quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Exercite-se e deixe a visão em forma

A ciência começa a enxergar a atividade física como aliada dos olhos. E razões não faltam — da prevenção de doenças à melhora da habilidade de captar o que nos cerca por Theo Ruprecht • design Ana Paula Megda • ilustração Thiago Almeida

É a percepção de formas e cores dos objetos que possibilita aos corredores traçarem suas rotas e desviarem de buracos. Essa capacidade ainda propicia aos jogadores de vôlei, basquete e companhia saber onde estão seus parceiros e adversários. A visão é, enfim, um sentido altamente valorizado em qualquer forma de exercício. A notícia positiva é que os globos oculares não apenas contribuem para a prática esportiva como também são beneficiados por ela. "Manter-se ativo ao longo da vida aparentemente protege contra fatores de risco para o glaucoma", afirma a fisiologista Jennifer Yip, da Universidade de Cambridge, na Inglaterra.

A cientista acompanhou 5 650 voluntários por 17 anos e verificou que o grupo dos que malhavam apresentava uma menor pressão intraocular. "Quando essa medida está descontrolada, cresce a probabilidade de o nervo óptico ser comprimido, o que propicia o surgimento de cegueira", relata Marinho Scarpi, oftalmologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Uma teoria sugere que a atividade física resultaria em uma drenagem eficiente do humor aquoso, líquido que preenche e nutre parte do globo ocular. Se ele não é escoado direito e se acumula, faz pressão no globo, como se ele estivesse cheio demais. No seu estudo, Jennifer ainda observou que o abastecimento de sangue nos olhos de quem foge do sedentarismo é mais eficaz. E isso deixa o olho, digamos, resiliente ao glaucoma.

O grande medo dos oftalmologistas atendia pelo nome de musculação. Afinal, especulava-se que ela alavancaria a pressão intraocular. Contudo, o educador físico Marcelo Conte, da Escola Superior de Educação Física de Jundiaí, no interior paulista, analisou a fundo essa história. Após monitorar um grupo de malhadores, ele chegou à conclusão de que, na verdade, a incidência do problema até diminui com os exercícios de resistência. "Eles podem ser até benéficos. Tudo depende da maneira como são realizados", reflete Conte.

Apesar de ainda haver controvérsia no assunto, o trabalho brasileiro indica que o melhor caminho é, em vez de levantar poucas vezes um peso quase insuportável, investir em mais repetições com uma carga leve ou média. "Se a exigência é enorme em cada movimento, a tendência é que seguremos o ar. E isso, sim, tende a elevar a pressão intraocular", avisa Conte. Outros perigos em potencial dentro da academia são os chamados exercícios isométricos — aqueles em que permanecemos imóveis sustentando um objeto — e o uso indiscriminado de esteroides e anabolizantes.

O que surpreende muita gente é a preocupação dos especialistas com a ioga. E tudo por causa de uma ou outra posição que coloca o corpo de ponta-cabeça. "Já existem estudos comprovando um grande aumento da pressão intraocular e a consequente piora de quadros de glaucoma em praticantes que realizam essas posturas específicas", informa Tiago Prata, oftalmologista do Hospital Medicina dos Olhos, em São Paulo, e da Unifesp.

Muito além do glaucoma


Os contornos e os pigmentos do mundo são ameaçados não apenas por essa doença como também pela catarata e pela degeneração macular, para citar outros dois males. Ainda bem que ambos, pelo que revelam descobertas recentes, são prevenidos com caminhadas, pedaladas... e por aí vai. "Acredita-se que a melhora sistêmica do organismo como um todo contribua para esses resultados", aponta Marcelo Conte.

Agora, será que os esportes teriam o poder de incrementar a visão em si? A hipótese é discutível, mas, por incrível que pareça, aparentemente, sim. Não, não é que nosso equipamento natural fique mais potente. Na realidade, é como se aprendêssemos a utilizá-lo melhor — a isso se dá o título de atenção visual. Modalidades que exigem reflexos rápidos, a exemplo da esgrima, do tênis ou até mesmo do futebol, podem fazer com que o cérebro processe com velocidade extra e maior eficácia os estímulos vindos dos olhos. "Assim, informações que seriam perdidas, como uma pequena pedra no caminho que culminaria em um tropeção, passariam a ser notadas sem muita dificuldade", hipotetiza Ronald Ranvaud, físico do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo. "A lógica faz sentido. Porém, como muitos assuntos nessa área, falta comprovação científica", ressalta. Por via das dúvidas, não custa visualizar o calendário de 2012 com tempo de sobra para os exercícios físicos.


O esporte em prol do olhar


Cuidados
Saiba que medidas tomar para resguardar os olhos durante os exercícios

Óculos especiais
A bola de squash, por exemplo, pode machucar os globos oculares pra valer. Use protetores e, no sol, lentes escuras e com filtro.

Lutas

Certifique-se de que você e o seu oponente estão equipados com luvas e, dentro do possível, maneirem na força dos golpes.

Protetor solar

Eles são fundamentais para a pele. Só não aplique demais na testa. O excesso pode escorrer e fazer os olhos arderem.

Aeróbicos
Eles aperfeiçoariam a drenagem do humor aquoso. Modalidades que demandam reflexo ainda melhoram o processamento dos estímulos dos olhos.

Musculação

Praticada moderadamente, ela não oferece riscos e até auxilia no controle da pressão intraocular, fator de risco para o temido glaucoma.

Atividade física para todos
Pesquisadores do Hospital Maisonneuve-Rosemont, no Canadá, comprovam: quanto mais problemas com a visão, mais raras são as saídas de casa para se dedicar à prática esportiva. "Ora, esse sentido é muito empregado para se deslocar em um espaço", sintetiza Marinho Scarpi. Felizmente, mesmo quem padece com alguma deficiência consegue, hoje em dia, suar a camisa. "Só é necessário buscar orientação especializada, fazer certas adaptações e ser acompanhado sempre", completa Scarpi.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Pílulas para dormir aumentam risco de morte, diz pesquisa

Estudo aponta que medicamentos ampliam em quatro vezes chances de óbito

Remédios para dormir e ansiedade

(Thinkstock)

Pílulas para dormir estão relacionadas com um risco quatro vezes maior de morte prematura, segundo um estudo realizado nos Estados Unidos e publicado esta segunda-feira no periódico BMJ Open.

