quinta-feira, 31 de agosto de 2017

EUA aprovam terapia inédita que mudará o tratamento do câncer

Aprovação inaugura promissora era da medicina. O tratamento deverá custar 475 000 dólares -- o equivalente a 1,5 milhão de reais

A FDA, a agência americana que regula medicamentos, aprovou nesta quarta-feira um tratamento inovador capaz de combater o câncer. A terapia celular chamada comercialmente de Kymriah (tisagenlecleucel), da farmacêutica suíça Novartis, será indicada para casos de leucemia linfoide aguda, um tipo de câncer comum em crianças e adolescentes. Poderá ser uma opção para pacientes com até 25 anos que não melhoraram com nenhum outro tratamento.
“Estamos entrando em uma nova fronteira de inovação médica com a capacidade de reprogramar as células do próprio paciente para atacar um câncer mortal”, afirmou o diretor da agência Scott Gottlieb.

Como funciona

Conhecido como CAR-T, o método é totalmente personalizado e associa a imunoterapia à engenharia genética. Ao contrário dos medicamentos disponíveis atualmente, cada dose é customizada para o paciente e, para isso, há uma logística complexa.
A confecção do tisagenlecleucel consiste em retirar as células de defesa do sangue do próprio doente e modificá-las em laboratório.  Uma vez alteradas, as células, mais potentes, são reintroduzidas no paciente. Assim, elas se tornam capazes de reconhecer e destruir o tumor de forma mais eficaz.
O estudo conduzido com a terapia mostrou que uma dose única de Kymriah fez desaparecer por completo os tumores de 83% dos participantes. Os resultados foram considerados impressionantes pelos oncologistas e um grande avanço para aqueles que não tinham mais opções.

Efeitos colaterais

Apesar de promissora, a nova terapia pode ter efeitos colaterais graves. O mais frequente é a resposta exacerbada do sistema imunológico, que causa febre muito alta e queda súbita de pressão arterial, além de dificuldade para respirar e inchaço dos órgãos. Em alguns casos, essas reações graves em pacientes já debilitados podem ser fatais.
Em maio, a Kite Pharma revelou que uma pessoa havia morrido durante o ensaio clínico por causa de um edema cerebral. E, em julho de 2016, a Juno Therapeutics, outra companhia que testa o CAR-T informou que quatro pessoas morreram durante os estudos. Todas de edema cerebral. O procedimento só pode ser feito em ambiente hospitalar.

Outros tumores

O CAR-T tem mostrado resultados impressionantes no tratamento de leucemias e linfomas — que não melhoram com as terapias convencionais. A abordagem está sendo estudada também para outros quarenta tipos de câncer, entre eles o de pâncreas, intestino, ovário e pulmão. O tratamento deverá custar 475 000 dólares — o equivalente a 1,5 milhão de reais.

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Sim, gordura faz bem para a saúde

Com o passar do tempo, as gorduras, inclusive a saturada, perderam o posto de vilãs da dieta abrindo espaço para outra questão importante: o equilíbrio

De acordo com um novo estudo, publicado nesta terça-feira no prestigiado periódico científico The Lancet, o consumo moderado de gorduras, equivalente a 35% das calorias diárias, incluindo a tão temida gordura saturada, está associado a uma longevidade maior.
Para os cientistas, com base nos resultados da pesquisa e ao contrário da crença popular, o consumo de gorduras em quantidade mais elevada do que os 30% de calorias diárias que as normas internacionais recomendavam desde a década de 1980 pode reduzir o risco de morte por doença cardiovascular em até 23%.
Por outro lado, uma ingestão elevada de carboidratos – equivalente a mais de 60% das calorias diárias – aumenta esse risco.

Gordura, sim

No recente estudo, os pesquisadores da Universidade McMaster e da Hamilton Health Sciences, ambas no Canadá, analisaram a alimentação de 135.000 pessoas nos cinco continentes. Em média, a dieta dos participantes era composta por 61% de carboidratos, 23% de gordura e 15% de proteína.
Os resultados mostraram que uma dieta que inclui até 35% de gorduras totais incluindo saturada, poli-insaturadamonoinsaturada – a mais saudável de todas – reduz o risco de morte prematura em até 23%. Altos níveis de ingestão de gordura saturada, normalmente considerada prejudicial à saúde, diminuiu esse risco em 13%.
Por outro lado, as pessoas que ingeriam altas quantidades de carboidratos, encontrados principalmente em pães e arroz, apresentaram um aumento de 30% no risco de morte, em comparação com aquelas que estavam em uma dieta “low carb”, ou seja, com baixo consumo da substância.
Os pesquisadores acreditam que esse efeito prejudicial do excesso de carboidrato esteja associado ao fato de que ele é facilmente armazenado como glicose no corpo, aumentando rapidamente seu nível no sangue, o que contribui para o desenvolvimento de doenças crônicas como diabetes e obesidade – dois fatores de risco para doenças cardiovasculares.

Gordura x carboidratos

Outra pesquisa, da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, mostrou que as gorduras e os carboidratos podem impactar a saúde do coração de maneiras completamente diferentes. Das 309 mulheres, com idade entre 48 e 79 anos, que apresentavam risco de aterosclerose – formação de placas de gorduras nas artérias -, as que consumiram 5% de gordura saturada acima da quantidade ideal, o que poderia aumentar consideravelmente o risco cardíaco, tiveram quase 6% de redução na progressão da doença. Em compensação, as que excederam o consumo de carboidrato em 10% mostraram um aumento de 2,8% na obstrução.
Como não é novidade para ninguém, tudo depende de uma dieta rica e variada somada a outros fatores determinantes, como a prática de atividade física e a genética de cada indivíduo. “Não é só o consumo de gordura que está relacionado a esse risco, mas muitas variáveis do estilo de vida”, disse Daniel Magnoni, cardiologista e nutrólogo do Hospital do Coração e do Hospital Dante Pazzanese de Cardiologia, ambos em São Paulo.
“Outros nutrientes, como proteínas e fibras, e fatores de risco, como fumo, obesidade e hipertensão, também são importantes.”

Excesso

Em excesso – quando ultrapassa 5% do padrão indicado pelos especialistas – a gordura saturada de fato está associada a uma taxa maior de problemas cardiovasculares e mortalidade, elevando o colesterol ruim (LDL) em até 10 miligramas por decilitro de sangue.
Segundo Magnoni, a gordura monoinsaturada eleva os níveis de colesterol HDL, seu tipo considerado bom, e reduz o LDL. A poli-insaturada, não altera o HDL e reduz o LDL. Já a gordura saturada, reduz o HDL e aumenta o LDL – o que em excesso pode ser bastante negativo.
“Ao longo da evolução da alimentação ocidental houve um aumento excessivo de gorduras e carboidratos no cardápio, desencadeando o aumento da obesidade e do sedentarismo.”, diz o especialista.

Alimentos e gorduras

Em 2013, a Sociedade Brasileira de Cardiologia divulgou, com base em estudos mais recentes sobre o assunto, novas recomendações sobre o consumo de gorduras – o que antes era limitado em até 30% das calorias diárias, hoje é em 35%. As gorduras poli-insaturadas caíram de 11% para 10% e as monoinsaturadas subiram de 12% para 15%.
Até mesmo a quantidade de gorduras saturadas, sempre tratadas como inimigas da boa alimentação, foram alteradas de 7% para 10%.
Os alimentos por si só possuem diferentes composições de gorduras. O alimento mais rico em gordura monoinsaturada mais presente na mesa é o azeite de oliva que tem 75,5% da substância em sua composição entre os 99,9% de gorduras totais.
Já a manteiga é a campeã em gorduras saturadas, representando 49,2% de 74,1%. No entanto, ao contrário do que diz a crença popular, a gordura não pode nem deve ser completamente eliminada da dieta.
“A gordura saturada é necessária para a produção hormonal, produção das células de defesa e a formação da membrana celular“, explicou Magnoni, um dos médicos que assinaram a atual diretriz.

