sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Estatina associada a exercícios físicos reduz em até 70% o risco de mortalidade

Segundo novo estudo, medicamento sozinho também diminui essas chances, mas a combinação dos dois hábitos surte efeitos melhores em pessoas com colesterol alto

Estatina: Estudo associa medicamento para colesterol a um menor risco de morte por câncer
Estatina: Aliar medicamento à atividade física melhora os efeitos positivos do tratamento (Thinkstock)
Um novo estudo americano concluiu que aliar o uso de estatina, medicamento que controla os níveis de colesterol no sangue, à prática regular de atividade física pode reduzir em até 70% o risco de morte em um período de dez anos entre pessoas com colesterol alto. A pesquisa mostrou que cada um desses dois hábitos, se seguidos individualmente, também surte esse benefício, mas que o efeito positivo é muito maior se eles forem combinados. Os resultados foram publicados nesta quarta-feira na revista médica The Lancet.

CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Interactive effects of fitness and statin treatment on mortality risk in veterans with dyslipidaemia: a cohort study

Onde foi divulgada: revista The Lancet

Quem fez: Peter F Kokkinos, Charles Faselis, Demosthenes Panagiotakos e Michael Doumas

Instituição: Centro Médico Veterans Affairs, Universidade Georgetown, Universidade George Washington e Universidade Stanford, todas nos Estados Unidos

Dados de amostragem: 10.043 pessoas com idade media de 59 anos e com colesterol alto

Resultado: Aliar o uso de estatina à prática de atividades físicas é melhor do que seguir algum desses hábitos individualmente para reduzir o risco de morte em 10 anos entre pessoas com colesterol alto
Participaram do estudo 10.043 pessoas com uma idade média de 59 anos que tinham problemas de colesterol alto. Elas foram acompanhadas ao longo de dez anos. Nesse período, 2.318 indivíduos morreram, uma taxa de 22 mortes por 1.000 pessoas ao ano.
Segundo a pesquisa, a taxa de mortalidade entre os participantes que usaram a estatina foi 35% menor do que a daqueles que não faziam uso do medicamento. Além disso, quanto melhor era o condicionamento físico de um indivíduo, menor sua chance de morrer em um período de dez anos. De acordo com os resultados, participantes que tomavam estatina e que tinham melhor condicionamento físico tiveram um risco até 70% menor do que aqueles com pior condicionamento, mas que também faziam uso do medicamento.
De acordo com Peter Kokkinos, coordenador do estudo, a melhora do condicionamento físico pode ser obtida com atividades de carga moderada, como com 30 minutos de caminhada rápida ao dia, por exemplo. Além disso, ele afirma que os exercícios, por serem tão benéficos quanto as estatinas para a redução do risco de morte, são opções ideais a pacientes que não podem fazer uso do medicamento devido aos seus efeitos colaterais.
O coordenador da pesquisa, porém, reforça que a mensagem do estudo não é incentivar as pessoas a deixarem de fazer uso de estatinas. O remédio, ele explica, é essencial para reduzir eventos cardiovasculares, efeito que foi comprovado por uma série de trabalhos. Segundo Kokkinos, o que seus resultados reforçam é a importância da prática regular de atividades físicas e a eficácia da estatina.
Discussão — A estatina já foi associada por diversos estudos a uma série de benefícios, entre eles a redução do crescimento da próstata — quadro que pode indicar presença de um tumor e de outros problemas benignos — em homens com predisposição à doença e a diminuição do risco de pancreatite, um processo inflamatório que ocorre no pâncreas. Uma pesquisa recente também mostrou que a droga é capaz de reduzir as chances de morte por câncer em até 15%.
Porém, nem todas as pesquisas apontaram para efeitos positivos do medicamento, e alguns trabalhos revelaram que a droga pode elevar as chances de um indivíduo desenvolver diabetes. Ainda assim, um artigo divulgado em agosto também pela revista The Lancet considerou que os benefícios do remédio à saúde cardiovascular compensam o risco dos efeitos negativos.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Não enxugue o suor!

(Foto: Thinkstock)
Com as temperaturas subindo nesta época do ano, os esportistas precisam estar bem informados sobre os cuidados necessários para treinar sob calor intenso.  Além das recomendações que competem aos nutricionistas sobre a hidratação, destaco abaixo dicas importantes para garantir a atividade física mais segura e saudável:
- Evite exercícios quando a temperatura estiver acima de 30º C, principalmente se a umidade relativa do ar for maior do que 60%. O corpo humano produz muito calor durante o exercício e as altas temperaturas dificultam a transferência do calor do corpo para o ambiente.
- Não enxugue o suor. A evaporação do suor garante boa parte do controle térmico do corpo. Em ambientes muito úmidos, produziremos mais suor e a nossa tendência é tentar enxugá-lo. Isso impede a transferência de calor.
- Use roupas de tecido tecnológico. Há alguns anos a indústria esportiva desenvolveu com sucesso tecidos que aceleram a evaporação do suor e ajudam na termoregulação.
- Evite correr de dorso nu. O corpo absorve muito calor e o dorso nu, ao contrário do que parece, dificulta ainda mais a transferência de calor.
- Diminua a intensidade e principalmente a duração do exercício. Além do aumento exacerbado da temperatura corporal interna, o corpo sofre um desgaste cardiovascular considerável. Parte do suor produzido vem do plasma do sangue, deixando-o mais viscoso. Além disso, parte do sangue é desviado para a pele, justamente para contribuir no resfriamento corporal. Por esse motivo a freqüência cardíaca fica mais alta no calor. À medida que a atividade se prolonga, o estresse cardiovascular aumenta.  A tabela abaixo ajuda a visualizar quando o exercício pode se tornar uma ameaça.

Fontes:
Calor, Exercício Físico e Hipertermia: Epidemiologia, Etiopatogenia, Complicações, Fatores de Risco, Intervenções e Prevenção. Lígia Vilas, Ricardo Zanuto, Helga CA Silva, Acary SB Oliveira. Revista Neurociências, V.14, N.3, Jul/Set, 2006. (144-152).
Fisiologia do Exercício. William D. McArdle, Frank I. Katch, Victor L. Katch. 7ª Edição.
Por Renato Dutra

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Após meses de disputa judicial, GDF marca cirurgia em garoto para sábado

Lucas Bittencourt, de dez anos, tem problema respiratório desde que nasceu.
Justiça determinou que governo compre e implante marca-passo.

Do G1 DF
Após meses de disputa judicial, foi agendada para o próximo sábado (1°) a cirurgia de implante de marca-passo em Lucas Bittencourt, menino de dez anos que sofre com problema respiratório e vive em uma cama desde o nascimento. De acordo com a Secretaria de Saúde, o procedimento será feito no Instituto de Cardiologia do Distrito Federal sob a coordenação do médico Rodrigo Sardemberg, profissional solicitado pela família em ação na Justiça.

Em outubro, decisão do Conselho Especial do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDF) determinou a imediata realização da cirurgia pela rede pública. O secretário de Saúde, Rafael Barbosa, autorizou a compra do material que será usado na cirurgia de Lucas Bittencourt no último dia 5. O marca-passo foi adquirido por R$ 388 mil e chegou a Brasília na sexta-feira.
Lucas Bittencourt recebeu a visita do cirurgião torácico Rodrigo Sardenberg na segunda-feira (11) da semana passada (Foto: Raquel Morais/G1)Lucas Bittencourt durante visita do cirurgião torácico Rodrigo Sardenberg (Foto: Raquel Morais/G1)
Lucas Bittencourt não fala, não anda e respira com ajuda de aparelhos desde que nasceu, por causa de uma insuficiência respiratória crônica. O pai do menino, o analista de sistemas Caio Bittencourt, disse estar ansioso. “Fazendo a cirurgia no sábado, o marca-passo vai poder ser ligado 15 dias depois, em 16 de dezembro, aniversário do meu filho. Será um novo nascimento”, declarou.
Segundo Caio, o garoto fará exames de sangue pré-operatório nesta quarta-feira (28) e de raio X do tórax na sexta, quando deverá ser internado. Caio contou que Lucas está com restrição de visita, para evitar qualquer tipo de infecção ou contaminação que possam dificultar a cirurgia.
Segundo Caio, o menino deverá ficar internado por cinco dias. “Já mostrei para ele fotos do quarto onde ele vai ficar. Vamos levar vídeo game, DVD e televisão para que ele fique tranquilo enquanto estiver internado”, afirmou.
Histórico
Em 1º de agosto, o TJDF havia negado recurso do GDF contra a liminar que determina a implantação do marca-passo. Naquele mês, uma junta médica da secretaria concluiu que Lucas não tinha indicação para a cirurgia. Os três profissionais que analisaram a criança durante 26 minutos afirmaram que ele apresentava “sequelas neurológicas irreversíveis, tanto intelectuais quanto motoras” e que era tetraplégico.
Também segundo os médicos, o implante não traria melhoras significativas a Lucas e não havia necessidade de urgência no tratamento. Rodrigo Sardenberg, médico especialista no procedimento, questionou o laudo. “Acho que não foi uma boa avaliação, inclusive porque há um erro conceitual: Lucas não é tetraplégico, mas tetraparético, ou seja, ele tem os movimentos, mas são mais lentos.” Em julho, o TJ determinou que a operação ocorresse independentemente do relatório da junta. Só após decisão de outubro do Conselho Especial do TJ que a Secretaria de Saúde autorizou a realização do procedimento.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Exercícios físicos atenuam sintomas de Parkinson e Alzheimer


