quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

China tem mais curados que contagiados por vírus pela 1ª vez

China tem mais curados que contagiados por vírus pela 1ª vez
Epidemia do novo coronavírus já supera número de mortos da Sars - AFP/Arquivos
Pela primeira vez desde o início da epidemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2), o número de pacientes curados na China superou a cifra de novos casos confirmados em um único dia.
Segundo balanço divulgado nesta quarta-feira (19) pela Comissão Sanitária Nacional (NHC), 1.824 pessoas receberam alta de hospitais chineses na última terça (18), ao mesmo tempo em que as autoridades confirmaram 1.749 novos contágios.
A quantidade de casos fora da província de Hubei, epicentro da epidemia, caiu pelo 15º dia seguido e chegou a 56 na terça. Já em Hubei, foram confirmados 1.693 novos pacientes, número diário mais baixo desde 11 de fevereiro e pelo segundo dia seguido abaixo de 2 mil.
Até o momento, o Sars-CoV-2 já atingiu 74,2 mil pessoas e matou 2.006 na China continental. Hong Kong registrou duas vítimas, enquanto Taiwan, Japão, Filipinas e França tiveram uma cada, totalizando 2.012 mortos na epidemia.
Em todo o mundo, o novo coronavírus contaminou cerca de 75,3 mil indivíduos, sendo 621 no navio de cruzeiro Diamond Princess, que está bloqueado há duas semanas na costa do Japão.
Após o fim dos 14 dias de quarentena, os passageiros que testaram negativo para o Sars-CoV-2 e não manifestaram sintomas começaram a desembarcar nesta quarta-feira, em um procedimento que deve terminar apenas na próxima sexta (21).
A Itália, que tem 35 cidadãos no Diamond Princess (a maioria tripulantes), mandou uma equipe médica para avaliar suas condições de saúde e deve enviar um avião para repatriação ainda na noite desta quarta.
A aeronave evacuará cerca de 30 italianos – alguns tripulantes preferiram ficar no navio – e 27 cidadãos europeus. O grupo ainda passará por um período de quarentena em seu retorno a Roma, e um italiano que já testou positivo para o novo coronavírus será repatriado em um segundo momento. (ANSA)

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

China isenta equipamentos médicos americanos de impostos para combater o coronavírs

China isenta equipamentos médicos americanos de impostos para combater o coronavírs
Um membro da equipe médica (e) que verifica a temperatura corporal de um paciente que apresentou sintomas leves do coronavírus COVID-19, em um centro de exposições convertido em um hospital em Wuhan, na província central de Hubei, na China - AFP
A China anunciou nesta terça-feira (18) que isentará de tarifas alfandegárias, adotadas dentro da guerra comercial com os Estados Unidos, alguns equipamentos médicos americanos importados, com o objetivo de lutar contra a epidemia de pneumonia viral.
Os equipamentos utilizados para as transfusões a pacientes ou para medir a pressão arterial ficarão isentos de tarifas a partir de 2 de março, segundo uma lista publicada pela Comissão de Tarifas do governo.
Na longa lista de produtos também estão alguns cortes de carne bovina e suína congelados, soja, produtos derivados do petróleo e gás natural liquefeito.
Alguns cereais (trigo, sorgo) e determinados tipos de materiais também estão incluídos na isenção das tarifas punitivas adotadas pela China durante o conflito comercial com os Estados Unidos.
A isenção, no entanto, não será automática: as empresas importadoras chinesas devem apresentar uma solicitação específica para serem beneficiadas pela medida.
O objetivo consiste em “atender melhor a crescente demanda dos consumidores chineses”, afirmou a comissão em um comunicado, sem mencionar o novo coronavírus.
A decisão coincide com a escassez de equipamentos médicos registrada nos hospitais chineses, sobrecarregados pela epidemia de pneumonia viral, que provocou quase 1.900 mortos e infectou 72.000 pessoas.
Ao mesmo tempo, as medidas de quarentena e as restrições drásticas aos deslocamentos de pessoas afetam consideravelmente a produção e transporte de produtos agrícolas.
Isto provocou um forte aumento de 20,6% nos preços dos alimentos em janeiro de 2020 na comparação com o início de 2019.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Volta à tradição

Estudo mostra que a antiga cirurgia aberta para tratamento de câncer do colo do útero é mais eficaz do que a moderna videolaparoscopia e tem menor risco

