domingo, 30 de novembro de 2014

Entenda o que está acontecendo com Pelé e o que os médicos estão fazendo para curá-lo

Internado desde a segunda-feira no Hospital Israelita Albert Einstein, Edson Arantes do Nascimento, o eterno Rei do Futebol, luta contra uma forte infecção, que fez seu único rim parar de funcionar

Cilene Pereira e Mônica Tarantino
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Entenda o que está acontecendo com Pelé e o que os médicos estão fazendo para curá-lo. 
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Internado desde segunda-feira (24) no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, Pelé, de 74 anos, luta contra  uma forte infecção. Entenda o que está acontecendo com o Rei do Futebol e quais os prognósticos para sua recuperação.

1. O que Pelé tem?
Pelé apresentou focos de infecção no rim esquerdo (o direito foi retirado quando ainda era jogador) após uma cirurgia para remover cálculos renais. Já no hospital, sofreu uma parada renal e foi submetido à hemodiálise.

2. Como é o tratamento do rei?
Pelé está tomando antibióticos potentes. Por causa da infecção, houve uma falha na função renal. Por isso, Pelé permanece com suporte renal, ou seja, está ligado a uma máquina de hemodiálise, cuja função é filtrar as impurezas do sangue. O rei respira normalmente, sem necessidade de outras terapias de suporte, o que é um bom sinal, pois mostra que não há comprometimento severo do aparelho respiratório

3. Por que Pelé teve o problema?
Foi após uma cirurgia para a retirada de cálculos renais. No dia 12 de novembro, o Rei foi internado com dores abdominais depois de sentir um mal-estar em Santos. Exames revelaram cálculos no rim, nos ureteres e na bexiga, que poderiam estar causando uma obstrução do fluxo urinário.

4. Como o caso evoluiu?
Um boletim do hospital divulgado na quarta (26) informou que Pelé recebia tratamento com antibióticos por via endovenosa e o seu estado de saúde era estável. Na noite de quarta-feira, 27, novo Boletim do hospital informou que Pelé tinha apresentado uma "instabilidade clínica", sendo transferido para uma "unidade de cuidados especiais". No dia 28, Pelé continuava na UTI. O informe do hospital afirmou que o quadro era de melhora da condição clínica do paciente.

5. O que pode acontecer a partir de agora?
Se as infecção não ceder, as condições de saúde de Pelé podem se complicar.

6. O que são cálculos renais?
São conhecidos popularmente como pedras nos rins e acometem mais homens do que mulheres. A maior parte dos cálculos é formada por oxalato de cálcio e é resultado de distúrbios metabólicos. O cálculo pode causar obstrução e infecção do aparelho urinário. Quando a obstrução ocorre, a dor é intensa.

7.O que são cálculos na vesícula?
Mais de 70% deles são formados por colesterol. A crise ocorre quando um cálculo fica preso no duto biliar, impedindo que a bile produzida no fígado siga para o intestino.

8.O que causou a infecção de Pelé?
Ter uma infecção urinária após cálculos urinários não é incomum. As pedras, principalmente as que ficam na bexiga, costumam conter bactérias. No processo para sua remoção pode ocorrer a contaminação da região.

9. Por que o rim de Pelé parou?
Uma das possíveis explicações para o fato de o rim esquerdo de Pelé  ter parado de funcionar é a infecção urinária posterior à retirada das pedras. As bactérias responsáveis pela doença liberam toxinas na corrente sanguínea e afetam funções como a filtragem, realizada pelos rins. Por isso a necessidade de hemodiálise.

10. Por que se fala em infecção generalizada?
Há informações de que Pelé também estaria em fase inicial de sepse, antes chamada de septicemia. Por isso, estaria sendo tratado com fortes antibióticos. Também conhecida por infecção generalizada, a enfermidade tem vários estágios e, se não for contida com rapidez, pode ser fatal. Um dos membros da equipe que trata Pelé, o médico Fábio Nasri, negou em entrevista ao canal ESPN que o ex-jogador tenha Sepse. O médico Cláudio Lottenberg, presidente do Hospital Einstein, também refutou na tarde de sexta-feira a possibilidade de Sepse.

11. Por que Pelé foi operado e não foi submetido ao tratamento com ondas de ultrassom para fragmentar as pedras?
Em muitos casos, a eliminação dos cálculos renais é espontânea. Mas quando há obstrução, é necessário retirá-lo. Os procedimentos de retirada podem ser feitos com litotripsia (ondas de choque fragmentam os cálculos), por cirurgias endoscópicas ou por punção direta do rim.


Fonte: Dr. Celso Gromatski, professor associado de Urologia da Faculdade de Medicina do ABC e médico do Hospital Sírio Libanês; Boletins Médicos do Hospital Israelita Albert Einstein.

sábado, 29 de novembro de 2014

Cai mortalidade por câncer no Brasil

De 2003 a 2012, a variação anual das mortes relacionadas ao câncer entre os homens caiu 0,53% e entre as mulheres, 0,37%

