* Survey on physicians’ knowledge of sepsis: do they recognize it promptly?

* Quality improvement initiatives in sepsis in an emerging country: does the institution’s main source of Income Influence the results? An analysis of 21,103 patients

terça-feira, 3 de outubro de 2017

Saúde em pauta: papo de homem

Machismo e preconceito devem ser esquecidos quando o assunto é o combate ao câncer

Rio - Vamos ter hoje, leitor, um papo de homem para homem. Leitoras são bem-vindas na nossa prosa, mas a coluna se propõe a abordar um tema que tem a ver com os homens. E o machismo precisa ficar de fora da conversa. O preconceito, também. No Brasil, o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens; fica atrás apenas do câncer de pele não melanoma. O Instituto Nacional do Câncer (Inca) estimou 61.200 casos novos de câncer de próstata em 2016.
O toque retal não vai dizer se você é mais ou menos homem Divulgação
Homens a partir dos 45 anos com histórico familiar e com 50 anos ou mais devem procurar o urologista. O profissional vai solicitar alguns exames como dosagem sanguínea do antígeno prostático específico (PSA) e ultrassonografia das vias urinárias e próstata. A Sociedade Brasileira de Urologia recomenda ainda que esses homens realizem o toque retal, um exame simples e que dura poucos minutos. O médico, por meio desse procedimento, pode notar alterações na próstata, como aumento do volume, nódulos e modificações na consistência da glândula. Deixar de fazer esse exame pode custar caro. O toque retal não vai dizer se você é mais ou menos homem que o sujeito que está ao seu lado. E o urologista será capaz de orientá-lo para realizar exames mais conclusivos, por exemplo, a biópsia da próstata.
O câncer da próstata tem cura quando descoberto precocemente. Nem sempre o exame de sangue PSA é capaz de fechar um diagnóstico. Os tratamentos propostos variam: vão desde o acompanhamento da doença sem qualquer medicação por um tempo até a cirurgia ou o uso da radioterapia e outros medicamentos. E nas últimas décadas se avançou muito, aumentando ainda mais a chance de cura.
O mais importante, especialmente no Brasil, ainda é vencermos o preconceito dos homens procurarem o urologista. Infelizmente ainda são comuns os casos de câncer da próstata que chegam aos hospitais em estágios avançados, sem necessidade. O que podemos fazer para mudar essa realidade? Falar abertamente, como ocorre na campanha Novembro Azul, sobre uma questão que não tem nada a ver com sexualidade, e salvar vidas.
Quem assina o artigo é o dr. Carlos Eduardo, cardiologista

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Passionalismo, a nova doença urbana

Ao menor sinal de rejeição ou diante de um mero descontentamento, homens estão matando suas mulheres como nunca se viu no Brasil — e, em alguns casos, assassinam também os filhos e se suicidam

