sábado, 31 de janeiro de 2015

Excesso de álcool na meia-idade aumenta risco de derrame

De acordo com estudo, consumo da bebida entre os 40 e os 60 anos oferece mais risco de AVC do que fatores como hipertensão e diabetes

Vodca
Bebida: risco de derrame foi maior entre homens que bebiam mais de duas doses por dia (Thinkstock/VEJA)
Beber mais de duas doses de álcool por dia na meia-idade, entre os 40 e os 60 anos, aumenta a probabilidade de sofrer um derrame mais do que fatores de risco tradicionais, como hipertensão e diabetes. A conclusão é de um estudo publicado na quinta-feira no periódico Stroke, da Associação Americana do Coração.

Pesquisadores analisaram dados de 11.644 gêmeos suecos, acompanhados por 43 anos. Eles compararam o impacto do álcool entre pessoas que bebiam pouco (menos de metade de uma dose por dia) a muito (mais de duas doses diárias).

Quase 30% dos participantes tiveram derrame. Entre gêmeos idênticos, aqueles que sofreram um AVC bebiam mais do que seus irmãos que não sofreram, sugerindo que o derrame não estava condicionado à genética e ao estilo de vida na infância e adolescência.

Os autores descobriram que os indivíduos que bebiam muito tinham 34% mais risco de sofrer um derrame do que aqueles que bebiam pouco. Para homens na meia-idade, o alto consumo de álcool também se mostrou um maior fator de risco para AVC do que hipertensão e diabetes. Por volta dos 75 anos, porém, a tendência se inverteu: o diabetes e a pressão alta passaram a ser os maiores vilões do derrame.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Exame reprova mais da metade dos novos médicos em SP

O percentual de reprovação é maior entre os que fizeram o curso em escolas privadas

Agência Brasil
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Mais da metade (55%) dos recém-formados em medicina em São Paulo foram reprovados no exame do Conselho Regional de Medicina do estado (Cremesp). O percentual é maior entre os que fizeram o curso em escolas privadas, 65%. Entre os formados em escolas públicas, 33% foram reprovados.

Há três anos, a prova é obrigatória para quem pretende trabalhar com médico no estado, o que aumentou em sete vezes o número de participantes. O registro, no entanto, não depende do desempenho no exame. Nesta edição, 2.981 egressos foram testados.

De acordo com o presidente do Cremesp, Bráulio Luna, que coordena o exame, os piores resultados foram registrados em áreas básicas da prática médica. Apresentaram percentual de acerto abaixo de 60% (ponto de corte) áreas de conteúdo como clínica médica (52,1%), ciências básicas (54,9%), pediatria (55,9%), clínica cirúrgica (57,2%) e saúde pública (57,4%). Tiveram resultados entre 60% e 70% as áreas de ginecologia, saúde mental, bioética e obstetrícia.

“A maioria dos que não tiveram bom desempenho vai trabalhar em prontos-socorros, pois não ter sido aprovada nas provas de residência médica”, disse Luna.

Para o conselho, a obtenção do registro deve estar condicionada a um bom desempenho no exame. “Se existe [exame] para advogado e contador, por que não para o profissional de saúde?”, questionou Luna.

De acordo com Renato Azevedo, diretor do Cremesp, o exame evidencia o problema da má formação dos médicos de São Paulo e também do Brasil. “Comprovamos isso. Agora, impedir que esses indivíduos exerçam a medicina e coloquem população em risco cabe à sociedade brasileira." Segundo Azevedo, as leis que existem hoje "cerceiam o conselho", que não tem como fazer isso.

Trinta escolas tiveram seus alunos egressos avaliados. Destas, 20 não conseguiram atingir 60% de aproveitamento. Entre as instituições com pior desempenho, 15 não atingiram 45% de acerto e nove não chegaram a 25%. As dez piores escolas são privadas e as cinco melhores, públicas. A instituição que teve melhor resultado apresentou 87,3% de aprovação. O nome das escolas, no entanto, não é divulgado.

Na opinião de Bráulio Luna, a prova não pode ser considerada difícil. De acordo com o índice da Fundação Carlos Chagas, responsável pelo exame, as questões são classificadas como de nível fácil (33%), muito fácil (4,6%), médio (32,4%) e difícil (29,6%).

Desde que se tornou obrigatório, o índice de reprovação não tem diminuído. Em 2012, foram mal avaliados 54,5% dos alunos e, no ano seguinte, 59,2%. O Cremesp avalia uma proposta de monitoramento da vida profissional dos reprovados. Outra medida que deve ser intensificada é a discussão com as escolas com desempenho ruim em uma câmara técnica do conselho. “Esse debate sensibiliza alguns diretores, que pressionam mantenedores desses faculdades para que façam melhorias”, afirmou Luna.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Vírus do ebola pode ter ficado mais contagioso, advertem cientistas

Pesquisadores franceses que analisam amostras de sangue de pacientes da Guiné afirmam que vírus sofreu mutação.

Tulip Mazumdar Repórter de Saúde da BBC
 Mais de 600 amostras de sangue de pacientes da Guiné serão analisadas  (Foto: BBC) Mais de 600 amostras de sangue de pacientes da Guiné serão analisadas (Foto: BBC)
 

Cientistas que acompanham a evolução do surto de ebola na Guiné dizem que o vírus sofreu uma mutação e pode ter se tornado mais contagioso.
Mais de 22 mil pessoas foram infectadas com o ebola e 8.795 morreram na Guiné, Serra Leoa e Libéria.
Pesquisadores do Instituto Pasteur, na França - os primeiros a identificar a epidemia, em março -, começaram a analisar centenas de amostras de sangue de pacientes de ebola. Eles monitoram as mutações do vírus e tentam descobrir se o ebola está sendo transmitido mais facilmente de pessoa para pessoa.
"Sabemos que o vírus está mudando bastante", disse à BBC o geneticista Anavaj Sakuntabhai. "Isso é importante para o diagnóstico (de casos novos) e para o tratamento. Precisamos saber como o vírus (está mudando) para fazer frente ao nosso inimigo."
Mutações em vírus ao longo do tempo não são incomuns. O ebola é um vírus de RNA - como o HIV e a influenza (gripe) - que têm uma elevada taxa de mutação. Isso o torna mais apto a se adaptar e aumenta o potencial de contágio.
"Identificamos vários casos que não têm nenhum sintoma, casos assintomáticos", disse Sakuntabhai.
"Essas pessoas podem ser as que mais transmitem o vírus, mas ainda não sabemos. Um vírus pode passar por uma mutação e se tornar menos mortal mas mais contagioso - isso é algo que nos deixa com medo."
'Questão de números'
Mas a maior incidência de pacientes assintomáticos no atual surto de ebola não é necessariamente uma prova conclusiva de que o vírus se tornou mais contagioso, diz o professor Jonathan Ball, virologista da Universidade de Nottingham.
"Poderia ser simplesmente um jogo de números: quanto mais infecções na população em geral, obviamente veremos mais infecções assintomáticas", argumenta.
Outra preocupação é que, com mais mais tempo e mais "anfitriões" para se desenvolver, o ebola sofra mutações que lhe permitam ser transmitido pelo ar. Porém, não há nenhuma evidência para sugerir que isso está acontecendo. O vírus só é transmitido por meio do contato direto com fluidos corporais de pessoas infectadas.
"Precisamos estudar mais. Mas alguma coisa mostra que existem mutações", disse o virologista do Instituto Pasteur Noel Tordo.
"Por enquanto, o modo de transmissão ainda é o mesmo. Você só precisa evitar o contato (com a pessoa doente). Mas, como cientista, não é possível dizer que isso não vai mudar. Talvez mude."
Os pesquisadores estão usando um método chamado sequenciamento genético para acompanhar as mudanças na composição genética do vírus. Até agora, eles analisaram cerca de 20 amostras de sangue da Guiné. Outras 600 amostras serão enviadas aos laboratórios nos próximos meses.
Um estudo semelhante feito anteriormente em Serra Leoa mostrou que o vírus ebola passou por uma mutação considerável nos primeiros 24 dias do surto, segundo a Organização Mundial de Saúde.
"Isso certamente levanta uma série de questões científicas sobre transmissibilidade, resposta a vacinas e medicamentos, uso de plasma de pessoas infectadas", afirmou a pesquisa da OMS.
"No entanto, muitas mutações genéticas podem não ter qualquer impacto sobre a forma como o vírus reage aos medicamentos ou se comporta em populações humanas."
Vacinas
A pesquisa francesa também investiga por que algumas pessoas sobrevivem ao ebola e outros não. A taxa de sobrevivência do surto atual é de cerca de 40%.
As conclusões poderiam ajudar no desenvolvimento de vacinas contra o vírus.
Pesquisadores do Instituto Pasteur trabalham atualmente em duas vacinas, que devem ser testadas em seres humanos até o final do ano. Uma delas é uma modificação da vacina contra sarampo, que injeta uma forma enfraquecida e inofensiva do vírus a fim de criar defesas imunológicas no organismo.
Se os testes derem certo, a nova vacina protegeria contra sarampo e ebola. "Vimos agora que essa ameaça pode se estender em escala global. Aprendemos que este vírus não é um problema da África, é um problema para todos", disse o imunologista do Instituto Pasteur James Di Santo.
"Este surto particular pode minguar e ir embora, mas nós vamos ter outro surto em algum momento, porque os lugares onde o vírus se esconde na natureza - por exemplo, em animais de pequeno porte - ainda são uma ameaça para os seres humanos no futuro. A melhor resposta que podemos ter é uma vacina para todo o mundo."