Mudança constante

Os pesquisadores canadenses acreditam que as recomendações alimentares precisam ser sempre revistas no mundo todo, afinal, os hábitos alimentares sempre variam de região para região. Além disso, na opinião desses cientistas, o colesterol LDL não deve ser a única variável na previsão de eventos cardiovasculares, como o derrame.
Para Magnoni, isso é, em parte, correto. “As diretrizes têm que ter regionalidades com base nos dados econômicos e sociais de cada população. A alimentação de um asiático, por exemplo, é diferente de uma alimentação como a nossa.”

terça-feira, 29 de agosto de 2017

Conheça a importância do café da manhã

Pesquisa britânica confirma que pular a primeira refeição do dia prejudica os ossos, o metabolismo e o funcionamento do cérebro

Rio - O que os pais cansam de repetir para os filhos agora foi provado pela ciência: o café da manhã é a refeição mais importante do dia. Uma pesquisa feita pelo King's College de Londres constatou que começar o dia sem o desjejum pode comprometer o desenvolvimento das crianças, sobretudo a saúde dos ossos e as funções do cérebro. O mais grave é que algumas das consequências podem ser levadas para a vida adulta.
Pequenos devem ingerir alimentos nutritivos no desjejum: leite e cereais são boas opções Divulgação
Pequenos que permanecem de estômago vazio após acordarem tendem a sofrer de insuficiência de ferro, folatos, cálcio e iodo, causando falta de energia. A conclusão foi obtida após uma pesquisa feita por cientistas durante quatro anos. Eles analisaram os hábitos alimentares diários de crianças e adolescentes entre 4 e 18 anos.
"Esse estudo fornece evidências científicas que comprovam que o café da manhã é a chave para os pais se certificarem que os filhos estão obtendo os nutrientes necessários", afirma a pesquisadora Gerda Pot. O trabalho foi publicado no British Journal of Nutrition.
Sem quantidades suficientes de ferro, o organismo não consegue produzir hemácias (células vermelhas do sangue) saudáveis em níveis satisfatórios. Isso prejudica a distribuição de oxigênio pelo corpo, o que deixa a pessoa mais cansada, afeta o desempenho do cérebro e debilita o sistema imunológico.
Já a deficiência de cálcio enfraquece ossos e dentes, provocando problemas na liberação de hormônios e na contração muscular. A baixa ingestão de iodo é ruim para a saúde da glândula tireoide e torna o desenvolvimento mental mais lento. A falta de folatos atrapalha o metabolismo e a absorção adequada de nutrientes pelo intestino.
Os alimentos
Boas fontes de cálcio: Leite, queijo e ameixa seca
Boas fontes de ferro: Aveia, castanhas e chocolate amargo
Boas fontes de folatos: Abacate, amendoim e espinafre
Boas fontes de iodo: Atum, ovos e iogurte natural

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Passionalismo, a nova doença urbana

Ao menor sinal de rejeição ou diante de um mero descontentamento, homens estão matando suas mulheres como nunca se viu no Brasil — e, em alguns casos, assassinam também os filhos e se suicidam

Crédito: Divulgação
TIROS NA MADRUGADAO casal Cláudia e Cristian: ela insistia para que o marido tomasse a medicação necessária; ele a matou a tiros e se suicidou (Crédito: Divulgação)
“Diz que eu não sou homem, diz agora que eu não sou homem, quem aqui não é homem?”, berrou diversas vezes André Luis Santos para Mizaelly Mirelly da Silva, uma jovem de vinte e dois anos. “Vo… cê não… é… ho… mem”, balbuciou Mizaelly com a frase entrecortada pela dificuldade de respirar ao estar sendo estrangulada. Seriam as suas últimas palavras. Morreu. O algoz foi seu namorado. Ao constatar que o corpo da parceira já estava inerte, André matou também o filho de sete meses. Fugiu. Foi preso pela polícia de São Paulo, onde o crime aconteceu. E confessou: “estrangulei porque eu não queria esse filho e ela não abortou”. O caso se deu no bairro do Jaguaré, predominantemente de classe média.
Um sofisticado condomínio no elegante bairro paulistano de Perdizes se transformou em palco de outro trágico e desesperador espetáculo de passionalismo na fria e garoenta madrugada do último domingo. O delegado de polícia Cristian Sant’Ana Lanfredi, em licença médica de seu cargo na Assembleia Legislativa de São Paulo devido a um severo quadro de depressão, saiu de seu apartamento com a filhinha de seis anos no colo e foi ao apartamento vizinho onde mora o padrinho da menina. Pediu então para que cuidasse da garota, alegando que sua mulher, a juíza do Trabalho Cláudia Zerati, acabara de abandonar o casamento, saíra do prédio e ele precisava localizá-la. A afilhada, assim que se viu em segurança, relatou outra história: sua mãe e seu pai haviam discutido muito porque ele se recusava a tomar a medicação antidepressiva prescrita pelo médico. Era tal o nervosismo da criança, que o padrinho pressentiu o pior. Desceu à garagem para conferir se os dois carros do casal estavam lá — e estavam. Chamou então o zelador, foram ao apartamento de Cristian e, coração na garganta, abriram a porta que estava destrancada: horror, sangue, morte. Segundo a polícia, Cristian matou a esposa com um tiro na testa e, na sequência, suicidou-se também com um tiro, disparado no lado direito da cabeça. Um dos relógios do apartamento marcava seis horas da manhã.
ESTÚPIDA EPIDEMIA
PURA PERVERSÃO O parceiro de Mizaelly a mandava falar “diga que não sou homem” enquanto a estrangulava. Ao vê-la inerte, matou o filho de sete meses
A cidade de São Paulo, a casa do Jaguaré e o condomínio das Perdizes são apenas um fechar de foco sobre um Brasil no qual se instaura e se espalha uma nova, estúpida, triste e psicótica epidemia — a epidemia da passionalidade. Em todo o País, nos últimos doze meses, estatísticas do Ministério da Justiça apontam que duas mil e oitocentas mulheres foram assassinadas por seus companheiros, numa questão de gênero, o chamado feminicídio. De volta a São Paulo, onde quatro mortes de mulheres aconteceram enquanto a polícia dava os primeiros passos na investigação do crime do condomínio já citado, estima-se que um feminicídio ocorra a cada quatro dias — setenta concentrados nos últimos meses, entre eles o que vitimou a auxiliar de enfermagem Nathalia dos Santos Silva. O criminoso fugiu.
Crimes passionais sempre aconteceram, e uma de suas motivações prevalentes é o ciúme — ou seja, o tolo ditado de que “o ciúme é o perfume do amor” pode até ser verdadeiro, mas desde que tal sentimento se mantenha num contorno de racionalidade. Fora disso não há fragrância, há cheiro de pólvora, vela e caixão. O que ocorre nos dias atuais, no entanto, é que o assassino mata a mulher, mata os filhos e, algumas vezes, se suicida, extinguindo da face da Terra o seu núcleo familiar — deixando-se claro que a maioria ainda prefere fugir. Mergulhando na mente dos que se matam após o crime, é como se fossem absurdas Medeias pelo avesso: na tragédia grega, a clássica personagem assassina os filhos para punir Jasão (que pretende abandoná-la), deixando nele a dor da perda das crianças. Quanto aos homens-Medeia do presente, eles punem a mulher, matando-a; punem os filhos, matando-os; e, paradoxalmente punem a si próprios, suicidando-se.
É inevitável que se indague a interlocutores e aos botões da nossa própria alma o que leva uma pessoa bem sucedida profissionalmente, família consolidada e situação financeira estável, a cometer homicídio seguido de suícidio. O que move as mãos para o gesto extremo e criminoso de matar? E a naturalidade da indagação vem do vício em considerar, numa imaginária escala de risco para esse tipo de comportamento, que a probabilidade de sua ocorrência esteja mais ligada a indivíduos em condições de vida simples e que não escalaram sequer a metade da pirâmide social. A resposta, quem nos dá, é a dura realidade, na medida em que apresenta aos nossos olhos tantos cadáveres de mulheres — e, eventualmente, de suas crianças. Tudo isso se deve à passionalidade que anda à flor da pele, à passionalidade que cega e vê numa rosa vermelha, por exemplo, não uma rosa vermelha, mas, sim, uma hemorragia. Vê no corpo da mulher que trai ou que parte não mais um corpo animado, mas, sim, um aboslutamentente nada.
No Rio de Janeiro, amigos e familiares do engenheiro Nabor Coutinho de Oliveira Júnior podiam esperar tudo na vida, menos que ele matasse a sua mulher, Lais Khouri. Pois ele a matou, e matou os dois filhos e se suicidou. A esposa morreu com facadas; as crianças a golpes de martelo; ele saltou do décimo oitavo andar do condomínio de altíssimo luxo em que a família morava na Barra da Tijuca. Faca, martelo, mergulho no ar, isso é mais que violência, é mais que a suprema irritabilidade a vazar pelos poros, é mais… não sei que nome dar. A sociedade está psicótica. E, caso após caso, a surpresa vem incomodar. O empresário Oscar Augusto Ferrão Filho, um dos sócios dos estacionamentos da Rede Park, atendeu mecanicamente o telefone que tocava, porque é assim que todos nós, acostumados a falar ao telefone, o atendemos. Veio a voz de seu irmão João Alberto. Veio a bomba atômica do terror e do macabro: “acabei de matar a minha mulher, a Renata, e agora vou me matar”. Um assessor da empresa correu à cobertura em que João Alberto morava no bairro paulistano do Itaim. Com certeza, gostaria de jamais ter visto o que viu: Renata estava tombada no closet com um tiro na cabeça; no andar de cima, na piscina, boiava, também já sem vida, o corpo do empresário. Em Recife, no bairro do Rosarinho (classe média alta), um namorado não aceitou na semana passada a separação amorosa e matou com crueldade a companheira (nomes preservados pela polícia). A não aceitação do final da vida a dois, aliás, vem sendo também motivo de crime, ao lado do ciúme, pagamento de pensão alimentícia e disputa pela guarda de filhos.
A MORTE PELO TELEFONE João Alberto telefonou para o irmão: “Acabei de matar a Renata (no detalhe), e agora vou me suicidar.”
Na cobertura em que moravam, um corpo tombou no closet, o outro, na piscina
País do feminicídio
Foi esse último fator, por exemplo, que disparou a ira e o revolver com que o PM Maurício Gama fulminou a ex-mulher Celina Mascarenha, na presença do filho. Quando o garoto lhe perguntou o porquê, ele respondeu com ironia e sarcasmo: “é para a mamãe descansar um pouco”. Há, no passado, dois episódios de passionalismo e irracionalidade que alimentaram até a mídia internacional: Doca Street matou a modelo Angela Diniz porque ela o traiu com outra mulher, e o cantor Lindomar Castilho assassinou a sua esposa Eliane de Grammont, porque ela já não o queria como marido. Existe, no entanto, um traço comum envolvendo esses delitos, independentemente de época ou gerações. Em todos eles, o homem feminicista é extremamente narcisista, coisifica a parceira e a transforma em sua propriedade. Não é incomum esse homem não estar nem aí para a mulher, enquanto ela permanece ao seu lado, mas desesperar-se e tornar-se violento se surgir uma ameaça de rompimento. Quando essa mulher, antes dominada e transformada em coisa (espelho narcísico do companheiro, pela psicanálise), cogita despedir-se da relação, o homem portador de tal transtorno vê sua “cristaleira de narcisismo” virar cacos. Não suporta isso, não crê que esses cacos se colarão novamente. E então mata na esperança de conseguir voltar a ser, ele mesmo, o seu espelho. O que está em jogo é prepotência e arrogância. Há no País uma estatística de tirar o ar: cerca de trinta por cento das mulheres assassinadas morreram nas frias mãos de seus parceiros.
Qual a solução para isso tudo? É difícil. Desensandecer uma sociedade e desarraigar essa espécie de comportamento não é o mesmo que tocar meia dúzia de malucos que tomam banho nus em um chafariz público. Mas, pelo menos, sabe-se qual não é a solução — e isso já é muita coisa. No Brasil, decretos e leis brotam do nada e não resolvem, igualmente, nada. A Lei Maria da Penha e a criação do termo feminicídio, por si só, não mudaram e nem mudarão o quadro de passionalidade. Demagogicamente Dilma Roussef criou essa expressão, e daí? O número de mulheres agredidas e mortas só fez aumentar exponencialmente, chegando ao seu auge nas últimas semanas e, infelizmente, sinalizando que seguirá crescendo. O temperamento humano (um dos fatores genéticos que compõem a personalidade) não muda por decreto. Homens portadores de transtorno da personalidade narcísica não deixarão de ter baixíssimo limiar de tolerância ao verem negado, por uma mulher, o menor de seus carpichos. Com certeza, é hora de reabrir o clássico Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Hollanda. Ele definiu e explicou porque a “cordialidade brasileira” é passional, e, assim sendo, pode explodir para o bem ou para o mal. Loucamente estamos vivendo na segunda alternativa. Que o diga a dor eterna dos parentes das mulheres assassinadas, dos parentes dos filhos assassinados, e dos parentes dos assassinos suicidas.
TRAGÉDIA NA BARRA DA TIJUCA O engenheiro Nabor e seus dois filhos: ele assassinou as crianças a golpes de martelo, matou a esposa a facadas e saltou do décimo oitavo andar do prédio onde moravam
Dentro dos contornos da violência a massacrar o gênero feminino pelo único fato de ele ser feminino, embora no caso a seguir não se possa falar direitamente em passionalismo porque isso implica idade adulta, é estarrecedor o que se viu em Goiânia na semana passada. Um garoto de treze anos matou a facadas uma adolescente de catorze, sua vizinha e colega de escola. É influência dos tantos episódios de crimes passionais? O menino fez o que fez porque psiquiatricamente é portador de transtorno de conduta (indicativo de psicopatia na vida adulta)? É de tudo um pouco. À polícia ele disse que assassinou Tamires Paula de Almeida e carregava a mórbida intenção de “acabar com mais duas”. Disse ainda: “foi para ver de luto a sala de aula”. Agora prepare a cabeça, o coração e o estômago: “matei Tamires porque mulheres são mais fracas”. Brasil, é muita dor.
Com reportagem de Thais Skodowski