Autoexame
Câncer de mama: índice de mortalidade aumentou de 11,88 para 12,10 (BananaStock/ Thinkstock/VEJA)
A taxa de mortalidade por câncer teve uma pequena queda no Brasil na última década. De 2003 a 2012, a variação anual das mortes relacionadas ao câncer entre os homens caiu 0,53% e entre as mulheres, 0,37%. Os números, divulgados nesta sexta-feira, fazem parte do Atlas de Mortalidade por Câncer no Brasil, documento elaborado pelo Instituto Nacional de Câncer José de Alencar Gomes da Silva (Inca), ligado ao Ministério da Saúde.
Os dados mostram um pequeno aumento no último ano incluído no documento. De 2011 a 2012, o índice de óbitos a cada 100 000 homens aumentou de 100,47 para 103,2. Entre as mulheres, a alta foi de 83,99 para 86,92. Nesse período, a quantidade de homens que morreu em decorrência da doença elevou-se de 94 649 para 98 033, e a de mulheres subiu de 82 455 para 86 040.
Esse crescimento, entretanto, está relacionado à melhora da qualidade da informação estatística. "O aumento discreto não significa uma elevação real. Ele se deve a mais notificações, principalmente nas regiões Norte e Nordeste, que melhoraram o diagnóstico e atualmente têm mais precisão em informações médicas", explica o cirurgião oncologista Thiago Celestino Chulam, coordenador do Programa de Prevenção do Câncer do Hospital A. C. Camargo.
Tumores — O câncer de estômago foi o que apresentou a maior diminuição de mortalidade na década. A queda foi de 2,95% entre os homens e 2,49% entre as mulheres. De acordo com o Inca, esta redução se deve à melhoria do saneamento básico e conservação de alimentos no Brasil, que diminuiu a incidência da bactéria Helicobacter pylori, o maior fator de risco para o desenvolvimento desse tipo de câncer.
No mesmo período, as taxas de mortalidade por câncer de próstata caíram 0,39% e de colo de útero, 1,62%, enquanto os dados de câncer de mama se mantiveram praticamente estáveis. Segundo o Inca, os casos de câncer de mama, próstata e colo de útero no Brasil estão aumentando. As taxas de mortalidade estáveis ou em queda demonstram o maior acesso ao diagnóstico precoce e tratamentos no país.
Entre os tipos de câncer mais letais, o índice ligado aos tumores de intestino apresentou crescimento. Subiu 1,65% entre os homens e 0,37% entre as mulheres. O Inca explica esse aumento pela elevação da taxa de obesidade no país. Já o câncer de pulmão apresentou uma diminuição de mortalidade de 1,65% na população masculina e aumento de 1,47% entre as mulheres. A tendência é que a mortalidade feminina e masculina se tornem semelhantes e, de acordo com o Inca, reflete o padrão de tabagismo das duas últimas duas ou três décadas.
Letalidade — Entre 2011 e 2012, a taxa de letalidade aumentou nos cinco tipos de cânceres mais incidentes no sexo feminino: mama, brônquios e pulmões, colo de útero, estômago e cólon. Para cada 100 000 mulheres, o índice de mortes subiu 11,88 para 12,10 no caso do câncer de mama e de 7,81 para 8,18 no de carcinoma de brônquios e pulmões.
Entre o sexo masculino, dos cinco dos carcinomas mais letais, o índice de óbitos do período teve uma leve queda apenas no caso do tumor de esôfago: de 6,54 para 6,53. No caso do câncer de pulmão, o mais fatal entre eles, subiu de 15,01 para 15,54. A taxa elevou-se de 13,50 para 13,65 no tumor de próstata, o segundo mais letal. Já os números de câncer de estômago subiram de 9,36 para 9,39 e os de fígado, de 4,98 para 5,46.
Sobrevida — Na terça-feira, um grande estudo publicado no periódico The Lancet constatou que as pessoas estão vivendo mais depois de serem diagnosticadas com câncer no mundo. De acordo com os pesquisadores, porém, a sobrevida varia muito de país para país, e é menor na América do Sul, América Central, África e Ásia do que na Europa, América do Norte e Oceania.
A pesquisa revelou que em 18 países mais de 85% das mulheres sobrevivem pelo menos cinco anos após a descoberta do câncer de mama. É o caso do Brasil: de 1995 a 1999, 78,2% das pacientes tinham esse tempo de sobrevida; entre 2005 e 2009, 87,4% delas viviam mais de cinco anos.
O Brasil também é referência no caso do tumor de próstata, ao lado dos Estados Unidos. Nos dois países, 95% dos pacientes vivem cinco anos ou mais depois do diagnóstico.
Os números brasileiros pioraram, no entanto, no caso do câncer de estômago. O índice de pacientes que sobrevivem cinco anos ou mais após o diagnóstico da enfermidade caiu de 33,1% entre 1995 e 1999 para 24,9% de 2005 a 2009.
O país também está mal avaliado no caso do câncer de ovário: apenas 31,8% das mulheres sobrevivem cinco anos ou mais. Nesse tipo de tumor, o país que apresenta o melhor índice na América do Sul é o Equador, onde 40% das mulheres com a doença vivem pelo menos cinco anos.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Cientistas desenvolvem novo tratamento para câncer na bexiga

Em 30 anos, terapia é o primeiro avanço para a forma avançada da doença

Celulas cancerigenas
Novo remédio: após doze semanas de tratamento, tumores regrediram em até 52% dos pacientes (Getty Images/VEJA)
Pesquisadores da Universidade Queen Mary de Londres, na Grã-Bretanha, anunciaram um novo tratamento para câncer de bexiga em estágio avançado, uma doença para a qual não houve avanços nos últimos 30 anos. A descoberta foi relatada nesta quarta-feira no periódico Nature.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: MPDL3280A (anti-PD-L1) treatment leads to clinical activity in metastatic bladder cancer

Onde foi divulgada: periódico Nature

Quem fez: Thomas Powles, Joseph Paul Eder, Gregg D. Fine, Fadi S. Braiteh, Yohann Loriot, Cristina Cruz, Joaquim Bellmunt, Howard A. Burris, Daniel P. Petrylak, entre outros

Instituição: Universidade Queen Mary de Londres, na Grã-Bretanha

Resultado: Um novo medicamento é a primeira alternativa à quimioterapia em 30 anos para tratar câncer de bexiga em estágio avançado
A pesquisa analisou um anticorpo (MPDL3280A) que bloqueia uma proteína (PD-L1) conhecida por ajudar as células cancerígenas a escaparem da vigilância do sistema imune e se espalharem pelo corpo.

Na primeira fase do estudo, 68 pacientes em estágio avançado de câncer de bexiga (que não responderam a tratamentos como a quimioterapia) receberam um remédio com o anticorpo MPDL3280A. Dos voluntários, 30 tinham tumores relacionados à proteína PD-L1.

Resultados — Depois de seis semanas de tratamento, o tumor regrediu em 43% dos participantes cujo câncer era associado à proteína. Essa porcentagem subiu para 52% após doze semanas. Em dois pacientes (7%), o câncer desapareceu. Entre os voluntários que tinham tumores não relacionados à proteína, 11% responderam positivamente à terapia.

“Esse estudo é um grande avanço na busca por um tratamento alternativo e eficiente para o câncer na bexiga. Por décadas, a quimioterapia foi o único tratamento para essa doença em estágio avançado. A resposta à quimio é ruim e muitos pacientes são doentes demais para lidar com ela”, afirma o líder do estudo, Thomas Powles, oncologista da Universidade Queen Mary de Londres.

Os resultados são tão otimistas que a droga foi avaliada como inovadora pela FDA, agência americana que regula medicamentos e remédios. Outros estudos estão em andamento para confirmar os resultados.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Para não ter outro infarto