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Implante contra a obesidade

Agência americana libera a venda do primeiro marca-passo para promover a perda de peso. Ele é colocado no abdome e tem bateria recarregável por bluetooth

Cilene Pereira (cilene@istoe.com.br)
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Os neurocirurgiões Alessandra Gorgulho e Antônio de Salles explicam
como funciona a novidade no tratamento da obesidade

 
Um aparelho que induz à sensação de saciedade depois de ser implantado no abdome é a novidade no tratamento da obesidade. O sistema acaba de ser liberado para comercialização pela Food and Drug Administration (FDA), a agência americana responsável pela aprovação de medicamentos e produtos de saúde cujas decisões costumam servir de parâmetro para serviços semelhantes de outros países. É o primeiro equipamento contra o excesso de peso aprovado pelo FDA desde 2007.
O sistema chama-se Maestro Rechargeable System e consiste em um marca-passo e uma bateria recarregável via bluetooth. Os eletrodos são colocados próximos do ponto do nervo vago localizado na junção entre o esôfago e o estômago. Esse canal nervoso desce do cérebro e inerva vários órgãos, entre eles o coração e o estômago. Ele tem papel importante no processamento das informações de saciedade enviadas do estômago para o cérebro. “No início da refeição, algumas substâncias, como a leptina, por exemplo, são liberadas e ativam o nervo vago a levar informação ao cérebro de que o corpo está alimentado”, explica a neurocirurgiã Alessandra Gorgulho, chefe clínico-científica do HCor Neuro, de São Paulo. Os sinais elétricos emitidos pelos eletrodos modulam a atividade do nervo, dando uma mensagem ao cérebro de que se está saciado. A bateria é implantada na área subcutânea abaixo da clavícula.
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DIFERENÇA
No Brasil, a médica Alessandra estuda
se eletrodos colocados no cérebro ajudam a emagrecer
De acordo com o estudo apresentado pelo fabricante, a americana EnteroMedics, com 233 pacientes, aqueles tratados pelo sistema perderam 24% de seu excesso de peso em um ano. No entanto, esperava-se que o aparelho promovesse pelo menos 10% a mais de perda de peso excessivo em comparação ao obtido pelos indivíduos que integraram o grupo controle (não receberam o implante). Não foi o que aconteceu. Mesmo assim, o FDA considerou que o equipamento mostrou-se um recurso importante para manter o emagrecimento a longo prazo. Um ano e meio depois, os pacientes com o aparelho apresentavam 23% de perda do peso em excesso.
O aparelho é indicado para pessoas com Índice de Massa Corpórea (IMC) superior a 35 – o número é calculado pelo peso dividido pela altura ao quadrado – que apresentam pelo menos uma doença associada à obesidade, como a diabetes ou a hipertensão, e não responderam a tratamentos anteriores. Os efeitos colaterais mais comuns manifestados pelos pacientes foram dor no local do implante dos eletrodos e azia.
A estratégia agora aprovada pelo FDA é um exemplo das opções que estão sendo geradas por um campo novo na medicina chamado de neuromodulação. A ideia é usar a modulação por sinais elétricos para ajudar no tratamento de doenças como a dor crônica e o Parkinson. No Brasil, a médica Alessandra Gorgulho, do HCor Neuro, e seu colega, o neurocirurgião Antonio Salles, da mesma instituição, coordenam uma pesquisa sobre a eficácia do implante de eletrodos para tratar a obesidade. Em seu caso, porém, o implante é feito em um dos núcleos do hipotálamo, estrutura cerebral também envolvida no processamento da sensação de saciedade.
A investigação brasileira encontra-se em fase 1, realizada para avaliar a tolerabilidade dos pacientes ao implante. O procedimento foi feito em seis pessoas – o último recebeu os eletrodos no início de janeiro. Ainda existem outras etapas de estudo em humanos antes de o método ficar disponível. Já o aparelho americano começará a ser vendido nos Estados Unidos no próximo semestre.
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Foto: Kelsen Fernandes

domingo, 25 de janeiro de 2015

Diagnóstico de doença celíaca em crianças triplica na Grã-Bretanha

Para pesquisadores, o crescimento, ocorrido em 20 anos, se deve ao fato de que mais pessoas estão sendo diagnosticadas corretamente

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Doença celíaca: o glúten, presente no trigo, na cevada e no centeio, é responsável por desencadear a patologia (Thinkstock/VEJA)
Um novo estudo mostrou que a taxa de crianças diagnosticadas com doença celíaca na Grã-Bretanha atualmente é três vezes maior do que há duas décadas. Porém, isso não significa que a condição está se tornando mais frequente, mas sim que cada vez mais celíacos estão recebendo o diagnóstico correto.

A pesquisa, publicada na quinta-feira no periódico BMJ, avaliou dados de pouco mais de 2 milhões de crianças e adolescentes de até 18 anos atendidos pelo sistema de saúde pública da Grã-Bretanha entre 1993 e 2012.
Nesse período, houve 1.247 diagnósticos de doença celíaca. Enquanto os novos casos se mantiveram estáveis entre bebês, eles triplicaram entre as crianças e adolescentes com mais de 2 anos. Entre 1993 e 1997, o crescimento foi de 75%.

Para os autores, o crescimento deve ser decorrente da maior consciência que se tem sobre a enfermidade, assim como dos métodos para diagnosticá-la.

Prevalência — A doença celíaca é uma condição autoimune que se caracteriza pela intolerância ao glúten, proteína presente no trigo, centeio e cevada. Quando um celíaco consome glúten, seu sistema imunológico reage contra a proteína, e a sua ação atinge o intestino delgado, prejudicando a absorção de nutrientes.

Se não tratado corretamente – ou seja, se o celíaco não deixar de consumir glúten –, o problema pode levar a problemas como osteoporose e câncer de intestino. Os sintomas da doença celíaca incluem problemas intestinais, como inchaço, dor abdominal, constipação ou diarreia, além de dores de cabeça, anemia e perda de peso.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Medida que permite investimentos estrangeiros nos serviços de saúde causa controvérsia

Incluída na MP que trata de incentivos fiscais à importação de peças para aerogeradores, a mudança tem potencial para provocar impacto significativo no cenário de saúde nacional

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A primeira brecha para a entrada de capital estrangeiro ocorreu em 1998, com a lei que regulamenta o setor de Planos de Saúde (Thinkstock/VEJA)
A presidente Dilma Rousseff sancionou esta semana o artigo 143 da Medida Provisória 656/2014, que permite investimentos estrangeiros nos serviços de saúde, como clínicas e hospitais. Incluída na medida provisória que trata de incentivos fiscais à importação de peças para aerogeradores, de 16 de dezembro, a mudança tem potencial para provocar impacto significativo no cenário de saúde nacional e, nem bem foi divulgada, já começa a criar divergências.
Para o presidente do Conselho de Administração da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), Francisco Balestrin, a medida representa um alívio para o setor. "Há perspectiva de entrada de recursos novos, não há dúvida de que o mercado brasileiro é muito atrativo", disse. Ele acredita que o capital poderá facilitar o investimento para ampliar a capacidade de atendimento, incluindo Santas Casas. O presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva, Luís Eugênio Souza, no entanto, tem visão oposta. Ele acredita que a permissão da entrada de capital estrangeiro aumenta o risco de oligopólio. "Haverá uma pressão para compra de pequenos centros, uma concentração dos serviços nas mãos de grandes grupos, algo extremamente prejudicial, sobretudo num serviço com saúde", disse.

O professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Mário Scheffer, concorda. Além do risco de oligopólios, completa, a permissão de investimentos estrangeiros traz o risco de distanciar a oferta de serviços às necessidades da população. "Hoje serviços privados muitas vezes são contratados para atender o Sistema Único de Saúde. Dificilmente uma companhia estrangeira irá fazer investimentos para fazer parte dessa rede", disse.

Associações ligadas à saúde coletiva, entidades que reúnem sanitaristas prometem ingressar com uma ação no STF para declaração da inconstitucionalidade do artigo. "Uma pena que uma decisão como essa, com impacto tão significativo na vida de todos tenha sido feita às pressas, sem discussão", disse o presidente da Abrasco. "Mas vamos fazer de tudo para reverter esse cenário." Balestrin critica as avaliações, sobretudo a que enxerga um caminho para o oligopólio. "Não há um conhecimento exato do setor. Existem no País 6.300 hospitais. O risco de concentração, numa área como essa é muito pequeno. Sem falar que, para fazer a fiscalização e evitar que isso ocorra existe o Cade", completou.

Histórico — O ingresso de capital estrangeiro na saúde brasileira não vem de hoje. A primeira brecha ocorreu em 1998, com a lei que regulamenta o setor de Planos de Saúde. A Amil foi comprada pela empresa UnitedHealth e a Intermédica, vendida para o grupo de investimentos americanos Bain Capital. "Com essa autorização, não houve apenas o controle da carteira de usuários. As operadoras possuem hospitais próprios, já haviam de certa forma entrado na assistência", lembrou Scheffer. "Se antes havia uma brecha, agora o caminho está totalmente liberado."

Justamente por isso, Balestrin afirma que a medida vem corrigir uma distorção. "A participação estrangeira já está aí. Agora ela vai ocorrer de forma clara." Os recursos também já haviam sido aportados em laboratórios de diagnóstico. "Mas de maneira informal. As companhias assumiram o risco, mesmo sem uma autorização legal", disse Balestrin. Segundo ele, a lei sancionada pela presidente agora abre caminho e regulariza a situação mesmo das empresas que já estão no mercado.
(Com Estadão Conteúdo)

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Pneumonia aumenta risco de infarto e derrame

Segundo estudo, pessoas que foram internadas com essa doença pulmonar têm maior probabilidade de sofrer doenças cardiovasculares após a hospitalização

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Pneumonia: pessoas acima de 65 anos têm quatro vezes mais risco de desenvolver uma doença cardiovascular nos primeiros 30 dias depois da infecção (Thinkstock/VEJA)
Pacientes que foram hospitalizados por pneumonia têm maior risco de sofrer um ataque cardíaco ou um derrame nas semanas ou meses seguintes à internação. A revelação é de um estudo publicado nesta terça-feira no periódico Jama.