Em doses elevadas, estes medicamentos também estiveram associados a um risco 35% maior de câncer em comparação com indivíduos que não os ingerem, mas as razões para isto não ficaram claras.

Médicos chefiados por Daniel Kripke, do Centro de Sono da Família Scripps Clinic Viterbi em La Jolla, Califórnia, analisaram os registros médicos de mais de 10.500 adultos residentes na Pensilvânia que tomavam remédios para dormir prescritos. Eles foram comparados com mais de 23.600 pares que não fizeram uso destes medicamentos.

O estudo foi feito durante dois anos e meio com pílulas para dormir amplamente prescritas, incluindo benzodiazepínicos, não benzodiazepínicos, barbitúricos e sedativos.

O número total de mortes registradas neste período foi pequeno nos dois grupos, correspondendo a menos de mil. Mas houve uma diferença grande na mortalidade, afirmaram os cientistas. Aqueles que ingeriram entre 18 e 132 doses de pílulas ao ano mostraram-se 4,6 vezes mais propensos a morrer do que o grupo de controle. Mesmo aqueles que tomaram menos de 18 doses anuais mostraram-se 3,5 vezes mais propensos a morrer.

Detalhes de como os indivíduos morreram não foram revelados e os autores reforçam ter encontrado um vínculo estatístico, mas não uma causa.

No entanto, eles decidiram soar o alerta, devido ao grande número de pessoas que faz uso destes medicamentos.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Hospital em São Paulo oferece curso para melhorar a memória

A relações-públicas Yara de Castro Mahfuz, 48, tem se sentido cada vez mais "esquecida". "Às vezes demoro um tempão para me lembrar de coisas bobas, como o filme da semana passada."

O medo de ter Alzheimer a levou a se matricular em um curso de estímulo à memória e à atenção que começa nesta semana no Hospital Alemão Oswaldo Cruz, na capital paulista.


Editoria de Arte/Folhapress

Segundo especialistas, a procura por esses cursos tem aumentado nos últimos anos.

Com duração de cinco meses, o programa de aulas semanais do Oswaldo Cruz tem competições de sudoku e dicas de como melhorar o sono e guardar mais informações de textos lidos. O curso custa, ao todo, R$ 1.800.

"Estimulamos a pessoa a usar a memória e fazer o cérebro funcionar sem apoio, como ir ao supermercado sem lista", diz Gislaine Gil, neuropsicóloga do hospital.

Yara convenceu a amiga Silvia Schweizer, 51, e mais cinco pessoas a se inscrever. "Queremos estar com o cérebro sadio para acompanhar o físico", conta Schweizer.

A rede de franquias Supera, que oferece um curso de "ginástica cerebral", tem 69 unidades em 17 Estados.

A escola oferece treinos de cálculo com o ábaco e exercícios de lógica e concentração para pessoas de cinco a 90 anos, segundo Antonio Carlos Guarini Perpétuo, idealizador da metodologia.

A mensalidade custa, em média, R$ 189. "A sociedade sabe dos benefícios dos exercícios. O que poucos sabem é que há escolas para isso."


Marisa Caduro/Folhapress
A relações-públicas Yara Mahfuz (de branco) e a amiga Silvia Schweizer, que fazem um curso de memória
A relações-públicas Yara Mahfuz (de branco) e a amiga Silvia Schweizer, que fazem um curso de memória

CRUZADINHAS

Segundo a neuropsicóloga do Oswaldo Cruz, o programa ensina estratégias para cada tipo de memória. A que mais falha, afirma, é a prospectiva, que envolve lembrar de fazer algo no futuro.

"Nesse caso, é mais eficaz lembrar durante uma atividade o que você estava fazendo e o que deverá fazer depois."

Já as palavras cruzadas trabalham com a memória relacionada ao conhecimento que você tem sobre o mundo.

De acordo com o neurologista Arthur Oscar Schelp, da Unesp, é importante estimular a atividade cerebral com exercícios sobre sequência temporal --especialmente para quem tem Alzheimer.

Isso consiste em, por exemplo, estimular o idoso a lembrar a ordem dos fatos.

"Muitas vezes o paciente idoso se lembra com clareza de fatos do passado, mas não consegue recordar as atividades do dia anterior", diz.

Schelp afirma que não há estudos que demonstrem que palavras cruzadas e atividades do tipo melhoram a memória. "Mas sabe-se que é importante manter a mente ativa. O cérebro é como um braço. Se você não usa, atrofia".

Ivan Okamoto, neurologista do hospital Albert Einstein e coordenador do Instituto da Memória da Unifesp, conta que é importante fazer atividades que deem prazer, ler, continuar trabalhando de alguma forma e manter os laços sociais e afetivos.

O que comprovadamente funciona, segundo os especialistas, é fazer exercícios físicos regularmente e manter uma dieta balanceada.

De acordo com Okamoto, não se sabe se os exercícios são benéficos porque melhoram o sistema cardiovascular (e evitam microinfartos em pequenos vasos no cérebro, que prejudicam a oxigenação na região) ou porque liberam substâncias que impedem a degeneração neuronal.

Mas o fato é que o envelhecimento da população é terreno fértil para o aparecimento de "curas milagrosas".

"É melhor fazer academia ou curso de idiomas do que programas sem eficácia comprovada", afirma Okamoto.
Ele ressalta que o esquecimento afeta a todos, mas pode precisar de ajuda médica quando interfere no dia a dia.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Pesquisa explica como relógio biológico interfere no risco de ataque cardíaco

Oscilação de determinada proteína pode alterar os batimentos cardíacos e causar uma arritmia, especialmente de manhã e à noite

Estudo relaciona mudanças da ação de proteína durante o dia com riscos de morte súbita por arritmia cardíaca

Estudo relaciona mudanças da ação de proteína durante o dia com riscos de morte súbita por arritmia cardíaca (Thinkstock)

Um novo estudo publicado nesta quarta-feira na revista britânica Nature encontrou uma explicação para o fato de a morte súbita cardíaca ocorrer com maior frequência após uma pessoa acordar de manhã ou durante a noite. A pesquisa, feita por um grupo de cientistas de vários países, coordenado pela Faculdade de Medicina da Universidade Case Western Reserve, nos Estados Unidos, estabeleceu uma relação entre o ritmo circadiano, ou o relógio biológico, e os riscos de alteração do ritmo cardíaco.