Crédito: Divulgação
TIROS NA MADRUGADAO casal Cláudia e Cristian: ela insistia para que o marido tomasse a medicação necessária; ele a matou a tiros e se suicidou (Crédito: Divulgação)
“Diz que eu não sou homem, diz agora que eu não sou homem, quem aqui não é homem?”, berrou diversas vezes André Luis Santos para Mizaelly Mirelly da Silva, uma jovem de vinte e dois anos. “Vo… cê não… é… ho… mem”, balbuciou Mizaelly com a frase entrecortada pela dificuldade de respirar ao estar sendo estrangulada. Seriam as suas últimas palavras. Morreu. O algoz foi seu namorado. Ao constatar que o corpo da parceira já estava inerte, André matou também o filho de sete meses. Fugiu. Foi preso pela polícia de São Paulo, onde o crime aconteceu. E confessou: “estrangulei porque eu não queria esse filho e ela não abortou”. O caso se deu no bairro do Jaguaré, predominantemente de classe média.
Um sofisticado condomínio no elegante bairro paulistano de Perdizes se transformou em palco de outro trágico e desesperador espetáculo de passionalismo na fria e garoenta madrugada do último domingo. O delegado de polícia Cristian Sant’Ana Lanfredi, em licença médica de seu cargo na Assembleia Legislativa de São Paulo devido a um severo quadro de depressão, saiu de seu apartamento com a filhinha de seis anos no colo e foi ao apartamento vizinho onde mora o padrinho da menina. Pediu então para que cuidasse da garota, alegando que sua mulher, a juíza do Trabalho Cláudia Zerati, acabara de abandonar o casamento, saíra do prédio e ele precisava localizá-la. A afilhada, assim que se viu em segurança, relatou outra história: sua mãe e seu pai haviam discutido muito porque ele se recusava a tomar a medicação antidepressiva prescrita pelo médico. Era tal o nervosismo da criança, que o padrinho pressentiu o pior. Desceu à garagem para conferir se os dois carros do casal estavam lá — e estavam. Chamou então o zelador, foram ao apartamento de Cristian e, coração na garganta, abriram a porta que estava destrancada: horror, sangue, morte. Segundo a polícia, Cristian matou a esposa com um tiro na testa e, na sequência, suicidou-se também com um tiro, disparado no lado direito da cabeça. Um dos relógios do apartamento marcava seis horas da manhã.
ESTÚPIDA EPIDEMIA
PURA PERVERSÃO O parceiro de Mizaelly a mandava falar “diga que não sou homem” enquanto a estrangulava. Ao vê-la inerte, matou o filho de sete meses
A cidade de São Paulo, a casa do Jaguaré e o condomínio das Perdizes são apenas um fechar de foco sobre um Brasil no qual se instaura e se espalha uma nova, estúpida, triste e psicótica epidemia — a epidemia da passionalidade. Em todo o País, nos últimos doze meses, estatísticas do Ministério da Justiça apontam que duas mil e oitocentas mulheres foram assassinadas por seus companheiros, numa questão de gênero, o chamado feminicídio. De volta a São Paulo, onde quatro mortes de mulheres aconteceram enquanto a polícia dava os primeiros passos na investigação do crime do condomínio já citado, estima-se que um feminicídio ocorra a cada quatro dias — setenta concentrados nos últimos meses, entre eles o que vitimou a auxiliar de enfermagem Nathalia dos Santos Silva. O criminoso fugiu.
Crimes passionais sempre aconteceram, e uma de suas motivações prevalentes é o ciúme — ou seja, o tolo ditado de que “o ciúme é o perfume do amor” pode até ser verdadeiro, mas desde que tal sentimento se mantenha num contorno de racionalidade. Fora disso não há fragrância, há cheiro de pólvora, vela e caixão. O que ocorre nos dias atuais, no entanto, é que o assassino mata a mulher, mata os filhos e, algumas vezes, se suicida, extinguindo da face da Terra o seu núcleo familiar — deixando-se claro que a maioria ainda prefere fugir. Mergulhando na mente dos que se matam após o crime, é como se fossem absurdas Medeias pelo avesso: na tragédia grega, a clássica personagem assassina os filhos para punir Jasão (que pretende abandoná-la), deixando nele a dor da perda das crianças. Quanto aos homens-Medeia do presente, eles punem a mulher, matando-a; punem os filhos, matando-os; e, paradoxalmente punem a si próprios, suicidando-se.
É inevitável que se indague a interlocutores e aos botões da nossa própria alma o que leva uma pessoa bem sucedida profissionalmente, família consolidada e situação financeira estável, a cometer homicídio seguido de suícidio. O que move as mãos para o gesto extremo e criminoso de matar? E a naturalidade da indagação vem do vício em considerar, numa imaginária escala de risco para esse tipo de comportamento, que a probabilidade de sua ocorrência esteja mais ligada a indivíduos em condições de vida simples e que não escalaram sequer a metade da pirâmide social. A resposta, quem nos dá, é a dura realidade, na medida em que apresenta aos nossos olhos tantos cadáveres de mulheres — e, eventualmente, de suas crianças. Tudo isso se deve à passionalidade que anda à flor da pele, à passionalidade que cega e vê numa rosa vermelha, por exemplo, não uma rosa vermelha, mas, sim, uma hemorragia. Vê no corpo da mulher que trai ou que parte não mais um corpo animado, mas, sim, um aboslutamentente nada.