Novos pesquisas mostram que atividades físicas são fundamentais para reduzir a gravidade dessas doenças neurodegenerativas

Imagens de ligações de neurônios do cérebro podem prever o quão inteligente você é, diz estudo
Doenças neurodegeneativas, como Parkinson e Alzheimer, podem ser atenuadas com atividade física   (Kiyoshi Takahase Segundo/Getty Images/iStockphoto)
Duas pesquisas apresentadas no encontro anual da Sociedade Norte-americana de Radiologia, que acontece até esta sexta-feira em Chicago, nos Estados Unidos, revelaram de que forma um estilo de vida saudável, especialmente com a prática frequente de atividade física, pode surtir efeitos positivos sobre doenças neurodegenerativas. Segundo os trabalhos, exercitar-se atenua os sintomas de doenças como a de Alzheimer e a de Parkinson e, assim, melhora a qualidade de vida das pessoas que sofrem de alguma dessas condições.

Saiba mais

ALZHEIMER
A demência é causada por uma variedade de doenças no cérebro que afetam a memória, o pensamento, o comportamento e a habilidade de realizar atividades cotidianas. O Alzheimer é a causa mais comum de demência e corresponde a cerca de 70% dos casos. Os sintomas mais comuns são: perda de memória, confusão, irritabilidade e agressividade, alterações de humor e falhas de linguagem.
DOENÇA DE PARKINSON
A doença degenerativa e progressiva do sistema nervoso tem uma evolução lenta e costuma aparecer entre os 50 e 79 anos. Ela é caracterizada por tremores nos músculos quando eles estão em repouso, lentidão nos movimentos voluntários e rigidez. Estima-se que a doença afete cerca de 1 em cada 100 pessoas com mais de 65 anos. As causas do Parkinson ainda são desconhecidas e seu tratamento é feito com o uso de medicamentos. A progressão da doença, no entanto, ainda é inevitável.
Uma das pesquisas, desenvolvida na Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, acompanhou, por 20 anos, 876 idosos com mais de 78 anos de idade. Os autores descobriram que um estilo de vida ativo, com a prática regular de exercícios aeróbicos, está associado a um maior volume da massa cinzenta do cérebro, inclusive entre pacientes com comprometimento cognitivo leve ou Alzheimer. Essa região cerebral está envolvida na cognição e o seu encolhimento é associado a piores quadros de doenças mentais. Portanto, concluíram os autores, o exercício, principalmente aqueles que promovem um maior gasto de energia, pode reduzir a gravidade da demência.
O segundo estudo foi feito na Clínica Cleveland, nos Estados Unidos. O trabalho revelou que os exercícios também podem ser fundamentais para uma pessoa que sofre da doença de Parkinson. De acordo com os resultados dessa nova pesquisa, andar de bicicleta, um exercício que promove grande oxigenação do cérebro, melhora a comunicação entre diferentes regiões cerebrais e atenua os sintomas dessa condição, que incluem tremores, lentidão de movimentos e rigidez muscular. Além disso, mostraram os pesquisadores, quanto mais intensa for essa atividade — ou seja, quanto mais rápida a pedalada — maior o benefício. Eles chegaram a essa conclusão após observar o efeito desse exercício em 26 pacientes com mais de 50 anos de idade que sofriam da doença de Parkinson.
Os autores de ambos os estudos se mostraram entusiasmados com os resultados, mas destacaram a importância de novas pesquisas para aprofundar os achados. Os pesquisadores responsáveis pelo estudo sobre a doença de Parkinson querem saber, por exemplo, se outras atividades além de andar de bicicleta, como natação, também são capazes de surtir o mesmo efeito positivo.
Saiba mais sobre a doença de Parkinson nos vídeos abaixo:

*O conteúdo destes vídeos é um serviço de informação e não pode substituir uma consulta médica. Em caso de problemas de saúde, procure um médico.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Pesquisa aponta relação entre bactérias e obesidade

Estudos recentes revelam que o ganho de peso está também relacionado a um desequilíbrio entre os micróbios que habitam nossos intestinos, como mostra reportagem de VEJA desta semana

Adriana Dias Lopes
Bactérias engordam
(Istockphoto/RF)
O tratamento da obesidade é um dos maiores embates da medicina. Parte da dificuldade está no fato de a doença jamais se manifestar isoladamente. O ganho de peso aumenta o risco de problemas cardiovasculares e de diabetes. Mas o maior entrave dos especialistas está em decifrar os mecanismos associados ao distúrbio. A obesidade é causada por diversos fatores, com papéis diferentes no desencadeamento dos males, a depender do caso. Ganha-se peso por problemas genéticos, hormonais, ambientais e comportamentais. Recentemente, os pesquisadores identificaram outra causa: as bactérias encontradas nos intestinos. Um artigo publicado na revista científica americana Nature, resultado da compilação dos mais relevantes trabalhos conduzidos sobre o assunto na última década, esmiuçou essa insólita relação. Um desequilíbrio nas bactérias intestinais está atrelado a um processo inflamatório, atalho para a obesidade. O desarranjo permite que fragmentos desses micróbios saiam de seu habitat (os intestinos), caiam na corrente sanguínea e atinjam as células de gordura, alterando seu metabolismo. O passo seguinte é o acúmulo de adipócitos (veja o quadro abaixo). “O achado é um dos avanços mais interessantes da endocrinologia nos últimos dez anos”, diz o endocrinologista Freddy Eliaschewitz, diretor do Centro de Pesquisas Clínicas (CPClin), de São Paulo.
A relação entre bactérias e obesidade começou a ser estudada em meados dos anos 2000, quando o microbiologista Fredrik Bäckhed, da Universidade Washington, em Saint Louis, observou que camundongos criados em ambientes estéreis, ou seja, com pouco contato com bactérias, tendiam a ser mais magros em relação às cobaias que se expunham aos microrganismos. Bäckhed fez então um transplante da flora intestinal entre os animais. Por meio de cápsulas, os ratos magros receberam as bactérias presentes nos intestinos dos ratos gordos, e vice-versa. O resultado foi surpreendente: os magros ganharam peso e os gordos emagreceram. No início do ano, um estudo da Universidade Yale, nos Estados Unidos, ajudou a detalhar quais micróbios estão associados à obesidade. A flora intestinal é composta de 100 trilhões de bactérias, divididas em duas principais classes: firmicutes e bacteroidetes. As primeiras são mais resistentes à ação do sistema imunológico. As segundas, além de mais vulneráveis, estimulam as células de defesa a produzir substâncias anti-inflamatórias. Um organismo saudável contém os dois tipos em quantidades semelhantes. Por meio de biópsias intestinais feitas nas cobaias de laboratório, os pesquisadores de Yale mostraram que os ratos obesos apresentam uma quantidade maior de bactérias da família das firmicutes.
O mais recente Congresso Europeu de Diabetes, realizado há um mês em Berlim, na Alemanha, trouxe ainda mais novidades. Pesquisadores do Centro Médico Acadêmico de Amsterdã, na Holanda, um dos principais centros de referência nos estudos sobre microbiologia, apresentaram os resultados de estudos sobre o assunto conduzidos em seres humanos. Nove homens com excesso de peso, portadores de diabetes tipo 2 e com a flora intestinal desregulada, receberam bactérias de nove homens magros e com os intestinos em equilíbrio. Outros nove voluntários, também acima do peso, serviram de grupo de controle. Depois de seis semanas, os voluntários do primeiro grupo perderam cerca de 4 quilos, mantendo os hábitos de vida inalterados. Os outros não sofreram mudanças. Os organismos que emagreceram também melhoraram a sensibilidade à insulina, o hormônio responsável por transportar glicose às células. Não houve mais intervenções. Um ano depois, porém, os homens que emagreceram retomaram o peso inicial. “Os resultados sugerem que o tratamento com bactérias deverá ser contínuo”, diz o endocrinologista Eliaschewitz.
Divulgação
Pioneirismo - Bäckhed: testes em ratos
Pioneirismo - Bäckhed: testes em ratos  
As recentes descobertas abrem caminho para o desenvolvimento de várias frentes de tratamento contra a obesidade, até pouco tempo inimagináveis. Diz o infectologista Artur Timerman, do Hospital Edmundo Vasconcelos, em São Paulo: “Uma das possíveis estratégias a ser testadas é o uso de terapias que promovam o equilíbrio da flora intestinal”. Como, por exemplo, os probióticos, bactérias vivas consumidas na forma de iogurte, leite fermentado, cápsula ou sachê. Porções com cerca de 1 bilhão de microrganismos são atualmente ingeridas com o objetivo de regular o trânsito intestinal e reforçar o sistema imunológico de forma geral. Além disso, os probióticos são chamados de bactérias do bem pela baixa agressividade, ou seja, pouca capacidade de ultrapassar os intestinos e cair na corrente sanguínea -- justamente o princípio de intoxicação que leva ao acúmulo de células de gordura. Para que os probióticos possam ser indicados para emagrecer, ainda são necessárias pesquisas que atestem a eficácia do método e determinem as doses ideais para a perda de peso. A expectativa é que, em dez anos, as bactérias da magreza estejam em campo na luta contra as bactérias da obesidade.