Novos exames ajudam a evitar um segundo ataque cardíaco

Cilene Pereira e Rogério Daflon
Além de todo o esforço para encontrar formas mais eficazes de evitar a ocorrência de um primeiro infarto, a ciência se empenha para descobrir novos fatores que elevam os riscos de um segundo ataque cardíaco. “Sabemos que aqueles que já sofreram um infarto enfrentam risco adicional de novos eventos cardiovasculares. O dobro do que daqueles isentos de eventos prévios”, afirma o cardiologista Luiz Alberto Mattos, do Hospital São Luiz, em São Paulo. Recentemente, várias pesquisas apontaram caminhos interessantes nesse sentido. Uma delas é brasileira, realizada no Instituto Nacional de Cardiologia e na Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Os pesquisadores investigaram de que maneira uma substância associada ao estresse cardíaco poderia auxiliar a prever o risco de morte em dez anos em pacientes que haviam acabado de deixar o hospital após sofrerem um infarto. Concluíram que o composto, denominado peptídeo natriurético tipo B (BNP), serve de fato como indicador de prognóstico. Quanto maior sua concentração durante o período de internação, menor o tempo de sobrevida.
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A pesquisa utilizou dados de 224 pacientes atendidos na emergência do Hospital Pró-Cardíaco, no Rio de Janeiro, e acompanhados durante dez anos. Constatou-se que o número de óbitos foi maior entre aqueles que apresentavam mais de 100 picogramas por mililitro do BNP: 63 mortes entre 97 cardíacos. No outro grupo, 22 mortes entre 127 cardiopatas.
Quem tinha valor menor do que 100 picogramas por mililitro viveu em média 9,6 anos. Os que manifestavam concentração maior, 5,8 anos. “As informações observadas em uma década enfatizam a necessidade não só de tratar o infartado na emergência, mas também de acompanhar sua evolução”, afirma o cardiologista Fernando Bassan, que analisou os resultados. Para o cardiologista José Carlos Nicolau, diretor da Unidade Clínica de Coronariopatia Aguda do Instituto do Coração, em São Paulo, o estudo não causou surpresa. “A análise feita em dez anos é relevante. Mas, quando o BNP é acima de 100, já se sabe que o coração não está legal. Os problemas são previsíveis.”
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Na última semana, a revista científica “The American Journal of Medicine” divulgou outros dois estudos evidenciando o papel de um tipo de medicamento – os betabloqueadores – e da frequência cardíaca para o cálculo da chance de um segundo infarto. Em relação à droga, os cientistas concluíram que ela não tem impacto positivo para a redução da mortalidade, ao contrário do que se imaginava. Para chegar a essa resposta, analisaram 60 pesquisas envolvendo 102 mil pacientes. “As recomendações atuais do uso dessa medicação devem ser reconsideradas”, afirmou Sripal Bangalore, coordenador do trabalho.
Por outro lado, a frequência cardíaca do paciente durante a internação e no momento da alta mostrou-se um indicador válido para predizer o risco de o indivíduo ter outro infarto. De acordo com levantamento da University Jean Minjoz, na França, pessoas que apresentam frequência acima de 75 batimentos por minuto têm chance maior de morrer em um ano.
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CUIDADO
O médico Bassan defende o acompanhamentorigoroso
do paciente após o primeiro infarto
O desenvolvimento de depressão e ansiedade depois do infarto também está associado a menor tempo de sobrevida. “Pacientes que manifestam depressão têm cerca de seis vezes mais chance de morrer em seis meses do que aqueles que não apresentam a doença”, afirmou Pranas Serpytis, autor de pesquisa sobre o tema divulgada durante o encontro da Sociedade Europeia de Cardiologia, realizado recentemente. “O risco elevado de óbito persiste até 18 meses após o ataque cardíaco. Mas, apesar de a depressão ser comum depois de um infarto e dos riscos que ela traz, a condição continua subdiagnosticada e pouco tratada”, completou. O trabalho revelou que as mulheres são mais propensas a sofrer da enfermidade do que os homens.
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Fotos: Juan Dias/Ag. Istoé; Divulgação

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Médico italiano com ebola desembarca em Roma

O paciente, o primeiro italiano vítima do vírus, chegou ao aeroporto militar de Pratica di Mare, ao sul de Roma, a bordo de um avião militar

Médicos transportam o primeiro paciente italiano infectado com ebola em sua chegada a Roma, nesta terça-feira, 25 de novembro
Médicos transportam o primeiro paciente italiano infectado com ebola em sua chegada a Roma, nesta terça-feira, 25 de novembro (AFP/HO/ITALIAN AIRFORCE/VEJA)
O médico italiano que contraiu o vírus Ebola em Serra Leoa desembarcou na manhã desta terça-feira em Roma para receber tratamento. 
O paciente, o primeiro italiano vítima do vírus, chegou ao aeroporto militar de Pratica di Mare, ao sul de Roma, a bordo de um avião militar. Ele foi levado em uma ambulância escoltada pela polícia até o Instituto Nacional para Doenças Infecciosas Lazzaro Spallanzani, ao sudoeste da capital italiana.
O médico, que não teve a identidade divulgada, trabalhava para a organização não governamental italiana Emergency em um centro para doentes de ebola em Lakka, nos arredores da capital, Freetown.
De acordo com a ONG, o médico apresentou resultado positivo ao teste do vírus ebola, mas o Ministério da Saúde italiano destacou que até o momento ele não apresenta febre ou algum sintoma severo e que o estado geral é considerado bom.

Mortes — A epidemia, que começou há quase um ano, matou 5.459 pessoas, de um total de 15.351 casos detectados, segundo o balanço mais recente da Organização Mundial da Saúde (OMS). Oito países foram afetados pela epidemia: Serra Leoa, Guiné, Libéria, Mali, Nigéria, Senegal, Espanha e Estados Unidos.
(Com agência France-Presse)

Profissionais de saúde do grupo Médicos Sem Fronteiras trabalham na Libéria, um dos países mais afetados pelo ebola, em 18 de outrubro de 2014
Profissionais de saúde do grupo Médicos Sem Fronteiras trabalham na Libéria, um dos países mais afetados pelo ebola, em 18 de outrubro de 2014 - Zoom Dosso/AFP

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

O desafio do parto prematuro

As complicações decorrentes de partos precoces – que ocorrem antes das 37 semanas de gestação – se tornaram a principal causa de mortalidade infantil em todo o globo. Ao site de VEJA, especialistas explicam por que os números são tão elevados e como poderá vir do Brasil a solução para esse grave problema

Rita Loiola
O Brasil tem a maior taxa de mortes ligadas a complicações por nascimentos prematuros da América Latina - são 9 000 óbitos anuais.
O Brasil tem a maior taxa de mortes ligadas a complicações por nascimentos prematuros da América Latina - são 9 000 óbitos anuais. (ThinkStock/VEJA)
Pela primeira vez na história, o parto prematuro – aquele feito antes que as 37 semanas de gestação estejam completas – é a principal causa de mortalidade infantil em todo o mundo. De acordo com o mais amplo estudo do gênero, publicado no periódico The Lancet, as mortes por complicações desse tipo de nascimento chegaram a 1,1 milhão, superando doenças como pneumonia e diarreia, até então responsáveis pela maior quantidade de mortes de crianças até 5 anos.
No Brasil, são cerca de 9 000 óbitos anuais, o que torna o país o líder na América Latina em mortes ligadas a nascimentos precoces. Nossa taxa é de 22%, acima da proporção mundial de 17,4%.
As estatísticas revelam uma revolução no padrão da saúde infantil global: em países pobres e ricos, a desnutrição e as doenças infecciosas que matavam na infância foram vencidas, transformando as complicações de nascimentos precoces no próximo desafio ao combate da mortalidade infantil.
“Vivemos uma mudança no modelo da saúde, chamada transição epidemiológica. As mortes estão se aproximando cada vez mais do momento nascimento e precisamos, agora, de esforços para compreender e prevenir esse fenômeno extremamente complexo que se tornou um grande problema mundial”, diz o pediatra Fernando de Barros, pesquisador da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e uma das maiores autoridades do país em saúde infantil.
Os especialistas têm previsto essa transformação há pelo menos quatro décadas e alertado os sistemas de saúde para a importância dos cuidados durante o período pré-natal e após o nascimento, única forma eficaz de prevenir as mortes de bebês prematuros. Os altos números divulgados pelo estudo demonstram que, nesse período, pouco se avançou em estratégias de combate aos nascimentos antes da hora.
“O parto prematuro é um tipo de síndrome silenciosa, pouco conhecida e com consequências trágicas”, diz o médico Renato Passini Junior, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “As autoridades em saúde ainda não têm ideia da dimensão desse problema complexo que, em grande parte, pode ser evitado.”

