sábado, 31 de março de 2012

Secretaria de Saúde confirma 524 novos casos de dengue no Ceará

A Secretaria de Saúde do Estado (Sesa) confirmou 524 novos casos de dengue no Ceará na última semana. Conforme o boletim divulgado sexta-feira (30), a doença já atingiu 3.435 pessoas em todo o território cearense.

O destaque negativo vai para Fortaleza. A capital apresenta 1.850 casos confirmados, ou 54% do total. Logo atrás vem Juazeiro do Norte, com 16% dos casos confirmados do Ceará.

Em relação aos casos notificados, a dengue já atinge 184 municípios, com 8.973 relatos. Em 2011 a incidência de dengue no Ceará foi de 670,98 casos por 100.000 habitantes. Sessenta e três municípios apresentaram incidência acima de 300 por 100.000 habitantes.

Há casos de dengue notificados no Ceará desde 1986, com isolamento do sorotipo DENV 1 (Gráfico I). Nesses últimos 25 anos o dengue se manifestou de forma endêmica com o registro de, pelo menos cinco epidemias nos anos de 1987, 1994, 2001, 2008 e 2011. Destacam-se as epidemias de 1994 pela confirmação dos primeiros casos hemorrágicos, o ano de 2008 pelo maior número de casos graves Febre Hemorrágica da Dengue (FHD) + Dengue com Complicação (DCC) e o ano de 2011 pelo maior número de casos clássicos confirmados.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Consumo de álcool aumenta o risco de câncer de mama

Pesquisa indica que mesmo a ingestão de apenas uma dose por dia já é o suficiente para expor as mulheres a uma maior chance de desenvolver a doença

Mulher e álcool

Mulher e álcool: mesmo moderado, consumo de álcool pode elevar níveis de hormônio e levar ao câncer de mama (Thinkstock)

Basta uma dose de bebida alcoólica por dia para aumentar o risco das mulheres desenvolverem câncer de mama em 5%. A conclusão é de uma revisão de 113 estudos feita por pesquisadores da Alemanha, França e Itália, publicada nesta quinta-feira no periódico Alcohol and Alcoholism. Para mulheres que bebem mais — três ou mais doses por dia — o risco de contrair a doença aumenta em 50%.

CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Epidemiology and Pathophysiology of Alcohol and Breast Cancer: Update 2012

Onde foi divulgada: periódico Alcohol and Alcoholism

Quem fez: Helmut K. Seitz, Claudio Pelucchi, Vincenzo Bagnardi, Carlo La Vecchia

Instituição: Universidade de Heidelberg (Alemanha), Universidade de Milão (Itália), Instituto Internacional de Prevenção e Pesquisa (Lyon, França)

Dados de amostragem: 113 estudos sobre a relação entre o baixo consumo de álcool e o câncer de mama

Resultado: Mesmo em pequenas doses, o álcool aumenta a chance das mulheres desenvolverem câncer de mama.

"Os resultados indicam que mulheres com elevado risco de desenvolver câncer de mama (como as que têm casos na família) devem evitar bebidas alcoólicas ou consumi-las apenas ocasionalmente", afirmaram os pesquisadores.

Segundo o estudo, a relação entre álcool e câncer de mama foi estabelecida pela primeira vez na década de 1980. Acredita-se que o álcool aumente os níveis do hormônio estrogênio, aumentando o risco de câncer de mama. Pesquisas já demonstraram que o álcool está associado a cânceres conhecidos como “receptores positivos de estrogênio”, que necessitam do hormônio para crescer.

Para os pesquisadores, 2% dos casos de câncer de mama na Europa e na América do Norte estão relacionados com o baixo consumo de álcool, e 50.000 casos em todo o mundo se devem ao consumo pesado.

No Brasil, de acordo com estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA), serão registrados 52.680 novos casos em 2012. Em 2008, ano com as últimas estatísticas disponíveis, morrem 11.969 mulheres em decorrência do câncer de mama.

quinta-feira, 29 de março de 2012

EUA: estudo diz que metade dos casos de câncer é evitável

Prevenção pode ser feita por meio de vacinas ou com proteção contra a exposição ao sol

Do Portal Terra

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Metade de todos os casos de câncer poderia ser evitada se as pessoas adotassem estilos de vida mais saudáveis, afirmaram cientistas americanos em um estudo publicado nesta quara-feira (28). O tabagismo é responsável por um terço de todos os casos de câncer nos Estados Unidos e até três quartos dos casos de câncer de pulmão no país poderiam ser evitados se as pessoas não fumassem, destacaram em artigo publicado na revista Science Translational Medicine.

Estudos científicos já demonstraram que muitos outros tipos de câncer também podem ser evitados, seja com vacinas, como por exemplo as disponíveis contra o HPV (papilomavírus humano) e a hepatite, que podem provocar câncer de colo do útero e de fígado, ou com proteção contra a exposição ao sol, que pode causar câncer de pele.

O conjunto da sociedade deve reconhecer a necessidade destas mudanças e levá-las a sério na tentativa de desenvolver hábitos mais saudáveis, alertaram os pesquisadores. "É hora de investirmos em aplicar o que sabemos", disse a principal autora do artigo, Graham Colditz, epidemiologista do Centro Oncológico Siteman da Universidade de Washington em St. Louis, Missouri (centro).

Praticar exercícios, comer bem e não fumar são hábitos chave para evitar quase a metade das 577 mil mortes por câncer nos Estados Unidos previstas para este ano, um número superado apenas pelas doenças cardíacas, acrescentou o estudo. Mas os especialistas destacaram uma série de obstáculos para as mudanças de hábito em uma sociedade na qual, segundo estimativas, foram diagnosticados mais de 1,6 milhão de casos de câncer este ano.

Entre os obstáculos, destacaram o ceticismo de que o câncer pode ser evitado e o hábito de intervir tarde demais para deter ou prevenir um tumor maligno já instalado. Além disso, grande parte das pesquisas sobre o câncer se concentra no tratamento no lugar da prevenção, e tende a ter uma visão de curto prazo no lugar de um enfoque de longo prazo.

"Os seres humanos são impacientes e esta característica humana, em si, é um obstáculo para a prevenção do câncer", ressaltou o estudo. As grandes diferenças de renda entre as classes sociais altas e as baixas, que fazem com que os pobres tendam a ficar mais expostos a fatores de risco do que os ricos, complicam ainda mais o panorama.

"A contaminação e a delinquência, o transporte público deficiente, a falta de parques para brincar e fazer exercícios e a ausência de supermercados com alimentos frescos dificultam a adoção e a prática constante de um estilo de vida que reduza ao mínimo o risco de câncer e outras doenças", destacou o estudo.

"Assim como nos outros países, a estratificação social nos Estados Unidos exacerba as diferenças de estilo de vida, como o acesso a cuidados de saúde, a prevenção especial e os serviços de detecção precoce", informaram os especialistas.

"As mamografias, os exames de cólon, o apoio para a dieta e a nutrição, os recursos para parar de fumar e os mecanismos de proteção solar simplesmente estão menos disponíveis para os pobres", acrescentaram. Isto significa que qualquer tentativa de superar as profundas desigualdades sociais deve ser apoiada por mudanças de política, disse outra autora do estudo, Sarah Gehlert, da Escola de Trabalho Social e da Escola de Medicina da Universidade de Washington.

"Depois de trabalhar em saúde pública durante 25 anos, aprendi que se quisermos mudar a saúde, temos que mudar as políticas", disse. "Uma política estrita sobre o tabaco é um bom exemplo. Mas não podemos fazer a mudança de política por nossa conta (...) O que se requer é uma massa crítica de pessoas para falar com mais firmeza sobre a necessidade de uma mudança", acrescentou.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Ponte de safena garante maior sobrevivência do que angioplastia, afirma maior pesquisa do gênero

Segundo estudo, que analisou dados de 190.000 pacientes de 644 hospitais americanos, mortalidade foi menor em quem passou por ponte de safena

Cirurgia de ponte de safena

Cirurgia de ponte de safena: a sobrevida é a mesma, mas implica menos ocorrências ao longo dos anos (Thinkstock)

Os pacientes que se submetem a cirurgias cardíacas de 'bypass', como a ponte de safena, têm mais chances de sobreviver em longo prazo do que os que optam por procedimentos menos invasivos, como a angioplastia, segundo estudo apresentado nesta terça-feira na 61º conferência da Escola Americana de Cardiologia (ACC, na sigla em inglês), realizada em Chicago, nos Estados Unidos.