No Rio de Janeiro, amigos e familiares do engenheiro Nabor Coutinho de Oliveira Júnior podiam esperar tudo na vida, menos que ele matasse a sua mulher, Lais Khouri. Pois ele a matou, e matou os dois filhos e se suicidou. A esposa morreu com facadas; as crianças a golpes de martelo; ele saltou do décimo oitavo andar do condomínio de altíssimo luxo em que a família morava na Barra da Tijuca. Faca, martelo, mergulho no ar, isso é mais que violência, é mais que a suprema irritabilidade a vazar pelos poros, é mais… não sei que nome dar. A sociedade está psicótica. E, caso após caso, a surpresa vem incomodar. O empresário Oscar Augusto Ferrão Filho, um dos sócios dos estacionamentos da Rede Park, atendeu mecanicamente o telefone que tocava, porque é assim que todos nós, acostumados a falar ao telefone, o atendemos. Veio a voz de seu irmão João Alberto. Veio a bomba atômica do terror e do macabro: “acabei de matar a minha mulher, a Renata, e agora vou me matar”. Um assessor da empresa correu à cobertura em que João Alberto morava no bairro paulistano do Itaim. Com certeza, gostaria de jamais ter visto o que viu: Renata estava tombada no closet com um tiro na cabeça; no andar de cima, na piscina, boiava, também já sem vida, o corpo do empresário. Em Recife, no bairro do Rosarinho (classe média alta), um namorado não aceitou na semana passada a separação amorosa e matou com crueldade a companheira (nomes preservados pela polícia). A não aceitação do final da vida a dois, aliás, vem sendo também motivo de crime, ao lado do ciúme, pagamento de pensão alimentícia e disputa pela guarda de filhos.
A MORTE PELO TELEFONE João Alberto telefonou para o irmão: “Acabei de matar a Renata (no detalhe), e agora vou me suicidar.”
Na cobertura em que moravam, um corpo tombou no closet, o outro, na piscina
País do feminicídio
Foi esse último fator, por exemplo, que disparou a ira e o revolver com que o PM Maurício Gama fulminou a ex-mulher Celina Mascarenha, na presença do filho. Quando o garoto lhe perguntou o porquê, ele respondeu com ironia e sarcasmo: “é para a mamãe descansar um pouco”. Há, no passado, dois episódios de passionalismo e irracionalidade que alimentaram até a mídia internacional: Doca Street matou a modelo Angela Diniz porque ela o traiu com outra mulher, e o cantor Lindomar Castilho assassinou a sua esposa Eliane de Grammont, porque ela já não o queria como marido. Existe, no entanto, um traço comum envolvendo esses delitos, independentemente de época ou gerações. Em todos eles, o homem feminicista é extremamente narcisista, coisifica a parceira e a transforma em sua propriedade. Não é incomum esse homem não estar nem aí para a mulher, enquanto ela permanece ao seu lado, mas desesperar-se e tornar-se violento se surgir uma ameaça de rompimento. Quando essa mulher, antes dominada e transformada em coisa (espelho narcísico do companheiro, pela psicanálise), cogita despedir-se da relação, o homem portador de tal transtorno vê sua “cristaleira de narcisismo” virar cacos. Não suporta isso, não crê que esses cacos se colarão novamente. E então mata na esperança de conseguir voltar a ser, ele mesmo, o seu espelho. O que está em jogo é prepotência e arrogância. Há no País uma estatística de tirar o ar: cerca de trinta por cento das mulheres assassinadas morreram nas frias mãos de seus parceiros.
Qual a solução para isso tudo? É difícil. Desensandecer uma sociedade e desarraigar essa espécie de comportamento não é o mesmo que tocar meia dúzia de malucos que tomam banho nus em um chafariz público. Mas, pelo menos, sabe-se qual não é a solução — e isso já é muita coisa. No Brasil, decretos e leis brotam do nada e não resolvem, igualmente, nada. A Lei Maria da Penha e a criação do termo feminicídio, por si só, não mudaram e nem mudarão o quadro de passionalidade. Demagogicamente Dilma Roussef criou essa expressão, e daí? O número de mulheres agredidas e mortas só fez aumentar exponencialmente, chegando ao seu auge nas últimas semanas e, infelizmente, sinalizando que seguirá crescendo. O temperamento humano (um dos fatores genéticos que compõem a personalidade) não muda por decreto. Homens portadores de transtorno da personalidade narcísica não deixarão de ter baixíssimo limiar de tolerância ao verem negado, por uma mulher, o menor de seus carpichos. Com certeza, é hora de reabrir o clássico Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Hollanda. Ele definiu e explicou porque a “cordialidade brasileira” é passional, e, assim sendo, pode explodir para o bem ou para o mal. Loucamente estamos vivendo na segunda alternativa. Que o diga a dor eterna dos parentes das mulheres assassinadas, dos parentes dos filhos assassinados, e dos parentes dos assassinos suicidas.
TRAGÉDIA NA BARRA DA TIJUCA O engenheiro Nabor e seus dois filhos: ele assassinou as crianças a golpes de martelo, matou a esposa a facadas e saltou do décimo oitavo andar do prédio onde moravam
Dentro dos contornos da violência a massacrar o gênero feminino pelo único fato de ele ser feminino, embora no caso a seguir não se possa falar direitamente em passionalismo porque isso implica idade adulta, é estarrecedor o que se viu em Goiânia na semana passada. Um garoto de treze anos matou a facadas uma adolescente de catorze, sua vizinha e colega de escola. É influência dos tantos episódios de crimes passionais? O menino fez o que fez porque psiquiatricamente é portador de transtorno de conduta (indicativo de psicopatia na vida adulta)? É de tudo um pouco. À polícia ele disse que assassinou Tamires Paula de Almeida e carregava a mórbida intenção de “acabar com mais duas”. Disse ainda: “foi para ver de luto a sala de aula”. Agora prepare a cabeça, o coração e o estômago: “matei Tamires porque mulheres são mais fracas”. Brasil, é muita dor.
Com reportagem de Thais Skodowski