quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Remédio moderno para artrite reumatoide será oferecido pelo SUS

Esse medicamento, além de ser oral, possui a mesma eficácia dos chamados tratamentos biológicos – e causaria menos efeitos colaterais

A Pfizer anunciou a chegada de um novo remédio para artrite reumatoide na rede pública de saúde brasileira – o citrato de tofacitinibe. Agora gratuito, o tratamento é feito via oral e tem a mesma eficácia dos chamados medicamentos biológicos, que revolucionaram o tratamento dessa doença no passado.
Em 2017, o Ministério da Saúde já havia informado que disponibilizaria o tal citrato de tofacitinibe no Sistema Único de Saúde (SUS) – ele era comercializado no setor privado desde 2015. Porém, apenas agora, no início de 2019, o fármaco de fato será distribuído aos pacientes da rede pública.
O medicamento produzido pela Pfizer trabalha bloqueando a janus quinase, uma partícula proteica. Ela é quem estimula a produção da citocina – molécula responsável pela inflamação nas articulações que caracteriza a artrite reumatoide.

Avanço no combate à doença

O tratamento para a artrite reumatoide é individualizado. Atualmente, quando alguém é diagnosticado com a chateação, são receitados comprimidos conhecidos pela sigla DMARD (medicamentos modificadores do curso da doença). O metotrexato é o mais comum.
Se essa primeira opção não funciona direito, os reumatologistas partem para os biológicos injetáveis. Apesar de bastante eficazes, são caros e causam efeitos colaterais consideráveis em certas situações.
É por isso que o lançamento do citrato de tofacitinibe representa um avanço: ele é efetivo como os biológicos, mas provocaria menos reações adversas. E há ainda a comodidade de ser oral.
“Essas características certamente podem contribuir para a adesão ao tratamento e melhora da qualidade de vida”, afirma a diretora médica da Pfizer, Márjori Dulcine, em comunicado à imprensa.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Dengue tipo 2: São Paulo entra em estado de alerta. E agora?

O sorotipo 2 do vírus está se espalhando pelo estado de SP e pode aumentar o risco de casos graves de dengue. Saiba o que fazer

 
A circulação do sorotipo 2 da dengue em 19 cidades foi detectado em São Paulo e colocou o estado em alerta. Desde 2016, apenas o sorotipo 1 trafegava nos municípios paulistas. Pessoas infectadas por subtipos diferentes em um período de seis meses a três anos podem ter uma evolução para formas mais grave da doença.
De acordo com o governo do estado, foram contabilizados 610 casos de dengue até o dia 15 de janeiro. Em 2018, foram 888 episódios ao longo do mês inteiro.
“Apesar de não ser ainda a maioria dos casos, a dengue tipo 2 está circulando já de maneira mais consistente nos municípios da região de Araçatuba, São José do Rio Preto e um pouco em Ribeirão Preto”, disse o infectologista Marcos Boulos, coordenador de Controle de Doenças da Secretaria Estadual de Saúde.
Dos 645 municípios paulistas, o sorotipo 2 foi detectado em Andradina, Araraquara, Barretos, Bauru, Bebedouro, Catanduva, Espírito Santo do Pinhal, Indiaporã, Ipiguá, Itajobi, Mirassol, Pereira Barreto, Piracicaba, Pirangi, Ribeirão Preto, Santo Antônio de Posse, São José do Rio Preto, Uchoa e Vista Alegre do Alto.
Boulos afirmou também que a dengue tipo 2 não é “especialmente pior”. O risco está relacionado, na verdade, à superposição de vírus (ou à segunda infecção). “Estava circulando o tipo 1 até agora, e quando aparece um novo sorotipo do vírus, pode ser 2, 3 ou 4, aí pode ter uma evolução mais grave entre quem já teve dengue 1”, explicou.

O infectologista esclareceu que não é mais utilizada a nomenclatura dengue hemorrágica, pois nem todos os casos críticos de dengue evoluem com hemorragia.
Segundo Boulos, as equipes de saúde das cidades em que a circulação do tipo 2 foi identificada estão sendo orientadas a dar uma assistência mais cuidadosa aos pacientes com suspeita da doença. “No ano passado, quando só circulava o tipo 1, se o paciente estava bem, se tomava líquido pela boca, nós mandávamos para casa e, se tivesse alguma coisa, ele voltaria”, introduziu. ” Hoje, para liberá-lo, eu preciso de convicção. Talvez deixá-lo mais tempo no hospital para acompanhar a evolução seja bom”, explicou.
O infectologista contou que não há uma explicação para o início da disseminação do novo sorotipo. “É aleatório. Esses vírus circulam no mundo todo. Quando há a presença do Aedes aegypti, que é o nosso caso, se vem uma pessoa que está com dengue 2 ou 3 e é picada pelo vetor, pode replicar esse vírus”, salientou.
A melhor forma de prevenção, portanto, independentemente do sorotipo, é evitar a proliferação do mosquito.
De acordo com Boulos, há quatro sorotipos de dengue, sendo que três circulam no Brasil. Em São Paulo, circulam o 1 e o 2. “Houve uma detecção do tipo 3 agora na região de Araçatuba, mas é um caso só. Se for causar problema, é daqui 2 ou 3 anos, agora não”, concluiu.
Este conteúdo foi produzido pela Agência Brasil.