Opinião do especialista

Whady HuebWhady Huebcardiologista, diretor da Unidade de Aterosclerose do Incor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP).


Este estudo impressiona pela quantidade de pacientes. Nunca vi uma avaliação deste tamanho, com 190.000 pacientes.

Mesmo assim, existem alguns problemas. A idade média da população pesquisada é muito alta, 74 anos. Normalmente se usam pacientes entre 60 e 70 anos de idade.

O estudo americano também não usou grupos homogêneos. Quando se faz um estudo desse tipo é preciso excluir pacientes com certas condições, como câncer e doenças renais, por exemplo. Isso pode explicar a diferença encontrada a favor da cirurgia de ponte de safena.

A controvérsia sobre qual tipo de tratamento é melhor para os problemas coronarianos é antiga. Outros estudosmostram que a mortalidade, em um período de 10 anos, costuma ser igual tanto para pacientes tratados com bypass, angioplastia e medicamentos.

O que muda são as intercorrências. Quem passa por bypass sofre menos intervenções e infartos não-fatais neste período comparado a quem passou por angioplastia ou é tratado com medicamentos.

Neste ponto, não é uma surpresa a pesquisa apontar a cirurgia bypass como sendo a melhor.

A pesquisa analisou informações de 190.000 pacientes, de 644 hospitais no país, e descobriu que os que fizeram um 'bypass'tinham um índice de mortalidade mais baixo nos primeiros quatro anos (16,4%) se comparados com aqueles que se submeteram a angioplastia (20,8%).

As operações de 'bypass' requerem uma cirurgia com o coração aberto para criar um desvio ao redor de uma artéria obstruída usando uma veia tirada de outra parte do corpo do paciente. O tipo de angioplastia examinado no estudo, conhecida como intervenção coronariana percutânea (ICP), implica uma pequena incisão para enfiar um balão, um 'stent' ou tubo através da artéria obstruída para desbloqueá-la. (veja os detalhes das cirurgias nos gráficos abaixo)

"Nossa pesquisa é a maior até agora, já que usa dados de todo o país. Também é muito mais abrangente do que qualquer outro estudo", disse William Weintraub, chefe da cardiologia do Sistema de Saúde Christiana e coordenador do estudo.

"Ao combinar informações de várias bases de dados, se percebeu que a sobrevivência era melhor com a cirurgia coronária do que com a intervenção coronária percutânea", destacou.

No entanto, a descoberta não sugere que a cirurgia de 'bypass' seja a opção adequada para todos. "Isso inclina a balança para a cirurgia coronariana, mas não de forma tão abrupta", disse Weintraub. "Agora, quando recomendamos uma cirurgia coronariana aos pacientes, apesar de ser uma intervenção maior que uma ICP, podemos garantir que é uma boa decisão", acrescentou.

A doença coronária, principal causa de morte nos Estados Unidos, ocorre quando o acúmulo de gordura estreita ou bloqueia as artérias do coração.

terça-feira, 27 de março de 2012

Alzheimer é a nova causa do ator Carlinhos Moreno

O ator Carlos Moreno é o garoto-propaganda mais famoso do Brasil: estrelou por 30 anos as campanhas publicitárias da marca Bombril.

Agora, aos 58, está em nova campanha: divulgar a Abraz, a Associação Brasileira de Alzheimer, que conheceu há quase dez anos, quando sua mãe foi diagnosticada com a doença.


Isadora Brant/Folhapress
O ator Carlos Moreno em seu apartamento em São Paulo
O ator Carlos Moreno em seu apartamento em São Paulo

"Por muito tempo eu usufruí dos grupos de apoio da Abraz. Agora, virei diretor de divulgação. Para mim, é um jeito bacana de fazer trabalho voluntário", conta à Folha, na entrevista que deu em seu apartamento, em São Paulo.

*

Folha - Qual foi sua reação quando soube que sua mãe tinha Alzheimer?
Carlos Moreno - Foi um baixo-astral, um abalo total. Eu tinha visto um documentário que mostrava pacientes no último estágio, terrível, e achei que, em um mês, ela estaria nessa situação.

Mas há dez anos ela está no estágio inicial. Ela tem 88 anos e, tirando o Alzheimer, a saúde é ótima.

Ela sabe que tem a doença?
Essa questão de contar ou não ao paciente que ele tem Alzheimer é muito complicada. Para alguns pode ajudar, se a pessoa se dispõe a colaborar com o tratamento.

No caso da minha mãe, optamos por não contar, chegamos à conclusão de que não ajudaria. Falamos que ela precisava tomar um remédio para a memória. Ela começou o tratamento e não largou.

O que os remédios fazem?
Retardam o avanço da doença. O Alzheimer ainda não tem cura, mas tem alguns tratamentos, especialmente se você percebe no início.

Muitas vezes, quando a pessoa finalmente recebe o diagnóstico, a família faz uma retrospectiva e aí vem aquela culpa: "Nossa, como não percebi?". Uma das coisas que queremos fazer na Abraz é alertar a população sobre a importância do diagnóstico precoce.

Muitas pessoas acham que, como não tem cura, não adianta saber precocemente...
Para mim essas pessoas estão completamente erradas. Quanto mais cedo você descobre, mais chance tem de melhorar qualidade de vida da pessoa, manter sua autonomia e sua identidade.

Perder a identidade é o mais triste, mas eu acho que o paciente é o que menos sofre, porque não tem noção do que está acontecendo. Duro é para a família, para quem cuida, isso pode desestruturar totalmente uma vida.

Aconteceu com você?
Particularmente, a nossa situação é muito boa, eu e minha irmã somos solteiros, meu pai é vivo, tenho como bancar uma "infra" etc. Mas, nos grupos de apoio, você vê gente que perde a vida social, compromete o trabalho, porque não tem com quem deixar a mãe ou o pai doente.

Essa situação é cada vez mais comum. Queremos que o Alzheimer seja reconhecido como uma epidemia. No Ministério da Saúde a avaliação é de que temos entre 600 e 800 mil doentes, mas a Abraz calcula que o Brasil deve ter aproximadamente 1,5 milhão de pessoas com Alzheimer.

Por que essa diferença?
Tem todos os problemas da saúde pública no Brasil, mas também as famílias não querem expor o paciente, sei de muita gente rica, esclarecida, que esconde que tem um doente em casa.

Vergonha da doença?
Existe preconceito, sim.

Não temos uma cultura de respeito aos idosos. Agora que o mercado percebeu que pode ter algum lucro com eles, os velhos começam a ter mais visibilidade. Mas o que mostram é o idoso feliz, saudável, saltitante. Quem não se encaixa não entra. Quem pode lucrar com uma pessoa com Alzheimer? Só os laboratórios.

Uma coisa que todo mundo faz, e sou contra, é comparar o paciente com um bebê. Você infantiliza a pessoa, desrespeita, não preserva a dignidade do doente.

A verdade é que as pessoas sabem muito pouco sobre o Alzheimer. Eu mesmo faço mea-culpa, não sabia nada a respeito até o diagnóstico de minha mãe.

A culpa também atrapalha o tratamento?
Atrapalha o cuidador. Às vezes, quem cuida resiste a procurar ajuda: "Imagine se eu vou sair e tomar um chope e deixar minha mãe doente com alguém...". Também entra o tipo de relação que teve antes com o paciente, se foi boa, ruim.

E o que é uma relação com a pessoa já doente?
É muito louco. Você tem que acreditar que existem outros meios de se comunicar além da linguagem verbal. É o toque, o carinho, o olhar. Tem que acreditar que há troca, comunicação.