Crédito: Divulgação
“A medicina tenta melhorar suas práticas para que a paciente tenha boa recuperação e maior sobrevida” Mariano Tamura, ginecologista do Hospital Albert Einstein (Crédito: Divulgação)
Um estudo publicado recentemente pela revista científica New England Journal of Medicine chacoalhou a comunidade médica mundial e trouxe à tona discussões sobre qual o melhor método de cirurgia nos casos de câncer do colo do útero, um dos que mais atinge mulheres. Ao longo de dez anos, 33 centros médicos espalhados pelo mundo trabalharam intensamente avaliando quase 700 pacientes para saber qual era a melhor técnica de operação e chegaram à conclusão de que a mais antiga, a aberta, ainda era a melhor porque garantia êxito de 93% contra a recidiva da doença comparado aos 85% de efetividade da moderna videolaparoscopia.
O choque foi grande entre os médicos, que viam na cirurgia por aparelhos, menos invasiva, um grande avanço para pacientes. Afinal, a recuperação era mais rápida sem um grande corte na barriga. Por isso, a técnica evoluiu para outras intervenções abdominais desde a década de 90. Mas, no caso do câncer de útero, não foi o que o se viu na prática, conforme detectou o estudo, que contou com a participação da equipe do Hospital Albert Einstein.
Para surpresa geral, o grupo tratado por laparoscopia tinha um risco de 1,6 até 8,5 vezes maior de ter a doença de volta e, portanto, mais chance de morte. Isso porque, diferente da aberta, a manipulação por equipamentos pode elevar as chances de contato das células cancerígenas e contaminação abdominal.
Busca de resultado
Segundo o ginecologista do Einstein responsável pelo estudo no Brasil, Mariano Tamura, a medicina sempre busca melhorar procedimentos para que o paciente tenha recuperação rápida, menos seqüelas e maior sobrevida. “Em países em desenvolvimento, como o Brasil, onde as pessoas não têm acesso à prevenção, a sobrevida é crucial”, diz.
O câncer de colo de útero afeta mulheres entre 40 a 45, sexual e economicamente ativas, tornando o cenário dramático. Em 99% dos casos há ocorrência de HPV e, geralmente, este câncer é mais agressivo. “Diferente do câncer de mama que atinge mulheres acima de 50, o de colo de útero tem uma etapa pré-maligna, o que ajuda nas chances de sobrevida”, diz ele.
Para o ginecologista do Hospital Sírio Libanês, Alexandre Pupo, o estudo mexeu com o mundo médico porque representa um refluxo da tecnologia. “Nas mudanças, deixamos de fazer coisas importantes, como isolamento da massa tumoral para que não haja contaminação de células cancerosas na cavidade abdominal. Mas medicina é baseada em estudos e comparações para oferecer o melhor aos pacientes e teremos de dar um passo atrás”, diz o especialista em oncologia ginecológica.
Mas para o Sistema Único de Saúde (SUS) pode representar uma economia, uma vez que os equipamentos são caros. “Como a cirurgia aberta requer menos recursos, os profissionais devem usar as técnicas tradicionais”, diz Tamura.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Dez novos casos de coronavírus são confirmados em cruzeiro no Japão

Dez novos casos de coronavírus são confirmados em cruzeiro no Japão
O Japão colocou em quarentena o navio Diamond Princess, com mais de 3.000 pessoas, devido ao temor de casos de coronavírus - JIJI PRESS/AFP/Arquivos
Autoridades sanitárias do Japão informam que foi confirmada a infecção pelo novo coronavírus de mais dez pessoas em um navio de cruzeiro atracado em Yokohama, nas proximidades de Tóquio, elevando para 20 o número total de casos na embarcação.
Cerca de 3.700 passageiros e a tripulação a bordo do Diamond Princess foram postos em quarentena após um homem de Hong Kong ter tido a infecção pelo vírus confirmada, pouco após desembarcar em sua cidade natal.
Autoridades sanitárias vêm testando amostras de 120 pessoas que apresentaram sintomas como febre e tosse, e de mais 153 pessoas que tiveram contato próximo com aquelas que apresentam sintomas. Todos os dez novos casos foram confirmados em passageiros nas faixas dos 50 a 70 anos.
Quatro deles são japoneses. Há ainda dois americanos e dois canadenses, além de um neozelandês e um taiwanês.
As autoridades dizem que todos apresentam sintomas que incluem febre. Eles foram transferidos para instituições médicas na província de Kanagawa.
Os outros passageiros e membros da tripulação terão de permanecer no navio por pelo menos duas semanas enquanto testes são realizados.
*Emissora pública de televisão do Japão

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Mortos por novo coronavírus somam 560; aumentam restrições para conter doença