Os pesquisadores avaliaram dados de 3.813 pessoas, divididas em dois grupos: um de 45 a 64 anos e outro com mais de 65 anos. Ao comparar ao longo de dez anos 1.271 pacientes com pneumonia com 2.542 pacientes do grupo de controle (separados pelas idades), os especialistas descobriram que os primeiros tinham um risco maior de sofrer problemas cardíacos.

No grupo de 65 anos ou mais, o paciente com pneumonia apresentava quatro vezes mais probabilidade de desenvolver uma doença cardiovascular nos primeiros 30 dias depois da infecção. Já no grupo mais jovem, o risco de doença cardiovascular foi 2,4 vezes maior nos primeiros 90 dias depois da hospitalização.

Essa elevação significa, por exemplo, que a probabilidade de uma mulher de 72 anos com dois fatores de risco para doenças cardiovasculares (como hipertensão e tabagismo) sofrer um infarto ou um derrame aumenta de 31% para 90% caso ela seja internada por pneumonia.

Prevenção — “Devemos fazer todo o possível para prevenir casos de pneumonia por meio de vacinação e medidas como lavar as mãos, sobretudo entre idosos com outros fatores de risco para doenças cardiovasculares, como diabetes, tabagismo e colesterol alto”, afirma o infectologista Vicente Corrales-Medina, professor assistente da Universidade de Ottawa, no Canadá, e principal autor do estudo.

Corrales-Medina acrescenta que, uma vez que a pneumonia ocorra, os médicos devem ficar atentos ao fato de que esses pacientes têm mais propensão a desenvolver doenças cardiovasculares. “Os cuidados podem incluir exames e estratégias de prevenção para enfermidades do coração.”
(Com AFP)

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

CE tem até o fim do mês para erradicar casos de sarampo

Caso não contenha o surto, o Estado pode suspender o processo de eliminação da doença no continente americano

Crianças de 6 meses a menores de 5 anos devem ser imunizadas; conforme a Sesa, cobertura da última campanha não foi homogênea
Foto: Lucas de Menezes
Image-0-Artigo-1782170-1 O Ceará é o único local das três Américas (do Norte, Central e do Sul) onde há transmissão do vírus do sarampo entre a população. Se após este mês de janeiro for registrado mais um caso, além dos 613 ocorridos desde dezembro de 2013, o Estado poderá ser responsável pela interrupção oficial no processo de eliminação da doença em todo o continente.
Com a gravidade da situação, uma comissão formada por membros do Ministério da Saúde e da Organização Pan-americana de Saúde (Opas) veio a Fortaleza para combater o avanço e evitar que o surto se transforme numa endemia. Ontem, o grupo se reuniu com os secretários da Saúde do Estado, Carlile Lavor; de Fortaleza, Socorro Martins; e de Caucaia, Deuzinho Filho.
"Estamos num processo de eliminação do sarampo em todas as Américas e, se não interrompermos esse surto no Ceará, a certificação será suspensa não só no Brasil, mas no continente", ressaltou a coordenadora do Programa Nacional de Imunização do Ministério da Saúde, Carla Domingos. "Isso vai comprometer não só o País, em termos de comércio e turismo, mas principalmente fazer com que essa doença possa voltar a circular em outros estados do Brasil ou países próximos", declarou.
O último confirmado se deu no dia 5 de janeiro, em Caucaia. A data marca a contagem do prazo de 90 dias para se atestar a erradicação do vírus no Estado, caso não apareçam outras confirmações. Entretanto, há ainda outras 46 notificações suspeitas sendo investigadas em quatro municípios da Região Metropolitana (RMF): Fortaleza, Caucaia, Maracanaú e Aquiraz.
De acordo com os especialistas, se após o mês de janeiro mais casos forem confirmados, o cancelamento do processo de eliminação do sarampo das Américas será praticamente certo. "O importante é acabar com essa doença o mais rápido, antes do Carnaval se possível, em duas ou três semanas", disse a consultora regional da Opas para o Programa para Eliminação do Sarampo, Pamela Bravo, enviada de Washington, capital dos Estados Unidos, para colaborar com o planejamento das ações. "Estamos reunidos com os técnicos, apoiando as recomendações para acabar com essa doença", completou.
José Cássio de Morais, representante de um comitê internacional de especialistas criado pela Opas para certificar a eliminação do sarampo nas Américas, reforça o risco que o Estado causa ao continente. Se continuar a ocorrência de casos, a Organização Pan-americana vai declarar o Brasil e o Ceará como "endêmicos". "Se em fevereiro houver um novo registro, teremos esse problema, porque já é um tempo muito longo", reforçou.
O secretário Carlile Lavor lamenta a situação. "O Ceará, que foi campeão de vacinação, volta a ter sarampo. Isso é grave. Uma doença que tínhamos eliminado das Américas volta a ocorrer no Ceará". Contudo, o gestor estadual ressalta o empenho dos órgãos públicos para sanar o problema. E a principal ação são as vacinações. "Todas as mães devem levar os filhos para vacinar. As crianças menores de 5 anos, que tenham completado pelo menos 6 meses, devem ser imunizadas. Nós só conseguiremos resolver esse problema se todas elas estiverem vacinadas", alertou Lavor.
Mobilização
Para convocar os pais e responsáveis a levarem todas as crianças da idade alvo para tomar a vacina, uma campanha publicitária está sendo criada em caráter de urgência.
Apesar da mobilização encerrada no último dia 31 ter atingido a meta de 95% de imunizações, segundo a Secretaria da Saúde (Sesa), a cobertura não foi homogênea e algumas comunidades podem ter ficado abaixo do percentual desejado.
Com o objetivo de eliminar a doença, os órgãos públicos estão indo de casa em casa, garante a titular da Secretaria de Saúde do Município (SMS), Socorro Martins. "A gente está indo de casa em casa, fazendo varreduras para buscar essas crianças", destacou.
"Hoje, nossa meta é ter caso zero em Fortaleza. Estimulamos as mães a procurar nossas unidades, que elas não esperem. Quando o filho fizer 6 meses, vá imediatamente, para erradicar o sarampo do nosso território", apela a secretária. A Capital contabiliza o maior número de casos confirmados: 310 desde dezembro de 2013.
Outros municípios que também têm uma situação preocupante são Caucaia e Maracanaú. Mesmo com registros pequenos em relação a outras cidades, os casos são mais recentes.
"Caucaia, apesar da baixa incidência, chama a atenção pelo número de casos no início do ano, na divisa com Fortaleza", confirma o secretário de Saúde do Município, Deuzinho Filho. Segundo ele, há 700 profissionais da área visitando a população e até mesmo transportando aos postos pessoas com até 29 anos e ainda não imunizadas.
Mais informações
Secretaria Estadual da Saúde
Telefone: (85) 3101.5123
Secretaria de Saúde de Fortaleza
Telefone: (85) 3452.6604
Secretaria de Saúde de Caucaia
Telefone: (85) 3342.8023
Germano Ribeiro
Repórter

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Nocaute na hepatite C

Primeiro de uma série de três medicamentos de última geração para tratar a doença é aprovado no País, aumentando as chances de cura

Mônica Tarantino (monica@istoe.com.br)
Estima-se que pelo menos 1,7 milhão de brasileiros convivam com um dos três tipos do vírus HCV, causador da hepatite C. A maioria não sabe até apresentar sintomas da doença, que evolui silenciosamente até destruir o fígado e é a principal causa de transplantes do órgão. Na semana passada, a aprovação do antiviral daclatasvir pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aumentou as chances de cura de boa parte dessas pessoas. Trata-se do primeiro de uma série de três remédios orais de última geração para o tratamento da infecção a ser aprovado no País. Os outros dois – o sofosbuvir e o simeprevir – tramitam em regime de prioridade na agência desde o ano passado. Sua aprovação também estava prevista para o último trimestre de 2014, mas agora é esperada para junho ou julho. “Até lá, certamente haverá um aumento das ações judiciais para obter esses medicamentos”, diz a advogada Rosana Chiavassa, especialista em direitos na área da saúde, de São Paulo.
A introdução do daclatasvir muda a face do tratamento. “Seu uso em associação com outros antivirais é a terapia mais avançada disponível contra a doença e já vem sendo adotada em países como a Inglaterra e os Estados Unidos”, diz o médico Guilherme Felga, especialista em doenças do fígado do setor de transplantes do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. Estudos indicam que o remédio é mais eficiente para os tipos 1 e 3 do vírus HCV. Transplantados e pacientes graves estão entre os principais beneficiados. “Suas chances de cura sobem de menos de 30% para 60%”, diz Felga.
Para o infectologista Ésper Kallás, da Universidade de São Paulo, o remédio irá melhorar a adesão ao tratamento. “Cerca de 80% dos pacientes tratados com interferon sofrem com os efeitos colaterais e até 15% precisam interromper a terapia. Os novos antivirais têm menos efeitos colaterais e reduzem o tempo de tratamento”, diz o médico. Os esquemas terapêuticos disponíveis no SUS com interferon peguilado duram até 48 meses. Em associação com outros remédios, o daclastavir reduz o tempo de tratamento para 12 a 24 semanas, conforme as características do paciente e do vírus.
A expectativa dos médicos e pacientes é de que a substância seja incorporada logo ao SUS. Antes, porém, precisa obter o aval da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec). No mundo, há mais de 30 medicamentos em fase adiantada de estudo contra a doença. Um deles, uma cápsula que concentra três antivirais, foi aprovado para uso nos Estados Unidos na semana passada. 
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segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Conviver com parentes e animais é uma das melhores formas de ter saúde