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Bolsonaro está consciente e estável após cirurgia, diz boletim médico

Bolsonaro está consciente e estável após cirurgia, diz boletim médico
Este vídeo retirado da conta oficial do Twitter do presidente brasileiro Jair Bolsonaro mostra-lo antes de passar por uma cirurgia para remover a bolsa de colostomia que foi colocada após o ataque que sofreu em setembro, em São Paulo, Brasil, em 27 de janeiro de 2019. - Jair Bolsonaro's official Twitter account/AFP
No primeiro boletim médico divulgado pelo Hospital Albert Einstein após o encerramento da cirurgia para retirada da bolsa de colostomia, a equipe médica informa que o presidente Jair Bolsonaro “encontra-se clinicamente estável, consciente, sem dor”. O documento foi divulgado às 17h desta segunda-feira, 28.
A cirurgia, de 7 horas de duração, “ocorreu sem intercorrências e sem necessidade de transfusão de sangue”. Bolsonaro está internado na Unidade de Terapia Intensiva, recebendo medicações para evitar infecção e trombose venosa, segundo a equipe composta pelo cirurgião Dr. Antônio Luiz Macedo, clínico e cardiologista Dr. Leandro Echenique e o Diretor Superintendente do Hospital Israelita Albert Einstein, Dr. Miguel Cendoroglo.
No momento, o general Hamilton Mourão assume interinamente a presidência da República. Bolsonaro deve voltar às atividades em dois dias. Ele está acompanhado da primeira-dama, Michelle, além dos filhos Eduardo, Flávio e Renan, assim como assessores.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Mosquito da dengue também ataca em noites quentes, conclui pesquisa

Descoberta da Fiocruz comprova que vetor da dengue, zika e chikungunya é risco para a população durante o verão calorento

Por FRANCISCO EDSON ALVES
Laboratório da Fiocruz: destaque em vários estudos sobre o Aedes
Laboratório da Fiocruz: destaque em vários estudos sobre o Aedes -
Rio - Antes conhecido apenas por seus ataques diurnos, o Aedes aegypti — vetor da dengue, zika e chikungunya — também ataca à noite, se a temperatura ambiente estiver alta. A descoberta inédita é de pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), que concluíram uma pesquisa sobre o assunto. Pelo estudo, que durou nove anos e envolveu seis cientistas, comprovou-se que os mosquitos Aedes aegypti e Culex quinquefasciatus (o popular pernilongo ou muriçoca) apresentam reações diferentes aos estímulos de luz e calor, fatores fundamentais na regulação do relógio biológico dos seres vivos. Enquanto o Culex guia seus ciclos de atividade e repouso principalmente pelas variações de luminosidade, o Aedes sofre maior influência da temperatura.
"Ao contrário do que se pensava, o Aedes — que se alimenta e coloca preferencialmente seus ovos durante o dia, enquanto usa a parte da noite para repousar — pode estender suas atividades noturnas, caso haja elevação da temperatura. Ou seja, num país em que noites são quase tão quentes quanto os dias, especialmente em regiões como o Sudeste, as possibilidades de transmissão das doenças no período noturno se potencializam", adverte a pesquisadora Rafaela Vieira Bruno, chefe do Laboratório de Biologia Molecular de Insetos do IOC e coordenadora do estudo.
O resultado do trabalho, único do tipo no mundo, acabou de ser publicado na revista científica 'Journal of Biological Rhythms'. De acordo com especialistas, o achado pode ter impacto significativo em dados sobre a disseminação das doenças, uma vez que os padrões de locomoção interferem em aspectos importantes da biologia dos insetos, incluindo metabolismo, gasto energético, bem-estar e eficiência para transmissão de patógenos.
Em quase uma década, os observadores simularam diferentes condições de luz e calor. "Observamos que o Culex, a exemplo de outros insetos, mantém seu padrão noturno de locomoção, independentemente das mudanças de temperatura. Por outro lado, o Aedes troca o dia pela noite, quando confrontado com um dia frio e uma noite quente", detalha a bióloga.
A pesquisa contou com a colaboração dos laboratórios de Biologia Molecular de Insetos, de Mosquitos Transmissores de Hematozoários e de Fisiologia e Controle de Artrópodes Vetores do IOC, além do Instituto de Biologia do Exército (Ibex) e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Entomologia Molecular (INCT-EM).
Ritmos diários
Todos os seres vivos contam com mecanismos para ajustar seus comportamentos aos ciclos diários. A alternância entre vigília e sono é o exemplo clássico do ritmo circadiano (período completo de 24h), mas diversos outros comportamentos são regulados pelo relógio biológico. Nos mosquitos, os mais importantes são atividade locomotora, reprodução, busca pelo criadouro, postura de ovos e busca pelo hospedeiro — ou seja, fonte de sangue para alimentação.
Esses comportamentos são orientados por moléculas conhecidas como genes de relógio, que atuam no cérebro e nos tecidos dos insetos. "O relógio biológico é ajustado pelas condições ambientais. Os ciclos de claro e escuro e de temperatura são, geralmente, os fatores mais importantes para regular os genes de relógio. Na presença das variações ambientais, os ritmos circadianos são sincronizados", diz Rafaela.
Em uma incubadora, os insetos foram submetidos a condições variadas de luz e calor. A locomoção foi monitorada por sensores de infravermelho.
Teste nos mosquitos misturou situações de luz
Para investigar estímulos de comportamento dos mosquitos, os pesquisadores utilizaram condições conflitantes de luz e calor. Em ciclos de claridade a 20ºC e escuridão a 30ºC, o Aedes ajustou seu relógio biológico pela temperatura e passou a se movimentar mais durante a noite.
A chikungunya e a febre amarela apresentaram um aumento substancial em 2018 no estado do Rio. Em comparação a 2017, os casos de chikungunya foram 770% maiores, e podem até chegar ao nível epidêmico ainda neste verão. Já a febre amarela, que era tida como erradicada no país, cresceu 870% nos municípios fluminenses. Sua alta letalidade (30% dos pacientes) preocupa. A dengue, por sua vez, matou de 400 a 2 mil pessoas em 2018, segundo dados da Superintendência de Vigilância em Saúde.
"Cerca de 80% dos focos do mosquito estão nas casas. Ou seja, a redução de doenças está nas mãos de cada morador. Não há melhor solução ainda do que eliminar recipientes com água parada", insiste o infectologista da Fiocruz, Rivaldo Venâncio.
Este mês também, pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) anunciaram a criação de uma armadilha para o Aedes. Trata-se de uma caixa com lâmpadas de LED nas cores azul, amarela e verde, que atraem e matam as fêmeas do mosquito.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Remédio anestésico pode virar tratamento contra a depressão resistente

O fármaco teria ação antidepressiva potente até em casos que não respondem ao tratamento normal. E seria o primeiro psicodélico contra doenças psiquiátricas