domingo, 25 de novembro de 2012

Marajás de jaleco

Além dos vencimentos de até R$ 40 mil, médicos do Senado recebem verba do Congresso para atender servidores em suas clínicas particulares

Josie Jeronimo

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CARO E POUCO EFICIENTE
O hospital do Senado, que ocupa uma área de 2.500 metros quadrados, não
atende nem 5 mil pessoas por mês e custa ao contribuinte R$ 5 milhões por ano
Há três anos, em meio ao escândalo dos atos secretos, o presidente do Senado, José Sarney, contratou uma auditoria da Fundação Getulio Vargas (FGV) para melhorar a gestão. Em seu relatório, os auditores propuseram várias medidas saneadoras. Entre elas, a extinção do Departamento Médico do Senado, considerado pouco eficiente ante a estrutura semelhante à de um hospital de pequeno porte. O relatório da FGV foi para a gaveta e, em vez de ser extinto, o serviço cresceu. Este ano, mais dez médicos passaram a integrar o corpo de 103 funcionários concursados. Esses profissionais, que trabalham quatro horas por dia, em plantões montados de acordo com o tempo livre de cada um, embolsam mensalmente uma média de R$ 20,9 mil. Em alguns casos, o salário pode chegar a R$ 40 mil, somado a gratificações pouco justificáveis. Não bastasse toda a mordomia, ISTOÉ descobriu que vários desses médicos, além dos vencimentos oficiais, também recebem como terceirizados do próprio Senado.
A terceirização funciona da seguinte maneira: uma insuspeita entidade de classe denominada Associação dos Médicos de Hospitais Privados do Distrito Federal recebe do Senado e repassa os valores para as clínicas onde trabalham os médicos do próprio Senado. Em 2011, a entidade fechou contrato com a Casa parlamentar no valor de R$ 55 milhões para “intermediação no pagamento dos honorários relativos à prestação de serviços complementares à saúde, aos beneficiários do plano de assistência do Senado”. O contrato foi feito sem licitação.
A Associação funciona numa sala de um centro hospitalar próximo das clínicas onde os médicos trabalham após o expediente no Senado. Muitos de seus clientes na rede privada são servidores que eles atendem no Senado e encaminham para uma segunda consulta e determinado tratamento. ISTOÉ visitou as clínicas e acompanhou o entra e sai de pacientes. Ao menos dez dos 48 médicos em exercício no Senado têm centros de saúde registrados no próprio nome. Desses, seis estão na lista dos “conveniados” da Associação de Médicos Privados do Distrito Federal. Um deles é Átila Cesetti, servidor do Senado e dono da clínica ProCardíaco. O médico está na lista dos prestadores de serviço da Associação. Ele cumpre sua enxuta carga horária no hospital do Senado e atende em sua clínica da Asa Sul. Em outubro, além do salário de R$ 42 mil com gratificações, Cesetti também embolsou os lucros da clínica.
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LUCRO DOBRADO
A clínica ProCardíaco, que recebe como conveniada do Senado, tem como dono o
servidor Átila Cesetti. Médico do próprio Senado, Cesetti ganha salário de R$ 42 mil mensais
Os valores que a Associação dos Médicos de Hospitais Privados paga a ele e a outros colegas não são públicos, embora o dinheiro que abasteça sua conta venha do Senado. Para receber os honorários, as clínicas encaminham à entidade “cheques-consulta” que descrevem a especialidade e o valor do atendimento, mas o Senado não tem acesso a esses valores e só presta conta dos recursos globais que repassa à associação. Os beneficiados na transação da subcontratação também permanecem ocultos. No mesmo centro clínico da Asa Sul também funciona a empresa médica do servidor César Luiz Gonzalez. Assim como Átila, Gonzalez recebeu R$ 42 mil em vencimentos do Senado, em outubro, e turbinou o salário com honorários recebidos por meio do convênio de sua clínica, a Cardiocare, com a Associação.
Duas unidades médicas dos funcionários operam no Sudoeste, outro bairro nobre de Brasília. Uma delas pertence ao médico Cantídio Lima Vieira. Ele tem participação em mais quatro clínicas. Duas delas, a Policlínica Planalto e a Cordis são prestadoras de serviço da mesma associação de médicos contratada pelo Senado. Em outubro, o servidor-empresário recebeu R$ 20,9 mil de salário mais R$ 4,8 mil em gratificações, fora a remuneração das clínicas. Há ainda aqueles que mantêm contrato direto como prestadores de serviço da associação, sem vínculo com empresa, como o médico Paulo Nery Teixeira Rosa.
Uma característica comum aos integrantes do serviço médico do Senado, chamados de “marajás” nos corredores da Casa, é a antiguidade no serviço público. A maioria tem mais 15 anos de Casa, com exceção de Gustavo Korst Fagundes, que entrou no concurso deste ano e engorda seu contra-cheque de R$ 16,7 mil com a atividade médica complementar da associação. ISTOÉ procurou o servidor no serviço de atendimento da Casa e foi informado pelas atendentes do hospital do Senado que o urologista dá consulta das 9h às 12h, diariamente. Fagundes é sócio da clínica Serviço Brasiliense de Urologia. Em março de 2011, a Casa assinou contrato no valor de R$ 80 mil com a clínica de Fagundes. O valor também é pago por meio dos chamados cheques-consulta, emitidos de acordo com a demanda de beneficiários do plano de saúde do Senado.
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O BENEFICIÁRIO
O médico Cantídio Lima Vieira é sócio de
duas clínicas que prestam serviço ao Senado
Em nota, o Senado confirma que “possui alguns servidores, na área médica de especialização, que exercem atividade laboral em clínicas conveniadas com o SIS”, sem sobreposição da jornada de trabalho. Diz ainda a nota “que os profissionais de saúde do Serviço Médico do Senado estão impedidos de atender pacientes, pelo SIS, em clínicas particulares”.
Quem visita o Departamento Médico do Senado encontra um local sem filas. Segundo a auditoria da FGV de 2009, a média de atendimentos não chega a cinco mil por mês. Uma UPA, que possui metade do corpo de funcionários, atende 25 mil pacientes no mesmo período. O hospital do Senado ocupa uma área de 2.500 metros quadrados e sua estrutura custa ao contribuinte R$ 5 milhões por ano. Pelo estudo, o grosso da demanda dos mais de 25 mil beneficiários do plano de saúde da Casa acaba sendo suprido pela rede hospitalar privada, paga com o fundo do Sistema Integrado de Saúde do órgão legislativo. O maior sintoma da ineficiência do serviço médico é o volume de gastos com reembolso de despesas dos parlamentares com hospitais particulares. Os senadores não utilizam os serviços do hospital da Casa e apresentam R$ 60 milhões em notas de ressarcimento por ano. O orçamento para despesas médicas dos parlamentares, servidores, aposentados e dependentes chega a R$ 105 milhões anuais.
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sábado, 24 de novembro de 2012

A nova guerra dos remédios

Indústria brasileira se prepara para lançar no mercado cópias de drogas de última geração usadas para doenças como câncer e artrite reumatoide. Mas a polêmica é se elas serão tão eficazes quanto as originais