O principal hábito para ser saudável é cuidar dos dentes

Beatriz Salomão
Rio - Não é com suor na academia, nem sofrendo com dietas restritivas que o brasileiro mais mantém a saúde. O principal hábito para ser saudável é cuidar dos dentes. E o segundo lugar da lista também não é ocupado por nada relativo a alimentação e esporte: é passar tempo com a família. Os dados, de pesquisa feita em 23 países, revelam que, aqui, a população pensa diferente. Nas outras nações, dormir e comer bem são os principais gestos.
Aline e Ricardo com filhos Larissa e Bernardo. Nas pontas, noivo da jovem, Fellipe, e namorada do rapaz, Nathália. Labrador Junior e Mila, um teckel, completam a família
Foto:  Ernestto Carriço / Agência O Dia
De acordo com o levantamento, feito pela empresa GfK com 28 mil pessoas, cuidar da saúde bucal foi ato citado por 68% dos brasileiros. Logo em seguida, para 67%, está o hábito de conviver com parentes, amigos e animais de estimação. Em terceiro lugar, com 66% das citações, está dormir bem.
Marco Aurélio Chame, clínico geral do Hospital São Francisco na Providência de Deus, explica que passar bons momentos perto de pessoas queridas favorece a saúde física e mental: gera bem-estar e evita que o sistema imunológico fique enfraquecido. “Quando a parte emocional está abalada e a pessoa, triste, ficamos mais propensos a doenças”, cita.
Já o sono restaura a saúde, ajuda a fixar a memória e garante a boa produção dos hormônios. “Falta de sono pode causar depressão e ansiedade, que tem relação com problemas cardíacos”, disse. Simples e barata, a ação de cuidar da saúde bucal pode proteger o corpo inteiro, segundo o cirurgião-dentista Mario Groisman, da Associação Brasileira de Odontologia. Ele explica que há relação entre doença periodontal e problemas cardíacos.
“Estudos mostram que essa doença causa um processo inflamatório do organismo, com liberação de enzimas que podem afetar a saúde do coração”, explica, acrescentando que o mesmo mal está ligado a partos prematuros.
Cuidar da higiene bucal e valorizar momentos em família sempre estiveram presentes na vida da dentista Aline Franklin, 50 anos. Ela e o marido Luiz Ricardo, 56, também dentista, são casados há 29 anos, têm três filhos e três cachorros. Ela conta que sempre procura reunir toda família para as refeições: “Assim conversamos e ficamos atualizados da vida um do outro.” Momentos de lazer, como jantar fora, ir à praia e viajar também são em conjunto, e incluem os namorados dos filhos. “Eu me sinto muito feliz e mais calma quando chego em casa, à noite, e posso estar com meu marido e meus filhos”, diz. Filha do meio, a magistrada Larissa Franklin, 26, lembra que, na infância, o almoço do fim de semana era na casa dos avós, com tios e primos. Ela conta ainda que, devido à profissão dos pais, cuidar dos dentes sempre fez parte do cotidiano. “Como nosso dentista era nosso pai, nunca tivemos medo”.
O levantamento revelou ainda que 59% dos brasileiros citaram alimentação saudável e 57%, exercícios físicos, como principais meios de manter a saúde.
Dificuldade em se desconectar
Na hora de fazer uma pausa na tecnologia em nome da saúde, apenas 28% dos brasileiros realmente tomaram essa a decisão. Os países líderes nesse quesito foram Argentina e Estados Unidos (ambos com 47%). Segundo a pesquisa o mais ‘apegado’ à tecnologia foi a Índia, onde apenas 5% se desconectaram.
O estudo indicou ainda a liderança do Brasil quando o assunto é o cuidado da pele contra o sol.
Consumidores daqui são os que mais usam protetor solar (46%), seguidos pelo Canadá e Coreia do Sul (ambos com 43%) e por Austrália e Espanha (ambos com 42%).
Nosso país também é destaque no uso de cosméticos (47%), empatado com Estados Unidos. Nesse item, são superados pelos líderes Rússia, com 60%, e Alemanha, com 55%. A pesquisa foi feita em julho de 2014 e divulgada este mês. Participaram pessoas com idades acima de 15 anos.

sábado, 17 de janeiro de 2015

Os testes que mudarão o futuro da sua saúde

Uma nova safra de exames genéticos chega ao Brasil. Eles mostram as reações do corpo de cada um a remédios, a alimentos, a exercícios e a predisposição a várias doenças. Com essas informações, será possível se planejar para uma vida melhor

Mônica Tarantino (monica@istoe.com.br)
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A nutricionista Aderuza Horst, 32 anos, professora da Universidade Federal de Goiás, transformou seu jeito de viver. Passou a fazer mais exercícios físicos e reestruturou a dieta com especial cuidado para adicionar a seu cardápio alimentos que ajudam a proteger seus neurônios. A decisão de alterar hábitos para ter um cotidiano mais saudável foi tomada depois que ela pegou nas mãos o resultado de um exame de seu material genético, o DNA. Ele mostrou que seu código genético escondia uma variante genética associada ao risco de desenvolvimento de uma doença neurodegenerativa. “Mas como sei que é um risco e não uma sentença, estudei muito e fiz mudanças no meu estilo de vida e na dieta, como aumentar a ingestão de substâncias e suplementos que oferecem alguma proteção neuronal para gerenciar e diminuir meus riscos”, conta.
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Aderuza é uma das brasileiras que estão conseguindo se preparar para uma vida melhor com a ajuda de uma nova geração de testes de DNA feitos com amostras de saliva, de sangue ou de células bucais (colhidas com cotonete) que começa a ser oferecida no País por centros de medicina genética, hospitais e, em alguns casos, diretamente por médicos. Na lista de inovações disponíveis ou em fase final de implantação estão diversos painéis genéticos, exames assim chamados porque analisam vários genes ao mesmo tempo e com maior rapidez. Há desde “pacotes” para estimar o risco personalizado de problemas cardiovasculares, a tendência à obesidade ou conhecer as respostas do organismo a remédios usados para tratar a depressão e a ansiedade até opções como os perfis genéticos destinados a medir a propensão da pele à degradação do colágeno (proteína que lhe dá sustentação) ou a velocidade de metabolização da cafeína. Esses exemplos evidenciam o crescimento vertiginoso que experimenta esse campo da medicina.
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O conhecimento das reações do organismo aos alimentos, por exemplo, desperta enorme interesse. Por isso, muitos laboratórios de genética estão customizando testes para essa investigação. Os resultados dependerão do “combo” de cada companhia. O perfil nutrigenético do Centro de Genomas, por exemplo, avalia as chances de obesidade, diabetes tipo 2, hipertensão arterial, intolerância à lactose e ao glúten, o metabolismo das gorduras, das vitaminas, da cafeína e o potencial inflamatório do organismo. Já o laboratório RDO batizou seu exame de Perfil do metabolismo e do exercício. Nesta proposta, são estudados mais de 150 genes cuja investigação permite à equipe de especialistas que faz o laudo sugerir, por exemplo, se o indivíduo é mais suscetível do que outros à maior dificuldade de se sentir saciado após a refeição. “Nesse caso, é analisado o gene FTO, vinculado à massa gorda e à obesidade”, diz o geneticista Roberto de Araújo, diretor do RDO.
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O laboratório Biogenetika planeja o lançamento para este ano de laudos mais focados para apresentar resultados mais objetivos. “Se uma pessoa tem dúvidas em relação aos alimentos mais indicados, poderá realizar um teste só com essa finalidade”, explica a diretora clínica Lia Kubelka. Também crescerão no mercado versões de testes customizados para atletas com o propósito de desvendar as reações do corpo aos exercícios de força ou resistência, por exemplo, e a taxa de metabolização de nutrientes como gorduras, carboidratos e vitaminas. Outra opção já disponível no Brasil são os painéis mais amplos, que fazem uma varredura da predisposição a várias enfermidades. Nesses exames está incluída a análise de genes que indicam as chances de males neurodegenerativos, como Parkinson e Alzheimer.
Parte das novidades está concentrada na área da medicina fetal. Há recursos como o que rastreia mais de 700 doenças hereditárias a partir da coleta de amostra sanguínea de jovens casais que planejam ter filhos, mas receiam transmitir genes defeituosos a eles. “Nos Estados Unidos, esses painéis estão entrando na rotina dos casais que querem ter filhos independentemente de fazerem parte dos grupos para os quais esses exames são indicados, como indivíduos que têm casos na família ou são parentes entre si”, relata o médico geneticista Ciro Martinhago, do Laboratório Chromossome, em São Paulo.
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Outro exame, feito com apenas uma amostra de sangue da mãe, busca possíveis anomalias fetais. “Ele tem a vantagem de não ser invasivo. É uma ótima opção aos testes feitos com essa finalidade que demandavam a retirada de amostras da placenta ou do sangue do cordão umbilical”, diz Wagner Baratela, assessor médico de genética molecular do Fleury Medicina e Saúde.
Uma das explicações para esse grande movimento mundial de disseminação dos testes genéticos é o surgimento de tecnologias que podem baratear e acelerar as análises. No ano passado, por exemplo, a empresa americana Illumina lançou uma máquina capaz de sequenciar cinco genomas inteiros em um só dia ao custo aproximado de US$ 1 mil. “A velocidade da execução dos exames está aumentando e isso permite criar novos formatos”, diz Hélio Margarinos, do Laboratório Richet, no Rio de Janeiro. Além disso, os progressos feitos pelas companhias de biotecnologia e pesquisadores na compreensão do genoma e interpretação dos testes impulsionam o mercado. É o que faz, por exemplo, a deCode, uma companhia líder mundial em biociências sediada na Islândia. Há poucos meses, seus cientistas publicaram trabalhos apresentando mutações genéticas que podem proteger do surgimento do Alzheimer.
As respostas fornecidas pelos testes genéticos podem se tornar preciosas. Saber que se é portador de risco para o surgimento de uma doença contra a qual há prevenção disponível – obesidade e infarto, por exemplo – dá a oportunidade de fazer mudanças a tempo de se prevenir e ganhar o jogo. Desse modo, representam uma revolução no cuidado com a saúde. É o que se vê nos depoimentos publicados ao longo da reportagem.
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Porém, devido ao fato de ser essa uma área mais recente da medicina comparada a especialidades já bem estabelecidas, algumas ressalvas se fazem necessárias. Um exemplo é a validade de se submeter aos novos painéis genéticos para alimentos ou exercícios. “Eles fornecem sugestões baseadas nas mais recentes descobertas para reorientar a alimentação de modo a promover a saúde”, defende a nutricionista Aderuza Horst, que é também doutora em ciência dos alimentos e especialista em nutrigenética. Ela auxiliou na formatação de alguns exames e costuma ser consultada por médicos para interpretar os resultados. A médica geneticista Lavínia Schüler-Faccini, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Genética, tem outra opinião. Ela acha que, em muitos casos, os dados oferecidos por esses painéis nutricionais, para a beleza ou exercício são insuficientes. “Os resultados e o aproveitamento acabam sendo limitados quando as evidências científicas são pequenas ou fracas”, diz a especialista, que é professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
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A geneticista Lavínia também alerta quem pretende se submeter a um teste de DNA com finalidade preventiva – com a intenção de conhecer a sua predisposição a doenças como Alzheimer e Parkinson, por exemplo – a se aconselhar antes com um geneticista. “Pode ser fonte de muita dor de cabeça se a pessoa não for bem orientada e não tiver suporte para discutir os resultados e tirar as suas dúvidas.” Lavínia fala com conhecimento de causa. “Atendo muita gente que comprou testes de DNA pela internet, como os que são vendidos pela companhia americana 23andMe, e se apavorou ao ler o laudo”, diz.
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De fato, descobrir-se portador de uma mutação que predispõe ao câncer ou a uma doença degenerativa não é uma informação fácil de digerir e tampouco pode ser ignorada. A oncogeneticista Maria Isabel Achatz, do A. C.Camargo Cancer Center, em São Paulo, está acostumada a ser procurada por pessoas que fizeram testes para avaliar suas chances de câncer e com milhões de dúvidas na cabeça. “Em geral, foram testes pedidos por médicos que não conseguiram interpretar adequadamente os resultados”, afirma. Em um dos casos, a paciente fez um teste para avaliar as chances de câncer de mama hereditário e se assustou com mutações que o mastologista não soube explicar. “Melhor teria sido se ele a enviasse a um geneticista para estudar melhor o exame diante da história da família”, diz a médica. Para ela, a necessidade de os médicos de várias especialidades trabalharem em conjunto aumenta na medida em que os recursos para detectar variações nos genes associadas ao câncer também se multiplicam. Hoje, há desde testes para tumores de mama que avaliam 19 genes a outros que rastreiam 94 e até mais de 300 genes para vários tipos da doença.
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Mais uma preocupação da geneticista Lavínia são os testes para crianças. “Se um teste desses aponta que um menino que adora correr não será um atleta de sucesso nessa área por causa das características das suas fibras musculares, pode desencorajá-lo a fazer algo de que gosta. E sabemos que vencer não depende só dos genes”, diz a especialista. A questão é ainda mais grave se o teste for preditivo de enfermidades que só se manifestam na idade adulta, como a doença de Huntington (mal hereditário e degenerativo caracterizado por desordens mentais e motoras). “É preciso que a pessoa tenha suporte e recursos emocionais para lidar com seu diagnóstico”, defende Lavínia.
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O desafio de administrar as informações dos testes genéticos é mundial. No final de 2013, por exemplo, a agência americana que regulamenta medicamentos e procedimentos, o FDA, proibiu a 23andMe de vender seus testes de genoma diretamente aos usuários, o que a companhia vinha fazendo desde 2010. Um dos questionamentos do FDA era justamente o gerenciamento dos resultados e das atualizações que a companhia enviava por e-mail por causa de descobertas sobre o papel dos genes. A decisão gerou grande polêmica sobre o direito de os indivíduos conhecerem seus dados genéticos e qual seria o caminho mais adequado para prover o suporte necessário a quem quisesse abrir a caixa de Pandora do seu DNA.
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Atualmente, o site da companhia oferece um teste vendido a US$ 99 para identificar ancestrais. Ou seja, se você descende de esquimós, indianos, europeus, africanos. Mas, no final do ano passado, o kit de anélise do genoma foi lançado na Inglaterra, país que está mobilizado por um projeto de sequenciar 100 mil genomas para formar um banco de genomas nacional e se tornar líder mundial em genética. No Brasil, há o desafio de baixar o preço desses testes – muitos bem acima de R$ 1 mil – e obter a cobertura dos planos de saúde para sua realização. É preciso ainda compilar variações específicas da nossa população e aumentar o número de especialistas na área. “Somos apenas uns 350”, diz Bernardo Garichochea, coordenador do centro de Aconselhamento Genético e Câncer do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
Fotos: Pedro Dias, Rafael Hupsel – Ag. Istoé; RENATO VELASCO; Gabriel Chiarastelli/ag. istoé; Montagem sobre foto shutterstock; FELIPE GABRIEL