Em setembro de 2018, a farmacêutica Janssen apresentou à agência reguladora de alimentos e medicamentos dos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês) um pedido de registro de uso novo para uma medicação antiga. O laboratório solicitou que o anestésico cetamina, sintetizado nos anos 1960, possa ser empregado contra a depressão que não cede aos antidepressivos, chamada de refratária ao tratamento (ou depressão resistente).
Nos últimos 20 anos, um número crescente de estudos sugere que, em doses baixas, a cetamina tem ação antidepressiva potente e rápida. No entanto, de fato a maior parte desses experimentos foi conduzida com poucas pessoas e por um período curto.
De qualquer jeito, uma única aplicação de cetaminada, injetada no músculo ou na corrente sanguínea, seria capaz de reduzir de modo significativo e relativamente duradouro (cerca de uma semana) a tristeza, a desesperança, a falta de motivação, a baixa autoestima e até os pensamentos suicidas que às vezes acompanham a depressão severa.
“Em doses de dez a 20 vezes inferiores às usadas na anestesia, a cetamina é um medicamento que ajuda a tirar a pessoa do fundo do poço”, afirma o psiquiatra Acioly Lacerda, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), um dos pioneiros no uso experimental da droga contra a depressão no Brasil.
Um dos problemas de saúde mental mais frequentes no mundo, a depressão atinge 300 milhões de pessoas, segundo a Organização Mundial da Saúde. Pior: até metade não melhora com os antidepressivos disponíveis.
De olho nesse mercado, a Janssen desenvolveu uma versão da cetamina de aplicação mais simples para indivíduos com depressão. Trata-se de um spray nasal que deverá ser administrado sob supervisão médica.
Caso seja aprovada pela FDA, a cetamina inalável deve se tornar o primeiro composto da classe dos psicodélicos, que alteram a percepção da realidade, a ser adotado no tratamento de doenças psiquiátricas com respaldo de uma autoridade sanitária. Recentemente, tem crescido o interesse de profissionais de saúde mental no uso terapêutico de psicodélicos, muitos em estágio inicial de testes.
O produto da Janssen está em avaliações avançadas em seres humanos: os ensaios clínicos de fase 3, que medem a eficácia do produto, última etapa antes da liberação para comercialização.
Em maio, o grupo coordenado pela psiquiatra Carla Canuso, diretora de desenvolvimento clínico da Johnson & Johnson – empresa que comanda a Janssen –, publicou um artigo online no American Journal of Psychiatry em que mostra os resultados de uma etapa anterior, os ensaios de fase 2.
Realizado com pesquisadores da Universidade Yale, nos Estados Unidos, o estudo avaliou a segurança e deu indícios da possível eficácia do spray. Nele, 68 voluntários com depressão refratária e risco iminente de suicídio foram aleatoriamente indicados para receber duas doses semanais de cetamina intranasal por quatro semanas ou de um composto inócuo (placebo). Os dois grupos também foram tratados com um antidepressivo convencional. Segundo o trabalho, quem recebeu cetamina melhorou mais rápido, até o 11º dia dos testes.
Resultados preliminares de dois ensaios clínicos de fase 3, dos quais participam centenas de pessoas em 60 clínicas e hospitais de diversos países, inclusive do Brasil, foram apresentados em maio no encontro anual da Associação Americana de Psiquiatria e reforçam os achados anteriores.
“Se a resposta da cetamina intranasal continuar superior à do placebo nos estudos que estão terminando, a aprovação da FDA pode vir em até um ano”, diz o psiquiatra Lucas Quarantini, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), que, como Lacerda, participa dos testes do medicamento da Janssen.

A cetamina já vem sendo usada contra a depressão

Mesmo sem aprovação das autoridades de saúde, já ocorre nos Estados Unidos, e mais recentemente no Reino Unido e no Brasil, a prescrição de cetamina injetável contra a depressão refratária. Nesses países, o composto está registrado apenas como anestésico.
Seu uso psiquiátrico não consta da bula e é considerado excepcional (ou off-label). Por essa razão, a indicação da cetamina injetável contra a depressão ocorre por conta e risco do médico, que só deve recomendá-la se os benefícios para o paciente superarem os riscos.
Entre possíveis reações adversas há o risco de dependência e uma elevação temporária da pressão arterial. “O uso off-label é de responsabilidade de cada profissional”, informou a assessoria de comunicação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que regula a venda de medicações no Brasil.
No país, a única empresa produtora de cetamina, o laboratório Cristália, entrou há cerca de oito meses com um pedido na Anvisa para que o tratamento da depressão passe a constar em bula. “Reunimos os estudos mostrando a segurança e eficácia do produto contra a depressão e estamos aguardando”, conta o médico Ogari Pacheco, cofundador do Cristália. Isso, claro, vale para a versão injetável – e não a em spray, da Janssen.
A aprovação pela autoridade sanitária daria respaldo aos médicos, que correm o risco de sofrer ações judiciais. Também representaria um passo inicial para que se torne possível pedir ao Ministério da Saúde a inclusão da cetamina, um remédio barato (a dose custa entre R$ 5 e R$ 10), na lista de medicamentos e procedimentos oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e pelos planos de saúde.