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Estudo francês revela que doces contém nanopartículas não informadas em embalagens

  Adriano Queiroz
Aditivo dióxido de titânio se apresentava em forma partículas 50 mil vezes menores que um fio de cabelo e gerou questionamentos sobre os efeitos na saúde dos consumidores do país Foto: Doctissimo
Alguns doces industrializados contêm aditivos em forma de nanopartículas sem que esta condição seja especificada nas embalagens, segundo um estudo francês, que questiona os efeitos para a saúde e lamenta a falta de transparência das empresas.
O estudo realizado pela revista francesa “60 millions de consommateurs” analisou a presença do aditivo E171 (dióxido de titânio), composto em parte de nanopartículas e utilizado frequentemente na indústria agroalimentar e cosmética para embranquecer doces, pratos preparados e pasta de dente.
Para a revista, publicada pelo Instituto Nacional do Consumo, o fato de que o aditivo se apresente em forma de nanopartículas – 50.000 vezes menores que um fio de cabelo -, gera questionamentos sobre os efeitos na saúde porque estas traspassam com mais facilidade as barreiras fisiológicas.
“Quando uma substância estranha se mete em uma célula, podemos supor que pode haver danos ou uma desregulação de algumas destas células”, explicou à AFP Patricia Chairopoulos, coautora do estudo, que critica as indústrias por uma “falta de vigilância” e de “rigor”.
O E171 na forma de nanopartículas foi encontrado sistematicamente nos 18 produtos doces testados pela revista, em proporções diversas: representou 12% desse aditivo nos biscoitos Napolitain de Lu, 20% nos chocolates M&M’s e 100% nos bolos da marca francesa Monoprix Gourmet. A presença do E171 está indicada nas etiquetas, mas sem a menção “nanopartículas”.
Chairopoulos destacou que um estudo publicado em janeiro por um instituto francês levantou suspeitas sobre este aditivo na forma nano, ao concluir que uma exposição crônica ao E171 favorecia o crescimento de lesões pré-cancerosas em ratos, sem que os pesquisadores extrapolassem, porém, esse risco para os humanos.
Em junho de 2016, a ONG Agir pour l’environnement alertou sobre a presença de nanopartículas, entre elas de dióxido de titânio, em uma série de produtos alimentícios.
Com informações: AFP

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

O que é bronquite, dos sintomas ao tratamento

Essa doença, seja na versão aguda ou crônica, exige bastante cuidado. Mas tem como prevenir... e usar os remédios da melhor forma possível

  A bronquite é a inflamação dos brônquios, tubos que levam o oxigênio até os pulmões. Existe na forma aguda, quando sintomas como tosse, chiado no peito e dificuldade para respirar permanecem por no máximo algumas semanas, e na forma crônica, quando o problema acompanha o indivíduo pela vida toda.
A versão aguda atinge especialmente crianças e idosos, que estão mais suscetíveis ao ataque de vírus e bactérias — em algumas situações, ela é consequência de uma gripe, por exemplo. Pessoas alérgicas também estão no grupo de risco quando entram em contato com substâncias irritantes, como ácaro, pólen, poeira doméstica e fumaça.
No quadro crônico enquadram-se alguns portadores de asma e indivíduos com a doença pulmonar obstrutiva crônica, a DPOC, fortemente associada ao cigarro. Ela seria a união entre a bronquite e o chamado enfisema pulmonar.
Seja agudo, seja crônico, o problema dá as caras quando os brônquios se inflamam, incham e ficam mais contraídos, além de produzir maior quantidade de muco na tentativa de limpar a área. Tudo isso dificulta ou emperra o trânsito de oxigênio até os pulmões. Os cílios, minúsculos pelos responsáveis por varrer a secreção para fora, também passam a não funcionar direito. E eis que a passagem de ar corre risco de ficar entupida.

Sinais e sintomas

– Falta de ar
– Irritação na garganta
– Pigarro constante
– Tosse com secreção
– Chiado no peito
– Dor no peito
– Febre

Fatores de risco

– Tabagismo
– Ambientes poluídos
– Locais fechados, que favorecem a contaminação por micróbios
– Ar condicionado, que resseca as vias aéreas
– Refluxo gastroesofágico
– Contato com pessoas gripadas ou resfriadas
– Contato com substâncias que despertam reações alérgcias

A prevenção

Como o tabagismo é um dos principais responsáveis pela bronquite, seja ela aguda ou crônica, largar o cigarro de vez (ou evitar contato com a fumaceira) é condição indispensável para escapar do problema.
Lavar as mãos com frequência, por sua vez, diminui o risco de levar vírus e bactérias para as vias respiratórias. Para os alérgicos, além de manter distância das substâncias que servem de gatilho às complicações respiratórias, aconselha-se caprichar na hidratação nos meses mais secos. E isso pode ser feito com inalação e soro fisiológico.
Ficar longe de inseticidas, spray de cabelo e outros itens livra as vias aéreas de outros fatores irritantes. Quem trabalha em ambiente infestado de partículas nocivas, poeira, fumaça e gases não pode abrir mão da proteção de máscara de proteção.
Tomar a vacina contra gripe fortalece as defesas e, não por acaso, a medida é oferecida todo ano prioritariamente a quem já tem uma doença crônica nos pulmões.