Mortos por novo coronavírus somam 560; aumentam restrições para conter doença
Ambulâncias e pessoal médico transferem um homem que estava no cruzeiro World Dream do terminal Kai Tak de Hong Kong, em 5 fevereiro de 2020 - AFP
A quarentena e as restrições se intensificaram nesta quarta-feira (5) na China e no resto do mundo para tentar controlar a epidemia de pneumonia viral que já matou ao menos 560 pessoas e se espalhou por vinte países.
As autoridades de Wuhan, epicentro da epidemia, anunciaram 2.987 novos casos, elevando a mais de 27.000 os infectados com o vírus.
Após a quarentena em toda a cidade de Wuhan e na província de Hubei (centro), que afeta 56 milhões de pessoas, um número crescente de cidades do leste da China impõem restrições aos deslocamentos a outras dezenas de milhões de pessoas.
Em Wuhan, as autoridades admitiram uma falta “severa” de leitos, “equipamento e material” e que os médicos estão sobrecarregados.
A OMS pediu nesta quarta 675 milhões de dólares à comunidade internacional e anunciou o envio a 24 países de 500.000 máscaras cirúrgicas e 350.000 pares de luvas, assim como 250.000 kits de detecção do vírus para mais de 70 laboratórios de todo o mundo.
A fundação Bill e Melinda Gates se comprometeu nesta quarta-feira a investir 100 milhões de dólares na luta contra o novo coronavírus, dos quais US$ 60 milhões serão consagrados à busca de uma vacina, tratamentos e utensílios de diagnóstico.
– Aumenta o balanço de vítimas –
Ao menos 560 pessoas morreram pelo vírus 2019-nCoV na China continental (sem contar Hong Kong e Macau), a maioria em Hubei, segundo o mais recente balanço oficial.
Mais de 27.000 casos foram confirmados no país, entre eles um bebê de um dia de vida, segundo a imprensa estatal chinesa.
Cerca de 200 casos foram confirmados fora da China continental em cerca de 20 países e territórios autônomos chineses, entre eles Hong Kong, que registrou seu primeiro morto nesta terça-feira.
Nos Estados Unidos foi identificado um novo caso no estado do Wisconsin em um adulto que havia estado em Pequim.
Dois aviões militares da Força Aérea Brasileira (FAB) decolaram para repatriar brasileiros confinados em Wuhan e outros dois aviões americanos repatriaram cidadãos dos Estados Unidos, que vão enviar mais dois aviões na sexta-feira para o mesmo propósito.
No Japão, 3.700 pessoas de dezenas de nacionalidades estão em quarentena por 14 dias em um navio de cruzeiro após se descobrir que dez pessoas tiveram resultado positivo para exames de detecção do vírus. E em Hong Kong, os 1.800 passageiros de outros cruzeiros estavam retidos.
Autoridades de Hong Kong fecharam na prática todas as passagens fronteiriças com o resto do país e imporão a partir de sábado uma quarentena de duas semanas a todos os visitantes provenientes da China.
As companhias aéreas americanas United e American Airlines anunciaram nesta quarta a suspensão dos voos para Hong Kong após terem suspendido os da China continental, e a Indonésia interrompeu os voos com a China, deixando em solo milhares de turistas chineses em Bali.
– Ruas desertas –
Na China, onde as medidas de confinamento se intensificam, várias cidades da província de Zhejiang (leste), a centenas de quilômetros de Wuhan, decretaram novas restrições a deslocamentos.
Em Hangzhou, uma metrópole tecnológica e turística, 150 km a sudoeste de Xangai, que registrou 200 casos, interrupções de ruas impediam a circulação até a sede da gigante do comércio online Alibaba, e a cidade só autoriza a saída de uma pessoa por residência a cada dois dias para se abastecer.
“Por favor, não saiam! Não saiam! Não saiam!”, repetia um alto-falante em Hangzhou, exortando o uso de máscaras, lavar as mãos regularmente e reportar qualquer caso em Hubei, ante o temor de que infecte outras pessoas.
Em Zhumadian, Henan, província fronteiriça com Hubei, apenas uma pessoa por residência pode ir à rua a cada cinco dias e compensações financeiras são prometidas a quem denunciar pessoas procedentes de Hubei.
“Devemos adotar medidas drásticas para combater e eliminar todo tipo de ação perturbadora realizada por forças hostis”, informou nesta quarta o ministério de Segurança Pública.
Diante das fortes críticas por sua gestão da crise, o governo reconheceu “erros”.
Wuhan, cujo sistema de saúde está sobrecarregado, recebeu na terça-feira os primeiros doentes em um novo hospital construído em dez dias e que conta com mil leitos.
Outro hospital deste tipo abrirá as portas em breve, enquanto outros oito edifícios eram adaptados para receber os doentes.
– Airbus paralisada –
Paralisada pelas restrições e praticamente isolada do mundo, a economia chinesa poderia sofrer as consequências durante muito tempo. As férias por ocasião do Ano Novo se estenderam até o próximo fim de semana em várias províncias e as fábricas ficarão fechadas até pelo menos 9 de fevereiro.
A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, assegurou nesta quarta que a propagação do novo coronavírus chinês adiciona uma “nova dose de incerteza” ao crescimento econômico.
A fabricante europeia de aviões, Airbus, anunciou nesta quarta-feira que sua cadeia de montagem do A320 em Tianjin, perto de Pequim, continuará fechada por tempo indeterminado.
Diante do avanço da epidemia, os organizadores dos Jogos Olímpicos de Tóquio, que serão realizados entre 24 de julho e 9 de agosto, disseram estar “extremadamente preocupados”.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