EUA criam teste que prevê risco de ataque cardíaco iminente

Pesquisadores dos Estados Unidos desenvolveram um exame de sangue que consegue identificar pessoas com chances de sofrer um ataque cardíaco iminente.

Os cientistas chegaram ao método após detectar que as pessoas prestes a sofrer um infarto do miocárdio têm um grupo específico de células profundamente alterado.


Associated Press
Células endoteliais circulantes normais (esq.) e de pacientes que sofreram um ataque cardíaco (dir.)
Células endoteliais circulantes normais (esq.) e de pacientes que sofreram um ataque cardíaco (dir.)

As chamadas células endoteliais circulantes ficam literalmente deformadas nesses pacientes. Além de apresentarem distorções na aparência e nos núcleos, elas também ficam mais abundantes em alguém prestes a sofrer uma parada cardíaca.

O resultado do estudo, feito com 50 pacientes vítimas de ataques cardíacos e publicado na revista "Science Translational Medicine", é particularmente importante devido ao caráter silencioso desses episódios.

Em cerca de 50% dos casos de infarto, os pacientes não apresentavam nenhum dos fatores de risco consagrados, como diabetes, colesterol alto ou mesmo tabagismo.

Também não faltam relatos de pacientes que se submeteram a uma bateria de exames, obtiveram resultados considerados normais e, dias depois, sofreram um infarto. Não raro, fulminante.

Já se sabia da relação de alterações nas células endoteliais circulantes com os problemas cardíacos. Mas, como até agora não existia uma metodologia confiável para identificar exatamente em que nível essas mudanças aconteciam, a maioria dos exames de rotina não inclui esse tipo de checagem.

"A habilidade de diagnosticar um ataque cardíaco iminente há muito tempo vem sendo considerado o Santo Graal da medicina cardiovascular", disse em nota Eric Topol, principal autor do trabalho e diretor do STSI (Instituto de Pesquisa Scripps), da Califórnia.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Como tirar o melhor dos alimentos

Pesquisas mostram quais são as formas adequadas de preparar as refeições para conseguir preservar todos os nutrientes e impedir a formação de compostos prejudiciais à saúde

Mônica Tarantino

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Depois da constatação dos benefícios dos nutrientes para a saúde, a ciência se aprofunda em uma segunda etapa. Pesquisadores da alimentação estão buscando uma cozinha mais inteligente, direcionada para encontrar as melhores formas de extrair dos alimentos o que eles têm de melhor, evitando o desperdício de substâncias como vitaminas, minerais e compostos da família dos polifenóis, antioxidantes que ajudam na prevenção do envelhecimento precoce das células.

Nos consultórios dos nutricionistas, essa preocupação tem se manifestado na forma de recomendações sobre a maneira mais adequada de combinar as comidas do prato. “A ciência está mostrando que há associações que podem incentivar a absorção de vitaminas e minerais, enquanto outras levam à perda e ao desperdício”, ensina a nutróloga e endocrinologista Vânia Assaly, do Instituto de Prevenção Personalizada, de São Paulo. Na vida prática, as constatações implicam condenação de algumas parcerias de sucesso à mesa. Uma delas é o encontro muitas vezes consagrado pela gastronomia internacional das carnes com os derivados do leite. Apesar do sabor incomparável, a dupla se anula. “Servir alimentos ricos em cálcio e ferro na mesma refeição é perda de tempo. Eles competem no intestino, que consegue absorver apenas um ou outro de cada vez”, afirma a nutricionista Cynthia Antonaccio, da Equilibrium Consultoria.

A melhor conduta, do ponto de vista dos analistas da alimentação, é separar ambos. Mesmo assim, ainda falta um ajuste para tirar o melhor da carne. “A combinação mais proveitosa para obter mais ferro da carne é acrescentar à mesma refeição frutas como morango, acerola, kiwi, laranja. A vitamina C, abundante em todas elas, modifica o estado do ferro, permitindo que seja mais bem absorvido”, ensina a nutricionista Daniela Jobst, de São Paulo, pós-graduada em nutrição clínica funcional e bioquímica do metabolismo.

Sob os critérios do melhor aproveitamento nutricional, a dupla café com leite também não passa no teste. “A cafeína prejudica o aproveitamento do cálcio”, explica Daniela. Quer dizer que, para o organismo, é melhor banir o pingado e o pão com manteiga? “Trata-se de um hábito muito enraigado no cotidiano do brasileiro. Por isso, a orientação é aumentar o consumo de outros derivados de leite no intervalo das refeições para haver maior ingestão do mineral”, explica a nutricionista Erika Alvarenga, de São Paulo, especialista em fisiologia do exercício e saúde.

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TREINO
Kátia e suas funcionárias receberam orientações para cozinhar corretamente

Para tornar mais pa­­­­latáveis recomendações como a separação da carne e do leite, Erika criou um programa de atendimento domiciliar. Durante três a seis meses, ela frequenta a casa dos clientes para ensinar a compor cardápios sem os equívocos que eliminam ou desperdiçam nutrientes. A arquiteta Kátia Llaneli entrou no programa pela segunda vez para oferecer o treinamento para a cozinheira Renilde Jesus dos Santos e a babá Margareth Pontes. Uma das novidades que elas estão aplicando no dia a dia é tirar o macarrão da água de cozimento de um a três minutos antes do tempo indicado no pacote. E jamais esquecer da água fria antes de temperá-lo. “Deixar o macarrão ao dente e depois resfriá-lo permite que o amido adquira uma forma mais resistente, que não é tão facilmente absorvida pelo organismo. Isso dá saciedade por mais tempo”, explica Erika. “Estou aprendendo muito. Não sabia, por exemplo, que é necessário esperar pelo menos duas horas depois de ter dado uma comida com carne a uma criança para dar leite materno ou mamadeira”, diz Kátia, mãe de Rafael, 2 anos, e Beatriz, 3 anos.

A mesma preocupação em preservar os nutrientes está refletida em estudos que buscam conhecer quais são, de fato, os alimentos mais ricos em substâncias bem-vindas ao corpo. Um exemplo é o trabalho de duas universidades da Inglaterra, Liverpool e Glasgow. As instituições fizeram uma pesquisa de três anos para avaliar a qualidade do leite orgânico, produzido por vacas alimentadas com grama, em relação ao leite proveniente de animais que comem ração. A conclusão foi que o produto orgânico possui mais gorduras do tipo ômega 3, que beneficiam o sistema cardiovascular.

Muito também tem se descoberto sobre os malefícios que podem advir de um preparo mal orientado. Um trabalho feito pelo Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos, por exemplo, constatou que o cozimento da carne (vermelha e branca) sob altas temperaturas pode levar ao surgimento de dois compostos químicos nocivos: as aminas heterocíclicas (HCA) e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PAHs). Em pesquisas com animais, ambos estão associados ao câncer. “O HCA também pode se formar diretamente sobre a carne quando ela é frita ou grelhada”, diz a nutricionista Raquel Maranhão, do Hospital Universitário da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da empresa BeSlim. “A forma mais adequada é o cozimento lento, em fogo baixo, com o cuidado de manter a carne sempre hidratada, assegura a nutróloga Vânia Assaly.

Outra estratégia para impedir a formação desses compostos seria a adição de ervas. De acordo com uma pesquisa feita na Universidade Kansas State, nos Estados Unidos, colocar alecrim na panela reduziu em até 92% a formação dessas substâncias. Outras especiarias, como coentro, açafrão e cominho ajudariam a prevenir a formação dos hidrocarbonetos em 39%. E há também a possibilidade de compensar a presença dessas substâncias indesejáveis ingerindo, regularmente, porções de folhas e legumes coloridos. “Eles fornecem substâncias que ajudam o organismo a neutralizar a ação dessas substâncias”, explica a nutricionista e mestre em ciências Márcia Daskal Hirschbruch, da Recomendo Consultoria Nutricional e de Qualidade de Vida, de São Paulo. “Variedade à mesa e na forma de preparo são o grande segredo. Assim, garantimos mais um nutriente fundamental para a saúde, que é o prazer de comer”, diz Márcia.