Saiba mais

ARRITMIAS CARDÍACAS
São sequências de batimentos cardíacos irregulares, ou muito rápidos, ou muito lentos. As paredes musculares de cada uma das quatro cavidades do coração se contraem em um determinado ritmo para bombear o sangue para o corpo. Essa contração é controlada por uma corrente elétrica que percorre o coração e que é iniciada a cada batimento. A velocidade através da qual o marca-passo natural do coração descarrega essa corrente determina a frequência cardíaca. A causa mais frequente de arritmia é um doença cardíaca, principalmente a cardiopatia coronária e a insuficiência cardíaca. Consumo excessivo de álcool, tabagismo e alguns remédios podem provocar a taquicardia, ou seja, a arritmia de padrão rápido. As arritmias lentas, ou bradiarritmias, podem ser provocadas por dor, cansaço, fome ou problemas digestivos.

MORTE SÚBITA CARDÍACA
São mortes que ocorrem de maneira repentina, geralmente em decorrência de uma arritmia. O problema pode levar a um fraco desempenho cardíaco e, consequentemente, na fraca circulação sanguínea, na falta de sangue no cérebro e na perda de consciência. Ocorre especialmente nas primeiras horas do dia.

Os autores da pesquisa observaram a ação da Krüppel-like factor 15 (Klf15), uma proteína que controla o ritmo circadiano e a atividade das células musculares cardíacas. Durante o dia, os níveis de Klf15 oscilam, podendo reduzir ou aumentar o tempo que o músculo cardíaco tem para esvaziar os ventrículos, que são as câmaras do coração que bombeiam o sangue para todo o organismo. Esse intervalo, se for muito grande ou muito pequeno, pode resultar em ritmos cardíacos anormais, que é a chamada arritmia, a causa mais comum de morte súbita cardíaca.

Como o ritmo cardíaco anormal ocorre com mais frequência principalmente nas primeiras horas da manhã e também durante a noite, os pesquisadores explicaram algo que já é conhecido há algum tempo, ou seja, que nesses horários as chances de uma morte repentina ocorrer são maiores.

Para chegar a essas conclusões, foram estudados camundongos que não tinham a Klf15 e outros que tinham uma alteração genética que faziam com que seu organismo produzisse quantidades maiores do que o normal da proteína.

“Esse é o primeiro exemplo, embora ainda esteja no começo, de um mecanismo celular que pode alterar o ritmo circadiano e provocar arritmia cardíaca”, afirma Xander Wehrens, um dos autores do estudo. “Observamos que tanto a ausência quanto o excesso de Klf15 significam risco para arritmias”.

Os pesquisadores esperam que essa descoberta leve a novas ferramentas de diagnóstico e terapias para prevenir ou tratar a vulnerabilidade à morte súbita cardíaca em humanos. De acordo com os autores do estudo, um caminho possível seria investigar medicamentos que regulam e estabilizem os níveis de Klf15, especialmente nos momentos do dia quando a morte súbita é mais comum.


*O conteúdo destes vídeos é um serviço de informação e não pode substituir uma consulta médica. Em caso de problemas de saúde, procure um médico.

Excesso de ácido úrico pode causar gota, pedra no rim e hipertensão

Alimentação rica em proteínas aumenta chances de acúmulo de substância.
Ao se cristalizar, composto também dá artrite e problemas cardiovasculares.

Do G1, em São Paulo

O ácido úrico é um composto produzido normalmente pelo corpo, resultante do metabolismo de uma proteína chamada purina, presente em muitos alimentos.

Essa substância é excretada pelos rins, pela bile e pelo intestino, e sua concentração pode ser medida no sangue e na urina.

Segundo a reumatologista Evelin Goldenberg e o nefrologista Emanuel Burdmann, o ácido úrico em excesso pode se cristalizar no organismo e causar gota, pedra no rim, doenças renais, hipertensão, artrite e problemas cardiovasculares.

Alimentos a evitar
- Vitela, bacon e embutidos
- Miúdos como fígado, coração, língua, rins e miolo
- Peixes como sardinha, salmão e bacalhau, além de ovas de peixe e camarão
- Tomate e extrato de tomate
- Bebidas alcoólicas de todos os tipos

Gota
A gota ocorre quando o corpo não consegue eliminar o ácido úrico produzido em excesso, ou quando fabrica muito mais do que deveria. Esse ácido, então, acumula-se nas articulações, cristaliza-se e causa uma inflamação.

O cristal mais comum é o monourato de sódio. E, juntos, eles têm o formato de pequenas agulhas, que provocam forte dor. O organismo tenta se defender e manda uma resposta imunológica. Como resultado, as juntas incham – geralmente, de um lado só.

A gota é mais comum entre homens de 30 a 60 anos. Nas mulheres, a incidência aumenta depois da menopausa. E há também um fator genético envolvido.

Pedra no rim
Em uma situação normal, o rim deve filtrar o ácido úrico, para mantê-lo equilibrado no sangue. Em seguida, esse composto sai pelo xixi.

Quando há muito ácido úrico no sangue, ele se cristaliza no rim e forma pedras que podem sair pela uretra, causando dor.

Exame
Existe um teste bastante importante pra identificar os cristais que se acumulam nas articulações. É o exame do líquido sinovial – retirado de articulações grandes, como o joelho –, que deve ser pedido por um médico e feito em um laboratório.

O líquido sinovial normal é incolor. Já em um processo inflamatório, ele varia do amarelo palha ao amarelo ouro.

A análise do líquido sinovial é coberta pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em todo Brasil e é indicada para pessoas que têm suspeita de doenças como gota. Em 2011, o SUS fez 317 mil punções articulares e exames do líquido sinovial.

O diagnóstico e o tratamento de outros problemas decorrentes do acúmulo de cristais variam de acordo com o diagnóstico, que precisa ser feito por meio de exames.

Tratamento
Para todos aqueles que sofrem de doenças por depósito de cristais, vale a regra: alimentação saudável, controle de peso, redução de bebida alcoólica, prevenção e tratamento da diabetes e redução dos níveis de colesterol e pressão arterial.

O "alopurinol" é um dos medicamentos mais eficazes para tratar a gota. Ele não pode ser usado por pacientes com insuficiência renal, pois age diretamente na eliminação do ácido úrico pelos rins.

Esse remédio, portanto, só deve ser tomado com indicação médica e, uma vez prescrito, não pode ser abandonado, senão as crises voltam. O alopurinol é distribuído gratuitamente pelo SUS.