O diagnóstico

Na consulta, o médico vai perguntar sobre os sintomas, especialmente a frequência e duração dos períodos de tosse, falta de ar e dor ou chiado no peito. Ele precisa ser informado sobre hábitos como fumar e trabalhar exposto a fumaça, pó de madeira, cimento, fiapos minúsculos de algodão, entre outros poluentes.
O profissional vai auscultar os pulmões com o estetoscópio para detectar ruídos respiratórios anormais. Ele poderá também solicitar uma radiografia do tórax, que mostra as condições das estruturas do pulmão e ajuda a excluir outras doenças, como a pneumonia. Exames de sangue apontam se há infecção. Outro recurso é a oximetria, usada para medir o nível de oxigenação no sangue por meio de um aparelho similar a um pregador de roupa colocado no pulso ou na orelha.
Para completar a análise, é possível lançar mão de um teste específico para avaliar a quantas anda a função pulmonar: a espirometria. O paciente inspira e expira em um tubo ligado a um equipamento, o espirômetro, que indica a velocidade e o volume de ar produzido pelo sopro.

O tratamento

Para dar fim aos episódios de bronquite aguda, a recomendação é hidratar as vias respiratórias com inalação e soro fisiológico. O uso de umidificadores de ar ou vaporizadores ajuda a soltar o muco e facilita a respiração.
Para os períodos críticos, os especialistas receitam anti-inflamatórios, broncodilatadores e, nas infecções por bactéria, antibióticos. Lembrando que essa medicação não é útil quando a contaminação é viral e usá-la indiscriminadamente atrapalha sua eficácia quando ela é de fato necessária.
Já a bronquite crônica exige um tratamento de longo prazo. Para começar, o paciente precisa permanecer longe dos fatores irritantes, incluindo aí a fumaça do cigarro dos outros, porque o fumante passivo também está propenso a encarar a doença.
Medicamentos à base de corticoides, em doses controladas pelo médico, são receitados para conter a inflamação e dar alívio aos sintomas. E sessões de exercícios respiratórios orientados por um fisioterapeuta são de grande valia para promover a melhora no desempenho do pulmão.
Nos estágios mais avançados da bronquite crônica, particularmente na DPOC, pode ser necessário recorrer à oxigenoterapia, o uso de oxigênio em casa.

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Fortaleza tem 71 bairros em situação crítica de chikungunya

A cidade passou das 21 mil ocorrências confirmadas da doença em abril para 47.929 até 18 de agosto deste ano
por Renato Bezerra - Repórter
Os casos de febre chikungunya no Estado em 2017 chamam atenção pela alta incidência, especialmente na capital cearense. A cidade passou das 21 mil ocorrências confirmadas da doença no mês de abril para 47.929 até 18 de agosto último, além de outras 6.353 que estão sendo investigadas, segundo informações do último boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS). A estratégia de combate para o segundo semestre, segundo a pasta, envolve uma operação em mais de vinte bairros considerados críticos.
Os adultos continuam sendo as maiores vítimas. Segundo o boletim semanal, 68% dos casos atingiram pessoas entre 20 e 59 anos de idade, 5% crianças de zero a nove anos, 11,5% os adolescentes de 10 a 19 anos e 15,5% a população acima dos 60 anos. É entre os idosos, no entanto, que se encontram as maiores vítimas fatais. Dos 119 óbitos suspeitos pela arbovirose, 83,2% (99) foi registrado em pessoas acima dos 60 anos. Entre as mortes já confirmadas este ano em Fortaleza, 56 no total, 43 foram de pessoas acima dos 70 anos.
A atuação do poder público neste 2º semestre, no que diz respeito o combate ao vetor da doença, o mosquito Aedes aegypti, se baseia na distribuição territorial dos casos. Chama atenção a disparidade das ocorrências entre os bairros da Capital. O levantamento da SMS aponta o maior número de casos confirmados na Secretaria Regional V, 11.830 no total, o que corresponde a 24,75% das ocorrências de toda a cidade.
O Bom Jardim reuniu a maior incidência, com 2.825 pessoas doentes esse ano. No total, 71 bairros registraram incidência acima dos 1.200 casos por cada grupo de 100 mil habitantes, considerado o nível mais preocupante. Conforme ressalta o gerente da Célula de Vigilância Ambiental e Riscos Biológicos da SMS, Atualpa Soares, as ações diferem de acordo com o período do ano.
Neste segundo semestre é possível trabalhar de forma mais articulada em localidades específicas, como diz ele, ao contrário dos primeiros meses do ano, quando as ações são mais emergenciais em virtude da quadra chuvosa e da grande proliferação de mosquitos. Até dezembro deste ano, afirma Soares, serão realizados mutirões preventivos em locais mapeados pela Prefeitura de Fortaleza.
Identificar
"Vamos identificar quais foram aqueles bairros e locais com maior número de casos e nesses os trabalhos serão mais focados, tentando identificar possíveis criadouros, pontos estratégicos, como casas abandonadas, terrenos baldios, que possam ter servido de berçário para o mosquito. Nosso plano estratégico para rodar esses locais conta com a operação quintal limpo e com serviços de limpeza urbana, drenagem de canais que na próxima quadra chuvosa não tenha um maior número de casos".
Ainda segundo o gerente da Célula de Vigilância, está em conclusão a parte organizacional da operação para início em setembro, com a lista de mais de vinte bairros sendo definida até o fim da semana. Os prioritários, detalha, serão o Bom Jardim e o Edson Queiroz, com muitos casos de chikungunya e o Jangurussu, com elevada incidência de dengue. "Uma área ou outra pode estar descoberta então nesse momento é possível leva uma quantidade maior de agentes, tirando eles de um território específico por um tempo ficando nesse outro de forma mais efetiva".
A incidência maior de casos em determinados bairros, segundo explica, pode estar relacionado a locais com grandes adensamentos populacionais, com Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) baixos e onde muitas vezes o cenário social interfere diretamente nos índices de educação e na violência urbana.

terça-feira, 22 de agosto de 2017

Adesivo para o coração

Cientistas canadenses criam curativo que recupera áreas lesadas do tecido cardíaco

Crédito: Divulgação
SEM CIRURGIA Maleável, o curativo pode ser colocado no local por meio de injeção (Crédito: Divulgação)
Um adesivo para reparar um pedaço do coração. Dito assim, a novidade apresentada por pesquisadores da Universidade de Toronto, no Canadá, é de uma singeleza impressionante. Mas o artefato, descrito em um artigo publicado na semana passada, resume a sofisticada inovação trazida pela medicina regenerativa. Menor do que um selo postal, o adesivo não só foi capaz de recuperar, em cobaias, uma parte danificada de tecido cardíaco como também pôde ser colocado no local por meio de uma simples injeção.
FUNÇÃO NORMAL
O curativo é feito de material biodegradável. Foram três anos até que os cientistas chegassem a uma fórmula que permitisse sua introdução sem que fosse preciso a realização de cirurgias. Primeiro, eles criaram o molde, maleável o suficiente para ser enrolado, injetado no lugar desejado e, lá, se desenrolar. Depois, sobre a armação foram alojadas células cardíacas de cobaias. Após um tempo, elas recobriram o artefato, a esta altura finalmente pronto para ser injetado.
APLICAÇÃO Uma das criadoras da novidade, Milica acha que ela será útil para infartados (Crédito:Natural Sciences & Engineering Research Council of Canada)
Os testes revelaram que o adesivo promoveu a recuperação do tecido afetado, com o coração dos animais apresentando funcionamento muito próximo do normal. “Ficamos emocionados. Há potencial para o usarmos em pacientes infartados”, disse à ISTOÉ a pesquisadora Milica Radisic, uma das participantes da pesquisa. A satisfação se deve principalmente porque, sabe-se, reparar os danos causados por um infarto é muito difícil. “O coração tem pouca habilidade para se recuperar espontaneamente”, afirmou à ISTOÉ Miles Montgomery, colega de Milica no projeto. “O adesivo pode ajudar nesse processo por meio da substituição de um tecido machucado por outro, novo.” O próximo passo é testar a novidade mais uma vez em animais (porcos) e, em seguida, partir para as avaliações em humanos.