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domingo, 25 de março de 2012

Casos de gripe A no Ceará crescem em 128%

Mulheres foram as mais atingidas pela doença
Arquivo
Os casos de gripe A (H1N1) cresceram 128% em uma semana no Ceará. Até esta sexta-feira (23), 18 pessoas tinham contraído a doença, segundo boletim da Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa).

No total, 32 pessoas foram infectadas com o vírus. Até o último dia 16, o número correspondia a 14 casos. De acordo com a Sesa, cinco pacientes com suspeita da doença aguardam resultado de exame laboratorial.

Todos os casos deste ano concentram-se em Fortaleza, com 17, e em Beberibe, com 15. Os casos de óbito também se restringem as duas cidades, cada uma com uma morte.

O perfil do maior número de vítimas da doença no Ceará é jovem, mulher, e em sua maioria, gestante. Além das grávidas, crianças com idade inferior a 2 anos e idosos compõem o grupo de risco.

Sintomas da gripe A

- Aumento de frequência respiratória;
- Pressão baixa;
- Febre;
- Tosse ou dor de garganta;
- Em crianças, além dos itens acima, observar também: batimentos de asa de nariz, cianose, tiragem intercostal,desidratação e inapetência.

sábado, 24 de março de 2012

Estresse infantil

Agenda cheia, reprovação dos pais, conflitos na escola. Pesquisas na área de neurociência e comportamento mostram como a exposição a fatores estressantes compromete o desenvolvimento das crianças e o que fazer para evitar danos futuros

Rachel Costa

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Natação, inglês, equitação, tênis, futebol. É cada vez mais comum encontrar crianças que mal saíram da pré-escola e já cumprem agendas de “miniexecutivo”, com compromissos que se estendem ao longo do dia. A intenção dos pais ao submeter os filhos a essas rotinas é torná-los adultos superpreparados para o competitivo mundo moderno. O preço que se paga por tanto esforço, porém, pode ser alto. Ainda pequenas, essas crianças passam a apresentar um problema de gente grande, o estresse. “É uma troca que não vale a pena”, afirma o psicoterapeuta João Figueiró, um dos fundadores do Instituto Zero a Seis, instituição especializada na atenção à primeira infância. “Frequentemente essa rotina impõe à criança um sentimento de incompetência, pois lhe são atribuídas tarefas para as quais ela não está neurologicamente capacitada.” Como uma bomba-relógio prestes a explodir, o estresse infantil tem ganhado status de problema de saúde pública. Nos Estados Unidos, por exemplo, a Academia Americana de Pediatria publicou, em dezembro, novas diretrizes para ajudar os médicos a identificar e tratar esse mal. O risco dessa exposição, alertam os cientistas, são danos que vão bem além da infância, como a propensão a doenças coronarianas, diabetes, uso de drogas e depressão.

Dos poucos estudos brasileiros sobre estresse infantil, se destaca um levantamento realizado pela pesquisadora Ana Maria Rossi, presidente da International Stress Management Association no Brasil (Isma-BR). A pesquisa, feita com 220 crianças entre 7 e 12 anos nas cidades de Porto Alegre e São Paulo, revelou que oito a cada dez casos em que os pais buscam ajuda profissional para seus filhos por causa de alterações de comportamento têm sua origem no estresse. “O estresse é uma reação natural do nosso corpo, o problema é esse estímulo atingir níveis muitos altos ou se prolongar por longos períodos”, diz Ana Maria.

Para ajudar pais e profissionais de saúde a identificar quando há risco, cientistas do Centro de Desenvolvimento da Criança da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, propuseram uma divisão: o estresse positivo, aquele em que há pouca elevação dos hormônios e por pouco tempo; o tolerável, caracterizado pela reação temporária e que pode ser contornada quando a criança recebe ajuda; e o tóxico, o que deve ser combatido, ligado à estimulação prolongada do organismo, sem que a criança tenha alguém que a ajude a lidar com a situação. “A origem pode estar em episódios corriqueiros que gerem frustração ou aflição frequentemente, como brigas na escola ou com familiares, ou em situações únicas, mas com impacto muito grande, como a morte inesperada de alguém próximo, abuso sexual ou acidente”, esclarece Christian Kristensen, coordenador do programa de pós-graduação em psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Quando exposto a quantidades muito grandes dos hormônios do estresse, o organismo sofre uma espécie de intoxicação. Cai a imunidade, deixando a pessoa mais exposta a infecções, há uma interferência nos hormônios do crescimento e até mesmo o amadurecimento de partes essenciais do cérebro, como o córtex pré-frontal, é afetado. “Essa região é responsável pelo controle das funções cognitivas, como a capacidade de moderar a impulsividade e a tomada de decisões”, explica o neurocientista Antônio Pereira, do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

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SINAIS
Uma professora alertou Liliana para a dificuldade do filho Rafael em ler os enunciados.
No médico, descobriu-se o porquê: o garoto tem ansiedade e déficit de atenção

Mas o que tem tirado as crianças do eixo tão prematuramente? No estudo realizado pelo Isma-BR, em primeiro lugar aparecem a crítica e a desaprovação dos pais, seguidas pelo excesso de atividades, o bullying e os conflitos familiares. Esse último fator mereceu atenção especial em uma pesquisa realizada na Universidade de Rochester, nos Estados Unidos. E o resultado comprovou uma suspeita antiga. “Em nosso estudo demonstramos que o ambiente estressante está associado à ocorrência mais frequente de doenças nas crianças”, disse à ISTOÉ a pediatra Mary Caserta, coordenadora do trabalho, que envolveu 169 crianças entre 5 e 10 anos. Muitas vezes, os pais nem desconfiam que a enfermidade do filho pode ter raízes no estresse. “Passa tão batido que às vezes a criança é medicada de modo errado”, diz Marilda Lipp, diretora do Centro Psicológico de Controle do Stress e professora da PUC-Campinas. Encontrar reações físicas intensas, mas sem nenhuma doença de fundo não é mais novidade para os médicos. “Cefaleias e dores abdominais causadas por estresse são as queixas mais comuns”, diz Ricardo Halpern, presidente do departamento de comportamento e desenvolvimento da Sociedade Brasileira de Pediatria.

Outro perfil que se tornou comum nos consultórios é o da criança estressada pela superproteção dos pais. São os “reizinhos mandões”, como apelidou a psicopedagoga Edith Rubinstein. “Esses meninos e meninas têm muita voz dentro de casa e dificuldade de lidar com o esforço”, diz a especialista. Não deixar a criança aprender a contornar situações difíceis é extremamente prejudicial. Isso porque uma característica importante para evitar os quadros de estresse tóxico é justamente a resiliência – a capacidade de a pessoa se adaptar e sair de situações adversas. “Quando a criança é sempre tirada pelos pais do apuro, ela não desenvolve essa habilidade e se torna mais suscetível ao estresse”, diz a psicanalista infantil Ana Olmos.

Com a evolução científica, o que se tem constatado é que não só no comportamento as reações ao estresse são distintas. Estudando um grupo de 210 crianças de 2 anos, pesquisadores da Universidade de Rochester, nos Estados Unidos, notaram que comportamentos diferentes estão associados a níveis distintos de cortisol no sangue. Os pequenos voluntários foram divididos em dois grupos: as “pombas” (crianças cautelosas e dóceis) ou os “falcões” (atrevidas e assertivas). Enquanto as “pombas” apresentavam uma elevação abrupta na quantidade de cortisol circulando na corrente sanguínea quando expostas a situações estressantes, nos “falcões” a concentração desse hormônio permanecia praticamente inalterada. E isso trazia consequências diversas para os dois grupos: “pombas” demonstraram mais chances de desenvolver depressão e ansiedade. Já os “falcões” estavam mais suscetíveis a comportamentos de risco, hiperatividade e déficit de atenção. “É importante reconhecer essas diferenças para intervir”, disse à ISTOÉ Melissa Sturge-Apple, coautora da pesquisa.