O que se sabe e as incógnitas sobre a epidemia de coronavírus

O que se sabe e as incógnitas sobre a epidemia de coronavírus
Pedestres se protegem com máscaras em Hong Kong - AFP
Taxa de mortalidade, nível de transmissão, momento em que um paciente se torna contagioso, período de incubação: as incógnitas ainda não permitem determinar o impacto global da epidemia causada pelo novo coronavírus que surgiu na China.
– Qual a taxa de mortalidade?
Mais mortal que a gripe, porém menos virulenta do que as epidemias anteriores de coronavírus: este parece ser o perigo do novo coronavírus, batizado de 2019-nCoV, mesmo que sua taxa de mortalidade ainda não tenha sido determinada com precisão.
Até o momento, 361 pacientes morreram em 17.200 casos confirmados na China. A primeira morte fora deste país foi registrada no domingo nas Filipinas, um chinês de 44 anos da cidade de Wuhan, dos 150 pacientes listados em 24 outros países.
“2% dos casos confirmados morreram, o que permanece alto quando comparado à gripe sazonal”, disse Michael Ryan, diretor de programas de emergência da OMS.
Essa taxa é “equivalente a todas as pneumonias virais presentes no hospital. Não é um assassino de perigo extremo”, minimiza Didier Raoult, diretor do IHU Méditerranée Infection em Marselha, embora reconheça que “a verdadeira gravidade dessa infecção respiratória não será conhecida até o final da história”.
Não se sabe quantas pessoas estão realmente infectadas. A taxa de mortalidade indicativa diminui a cada dia, pois, proporcionalmente, o número de novos casos registrados aumenta mais rapidamente do que o número de mortes.
Um estudo publicado na sexta-feira na revista médica The Lancet estima em 76.000 (mais de dez vezes a estimativa oficial) o número de pessoas infectadas em Wuhan, o berço da epidemia, com base em projeções estatísticas.
As duas epidemias mortais anteriores causadas por um coronavírus, Sars (Síndrome Respiratória Aguda Severa) e Mers (Síndrome Respiratória do Oriente Médio), foram muito mais virulentas.
A epidemia de Sars matou 774 pessoas em todo o mundo em 2002-2003, de acordo com a OMS, incluindo 349 na China continental e 299 em Hong Kong dos 8.096 casos, com uma taxa de mortalidade de 9,5%.
Ainda em andamento, a epidemia de Mers fez 858 mortos de 2.494 casos desde setembro de 2012, uma taxa de 34,5% de mortalidade.
A gripe sazonal é muito mais mortal em números absolutos, pois mata entre 290.000 e 650.000 pessoas por ano em todo o mundo, de acordo com a OMS.
Além da periculosidade do vírus, é também sua capacidade de transmissão que determinará a gravidade da epidemia.
“Um vírus relativamente pouco agressivo ainda pode causar grandes danos se muitas pessoas o pegarem”, disse Ryan.
– Qual o nível de contágio?
Um dos parâmetros importantes é o número de pessoas infectadas por pessoa infectada, denominada “taxa básica de reprodução” (ou R0).
Nos últimos dias, diversas estimativas foram feitas por diferentes equipes de pesquisa, variando de 1,4 a 5,5.
A mais recente é de pesquisadores chineses, autores de um estudo publicado na revista médica americana NEJM. Eles estimam que cada paciente infectou uma média de 2,2 pessoas.
É maior que a gripe de inverno (cerca de 1,3), significativamente menor que o sarampo, altamente contagiosa (mais de 12) e comparável à Sars (3).
– Podemos ser contagiosos sem sintomas?
Autoridades chinesas argumentaram que o contágio era possível antes do aparecimento dos sintomas (que é o caso da gripe, mas não o da Sars).
Essa hipótese, que não foi confirmada, poderia complicar o controle da disseminação do vírus, pois dificultaria a localização de pessoas infectadas.
Mas mesmo que essa hipótese seja comprovada, seria necessário “ver o que pesa na dinâmica da epidemia”, ressalta Arnaud Fontanet, do Instituto Pasteur de Paris.
De fato, a tosse de um paciente infectado é um vetor importante para a transmissão do vírus, mas um paciente sem sintomas não tosse.
– A quarentena exclui os riscos?
Além das medidas de contenção na China, que têm como alvo dezenas de milhões de habitantes em torno de Wuhan e Wenzhou, vários países estabeleceram uma quarentena de 14 dias para seus cidadãos repatriados.
Essa duração foi decidida com base no provável período de incubação do novo coronavírus: a OMS estima o tempo entre a infecção e o aparecimento dos primeiros sintomas entre dois e dez dias, enquanto um estudo chinês publicado no NEJM estima em 5,2 dias, em média, com uma grande variação dependendo do paciente.
O fato de a estimativa ser preliminar e “imprecisa” justifica “um período de observação ou quarentena de 14 dias para os expostos”, escrevem os pesquisadores chineses.
Além disso, uma pessoa que não declarou nenhum sintoma e que não foi novamente exposta a um risco de contágio é considerada fora de risco.
– Quais os sintomas?
O quadro clínico da doença respiratória causada pelo novo coronavírus se torna mais claro após a análise dos primeiros 99 casos identificados na China, publicada no The Lancet.
Todos esses pacientes apresentavam pneumonia, a maioria apresentava febre e tosse, e um terço sofria de falta de ar.
A idade média desses pacientes é de 55 anos, dois terços são homens e metade sofrem de doenças crônicas (problemas cardiovasculares, diabetes…). Em 25 de janeiro, 11 desses pacientes morreram, 57 ainda estavam hospitalizados e 31 receberam alta.
Não há vacina ou medicamento para o coronavírus, e o atendimento envolve o tratamento dos sintomas, incluindo febre. Alguns pacientes ainda recebem antivirais, cuja eficácia está sendo avaliada.
– Qual a origem?
A pista de um vírus do morcego, mencionada por pesquisadores desde o início da epidemia, parece se confirmar.
De acordo com um estudo publicado nesta segunda-feira na revista Nature, o genoma do vírus retirado de cinco pacientes seriamente afetados, que trabalhavam no mercado em Wuhan onde os primeiros casos apareceram, é “idêntico a 96%” do de um coronavírus que circula em morcegos.
No entanto, ainda não se sabe qual animal o transmitiu aos seres humanos. Identificar esse hospedeiro intermediário pode ajudar a conter a epidemia.
No caso da Sars, onde o animal em questão foi a civeta, e a proibição do consumo desse mamífero tornou possível “impedir qualquer reintrodução” do vírus, lembra o professor Arnaud Fontanet.
Por outro lado, uma das razões pelas quais a epidemia de Mers continua é o fato de o reservatório do vírus ser o dromedário, um animal doméstico.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Pânico Global