Hoje, clínicas e hospitais públicos que tratam depressão com cetamina dependem do setor de anestesiologia para fazer a compra. Na iniciativa privada, é preciso ter alvará para a aplicação de fármacos injetáveis, além de equipamentos para monitoração cardiorrespiratória e ressuscitação.
Nesses locais, cada aplicação sai por R$ 600 a R$ 1 200 por causa da infraestrutura exigida e do custo da hora das equipes médica e de enfermagem.
Lacerda calcula que cerca de 20 clínicas e hospitais brasileiros (ao menos seis ligados a universidades públicas) já ofereçam o tratamento com cetamina para a depressão. Na Unifesp, ele coordena uma equipe que atua em dois ambulatórios que funcionam todas as manhãs de segunda a sexta-feira e atendem apenas pacientes do SUS.
Nas duas unidades, dez pessoas são tratadas com cetamina por dia. “Em quatro anos, esse consórcio já realizou cerca de 6 mil aplicações de cetamina em aproximadamente 1 200 indivíduos”, conta. “Entre 60% e 65% deles apresentaram melhora considerável”, afirma o pesquisador.
“Há razão para ser otimista com o impacto da cetamina na sobrecarga que a depressão gera na saúde pública”, afirmou o psiquiatra americano John Krystal, professor da Universidade Yale, em entrevista a Revista Pesquisa Fapesp. “Nunca houve um medicamento que agisse de maneira tão rápida, eficiente e persistente.”
Krystal foi um dos pioneiros no uso da cetamina para tratar problemas psiquiátricos e hoje detém uma parte das patentes licenciadas pela Janssen para administração intranasal e seu uso para impulsos suicidas. Em meados dos anos 1990, ele começou a investigar o efeito de doses baixas do anestésico sobre o humor e, em 2000, publicou a primeira evidência de que ele produzia um efeito antidepressivo rápido em humanos.
Este conteúdo foi produzido pela Agência Fapesp

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Ansiedade, estresse e cansaço aumentam o risco de Alzheimer

Estudo revela que sofrimento emocional constante estaria relacionado a uma demência no futuro

Um estudo feito pela Universidade de Copenhague, em parceria com o Centro Nacional de Pesquisa para o Ambiente de Trabalho e o Centro Dinamarquês de Pesquisa sobre Demências, constatou que problemas como ansiedade, estresse e cansaço podem aumentar em até 40% o risco de doenças neurológicas como o Alzheimer.
O sofrimento emocional descrito na pesquisa se refere a um estado conjunto de ansiedade, depressão e irritabilidade. A exposição em excesso aos fatores que desencadeiam essas reações provoca a chamada exaustão vital, condição na qual o paciente experimenta as sensações de fadiga, desânimo e estresse constantemente e numa intensidade crescente.
De acordo com os autores do trabalho, quando esse processo ocorre por volta da quinta década de vida, ele potencializa o surgimento de demências, como a doença de Alzheimer.
Para chegar a essas conclusões, foram utilizados dados de 6 807 dinamarqueses que, entre 1991 e 1994, preencheram um formulário, no qual deveriam responder se sentiam algum dos 17 sinais de exaustão vital (veja a lista completa abaixo). A média de idade deles era de 60 anos e ninguém havia sido diagnosticado com doenças relacionadas a falhas de memória e de raciocínio.
Os experts ainda levaram em conta fatores como sexo, estado civil, estilo de vida (tabagismo, abuso de álcool, obesidade e sedentarismo), baixo nível educacional e comorbidades (diabetes, doenças cardiovasculares e transtornos psiquiátricos), de modo que eles não influenciassem o resultado final.

A mente desequilibra o cérebro

Ao final da pesquisa, foi constatado que a cada item do questionário que era respondido afirmativamente pelos voluntários lá atrás nos anos 1990, a probabilidade da pessoa desenvolver demência em 2016 crescia em 2%.
“Participantes que mencionaram de cinco a nove sinais de exaustão vital tiveram um risco 25% superior em relação àqueles que não apresentaram nenhum. Para quem manifestou de dez a 17 sintomas, o número chegou a 40%”, aponta, em comunicado à imprensa, a cientista que liderou o estudo Sabrina Islamoska, do Departamento de Saúde Pública da Universidade de Copenhague.
Os pesquisadores acreditam que a alta produção de cortisol, hormônio liberado em situações estressantes, explica essa relação. Como o cérebro passa a ficar em constante estado de alerta, o processamento de novas informações é dificultado, contribuindo para a degeneração das funções cerebrais.
Além disso, há o fato de que os problemas psicológicos prejudicam o sistema cardiovascular, o que atrapalha o transporte de nutrientes e oxigênio para os neurônios funcionarem a contento.
Segundo Sabrina, o resultado é importante para alimentar o debate sobre o impacto do sofrimento mental nesse período da vida e suas repercussões na saúde mais para frente.
“O estresse pode ter consequências graves e prejudiciais não apenas para o cérebro, mas para a saúde em geral. Nosso estudo indica que podemos ir mais longe na prevenção da demência”, conclui a especialista.
Confira abaixo as 17 perguntas feitas no trabalho dinamarquês. Se você responder “sim” para muitas delas, fique atento aos seus hábitos de saúde e, se possível, procure um médico para avaliar a sua situação.

Questionário: responda SIM ou NÃO

Você…
  1. …se sente constantemente cansado?
  2. …sente fraqueza?
  3. …sente que não conquistou muitas coisas ou não cumpriu suas metas?
  4. …tem dificuldades em lidar com situações da vida cotidiana?
  5. …pensa estar constantemente num beco sem saída?
  6. …sente uma apatia?
  7. …tem sentimentos de falta de esperança recentemente?
  8. …está com dificuldades para se concentrar?
  9. …se irrita com pequenas coisas que antes não incomodavam?
  10. …acha que é melhor desistir das coisas?
  11. …não se sente bem?
  12. …algumas vezes acha que a bateria do seu corpo está para acabar?
  13. …gostaria de morrer?
  14. …sente que não possui o que precisa para viver bem?
  15. …se sente desanimado?
  16. …tem vontade de chorar?
  17. …sempre acorda exausto?