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MÉTODO
Edmara de Lima coordena os professores e funcionários da Prima Escola
Montessori para diagnosticar as mudanças emocionais dos alunos

“O estresse é um fator de risco importante para a grande maioria das doenças mentais”, diz Guilherme Polanczyk, do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo. “E seu efeito sobre o organismo é bem maior em sistemas menos maduros, como o das crianças.” Prova disso foram os dados apresentados por pesquisadores da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos. A exposição à violência, ainda que moderada, foi capaz de gerar modificações no comportamento em 90% das 160 crianças entre 4 e 6 anos analisadas no estudo. As principais alterações eram pesadelos, voltar a fazer xixi na cama e a chupar o dedo. Em um terço dos pequenos voluntários, a consequência foi mais grave: ocorreram crises de asma, alergias e déficit de atenção ou hiperatividade. E 20% deles desenvolveram transtorno do estresse pós-traumático. “Quanto mais estresse na infância, maior a chance de se ter alterações físicas e psicológicas quando adulto”, disse à ISTOÉ Sandra Graham-Bermann, autora da pesquisa.

Foi após dois eventos estressores que a menina R., 14 anos, desenvolveu o transtorno obsessivo compulsivo (TOC). Na mesma semana, em 2009, ela viu o som do carro da mãe ser roubado e o pai escapar, por pouco, da tragédia no voo 3054 da TAM (que se chocou contra um hangar do aeroporto de Congonhas, em São Paulo, matando todos a bordo). Depois dos sustos, começou a manifestar manias de repetição. “O ritual de repetição me deixa muito ansiosa e me abate muito”, diz a menina. “Para os pacientes de TOC, a própria doença é considerada estresse crônico”, avalia o psiquiatra Eduardo Aliende Perin, membro do Consórcio Brasileiro de Pesquisa em TOC.

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RECOMEÇO
Em Realengo, o desafio é apagar da memória de alunos, funcionários e
pais a experiência negativa de ver estudantes mortos dentro da sala de aula

Estresse e transtornos mentais também vêm juntos quando falta diagnóstico. Foi o que ocorreu com o psiquiatra Jorge Simeão, 38 anos. Sem saber o que tinha, ele sofreu durante toda a sua adolescência e juventude. Muitos o consideravam um rapaz distraído, que não se preocupava com os outros. Foi preciso se formar na faculdade como médico psiquiatra para Simeão finalmente descobrir que os traços de comportamento que o acompanhavam não eram uma falha de caráter, mas uma alteração no funcionamento do seu cérebro. Ele tem transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). “O esforço que precisava fazer para me concentrar e a falta de compreensão de colegas me geraram uma tensão muito forte, a vida toda.” Histórias como a de Simeão são bem mais comuns do que se imagina. Pelos cálculos da Organização Mundial da Saúde, uma em cada cinco crianças tem alguma desordem psiquiátrica e a grande maioria leva anos até receber o diagnóstico. A mais comum, de acordo com pesquisas do Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos, é a ansiedade, presente em 8% dos meninos e meninas abaixo dos 18 anos. Em seguida, aparecem a depressão (7,8%), os distúrbios de conduta (5,6%) e o TDAH (5%).

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ATENÇÃO
Várias crianças atendidas pelo psiquiatra Guilherme Polanczyk
apresentam estresse como sintoma de um transtorno mais grave

Ainda há poucas ações voltadas para a saúde mental infantil, mas algumas já demonstram bons resultados. Edmara de Lima, coordenadora pedagógica da Prima Escola Montessori, em São Paulo, orienta uma dessas. “Observamos as crianças sob três ângulos: primeiro analisamos o corpo, se ela enxerga e fala bem e se está com os hormônios em níveis adequados. Depois analisamos a inteligência, se está adequada à idade. Por último vemos as questões emocionais.” No Rio, o neurologista do comportamento Alexandre Ghelman ajusta os últimos detalhes para iniciar, no próximo semestre, um trabalho com alunos do terceiro ano do ensino médio para evitar a tensão, em especial a gerada pelo vestibular. “Vamos ensinar-lhes técnicas para que lidem melhor com as situações estressantes”, diz Ghelman. Entre as lições, os jovens vão aprender como identificar o que os tira do sério, quais são os sentimentos que os dominam nessa hora e como relaxar diante dos fatores estressores. A escola tem mesmo muito que contribuir. Foi graças ao alerta de uma professora que a editora gráfica Liliana Franco, 48 anos, levou o filho Rafael, então com sete anos, ao médico. “Ela me disse que ele estava lendo só a primeira linha dos enunciados das perguntas antes de responder às questões”, afirma Liliana. No psiquiatra, se descobriu que Rafael tem TDAH e ansiedade. Com o treino cognitivo-comportamental e o tratamento medicamentoso, porém, o garoto, hoje com 15 anos, conseguiu reverter vários sintomas e se prepara para prestar vestibular.

Nem todos, porém, têm a sorte de receber um diagnóstico precoce. Daí advêm as complicações. “Podemos fazer um paralelo entre os transtornos mentais e a diabete. Em ambos, você não vai curar a pessoa, mas quanto mais cedo é a intervenção, maiores as chances de reduzir seus impactos”, avalia o psiquiatra Christian Kieling. “A lacuna entre quem tem algum transtorno mental e aqueles que recebem o atendimento especializado é muito grande”, avalia Dévora Kestel, assessora regional de Saúde Mental da Organização Panamericana de Saúde (Opas). No Brasil, o governo federal planeja os primeiros passos. “Estamos começando a pensar uma política integrada entre os ministérios para cuidar da saúde mental na infância”, informou Paulo Bonilho, coordenador nacional de Saúde da Criança do Ministério da Saúde. Medida mais que necessária para desarmar a bomba-relógio do estresse infantil.

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INCOMPREENSÃO
Sem um diagnóstico, o psiquiatra Jorge Simeão cresceu sob a tensão de
não conseguir ser “normal” como os outros. A dificuldade em se lembrar
de coisas e o esforço para se concentrar eram constantes fontes de estresse

Massacre traumático

Até um ano atrás, um estudante armado invadir um colégio e atirar contra seus colegas era algo distante do imaginário brasileiro. A cena era usualmente associada a alguma tragédia americana – país que concentra 70% de ataques desse tipo. Desde 7 de abril de 2011, porém, o Brasil passou a integrar essa estatística. Wellington de Oliveira, ex-aluno da Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, invadiu o colégio e disparou contra alunos e funcionários, deixando 12 mortos. “É preciso atenção após tragédias, pois elas são importantes gatilhos para os transtornos mentais, em especial o do estresse pós-traumático”, avalia Fábio Barbirato, chefe do setor de psiquiatria da infância e adolescência da Santa Casa do Rio. Por isso, desde o massacre há um esforço coletivo para apagar essas marcas. No atendimento psicológico, que se iniciou no dia seguinte ao incidente, já passaram 90 crianças e 100 adultos. Cerca de metade deles segue em tratamento. Caíque, um menino de 3 anos que perdeu a tia Jéssika Guedes no massacre, ficou durante muito tempo perguntando quando a jovem voltaria para a casa. “Ele perguntava para quem ia à escola se Jéssika estava lá.” Com apoio psicológico, está aos poucos assimilando que a tia não voltará mais. Como ele, várias crianças e famílias ainda sofrem com a tragédia. “Pode demorar anos para esses efeitos negativos serem contornados”, disse à ISTOÉ o psiquiatra Timothy Brewerton, um dos responsáveis pelo atendimento às vítimas do massacre de Columbine, ocorrido em uma escola americana em 1999. Para ele, à medida que se aproxima o marco de um ano da tragédia, é preciso mais cuidado. “A efeméride é uma espécie de gatilho para novas reações emocionais.”

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sexta-feira, 23 de março de 2012

Estudo identifica proteína responsável pela calvície masculina

Descoberta aumenta a expectativa sobre tratamentos efetivos para o mal

Terra

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Pesquisadores identificaram a proteína responsável pelo padrão masculino de calvície, aumentando as expectativas em torno de tratamentos efetivos para as mais comuns causa de perda de cabelos entre os homens. As informações são do site da Fox News.