Diminuição da mortalidade infantil — A liderança das complicações do parto prematuro nas mortes de crianças é consequência de uma queda mundial na mortalidade infantil entre 2000 e 2013, período analisado pelo estudo do The Lancet. A taxa caiu 3,9% e grande parte dessa redução foi devida ao desenvolvimento de tratamentos, vacinas e intervenções médicas para combater doenças como pneumonia, sarampo, diarreia e malária. Os avanços científicos, entretanto, não tiveram o mesmo resultado para as mortes relacionadas aos partos prematuros. Elas diminuíram mais lentamente – o que fez com que as estatísticas, proporcionalmente, aumentassem.
“Sabíamos que esse era um grande fator de mortalidade infantil, pois as últimas pesquisas mostravam o parto prematuro como o segundo colocado. Em grande parte do mundo, esses bebês não podem ser tratados adequadamente: nascem em casa e não têm acompanhamento, o que leva ao número elevado de mortes”, explica o médico americano Robert Black, da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, e líder da pesquisa.
O maior número de bebês mortos por conta do nascimento precoce está em países pobres como a Índia, com 361 600 óbitos, Nigéria, com 98 300 mortes, ou Paquistão, onde foram registradas 75 000 mortes. No entanto, o drama dos nascimentos prematuros também atinge países desenvolvidos. Os lugares com as maiores proporções entre mortes ocorridas por complicações de partos prematuros são Macedônia (51%), Eslovênia (47,5%) e Dinamarca (43%).
Isso é explicado porque, nos países desenvolvidos, a taxa de nascimentos de prematuros é baixa – e a maior parte de mortes de prematuros nesses lugares não poderia ser evitada. “Nos países ricos, outras causas de mortalidade infantil como doenças infecciosas ou diarreia foram eliminadas e, por isso, a proporção é alta. Mas, em números absolutos, há poucas mortes relacionadas às complicações de partos prematuros em regiões desenvolvidas, ao contrário do que acontece na África ou Ásia”, explica Black.
Brasil — Esse cenário é o oposto do que acontece no Brasil. De acordo com dados do Sistema de Informações de Nascidos Vivos, do SUS e do Ministério da Saúde, utilizados no maior estudo sobre fatores de nascimentos prematuros no Brasil, 340 000 bebês nasceram prematuros em 2012. São 40 por hora, uma taxa de 12,4% – o dobro da Europa.
A pesquisa, coordenada por Renato Passini Junior, da Unicamp, foi publicada em outubro na revista Plos One e acompanhou durante um ano cerca de 30 000 nascimentos em maternidades das regiões Sul, Sudeste e Nordeste. O objetivo foi descobrir as causas de tantos nascimentos precoces no país — o que leva um bebê a nascer antes do tempo é uma soma de componentes complexos ainda não claramente compreendidos pela medicina.
“O número de partos prematuros no Brasil é assustador. No entanto, há vários fatores já conhecidos que podem ser identificados durante a gravidez e combatidos. O fumo ou infecções urinárias durante a gestação, que podem levar um bebê a nascer antes do tempo, são facilmente evitáveis”, diz Passini.
Fatores de prematuridade — Obesidade, pressão alta, diabetes, infecções ou a idade materna são alguns dos fatores de risco clássicos para partos prematuros. O estudo brasileiro mostrou que as seis primeiras causas que levam uma gestação a ser interrompida antes do tempo são gravidez múltipla (24 vezes mais), encurtamento do colo do útero (6 vezes mais), má-formação fetal (5 vezes mais), sangramento vaginal (dobra o risco), menos que seis consultas de pré-natal (1,5 vezes mais) e infecções urinárias (1,2 vezes mais).
De acordo com Passini, por trás dessas causas pontuais estão elementos como um número crescente de mulheres que fazem tratamentos reprodutivos – e têm mais chances de gestações múltiplas – e os avanços da medicina, que permitem que mulheres com problemas de saúde levem a gravidez até os últimos estágios. Além disso, há a mudança no estilo de vida, com mais pessoas obesas e diabéticas, e equipes de saúde pouco qualificadas para identificar sintomas que possam levar a partos prematuros.
“A primeira medida para se evitar as mortes é não só fazer o pré-natal, mas fazer um pré-natal de qualidade desde os primeiros meses: a maior parte dos problemas é identificada cedo e pode ser combatida. Em seguida, é preciso a sensibilização de profissionais e gestantes para que saibam que o parto prematuro é um problema que traz consequências terríveis para a criança”, diz Passini. "Junto a isso, os sistemas de saúde precisam perceber que esse é um problema gravíssimo que precisa ser combatido."
Cesarianas — Um dos problemas discutidos pelos especialistas em saúde infantil é o número elevado de cesarianas em países como o Brasil e os Estados Unidos. Entretanto, ainda não foi encontrada uma relação direta de causa. Em nosso país, normalmente, os partos são marcados após as 37 semanas de gestação. Os bebês nascem, em média, com 40 semanas.
“Se houver erros no cálculo da duração da gestação, uma operação cesariana pode ser feita antes do tempo”, afirma Robert Black, da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos.
De acordo com pesquisa coordenada pela Fundação Oswaldo Cruz e publicada este ano, 35% das crianças brasileiras nascem com 37 ou 38 semanas de gestação – período em que termina a formação do pulmão, último órgão do feto a ficar pronto. A má-formação do pulmão pode trazer, além das internações em Unidades de Terapia Intensiva Neonatal, infecções e problemas respiratórios.
“Normalmente, não esperamos as mulheres entrarem em trabalho de parto – o bebê talvez não nasça com a definição clássica de prematuro, mas nasce imaturo, o que pode leva a diversos problemas de saúde e muitos custos associados a isso”, explica a epidemiologista Silvana Granado, pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz.
Investimentos em prevenção — Para combater as mortes relacionadas a partos prematuros, um dos maiores financiadores de pesquisas e programas de prevenção em todo o planeta é a fundação americana Bill & Melinda Gates. Só no Brasil, desde o ano passado, foram investidos 8,4 milhões de reais, em parceria com o Ministério da Saúde e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Os recursos, destinados a 12 estudos e iniciativas nacionais, pretendem compreender as causas do fenômeno e replicar seus resultados em outras regiões do mundo diminuindo, assim, as taxas globais. Como o país tem uma alta taxa de nascimentos prematuros, a esperança é que saia daqui a solução para o problema.
"Parte da mudança no panorama da mortalidade infantil se deu porque as doenças infecciosas foram tratadas e prevenidas com vacinas ou antibióticos. Ainda não encontramos abordagens tão eficazes para os partos prematuros – apesar de existirem muitos avanços. O Brasil é um exemplo na redução da mortalidade infantil e tem uma estrutura clínica e científica bem desenvolvida que permite criar conhecimento para beneficiar crianças em risco. A ênfase na prevenção de doenças como a pneumonia é uma incrível história de sucesso e a esperança é que as pesquisas brasileiras sobre partos prematuros encontrem causas que possam ser combatidas, da mesma maneira que aconteceu com as doenças infecciosas", afirma Jeff Murray, diretor de Saúde da Família da Fundação Bill & Melinda Gates.
Crianças prematuras — Para os especialistas, para derrubar as mortes causadas por partos prematuros é preciso diminuir o número de nascimentos de crianças antes do tempo. Além das consequências psicológicas, os partos prematuros representam enormes gastos. De acordo com um estudo de 2007, feito pelo Instituto de Medicina, braço da Academia Nacional de Ciências americana, os custos associados aos nascimentos prematuros representam 26,2 bilhões de dólares anuais aos Estados Unidos. Um bebê prematuro custa 12 vezes mais que uma criança nascida no momento certo.
Para um bebê nascido antes das 37 semanas, as consequências podem ir desde os esperados problemas respiratórios até cegueira, surdez, paralisia cerebral, deficiências físicas e cognitivas. Com o organismo frágil, a criança é mais suscetível a doenças de todo tipo, que podem afetar seu desenvolvimento.
“Os nascimentos prematuros requerem a atenção imediata das nações, especialmente de países como o Brasil, que exibe alta proporção de mortes”, diz o médico Christopher Howson, consultor da Organização Mundial de Saúde e um dos autores do estudo Born Too Soon (Nascido Muito Cedo, em tradução livre), de 2012, o primeiro estudo a mapear nascimentos prematuros em escala global. “A boa notícia é que muito pode ser feito imediatamente para acelerar a prevenção de nascimentos precoces e para melhorar o cuidado a esses recém-nascidos. Há recomendações que podem ser seguidas: o necessário é coragem política e ação.”