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Anvisa proíbe venda de clareador dental sem prescrição

A partir de agora, produto poderá ser comercializado somente em farmácias e com a apresentação de receita odontológica

Clareamento dental, como o feito por fitas branqueadoras, precisarão de prescrição para serem vendidos
Clareamento dental, como o feito por fitas branqueadoras, precisarão de prescrição para serem vendidos (Thinkstock/Thinkstock)
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) passou a proibir a venda de clareadores dentais sem a prescrição de dentistas. A medida, que atende a um pedido do Conselho Regional de Odontologia do Estado de São Paulo (Crosp), foi aprovada na quarta-feira.
O controle sobre os clareadores era exigido pela entidade porque, segundo os especialistas, esse tipo de produto contém teor abrasivo, o qual pode danificar o esmalte dos dentes, causar inflamações na boca e provocar dores em pessoas com maior sensibilidade.
Segundo a resolução da Anvisa, a prescrição de um dentista é necessária para a venda de clareadores dentais que contenham concentração maior do que 3% das substâncias peróxido de hidrogênio e peróxido de carbamida, como é o caso de algumas fitas branqueadores. Além disso, o produto só poderá ser vendido em farmácias, e não mais em supermercados ou na internet, e sua embalagem deverá conter uma tarja vermelha com o aviso: “Venda Sob Prescrição Odontológica”.
(Da redação de VEJA.com)

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Anvisa aprova uso de canabidiol, derivado da maconha, como medicamento

Reclassificação abre caminho para que as famílias que fazem uso do canabidiol não continuem a agir na ilegalidade

Agência Brasil
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A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou hoje (14), por unanimidade, a reclassificação do canabidiol como medicamento de uso controlado e não mais como substância proibida. A decisão foi tomada durante reunião da diretoria colegiada na sede da agência, em Brasília.

A maior parte dos diretores da agência ressaltou que não há relatos de dependência relacionada ao uso de canabidiol, enquanto há diversos indícios registrados na literatura científica de que a substância auxilia no tratamento de enfermidades como a epilepsia grave.

Os diretores também ressaltaram que a reclassificação abre caminho para que as famílias que fazem uso do canabidiol não continuem a agir na ilegalidade ou por fazer uso de uma substância proibida, além de abrir caminho para mais pesquisas.

A Anvisa iniciou a discussão sobre a possibilidade da reclassificação da substância em maio de 2014. Na época, não houve decisão terminativa sobre a questão. Desde então, a agência vem autorizando a liberação de importação do canabidiol em caráter excepcional.

Até o momento, o governo federal recebeu 374 pedidos de importação para uso pessoal. Desses, 336 foram autorizados, 20 aguardam o cumprimento de exigência pelos interessados e 11 estão em análise pela área técnica. Há ainda sete arquivamentos, sendo três mandados judiciais cumpridos, duas desistências e três falecimentos de pacientes após a entrada do pedido.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Exame de sangue pode indicar melhor tratamento para parar de fumar

Estudo indica que taxa de metabolização da nicotina influencia na aderência do tabagista aos tratamentos para abandonar o cigarro

Aqueles que tinham um metabolismo de nicotina normal fumavam mais e apresentavam maiores dificuldades para deixar o vício
Aqueles que tinham um metabolismo de nicotina normal fumavam mais e apresentavam maiores dificuldades para deixar o vício (Thinkstock/VEJA)
A escolha do melhor tratamento para um tabagista parar de fumar depende da velocidade em que a nicotina é metabolizada no seu organismo. A constatação é de uma pesquisa publicada nesta segunda-feira no periódico The Lancet Respiratory Medicine. Todo ano, cerca de 6 milhões de pessoas morrem em decorrência de doenças causadas pelo tabagismo.
“Quase 65% dos fumantes que tentam largar o cigarro retomam o vício na primeira semana de tentativa. Nossos resultados mostram que fazer o tratamento baseado na velocidade de metabolização da nicotina pode levar à escolha de um tratamento mais adequado”, afirma Caryn Lerman, professora na Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, e coautora do estudo.
Participaram da pesquisa 1 246 fumantes que queriam abandonar o tabagismo. Os pesquisadores mediram a taxa de metabolização da nicotina dos voluntários por meio de um exame de sangue, e dividiram os participantes em dois grupos. Um grupo tomou uma pílula de placebo e usou adesivos com nicotina e outro ingeriu a droga varenicilina (Champix, no nome comercial) e usou um adesivo placebo. Nos dois casos, o tratamento durou onze semanas. Os voluntários receberam atendimento psicológico e foram monitorados por um ano após o fim do estudo.
Tratamentos — A pesquisa identificou que aqueles que tinham um metabolismo de nicotina normal, cerca de 60% dos indivíduos, fumavam mais e apresentavam maiores dificuldades para deixar o vício. Para eles, a droga vareniclina foi duas vezes mais eficiente que o adesivo. Os tabagistas que apresentaram uma baixa taxa de metabolização da substância exibiram melhores resultados com o uso de adesivos com nicotina.
“Um exame de sangue rápido para medir a taxa em que a nicotina é metabolizada poderia ser desenvolvido e inserido na prática clínica para aconselhar o melhor tratamento para o fumante”, diz Rachel Tyndale, coautora da pesquisa e pesquisadora da Universidade de Toronto, no Canadá.
(Da redação de VEJA.com)

sábado, 10 de janeiro de 2015

Um regime poderoso

Como o método de emagrecimento do médico argentino Máximo Ravenna conquistou presidente, ministros e parlamentares em Brasília e se tornou a nova moda entre as dietas