Veja abaixo o resultado da nossa enquete:

Enquete acido urico (Foto: Reprodução)

Enfermeira de MG emagrece 41 kg após desistir de cirurgia e remédios

Após anos de tentativas frustradas para emagrecer, que incluíram moderadores de apetite, consultas a nutricionistas, endocrinologistas, psicólogos, médicos ortomoleculares e terapias holísticas, além de exames para fazer uma cirurgia de redução de estômago, a enfermeira Beatriz Quirino, de 22 anos, eliminou 41 kg com reeducação alimentar e exercícios físicos.

“Meus pais sempre foram contra a operação bariátrica, pois conheciam casos de pessoas que tiveram depressão, passavam mal ou vomitavam ao comer. Quem faz tem muita coragem e merece respeito, mas, sem o apoio da minha família, não tive coragem”, conta a mineira de Belo Horizonte.

Beatriz antes e depois (Foto: Arquivo pessoal)Imagem à esquerda mostra Beatriz em junho de 2010, com 99 kg - depois ela ainda ganhou 7 kg - e em janeiro deste ano, com 65 kg, após 6 meses de reeducação alimentar e exercícios (Foto: Arquivo pessoal)

Foi no mesmo mês, em agosto de 2011, que Beatriz aproveitou que uma tia tinha marcado consulta com uma nutróloga, mas não poderia ir, e foi no lugar dela. No entanto, ela não acreditava que conseguiria sair do patamar dos 106 kg.

"Lá, fiz um exame chamado bioimpedância, que mediu a quantidade de ossos, músculos, gordura e água no meu corpo. Tinha 58% de gordura. A conversa durou uma hora e meia e quis 'estrangular' a médica, por tanto terrorismo sobre os malefícios da obesidade”, lembra. Atualmente, seu percentual de gordura está em 39,5%, e quer chegar aos 30% – o normal é entre 18% e 28%.

A nutróloga recomendou um programa alimentar que previa refeições menores e mais frequentes, muitas fibras, água e caminhadas leves. Foi então que a enfermeira trocou os biscoitos recheados, salgadinhos, refrigerante e fast food por frutas, iogurtes, barrinhas de cereais e legumes como brócolis, couve-flor, abóbora e cenoura no vapor, já que não gosta de salada.

“Também diminuí a carne vermelha de sete para uma vez por semana e aumentei a ingestão de água de 200 ml para 1,5 litro por dia. A acne sumiu da minha pele, e o intestino que era preguiçoso e funcionava uma vez por semana, muitas vezes à base de laxante, hoje está bem regulado”, compara Beatriz.

A acne sumiu da minha pele, e o intestino que era preguiçoso (...), hoje está bem regulado"
Beatriz Quirino

Para se manter na linha, a mineira comprou uma bolsa térmica onde coloca tudo o que vai comer durante o período em que estiver fora de casa. Além disso, programa o celular para despertar a cada 2h, para não ficar com a barriga vazia nem sentir fome demais.

Caminhadas e academia
Nos primeiros cinco meses de mudança de hábitos, Beatriz fez apenas um controle alimentar, pois cumpria um plantão de 12h por dia no trabalho e, à noite, estudava para um concurso público. A atividade física, então, ficava restrita a caminhadas de 40 minutos aos finais de semana, em uma praça perto de casa.

Passada essa fase, em janeiro a enfermeira se matriculou na academia, aonde vai de segunda a sexta, durante 1h, e faz exercícios aeróbicos e musculação.

“A diferença de um mês para cá foi gigante. Ganhei fôlego, resistência e posso subir uma escada ou ladeira sem cansar”, diz.

Beatriz carnaval (Foto: Arquivo pessoal)Beatriz realizou um sonho e cortou o cabelo neste
carnaval, após perder 41 kg (Foto: Arquivo pessoal)

Roupas, cabelo e até o pé menores
Ao chegar aos 65 kg em 1,60 m de altura, Beatriz encurtou as roupas e os cabelos, um sonho antigo.

“Sempre quis ter cabelo curto, mas tinha medo de ficar com o rosto muito redondo”, ressalta.

Os vestidos também perderam pano no comprimento e nas laterais: “Antes, eu só usava batas e coisas largas. Passei de uma calça 54 para 42 e de uma blusa GGG para M. Até meu pé diminuiu, porque era inchado. Mudei do número 38 para o 37”, revela.

A enfermeira doou todo o guarda-roupa antigo para instituições de caridade e ainda está comprando peças novas. Vai esperar renovar por completo quando perder mais 5 kg – seu objetivo final.

O único senão da perda de peso foi a flacidez nos braços, abdômen, mamas e parte interna da coxa, que Beatriz pretende um dia corrigir com cirurgia plástica.

Sempre quis ter cabelo curto, mas tinha medo de ficar com o rosto muito redondo"
Beatriz Quirino

Vida nova
A reeducação da enfermeira mudou por completo a forma como ela vê os alimentos. “Sempre idolatrei a comida, achava a coisa mais gostosa do mundo. Minhas recompensas por notas boas na escola ou favores aos meus pais sempre eram com isso”, conta.

Ela agora não perde mais oportunidades como acontecia na infância e na adolescência, como a vez em que deixou de ir a uma viagem com a turma do ensino médio por vergonha de usar roupa de banho.

Além da transformação física, as pessoas perceberam uma melhora no humor de Beatriz. “Estou mais tranquila, engraçada. Sempre fui extrovertida, mas sentia vergonha de me aproximar de pessoas estranhas. Ganhei autoconfiança”, destaca.

Beatriz antes e depois 2 (Foto: Arquivo pessoal)Beatriz e Wander juntos em agosto de 2011e, à direita, na virada do ano (Foto: Arquivo pessoal)

O sentimento de inferioridade e desvantagem em relação aos outros acabou, e o apoio da família e do namorado, Wander – que está com Beatriz há dois anos e meio –, foi fundamental nesse processo.