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Pesquisadores criam nova molécula para tratar insuficiência cardíaca

novação desenvolvida no Brasil pode fazer a insuficiência cardíaca regredir, algo inédito no seu tratamento, que até hoje só freia a progressão da doença

Boa notícia. Um grupo de pesquisadores do Brasil e dos Estados Unidos desenvolveu uma molécula que, ao menos em animais, freia o avanço da insuficiência cardíaca e ainda melhora a capacidade do coração em bombear sangue.
Ratos com quadro de insuficiência cardíaca tratados por seis semanas com a molécula, denominada SAMbA, apresentaram não só uma estabilização da doença – como ocorre com os medicamentos atuais – como uma regressão do quadro.
A insuficiência cardíaca pode ocorrer em consequência de um infarto do miocárdio, quando uma artéria coronária entupida impede a oferta de sangue para parte do coração, sobrecarregando o restante do órgão. Como resultado, ele reduz ao longo do tempo sua capacidade de bombear sangue para o corpo.
Os pesquisadores já fizeram o pedido de patente da molécula e da sua aplicação nos Estados Unidos. No futuro, ela pode eventualmente complementar ou mesmo substituir os medicamentos atuais usados para a insuficiência cardíaca, a maioria criada ainda nos anos 1980.
O estudo com a descrição da molécula foi publicado na Nature Communications. O nome SAMbA é um acrônimo em inglês para Antagonista Seletivo da Associação de Mitofusina 1 e Beta2PKC.
A SAMbA consegue impedir a interação entre uma proteína comum na célula cardíaca, a proteína Kinase Beta 2 (Beta2PKC), e a Mitofusina 1 (Mfn1), que fica dentro da mitocôndria, um compartimento da célula responsável por produzir energia.
Quando interagem, a Beta2PKC desliga a Mfn1, impedindo a mitocôndria de gerar energia. Isso diminui a capacidade das células do músculo cardíaco de bombear sangue. Olha a insuficiência cardíaca dando as caras aí…
“Suspeitamos que a interação entre essas proteínas seja, de modo geral, um processo conservado em outras doenças degenerativas que apresentam disfunção mitocondrial”, disse Julio Cesar Batista Ferreira, professor do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB) e líder do estudo, à Agência Fapesp.
Portanto, o pesquisador espera que a molécula possa ser testada em outras doenças cardiovasculares além da insuficiência cardíaca. Ela, por exemplo, ajudaria a controlar patologias como hipertensão.

Benefícios da SAMbA

A equipe liderada por Ferreira já havia demonstrado que a inibição da interação entre Mfn1 e Beta2PKC, que é produzida em excesso na célula com insuficiência cardíaca, melhorava o funcionamento do coração doente. O problema: as tentativas anteriores de bloquear essa comunicação impediam também outras funções da Beta2PKC que eram benéficas para o funcionamento do órgão cardíaco.
A novidade: a SAMbA faz uma inibição seletiva, focando-se apenas na interação da Beta2PKC com a Mfn1. Suas outras ações, importantes para a saúde, permanecem acontecendo normalmente.
Para explicar a diferença, Ferreira faz uma analogia. A célula cardíaca seria como uma empresa, com várias salas. Já a Beta2PKC seria um office boy, que circula pelo corredor do escritório e entra em diferentes salas, conversando com os gerentes do setor correspondente para realizar seu trabalho.
No entanto, quando entra em uma sala específica, o office boy impede um gerente específico de trabalhar. É o tal Mfn1.
Aí que está: na primeira molécula desenvolvida pelo grupo do ICB, era como se as portas de todas as salas se fechassem. O office boy não atrapalhava mais o gerente Mfn1, mas também não entrava em nenhuma outra sala e a empresa (a célula cardíaca) não funcionava harmonicamente.
O que a SAMbA faz é travar somente o diálogo da Beta2PKC com a Mfn1 presente na mitocôndria. “É como fechar apenas a porta da sala em que o office boy não deve entrar, mantendo a empresa em pleno funcionamento”, explicou Ferreira.

Os experimentos em ratos

Após testes iniciais, os pesquisadores induziram um infarto em ratos. Depois de um mês, o coração deles apresentava um quadro de insuficiência cardíaca. Cada bichinho recebeu então um dispositivo embaixo da pele que liberava pequenas quantidades da SAMbA.
Diferentemente dos animais que ganharam uma substância controle, os que receberam a SAMbA tiveram não só a doença bloqueada como uma melhora na função cardíaca.
“As drogas atuais freiam o avanço da doença, mas nunca fazem com que ela regrida. O que mostramos é que, ao regular essa interação específica, podemos trazer a doença para um estágio mais leve”, diferenciou Ferreira.
O próximo passo é disponibilizar a molécula SAMbA para outros cientistas testarem-na em diferentes doenças e modelos experimentais. Além disso, é necessário examinar a ação da molécula com outros medicamentos usados atualmente no tratamento da insuficiência cardíaca.
“A validação e a reprodução dos achados por outros grupos são críticos no processo de desenvolvimento da SAMbA como possível terapia na insuficiência cardíaca. Para isso, a busca de parceiros dos setores privado e público é necessária”, ponderou Ferreira.
Este conteúdo foi produzido pela Agência Fapesp.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

O que é meningite: causas, sintomas, tratamentos e a vacina

A meningite pode ser causada por diferentes bactérias, vírus e até fungos. Saiba como você pode pegar a doença, os métodos de prevenção e os seus sinais

 
A meningite é uma infecção das membranas que recobrem o cérebro (as meninges), que afeta toda a região e dificulta o transporte de oxigênio às células do corpo. A doença provoca sintomas como dor de cabeça e na nuca, rigidez no pescoço, febre e vômito. Ela pode evoluir rapidamente, em especial entre crianças e adolescentes, para perda dos sentidos, gangrena dos pés, pernas, braços e mãos.
Vários agentes infecciosos causam a meningite. Geralmente, os quadros ocasionados por vírus são menos graves.
Já os que surgem em decorrência de bactérias (ou, raramente, de fungos) são perigosos, com taxa de morte na casa dos 20%. Além disso, dois a cada dez sobreviventes têm de conviver com sequelas, a exemplo de surdez, paralisia ou amputação de membros.
A transmissão do meningococo – principal bactéria por trás meningite – ocorre por meio de secreções respiratórias e da saliva, durante contato próximo com uma pessoa infectada. A boa notícia é que esses agentes não são tão contagiosos quanto o vírus da gripe, por exemplo.
Contatos casuais ou breves dificilmente vão passar a meningite pra frente. Agora, ambientes fechados e cheios de gente contribuem para a transmissão e potenciais surtos.
O tratamento depende do tipo de micro-organismo que gerou a meningite e, principalmente, do estado do paciente. Mas é certo que um atendimento rápido ajuda bastante. Mais importante do que isso, hoje há várias vacinas contra os principais agentes causadores desse problema.