Fabíola Perez, Laura Daudén e Monique Oliveira
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ACORDOS
Odnir, da Bionovis, busca ajuda internacional para fabricar os biossimilares
Está dada a largada para a nova era da produção de cópias de remédios no País. Expiram, agora em 2012, as patentes de remédios biológicos ? feitos a partir de organismos vivos, como bactérias. Eles são usados para prolongar e melhorar a qualidade de vida de portadores de doenças graves, como o câncer. Até 2020, outras dezenas de patentes cairão. Entre elas estão a da Herceptina, usada contra tumor de mama, do Mabthera, para linfoma não Hodgkin, do Remicade, para artrite reumatoide, do Xolair, para asma, e do Lucentis, para degeneração macular relacionada à idade.
São medicações caras ? há doses que podem chegar a até R$ 50 mil ? e que, por isso mesmo, têm um impacto de R$ 6 bilhões anuais no orçamento público. Espera-se, portanto, que a queda das patentes abale favoravelmente as contas de planos de saúde e do SUS e torne esses remédios, em geral mais eficazes, acessíveis a uma parcela maior da população.
Porém, o quadro estabelecido denuncia que a questão é mais complexa do que parece. O grande desafio está em saber se as cópias terão a mesma eficácia e segurança que as drogas de referência. Isso porque, neste caso, o processo de produção dos remédios de marca é muito diferente do aplicado para fabricar as drogas convencionais, das quais hoje é possível encontrar seus genéricos nas farmácias.
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Os biológicos são feitos a partir de anticorpos produzidos por seres vivos modificados geneticamente para gerar mecanismos de defesa equivalentes aos humanos. Diferente, portanto, de moléculas sintéticas, criadas em laboratório, como as que originam os remédios comuns. Até lotes de biológicos de uma mesma empresa não são totalmente iguais entre si. ?É impossível produzir duas moléculas idênticas?, diz Valdair Pinto, consultor da indústria farmacêutica. Por essa razão, uma cópia de um biológico nunca será igual ao seu correspondente original. É por esse motivo que elas são chamadas de biossimilares e não de genéricos ? esses sim cópias idênticas das drogas de referência.
Como comprovar, então, a eficácia das cópias? Com testes ? incluindo os clínicos ? semelhantes aos feitos para aprovação da droga original, além de um exame de comparabilidade para determinar se sua eficácia é igual ou superior ao de referência. ?Mas a legislação não esclarece se a estrutura molecular do biossimilar deve ser igual à do seu biológico de referência?, diz Denizar Vianna, presidente do Centro Latino-Americano de Pesquisa em Biológicos.
Um dos problemas que podem ocorrer com o uso dos biológicos ? originais ou não ? é a reação descontrolada do sistema imunológico, que pode reconhecê-los como substâncias estranhas. O resultado é a intolerância ao tratamento. Isso é particularmente importante para as doenças que acometem o sistema de defesa, como o linfoma e a leucemia. ?Estamos atentos a tudo o que envolve essas drogas?, diz Merula Steagall, presidente da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia.
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Na indústria brasileira, há intensa movimentação para que se consiga produzir remédios de tamanha sofisticação. ?A ação de drogas como essas depende de uma fabricação rigorosa, de alto controle?, diz o reumatologista Valderílio Feijó Azevedo, coordenador do Fórum Latino-Americano de Biossimilares. Mas aqui, novamente, apresenta-se outro desafio: a capacitação da mão de obra. Estima-se que nos EUA existam 800 mil cientistas envolvidos com biotecnologia ? área na qual são feitas as medicações ? , enquanto no Brasil esse número não ultrapassa os dez mil. Diante desse cenário, as empresas se viram impelidas a unir forças para bancar o início da produção dos biossimilares. Foi criada a Bionovis, formada pela ESM, Aché, Hypermarcas e União Química, e a Orygen Biotecnologia, formada pela Eurofarma, Cristália, Biolab e Libbs.
A Orygen não anunciou seu investimento e produção. A Bionovis divulgou o investimento de R$ 500 milhões, destinados à produção de cópias do etanercepte, utilizado na artrite reumatoide, e do rituximabe, para o linfoma não Hodgkin. Outras sete drogas estão na lista da companhia. ?Estamos firmando acordos com empresas internacionais que detêm o know-how necessário à produção?, diz Odnir Sinotti, presidente do laboratório. Na opinião de Sarah Rickwood, consultora da IMS, empresa especializada na análise de mercados de saúde, o início da produção no Brasil pode representar um avanço na geração de conhecimento. ?Diferentemente da fabricação dos genéricos, a pesquisa necessária para a fabricação de biossimilares pode ser uma oportunidade para o Brasil produzir, inclusive, drogas melhores do que as originais?, diz.
Algumas iniciativas nesse sentido estão em curso. A Confederação Nacional da Indústria e o Senai fecharam duas parcerias de peso para a formação de profissionais: com o americano Massachusetts Institute of Technology e a alemã Fundação Fraunhofer, instituição de apoio à indústria. No ano que vem, as instituições deverão criar por aqui 23 institutos de inovação em áreas como a biotecnologia. Na mesma linha, o Brasil está firmando convênios com outros países para a transferência de tecnologia, como é o caso dos contratos firmados entre a Fundação Osvaldo Cruz, no Rio de Janeiro, e o governo cubano para a produção nacional do interferon-alfa, já usado para o tratamento de hepatites virais e alguns tipos de câncer.
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Apesar do alto investimento das empresas brasileiras, eles serão menores do que os despendidos pelos laboratórios que inicialmente criaram essa tecnologia. A Roche, um dos fabricantes que sentirão o abalo com a quebra das patentes, por exemplo, investiu R$ 900 milhões no Avastin, contra o câncer de mama e de colo do útero e cuja patente cai em 2018. Isso é quase o dobro de todo o capital da Bionovis, que produzirá nove biossimilares. A empresa teve 20 anos para explorar o mercado. Agora, acompanha o surgimento dos biossimilares com cautela. ?É preciso ficar atento em relação à segurança desses remédios. Não se pode pular etapas na sua produção?, disse à ISTOÉ Thomas Schreitmueller, gerente de pesquisa e controle de qualidade de produtos biotecnológicos do laboratório.
Feitas as contas, estima-se que o impacto na redução final nos preços dos biológicos será de 25%, margem bem menor que os quase 80% de diminuição a que chegaram os preços dos genéricos. De toda forma, trata-se de uma redução que, espera-se, beneficiará pacientes como Tatiana Margarida dos Santos, 33 anos, de Curitiba ? desde que as cópias apresentem igual eficácia dos de referência, é claro. Ela tem psoríase (doença crônica inflamatória da pele) e usa o etanercepte. Conseguiu acesso a droga após enfrentar muita burocracia. ?Tinha usado porque fiz parte de um estudo clínico. Porém a pesquisa acabou e havia ficado sem o remédio?, lembra.
Foto: Thiago Bernardes/Frame; Rodrigo Castro; Adriano Machado/Ag. Istoé

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Justiça estabelece prazo para que Anvisa autorize importações de equipamentos médicos

Decisão foi tomada após associação que representa indústrias de produtos de saúde ter processado a agência por lentidão nesse processo

O Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia
Equipamento médico: Associação processa Anvisa por lentidão para autorizar importação de produtos de saúde (Ivan Pacheco)
"A falta de recursos técnicos e humanos da Anvisa gerou um imobilismo que impede o acesso de pacientes a tratamentos mais modernos e cria uma barreira a novos investimentos." Carlos Goulart, presidente-executivo da Abimed
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) agora tem seis meses no máximo para realizar inspeções em fábricas de equipamentos de saúde no exterior após o pedido de autorização de importação ser feito pelas empresas do setor. A inspeção é um requisito necessário para que os equipamentos possam ser usados no Brasil. A decisão foi tomada pela justiça após a Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Equipamentos, Produtos e Suprimentos Médico-Hospitalares (Abimed), entidade que representa 128 empresas do setor, ter processado a Anvisa por demora na aprovação de produtos de saúde como equipamentos para diagnóstico, próteses e stents, por exemplo.
De acordo com a Abimed, atualmente há cerca de 1.200 inspeções pendentes na Anvisa. Grande parte desses pedidos, afirma a entidade, está na fila desde 2009, ano em que a agência estabeleceu a regra de que produtos de saúde importados só poderiam ser autorizados se a fábrica responsável pela sua produção fosse inspecionada pela Anvisa. Ainda segundo informou a Abimed, a Anvisa realiza aproximadamente 200 inspeções por ano.
"As empresas concordam com a inspeção internacional e estão preparadas para as vistorias. Mas a falta de recursos técnicos e humanos da Anvisa gerou um imobilismo que impede o acesso de pacientes a tratamentos mais modernos e cria uma barreira a novos investimentos", afirmou Carlos Goulart, presidente-executivo da Abimed, em comunicado emitido no mês de outubro. Segundo a entidade, entre os produtos que aguardam a inspeção estão mamógrafos que emitem menor dose de radiação e equipamentos mais precisos para tratamento do câncer.
Prazo — A decisão que favoreceu a ação da Abimed foi tomada no dia 8 de novembro pelo juiz Hamilton de Sá Dantas, da 21ª Vara da Justiça Federal em Brasília. Ele determinou que, caso a Anvisa não realize a inspeção até seis meses após o pedido de vistoria pelas empresas, ela deve aceitar os certificados feitos por outras agências internacionais, como a Food and Drug Administration (FDA), dos Estados Unidos. Além disso, de acordo com a decisão, a Anvisa deve imediatamente conceder os certificados aos produtos que atualmente aguardam na fila. O juiz também garantiu à agência o direito de negar a autorização de algum produto caso identifique alguma irregularidade durante a inspeção.
Segundo informou ao site de VEJA, a Anvisa vai recorrer da decisão do juiz.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Visão positiva da velhice melhora a saúde de idosos

Pessoas que encaram melhor a terceira idade têm menos problemas com realizar tarefas do cotidiano, como tomar banho ou vestir-se, diz estudo

Terceira idade: Visão positiva da velhice torna idosos mais saudáveis e independentes, diz estudo
Terceira idade: Visão positiva da velhice torna idosos mais saudáveis e independentes, diz estudo (Thinkstock)
Encarar a velhice de forma positiva pode ser uma maneira eficaz de melhorar a saúde. De acordo com uma pesquisa publicada nesta quarta-feira no periódico The Journal of The American Association (JAMA), essa atitude eleva as chances de um idoso readquirir a capacidade de realizar sozinho atividades do cotidiano, como tomar banho ou andar, e também retarda a perda dessa habilidade, problema que ocorre normalmente com o envelhecimento.

CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Association Between Positive Age Stereotypes and Recovery From Disability in Older Persons

Onde foi divulgada: periódico The Journal of The American Association (JAMA)

Quem fez: Becca Levy, Martin Slade, Terrence Murphy e Thomas Gill

Instituição: Universidade Yale, Estados Unidos

Dados de amostragem: 598 pessoas com mais de 70 anos de idade

Resultado: Idosos que têm opiniões mais positivas sobre a velhice se recuperam mais facilmente da incapacidade de realizar tarefas do cotidiano. Eles também perdem essa capacidade de forma mais lenta do que idosos que são pessimistas em relação à velhice.
O estudo, feito na Universidade Yale, nos Estados Unidos, acompanhou 598 pessoas com mais de 70 anos ao longo de 11 anos. Quando a pesquisa começou, nenhum participante tinha dificuldade em realizar tarefas do cotidiano. No entanto, durante o período em que o estudo foi realizado, todos eles apresentaram, em algum momento, incapacidade em relação a essas tarefas.
Durante os anos do estudo, os pesquisadores avaliaram a saúde dos participantes e também a visão de cada um em relação à terceira idade. Para isso, a equipe pedia que esses indivíduos falassem a primeira frase ou as primeiras cinco palavras que lhes viessem à mente quando pensavam em velhice. As incapacidades levadas em conta no estudo foram aquelas que impediam que os idosos realizassem, sozinhos, tarefas do dia-a-dia, como tomar banho, vestir-se e andar.
De acordo com os pesquisadores, os idosos com o ponto de visa mais otimista em relação à velhice apresentaram até 44% mais chances de se recuperar completamente de alguma incapacidade do que os participantes mais pessimistas em relação à terceira idade. Ou seja, eles conseguiram voltar a realizar atividades cotidianas sem a de ajuda de alguém. Essas pessoas também foram mais capazes de atenuar a gravidade da incapacidade e, além disso, apresentaram um declínio mais lento dessas habilidades.
A pesquisa mostra, segundo os pesquisadores, que o ponto de vista de uma pessoa em relação à velhice pode fazer com que ela seja um idoso mais independente e saudável. Eles acreditam que os próximos estudos devam buscar formas de promover o otimismo entre pessoas que estão entrando na terceira idade.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Estudo mostra relação entre Alzheimer e vitamina D

Pacientes com a doença apresentam níveis mais baixos da vitamina no organismo, apesar de a consumirem na alimentação

Alzheimer
Alzheimer: a doença atinge 7% da população brasileira acima de 65 anos, aproximadamente 1 milhão de pessoas (Thinkstock)
Pesquisadores da Universidade de Kingston, em Londres, encontraram evidências de que pessoas com a doença de Alzheimer apresentam níveis menores de vitamina D armazenada no organismo, se comparadas a pessoas saudáveis ou pacientes que utilizam medicação para o tratamento dos sintomas cognitivos da doença. O artigo foi publicado na edição de novembro do periódico Current Alzheimer Research.

CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Low 25OH vitamin D2 levels found in untreated Alzheimer's patients, compared to acetylcholinesterase-inhibitor treated and controls

Onde foi divulgada: periódico Current Alzheimer Research

Quem fez: Shah I, Petroczi A, Tabet N, Klugman A, Isaac M e Naughton DP

Instituição: Universidade de Kingston, em Londres

Dados de amostragem: 105 pessoas, sendo 70 pacientes com Alzheimer e 35 do grupo de controle

Resultado: Pacientes que não faziam tratamento com remédios apresentavam níveis baixos de vitamina D2 armazenada (25OHD2), apesar de apresentaram a vitamina em sua forma presente em alimentos.
Durante seis meses, os pesquisadores analisaram amostras de sangue de 105 pessoas, divididas em três grupos: pacientes de Alzheimer tratados com acetilcolinesterase (que ameniza os sintomas cognitivos causados pela doença), pacientes que não usavam remédios e um grupo de controle composto por pessoas que não apresentavam a doença.
Os pacientes que não utilizavam a medicação tinham baixos níveis de vitamina D2 armazenada no organismo, enquanto as pessoas dos demais grupos apresentam níveis normais. Para os autores do estudo, os inibidores de aceltilcolinesterase podem contribuir para a absorção de vitamina D2 pelo organismo, o que explicaria porque as pessoas que não ingerem o medicamento teriam os níveis mais baixos da vitamina armazenados.
Armazenamento - Existem dois tipos de vitamina D. A D2 é obtida por meio de alimentos, principalmente peixes e derivados do leite. Já a D3 é produzida pelo organismo em contato com a radiação solar. A vitamina D2, após ser processada pelo organismo, é armazenada. Após esse processo, ela é denominada 25OHD2.
No caso desse estudo, os pacientes que não estavam se tratando tinha níveis baixos de 25OHD2, apesar de terem níveis mais altos de vitamina D2 em sua “forma bruta”, ou seja, a forma encontrada nos alimentos, do que os demais participantes da pesquisa. Para observar esses resultados, os pesquisadores desenvolveram um exame de sangue capaz de mostrar as quantidades das diversas variações de vitamina D no organismo.
Perspectivas - De acordo com Declan Naughton, coordenador do estudo, o próximo passo da pesquisa é descobrir a razão para esse baixo nível de vitamina D2 em sua forma armazenada. "Por se tratar de um estudo observacional, nós mostramos que pacientes de Alzheimer apresentam níveis muito baixos de vitamina D2 armazenada, mas ainda não sabemos se o Alzheimer influencia a vitamina ou o contrário", afima Naughton. Para ele, são necessários mais estudos nessa área, mas as descobertas atuais podem abrir um caminho para intervenções médicas que corrijam os níveis de vitamina D nos pacientes.
Ivan Okamoto, neurologista do Hospital Albert Einstein, explica que ainda não existem muitos estudos sobre a relação entre a vitamina D e o Alzheimer , mas ela tem sido muito utilizada por geriatras, que recomendam suplementações para pacientes que apresentam baixos níveis da substância. Para ele, apesar de ainda ser cedo para saber aonde a relação entre a vitamina D e o Alzheimer vai levar, pequenas descobertas podem causar uma grande repercussão no futuro. "Antigamente não se falava sobre algumas proteínas que existem no cérebro e que hoje são as principais causadoras de alterações identificáveis na doença", afirma.
A vitamina D está relacionada com a formação de ossos e dentes, além da proteção contra doenças cardiovasculares e neurológicas. "A maioria das pessoas associa a vitamina D com a exposição ao sol. A ideia de que a falta da forma armazenada [da vitamina] originada de alimentos como óleos de peixe pode estar relacionada ao desenvolvimento e progressão do Alzheimer certamente deve ser mais pesquisada", afirma Naughton.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, aproximadamente 1,2 milhão de pessoas vivem com Alzheimer no Brasil.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

CE registra 1.990 casos de câncer

Somente neste ano, o Estado do Ceará deve registrar 1.990 casos de câncer no aparelho digestivo, o que representa 3,28% dos números nacionais, que somaram 60.650. Em Fortaleza, serão 660 novas incidências, o que representa 3,37% dos casos, comparados com as demais capitais, que, juntas, contabilizam 17.220 diagnósticos.


Em Fortaleza, serão 660 novas incidências, o que representa 3,37% dos casos, comparados com outras capitais, que juntas somam 17.220 FOTO: KID JÚNIOR
Os dados, apresentados pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), serão debatidos durante a XI Semana Brasileira do Aparelho Digestivo, que vai acontecer em Fortaleza, entre os dias 24 e 28 de novembro, no Centro de Eventos Ceará (CEC). A iniciativa deverá reunir cerca de cinco mil pessoas para discutir temas ligados ao câncer.

A preocupação dos especialistas em relação aos números refere-se à necessidade de diagnóstico precoce, que pode evitar muitas mortes que, hoje, são causadas pela doença. "O quadro é preocupante, tendo em vista que o diagnóstico precoce pode levar à cura desses cânceres", revela Sérgio Bizinelli, presidente da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (Sobed), uma das organizadoras do evento.

Os cânceres do aparelho digestivo incluem neoplasias no cólon e reto, estômago e esôfago. "É possível detectar as doenças de maneira precoce, por meio da endoscopia baixa ou colonoscopia, um exame rápido e indolor que gera grande possibilidade de cura. Se existissem programas no SUS para incentivo do exame, menos pessoas morreriam por causa dessa enfermidade", acrescenta o médico, lembrando que o País precisa investir em campanhas de prevenção dos cânceres que afetam o aparelho digestivo.