A calvície atinge 8 a cada 10 homens e faz com que os folículos pilosos encolham e produzam fios microscópicos, que crescem por um período mais curto do que em um cabelo normal. "Nós investigamos couros cabeludos carecas no ano passado e vimos que os folículos pilosos ainda estavam presentes", observou George Cotsarelis, professor de Dermatologia da Perelman School of Medicine at the University of Pennsylvania. Ele ressaltou que isso mostra a falta de um ativador para estimular o crescimento do cabelo, ou a presença de um inibidor.

Usando micro-raios, Cotsarelis e seus parceiros recolheram amostras de tecido do couro cabeludo de homens que sofriam de alopecia androgenética e mediram os níveis de diferentes genes. As amostras foram retiradas tanto das regiões completamente carecas, quanto das com cabelo.

Eles concluíram que as áreas carecas apresentavam níveis altos de uma proteína chamada Prostaglandina D2 (PGD2) - cerca de três vezes mais do que nas áreas que continham cabelo. Uma vez que a proteína foi identificada, eles fizeram novos testes para estudar o efeito que esta proteína exercia em ratos e folículos pilosos cultivados em laboratório.

Cotsarelis disse que os resultados da pesquisa são "completamente novos" e que a proteína "realmente diminui o crescimento". "Ninguém fazia ideia de que a PGD2 tinha algo a ver com o crescimento do cabelo", completou.

Ele explica que já era comprovado que outros tipos de prostaglandinas poderiam estimular o crescimento do cabelo, como o Latisse, produto usado para prolongar os cílios.

No entanto, para inibir o crescimento, a PGD2 precisa primeiramente se ligar a um receptor que, segundo Cotsarelis, é o alvo para futuros tratamentos. Ele ressaltou que, em ratos geneticamente modificados, que não possuíam o receptor, o cabelo cresceu normalmente. Já nos ratos normais, o PGD2 inibiu o crescimento do cabelo.

O especialista explicou que o próximo passo é descobrir como bloquear este receptor e, segundo ele, as chances de surgirem tratamentos efetivos a partir de agora são grandes.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Exame de sangue pode prever risco de infarto

Pesquisa americana descobre que um tipo de célula no sangue pode indicar se os pacientes estão prestes a sofrer um ataque cardíaco

Células chamadas endoteliais se encontram em maiores quantidades no sangue de pacientes à beira de um infarto, conclui estudo

Células chamadas endoteliais se encontram em maiores quantidades no sangue de pacientes à beira de um infarto, conclui estudo (Thinkstock)

Cientistas do Scripps Translational Science Institute (STSI) – um instituto de pesquisas localizado na Califórnia, nos Estados Unidos – apresentaram um novo exame de sangue que pode ajudar os médicos a prever o risco de infarto em pacientes. O estudo, publicado na edição desta semana da revista Science Translational Medicine, concluiu que determinado tipo de células pode funcionar como um possível biomarcador da doença. Só no Brasil, segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia, são 320.000 mortes por problemas cardiovasculares por ano.

Opinião do especialista

Dr. Leopoldo PiegasDr. Leopoldo Piegas
Cardiologista do HCor e professor livre-docente pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo


Acredito que se trata da primeira pesquisa no mundo a chegar a tal conclusão. Cientificamente, ela tem um grande valor, já que descobriu que, antes mesmo de ocorrer o infarto, já existem certas células indicadoras de um possível ataque circulando no sangue do paciente. Mas não podemos deixar de analisar a parte prática, quando falamos em previsões altamente precoces.

É impossível, por exemplo, submeter toda a população mundial a este teste preventivo. O estudo realizou o diagnóstico dessas células em pessoas que já estavam chegando a hospitais, sendo úteis nesse caso, mas não é possível saber uma semana ou dez dias antes se essas células já existiam em maior quantidade no corpo do paciente. Então, com qual frequência as pessoas teriam que fazer os testes?

Assim, o estudo americano é importante para diagnósticos imediatos, mas quando se trata de diagnósticos precoces, ela pede um maior aprofundamento.

A pesquisa envolveu 50 pacientes que, prestes a sofrer ataque cardíaco, procuraram ajuda em quatro prontos-socorros da cidade de San Diego (Califórnia). Usando diferentes sistemas de isolamento de células, os cientistas descobriram que a quantidade e a estrutura das células conhecidas como endoteliais (célula achatada que recobre a face interna dos vasos sanguíneos e o coração) estavam dramaticamente alteradas em pessoas com infarto, quando comparadas com grupos de pessoas saudáveis. Ou seja, testar o sangue de pessoas propensas a ter este tipo de ataque poderia ajudar a prever quais pacientes realmente vão sofrê-lo.

O infarto é um evento súbito em que ocorre uma repentina privação de oxigênio no tecido cardíaco, causada pela obstrução de artérias. O grande segredo para evitar as sequelas de um ataque como este é a abertura precoce da artéria obstruída, a fim de restabelecer o fluxo de oxigênio no órgão – sem oxigênio, as células de parte ou de todo o coração morrem. Por isso é tão importante prever o risco de infarto: quanto mais rápido essa abertura arterial for realizada, menor será o dano ao paciente, sendo também menor o risco de morte.

"A habilidade em diagnosticar um ataque cardíaco iminente é uma importante descoberta, que pode ajudar a mudar o futuro da medicina cardiovascular", afirma Dr. Eric Topol, coordenador do estudo. "A esperança é ter este teste desenvolvido para uso comercial em até dois anos. Ele pode ser ideal para determinar se um paciente está à beira de um infarto ou prestes a sofrer um nas próximas semanas. Por enquanto, nosso teste apenas detecta se a pessoa está vivenciando um ataque ou acabou de passar por um", diz o coautor Raghava Gollapudi.

quarta-feira, 21 de março de 2012

superbactéria 45 casos de KPC são confirmados

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Dois dos pacientes com KPC morreram no Instituto do Câncer do Ceará (ICC)
FOTO: JOSÉ LEOMAR
Todas as ocorrências foram confirmadas por exames laboratoriais, mas ainda passarão por teste feito fora do Ceará

Hoje, já são 45 casos de pacientes infectados pela bactéria Klebsiella Pneumoniae Carbapenemas (KPC). Todos foram confirmados por exames laboratoriais realizados no Ceará. A informação foi divulgada, ontem, pela Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa). O órgão já havia comprovado, na última sexta-feira, 27 casos suspeitos de pacientes com KPC. Destes, 25 em hospitais públicos e outros dois casos da bactéria que tiveram óbitos confirmados pelo Instituto do Câncer do Ceará (ICC), unidade privada. Porém, o coordenador de Promoção e Proteção à Saúde da Sesa, Manoel Fonsêca, afirmou a existência de outros 18 casos suspeitos em hospitais particulares, o que totaliza 45.

Segundo ele, apesar de todos terem se submetido a exames realizados em um laboratório particular, os quais deram resultados positivos, o Laboratório Central de Saúde Pública do Ceará (Lacen) aguarda, ainda, a chegada de kits biomoleculares, chamados de teste ouro, vindos de fora do Estado para exata comprovação. Conforme Fonsêca, os exames devem ser realizados a partir do dia 30 deste mês. No próximo dia 3 de abril, os resultados devem ser divulgados. "Os exames realizados nos laboratórios do Ceará geram um diagnóstico de potenciais positivos, já o teste ouro é a confirmação exata" explica o coordenador.

Nesta semana, duas mortes foram confirmadas no ICC por contaminação pela KPC. Havia outros cinco pacientes suspeitos na unidade, mas o diretor clínico do hospital, Reginaldo Ferreira, divulgou que o resultado dos exames realizados deu negativo. Esses casos, segundo Manoel Fonsêca, não precisarão passar por teste, somente os positivos.