Sintomas e complicações da meningite

  • Dor de cabeça e na nuca
  • Rigidez no pescoço
  • Febre
  • Vômito
  • Confusão mental
  • Gangrena de pés, pernas, braços e mãos
  • Paralisia
  • Surdez

Causas

Um dos principais subtipos dessa infecção é a meningite meningocócica. Ela é deflagrada por diferentes sorotipos da bactéria Neisseria meningitidis, também conhecida por meningococo. Esses subtipos são: A, B, C, W e Y. Hoje em dia, todos podem ser evitados com vacinas.
Outras bactérias também desencadeiam a meningite. Estamos falando de micro-organismos como Streptococcus pneumoniae e o Haemophilus influenza tipo B, que também são afastados por meio da vacinação.
Até certos vírus têm potencial de invadir o cérebro e atacar as meninges. Porém, em geral esses casos são menos graves. Já os fungos que causam a enfermidade são tão graves quanto as bactérias – ainda bem que esse tipo de quadro é raro.

Vacina para meningite e prevenção

A vacinação é a principal forma de evitar a meningite. Segundo a Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim), as vacinas contra os tipos A, B, C, W e Y de meningococo são seguras e eficazes.
A Sbim e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomendam preferencialmente dar a vacina meningocócica conjugada ACWY para crianças aos 3, 5 e 7 meses de vida. As doses de reforço são indicadas em duas ocasiões: entre 4 e 6 anos e aos 11 anos de idade.
E, claro, quem não se imunizou nessas datas deve, ainda assim, buscar sua proteção. Converse com um médico e acesse o site da SBim para mais informações.
Mas… e a vacina contra o meningococo B? Ela também é indicada pela Sbim, mas vem em outra injeção. As quatro doses devem ser dadas, preferencialmente, aos 3, 5, 7 e 12 meses de vida.

Como dissemos, também é bom se proteger dos outros agentes infecciosos. E ficar de olho em locais com surtos de meningite. Principalmente nesses locais, evite locais fechados, com grande número de pessoas.

O diagnóstico

Como a doença evolui rapidamente, os médicos se baseiam nos sintomas para iniciar o tratamento. Mas, claro, eles podem pedir exames de sangue para identificar o agente causador da meningite. Ou mesmo raio-x e tomografia para detectar focos de infecção pelo corpo.

Como tratar a meningite

Se a origem for bacteriana, os médicos via de regra apelam para antibióticos, com o intuito de debelar o agente infeccioso.
Mas o problema da meningite é sua progressão rápida e suas complicações, que não raro surgem em menos de 24 horas. Ou seja, o paciente deve ser encaminhado ao hospital depressa, onde receberá várias medidas de suporte.
A ideia é manter o corpo equilibrado para combater a infecção. E lidar com as complicações rapidamente, assim que elas aparecerem.
Fontes: Sbim, Sociedade Brasileira de Pediatria e reportagem O Cerco À Meningite (Revista SAÚDE, junho de 2015)

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Fatores que envelhecem o cérebro

O estado desse órgão não é necessariamente compatível com sua idade oficial. Alguns problemas podem torná-lo anos mais velho

O psiquiatra americano David Amen se debruçou sobre 31 227 exames de imagens cerebrais de pessoas entre 9 meses e 105 anos de idade para inspecionar o fluxo sanguíneo dentro da cabeça de cada um. Assim, conseguiu definir não só a idade real do cérebro de todos como identificar fatores capazes de acelerar o envelhecimento do órgão.
Entre eles despontaram excesso de álcool e uso de maconha. “As pessoas devem maneirar no consumo se quiserem manter o cérebro saudável”, alerta o médico, que publicou os dados recentemente.
Esquizofrenia, bipolaridade e TDAH também fizeram a idade do cérebro subir. Para não sofrer falhas e danos cognitivos mais cedo, Amen aconselha tratar essas condições quanto antes. Veja abaixo quantos anos alguns problemas podem envelhecer a sua massa cinzenta:

Os grandes culpados pelo avançar da idade cerebral

Esquizofrenia: envelhecimento de 4 anos

TDAH: 1,4 ano
Maconha: 2,8 anos

Abuso de álcool: 0,6 ano
Transtorno bipolar: 1,6 ano
Ansiedade: 0,5 ano

quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Reposição hormonal: qual o método mais seguro para evitar trombose venosa?

Estudo compara as formas de reposição hormonal e conclui que a aplicação pela pele não está ligada ao tromboembolismo venoso, ao contrário das pílulas

Não há apenas uma forma de fazer a reposição hormonal nas mulheres. Das doses aos princípios ativos, passando pelas formas de aplicação, os especialistas podem adotar diferentes esquemas, dependendo de cada caso. Mas qual método teria menor risco de causar a trombose venosa (ou tromboembolismo venoso)? Essa foi a pergunta que um estudo da Universidade de Nottingham, na Inglaterra, buscou responder.
Os pesquisadores observaram as informações médicas de 80 396 voluntárias de 40 a 79 anos que foram diagnosticadas com esse problema. Os dados de outras 391 494 mulheres livres dele foram utilizados para fins de comparação.
Antes de apresentar os resultados, um recado: não se desespere e busque ler a matéria até o fim para compreender os verdadeiros pontos fortes e fracos dessa técnica.
Sem mais delongas, a reposição hormonal oral foi associada a um risco 58% maior de desenvolver a tal trombose venosa. Isso em comparação com mulheres que não receberam doses de hormônio por qualquer via. Além disso, comprimidos que só contém estrogênio foram considerados ligeiramente menos perigosos do que os que combinam mais hormônios.
Para quem não sabe, o tromboembolismo venoso consiste na formação de um coágulo nas veias, que geralmente atinge as pernas e provoca, entre outras coisas, dor e inchaço. O maior problema, no entanto, é quando esse trombo se solta e vai parar lá no pulmão, obstruindo a circulação de sangue. Essa é a temida – e, às vezes, letal – embolia pulmonar.
Agora vamos dar uma boa notícia. De acordo com o trabalho britânico, a reposição hormonal transdérmica (feita com adesivo ou gel colocados na pele, por exemplo) não foi atrelada a um risco maior de trombose venosa.
“No método oral, o estrogênio, ao passar pelo fígado, gera substâncias que favorecem a coagulação do sangue, o que predispõe à trombose. Isso não acontece com a reposição transdérmica”, diferencia a endocrinologista Dolores Pardini, diretora do Departamento de Endocrinologia Feminina Andrologia da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem).
De acordo com a médica, o estudo reforça – com muita qualidade – o que já era sabido entre os profissionais. “As vias não orais de reposição hormonal estão mais em voga hoje em dia”, afirma.
Dolores ainda faz um apelo: “Não podemos usar esses dados para desencorajar mulheres a fazerem a reposição. O que precisamos é individualizá-la de acordo com cada caso”.