Surto de nova doença respiratória causada pelo coronavírus 2019-nCoV começa na China, se alastra pelo mundo, coloca autoridades sanitárias de prontidão, inclusive no Brasil, e causa forte impacto econômico e social

Pânico Global
MASCARADOS Casal de namorados no metrô de Hong Kong: limites para o amor (Crédito:Divulgação)
A expectativa do surgimento de uma pandemia causada por um vírus poderoso e incontrolável circula em algumas mentes apocalípticas. E, infelizmente, não se trata de preocupação infundada. Mais uma vez surge uma ameaça microscópica capaz de atingir milhões de pessoas e causar mortes em massa.
O surto do novo coronavírus, chamado de 2019-nCoV, que começou num mercado de carnes na cidade de Wuhan, na China, vem causando pânico global, derrubado bolsas de valores em todo o mundo e provocado perdas econômicas expressivas. A curva da epidemia é ascendente e, até quinta-feira 30, 7711 pessoas haviam sido infectadas e 170 morreram. A doença foi detectada em pelo menos 20 países e se espalha rapidamente. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, há nove pessoas suspeitas de terem contraído o vírus. Embora se perceba uma reação rápida e vigorosa das autoridades sanitárias de todos os países, coordenada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o problema é seríssimo e exige reforço das barreiras de controle e aumento da vigilância do transporte internacional de passageiros para evitar que o 2019-nCoV se alastre. Idosos, crianças, gestantes, pessoas com males crônicos como diabetes ou alguma cardiopatia, são especialmente vulneráveis e correm mais risco de serem atingidas de forma severa pela doença.