“Todo obeso é uma bomba prestes a explodir. Meu pai é hipertenso, meu avô diabético e há vários casos de problema de peso na minha família. Hoje, tenho orgulho das minhas fotos e quero incentivar todos gordinhos do Brasil a saber que sempre tem uma saída. Apesar de podermos ser lindos independentemente do peso, a saúde tem que estar em primeiro lugar”, completa.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

A era dos homens imortais

Recursos como próteses para substituir neurônios, máquinas que constroem DNA, coração e até um outro cérebro permitirão que a próxima geração viva pelo menos até os 150 anos - e as sucessoras, ainda muito mais

Monique Oliveira

chamada.jpg

O ano será 2045. Ele marcará o início de uma era em que a medicina poderá oferecer à humanidade a possibilidade de viver por um tempo jamais visto na história. Órgãos que não estejam funcionando poderão ser trocados por outros, melhores, criados especialmente para nós. Partes do coração, do pulmão e até o cérebro poderão ser substituídos. Minúsculos circuitos de computador serão implantados no corpo para controlar reações químicas que ocorrem no interior das células. Estaremos a poucos passos da imortalidade.

Esta é a previsão de um grupo muito especial de cientistas conhecidos por ocupar a vanguarda de pesquisas que permeiam temas como a ciência da computação, a biologia e a biotecnologia. Entre eles, estão George Church, professor da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, o gerontologista e biomédico especializado em antienvelhecimento Aubrey de Grey e o engenheiro Raymond Kurzweil, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), que profetizou o surgimento da internet. Eles são os líderes de uma espécie de nova filosofia, batizada de Singularidade.

img4.jpg

Na astronomia, singularidade nomeia um lugar no espaço onde um corpo não envelhece. Na medicina, os arautos da imortalidade afirmam que ela nada mais é do que uma consequência real de uma revolução em curso que já faz disparar em velocidade sem precedentes a expectativa de vida humana. “Considerando a rapidez das inovações, uma pessoa nascida em 2050 terá 95% de chance de viver mil anos”, disse à ISTOÉ o inglês Aubrey de Grey.

Neste momento, o grupo está envolvido no crescimento da Universidade da Singularidade, já instalada no Vale do Silício, nos Estados Unidos, o mesmo que dá sede às principais empresas de inovação na área de informática. É na universidade, por exemplo, que trabalha o professor venezuelano José Luís Cordeiro. “Bactérias unicelulares que viviam há milhões de anos não envelheciam”, disse à ISTOÉ. “Nossas células germinativas também não envelhecem. Óvulos e espermatozoides vivem indefinidamente quando congelados”, afirma, apontando um dos fatores que levam a ele e a seus companheiros a acreditar no maior prolongamento da vida humana. No Brasil, os pesquisadores acompanham com olhos atentos os movimentos dos colegas internacionais. “A singularidade pode até não ter esse nome, mas o seu advento é certo”, acredita Marcos Formiga, coordenador do Núcleo de Estudos do Futuro da Universidade de Brasília.

img5.jpg

Tanta certeza está sustentada nos avanços já obtidos e naqueles que certamente virão. Só para se ter uma ideia, a partir do que se tem hoje, acredita-se que uma criança que acaba de nascer tem grandes chances de ultrapassar os 130 anos. “Com base nos recursos que temos atualmente, ela poderá viver pelo menos até os 150 anos”, afirmou à ISTOÉ Steven Austad, diretor do Instituto Barshop, fundação para estudos de longevidade ligada à Universidade do Texas, nos Estados Unidos. “Isso é perfeitamente factível, basta analisar os recentes progressos.”

Um dos campos nos quais os avanços foram mais notáveis é o das células-tronco, estruturas versáteis capazes de gerar diferentes tecidos do organismo. Há exemplos bem-sucedidos pelo mundo afora. Na área da cardiologia, diversos experimentos têm demonstrado seu poder para regenerar partes do músculo cardíaco. Em um deles, feito na Universidade de Louisville (EUA) com 16 portadores de insuficiência cardíaca, todos tiveram parte do tecido do coração regenerado com células-tronco retiradas do próprio órgão. Em metade deles, o tecido continuava se regenerando um ano após a injeção das estruturas. Na Universidade Federal do Rio de Janeiro, pesquisadores as utilizaram para restaurar a função motora em pessoas vítimas de acidente vascular cerebral. Dos 20 pacientes tratados, a maioria recuperou parte dos movimentos. “Acredita-se que as células-tronco impeçam o avanço da lesão e até regenere o neurônio”, diz a neurobiologista Rosália Mendes Otero, que comanda o estudo.

img7.jpg

A substituição de órgãos inteiros doentes por outros, sadios, é outra das razões apontadas pelos cientistas para justificar a crença em uma vida espetacularmente longa. Nos últimos anos, os avanços na medicina regenerativa – responsável por esse campo – impressionam. Tanto é que, segundo pesquisa realizada pela consultoria OThink, de São Paulo, 59% de cerca de mil entrevistados dizem acreditar que, em 2050, será possível produzir órgãos em laboratórios. De fato, já se conseguiu criar e implantar em seres humanos traqueia, bexiga, uretra e vasos sanguíneos. E há experiências de criação de mais órgãos, entre eles o coração e o fígado.

Um dos fatores mais importantes associados ao tempo de vida de um homem é sua genética. Seu DNA aponta qual será sua vida média e também pode trazer alterações que o predispõe a doenças. Por isso, boa parte dos esforços está concentrada em inventar recursos que interfiram no material genético de cada um. Um dos mais fantásticos é uma máquina que lê e muda a estrutura do DNA. O cientista George Church, de Harvard, por exemplo, criou um DNA artificial com um aparelho feito por ele, chamado Mage. O equipamento fabrica cerca de quatro milhões de genomas por dia. Com o invento, Church diz que é possível mudar a formados genética e os órgãos e tecidos que são constituídos a partir dela, promovendo a cura de enfermidades. “O DNA pode criar qualquer coisa biológica” disse à ISTOÉ.