Risco de trombose não é certeza

Quando se associa o uso de um remédio qualquer a uma reação adversa, muitas pessoas pensam que esse problema vai acontecer em 100% dos pacientes. Mas não costuma ser assim.
No caso da reposição hormonal com comprimidos, por exemplo, o estudo inglês indica que há um episódio de tromboembolismo venoso a cada 1 076 usuárias. Dito de outra maneira, a maioria das mulheres que toma as pílulas não sofrerá com essa encrenca por causa das doses de hormônios sintéticos.
“É curioso como algumas pessoas têm medo da reposição, mas não se amedrontam com a obesidade ou as varizes, que são mais perigosas nesse sentido”, comenta Dolores, que também é chefe do Ambulatório de Menopausa da Universidade Federal de São Paulo.
Vários fatores aumentam a probabilidade da trombose. Tabagismo, histórico na família e idade estão entre eles. O médico basicamente junta essas e várias outras informações para, então, pesar os benefícios e os riscos de cada forma de reposição hormonal junto com a paciente.

As vantagens da reposição hormonal

Só para não deixar passar: essa estratégia costuma ser válida apenas para quem sofre com uma baixa concentração de hormônios femininos, o que é comum após a menopausa.
Dito isso, as benesses começam pela qualidade de vida. Ora, a reposição ajuda a contornar sintomas como fogachos, secura vaginal, infecções urinárias de repetição. Até as flutuações de humor e a falta de sono – mais frequentes nessa fase da vida – podem ser amenizadas com o tratamento.
Mas não para por aí. “Do ponto de vista médico, o principal benefício é a proteção cardiovascular”, sentencia Dolores. Quando bem empregado, o método auxilia a controlar a pressão e o colesterol, só para citar duas chateações que afetam o coração.
Os ossos também saem ganhando, uma vez que a restituição dos hormônios freia a perda de massa óssea. Como consequência, o risco de osteoporose cai consideravelmente.

Os cuidados básicos com a reposição

Embora o foco aqui seja a trombose venosa, a reposição hormonal já foi ligada a um risco ligeiramente maior de câncer de mama. Apesar de essa probabilidade ser pequena entre a população em geral, mulheres com histórico desse tumor na família devem ter atenção redobrada.
Fora isso, o ideal é iniciar a terapia logo após a menopausa. “Há uma janela de oportunidade. A reposição deveria começar, no máximo, seis ou sete anos após a última menstruação”, afirma Dolores. “Ao demorar mais do que isso, os riscos podem superar os benefícios”, arremata.
São tantas particularidades que uma visita ao médico é fundamental. “Nada de imitar o tratamento da vizinha”, brinca a expert da Sbem.
O recado final de Dolores Pardini é: ao redor dos 50 anos, a mulher já precisaria realizar uma dosagem hormonal e discutir abertamente com o profissional sobre a reposição hormonal. Você já fez isso?

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Exercício protege contra o Alzheimer

Cientistas brasileiros descobrem como a prática de atividades físicas melhora a memória e até ajuda a restaurar as lembranças perdidas por causa da doença

Crédito: Shapecharge
EFEITO DIRETO Ferreira e seus colegas da UFRJ verificaram como nadar ou correr, por exemplo, estimulam a produção, no cérebro, da irisina, hormônio que ajuda na proteção dos neurônios
O exercício físico é considerado pela medicina um remédio natural contra infarto, acidente vascular cerebral, depressão e câncer. Mais recentemente, surgiram evidências dos benefícios para o cérebro, especialmente para conter a perda de memória e o declínio cognitivo que marcam a doença de Alzheimer. Na semana passada, pesquisadores brasileiros confirmaram os efeitos positivos da prática e foram além, mostrando o mecanismo pelo qual exercitar-se regularmente é uma boa forma de prevenção e de tratamento da enfermidade. Em artigo publicado na versão online da revista científica Nature Medicine, a equipe da Universidade Federal do Rio de Janeiro responsável pelo estudo mostrou que a explicação está na irisina, hormônio liberado durante a execução de exercícios. Ela protege o cérebro e restaura a capacidade de memorização perdida com o avanço da doença.
A informação trazida à luz pelos brasileiros é uma peça importante no enorme quebra-cabeça que o Alzheimer ainda representa para a medicina. Ele não tem cura, exame específico de diagnóstico ou um programa bem estabelecido de prevenção. Isso porque, como a maioria das enfermidades neurodegenerativas, sua origem e evolução têm causas complexas e difíceis de serem estudadas com os recursos disponíveis. O problema é que, com o envelhecimento da população, é urgente encontrar meios efetivos de preveni-la e de tratá-la. Hoje, há cerca de 35 milhões de pessoas no mundo com a doença — um milhão no Brasil. Em 2050, serão 135 milhões no planeta, o que a tornará um grande problema de saúde pública.
Mensageiro químico
A irisina ficou conhecida em 2012, quando o biólogo americano Bruce Spiegelman, da Universidade Harvard (EUA), a descreveu como um mensageiro químico produzido pelos exercícios. Veio daí a inspiração para o seu nome, o da deusa grega mensageira Íris. O hormônio transforma o tecido adiposo branco, que guarda energia em forma de gordura, em marrom. Este dissipa energia sob a forma de calor.
Sua descrição inspirou os cientistas brasileiros a estudar qual seria seu papel no cérebro. Foram sete anos de pesquisa envolvendo cobaias, amostras de cérebro extraídas de pacientes mortos e do líquido cefalorraquidiano coletadas de portadores. Eles chegaram a conclusões importantes: o exercício físico estimula a produção de irisina diretamente no cérebro, onde ela mantém preservadas as sinapses, os espaços entre os neurônios por onde trafegam os neurotransmissores (substâncias que fazem a comunicação entre as células nervosas). “Além disso, o hormônio provoca reações químicas dentro dos neurônios importantes para a memória”, explica Sérgio Ferreira, um dos autores do estudo. Todas essas funções protegem o cérebro da perda de capacidade de aprender e de armazenar informações e chegam a restaurar o que havia sido perdido.
Os dados podem embasar a criação de remédios contra a doença. Mas falta muito até lá. O próximo passo dos pesquisadores é compreender melhor a função do hormônio no cérebro. Depois, há ainda etapas de pesquisa em laboratório e, por fim, em humanos. Tudo isso levará anos. Porém, a informação de que o exercício pode prevenir e retardar a doença deve servir, já, como mais um estímulo para a sua prática. Não há um tempo estabelecido (as cobaias fizeram uma hora por dia de natação, durante cinco semanas), mas ao menos adotar a velha orientação de caminhadas diárias de 20 minutos, por exemplo, é um bom começo.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Confirmada bactéria da peste bubônica em São Gonçalo; prefeitura descarta risco de surto