Josie Jeronimo e Camila Brandalise
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O poder está de dieta e isso não é uma metáfora para o cenário de arrocho financeiro do País. A austeridade está no cardápio e os resultados já podem ser verificados em muitas silhuetas, inclusive na da presidente Dilma Rousseff. De vestido claro, Dilma desfilou na cerimônia de posse, no dia 10 de janeiro, ostentando seis quilos a menos. A proeza foi alcançada em dez dias e, o feito, creditado à dieta Ravenna, método de emagrecimento que alia o corte de farinhas e açúcares a sessões de acompanhamento terapêutico para mudar a relação do paciente com a comida. Dilma foi apresentada ao trabalho do médico argentino Máximo Ravenna (leia entrevista na pág. 46) pela ministra da Secretaria de Políticas para Mulheres, Eleonora Menicucci. Quando a amiga apareceu 17 quilos mais magra, a presidente resolveu aderir ao método e logo o indicou para a nova titular da Agricultura, Kátia Abreu. Antes de trazer Dilma para as fileiras de Ravenna, Eleonora já havia passado a corrente para Miriam Belchior, ex-titular do Ministério do Planejamento. E as conversas nas reuniões ministeriais fizeram o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, entrar para o clube, até então exclusivamente feminino no Planalto.
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A presidente fez adaptações para conseguir seguir o método do especialista argentino: ela não poderia frequentar o centro terapêutico nem participar das reuniões de acompanhamento, como fazem os outros pacientes. No seu lugar, então, mandou a chef de cozinha da Presidência para a clínica. Andrea Munhoz conheceu o cardápio Ravenna e o adaptou para Dilma. O consultório, geralmente, oferece pratos prontos congelados para pacientes que queiram levar a comida balanceada em porções de 300 calorias para casa. A presidente não comprou as refeições da clínica, mas sua chef reproduziu o modelo e elaborou as frações. Antes da refeição, a presidente toma um caldo de legumes ralo, bem quente. Aquecer as papilas gustativas é uma técnica que o médico usa para dar ao paciente à sensação de saciedade antes de consumir o prato principal. A dieta de Dilma revolucionou as compras do governo. As despensas das copas do Palácio do Planalto foram abastecidas, nas últimas semanas de dezembro, com gelatinas diet, barras de cereal sem glúten, água de coco, chá-verde e castanhas. Esses produtos são os lanchinhos intermediários que a presidente come entre as quatro refeições. A chef de Dilma tem de usar a criatividade para inventar pratos, pois o método do argentino proíbe alimentos à base de farinhas refinadas e controla as carnes, permitindo apenas proteínas com pouco teor de gordura. Convidada pela equipe do consultório de Brasília a aderir à dieta junto com a chefe do Executivo, Andrea Munhoz preferiu manter o próprio cardápio.
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A inserção de um novo método na rotina presidencial tirou as funções da nutricionista oficial da Presidência. A alimentação do chefe de Estado sempre foi uma responsabilidade de funcionários das Forças Armadas. A nutricionista oficial do Palácio da Alvorada é a capitã de fragata Luisa da Costa. Geralmente, os profissionais são orientados a oferecer pratos de até 1.800 calorias para os presidentes e familiares. Na dieta Ravenna, Dilma é submetida a 900 calorias diárias. Por enquanto, a petista anda empolgada com os resultados. Mas ela não está seguindo um princípio básico do método, que é o acompanhamento terapêutico. O tratamento é conhecido por ajudar o paciente a manter o peso, não só a perder os excessos. Apesar da propaganda positiva que a clínica teve com a redução das medidas da presidente do País, sócios temem que, se ela não se dedicar ao tratamento integral e voltar a engordar, o marketing possa ter efeito contrário.
A febre Ravenna tem dado trabalho para outras equipes de copa da Esplanada. Ministros que costumavam sair para almoçar agora têm como hábito pedir a refeição no gabinete para não fugir da dieta. Entre eles está José Eduardo Cardozo, da Justiça, que perdeu cinco quilos com o método, mas tem objetivos ambiciosos de afinar pelo menos 22. Cardozo diz estar reduzindo a agenda de almoços políticos para não cair em tentação. Kátia Abreu, da Agricultura, não teve a disciplina necessária e comeu de tudo nas festas de fim de ano. Ela chegou a perder quatro quilos em pouco mais de uma semana, pois queria ficar bem no vestido de noiva que usará em sua cerimônia de casamento no próximo mês. Mas a nova ministra afirma que, depois dos abusos do fim de ano, voltou ao cardápio light.
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Quem introduziu Ravenna no meio político foi a deputada federal Erika Kokay (PT-DF). Em abril de 2010, ela sofreu um infarto. Após deixar o hospital e voltar à rotina, seu cardiologista lhe deu um puxão de orelha: ela precisava emagrecer. Com sobrepeso e complicações cardíacas, o médico recomendou uma dieta que não utilizasse medicamentos. Assim, ela conheceu o consultório de Ravenna. “Fui eu quem indicou o método para a Eleonora. Em dezembro de 2013, fui a uma reunião com a ministra e ela me perguntou o que eu havia feito para emagrecer. Eu perdi 24 quilos”, diz Erika.
No Congresso, a dieta do especialista argentino criou uma espécie de “frente parlamentar Ravenna”. Pelo menos 15 deputados da base governista e da oposição estão unidos no objetivo de emagrecer. Nos dias de intensos debates e votações, alguns deputados levam comida saudável congelada em vez de almoçar nos restaurantes do Parlamento. Um exemplo é a deputada Luciana Santos (PCdoB-PE), que perdeu 12 quilos. Sua colega de partido Alice Portugal (PCdoB-BA) foi uma das primeiras a conhecer o sistema de emagrecimento, que faz sucesso com celebridades da música da Bahia desde 2010. Ela foi à clínica para apoiar sua filha e também entrou na dieta. A jovem perdeu 37 quilos e se tornou uma atleta amadora e a deputada deixou para trás 13 quilos. “A vida parlamentar engorda, não tem um restaurante no Congresso que ofereça comida mais saudável, é uma vida sem regra. Parei durante a campanha, mas, assim que eu puder, volto para o Ravenna”, afirma Alice.
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Entre os parlamentares que conheceram o método por meio de Alice está o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA). Ele perdeu seis quilos em dez dias, mas tem sofrido com a quantidade de reuniões políticas que envolvem comida e bebida. Como precisa acompanhar os colegas, em vez de degustar um bom vinho, ele enche a taça com refrigerante diet. De olho nas autoridades que estão sempre em jantares por Brasília, os restaurantes passaram a oferecer cardápio específico para os adeptos de Ravenna. O Dali Camões, o Lakes e a pizzaria Santa Pizza, todos frequentados pelas esferas de poder, são exemplos. Mesmo os lugares que ainda não têm parceria com a clínica já estão em sintonia com o sucesso da dieta na cúpula política de Brasília. Nos restaurantes estrelados da capital, os garçons estão habituados a pedir adaptações nos pratos, quando o cliente informa que está em tratamento. Além de ser uma dieta, o método Ravenna está se tornando um modo de comer. O ex-ministro da Secretaria de Aviação Civil Moreira Franco nunca viu o ponteiro da balança disparar. Ainda assim, ele usa o cardápio do médico argentino quando sai para comer em Brasília.
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A fórmula é antiga: uma dieta de baixíssimas calorias que exclui alimentos engordativos, gordurosos ou que possam disparar o apetite, como os carboidratos refinados. Não entram pães, macarrão e arroz, nem integrais. É feito, ainda, um plano de exercícios e agendadas consultas com médicos, nutricionistas, educadores físicos e psicólogos. Ainda assim, nada de revolucionário. Por que, então, a dieta Ravenna é a bola da vez da perda de peso? “O grande diferencial é uma excelente estrutura de marketing”, afirma a endocrinologista Cintia Cercato, integrante do grupo de obesidade do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo e presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso). Na opinião de Cintia, o método tem vários pontos a favor, por seguir preceitos amplamente difundidos na literatura médica sobre metabolismo e perda de peso, como o baixo consumo de calorias e exclusão de alguns tipos de carboidratos. Mas salienta que é preciso acompanhamento para que um cardápio tão restrito não signifique falta de nutrientes.
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O médico e psicoterapeuta argentino Máximo Ravenna começou sua trajetória de sucesso em 1993, ao abrir a primeira clínica em Buenos Aires. Lá, teve entre os clientes famosos o ex-jogador Diego Maradona. Mas só em 2009 fundou uma clínica no Brasil, primeiro em Salvador. Um ano depois, já fincava base em São Paulo. Na lista de pacientes da capital paulista está a empresária Luiza Helena Trajano, dona do Magazine Luiza. Apresentada ao método pela filha, resolveu frequentar a clínica. “Assistência prestada e serviços realizados fizeram eu me adaptar bem”, diz Luiza, que perdeu 23 quilos em um ano. Também passou por lá Mariana Belém, filha da cantora Fafá de Belém, que contabilizou 15 quilos a menos em três meses e meio. Em 2012, a marca pousava também em Brasília, mas mesmo antes já se ouvia o nome do médico entre os parlamentares.
Apesar do cardápio restrito, a nutricionista do centro terapêutico do dr. Ravenna em São Paulo, Thais Shibuia, salienta que não se trata de uma dieta de proteínas, que tem como arauto o médico Pierre Dukan. “Além disso, muitos alimentos são cortados apenas na fase do ‘descenso’, ou seja, até o paciente perder os quilos que precisa”, diz Thais. Na primeira etapa, não adianta chiar. É preciso seguir à risca as orientações e, se pedir para aumentar a quantidade de alimentos, o paciente provavelmente será encaminhado para a psicóloga para entender o porquê dessa necessidade. O lema geral é “emagreceu, o peso desceu”.
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O próprio Ravenna vem ao Brasil, de duas a três vezes por ano, para fazer palestras em seus centros. O médico se orgulha de não incluir remédios nem cirurgias nos tratamentos. Para a endocrinologista Maria Edna de Melo, membro de entidades como The Endocrine Society, dos Estados Unidos, e Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), por ser uma doença, a obesidade não pode ser tratada apenas pelo seu caráter comportamental. “Pode ser que a questão psicológica seja o fator principal para alguns, mas não se pode generalizar”, afirma. Cintia Cercato, da Abeso, concorda. “A obesidade é colocada como se fosse um problema puramente psicológico e como pesquisadora posso dizer que não é. Há mais de 250 genes envolvidos na fisiopatologia da doença”, diz. “No tratamento, é preciso mudar os hábitos de vida, mas há situações em que focar só no comportamento não funciona.”
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Alguns especialistas afirmam que o grande trunfo do Ravenna é unir todas as atividades em um mesmo centro, chamado pelos pacientes de “clube” (leia mais sobre o método na pág. 44). Ele concebeu uma mistura de spa com Vigilantes do Peso, já que, além de todo o acompanhamento médico e nutricional, conta ainda com atendimento psicológico e grupos terapêuticos para que os clientes dividam suas experiências. É prático – quem pode, passa o dia lá: toma o café da manhã no restaurante, depois pode ir para um grupo e, ao fim dessa segunda atividade, vai para a sala de ginástica se exercitar. Se tiver alguma consulta, pode esperar pelo almoço e ficar até o jantar. O pacote para ter acesso a esse clube da saúde é de R$ 1.570 para adultos. No preço não estão incluídas refeições, que, além de serem servidas no local, também são vendidas congeladas. “O método está famoso porque é a bola da vez. Aí muitos seguem, têm bons resultados, e outras pessoas vão atrás”, afirma Walmir Coutinho, presidente da Federação Mundial de Obesidade. “Daqui a um tempo, vai aparecer outra dieta para ocupar esse lugar.” Mas até lá a marca de 120 toneladas perdidas pelos pacientes do Ravenna até hoje só aumentará – com uma contribuição de peso vinda de Brasília.
“Muitos políticos têm vergonha de se cuidar”
Aos 76 anos, o médico argentino Máximo Ravenna possui clínicas em cinco países – Argentina, Brasil, Espanha, Paraguai e Uruguai – e tem entre seus clientes artistas, empresários e políticos, muitos deles brasileiros.
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ISTOÉ – Nos últimos meses, autoridades brasileiras têm atribuído o afinamento da silhueta à adesão ao método Ravenna. O sr. sempre atendeu políticos?
Dr. Máximo Ravenna
– Sempre atendi políticos. São pessoas que vivem distraídas e ocupadas com sua função e acabam ganhando peso. Muitos ainda têm vergonha de se cuidar, mas eles têm uma imagem pública.