sábado, 22 de novembro de 2014

Obesidade tem custo global equivalente ao do tabagismo

Pesquisa indica que quase 30% da população mundial está acima do peso

Os autores estimam que se a tendência atual foi mantida, quase metade da população adulta do mundo pode estar acima do peso ou obesa em 2030
Os autores estimam que se a tendência atual foi mantida, quase metade da população adulta do mundo pode estar acima do peso ou obesa em 2030 (Stockbyte/Thinkstock/VEJA)
O custo global da obesidade é de 2 trilhões de dólares por ano, ou 2,8% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial – quase o equivalente ao impacto mundial do tabagismo ou da violência armada, guerras e terrorismo combinados (que empatam com  2,1 trilhões de dólares).  As informações são de um relatório elaborado pela empresa de consultoria McKinsey Global Institute.
Cerca de 30% da população mundial – ou 2,1 bilhões de pessoas – está obesa ou acima do peso, quase duas vezes e meia o número de pessoas subnutridas. A obesidade é a causa de 5% das mortes no mundo. Os autores estimam que se a tendência atual foi mantida, quase metade da população adulta do mundo pode estar acima do peso ou obesa em 2030.

A pesquisa ressalta a necessidade de uma "resposta coordenada" de governos, varejistas e fabricantes de comida e bebidas, argumentando que uma ação direcionada poderia fazer 20% dos obesos voltarem ao peso normal em uma década.
O trabalho identificou 74 recomendações que, segundo os autores do estudo, ajudarão a reduzir a gordura abdominal em todo o mundo, como limitar o tamanho das porções em embalagens de fast-food, educação dos pais e a introdução de refeições saudáveis em escolas e locais de trabalho. O estudo concluiu que uma ação drástica é necessária, "já que a obesidade alcança agora uma proporção de crise".
(Com Agência France-Presse)

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

O remédio brasileiro contra a Aids

Pesquisadores do País se preparam para testar em humanos medicamento que atinge o HIV escondido nas células - algo que nenhuma droga conseguiu fazer até hoje. A estratégia abre caminho para a cura da doença

Cilene Pereira (cilene@istoe.com.br)
O uso do coquetel de drogas contra o HIV, o vírus causador da Aids, prolonga a vida dos pacientes de forma espetacular. Mas não lhes garante a cura. A razão reside no fato de que, mesmo que a concentração de vírus na corrente sanguínea seja reduzida a níveis indetectáveis, uma parte deles ainda está lá, no organismo, escondida no que os cientistas chamam de “esconderijos”. Trata-se de células localizadas em pontos como o cérebro nas quais o HIV permanece alojado, em estado latente e imune à ação dos medicamentos. A qualquer oportunidade, ele é reativado e inicia novamente sua cadeia de multiplicação. Destruir o vírus que está escondido, portanto, tornou-se um dos maiores desafios para vencer a doença definitivamente. No Brasil, um time de cientistas está somando vitórias nesse sentido. Depois de dois anos de pesquisa em animais, uma medicação desenvolvida pelos pesquisadores conseguiu tirar o HIV dos reservatórios, tornando-o finalmente vulnerável ao ataque das drogas antirretrovirais.
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PROTEGIDO
O HIV permanece em estado latente em algumas células, imune aos remédios
A façanha é de autoria do farmacêutico Luiz Francisco Pianowski, do Laboratório Kyolab, e do pesquisador Amílcar Tanuri, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Os dois coordenam os trabalhos, que incluem a participação de cientistas do Hospital Johns Hopkins, nos Estados Unidos, e do instituto Aurigon, na Alemanha. O relato do que foi obtido até agora está registrado em publicações científicas como a revista americana Plos One e o jornal “Aids”.
A peça-chave para o sucesso observado até aqui do remédio criado pelos brasileiros é seu princípio ativo. Ele é extraído da planta aveloz, de origem africana e cultivada em alguns estados do Nordeste. O composto e seus derivados semissintéticos demonstraram eficácia para deslocar o HIV “adormecido” das células que servem como seu esconderijo para o sangue. Os mecanismos que resultam nesse efeito não estão totalmente esclarecidos, mas o fato é que o vírus, antes latente, fica ativo novamente e cai na corrente sanguínea, onde é combatido pelos remédios que formam o coquetel.
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OTIMISMO
Tanuri coordena os estudos em animais que estão
demonstrando a eficácia da medicação
O impacto foi constatado in vitro, em células de laboratório e também em células extraídas de pacientes com HIV. Depois, ficou evidenciado, em experimentos realizados com macacos Rhesus infectados pelo SIV, um tipo de vírus responsável por uma infecção extremamente parecida com a causada pelo HIV – por isso, é usado como modelo padrão de estudos em animais sobre a Aids. Já foram realizados quatro investigações usando as cobaias e uma quinta está em andamento. Em uma das pesquisas, dois macacos contaminados e não tratados receberam o remédio. Observou-se aumento da carga viral, mostrando que o vírus alojado nos reservatórios se deslocou para a corrente sanguínea.
Outro teste com os macacos foi mais longe. Dois animais infectados e tratados com os remédios receberam a medicação durante 30 dias. Depois de 21 dias, houve o registro da elevação da concentração de vírus no organismo, indicando que aqueles que estavam escondidos haviam ficado expostos. Após um mês, todo o tratamento foi suspenso, inclusive as drogas antirretrovirais. Depois da suspensão, a concentração viral permaneceu em níveis indetectáveis por 47 dias. “Nesse modelo, porém, o normal é que a carga viral volte a subir em menos de seis dias após a retirada dos antirretrovirais”, explica o pesquisador Tanuri. As investigações executadas nos Estados Unidos e na Alemanha revelaram ainda que o remédio consegue atuar inclusive nos reservatórios localizados no cérebro.
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O momento atual da pesquisa – financiada pela Amazônia Fitomedicamentos – é crucial para o futuro do medicamento. “Nesse estudo com macacos, pretendemos estender a pesquisa até que zeremos os reservatórios virais”, informou o farmacêutico Pianowski. “Ficaria assim comprovada, em laboratório, a cura da doença”, afirma. Depois dessa etapa, planeja-se a realização de estudos clínicos, se possível ainda no próximo ano. “Já fizemos todos os estudos toxicológicos em cães e camundongos e dominamos a produção da molécula”, complementa o farmacêutico.
Na opinião do infectologista Edimilson Migowski, diretor-geral do Instituto de Pediatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o trabalho dos colegas brasileiros é realmente interessante. “Ele se encaixa em uma linha de abordagem contra a doença que busca a sua cura, e não apenas o controle da multiplicação do vírus, como fazem hoje os antirretrovirais”, afirma. “Mas é necessário lembrar que ainda é preciso muito mais estudo até que isso se torne uma realidade acessível”, ressalva.
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ATAQUE
Pianowski usa composto tirado da planta aveloz
para acabar com os reservatórios virais
Fotos: Shuttersotck; Masao Goto Filho, Rafael Hupsel – Ag. IstoÉ