Invenções como essa podem fazer com que a terapia gênica, cujo objetivo é corrigir defeitos genéticos, dê um salto e se firme como boa opção para estender a vida. Hoje, existem experimentos interessantes nessa área. Pesquisadores conseguiram, entre outras façanhas, mudar o gene de pacientes com hemofilia do tipo B, distúrbio genético caracterizado por sangramentos prolongados. O feito, realizado pela Universidade Estadual de Campinas, em São Paulo, em parceria com a Universidade de Filadélfia, foi alcançado inserindo o gene certo – responsável por determinar a fabricação de fator coagulante do sangue – dentro das células de seis pacientes. Quatro não tiveram mais sangramento espontâneo. “Por causa do sucesso, em 2013 teremos mais brasileiros participando do estudo”, diz Margareth Castro Ozelo, coordenadora do trabalho.

img1.jpg
PESQUISAS
George Church, acima, criou uma máquina que
fabrica material genético. Aubrey de Grey (acima) dirige uma
fundação que busca recursos para estender a vida humana

img.jpg

Interferir no poder da genética passa também pela identificação de alterações que podem levar ao desenvolvimento de doenças. “Se uma pessoa fuma e tem predisposição genética para o câncer de pulmão, apresenta o dobro de chance de ter a enfermidade em comparação a um indivíduo que só fuma”, explica Renato Veras, coordenador da Universidade da Terceira Idade, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Por isso, para viver mais, é preciso conhecer as predisposições.” Para ajudar nessa tarefa, começam a proliferar testes que indicam vulnerabilidades, como a alguns tipos de câncer, e aptidões, como para o desempenho esportivo.

Mas, para que análises de predisposição genética possam ser feitas em larga escala e mapeiem mais doenças, cientistas alertam para a necessidade de se recolher o maior número de informações genéticas possível de uma população, a exemplo da Islândia, que mapeou o genoma de quase todos os seus habitantes. “No Brasil, ainda estamos começando esse processo”, diz Marcos Barcelos Pinho, coordenador de pesquisa e desenvolvimento do Progenética, laboratório especializado em diagnósticos moleculares, em São Paulo.

No mundo, a construção de bancos de dados de genoma é uma realidade mais próxima. “O importante neste momento é garimpar, associar genomas a diferentes perfis para que seja possível correlacioná-los”, afirmou à ISTOÉ Thomas Perls, da Universidade de Boston, nos Estados Unidos. O pesquisador acabou de completar o estudo de dois supercentenários e descobriu que o segredo da longevidade desses idosos não era a ausência de genes ligados a doenças, mas outros, capazes de neutralizá-los. “Eles até ficavam doentes, mas se recuperavam”, explica Perls.

img3.jpg
PRESENTE E FUTURO
O francês Lemaitre “rejuvenesceu” células. Ao fundo, uma simulação mostra
como seria sua imagem mais jovem, apontando os possíveis efeitos de seu estudo

Explicação semelhante para a longevidade foi encontrada no Brasil, na mais antiga pesquisa desse tipo por aqui realizada. O estudo concentra-se na avaliação de 80 idosos de Veranópolis, cidade mais longeva do País, localizada a 150 quilômetros de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Desde 1994, pesquisadores investigam o peso, para a vida longa, de fatores que vão da influência da espiritualidade às informações genéticas. Eles também encontraram fatores protetores que neutralizam a ação de genes para determinadas doenças. “Há genes associados à mortalidade precoce, mas outros que os impedem de atuar”, diz o geriatra Emílio Moriguchi, um dos coordenadores do trabalho.

Evitar os possíveis danos que os alimentos podem causar ao DNA também é um ponto de apoio da ciência que busca a imortalidade. Segundo o principal representante da Singularidade, o engenheiro Raymond Kurzweil, uma dieta de restrição calórica, com apenas os nutrientes necessários para a vida, pode nos levar a viver muito mais. A hipótese é que uma dieta restritiva pode ativar “os genes da sobrevivência”, que ajudariam o organismo a utilizar a energia de maneira mais eficiente, além de estabilizar o DNA, que ficaria menos mutante. “Seguir um regime pobre em calorias e rico em vitaminas realmente prolonga a vida humana”, explica Lucyanna Kalluf, nutricionista e farmacêutica, criadora do Instituto de Nutrição Personalizada, em São Paulo. De fato, um estudo de restrição calórica feito no MIT mostrou que a estratégia foi capaz de elevar a expectativa de vida das cobaias em 30%.

img2.jpg
COMIDA
O cientista Kurzweil propõe dieta de baixa caloria para viver mais

Esses são apenas exemplos dos instrumentos disponíveis atualmente para fazer com que a raça humana ultrapasse limites da longevidade. O futuro também promete soluções interessantes. Na Suíça, o cientista Henry Markram, diretor do Instituto do Cérebro, da Escola Politécnica de Lausanne, tenta recriar as funções do cérebro de um mamífero. Até agora, conseguiu reproduzir o córtex de um rato e intenta fazer o mesmo com o humano. Ele estima que o seu cérebro humano estará pronto em 2024. No meio do caminho, no entanto, é possível que próteses neurais, capazes de estimular eletricamente neurônios, sejam um subproduto desse experimento. Os pesquisadores já identificaram o material ideal, nanotubos de carbono, excelente condutor, assim como as células nervosas.

Na França, cientistas da Universidade de Montpellier orquestraram resultado igualmente ousado: transformaram uma célula de um homem de 74 anos em célula-tronco embrionária. Ou seja, a deixaram em um estado no qual tornou-se novamente capaz de se transformar em qualquer tecido do corpo. Foi a primeira vez que se conseguiu “rejuvenescer” uma célula. No campo das drogas, há também boas promessas. Em uma pesquisa da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, a rapamicina – usada para evitar a rejeição de órgãos após transplantes – possibilitou a cobaias viver 30% a mais do que o seu potencial genético permitiria. O próximo passo é testá-la com essa finalidade em humanos.

img10.jpg

Na Universidade Stanford, nos Estados Unidos, cientistas descobriram que a molécula CCL11 acelera o envelhecimento cerebral. Agora, buscam uma forma de impedir sua atuação. E em um trabalho premiado pela fundação dirigida pelo inglês Aubrey de Grey, o pesquisador polonês Andrzej Bartke usou hormônios para estender a vida de ratos por até 1.819 dias. A expectativa de vida desse animal é de 360 dias.
Tudo isso dá ainda mais fôlego a quem acredita que um dia o homem será imortal. “A ideia de viver para sempre pressupõe que nossas moléculas se renovem e, mesmo assim, continuemos com a sensação de sermos a mesma pessoa”, disse à ISTOÉ o pesquisador George Church. “E posso afirmar que somos capazes de mudar essas moléculas e continuarmos sendo quem somos.”

img11.jpg

img6.jpg

img9.jpg

img8.jpg

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Cientistas criam aplicativos para tratar transtornos sociais

Imagine ter no smartphone, ao lado de jogos conhecidos como Angry Birds ou Fruit Ninja, um aplicativo que facilite o tratamento de transtornos como fobia social.