ISTOÉ – Pessoas com rotina profissional muito estressante têm mais facilidade para engordar?
Dr. Ravenna –
Sim, porque têm mais tendência a acumular cortisol e ter desequilíbrios na liberação do hormônio insulina.

ISTOÉ – Por que o método do sr. favorece a manutenção do peso?
Dr. Ravenna
– Uma pessoa gorda sabe emagrecer e engordar, mas não sabe manter. E isso não é bom. No nosso método temos o lema do abandono de alimentos que dificultam o emagrecimento, como as farinhas e o açúcar, e isso exige atenção plena.

ISTOÉ – Como funciona o tratamento psicológico do paciente?
Dr. Ravenna
– A reprogramação mental é a base do tratamento. É a partir do conhecimento profundo de cada um, da consciência do que significa o alimento, que o paciente vai perder e manter o peso. As pessoas vão se pesando dia a dia, perdendo peso e nós acompanhamos como ela está emocionalmente.

ISTOÉ – Inibidores de apetite funcionam?
Dr. Ravenna
– Nós achamos que fazem mal, pois produzem pequenos resultados, praticamente imperceptíveis. Os remédios podem causar transtornos emocionais.

ISTOÉ – Os adoçantes são aliados ou vilões?
Dr. Ravenna –
Adoçantes não naturais podem trazer problemas ao organismo, mas ainda não se sabe bem as enfermidades que podem causar. E podem ter efeito no pâncreas, na produção de insulina: a pessoa tem sensação de fome, mas não lhe falta nada.

ISTOÉ – O sr. aprova dietas que cortam o glúten e derivados do leite?
Dr. Ravenna –
A eliminação do glúten, em certa linha de trabalho responsável, se dá pelo grande número de enfermidades digestivas e metabólicas que ele provoca. E nós não aplicamos de forma drástica a redução dos lácteos. Não vamos nos transformar em fundamentalistas. Nosso mecanismo de trabalho é que a pessoa deve estar bem nutrida.
Fotos: Pedro Ladeira/Folhapress; Adriano Machado/ag.istoé; Ronaldo de Oliveira/cb/d.a press; Divulgação; Arquivo Pessoal; Pedro Dias/ag. istoé

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Casos de chikungunya no Brasil aumentam 65% em um mês e meio

No novo boletim, foram contabilizados 2.258 pacientes com a doença, contra 1.364 até 15 de novembro

Mosquito 'Aedes aegypti', transmissor da Dengue e da Chikungunya
Mosquito 'Aedes aegypti', transmissor da Dengue e da Chikungunya (André Lucas Almeida/Futura Press/VEJA)
O número de casos de febre chikungunya no Brasil aumentou 65% num período de um mês e meio. Boletim divulgado nesta quarta-feira, com registros até 27 de dezembro, mostra que até agora foram contabilizados 2.258 pacientes com a doença, provocada por um vírus transmitido pela picada dos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus. No boletim anterior, com dados até 15 de novembro, haviam sido contabilizadas 1.364 contaminações.
Além de 894 casos, o boletim mostra que a doença se alastra. As infecções ocorreram no Amapá (1.146 casos), Bahia (1.015), Mato Grosso do Sul (um), Mato Grosso do Sul (um). O Distrito Federal agora também aparece nas estatísticas, com três casos. Chamada de "prima da dengue", a chikungunya provoca febre alta, dor muscular e nas articulações e manchas pelo corpo. Raramente a doença provoca a morte. No entanto, uma parcela dos pacientes, em razão das dores intensas nas articulações, precisam se submeter durante meses a tratamentos de fisioterapia.


O boletim divulgado nesta quarta pelo ministério mostra também ter havido uma redução dos casos de dengue ano passado em comparação a 2013. Foram 1,4 milhão de casos em 2013 contra 587,8 mil em 2014. A região Sudeste apresentou maior queda (66,1%), passando de 918.2 mil, em 2013, para 310.8 mil, em 2014. Na região Norte, o número de casos não se alterou de forma expressiva. Ano passado, foram 49,1 mil, 434 casos a menos que em 2013.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Remédio para incontinência urinária pode ajudar a emagrecer

Mirabegron, vendido nos Estados Unidos, estimula a gordura marrom a consumir mais glicose e a queimar mais calorias

Mirabegron: medicamento utilizado para tratar de bexiga hiperativa pode ajudar a emagrecer
Mirabegron: medicamento utilizado para tratar de bexiga hiperativa pode ajudar a emagrecer (Thinkstock/VEJA)
Pesquisadores americanos descobriram que uma droga vendida nos Estados Unidos para tratamento de bexiga hiperativa, uma disfunção da incontinência urinária, pode ajudar a emagrecer. O medicamento mirabegron aumenta o metabolismo da gordura marrom, responsável por gerar calor no organismo. O estudo foi divulgado nesta terça-feira no periódico Cell Metabolism.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Activation of Human Brown Adipose Tissue by a β3-Adrenergic Receptor Agonist

Onde foi divulgada: periódico Cell Metabolism.

Quem fez: Aaron M. Cypess, Lauren S. Weiner, Carla Roberts-Toler, Elisa Franquet Elía, Skyler H. Kessler, Peter A. Kahn, Jeffrey English e colegas.

Instituição: Centro de Diabetes Joslin, afiliado à Faculdade de Medicina Harvard, nos Estados Unidos​, entre outros.

Resultado: O medicamento mirabegron, utilizado para tratar bexiga hiperativa, aumenta a atividade da gordura marrom e, assim, ajuda a queimar calorias.
Ao contrário da gordura branca, que tem a função de estocar energia, a gordura marrom é responsável em gastar calorias para gerar calor e, assim, auxiliar o corpo a manter sua temperatura estável. Por fazer o organismo queimar mais calorias, o tecido adiposo marrom costuma ser associado ao emagrecimento.
Estudo — Participaram da pesquisa doze homens que tomaram 200 miligramas de mirabegron. Em todos os voluntários, o metabolismo da gordura marrom aumentou, elevando o gasto calórico em repouso em 203 calorias.
“O mirabegron estimula o tecido adiposo marrom a consumir mais glicose e a queimar mais calorias”, diz Aaron Cypess, coautor do estudo e pesquisador do Centro de Diabetes Joslin, afiliado à Faculdade de Medicina de Harvard, nos Estados Unidos.
De acordo com Cypess, até então o único jeito de ativar o funcionamento da gordura marrom era pela exposição ao frio. “Essa proposta apresentava resultados inexpressivos e variava muito de pessoa para pessoa”, afirma. Além disso, o efeito passava rapidamente depois que a condição de frio era removida.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

MS vai criar normas de estímulo ao parto normal em planos de saúde

Entre outras medidas, obstetras deverão utilizar o partograma, documento gráfico em que são feitos registros de tudo o que acontece durante o trabalho de parto

Agência Brasil
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O Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) publicam nesta terça-feira (7) uma resolução que estabelece normas para o estímulo ao parto normal e a consequente diminuição das cesarianas desnecessárias na saúde suplementar. As operadoras terão 180 dias para se adaptar às mudanças.