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Colesterol: o limite mudou

Duas novidades dão maior rigor à prevenção de doenças cardíacas: a taxa do LDL tem que ser ainda menor para pacientes de risco e a perda de peso é obrigatória para todos. Não existe obesidade saudável

Crédito: Divulgação
Duas novas medidas anunciadas na semana passada deixaram mais apertadas as metas a serem alcançadas para uma prevenção eficaz de doenças cardiovasculares. No Brasil, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) divulgou diretrizes segundo as quais os limites aceitáveis do colesterol ruim, o LDL, devem ser ainda mais baixos para pessoas de alto e altíssimo risco. O LDL é nocivo porque entope as artérias, contribuindo para a ocorrência de infarto ou de acidente vascular cerebral (AVC). De acordo com a entidade brasileira, indivíduos de alto risco são aqueles que apresentam mais de um fator de risco para essas doenças. Entre eles, hipertensão, diabetes e obesidade. Os pacientes de altíssimo risco já tiveram um desses eventos e/ou foram submetidos à colocação de pontes de safena ou de stents (artefato que mantém a artéria aberta).
Até agora, a taxa ideal de LDL para o primeiro grupo era de 100 mg/dL. O limite passou a ser de até 70 mg/dL. Nesses pacientes, o risco de morte por doença cardiovascular em dez anos supera os 20% (homens) e os 10% para mulheres. A nova recomendação para os indivíduos com maior chance de sofrerem algum problema é de LDL de no máximo 50 mg/dL. Antes, admitia-se uma concentração de até 70 mg/dL. Entre esse grupo, a probabilidade de morte nos próximos dez anos supera os 20% para ambos os sexos.
O rigor no controle do LDL nos casos de maior vulnerabilidade obedece a uma tendência mundial. “É preciso ser mais agressivo no trabalho de prevenção voltado para as pessoas de maior risco”, afirma o cardiologista Raul Dias dos Santos Filho, diretor científico da SBC e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. “Nos Estados Unidos, eles são ainda mais rigorosos.”
A mudança vem ancorada em evidências científicas recentes de que a redução nos níveis de LDL oferece benefícios importantes. Pacientes de altíssimo risco que chegam na marca dos 50 mg/dL manifestam uma diminuição de 15% na chance de serem vítimas de um novo evento cardiovascular ou de morrer.
TAXA O médico Raul Dias defende maior controle do LDL em doentes de risco (Crédito:Karime Xavier / AG. ISTOE)
A outra novidade na área da prevenção veio da Inglaterra. Um trabalho do Imperial College London e da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, derrubou o mito de que existe obesidade saudável. Segundo os cientistas, pessoas acima do peso com índices normais de colesterol, pressão arterial e de açúcar no sangue apresentam 28% mais chance de manifestar alguma doença cardíaca em comparação a um indivíduo no peso certo. Durante muito tempo, correu no meio científico a ideia de que era possível alguém ser obeso e, apesar disso, ser saudável. “Nossa pesquisa mostra que esse conceito não existe”, disse Ionna Tzoulaki, uma das coordenadoras do artigo, publicado na última edição do European Heart Journal.
VALE O ESFORÇO
O levantamento é o mais extenso feito até hoje sobre o tema. Os pesquisadores usaram os dados de 500 mil pessoas, de dez países europeus, acompanhados por doze anos. Após o período, 7,6 mil participantes tiveram algum problema cardíaco. A obesidade apareceu como uma ameaça importante, tendo elevado, sozinha, a chance de ocorrência dos eventos. “Se um paciente está com sobrepeso ou obeso, todos os esforços devem ser feitos para que ele volte ao peso saudável”, completou Camille Lassale, líder do trabalho. Isso é importante não só para minimizar os riscos cardíacos. “A obesidade eleva o risco para outras doenças, como o câncer e as dificuldades articulares”, explica a médica Maria Edna de Melo, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica.
NOVAS METAS
As taxas de colesterol ruim (LDL) aceitáveis segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia agora são:
• Até 130 mg/dL para pessoas de BAIXO RISCO (não apresentam fator de risco para doenças cardíacas)
• Até 100 mg/dL para indivíduos com MÉDIO RISCO (manifestam apenas um fator de risco)
• Até 70mg/dL para pacientes de ALTO RISCO (têm mais de um fator de risco)
• Até 50 mg/dL para indivíduos com ALTÍSSIMO RISCO (já tiveram infarto, AVC, colocação de ponte de safena ou stent)
O PERIGO DA BALANÇA
Pessoas acima do peso têm 28% maior chance de sofrer um infarto mesmo se apresentarem índices normais de pressão arterial, colesterol e açúcar no sangue

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

A rara doença que viajou de Portugal ao Brasil

Governo discute oferta, pelo SUS, do primeiro remédio contra a Paramiloidose. Pouco conhecida, a enfermidade causa perda progressiva de movimentos e pode atingir famílias inteiras

A rara doença que viajou de Portugal ao Brasil
PARTIDA Povoa do Varzim, em Portugal, é o centro da região onde se originou a doença
NOME Em Povoa, os moradores chamam a PAF de “doença dos pezinhos” (Crédito:Tiago Martins)
Em 2006, a família da dona de casa Tereza Moura reuniu-se em uma sala do Hospital Clementino Fraga, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), para ouvir um diagnóstico duro. Todos – ela, dois irmãos, dois filhos e quatro sobrinhos – eram portadores de uma doença genética hereditária rara. Progressiva, degenerativa e irreversível, ela causa atrofia muscular, perda progressiva dos movimentos e pode levar o doente à morte dez anos após os primeiros sintomas se não houver tratamento. A investigação da família descendente de portugueses começou após a morte do irmão de Tereza. Ele foi o primeiro dos Moura a ser diagnosticado com Polineuropatia Amiloidótica Familiar (PAF), ou paramiloidose, enfermidade pouco conhecida cujas raízes estão em Portugal e que, de lá, viajou ao Brasil. Aqui há cerca de cinco mil casos, a maioria não diagnosticados.
Na doença, a proteína transtirretina (TTR), produzida principalmente no fígado, apresenta uma alteração estrutural que a torna instável, fazendo com que se deposite em diferentes tecidos. O acúmulo interfere no funcionamento dos órgãos atingidos. A mudança é causada por um erro no gene que sintetiza a proteína. Há mais de cem mutações identificadas, mas a maioria dos pacientes brasileiros apresenta a mesma mutação que predomina entre os portugueses, a V30M. No país europeu, registros históricos apontam a cidade de Povoa do Varzim como possível ponto de origem da doença. Teria sido desta região ao norte de Portugal que ela foi trazida ao Brasil durante a colonização.
Diagnóstico difícil

REFERÊNCIA Tereza e o filho Rafael são pacientes do Ceparm, onde Débora (abaixo) faz pesquisa (Crédito:Lucas Ismael)

Os navios portugueses também trouxeram a alteração I122V, mais comum entre os afro-americanos. “Ela é prevalente em quase 4% dos afro-descendentes. E o Brasil recebeu cerca de cinco milhões de escravos”, diz a neurologista Márcia Cruz, diretora do Centro de Estudos em Paramiloidose (Ceparm), na UFRJ, único serviço de referência do País. No centro, uma equipe de médicos, geneticistas e biólogos presta atendimento do diagnóstico ao tratamento e desenvolve pesquisas. “Os diagnósticos genético e o da manifestação da doença são impactantes”, diz a bióloga Débora Foguela, coordenadora do Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Méis, da UFRJ.
“Ela não é só uma neuropatia” Isabel Conceição, Lisboa (Crédito:Fernando Bento)
O primeiro caso no mundo foi identificado em Portugal, em 1939, pelo neurologista Corino de Andrade. Uma paciente de 37 anos, residente em Povoa do Varzim, disse em uma consulta que sofria da “doença dos pezinhos”. Assim como ela, alguns parentes haviam perdido a sensibilidade nos membros inferiores. Apesar de os sintomas serem parecidos com o da hanseníase, o médico desconfiou de uma síndrome neurológica ainda não descrita. “Um médico com poucos recursos viu um doente, achou estranho e começou um trabalho de formiguinha”, conta a médica Teresa Coelho, do Hospital de Santo António, em Porto. “Realizou biópsias, autópsias e percebeu que era uma forma peculiar de neuropatia”. Por aqui, os primeiros casos foram reportados também em 1939. Eram dois irmãos nascidos na mesma Póvoa do Varzim.

Exatamente por ter sintomas muito distintos, a PAF pode ser confundida com outras patologias. Por essa razão, o diagnóstico é difícil e, em geral, demora anos. “Muitos neurologistas experientes podem não identificá-la”, diz Isabel. Isso é um grande problema. Os dois únicos tratamentos disponíveis devem ser adotados nas fases iniciais: o transplante de fígado, que produz a TTR instável, ou o Tafamidis, primeira medicação que estabiliza a proteína, impedindo seu enovelamento nos tecidos. “Eles apenas atrasam a progressão da doença. Os pacientes vivem anos mais significativos com qualidade de vida”, afirma Isabel. Produzido pela Pfizer, o Tafamidis é um medicamento de alto custo. A caixa com trinta comprimidos custa cerca de R$ 21 mil. Neste mês, o Ministério da Saúde abriu consulta pública para avaliar sua incorporação pelo SUS. “Infelizmente, o tratamento ainda não é uma realidade para todos”, diz Márcia Cruz.A doença começa a se manifestar a partir de 30 anos. Em geral, os primeiros sintomas são formigamento e perda de sensibilidade nas pernas e nos pés. Depois, evolui para braços e mãos, levando à atrofia e à perda dos movimentos. Há outros prejuízos, como insuficiências renal e cardíaca e alterações gastrointestinais. “A doença não é só uma neuropatia. Há um envolvimento multi-sistêmico”, explica a médica Isabel Conceição, do Hospital Santa Maria, centro de referência da doença em Lisboa.