SAIBA MAIS

Estimativa de novos cânceres
Cólon e Reto
Ceará 590
Fortaleza 290

Estômago
Ceará 1.050
Fortaleza 280

Esôfago
Ceará 350
Fortaleza 90

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Arritmia cardíaca e morte súbita: Check-up é importante ferramenta de prevenção

Rio -  A semana do dia 12 de novembro é o período de prevenção da arritmia cardíaca e da morte súbita. A arritmia cardíaca mais prevalente é a fibrilação atrial, que acomete cerca de 5% da população adulta.
Fazer check-up regularmente é uma eficiente  arma de cuidado com a saúde | Foto: Reprodução Internet
Foto: Reprodução Internet “É importante lembrar que as arritmias podem ocorrer em qualquer pessoa, inclusive em recém-nascidos. Mas a maioria acontece em pessoas que têm doenças cardíacas ou já sofreram parada cardíaca. Todos devem realizar regularmente exames de check-up para detectar precocemente sua ocorrência ou seus fatores de risco a fim de prevenir problemas cardíacos”, explica o cardiologista Abel Magalhães, do Vita Check-Up Center.
A arritmia cardíaca pode levar uma pessoa a ter morte súbita. Mas antes que isso aconteça, é crucial estar atento aos sintomas. “Há diversos tipos de arritmias cardíacas – alterações elétricas que ocasionam problemas no ritmo das batidas do coração e que podem levar à morte súbita – como a taquicardia (em que o coração bate rápido), a bradicardia (em que o coração bate devagar) e casos em que o coração bate com irregularidade”, esclarece Abel.
“Cansaço, palpitações (“batedeiras”) ou tonturas são os principais sintomas. É fundamental ter atenção aos principais sintomas e ainda ao histórico familiar (hereditariedade) de morte súbita. As arritmias podem ser assintomáticas, atacando pessoas saudáveis ou pacientes que já tiveram problemas cardíacos. Um bom exemplo é o infarto agudo do miocárdio e outro é o "coração inchado" - caso dos portadores de Doença de Chagas”, complementa o especialista.
Fazer check-up regularmente é uma eficiente arma de cuidado com a saúde. “O check-up ajuda a prevenir as arritmias cardíacas quando são realizados determinados exames complementares como o ecocardiograma e o teste ergométrico, por exemplo, e a avaliação médica (análise do histórico com exame físico detalhado), que ajuda no diagnóstico. Dependendo do caso, são necessários exames adicionais e/ou tratamento específicos”, orienta o cardiologista.
O médico reforça ainda que é importante adquirir hábitos preventivos para minimizar as eventuais arritmias. “Inclua o check-up (anual) na sua rotina, evite sempre a automedicação, pare de fumar, controle os níveis de colesterol, diminua a ingestão de sódio, evite o estresse mental, meça e controle os níveis de pressão arterial (hipertensão), pratique atividade física aeróbica regularmente, dose e controle o nível de glicose e o de colesterol no sangue, controle o excesso de peso (sobrepeso/obesidade)”, diz o especialista. 

domingo, 18 de novembro de 2012

OMS: 75% das mortes de bebês prematuros são evitáveis

Segundo órgão, 750.000 óbitos de bebês que nascem antes da 37ª semana de gestação poderiam ser prevenidos com medidas de baixo ou nenhum custo

Bebês que nasceram prematuros têm mais chances de ter diagnóstico de autismo
OMS: No mundo, 15 milhões de bebês nascem de forma prematura todos os anos (ThinkStock)
Anualmente, um milhão de bebês prematuros — ou seja, antes da 37ª semana de gestação — morrem em todo o mundo. Desses óbitos, ao menos 750.000 poderiam ser evitados com intervenções simples e de baixo (ou nenhum) custo, informou nesta sexta-feira a Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo o órgão, são medidas como injeções de esteroides nas gestantes e o incentivo do contato pele a pele entre mãe e criança, hábito que mantém o bebê aquecido e facilita a amamentação. Esses dados foram divulgados pelo órgão por ocasião do Dia Mundial da Prematuridade, que acontece neste sábado.

Os dez países com maior número de bebês prematuros*


  1. Índia – 3.519.100
  1. China – 1.172.300
  2. Nigéria – 773.600
  3. Paquistão – 748.100
  4. Indonésia – 675.700
  5. Estados Unidos – 517.400
  6. Bangladesh – 424.100
  7. Filipinas – 348.900
  8. República Democrática do Congo – 341.400
  9. Brasil – 279.300
  10. *nascidos em 2010
O nascimento prematuro é a principal causa da morte de bebês em suas quatro primeiras semanas de vida e a segunda causa de morte, depois da pneumonia, em crianças com menos de cinco anos. De acordo com Elizabeth Mason, diretora do Departamento de Saúde Materna, de Recém-nascidos, de Crianças e de Adolescentes da OMS, um nascimento prematuro também por levar a criança a sofrer de "deficiências físicas, neurológicas ou educacionais durante a vida."
Uma em cada dez crianças nasce antes das 37 semanas de gestação. São 15 milhões de nascimentos prematuros todos os anos no mundo, dentre os quais mais de 60% acontecem na África e no Sul da Ásia e apenas 9% ocorrem nos países mais ricos, segundo a OMS. Apesar disso, o Brasil e os Estados Unidos estão entre os dez países com mais  casos de partos prematuros no mundo, em números absolutos
Intervenções de baixo custo — Em nota divulgada no site oficial, a OMS listou três intervenções de baixo custo que não são frequentemente aplicadas, mas são capazes de garantir a saúde do bebê prematuro. A primeira delas são as injeções de esteroides que, quando dadas às gestantes durante o trabalho de parto prematuro, ajudam a acelerar o desenvolvimento dos pulmões dos bebês e evitar que eles sofram de insuficiência respiratória ao nascer. De acordo com o órgão, cada injeção custa um dólar nos Estados Unidos.
Outra intervenção citada pela OMS é a técnica que permite que a mãe carregue o seu bebê junto a seu peito, com o contato pele a pele, a fim de manter a criança aquecida e facilitar a amamentação. "Manter bebês prematuros aquecidos é especialmente importante porque os seus corpos, pequenos, perdem calor rapidamente, tornando-os altamente vulneráveis a infecções, doenças e morte", informou o órgão. A terceira medida é o uso de antibióticos básicos para tratar infecções no bebê, como a amoxicilina para pneumonia, por exemplo

sábado, 17 de novembro de 2012

Erros que ameaçam o controle da diabetes

Médicos e cientistas descobrem que boa parte dos pacientes aplica a insulina de forma incorreta, o que pode levar a sérias complicações causadas pela doença

Mônica Tarantino
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RODÍZIO
Luana não sabia que a insulina pode ser aplicada
também em braços e pernas. Antes, usava só na barriga
O modo de se autoaplicar insulina tem grande impacto no controle da diabetes - doença que matou 50 mil brasileiros em 2010, quatro vezes mais do que a Aids (12 mil óbitos) e que superou o total de mortes causadas pelo trânsito (42 mil óbitos), conforme dados divulgados na semana passada pelo Ministério da Saúde. A insulina é essencial para levar a glicose (o combustível do organismo) para dentro das células. Uma pesquisa inédita da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) feita com 120 diabéticos revelou as falhas mais comuns no uso do remédio. O levantamento foi patrocinado pela Becton, Dickinson and Company, empresa de tecnologia médica.
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A primeira falha ocorre na retirada da insulina do frasco, com a seringa. “Metade dos adultos e 60% das pessoas abaixo de 18 anos aplicam doses incorretas”, diz Augusto Pimazoni Netto, coordenador do grupo de educação e controle do diabetes do Hospital do Rim e Hipertensão da Unifesp e principal autor do estudo. “Há 20% mais erros com as seringas de 100U”, diz. Cada marca dessas seringas vale duas unidades, enquanto as seringas de 30U e 50U são graduadas com marcas que valem uma unidade.
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Por falta de informação, 10% dos diabéticos aplicam a insulina sempre no mesmo local. Outros 57% fazem o rodízio dos pontos de forma incorreta. Foi o que aconteceu com a analista de mídia Luana Damaceno, 29 anos. Um mês após o diagnóstico, tinha manchas roxas e caroços na barriga. Ela decidiu ir à Associação de Diabetes Juvenil (ADJ). “Quando comecei a usar insulina, não fui orientada para alternar os locais de aplicação. Aprendi que posso aplicar nos braços, pernas e nádegas”, diz. “A orientação é essencial no controle da doença”, define a enfermeira Cláudia Almeida, instrutora da ADJ.
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A ausência desse revezamento causa problemas mais sérios. Um exemplo é a história de uma garota de 6 anos com diabetes que perdia peso e apresentava taxas de glicemia muito altas, apesar das doses elevadas de insulina. Durante uma visita, uma das instrutoras do Programa Sanofi Diabetes – que orienta pacientes – pediu à criança para contar como tomava o remédio. Viu de imediato um endurecimento importante no braço, pois a mãe não fazia o rodízio para aplicação. O erro diminuía a absorção da insulina.  Corrigido o problema, a garota se recuperou. Em suas constantes visitas aos lares de diabéticos, a instrutora Lara Bauerlein, do mesmo projeto, viu erros no armazenamento da insulina. “Depois de aberta, a insulina não precisa ficar na geladeira. Pode ficar em temperatura ambiente de até 30 graus”, garante Lara.
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Outro aspecto revelado pelo estudo da Unifesp é a dificuldade dos pacientes de fazerem as dobras de pele para prevenir que a injeção atinja o tecido intramuscular. O risco é a rápida absorção da insulina, que não age pelo tempo esperado. A pesquisa mostrou ainda que há perda de insulina quando as pessoas retiram rapidamente a agulha da pele depois da aplicação. “Deve-se esperar entre cinco e dez segundos para evitar que isso aconteça”, ensina Pimazoni.
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Fotos: Pedro Dias/ag. istoé; Kelsen Fernandes
Fontes: Augusto Pimazoni Netto, médico do Hospital do Rim e Hipertensão da Universidade Federal de São Paulo; Cláudia Elaine Almeida, enfermeira da Associação de Diabetes Juvenil; Lara Bauerlein, nutricionista do Programa de Instrutoras da Sanofi Diabetes