Essa é a ideia de cientistas que têm pesquisado terapias portáteis para celular como uma maneira de auxiliar os tratamentos convencionais.


Editoria de Arte/Folhapress

A lógica desses pesquisadores é simples. Assim como alguns aplicativos para celular podem desenvolver processos cognitivos e melhorar o aprendizado, eles também podem trabalhar áreas cerebrais ligadas a transtornos.

O melhor é que a terapia cabe no bolso e pode ser levado para qualquer lugar.

A discussão veio à tona quando um grupo de cientistas da Universidade da Austrália Ocidental apresentou recentemente um aplicativo para tratar fobia social.

Pessoas com esse tipo de transtorno sentem uma ansiedade extrema ao serem "avaliadas" pelas outras. Além disso, quem tem fobia social relata sentir medo diante de expressões hostis (como ar de reprovação).

Os cientistas australianos criaram um game em que o paciente fica diante de expressões faciais dispostas como cartas de baralho. Uma delas é hostil e outra neutra.

Depois de aparecerem brevemente na tela, elas somem, e o usuário tem de identificar uma letra do alfabeto. Essa tarefa leva a pessoa a desviar sua atenção da área da tela na qual estava o rosto hostil e, em tese, minimiza sua reação a esse tipo de imagem.

De acordo com os pesquisadores a favor dos aplicativos (apps), a proposta é trabalhar os jogos junto com tratamentos em consultório. Os apps podem até estimular o paciente a fazer a terapia convencional.

Como os smartphones estão cada vez mais populares --jogos como o Angry Birds beiram os 30 milhões de usuários--, a expectativa é que os games terapêuticos também sejam bem aceitos.

"Isso é o que torna a ideia tão promissora", explica o psicólogo Richard McNally, da Universidade Harvard.

O laboratório dele concluiu recentemente um estudo com 338 pessoas que usaram um programa em smartphone para tratar fobias sociais.

Os usuários acharam o jogo repetitivo. Mas a facilidade de poder usá-lo "até no metrô" foi um ponto positivo.

A proposta da terapia portátil não é unanimidade entre os cientistas. "Sou cauteloso com esse tipo de tratamento", pondera Andrew Gerber, psiquiatra da Universidade Columbia, nos EUA

Na Europa, há testes de apps até para usuários que bebem demais. A ideia é que eles afastem imagens de bebidas alcoólicas e deem zoom nos líquidos sem álcool.

Ainda não se sabe quando --e se-- os apps estarão disponíveis para usuários. Mas há negociações em curso.

O psicólogo Nader Amir, da Universidade Estadual de San Diego, por exemplo, está se encarregando de comercializar um app que ele criou para tratar ansiedade.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Planos de saúde não podem fixar limite com despesa hospitalar

Os planos de saúde não podem estabelecer limite máximo de gastos com internações em hospitais nem prazo máximo de permanência do segurado, segundo definiu o Superior

Tribunal de Justiça (STJ). Os ministros da Quarta Turma do STJ entenderam, por unanimidade, que esse tipo de cláusula é abusiva. A decisão não vincula as demais instâncias da Justiça, mas abre precedente para situações semelhantes.

A decisão é da semana passada, mas foi divulgada apenas nesta quarta-feira (22) pelo STJ. Os ministros analisavam o recurso da família de uma mulher que ficou dois meses internada na UTI devido a um câncer de útero. No décimo quinto dia de internação, a seguradora queria suspender o pagamento alegando que havia sido atingido o limite do contrato de R$ 6.500. Uma liminar garantiu que a empresa continuasse arcando com os gastos até que a mulher morreu.

A cláusula que colocava limite de gasto foi mantida pelo juiz de primeiro grau e pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), que entenderam que o contrato era claro ao estabelecer a restrição e que a adesão foi uma opção da segurada. No entanto, os ministros do STJ reverteram a decisão alegando, principalmente, que o valor da cobertura é muito reduzido.

Para o relator, ministro Raul Araújo, a saúde humana não pode ficar sujeita a limites como acontece em um seguro de carro. Ele também lembrou que a legislação da época vedava a limitação desses tipos de prazos. Os ministros também decidiram fixar o valor de R$ 20 mil de dano moral devido à aflição que o episódio causou na paciente e em sua família.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

MSC Armonia chega a Buenos Aires com 7 tripulantes doentes, diz Clarín


MSC Armonia tem capacidade para 2 mil passageiros  - Divulgação
Divulgação
MSC Armonia tem capacidade para 2 mil passageiros

São Paulo, 22 - O navio MSC Armonia, que partiu do Porto de Santos, no litoral sul de São Paulo, no último sábado, 18, para um cruzeiro de nove noites para Buenos Aires, na Argentina, passando por Montevidéu, no Uruguai, desembarcou na manhã desta quarta-feira, 22, na capital portenha.

Segundo informações do jornal Clarín, o navio já registrou 18 casos de influenza B entre os tripulantes e passageiros. Um deles, a garçonete Fabiana dos Santos Pasquareli, de 30 anos, que morreu na noite da última sexta-feira, 17, no Hospital Ana Costa, em Santos.

O navio, segundo o periódico, estará sujeito à inspeção pelo Ministério da Saúde por conta de riscos de contágio. O próprio ministro da saúde, Julio Manzur, estava encabeçando uma delegação com técnicos da vigilância sanitária do país para confirmar a informação de que outros tripulantes doentes estariam à bordo.

Segundo o jornal, em Montevidéu, a primeira parada do cruzeiro, sete membros da tripulação tiveram que receber atendimento médico e ficaram internados na cidade, com sintomas da gripe semelhantes aos apresentados por Fabiana. Eles tiveram alta ontem à tarde.

Os tripulantes do navio de cruzeiros MSC Armonia que continuam a bordo pretendem procurar o Consulado do Brasil em Buenos Aires, na Argentina, na manhã de hoje, de acordo com informações publicadas no jornal A Tribuna. A intenção é pedir ajuda, pois subiu para 22 o número de funcionários doentes.

De acordo com a MCS Cruzeiros, apenas cinco tripulantes desembarcaram em Montevidéu com sintomas de gripe e foram atendidos em um hospital da cidade, retornando para o navio após atendimento médico.