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Butantã vai criar soro contra o ebola


epidemia

Butantã vai criar soro contra o ebola

20.11.2014

Pesquisa brasileira será realizada em parceria com americanos. Doença já matou 5,4 mil pessoas no mundo

Países mais afetados pelo vírus continuam sendo Guiné, Serra Leoa e Libéria. Também há casos nos Estados Unidos e na Espanha
FOTO: REUTERS
Image-0-Artigo-1744607-1São Paulo. O Instituto Butantã está se preparando para desenvolver um soro contra o vírus ebola, em parceria com o Instituto Nacional da Saúde (NIH, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, informou, ontem, o jornal O Estado de S. Paulo. Segundo o diretor do instituto paulista, Jorge Kalil, os últimos trâmites estão sendo feitos para a assinatura do contrato com o NIH e, se as autoridades brasileiras liberarem a pesquisa, o novo soro estará disponível dentro de nove meses para aplicação em humanos.
Kalil explicou que o soro é diferente de uma vacina. Na aplicação de vacinas, ocorre a chamada "indução de imunidade ativa": o organismo é induzido a produzir os próprios anticorpos Já na aplicação de soros o que ocorre é a "indução de imunidade passiva". "Nesse caso, pegamos os anticorpos já produzidos por outra pessoa, ou por outro animal", acrescentou.
Raiva
O novo soro deverá ser desenvolvido com base na imunização de cavalos com o vírus da raiva, em versão modificada com a proteína do ebola. Assim que o contrato for assinado, segundo Kalil, o NIH enviará o material biológico necessário para a imunização.
"Acreditamos que a chance de dar certo é muito grande, porque a proteína do ebola que nos interessa para produzir o soro está na estrutura do vírus da raiva. Nós temos uma experiência muito grande na produção do soro contra o vírus da raiva. Muito provavelmente vamos conseguir um soro neutralizante contra o ebola semelhante ao soro da raiva", disse Kalil.
O tratamento que mostrou mais eficácia até agora contra o ebola foi o coquetel Zmapp: uma mistura de três anticorpos que se prendem às proteínas do vírus do ebola, ativando o sistema imunológico para que ele seja destruído. "Se o Zmapp funciona, imaginei que o soro tradicional feito com base na imunização de cavalos também poderia funcionar. Entrei em contato com o NIH, fui para os Estados Unidos apresentar a ideia e assinaremos os contratos de propriedade intelectual e confidencialidade. A colaboração terá início em breve", afirma.
Testes
Uma vez que os cavalos forem imunizados, os cientistas verificarão se o organismo dos animais foi induzido a produzir, em grande quantidade, anticorpos neutralizantes. Depois de uma série de testes de toxicidade no Brasil, os americanos farão testes de inibição do soro com modelos de macacos.
De acordo com o balanço divulgado ontem pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a atual epidemia de Ebola na África já infectou 15.145 pessoas e matou 5.420. Os dados foram retirados a partir dos casos registrados até o último dia 16 de novembro. Em um intervalo de cinco dias, desde a divulgação do balanço anterior, houve aumento de 732 infectados e 243 mortes. Os países mais afetados continuam sendo Libéria, Guiné e Serra Leoa. Também há casos em locais fora da África, como Estados Unidos e Espanha.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Medicamento alternativo é eficaz na redução do colesterol, diz estudo

Pesquisa apresentada no encontro anual da Associação Americana do Coração mostra que droga vendida como opção às estatinas é capaz de derrubar os níveis de LDL e prevenir infartos e problemas cardiovasculares

Ezetimiba: novo estudo demonstra que substância impede doenças do coração

: Estudo associa medicamento para colesterol a um menor risco de morte por câncer
Ezetimiba: novo estudo demonstra que substância impede doenças do coração (Thinkstock/VEJA)
Um medicamento alternativo, que combina um tipo de estatina a uma substância chamada ezetimiba, é capaz de reduzir o colesterol a níveis muito baixos e prevenir infartos e doenças cardiovasculares. Os resultados de um estudo apresentado no encontro anual da Associação Americana do Coração, na última segunda-feira, podem ajudar aqueles que não toleram altas doses de estatinas ou não respondem a elas.
O estudo randomizado, conduzido pela Universidade Duke, nos Estados Unidos, acompanhou por seis anos 18 000 pessoas que sofreram infartos ou episódios de dor no peito. Os pesquisadores deram a eles tratamento à base de um tipo de estatina chamado sinvastatina – medicamento normalmente usado para tratar altas taxas de colesterol – ou a droga Vytorin, combinação da sinvastatina com ezetimiba, vendida há quase dez anos como droga alternativa para o controle do colesterol. O objetivo era reduzir os níveis de LDL, molécula que deposita o colesterol nas paredes das artérias e pode entupir os vasos – o chamado “colesterol ruim”. Os dois grupos reduziram as taxas de LDL, no entanto, aqueles que tomaram o remédio alternativo exibiram taxas de LDL de 54, enquanto aqueles que tomaram apenas a sinvastatina apresentaram níveis de 69 de LDL.