* A jornalista viajou a Portugal a convite da Pfizer

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Tratamentos e causas para a pele com acne

As espinhas, se não controladas, podem deixar manchas no rosto e em outras partes do corpo. Saiba o que é importante para prevenir e remediar o problema

  As espinhas são fruto de uma inflamação na pele e geralmente se concentram no rosto, no peito, nos ombros ou nas costas. Embora possa aparecer em qualquer idade, a acne é mais comum durante a adolescência, quando o aumento dos níveis hormonais estimula o trabalho das glândulas sebáceas.
Normalmente, essas glândulas fabricam uma espécie de gordura essencial à proteção da pele. Essa secreção oleosa, juntamente com células mortas, atravessa os folículos pilosos (orifícios de onde saem os pelos) e acaba eliminada. Mas, se a produção é excessiva, parte desse sebo fica retida, entupindo os poros. Quando isso acontece, o acúmulo oleoso atrai para o local bactérias, sobretudo a Proprionibacterium acnes.
Esse micro-organismo libera substâncias tóxicas que irritam a pele. Para barrá-lo, células de defesa são recrutadas e desencadeiam uma reação inflamatória. O resultado é visto no espelho: formam-se cravos, que podem aumentar de volume e ganhar coloração avermelhada — casos mais graves chegam virar abcessos com pus.

Sinais e sintomas

– Coceira e irritação na região afetada
– Pontos pretos (cravos marcam o estágio inicial ou o tipo mais ameno da acne)
– Espinhas (pontos brancos, arredondados, com uma área avermelhada em volta)
– Pústulas (num estágio mais avançado da doença, aparecem protuberâncias com pus)
– Abcessos (complicação mais grave das espinhas e pústulas)

Fatores de risco

– Puberdade (por causa do aumento dos níveis de hormônios sexuais)
– Período menstrual (também devido à variação hormonal)
– Pele oleosa
– Síndrome dos ovários policísticos
– Distúrbios de tireoide
– Estresse crônico
– Medicamentos como os corticoides
– Exposição exagerada ao sol
– Transpiração em excesso
– Uso de cremes faciais inadequados
– Predisposição genética

A prevenção

Como a acne está ligada ao excesso de produção de gordura na pele e à ação de bactérias, algumas medidas que contenham esse complô de fatores ajudam a prevenir o problema. Saber dosar o tempo de exposição ao sol é uma delas. Os raios ultravioleta até têm um efeito antibacteriano, então ficar um tempinho a céu aberto ajuda a secar as espinhas. Mas o exagero, por sua vez, estimula a oleosidade, atraindo micróbios. Por isso, indica-se cautela nos banhos de sol, e nada de usar protetores solares oleosos.
Manter a pele limpa, mandando embora o acúmulo de poluição e resíduos de cremes, evita a obstrução dos poros. O ideal é fazer a higienização com um sabonete facial pelo menos de manhã e à noite. Mas atenção: lavar demais pode provocar o chamado efeito rebote. O organismo entende que algum fator externo está acabando com a gordura protetora e por isso estimula uma superprodução de sebo, piorando cravos e espinhas.
As mulheres devem ficar atentas à maquiagem. Alguns cosméticos sobrecarregam a pele e contribuem para o aparecimento da acne. Vale optar pelos produtos oil free, livres de gordura. E remover tudo antes de dormir.
Alimentação equilibrada também entra nessa história. Embora não haja estudos comprovando que certos alimentos sejam responsáveis pelo aparecimento desses pontos indesejados na pele, observa-se que, em algumas pessoas, comidas muito calóricas e gordurosas se refletem em um aumento de oleosidade na pele.

O diagnóstico

Na consulta, o dermatologista avalia o estado geral da pele e faz o histórico do paciente, a fim de detectar o risco de outras doenças serem responsáveis pela presença de cravos e espinhas — como ovários policísticos e disfunções na tireoide, que quebram o balanço hormonal. É preciso, portanto, descartar possibilidades assim antes de orientar o tratamento.

O tratamento

Nas formas mais amenas da acne, em geral é suficiente lavar a área com sabonete suave, uma ou duas vezes por dia. Em seguida, usam-se cremes ou loções receitados pelo dermatologista, com substâncias como ácido retinoico, que ajudam a desobstruir os poros. Se o médico avaliar que é necessário, indicará também um antibiótico oral para conter a ação das bactérias.
Nos casos mais graves, com a presença de pus e inflamação e quando as alternativas anteriores falharam, é possível recorrer ao uso da isotretinoína, medicação que inibe a produção das glândulas sebáceas. Mas esse recurso, diga-se, provoca efeitos colaterais como ressecamento dos lábios e da pele em geral, dores musculares e até alteração no fígado.
Exige, portanto, acompanhamento médico. Sem contar que, durante o tratamento, ficam proibidos sol, bebidas alcoólicas e – mais importante ainda – gravidez, porque o remédio provoca malformação fetal. Para eliminar marcas na pele causadas pela acne, os dermatologistas podem empregar métodos como peeling, microdermoabrasão e laser.

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Visão refeita

Tratamento do glaucoma ganha novo aliado com prótese minúscula que pode ser implantada no olho sem efeito colateral

Visão refeita
ESPERANÇA Alérgica ao colírio, Jeanete espera que a cirurgia reduza a pressão intraocular
Os pacientes brasileiros com glaucoma, considerada a principal causa de cegueira irreversível do mundo, acabam de ganhar mais uma opção no tratamento da doença: o implante de um microdispositivo dentro do olho, mais especificamente no canal de Schlemm, para estabilizar a pressão intraocular. A prótese funciona como um auxílio para o olho drenar o humor aquoso, um líquido transparente que tem como objetivo nutrir as estruturas internas do órgão. No caso das pessoas quem sofrem com glaucoma, essa drenagem não ocorre de maneira natural, o sistema entope, a pressão intraocular aumenta e com o tempo causa danos graves ao nervo óptico. Até então, os pacientes tinham três opções para o tratamento: colírios, que causam efeitos colaterais, cirurgias a laser, que não são de fácil acesso, ou a trabeculectomia, que, apesar de ter ótimo resultado, compromete a estrutura ocular.
Em compensação, o implante do microdispositivo, além de oferecer uma recuperação mais rápida, mantém a conjuntiva intacta para outros procedimentos. “É uma opção principalmente para pacientes com glaucoma primário de ângulo aberto (GPAA), de leve a moderado”, diz a oftalmologista Regina Cele. Embora possa ocorrer em crianças, o GPAA é a forma mais comum da doença e costuma se manifestar depois dos 40 anos. “O ideal é que seja feita junto com a cirurgia de catarata ou após, porque o resultado é melhor quando você tem a cirurgia combinada”. De acordo com a médica, é possível que o paciente receba mais de uma prótese. “Estudos americanos e europeus mostram que no implante da segunda prótese você tem uma redução bem significativa da pressão intraocular”, afirma.
Gabriel Reis
Sem colírio

A nova técnica é a esperança de Jeanete Dias Marques, 71 anos, que está de cirurgia marcada para os próximos dias. Há trinta anos a aposentada faz tratamento com colírios, mas sem sucesso. Além de ser alérgica ao medicamento e, por isso, sofrer com o olho vermelho e dores de cabeça diárias, a pressão do olho dela não diminuiu. “Estou bem esperançosa para a cirurgia, para não precisar mais usar o colírio”, diz ela. Em um estudo de caso realizado em 27 hospitais dos Estados Unidos, 73% dos pacientes que receberam a prótese puderam permanecer sem uso de medicação por pelo menos um ano, sendo que apenas 50% dos indivíduos que foram submetidos exclusivamente à cirurgia de glaucoma mantiveram-se sem o colírio, pelo mesmo período.
O dispositivo, já liberado pela Anvisa, só pode ser aplicado por cirurgiões que passaram por um treinamento, já que a técnica exige bastante precisão. O Istent é colocado por meio de um aparelho semelhante a uma caneta. O paciente é submetido a uma leva sedação e a anestesia tópica, sem o uso de agulha. A rápida recuperação exige no máximo uma semana de repouso. A cirurgia sai por cerca de R$ 6 mil.

terça-feira, 8 de agosto de 2017

Infarto em mulheres: os sintomas são diferentes

O ataque cardíaco mata mais do que o câncer de mama e, no sexo feminino, suas manifestações nem sempre dão pistas de que o problema está no coração

 

Sintomas clássicos: são os mesmos que aparecem nos homens

  • Dor no peito em aperto, que pode irradiar para o braço esquerdo, o pescoço, a mandíbula, o estômago e até as costas
  • Náusea
  • Vômito
  • Suor frio
  • Desmaio

Sintomas atípicos: mais frequentes no sexo feminino

  • Enjoos
  • Falta de ar
  • Cansaço inexplicável
  • Desconforto no peito
  • Arritmia

Como surgem os sintomas

Não existe uma regra para a forma como os sinais do infarto dão as caras. Eles podem tanto se manifestar todos juntos como surgir separadamente. Isso quer dizer que a dor no peito, por exemplo, pode tanto vir acompanhada de suor frio ou vômito como aparecer sozinha.