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Molécula feita a partir de dois hormônios pode ajudar a tratar obesidade e síndrome metabólica

Abordagem foi eficaz em camundongos, que conseguiram perder peso e controlar glicose no sangue após receberem a substância

Dieta
Obesidade: Pesquisadores estudam nova forma de tratar o problema (Hemera Technologies/Thinkstock)
A partir da junção de dois hormônios, cientistas americanos conseguiram produzir uma molécula capaz de tratar, de forma segura, a obesidade e outras complicações metabólicas em camundongos. Os hormônios utilizados na experiência foram o GLP-1, que age no sistema digestivo, e o estrogênio, um hormônio feminino. Segundo os pesquisadores, os resultados, publicados na edição desta semana da revista Nature Medicine, sugerem que a molécula possa, um dia, ajudar a combater os problemas associados à síndrome metabólica.

CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Targeted estrogen delivery reverses the metabolic syndrome

Onde foi divulgada: revista Nature Medicine

Quem fez: Richard DiMarchi e equipe

Instituição: Universidade de Indiana, Estados Unidos

Dados de amostragem: Camundongos de laboratório obesos

Resultado: Uma molécula produzida a partir da junção dos hormônios estrogênio e GLP-1, que age no sistema digestivo, foi capaz de controlar fatores associados à síndrome metabólica em camungongos obesos. Os animais conseguiram perder peso e controlar os níveis de glicose no sangue sem apresentar efeitos colaterais relacionados a doses de estrogênio.
Uma pessoa possui síndrome metabólica se apresenta ao menos três das seguintes características: hipertensão, açúcar elevado no sangue, excesso de gordura abdominal, baixo nível de bom colesterol e índices elevados de ácidos graxos. Todos esses quadros predispõem um indivíduo a doenças cardiovasculares, ao diabetes e, quando as doenças ocorrem associadamente, à morte prematura.
Ambos os hormônios utilizados na pesquisa já haviam sido associados, individualmente, a benefícios ao metabolismo, mas também a efeitos colaterais. Isso porque altos níveis de estrogênio podem ser tóxicos, provocar um aumento excessivo dos tecidos e, consequentemente, elevar o risco de formação de tumores.
O novo estudo, feito na Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, mostrou que, juntos, os hormônios não só são mais eficazes para tratar o excesso de peso e as doenças associadas, mas também são mais seguros do que se utilizados sozinhos. E a explicação para isso está no fato de que o GLP-1 inibe os efeitos tóxicos do estrogênio sem afetar os benefícios do hormônio.
Os pesquisadores chegaram a essa conclusão após administrar a molécula em camundongos que tinham obesidade. Depois do procedimento, os animais conseguiram perder peso e administrar os níveis de glicose no sangue sem apresentar efeitos negativos do estrogênio. Em comunicado, os pesquisadores afirmaram que os estudos em torno dessa molécula vão continuar até que fique claro se a abordagem pode funcionar em seres humanos.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

É sol, é sal, é flor de sal

  • Por Jose Orenstein
De Mossoró, RN
Ela já foi descrita como o caviar dos sais marinhos. Num tom mais lírico, como uma neve efêmera. O fato é que a flor de sal é um produto raro, um tanto caro – e, agora, brasileiro. No Rio Grande do Norte, polo que fornece quase todo o sal que se consome no Brasil, já são três as salinas que produzem o cobiçado tempero, que há algum tempo aparece nos cardápios de restaurantes de alto gabarito e nas cozinhas caseiras mais antenadas, mas sempre na versão importada.
A primeira a perceber que ela estava ali, cristalizando debaixo do nariz e do sol de rachar de Mossoró, foi a Cimsal. Em 2008, pôs no mercado a primeira flor de sal brasileira – acrescida de iodo, como manda a lei desde 1974. Agora em outubro, a Norsal, que faz o conhecido e refinado (porque fino mesmo, não porque chique) sal Lebre, também começou a exibir o produto nos supermercados. E, a partir do ano que vem, a Salinor, gigante responsável por 55% do sal do País – não apenas o comestível, mas o que vai para a indústria – também apresenta seus delicados cristais crocantes.
A delicada extração da flor de sal. FOTOS: Filipe Araújo/Estadão
Fazer flor de sal exige cuidado incomum a uma indústria acostumada a abastecer grandes massas. É um processo artesanal, originalmente desenvolvido no sudoeste da França, em Guérande, onde no ano de 945 monges da abadia de Landévennec criaram e registram em ata um sistema de salinas produtivo até hoje.
A água do mar é levada – ou vai sozinha pela maré e pela gravidade – a tanques escavados de não mais de dois metros de profundidade. Vai passando de um tanque para outro, num complexo sistema de canais, ficando cada vez mais concentrada. Em um determinado nível de saturação da água, o sal começa a cristalizar-se e se precipitar no fundo. Esse é o sal marinho comum. Mas num momento do dia ocorre uma primavera. E brota a flor de sal.
Na paisagem de Mossoró, as montanhas de sal.
Com o sol intenso de depois do meio-dia, clima seco e vento constante, uma fina rede cristalina se forma na superfície líquida concentrada. É mais ou menos como assoprar uma xícara de leite quente: forma-se uma nata. No caso da salina, uma renda esbranquiçada e translúcida naturalmente aflora, no contato da água com o ar. As leis da física e da química explicam que a ação da pressão dos gases do ar e do vapor d’água naquele ponto gera as condições para que esse delicado cristal de cloreto de sódio – e alguns outros minerais – se articule. São flocos frágeis, ocos e piramidais interligados.
É a flor de sal, que por ser oca se torna crocante na boca, dando a textura tão apreciada. E por ser mais leve é menos salgada e dissolve-se facilmente. Se bater um vento mais forte ou a noite cair, a flor murcha: submerge feito placa de gelo, unindo-se aos cristais que se formam embaixo, na coluna de líquido, grandes e grosseiros, que decantam.
Não é neve, é duna de sal.
‘Vai ter?’ Nuvens intrusas polvilham o céu na manhã de fim de outubro, na salina Uirapurus, a 22 km de Mossoró. Guilherme Vieira, diretor da Cimsal, desconfia: “Estranho. Está nublado”. E vai ter flor de sal? “Não dá para prever.” No verão potiguar, marcado pela ausência de chuva entre maio e janeiro, nuvens são raras – por isso a desconfiança.
Salina adentro, estradinhas de terra se esgueiram por entre os enormes tanques de água do mar a evaporar. A linha do horizonte só é perturbada por montanhas de sal comum já extraído. No caminho, sair do carro é para bravos: o sol castiga e minimosquitos que vivem da matéria orgânica que se acumula na espuma expulsa da água pelo vento acorrem em enxame para qualquer nesga de pele humana.
O circuito das águas, na salina, termina nos cristalizadores, tanques enormes em que o líquido marinho já foi quase todo evaporado. Como é outubro, época de colheita, escavadoras retiram a placa de sal grosso que cresce desde a estiagem. Ao lado das ruidosas máquinas, distinguem-se dois seres de branco, chapéu de palha na cabeça, haste de madeira na mão, a andar com placidez de um lado para o outro.

Já passa das 13h, e o vento nordeste dissipa as nuvens. É a hora da flor de sal. Se os cristalizadores são como campos de futebol, os minitanques onde se colhe o fino floco da gastronomia são a pequena área. Os seres de branco revelam-se Francisco Marcos e Gidean Pereira. Estão na cara do gol: vagando entre os minitanques de água concentrada de sal e, com uma peneira vão recolhendo a casca de flor de sal que começa a dominar a superfície.
Ao toque da peneira, a placa de flor de sal se quebra. Na mão, ela se desfaz. Francisco e Gidean recolhem um tanto e jogam os cristais num balaio de vime. Quando está cheio, despejam os flocos de flor de sal sobre uma mesa e espalham-nos com a mão. Ali, eles vão secar ao sol. Na França, não se pode fazer isso, pois a seca não é tão certeira e, se chover, perde-se tudo. Lá, o sal vai para uma estufa. Os flocos passam depois pela inspeção de Kátia Veronica e Francisca Iranilde, que retiram as impurezas como quem cata arroz. Elas também salpicam de iodo a flor de sal, que, ainda úmida, é envasada. Primavera pronta para consumo.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Diabetes mata mais que aids e trânsito no Brasil

Cerca de 54 mil brasileiros morreram da doença em 2010

Agência Brasil
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Dados do Ministério da Saúde divulgados  indicam que 54 mil brasileiros morreram em 2010 em decorrência do diabetes. Isso significa que a doença matou quatro vezes mais do que a aids (12 mil óbitos) e superou o total de vítimas de trânsito (42 mil) no país.