O Ministério da Saúde declarou situação de risco iminente no Brasil, onde o medo da doença já é sentido e há nove casos suspeitos de infecção pelo coronavírus
A epidemia de coronavírus, que foi comunicada pelo governo chinês à OMS no primeiro dia do ano, pode durar vários meses e sua evolução ainda é imprevisível. Alguns desses vírus que atacam o sistema respiratório são sazonais e, numa perspectiva otimista, pode estar ocorrendo um pico de contágio para depois haver uma pausa, talvez na mudança de estação, o que ainda está distante. Além disso, há certamente muito mais pessoas infectadas do que revelam os números oficiais, principalmente na China, já que os sintomas do contágio pelo coronavírus são comuns a muitas outras moléstias e podem demorar até duas semanas para aparecer. Mais de 100 mil pessoas no mundo estão sob observação neste momento. Para completar, já foi confirmada a transmissão da doença entre humanos, tanto na Ásia como na Europa, e também se comprovou que indivíduos infectados assintomáticos oferecem risco de contágio, o que torna o 2019-nCoV extremamente perigoso.
A OMS, que a princípio classificou o risco do coronavírus como “moderado”, mudou a classificação durante a semana para “alto” e, no território chinês, para “muito alto”. Em uma reunião na quinta-feira 30, a OMS declarou situação de emergência global por causa da doença. O diretor-executivo da organização, Mike Ryan, disse que a decisão foi tomada por causa das “evidências de aumento de casos de transmissão entre humanos fora da China”. “A evolução do surto preocupa e levou os países a agir”, afirmou. ”Agora, o mundo inteiro precisa estar em alerta, preparado para adotar ações de contenção. O momento é crucial. A transmissão ainda pode ser interrompida, mas precisamos nos comprometer a fazer isso”. Segundo Ryan, 20% dos casos notificados até agora são classificados como “severos”. É a sexta vez que a OMS declara emergência global. A última foi em 2016, na epidemia do vírus zika.
DESESPERO Corrida da população aos mercados: doença causa desabastecimento (Crédito:Divulgação)
O medo da doença já pode ser sentido no Brasil, onde o Ministério da Saúde declarou situação de “perigo iminente”. Embora nenhuma caso ainda tenha sido confirmado no País, já se vêem pessoas com máscaras circulando pelo transporte público de grandes cidades e as autoridades sanitárias estão mobilizadas. O Ministério informou, quarta-feira 29, sobre os nove casos suspeitos de infecção que estão sendo investigados em seis estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Ceará. Três possíveis doentes estão em São Paulo. Os hospitais locais se preparam para um surto de coronavírus. “Houve 33 notificações, mas os nove casos que se enquadraram na definição de suspeitos são de pessoas que viajaram para a China. Nenhum foi de pessoa que teve contato com outro suspeito”, disse o diretor do departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis, Júlio Croda, referindo-se à transmissão entre humanos. “Estamos em emergência de saúde pública e não podemos perder a oportunidade de intervenção. A notificação (de suspeita) deve ser imediata e pode ser feita por diversos meios de comunicação”. Croda chamou atenção para o fato dos sintomas dos coronavírus serem confundidos com os de outras doenças, o que dificulta sua identificação. Os principais sintomas do 2019-nCoV, também chamado de “gripe de Wuhan”, são febre alta, dores no corpo, tosse e falta de ar. Nos casos mais leves ela se assemelha a um resfriado, mas, nos mais graves, a doença leva à pneumonia e à insuficiência respiratória aguda, causando óbito. Os pacientes suspeitos de terem contraído a infecção passarão por testes genômicos para identificação do coronavírus. Num primeiro momento, eles terão duas amostras de material genético enviadas para os Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacen). Em seguida, caberá à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) validar o diagnóstico com testes específicos.
Velocidade de contágio
O mais preocupante até agora é a velocidade de contágio do novo coronavírus. De um dia para o outro, têm surgido entre 500 e 1000 novos casos e o número de mortes gira em torno de dez por dia. Os mais de 7700 casos de contágio pelo 2019-nCoV, em menos de um mês, já se aproximam dos 8096 registrados, em 2002, na epidemia da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), também causada por um coronavírus, e superam com folga os 2494 do surto de Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS), ocorrido em 2012. Em contrapartida à velocidade de propagação, a “gripe de Wuhan” revela uma letalidade mais baixa que outras epidemias. Com 170 óbitos, sua taxa de mortalidade vem ficando um pouco acima de 2%. Com a SARS, essa taxa chegou a 9,6% e na MERS, a 34,4%, segundo a OMS.