Óbitos

Segundo Ferreira, no caso dos dois óbitos, os pacientes estavam dentro de um contexto de gravidade. Eram pessoas que não tinham somente a infecção pela bactéria. "A causa da morte não foi o KPC, já que esses pacientes tinham o diagnóstico de câncer avançado", destaca.

Ainda de acordo com ele, o exame de cultura realizado por um laboratório terceirizado pela unidade é de total confiança e trabalha dentro das regras da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. "Temos 99% de certeza do diagnóstico realizado. Porém, podemos, sim, refazer os testes", destaca. Conforme Manoel Fonsêca, a KPC é uma infecção hospitalar que acomete, principalmente, pacientes que estão debilitados, imunodeprimidos e que passam muito tempo internados em leitos de UTI com uso prolongado de antibióticos de amplo espectro.

"Todo mês, em alguma UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Ceará e do Brasil, morrem pacientes vítimas de KPC. Não temos como evitar que as pessoas que estão expostas a uma patologia crônica peguem uma bactéria super resistente". Apesar de ressaltar que não há risco de surtos ou epidemias devido ao KPC, o coordenador destaca a importância da atuação de uma Comissão de Controle de Infecção Hospitalar em todos os hospitais que possuem UTIs.

Segundo Fonsêca, essas equipes são formadas, geralmente, por um médico, uma enfermeira e um farmacêutico, os quais são responsáveis por analisar e detectar qualquer tipo de infecção nos pacientes que estão internados na UTI.

"Todos os seis hospitais públicos de responsabilidade do Estado, localizados em Fortaleza, possuem Comissões de Controle de Infecções Hospitalares. Essa equipe é fundamental para evitar mortes por infecções bacterianas", diz o especialista. A secretaria divulgou uma nota técnica sobre os cuidados preventivos contra a infecção pela bactéria Klebsiella pneumoniae carbapenemase, elaborada pela Coordenadoria de Promoção e Proteção à Saúde. O texto alerta os profissionais de saúde e as pessoas que acompanham e visitam doentes nos hospitais sobre a necessidade de higienização das mãos com água e sabão ou álcool gel.

Epidemia

De acordo com a Sesa, os hospitais não são obrigados a informar os casos da bactéria porque elas não têm capacidade de causar epidemia. Geralmente, são situações restritas de pacientes internados em UTIs. "A KPC é uma bactéria que provoca pneumonia, não é de notificação compulsória e é muito comum em hospitais", diz Fonsêca.

Diagnóstico

25 casos suspeitos da superbactéria, que ainda terão a confirmação exata, por meio do teste ouro, vindo de outro Estado, estão em hospitais públicos do Ceará

KARLA CAMILA
REPÓRTER

terça-feira, 20 de março de 2012

Preenchedores faciais e botox podem ter efeitos desastrosos

É fácil explicar a popularidade dos preenchedores faciais e da toxina botulínica (o famoso botox): a aplicação é simples --só uma injeção-- e o resultado é rápido.

Mas não é porque dispensam cortes que esses tratamentos são isentos de risco. Tanto que os médicos já têm técnicas específicas para corrigir problemas causados por esses produtos.

De acordo com a cirurgiã plástica Eliza Minami, que falou sobre as possíveis complicações no Simpósio de Rejuvenescimento realizado neste mês no Instituto Sírio-Libanês de Ensino e Pesquisa, os campeões de problemas são os preenchedores definitivos, como silicone líquido e o polimetilmetacrilato.

Nenhum dos dois é recomendado para uso estético. Mas esses produtos ainda são usados sem critério, segundo o cirurgião plástico Carlos Alberto Jaimovich. "A promessa é uma plástica sem cortes, mas, quando aparecem os problemas, não dá para corrigir sem cirurgia."

Minami explica que as complicações mais comuns são a formação de granulomas, nódulos que sofrem inflamações recorrentes. O produto também pode endurecer ou migrar para outras regiões do corpo.

Preenchedores temporários, como o ácido hialurônico --o mais usado hoje-- também podem causar transtornos, mesmo sendo os mais seguros do mercado. Seu efeito tem duração máxima de dois anos. A desvantagem para é ter de reaplicar com certa frequência. A vantagem é que se o resultado não for o esperado ou houver complicação, pode-se reverter o efeito.

Segundo a Bogdana Kadunc, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia, a complicação mais temida é a necrose de tecidos.

"Se a pessoa que está aplicando não conhece a anatomia, a vascularização, existem efeitos trágicos."

Nesses casos, é preciso aplicar medidas emergenciais, como uso de vasodilatadores e, no caso do ácido hialurônico, a enzima hialuronidase, que leva à degradação e à absorção do produto.

A enzima também pode ser usada caso o efeito estético do preenchedor não seja o esperado ou em caso de reações que causem inchaço, como aconteceu com a fisioterapeuta Fernanda Soto, 34, que recebeu uma aplicação de ácido hialurônico no rosto para reduzir as olheiras.

"Tive uma espécie de alergia e fiquei com um edema por um bom tempo do lado direito." Com drenagem linfática e aplicação de enzima, ela acabou com o problema.

O comportamento das pacientes é apontado pela cirurgiã Alessandra Haddad como motivo para resultados indesejados. Ela diz que algumas não esperam o resultado da aplicação de ácido hialurônico passar antes de fazer outra. "Isso vai deixando as pessoas deformadas, porque o segundo médico não sabe como era a forma anterior."

A toxina botulínica, que reduz as marcas de expressão cortando a comunicação das terminações nervosas com os músculos, também pode causar problemas. O pior, segundo os especialistas, é a "pálpebra caída". Outros efeitos são as "bunny lines" (marcas nas laterais do nariz) e a sobrancelha levantada.

Nos dois últimos casos, diz a oftalmologista Midori Osaki, é possível fazer uma correção rápida com novas aplicações da própria toxina.

"O certo é procurar um médico que tenha feito treinamento, residência", diz José Horácio Aboudib, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.


Editoria de Arte/Folhapress

segunda-feira, 19 de março de 2012

Antifúngico se mostrou eficaz no tratamento da epilepsia

O clotrimazol, usado contra candidíases e micose, conseguiu proteger as células cerebrais de ratos com epilepsia crônica

Epilepsia: especialistas estimam que 2% da população brasileira tenha a doença

Epilepsia: especialistas estimam que 2% da população brasileira tenha a doença (Thinkstock)

Um medicamento comumente usado no tratamento de candidíases e micoses em humanos se mostrou promissor contra a epilepsia em ratos. Segundo uma pesquisa brasileira publicada no periódico Epilepsy & Behavior, o antifúngico clotrimazol conseguiu proteger as células nervosas do cérebro (evitando sua morte), após uma crise em cobaias com a doença crônica.

Saiba mais:

Epilepsia
É uma das causas mais comuns de desordens cerebrais graves, que se caracteriza por uma alteração temporária e reversível do funcionamento do cérebro. A doença se expressa por crises repetidas e pode ser causada por uma lesão no cérebro, abuso de bebidas alcoólicas, de drogas e etc. Apesar da crise convulsiva ser o sintoma mais comum, há ainda a crise do tipo “ausência”, onde a pessoa fica com olhar perdido e perde o contato com o meio por alguns segundos. O tratamento é feito com o uso de medicamentos.

O estudo, conduzido pelo neurofisiologista Fulvio Alexandre Scorza, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), usou oito ratos induzidos a terem crises epilépticas duradouras, as que não são interrompidas com medicamentos. Metade dos animais recebeu tratamento contínuo de clotrimazol. Após 60 dias, os ratos que foram tratados com antifúngico tiveram menor perda de células nervosas, quando comparados aos que receberam somente solução fisiológica.

Proteção – Quando uma pessoa tem uma crise epiléptica prolongada, há um aumento na descarga elétrica nas células do cérebro. Nesse momento, reações químicas fazem com que haja uma maior entrada de cálcio nas células. O acúmulo do cálcio acaba por levar o neurônio à morte. Na pesquisa de Scorza, essa morte celular pode ser evitada com o uso do clotrimazol. “A droga bloqueou a entrada do cálcio na célula, situação padrão durante uma crise”, diz.