Além disso, quem tomou a combinação entre as duas drogas teve menos problemas cardiovasculares – uma redução de 6,4%. De acordo com os pesquisadores, isso significa que o medicamento preveniu infarto ou dor no peito de duas a cada 100 pessoas. As estatinas diminuem o LDL porque barram sua fabricação. Já a ezetimiba impede que o LDL seja absorvido pelo intestino e siga para os tecidos do organismo.
Poucos efeitos colaterais — Os pesquisadores comprovaram que os baixos níveis de LDL, promovidos pela droga alternativa, não são tóxicos e não causam efeitos colaterais além dos já conhecidos pelo uso de estatinas: a combinação não mostrou taxas superiores de câncer, dores de cabeça ou musculares.
A ezetimiba é conhecida por sua habilidade em diminuir os níveis de LDL. No entanto, um estudo menor, publicado em 2006, mostrou que a substância não era eficaz no combate a um tipo de arteriosclerose e seu uso foi abandonado em favor das estatinas. Desde então, os médicos preferem as estatinas por acreditar que elas atuam em mais frentes que apenas a redução do LDL.
Entretanto, a nova pesquisa, que analisou o efeito da ezetimiba em doenças cardiovasculares e infarto, mostrou que a redução do LDL promovida pela ezetimiba é um elemento-chave para prevenir problemas do coração. De acordo com os cientistas, esse estudo é mais um a mostrar que o controle do chamado "colesterol ruim", e não a prevenção de inflamações ou de outros fatores, é o que impede as doenças.
Os resultados da pesquisa com o medicamento, que terminaram de ser compilados no início de novembro, ainda não foram publicados em periódicos científicos. O laboratório Merck, responsável pela produção do Vytorin, pretende lançar um genérico da droga em 2016.

domingo, 16 de novembro de 2014

Sem óculos

Médicos comprovam a eficácia de implantes na córnea para tratar a dificuldade de enxergar de perto que surge a partir dos 40 anos

Cilene Pereira (cilene@istoe.com.br)
Uma nova opção de tratamento para a presbiopia, conhecida popularmente como vista cansada, acaba com a necessidade do uso de óculos. A condição é caracterizada pela perda da elasticidade do cristalino, a lente natural do olho. O fenômeno ocorre com o passar dos anos e sua consequência é a dificuldade para focar objetos mais próximos. Hoje, os recursos mais usados para corrigir o problema são os óculos e, menos comum, a cirurgia a laser. Agora, a alternativa que está surgindo são os implantes colocados sobre a córnea e que têm a função de ajustar a profundidade da imagem captada de forma que o indivíduo enxergue de perto e de longe.
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OPÇÃO
Para a oftalmologista Lara, uma das vantagens é que o
recurso pode ser retirado, se preciso
Há três modelos: o Kamra, o Raindrop Near Vision e o Presbia Flexivue Microlens. O mais estudado até agora é o primeiro. Recentemente, pesquisadores da Universidade de Wisconsin (EUA) divulgaram os resultados de um trabalho que avaliou sua eficácia em 507 pacientes com idade entre 45 e 60 anos. Do total, 83% deles ficaram aptos a ler jornal, por exemplo, sem a necessidade de óculos. “O implante funciona tanto para quem está começando a ter dificuldade para enxergar de perto quanto para aqueles que estão com a presbiopia em etapa mais avançada”, disse à ISTOÉ John Vukich, líder da pesquisa.
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Na opinião da oftalmologista Lara Murad Bichara, do Rio de Janeiro, os implantes também apresentam outras vantagens. “Eles podem ser retirados quando necessário”, diz. “E não dificultam a realização de uma operação de catarata no futuro nem prejudicam a visualização da retina, recomendada em pacientes diabéticos, por exemplo”, completa. O pesquisador Vukich, no entanto, ressalva que há circunstâncias nas quais o uso dos óculos pode ainda ser necessário, mesmo com o implante. “Quando a luz é muito fraca, a utilização de óculos de leitura pode ajudar”, disse.
A tecnologia dos implantes já está disponível em países europeus. Nos Estados Unidos, o Kamra está em fase de aprovação pelo Food and Drug Administration (FDA). E, de acordo com os fabricantes do Raindrop Near Vision, sua aprovação no Brasil será solicitada em 2016.

Como vai a saúde do seu cérebro?

Começam a surgir no Brasil e em outros países os serviços de check-up para detectar e corrigir deficiências de memória, concentração e atenção. Os exames também ajudam a prevenir doenças neurodegenerativas como o Alzheimer