A pasta alertou que o total de mortes provocado pelo diabetes é ainda maior quando se considera que a doença age como fator de risco para outras enfermidades, como câncer e doenças cardiovasculares. Em 2010, o diabetes esteve associado a 68,5 mil mortes, o que totaliza cerca de 123 mil mortes direta e indiretamente.

De 2000 a 2010, a doença foi responsável por mais de 470 mil mortes em todo o Brasil, enquanto a taxa de mortalidade avançou de 20,8 para 28,8 casos para cada 100 mil habitantes.

As mulheres são as principais vítimas e responderam, em 2010, por 30,8 mil mortes contra 24 mil entre os homens. Em 2000, 20 mil mulheres morreram por causa do diabetes, ante 14 mil homens.

A faixa etária com o maior número de mortes, em 2010, é acima dos 80 anos, totalizando 15,7 mil. O número mais que dobrou quando comparado ao ano 2000, quando 6,7 mil mortes foram notificadas na mesma faixa etária.

Para o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, o diabetes constitui um problema contemporâneo. Ele lembrou que, atualmente, 15% da população brasileira são obesos e que o quadro é um facilitador para a doença.

“Esta é a hora de revertermos a possibilidade do nosso país ser cada vez mais um país de diabéticos”, disse, ao citar mudanças como melhoria dos hábitos alimentares e aumento da atividade física. “É um momento fundamental para que o conjunto da população brasileira, sobretudo os profissionais de saúde, tenham atitudes em relação à prevenção”, completou.

No ano passado, o governo federal lançou o Plano de Ações para o Enfrentamento de Doenças Crônicas Não Transmissíveis, que inclui medidas para a redução de casos e de mortes por diabetes.

A meta é alcançar queda de 2% ao ano nas mortes prematuras provocadas por doenças crônicas, a partir da melhoria de indicadores relacionados ao consumo de álcool, alimentação inadequada, sedentarismo e obesidade, fatores considerados de risco para o diabetes.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Isolamento social pode levar à produção de menos mielina, mostra estudo

Com os resultados obtidos, os pesquisadores acreditam que a pesquisa pode ajudar no tratamento de pacientes com esclerose múltipla

mielina sistema nervoso axônios
A mielina (em amarelo) ajuda na transmissão de impulsos nervosos. (iStockphoto)
Isolamento social por longos períodos pode levar a uma menor produção de mielina no cérebro de adultos, revela uma pesquisa publicada neste domingo na revista Nature Neuroscience. A bainha de mielina é uma espécie de camada que envolve as fibras nervosas com a função de acelerar os impulsos nervosos. Dessa forma, uma disfunção na produção de mielina faz com que os impulsos não sejam transmitidos de forma adequada e debilita as funções neurológicas.

CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Impaired adult myelination in the prefrontal cortex of socially isolated mice

Onde foi divulgada: revista Nature Neuroscience

Quem fez: Jia Liu, Karen Dietz, Jacqueline M DeLoyht, Xiomara Pedre, Dipti Kelkar, Jasbir Kaur, Vincent Vialou, Mary Kay Lobo, David M Dietz, Eric J Nestler, Jeffrey Dupree & Patrizia Casaccia

Instituição: Universidade de Buffalo e da Mount Sinai School of Medicine

Resultado: Os pesquisadores isolaram camundongos por oito dias e depois mediram a atividade cerebral nos animais. Eles constataram que os roedores passaram a produzir menos mielina no córtex pré-frontal.
Cientistas da Universidade de Buffalo e da Mount Sinai School of Medicine, ambas nos Estados Unidos, isolaram por oito semanas camundongos, considerados animais altamente sociáveis, induzindo-os a um estado depressivo. Quando comparados a animais que continuaram em grupos, exames nos tecidos nervosos revelaram que os roedores antissociais passaram a produzir menos mielina na região do cérebro conhecida como córtex pré-frontal – responsável pelo comportamento emotivo e cognitivo.
 
Espera-se que um efeito semelhante ocorra no cérebro humano, mas para confirmá-lo novas pesquisas serão necessárias. 
 
De acordo com os pesquisadores, os resultados são importantes porque ajudam a compreender a plasticidade cerebral em adultos. Já se conhecia que pouca interação social entre recém-nascidos e crianças podia levar a um desenvolvimento insuficiente de mielina, "mas não se sabe ao certo como essa forma de plasticidade afeta o cérebro de adultos", escrevem os autores.
 
Para a doutora Patrizia Casaccia, da Mount Sinai School of Medicine e uma das autoras do artigo, a pesquisa pode no futuro ajudar no tratamento de doenças graves relacionadas à falta de mielina no cérebro. "Em um paciente com esclerose múltipla, uma doença que tende a levar ao isolamento social, a mielina danificada precisa ser reparada. Portanto, a formação de nova mielina é muito importante", afirmou a pesquisadora ao site de VEJA. "Se o paciente for socialmente ativo e busque ver amigos com frequência, levando adiante uma vida cheia de coisas interessantes, então a mielina poderá ser formada e ajudar a reparar a camada danificada."
 
Outra autora da pesquisa, Karen Dietz, da Universidade de Buffalo, disse que os resultados "abrem uma nova avenida de investigação para entender como os distúrbios de mielina e humor se relacionam." 
 
Após serem reinseridos em comunidades de camundongos, a produção de mielina nos roedores voltou aos níveis normais, o que sugere que os efeitos negativos do isolamento social podem ser revertidos.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

EUA aprovam novo remédio para artrite reumatoide

O Xeljanz, da Pfizer, deve ser usado por quem não teve resposta adequada ao uso do metotrexato. No entanto, seu uso foi associado com um aumento no risco de contrair infecções, tuberculose e até cânceres e linfomas

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A artrite reumatoide causa inflamações nas juntas do corpo, levando a deformações se não tratada a tempo (Thinkstock)
O Food and Drug Administration (FDA), agência que regula os medicamentos nos Estados Unidos, aprovou nesta semana o citrato de tofacitinibe para tratar adultos com artrite reumatoide moderada ou severa que não obtiveram resposta ao tratamento com metotrexato — a droga mais usada contra a doença. O medicamento tem nome comercial de Xeljanz, e será lançado pela Pfizer. A droga ainda não foi aprovada no Brasil.
A artrite reumatoide é uma doença autoimune em que o sistema imunológico do corpo ataca tecidos saudáveis levando a inflamações nas juntas. No Brasil, atinge cerca de 2 milhões de pessoas. O tofacitinibe atua ao bloquear a ação de uma proteína conhecida como janus quinase, que tem função importante no desencadeamento das inflamações.
A segurança e eficácia do remédio foram avaliadas em sete estudos clínicos realizados em pacientes com artrite reumatoide moderada a severa. Em todas as pesquisas, os voluntários tratados com o tofacitinib apresentaram melhoras no estado de saúde em relação àqueles que receberam placebos. O uso do remédio, no entanto, foi associado com um aumento no risco de contrair infecções, tuberculose e até cânceres e linfomas. Além disso, seu uso também esteve associado a um aumento do colesterol.

Opinião da especialista

Licia Maria Henrique da Mota Coordenadora da Comissão de Artrite Reumatoide da Sociedade Brasileira de Reumatologia

"Pelo menos 1% da população é acometida pela artrite reumatoide. Ela é uma doença multifatorial, com aspectos genéticos e ambientais, como infecções e o cigarro. Nela, o sistema imunológico ataca o organismo, principalmente as articulações do corpo. As partes mais atacadas são mãos, punhos e pés. Muitas vezes, o paciente só procura o médico quando a doença já está avançada. Isso é perigoso, pois ela costuma ser altamente incapacitante, levando à destruição das articulações, causando deformidades e podendo resultar em incapacidade laboral. O pico de incidência da doença é entre os 35 e 55 anos, justamente na fase em que o indivíduo está trabalhando."
"O metotrexato é a droga de escolha para o tratamento inicial da doença. De 30% a 50% dos pacientes respondem a esse tratamento. Se a resposta não for suficiente, o médico pode indicar a troca ou associação com outras medicações. Existe um fluxograma que mostra quando e em que circunstâncias as outras drogas devem entrar no tratamento. O tofacitinibe vai ser mais um a entrar nessa lista."
"O fato de a droga ter sido aprovada pelo FDA significa que está dentro da margem de segurança aceitável, apesar de ter mostrado sérios efeitos colaterais. É importante destacar que a Anvisa ainda não aprovou seu uso, então ele não pode ser precrito aqui no Brasil."