Para ser inserido no tratamento da epilepsia o remédio precisa ainda terminar os testes em animais e seguir para uma etapa bem mais complexa em humanos. “É necessário que se faça mais estudos, mas a proposta do clotrimazol é muito interessante”, diz Scorza. A ideia é que esses medicamentos consigam amenizar as crises nos 30% de pacientes que não respondem bem ao tratamento com os remédios já disponíveis no mercado. “Nossa preocupação são os pacientes refratários, que ainda não conseguem controlar as crises.”

Especialista responde

Elza Márcia Yacubian
Professor da neurologia e chefe de Epilepsia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)


“O experimento com o clotrimazol, um medicamento não preconizado para a epilepsia, ainda está em sua fase inicial. Sua ação nos ratos estimulou a prevenção do dano neuronal induzido pelas crises, o que é um dos nossos objetivos maiores no momento. A medicina vem tentando descobrir drogas que previnam o desenvolvimento dessas crises crônicas. O remédio parece bastante interessante nesse sentido, mas é importante lembrar que nem toda droga com ação positiva em animais será efetiva em humanos.

Caso a droga mostre-se eficaz em etapas posteriores do estudo, ainda teremos um longo caminho a percorrer até que ela possa ser testada em humanos."

domingo, 18 de março de 2012

Doença com hora marcada

Novas pesquisas demonstram como o momento do dia pode melhorar ou agravar sintomas e ajudam a criar estratégias de tratamento mais eficazes

Mônica Tarantino

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As investigações sobre as relações entre os ritmos biológicos humanos e o agravamento ou melhora dos sintomas de doenças estão ganhando terreno na pesquisa médica. A razão é que as conclusões que vêm sendo obtidas – descobertas como as horas mais propícias para haver morte súbita ou para a intensificação da dor – começam a contribuir para o acompanhamento mais apropriado dos pacientes, ajudando na prevenção de possíveis complicações e também no alívio do sofrimento causado pelas enfermidades. A área da ciência responsável pelas pesquisas é a cronobiologia, ramo que estuda o ritmo biológico do organismo.

O agente por trás da associação entre as horas do dia e as doenças é o relógio biológico. Ele está localizado em uma estrutura do cérebro chamada hipotálamo, situada na base do crânio. Sua função é regular os processos biológicos e mudanças hormonais que ocorrem em intervalos de cerca de 24 horas. Funciona como um cronômetro. “Alterações nesse sistema podem facilitar o adoecimento”, diz o médico John Araújo, diretor do Laboratório de Neurociência e Ritmicidade Biológica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Uma das áreas nas quais há mais avanços na compreensão do vínculo relógio biológico-sintomas é a cardiologia. Recentemente, pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade Case Western Reserve (EUA) constataram a maior incidência de morte súbita entre duas e seis da manhã, com um outro pico ocorrendo no início da noite. Os horários coincidem com variações na presença da proteína Klf15, envolvida nos mecanismos de controle do relógio biológico e também na regulação da atividade elétrica do coração (problemas nesse circuito podem levar a batimentos cardíacos anormais). “Nosso trabalho é o primeiro a identificar um mecanismo desconhecido da instabilidade elétrica no coração e a fornecer informações sobre as variações diurnas e noturnas associadas à arritmia”, explicou à ISTOÉ o cientista Mukesh Jain, um dos autores do estudo. “Agora estamos testando compostos naturais que equilibram os níveis dessa proteína ao longo do dia”, contou o pesquisador.

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No Instituto do Coração (InCor), em São Paulo, parte dos pesquisadores volta sua atenção para descobrir a relação entre ritmo biológico, sono e doenças cardíacas. “Distúrbios do sono têm sério impacto no sistema cardiovascular”, atesta o pneumologista Geraldo Lorenzi Filho, diretor do Laboratório do Sono do instituto. Um estudo feito por seu grupo revelou que apenas cinco noites de privação de sono (média de quatro horas e meia de sono por noite) são suficientes para prejudicar o funcionamento dos vasos sanguíneos e alterar a saúde cardíaca. “Jovens são os mais atingidos, pois a divisão entre trabalho, estudo e lazer não deixa muito espaço para o descanso”, diz o pneumologista.

Em outro departamento do instituto, o foco é levantar informações que ajudem na prevenção e no tratamento da hipertensão. “Estamos avaliando a pressão alta e sua associação com as mudanças no organismo que ocorrem quando o corpo está se preparando para acordar”, conta o cardiologista Luiz Bortolotto, diretor da Unidade Clínica de Hipertensão e pós-doutorado em cronobiologia na França. “Uma delas é a elevação da atividade do sistema nervoso central. Uma das consequências é o aumento da contração dos vasos sanguíneos”, diz. Nas pessoas em risco, isso aumenta as chances de um ataque cardíaco. Não é à toa, portanto, que os estudos indicam que a partir das 6 até por volta das 11 horas há cerca de 40% mais chances de ocorrência de um ataque cardíaco e 49% mais de risco de acontecer um acidente vascular cerebral do que nos outros momentos do dia.

Mais uma porta aberta pela medicina é a constatação de que a hora do dia influencia na gravidade dos sintomas de infecções e no desempenho do sistema imunológico. Pesquisadores da Universidade de Yale (EUA) conseguiram mapear, em cobaias, o sobe e desce de uma substância chamada TLR9, que atua no processo de detecção de vírus e bactérias. Depois, correlacionaram essas mudanças aos momentos em que os sintomas de infecção se mostraram mais intensos. “Descobrimos que, quanto mais alta a TLR9 estiver, o que ocorre por volta das 2 horas, piores são as manifestações da infecção”, disse à ISTOÉ Adam Silver, autor do trabalho e cientista do Departamento de Medicina Interna, seção de doenças infecciosas. “Encontramos um link molecular direto entre os ritmos circadianos e o sistema imunológico que poderá ter implicações importantes para a prevenção e o tratamento de doenças infecciosas”, complementou o outro pesquisador, Erol Fikrig.

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A tolerância ao desconforto provocado pelas vacinas infantis foi outro ponto observado. Linda Franck, uma enfermeira pediátrica da Universidade da Califórnia (EUA), avaliou as reações de 70 crianças com cerca de dois meses de idade ao receberem sua primeira série de imunizantes. O trabalho revelou que os bebês que os tomaram após as 13 horas dormiram, em média, 70 minutos a mais no primeiro dia, independentemente de terem recebido ou não analgésicos. Isso significa que, depois das 13 horas, o sistema de alívio da dor das crianças funcionou melhor.

Um dos motivos para esse fenômeno é o fato de que, após esse horário, o corpo apresenta temperatura levemente mais quente do que pela manhã, segundo atestou um trabalho feito na Universidade de Washington (EUA). Isso ajuda a relaxar os músculos, diminuindo a tensão, e vasos sanguíneos, permitindo que substâncias fabricadas para atenuar a dor circulem com mais facilidade pelo organismo. Seria, portanto, a hora ideal para se submeter aos tratamentos contra a dor, como fisioterapia e massagem.

Nessa área, há também achados que podem ajudar na prevenção de crises. Pesquisadores da Cleveland Clinic (EUA), por exemplo, verificaram que ataques de enxaqueca são mais frequentes entre 8 e 10 horas e à noite. A informação possibilita que os pacientes se previnam melhor – nesses momentos do dia podem evitar a exposição a gatilhos tradicionais, como a ingestão de determinados alimentos ou ficar em ambientes com cheiros que despertem a dor.

Além das contribuições para mudanças como essa, de natureza comportamental, espera-se que as descobertas da cronobiologia resultem na fabricação de novos remédios, desenhados especialmente para respeitar as oscilações do relógio biológico e suas relações com a manifestação de doenças e sintomas. “A tendência é de que sejam desenvolvidos medicamentos a serem dados em diferentes momentos do dia porque isso os tornará mais eficazes”, disse à ISTOÉ Akhilesh Reddy, especialista em cronobiologia da Universidade de Cambridge.

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