Quando me preocupar

O fato de você sentir uma dor no peito, um enjoo ou um cansaço não significa, é claro, que se trata de um piripaque no coração. De qualquer forma, é bom ficar atenta, principalmente se você se encaixa no grupo de risco para sofrer um ataque cardíaco. “Somente por meio de exames clínicos é possível saber se a pessoa está tendo um infarto. Por isso, o ideal é que, na dúvida, o paciente vá a um hospital”, orienta o cardiologista Cesar Jardim, coordenador do Clinic Check-Up do Hospital do Coração (HCor), em São Paulo.

Como sei se estou no grupo de risco?

Entre os fatores que aumentam a probabilidade de uma mulher sofrer um ataque cardíaco estão: hipertensão, diabetes, colesterol alto, sedentarismo, estresse, obesidade, histórico familiar e tabagismo. No caso desse último item, vale alertar para os casos em que o hábito de fumar é associado ao uso de pílulas anticoncepcionais. “Essa combinação é trombogênica, ou seja, propicia a formação de coágulos que podem entupir os vasos”, explica Jardim.
Outro ponto de atenção deve ser a menopausa, período em que a mulher perde a proteção vascular proporcionada pelos hormônios femininos, como o estrógeno. “Ele facilita a circulação do sangue pelas artérias e protege o endotélio, tecido que reveste o interior dos vasos”, esclarece o cardiologista Carlos Costa Magalhães, diretor de Promoção da Saúde Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia.

Uma vida saudável é a melhor prevenção

Além de tratar os fatores de risco – isto é, controlar a pressão, o diabetes e o colesterol, parar de fumar, perder peso… –, é fundamental adotar um estilo de vida saudável. Por isso, pratique atividade física regularmente, procure relaxar e adote uma alimentação balanceada – com muitas frutas, verduras e legumes e baixo consumo de itens ricos em sódio, nutriente que contribui para o aparecimento da hipertensão.

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Atitude responsável contra uma doença silenciosa e traiçoeira

Frear a epidemia de diabetes exige uma mudança de foco: pensar menos em sintomas, e mais em prevenção e exames

 
O diabetes, caracterizado pelo aumento da glicose (açúcar) no sangue, pode provocar uma série de danos ao organismo. Exemplos: perda da visão, impotência sexual, dificuldade de cicatrização de feridas, amputação de membros e mau funcionamento de órgãos vitais, tais como coração, rins e cérebro.
Portanto, é preocupante o aumento de 61% dos casos no Brasil na última década, apontado pela Vigitel 2016 (Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), realizada pelo Ministério da Saúde. Quase 9% dos habitantes de nosso país são diabéticos, incluindo-se entre os cerca de 380 milhões de portadores da doença em todo o mundo.
Conter o avanço desse problema está ao alcance de cada indivíduo. Embora o envelhecimento seja um fator de risco para o tipo 2 da doença, ela é causada muito por causa de obesidade, maus hábitos alimentares e sedentarismo. Assim, atitudes como praticar exercícios regularmente e manter peso adequado são fortes aliados.
Já o diabetes do tipo 1, que aparece predominantemente na infância, deve-se à incapacidade do pâncreas de produzir um hormônio denominado insulina, regulador da quantidade de açúcar no sangue. Não sabemos como evitar essa doença, porém hábitos equilibrados ajudam o paciente a ganhar saúde e qualidade de vida.
A prevenção é decisiva, porque os danos podem ser graves. Só para citar um caso, a possibilidade de um infarto aumenta 40% nos homens diabéticos e 50% nas mulheres.
Além da vida saudável, o ideal é realizar um checkup todo ano, no qual se verificam os níveis de glicose, colesterol, triglicérides, pressão sanguínea… Com esse procedimento, dá para diagnosticar o diabetes em uma fase na qual o tratamento costuma apresentar bons resultados.
Atitude preventiva e exames de sangue anuais são especialmente importantes no caso do diabetes, que, silencioso e traiçoeiro, não apresenta sintomas iniciais. Quando estes se manifestam, a doença poderá estar em fase adiantada.
Feito o diagnóstico, o tratamento deve ser imediato e regular. O médico avaliará se há necessidade de remédios por via oral e/ou insulina, frequência e dosagem. Dieta saudável, abolição do consumo de açúcar e exercícios físicos também são fundamentais para o restabelecimento dos níveis normais de glicose.
Combater o diabetes é essencial para a melhoria da saúde pública, em especial na redução da ocorrência de doenças cardiovasculares, as que mais matam no Brasil e no mundo. Independentemente de campanhas e políticas governamentais, prevenção e controle dependem muito de uma atitude responsável de cada pessoa perante a sua própria vida!
*José Luiz Aziz é cardiologista e diretor da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp).

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Os novos 50 anos

Eles mudam de profissão, começam outra faculdade, se divorciam, casam novamente... Conheça a nova geração de cinquentões que, em ótima forma, é protagonista de uma das maiores mudanças de comportamento do nosso tempo