Mônica Tarantino (monica@istoe.com.br)
Inspirados nas recomendações que levam milhares de pessoas ao cardiologista ou ao clínico para conferir, anualmente, como está a saúde do coração, neurologistas e pesquisadores do cérebro desenvolveram um corpo de testes destinado a proteger a saúde cerebral e preservar funções cognitivas como a memória, a atenção, a capacidade de se concentrar e o tempo de reação. Essa nova abordagem, nutrida em centros de pesquisa e universidades como Pittsburgh, Yale e Harvard (EUA), e Melbourne, na Austrália, começa a se disseminar pelo mundo. “Esse conjunto de testes identifica a presença de alterações cognitivas. Alguns também podem ser usados para treinar o cérebro a superá-las”, disse à ISTOÉ David Darby, que dirige o Instituto Florey de Neurociências e Saúde Mental da Universidade de Melbourne. Darby é uma referência mundial no estudo do impacto das mudanças neurológicas no comportamento e um pioneiro no desenvolvimento dos jogos computadorizados para avaliar as funções cerebrais.
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Iniciativas com esse direcionamento proliferam na Europa, nos EUA e no Brasil. Centros de memória antes frequentados somente por idosos com demência ou Alzheimer agora começam a ser visitados também por uma população mais jovem interessada em preservar e melhorar a sua performance cerebral. “Recebemos desde atletas que sofreram concussão cerebral até jovens com problemas de concentração que querem saber o que a ciência oferece a eles”, diz a neuropsicóloga Mariana Assed, do Serviço de Psicologia e Neuropsicologia do Hospital das Clínicas de São Paulo, onde está sendo montado um centro de avaliação em moldes semelhantes ao da Universidade de Melbourne. “Estamos reunindo jogos e outros testes para melhorar o diagnóstico de alterações cognitivas e psiquiátricas”, explica Mariana.
Um dos alvos do check-up cerebral é ampliar o acesso à chamada reserva cognitiva. Trata-se da capacidade de o cérebro buscar novos caminhos para usar seus recursos. Na prática, é a agilidade para acionar uma via alternativa e seguir em frente se o caminho principal até uma informação – como uma palavra que teima em desaparecer no meio da conversa – encontra-se bloqueado ou desativado. Estudos apontam que pessoas com maior poupança cognitiva contornam melhor suas deficiências. Uma dessas constatações foi publicada pela revista “Neurobiology”. Uma investigação de cientistas americanos, italianos e sérvios ligados à Fundação Kessler concluiu que a existência de uma reserva mais robusta opõe maior resistência à progressão das perdas cognitivas até mesmo em pacientes com doenças degenerativas, como a esclerose múltipla.
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Em São Paulo, outro serviço de check-up cerebral, o Centro Neurability de Avaliação e Treinamento da Performance Cerebral, atua de acordo com os mais recentes achados da neurociência. Inaugurado há um ano, o local reúne psicólogos, terapeutas, neuropsicólogos, médicos do esporte e neurologistas. “Está provado que o cérebro pode ser reconfigurado a partir de suas reservas cognitivas. É nessa fronteira da ciência que estamos trabalhando”, diz o neurologista Jorge Pagura, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, e um dos integrantes do grupo de profissionais do centro.
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Ali têm sido examinados, por exemplo, atletas do futebol feminino, jogadores de vôlei e boxe e indivíduos com queixas leves ou mais complexas de memória. Foi o que aconteceu com Luiz Carlos Moraes Rego, 81 anos, de São Paulo. Especialista em engenharia automotiva pela Universidade de Michigan (EUA) e professor de Inovação da Fundação Getulio Vargas, há um ano e meio ele se aposentou e trocou as aulas pela atividade como palestrante, consultor e articulista da revista “Inovação”. “Comecei a ficar preocupado com os esquecimentos e a dificuldade de me comunicar”, diz. Após se submeter a uma bateria de testes que confirmaram o problema, fez 13 sessões de treinamento para melhorar o uso de seu patrimônio cognitivo. “Foi um excelente investimento. Parece que religuei o cérebro”, diz.
O publicitário Fauze Jibran, 40 anos, submeteu-se ao check-up por curiosidade e ficou surpreso ao saber que sua memória de trabalho – guarda, por exemplo, nomes de pessoas a quem você acabou de ser apresentado –, estava abaixo do normal. “Vimos que a ansiedade estava me prejudicando”, conta. Ele foi orientado a modificar sua rotina para controlar o problema. “As mudanças no estilo de vida me devolveram a agilidade mental.”
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PREVENÇÃO
O neurologista Okamoto, do Hospital Albert Einstein, planeja o lançamento
de um pacote de exames para avaliar pessoas saudáveis
No laboratório do neurocientista Michael Collins, da Universidade de Pittsburgh (EUA), concentra-se a vanguarda dos estudos e tratamentos da concussão cerebral, o trauma provocado por choques ou pancadas que causam impacto na cabeça. Suas pesquisas mostram que resultados normais dos exames de imagem não são suficientes para descartar uma avaliação das funções cerebrais de pessoas que bateram a cabeça. “Treinamentos específicos melhoram esse quadro”, assegura Collins.
A designer Karoline Gebrael, 32 anos, de São Paulo, beneficiou-se dessa nova forma de tratar sequelas. Há um ano, ela sofreu um acidente de carro, mas aparentemente não teve sequelas. Com o tempo, passou a ter dores de cabeça constantes, cansaço e dificuldade para se concentrar no trabalho. “Meu desempenho estava abaixo do que sei que posso”, diz. Karoline submeteu-se aos testes de avaliação neurocognitiva. “O cérebro dela ainda se ressentia do impacto sofrido há tanto tempo”, diz o médico Ricardo Eid, coordenador do Ambulatório de Concussão da Universidade Federal de São Paulo e um dos idealizadores do Centro Neurability.
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Por ser esse um campo do conhecimento ainda em construção, um dos questionamentos é se o check-up pode ser um recurso para melhorar a identificação de pessoas com declínio cognitivo leve ou até sem sintomas que indiquem o risco de demência e Alzheimer. A prática mostra que sim. “Nos casos em que houver um prejuízo mais acentuado da memória e de outras funções a indicação é realizar exames mais complexos para avaliar sua condição neurológica”, afirma o pesquisador Ivan Okamoto, da Universidade Federal de São Paulo e diretor do Centro do Cérebro e Memória do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. Ele vê com bons olhos o uso dos testes para analisar as funções cerebrais, ajudando, dessa maneira, na detecção de eventuais problemas. “Ainda que seja tênue a linha divisória entre as perdas próprias do envelhecimento e quadros iniciais de demência, sabemos que intervir precocemente pode retardar os sinais das doenças degenerativas”, afirma.
Okamoto chama a atenção para o fato de que é urgente aumentar o acesso ao diagnóstico no País. “Aqui, apenas 11% das pessoas com a doença de Alzheimer estão em tratamento e estima-se que 90% dos pacientes não tenham diagnóstico”, destaca. O médico planeja lançar nos próximos meses um pacote de exames para o público saudável com foco na prevenção.
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EXAME
A neuropsicóloga Mariana Assed (na foto, atrás) usou testes 3D para
livrar a designer Karoline da dor de cabeça e da falta de atenção
A aplicação dos testes (leia mais sobre eles no quadro ao lado) encontra suporte nos diversos estudos que buscam decifrar como os nossos neurônios se conectam uns aos outros e quais estímulos reforçam ou enfraquecem essas ligações. Entre eles estão os que avaliam testes neurocognitivos de computador e os chamados neurogames. Publicada na revista “Nature”, uma pesquisa recente feita com 40 pessoas com idade entre 60 e 85 anos mostrou, por exemplo, a eficiência de um jogo desenvolvido pela Universidade da Califórnia, o NeuroRacer. Ele é utilizado para incentivar a capacidade de executar diversas tarefas ao mesmo tempo, algo cada vez mais comum. Nele, o jogador pilota um carro por uma região montanhosa por meio de um joystick. Ao mesmo tempo, é instruído a apertar um botão apenas quando um sinal específico aparecer na tela. “O estudo forneceu uma evidência poderosa de como a aplicação personalizada de um videogame pode ser usada para investigar as habilidades cerebrais e, ao mesmo tempo, como ferramenta para a melhoria cognitiva”, diz o médico Moacir Costa Neto, de Brasília. Ele foi aos EUA e à Austrália conhecer os novos recursos contra as perdas neurocognitivas.
Outro trabalho, feito por cientistas do Instituto Max Planck, na Alemanha, e publicado pela revista “Molecular Psychiatry”, investigou os efeitos de jogos de computador 3D sobre o cérebro de um grupo de adultos que jogaram, por dois meses e durante 30 minutos por dia, o game “Super Mario 64”. Na comparação com indivíduos que não passaram pela experiência, o que se viu foi um aumento nas dimensões de diversas áreas cerebrais, como o córtex pré-frontal (ligado à tomada de decisões e planejamento) e regiões associadas à formação da memória e aos movimentos finos das mãos.
Na opinião do médico Paulo Bertolucci, chefe da Neurologia Comportamental da Universidade Federal de São Paulo, a popularização dos check-ups e dos jogos para treinar as capacidades cerebrais é positiva. “O cérebro precisa ser tão bem cuidado quanto o coração”, afirma. Ele alerta, porém, para a necessidade de usar os recursos de forma individualizada. “Jogos online ajudam a melhorar alguma coisa, mas é necessário fazer essa atividade de modo orientado e com acompanhamento”, recomenda.
Na Austrália, o neurocientista Darby está justamente monitorando uma população de voluntários para afiar os critérios a serem usados nas avaliações feitas pela internet. Hoje, quem acessa sites como o Lumosity, por exemplo, será encaixado em padrões diagnósticos bastante abrangentes. O que Darby quer é criar condições para que o resultado obtido pelo internauta seja o mais específico possível. “E assim será possível ampliar o uso dessa ferramenta e reduzir a chance de que ela deixe passar variações que indiquem algo mais grave na saúde do cérebro”, diz Darby.
Fotos: Pedro Dias, Rafael Hupsel – Ag. Istoé, Airam Asil