As novas regras ampliam o acesso à informação, já que as consumidoras poderão solicitar aos planos os percentuais de cirurgias cesarianas e de partos normais por estabelecimento de saúde e por médico obstetra. As informações deverão estar disponíveis no prazo máximo de 15 dias, contados a partir da data de solicitação. Em caso de descumprimento, será aplicada multa no valor de R$ 25 mil.

Outra norma prevê a obrigatoriedade de as operadoras fornecerem o cartão da gestante, no qual deve constar o registro de todo o pré-natal. Dessa forma, de posse do documento, qualquer profissional de saúde terá conhecimento de como se deu a gestação, facilitando o atendimento à mulher quando ela entrar em trabalho de parto.

O cartão deverá conter a carta de informação à gestante, com orientações para que a mulher tenha subsídios para tomar decisões e vivenciar com tranquilidade o parto.

Caberá às operadoras a orientação para que os obstetras utilizem o partograma, documento gráfico em que são feitos registros de tudo o que acontece durante o trabalho de parto. De acordo com as novas regras, o partograma passa a ser considerado parte integrante do processo para pagamento do procedimento.

Dados do Ministério da Saúde indicam que o percentual de partos cesáreos no Brasil chega a 84% na saúde suplementar. Segundo a pasta, a cesariana, quando não há indicação médica, aumenta em 120 vezes o risco de problemas respiratórios para o recém-nascido e triplica o risco de morte da mãe. Ao todo, cerca de 25% dos óbitos neonatais e 16% dos óbitos infantis no país estão relacionados à prematuridade.

"É inaceitável a 'epidemia' de cesarianas que vivemos hoje em nosso país. Não há outra condição, senão tratá-la como um grave problema de saúde pública. Em 2013, [foram feitos] 440 mil partos cesáreos. Não só temos um problema, mas um problema que vem se agravando ano a ano", avaliou o ministro da Saúde, Arthur Chioro.

Segundo ele, há uma grave distorção no Brasil que precisa ser revertida e abordada de forma estrutural. "Não dá para continuar tratando como normal aquilo que não é normal, que é o parto cesariano", disse Chioro.

O diretor-presidente da ANS, André Longo, lembrou que, no caso da obstetrícia, a decisão do tipo de parto sempre será do médico, em parceria com a gestante. Longo destacou que uma consumidora de plano de saúde mais bem orientada poderá influenciar mais na decisão.

"Acreditamos que essas medidas, em conjunto com outras, podem contribuir muito para que vençamos uma verdadeira epidemia de cesáreas na saúde suplementar, que influencia de forma negativa os números do Brasil como um todo", ressaltou Longo.

A elaboração da resolução normativa contou com a participação da sociedade, por meio de uma consulta pública feita em outubro e novembro do ano passado. Foram colocadas em consulta duas minutas de normas: uma sobre o direito de acesso à informação pela gestante, que contou com 455 contribuições, e uma sobre o cartão da gestante e a utilização do partograma, que registrou 456 contribuições.

Entre as ações previstas para este ano relacionadas ao incentivo do parto normal está a elaboração, por um grupo de trabalho, da Diretriz Clínica para o Parto e o estímulo à habilitação de hospitais privados à iniciativa Hospital Amigo da Criança e da Mulher.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Você sabe as causas do ronco?

Especialistas esclarecem quais são as situações que provocam o barulho desagradável, que pode até levar a problemas mais sérios - quando se tem a apneia do sono -, e como tratar ou amenizar a questão.Fernanda Nazaré
Dormir numa posição errada é uma das causas do ronco, por obstruir as vias aéreas superiores (Reprodução)
Dormir numa posição errada é uma das causas do ronco,
por obstruir as vias aéreas superiores
Passamos um terço da nossa vida dormindo, mas nem sempre esse momento – essencial para a recuperação do corpo e da mente – é utilizado de forma correta, e entre os motivos, está o ronco. Esse barulho incômodo, que gera até brigas entre casais, nada mais é do que a passagem do ar pelas vias aéreas superiores que sofrem estreitamento. De acordo com a Associação Brasileira do Sono (ABS), 24% dos homens de meia-idade roncam, e esse número sobre para 60% quando chegam à terceira idade. Já entre as mulheres, a pesquisa da ABS mostra que cerca de 40% das que tem mais de 60 anos também roncam. Ainda segundo a associação, boa parte dos pesquisados apresenta a chamada apneia – interrupção da respiração durante o sono.

As causas do ronco são diversas: obesidade, alguma obstrução nasal, aumento do diâmetro do pescoço, amígdalas e úvulas aumentadas ou inchadas, dorso de língua elevado ou adenóide – neste caso, especialmente entre as crianças. O presidente da Sociedade Mineira de Otorrinolaringologia, Cheng T-Ping, afirma que todas essas causas podem ser tratadas: "Se for por algo que está obstruindo, é possível corrigir através de cirurgia".

Mas nem todo ronco é considerado um problema, como os ocasionais. "Ingerir bebidas alcoólicas ou sedativos também pode ser um disparador para o problema", diz o médico. Isso acontece devido ao profundo relaxamento da musculatura que circula a faringe – assim como acontece com os músculos do corpo todo –, e, com isso, há o estreitamento da via aérea superior, o que dificulta a passagem de ar.

O problema mais grave relacionado ao ronco é a apneia do sono, que provoca interrupções da respiração por intervalos de até 10 segundos ou mais. Infelizmente esse problema não tem cura. Além disso, levando em conta apenas o tipo de barulho provocado pelo ronco, não é possível fazer o diagnóstico. É necessário passar pelo exame de polissonografia, em que o paciente dorme durante uma noite inteira ligado a sensores para o monitoramento do sono. "A causa tem que ser investigada por um otorrino e se for apneia, o tratamento é com um pneumologista", explica Cheng T-ping.

Apneia

Geralmente, o médico só é procurado para avaliar o problema do ronco quando a esposa ou outra pessoa que divide o quarto com o "roncador" reclama. Quem sofre com a apneia do sono sente as consequências não apenas à noite, mas durante todo o dia. Por não ter um sono reparador e profundo, a pessoa passa a ter sonolência, irritação, queda na produtividade e pode, ainda, ter problemas de hipertensão arterial e arritmia cardíaca. "A apneia está também relacionada a acidentes no trânsito. A pessoa dorme dirigindo, por que dorme mal", conta o presidente do departamento de pneumologia e cirurgia torácica da Associação Médica de Minas Gerais, Flávio Mendonça da Silva.

De acordo com o pneumologista, a apneia não tem cura, mas é possível atenuar seus efeitos e proporcionar mais qualidade ao sono, com algumas mudanças, como o emagrecimento, a realização de atividades físicas e o uso de um aparelho ao dormir, chamado CPAP – consiste numa máscara que injeta uma coluna de ar durante o sono para permitir a abertura das vias superiores. "Dormir com o aparelho não é fácil, mas quando a pessoa se adapta e começa a sentir os efeitos positivos, não deixa mais usar o CPAP", diz o pneumatologista. O aluguel do aparelho custa em média R$ 300 por mês, ou pode ser comprado por cerca de R$ 2.500.

Dormir reclinado ou de lado também pode amenizar o barulho do ronco. Isso porque diminui a pressão sobre o diafragma, o que não acontece quando se dorme de barriga para cima, devido à flacidez da garganta. Outros recursos curiosos e caseiros, podem ajudam quem vira muito á noite: costurar duas bolas de tênis nas costas do pijama, pra impedir que a pessoa vire pra cima; dormir em um colchão especial que impede que a pessoa não fique na posição correta, ou seja, de lado.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Morcego teria dado início ao surto de ebola

A epidemia que já matou mais de 7 mil pessoas pode ter começado com um garoto que brincava com morcegos, no interior da Guiné, em dezembro de 2013

Profissionais de saúde da Cruz Vermelha da Guiné retiram o corpo de uma vítima do vírus Ebola, em Momo Kanedou. O país, a Libéria e Serra Leoa, foram os mais atingidos pelo epidemia que já matou mais de 5 mil pessoas este ano, segundo informações da Organização Mundial da Saúde (OMS)
Profissionais de saúde da Cruz Vermelha da Guiné retiram o corpo de uma vítima do vírus Ebola, em Momo Kanedou. O país, a Libéria e Serra Leoa, foram os mais atingidos pelo epidemia que já matou mais de 7 mil pessoas, segundo informações da Organização Mundial da Saúde (OMS) (Kenzo Tribouillard/AFP)
A pior epidemia de ebola da história pode ter começado com um garoto que brincava com morcegos, no interior da Guiné. Seu nome era Emile Ouamouno. Isso é o que aponta um estudo realizado em Berlim, após uma pesquisa que envolveu dezenas de cientistas e meses de trabalho. Os morcegos estariam em uma das árvores na periferia de um vilarejo de apenas 31 casas.
O trabalho do Instituto Robert Koch foi publicado na revista EMBO Molecular Medicine e indicou que o "ponto zero" da epidemia que já infetou mais de 20 mil pessoas e levou países africanos ao caos teria sido o vilarejo de Meliandou, na região de Guéckédou.
O primeiro caso, justamente do garoto de 2 anos, foi registrado em dezembro de 2013. Dias depois, ele morreu. Em março, parte do buraco na árvore em que se alojavam morcegos foi queimada, justamente para espantar os animais que, entre os moradores locais, eram considerados como os responsáveis pela doença. Nesse momento, outras dez pessoas do mesmo vilarejo já haviam morrido, entre elas a mãe e a irmã de Emile.
Os pesquisadores admitem que não há provas definitivas de que essa tenha sido a forma pela qual a epidemia começou. Mas, segundo os antropólogos que entrevistaram os moradores e os testes de DNA na árvore queimada, a hipótese faz sentido. A comunidade internacional já destinou mais de 1 bilhão de dólares para lutar contra a doença. Mas a OMS admite que não sabe quando conseguirá controlar a doença, que já matou quase 8 mil pessoas.
(Com Estadão Conteúdo)