De um modo geral, se considera que o 2019-nCov é menos letal, mas mais contagioso que seus antecessores, embora seu longo período de incubação ainda não permita conclusões definitivas. Ele é muito mais para perigoso que o H1N1, chamado de gripe suína. “Já se trata de uma pandemia, tendo em vista que atravessou o país de origem, atingiu outros continentes e há transmissão entre humanos”, afirma o médico infectologista Caio Rosenthal. “Ao que tudo indica, pela velocidade de transmissão, é um vírus extremamente contagioso. Por ser novo, ele pega o sistema imunológico desprevenido e não há tempo para produção de anticorpos”. Por outro lado, Rosenthal vê uma vantagem na competição com o coronavírus, que foi seu rápido mapeamento genético. Seu genoma já está totalmente reconhecido pelo cientistas chineses e isso deve facilitar bastante o desenvolvimento de uma vacina. Ele acredita que dentro de dois ou três meses essa vacina começará a ser produzida.
Para a professora da Unifesp e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Nancy Belley, o fato do período de incubação ser longo e pacientes assintomáticos poderem transmitir a doença dificulta a contenção da epidemia. Além disso, houve uma demora de pelo menos duas semanas para que o governo chinês começasse a estabelecer restrições de mobilidade para as pessoas da região mais atingida. O prefeito de Wuhan, que pediu demissão do cargo, chegou a admitir que as autoridades de saúde foram muito lentas na transmissão de informações. “Fica difícil identificar rapidamente e isolar as pessoas doentes e monitorar as outras pessoas com quem elas tiveram contato”, afirma. “O último surto mortal de coronavírus a atingir a China, o do SARS, era contagioso apenas a partir do momento em que os sintomas apareciam”. Ela chama atenção para a possibilidade de vários casos de óbito envolverem pacientes que já sofriam de uma doença prévia, como problemas cardíacos e pulmonares. É o que se chama de comorbidade. Nesses casos, há um risco maior de uma morte súbita. “Se o coronavírus atinge uma população mais vulnerável, as taxas de mortalidade tendem a crescer”, diz Nancy, que também acredita no desenvolvimento relativamente rápido de uma vacina.
SOPÃO Iguaria chinesa, de morcego, pode ter sido a causa do contágio pelo coronavírus (Crédito:Divulgação)
A origem de tudo
Wuhan, capital da província de Hubei, epicentro da nova epidemia, tem 11 milhões de habitantes e é uma cidade cosmopolita, que recebe milhares de cidadãos de outros países para trabalhar em sua pujante indústria. As autoridades chinesas dão como certo que o surgimento da doença aconteceu num mercado local onde se vende carne de centenas de animais, muitos deles selvagens. A hipótese mais plausível é que o vírus mutante tenha vindo de morcegos, como no caso da SARS, mas também se considera a possibilidade dele ser originário de cobras. A transmissão para o ser humano pode ter acontecido pela alimentação ou pelo manuseio do animal e o contato com suas secreções. Os agentes de vigilância sanitária da China fizeram uma inspeção e testaram cerca de 500 espécies disponíveis no mercado, de insetos a mamíferos. Em 30 delas, o vírus foi encontrado. Cerca de 80% do material genético do 2019-nCoV é idêntico ao do coronavírus da SARS. Segundo Leonardo Weissmann, infectologista do hospital Emilio Ribas, em São Paulo, não é novidade que os novos vírus que surgem e ataquem seres humanos venham de mamíferos, répteis e aves. O HIV, por exemplo, veio de macacos e o vírus da gripe espanhola, o Influenza, um verdadeiro carrasco da humanidade que matou 20 milhões de pessoas no planeta, há cem anos, se originou de aves. Os cientistas dão como certo o surgimento, a qualquer momento, de uma nova mutação do Influenza. Weissmann diz que o 2019-nCoV é a sétima cepa de coronavírus já encontrada em seres humanos.
FUGA EM MASSA Chineses desesperados tentam deixar a
cidade pelo sistema ferroviário (Crédito:Divulgação)