Os novos 50 anos
PRAZER Os cinquentões não ficam mais aprisionados a relacionamentos insatisfatórios. Por isso o aumento do número de divórcios e recasamentos nessa faixa etária ()
O engenheiro Narcizo deixou o emprego em outubro do ano passado para se aventurar em outras águas: é um feliz calouro do curso de física da Universidade de Campinas. Já José Rubens acorda diariamente às 4h20 para percorrer 70 quilômetros de bicicleta com um grupo de amigos pelas vias paulistanas. Depois de uma jornada extenuante de trabalho – há dois anos deu uma guinada na carreira –, ele ainda encara um treino de musculação noturno. Depois de passar alguns meses viajando sem compromisso pelo mundo, Andrea acaba de ser contratada por uma empresa do setor de óleo e gás. Ana Maria e Elmo namoram há apenas quatro meses, mas já nutrem um sonho em comum – querem fazer ao menos uma viagem internacional por ano. Essas são histórias de vitalidade, coragem e recomeços protagonizadas por pessoas no auge dos seus 50 anos. Mais ativa do que nunca, a atual geração de cinquentões é protagonista de uma das maiores mudanças de comportamento do nosso tempo. “Estamos passando por uma revolução em relação ao envelhecimento como nunca se viu antes. Não é só uma questão de viver mais tempo, mas também com mais saúde e energia”, afirma Vern Bengtson, professor da University of Southern California e especialista em sociologia do envelhecimento. Com mais anos de vida pela frente, a ordem é não diminuir o ritmo nem ter medo de mudar. “Os padrões de comportamento sofreram alterações, por isso é mais comum pensar em novas carreiras, novos casamentos, prática de esportes audaciosos e formas de se vestir diferentes daquilo que se imaginava até então para os 50 anos”, afirma Mônica Yassuda, psicóloga e professora de gerontologia da Universidade de São Paulo.
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PRAZER
Os cinquentões não ficam mais aprisionados a relacionamentos insatisfatórios.
Por isso o aumento do número de divórcios e recasamentos nessa faixa etária
Na década de 1960, a expectativa de vida no Brasil era, em média, de 50 anos. Meio século depois, essa estatística soa absurda. Primeiro porque o dado mais recente, de 2012, saltou para 74,6 anos. Segundo porque a realidade de quem tem 50 hoje é totalmente contrária ao que previam as pesquisas. Caso do engenheiro agrônomo José Rubens Macedo, 56 anos, que trabalhou durante 11 anos com franquias do setor alimentício e até hoje gerencia duas unidades de restaurantes japonês e árabe. Em 2012, porém, ele recebeu a proposta de um fundo de investimento para abrir restaurantes em aeroportos brasileiros. “Não imaginei que uma mudança como essa pudesse acontecer a essa altura”, diz. Para conseguir levar adiante seus compromissos de trabalho, Macedo, que é divorciado e pai de quatro filhos, segue à risca uma rigorosa rotina de exercícios, que começa com 70 quilômetros diários de bicicleta, ainda de madrugada, e termina com um treino de musculação noturno.
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Nos últimos anos, é cada vez mais comum encontrar cinquentões com um perfil semelhante ao de Macedo. Para a psicóloga Mônica Yassuda, pessoas nessa faixa etária tendem a assumir novos desafios como uma forma de provar a si mesmas e aos outros que são capazes de se reinventar. “É uma maneira de driblar a velhice e reafirmar a continuidade da vida”, diz Suzanne Braun Levine, autora do livro “A Reinvenção dos Cinquenta: Lições de Vida para Mulheres na Segunda Adolescência”. Ela acredita que a sociedade está assimilando essas mudanças de postura, principalmente em relação às mulheres. “Nos tornamos mais independentes e confiantes. Isso significa que quando entramos naquela idade considerada ‘velha’ dizemos: ‘De jeito nenhum! Ainda temos muito o que fazer’. O conceito de envelhecimento está sendo redefinido.” Esse pensamento é o que move a estilista Bibi Barcellos, 51 anos. “Acordo cedo para fazer exercícios e trabalho até tarde. Me sinto com uma energia incrível. A última coisa em que penso é me aposentar”, diz. “Brinco que minha geração não é de cinquentonas, mas de cinquentérrimas.” Sem levantar bandeiras a favor da quebra de estereótipos, essa turma acaba fazendo uma verdadeira revolução do cotidiano – seja na maneira de agir, de encarar a vida ou até no jeito de se vestir. “Estamos rompendo com tudo isso de uma maneira meio invisível. Mas podemos notar várias mudanças em relação às prescrições sociais que dizem respeito à idade. Há muitos homens e mulheres cuja idade não é possível classificar. Não são velhas, mas não são jovens, são ‘ageless’ (sem idade, em inglês)”, diz a pesquisadora Mirian Goldenberg, autora do livro “A Bela Velhice” (Record).
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A projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é que neste ano o País tenha cerca de 21,6% de sua população com mais de 50 anos, o equivalente a cerca de 44 milhões de pessoas. Em 30 anos, esse número vai representar 40% dos brasileiros. Essa revolução em curso, portanto, deve ganhar mais adeptos e enfraquecer os limites de conceitos como “meia-idade”. Se até pouco tempo atrás esse período da vida era conhecido por marcar a quarta década de existência – uma etapa anterior à “terceira idade” em que as pessoas costumam repensar suas vidas –, hoje é difícil estabelecer um momento em que ele de fato comece. O consenso é que esse marco foi atrasado. “Em 1950, quando meu pai fez 40 anos, ele estava na meia-idade. Acho que hoje isso deve estar entre os 50 e 55 anos”, afirma Vern Bengtson, da University of Southern California. A mais recente pesquisa sobre o assunto foi divulgada em agosto de 2013 pela empresa de assistência médica britânica Benenden Health, afirmando que a meia-idade começa aos 53 anos. O levantamento foi feito com duas mil pessoas e relacionava a meia-idade a alguns comportamentos que especialistas da instituição consideram característicos dessa fase da vida, como preferir uma noite com amigos a uma balada, gastar mais dinheiro com cremes anti-idade e preferir fazer uma caminhada em um domingo em vez de passar mais tempo na cama.
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SONHO
Narcizo Sabbatini, 55 anos, deixou o trabalho como engenheiro
para estudar física na Unicamp. "Era um desejo antigo"
Na área da psicologia analítica, o psiquiatra austríaco Carl Gustav Jung definiu a segunda metade da vida como o momento em que a pessoa se volta para o processo de busca de caminhos próprios, não dos que os outros ou as convenções sociais exigem. “Diferentemente de quando se é mais jovem e estamos mais voltados para questões estruturais, de sobrevivência, como emprego e família”, afirma a psicóloga clínica Dulce Helena Rizzardo Briza, presidente do Instituto Junguiano de São Paulo. Na vida de Narcizo Sabbatini, essa chave virou aos 55. Depois de trabalhar por três décadas como engenheiro, decidiu voltar para a faculdade e estudar física, um sonho antigo, desde a época em que foi universitário pela primeira vez. “Deixei meu último emprego em outubro de 2013 porque vi que o que eu fazia não me realizava mais. Já tinha estabilidade financeira e minha família estava formada. Resolvi ir atrás de planos deixados para trás”, diz o aluno do primeiro semestre da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “Quero continuar estudando e penso em trabalhar com pesquisas.” O número de estudantes nessa faixa etária tem crescido muito. De 2002 a 2012, subiu 205,5%, enquanto alunos até 49 anos tiveram um aumento de 93,3%.
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ENERGIA
A rotina da estilista Bibi Barcellos inclui acordar às 5h30 diariamente para
caminhar e fazer ioga e trabalhar até de noite em seu ateliê, em São Paulo
A mudança vista na área da educação também aparece no mercado de trabalho. Nos últimos anos, o mesmo mercado que dava preferência à mão de obra da população jovem passou a valorizar profissionais com mais estrada. Para o diretor-executivo da empresa de recrutamento Michael Page, Leonardo de Souza, algumas áreas do mercado, como a indústria e a construção civil, passaram a requisitar um número maior de profissionais experientes. “Pessoas sêniores conseguem aliar energia com uma visão mais ampla e madura do mercado”, diz Souza. Andrea Tavares Fonseca, 53 anos, assistiu de perto às mudanças do mercado de trabalho para a sua geração, mas nunca teve medo de ousar. Aos 51 anos, com uma carreira consolidada, com direito a MBA na Inglaterra, ela decidiu deixar o emprego e viajar pelo mundo. “Estava muito cansada, não conseguia cuidar de mim, fazia apenas coisas relacionadas à empresa”, diz. Depois de uma longa jornada, retornou ao Brasil e foi aprovada em um processo seletivo de uma empresa do setor de óleo e gás. “Não foi um processo fácil, mas, independentemente da idade, o importante é ter coragem e planejamento para buscar aquilo em que acreditamos.”
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Na vida pessoal, os tabus em relação a relacionamentos e sexualidade também caem por terra. “As opções aumentaram e os julgamentos morais diminuíram. Como consequência, muitas pessoas não se sentem mais aprisionadas a escolhas do passado. Não gosta do seu casamento? Mude”, afirma o cientista social britânico Chris Middleton, coautor do livro “Pense Jovem: o Mais Bem Guardado Segredo para a Juventude Eterna” (Ediouro). A empresária Maria José Mosquini, 55 anos, e o servidor Elmo Lima, 54 anos, namoram há quatro meses.  Eles são o retrato de uma nova geração que acredita que a idade não é impedimento para começar uma relação. “É muito complicado dar o primeiro passo e voltar a namorar, mas quero construir minha família de novo”, diz Maria José, que já planeja fazer uma viagem por ano ao Exterior com o namorado. O sexo também está muito mais vibrante nessa faixa etária. “Esse processo de perceber que ainda vai viver muito tempo começou a mudar a maneira de as pessoas mais velhas encararem o sexo. Além disso, aos 50 a pessoa já sabe bem o que gosta e o que não gosta. É mais prazeroso”, afirma a sexóloga Carmita Abdo.
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VITALIDADE
Ana Carvalhais, 51 anos, começou a fazer exercícios por recomendação médica,
para se livrar da depressão. Hoje maratonista e dançarina, é exemplo para a filha de 23 anos
O bem-estar físico, tanto no que diz respeito à saúde quanto à aparência, é uma das maiores preocupações entre os cinquentões, segundo Mônica Yassuda, da USP. “Observo uma grande valorização das atividades físicas, da psicoterapia e da meditação”, afirma. Foram os exercícios aeróbicos e a dança que ajudaram a dona de casa Ana Maria Carvalhais, 51 anos, a superar uma crise de depressão. Ela começou a praticar exercícios físicos por recomendação médica e logo já era uma participante de maratonas, além de ter iniciado a filha de 23 anos na prática esportiva. “Sinto que ainda tenho muita coisa para viver”, diz, recuperada. Segundo Salo Buksman, geriatra da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, o conceito mais forte é o de promoção da saúde. “Quem tem 50 hoje pode ser tão saudável quanto alguém com 30, 40. Mas não pode esperar uma ­doença aparecer. Precisa começar a se cuidar cedo. O exercício físico faz aumentar as reservas respiratórias, cardía­cas e cognitivas. Atenua o peso da idade no físico e na mente”, afirma.
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A pesquisa “Melhor Idade” realizada em agosto do ano passado pela Nielsen revelou o potencial que a nova geração de 50 anos possui como mercado consumidor. O estudo mostra que essa faixa etária já representa 38% dos lares no Brasil e é responsável por 40% das despesas de casa. “É um consumidor muito ativo, com preferências consolidadas”, diz Jefferson Silva, gerente de homescan da Nielsen. De acordo com a pesquisa, o grupo que mais cresce é o de “maduros bem-sucedidos”, ou seja, a população com mais de 50 anos que tem boas perspectivas para o futuro, emprego estável, economias e planejamento a longo prazo. Um dos setores que essa faixa etária mais movimenta é o de turismo. Prova disso é que a Student Travel Bureau, uma das maiores agências de intercâmbio do País, oferece programas específicos para ela. Segundo o presidente, José Carlos Hauer Santos Júnior, cerca de 15% dos interessados em fazer viagens internacionais possuem mais de 50 anos. “Começamos a criar programas específicos, como de arte contemporânea, culinária, vinhos e, então, surgiram as viagens em família”, diz Santos Júnior. Mudando sutilmente a sociedade em que vivem com suas ações e novos comportamentos, a geração dos 50 deixa um legado para as próximas. Os pais e avós de hoje comprovam diariamente que tudo é possível, em qualquer idade.
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*fabiola.perez@istoe.com.br, marianabrugger@istoe.com.br
Fotos: Pedro Dias/AG. ISTOÉ; DIVULGAÇÃO; Renato Rocha Miranda/TV Globo; Marcio Nunes/TV Globo; Paula Giolito/Folhapress; Marcelo Liso /AFBpress/AG. ISTOÉ, João Castellano/AG. ISTOÉ, Rogério Cassimiro; Masao Goto Filho/Ag. IstoÉ