Mulher de 57 anos está internada desde o último dia 22 e exames serão reavaliados pela Fiocruz

Por Gabriel Sobreira
Mulher com a bactéria da peste bubônica está internada há 22 dias no Hospital Luiz Palmier
Mulher com a bactéria da peste bubônica está internada há 22 dias no Hospital Luiz Palmier -
Rio - Uma paciente, de 57 anos, internada no Hospital Luiz Palmier, em São Gonçalo, foi diagnosticada com a presença da bactéria Yersinia pestis, causadora da peste bubônica. A mulher está no isolamento para evitar disseminação da doença. Os exames serão reavaliados pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que pode definir o diagnóstico. O resultado está previsto para sair no próximo fim de semana.
A Prefeitura de São Gonçalo esclarece que não há risco de surto da doença na cidade.
A mulher deu entrada no Pronto Socorro Central no último dia 22 de dezembro, com insuficiência cardíaca e foi encaminhada para internação no hospital, onde foi realizado o procedimento padrão de coleta de amostras oral, nasal, anal e da pele, por ela estar com uma ferida na perna. Também foi coletado sangue. 
A paciente está sendo tratada com antibióticos e é acompanhada em leito de isolamento a fim de evitar a disseminação da doença. Uma equipe do controle de zoonoses da Vigilância Ambiental já foi até a residência da paciente realizar a inspeção de pragas e roedores para evitar o surgimento de animais infectados, mas não encontrou vestígios de roedores na casa.
A peste bubônica, também conhecida como peste negra, é uma doença transmitida por meio de uma bactéria presente em roedores. A contaminação é feita por pulgas que picam o animal infectado e depois os humanos.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Quais são os sintomas da febre amarela e suas complicações?

O diagnóstico precoce da febre amarela ajuda a controlar os casos mais graves. Veja os sintomas dessa doença que chega a comprometer o fígado e se proteja

Quais são os sintomas da febre amarela? A doença é caracterizada por febre, dores no corpo, dor de cabeça, comprometimento do fígado e dos olhos e pele amarelada. Em casos mais graves, causa insuficiência hepática e renal, levando à morte.
A única forma de transmissão do vírus para os seres humanos é a picada de mosquitos. Atualmente, a febre amarela é repassada no Brasil pelos insetos do gênero Haemagogus e Sabethes.
“São mosquitos de zonas silvestres. As pessoas acabam sendo infectadas quando entram em áreas de mata”, explica o infectologista Antônio Bandeira, coordenador do Comitê de Arboviroses da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
Entretanto, a febre amarela também pode ser transmitida pelo Aedes aegypti, comum em regiões urbanas. Segundo as autoridades, isso não acontece desde 1942 – em grande parte por causa das campanhas de vacinação.
Como a doença não raro é fatal, você deve ficar atento aos seus sinais. Quanto mais cedo procurar auxílio médico, maiores as chances de recuperação.

Sintomas da febre amarela

  • Febre
  • Dor de cabeça
  • Dor no corpo
  • Icterícia (condição que deixa os olhos, pele e mucosas num tom amarelado)
  • Comprometimento do fígado
“Num quadro mais brando, os sintomas duram de sete a dez dias”, afirma Antônio Bandeira.

Quais são as complicações?

Se evoluir para sua forma mais perigosa, a febre amarela provoca insuficiência hepática e renal. “A taxa de mortalidade chega a 36%. Se o paciente sobreviver, os sintomas permanecem entre duas e quatro semanas”, alerta o infectologista.
Porém, Bandeira lembra que a gravidade é determinada pela resposta imunológica de cada indivíduo. “Alguns evoluem de forma muito rápida. Após quatro dias, morrem”, lamenta.
Ou seja, a febre amarela é grave – e não tem tratamento específico. O que os médicos podem fazer é lidar com os sintomas e, nas situações críticas, internar o paciente na UTI para tentar preservar suas funções vitais enquanto o próprio corpo debela o vírus.
Por isso, a melhor forma de combater essa chateação é a prevenção. Sim, estamos falando da vacina, que está disponível na rede pública.
“A eficácia é muito alta, entre 95% e 98%. Após uma dose, o efeito dura por toda a vida”, conclui Bandeira.
Também é bom passar repelente, usar roupas compridas e instalar telas nas portas e janelas, especialmente nas zonas de mata.

Como é feito o diagnóstico?

A suspeita surge com as manifestações clínicas. Às vezes, os sintomas por si sós já definem a febre amarela. Em outros casos, são necessários exames de sangue.