Por causa da epidemia, a última semana começou com pânico nos mercados globais. O temor da perda de controle das autoridades sanitárias chinesas sobre a doença, fez as empresas brasileiras com ações no Ibovespa perderem cerca de R$ 50 bilhões em valor de mercado. Vale, Petrobrás, Gerdau, CSN e Suzano, grandes produtoras brasileiras de commodities, tiveram seu valor reduzido em R$ 42,3 bilhões. Segundo a agência Bloomberg, as bolsas globais perderam, ao todo, US$ 1,5 trilhão por causa do avanço da pandemia, mesmo com as bolsas da China e do Hong Kong fechadas por causa do feriado prolongado local do Ano Novo Lunar. Devido ao receio de que a doença afete o mercado chinês, assim como a atividade industrial e a construção no país, houve queda no preço do petróleo e de minérios como cobre e ferro. Houve também forte desvalorização no yuan. Na China, lojas foram fechadas e as empresas estenderam os feriados para manter as pessoas em casa. Para tranquilizar os mercados, o presidente Xi Jinping veio a público e, em discurso na televisão estatal, disse que “o vírus é um demônio e não podemos deixar o demônio se esconder”. “A China fortalecerá a cooperação internacional e saúda a participação da OMS na prevenção de vírus . A China está confiante em vencer essa batalha”, afirmou.
Efeitos na economia
Também é esperado um duro golpe na indústria da aviação. Companhia aéreas europeias e americanas estão cancelando viagens para a China. Foram os casos da Lufthansa e da British Airways, que suspenderam todos os seus voos para o país asiático. Por causa da queda na demanda — ninguém quer viajar para a Ásia neste momento — a United Airlines suspendeu 24 voos dos Estados Unidos com destino a Pequim, Hong Kong e Shangai. A indiana IndiGo cancelou viagens com destino às cidades de Chengdu e Hong Kong. No Brasil, a Vale cancelou todas as viagens de negócios de seus executivos para a China. Além disso, nos voos que foram mantidos, as companhias aéreas mudaram suas rotinas. Para proteger a tripulação e os passageiros, foram eliminados itens de conforto, como comida quente, fones de ouvido, cobertores, toalhas e jornais que favorecem a disseminação do coronavírus. A China Airlines, de Taiwan, determinou que os passageiros viajem com suas próprias garrafas de bebidas e substituiu itens reutilizáveis por descartáveis. A Thai Airlines, da Tailândia, passou a desinfetar o interior de suas aeronaves em todos os voos para a China e para outros destinos considerados de alto risco.
Nos países europeus, no Japão e nos Estados Unidos houve repatriação em massa de cidadãos que trabalham na China. Na terça-feira 28, o ministro japonês das Relações Exteriores, Toshimitsu Motegi, determinou o envio de um avião para retirar 600 cidadãos do país que trabalham em Wuhan. O governo americano fretou um voo charter para transportar funcionários consulares e seus familiares que vivem na cidade. Inglaterra, Canadá e Portugal estão tomando medidas semelhantes para proteger seus cidadãos. Na quinta-feira 30, aviões franceses chegaram a Wuhan para repatriar pessoas interessadas em regressar à Europa.
A França é um dos países com mais moradores em Wuhan, por causa da grande presença de estudantes e de trabalhadores nas fábricas da Renault e da PSA na região. No caso do Brasil, a repatriação foi descartada. Referindo-se a uma criança brasileira que está nas Filipinas sob suspeita de ter contraído a doença, o presidente Jair Bolsonaro disse que “não seria oportuno retirá-la de lá”. “É o contrário. Não vamos colocar nós em risco por uma família apenas”, justificou. Cerca de 40 brasileiros estão confinados em Wuhan e, segundo a embaixada em Pequim, as autoridades chinesas não estão autorizando a saída dos estrangeiros. “Estamos recebendo demanda de evacuação, o que neste momento não é possível fazer”, afirmou o embaixador Luiz de Castro Neves. O Ministério da Saúde alemão confirmou o primeiro caso de transmissão de humano para humano na Europa. Um homem testou positivo para a nova cepa do coronavírus. Ele foi infectado por um colega de trabalho. Praticamente todos os casos da doença em outros países são de pessoas que estiveram na China ou tiveram contato com gente que veio de Wuhan. Especialistas em saúde dizem que não estão surpresos com as transmissões de coronavírus de humano para humano no Japão, Vietnã e Alemanha. “A transmissão humana não surpreende. Continuaremos a ver outros casos semelhantes fora da China”, disse Michael Head, pesquisador sênior em saúde global da Universidade de Southampton. As novas informações sobre a doença reforçam a importância do conselho dado pelo Public Health England de que, se alguém retornou de Wuhan nas últimas duas sem anas, deveria “ficar em casa e evitar o contato com outras pessoas, como se faria com outros vírus da gripe” e “entrar em contato com o serviço de saúde para informá-lo de sua recente viagem à cidade”. Esse conselho deveria ser seguido por qualquer pessoa que tenha estado em alguma região da China onde a infecção é reconhecida como comum ou se ela souber que teve contato com um caso presumido. Há muita tensão no ar e o fato é que a China se tornou, nas últimas semanas, um lugar extremamente perigoso.