Dez pessoas, entre três passageiros e sete tripulantes, foram internados no último sábado, no Hospital Ana Costa, em Santos, com sintomas respiratórios agudos, como gripe, tosse e febre. Todos já receberam alta.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Limpeza celular ajuda a nos tornar mais longevos

Começamos a envelhecer cedo. Aos 21 anos nosso corpo passa a eliminar mais células do que criá-las e a soma dessas unidades fundamentais de nosso organismo entra no negativo. Por dia, um adulto perde cerca de 1 bilhão de células. Não há ainda formas de interromper esse fenômeno, mas a busca pela sua reversão, dizem os cientistas, passa pela tentativa de desvendar o mecanismo de um processo natural em que as próprias células se encarregam de eliminar componentes problemáticos por meio de uma espécie de faxina: a chamada autofagia.

Neste processo de limpeza, ocorre a destruição de proteínas e elementos defeituosos e estressores da célula (ver quadro). Caso a autofagia não dê conta de eliminar o que afeta a função celular, a célula morre.

Estímulo

Alimentação e atividade física ajudam faxina A faxina promovida pela autofagia ajuda a conter o envelhecimento. Ao digerir mitocôndrias desgastadas, a célula se livra de estruturas que podem liberar radicais livres. Destruir componentes envelhecidos permite que as células funcionem melhor e se mantenham jovens mais tempo. A boa notícia é que tudo indica que há como dar uma forcinha nesse processo. Pesquisas feitas com camundongos na Universidade do Texas, nos EUA, provaram que a autofagia é estimulada com a prática de atividade física. Estudos em animais mostraram também que uma alimentação com restrição calórica ajuda no processo. Mesmo sem testes em humanos, esta é uma mensagem importante para quem tem uma dieta regrada e não deixa o corpo ficar parado. “Pessoas saudáveis, que praticam atividades físicas e controlam o peso e a taxa de colesterol podem equilibrar o processo de morte celular e ganhar um tempo a mais de juventude”, diz a pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo, Soraya Soubhi Smaili.

“A autofagia é um processo que ocorre dentro da célula. É uma autolimpeza, que ajuda a retardar a morte celular, o que pode diminuir a perda de células e equilibrar o nosso ‘saldo’ por um tempo maior”, explica a professora do Departamento de Farmacologia da Escola Paulista de Medicina (EPM) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e membro da Sociedade Internacional de Morte Celular Soraya Soubhi Smaili.

Conhecida desde a década de 60, a autofagia era encarada antes como um tipo de morte celular. Estu­­­dos sobre ela só passaram a ser desenvolvidos no início dos anos 90, quando os genes que controlam esse processo de digestão celular foram descritos. Só então, o verdadeiro papel do fenômeno começou a ser desvendado.

“Ainda não conhecemos completamente como a autofagia ocorre, mas percebemos que ela não tem papel de morte, mas de proteção e sobrevida de nossas células”, diz a professora da Unifesp.

Contra a degeneração

Manter as células vivas por mais tempo pode ser essencial para conter o avanço da degeneração causada por doenças como o mal de Parkinson e de Alzheimer, caracterizadas pelo acúmulo de proteínas malformadas nas células.

“Algumas pesquisas mostram que, quando a autofagia é estimulada com fármacos, aumenta a sobrevida dos neurônios, evita que eles entrem em processo de degeneração e permite que um maior número de células continue em funcionamento”, afirma Soraya.

O estímulo a esta autolimpeza ajudaria também a retardar a diabete – atenuando a resistência à insulina – e as doenças cardíacas, ao tornar mais lenta a perda de função e atividade dos órgãos. “Em quadros de isquemia ou enfarte, a autofagia é importante para a manutenção das células do músculo cardíaco. É uma forma de manutenção da vida”, diz o pesquisador da Univer­sidade Federal do Rio Grande do Sul Eduardo Cre­­­­monese Fillipi Chiela.

Células cancerígenas também se beneficiam

Da mesma forma que a autofagia ajuda células como os neurônios a sobreviver, ela pode auxiliar células doentes a se multiplicar. No caso do câncer, caracterizado como uma proliferação exagerada de células danosas, o processo de limpeza precisa ser controlado, pois este mecanismo de defesa faz com que o tumor resista aos tratamentos.

“Inibir a autofagia em células cancerígenas permitiria aumentar a sensibilidade para matá-las, mas ainda não existem remédios ou tratamentos específicos para agir nesse processo”, explica a pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo, Soraya Soubhi Smaili.

Pesquisa

Desde 2007, biomédicos do Ins­­­tituto de Biociências da Uni­­­versidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) tentam esclarecer como um composto conhecido resveratrol – bastante concentrado no vinho tinto – age de forma diferente em células sadias e em células cancerígenas responsáveis pelos tumores mais comuns e agressivos do sistema nervoso central, os gliomas.

O resveratrol protege as células saudáveis e mata uma parte das células tumorais. Por outro lado, o composto induz a autofagia no restante das células cancerígenas sobreviventes, o que as protege da morte.

“Cerca de 40% das células tumorais morrem logo no primeiro contato com o resveratrol. Queremos descobrir a influência da autofagia sobre os mecanismos de morte celular e tentar esclarecer e controlar a ação do resveratrol neste processo. Isto pode ser inovador no tratamento contra este câncer”, explica o biomédico e pesquisador da UFRGS na área de biologia celular e molecular de tumores cerebrais, Eduardo Cremonese Fillipi Chiela. O pesquisador analisou por quatro anos a ação do resveratrol em culturas de células de gliomas. O próximo passo é testar esse modelo em animais.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Modo de andar pode indicar propensão para Alzheimer, diz estudo

A velocidade com que um indivíduo caminha pode dar pistas sobre a probabilidade de surgimento da demência em um período mais avançado da vida, afirma um estudo conduzido por pesquisadores americanos.

Segundo a equipe, as chances de um infarto também seriam indicadas pela firmeza da empunhadura.

O estudo segue o caminho de outras pesquisas que também indicaram conclusões semelhantes.


Adams Jones/Wiki Media Commons
Velocidades mais baixas de caminhada estavam relacionadas a um maior risco de demência, segundo estudo
Velocidades mais baixas de caminhada estavam relacionadas a um maior risco de demência, segundo estudo

Uma pesquisa publicada em 2009 no "British Medical Journal" observou uma "forte associação" entre caminhar lentamente e morrer de ataque cardíaco ou outros problemas cardíacos.

Mais recentemente, outro artigo no "Journal of the American Medical Association" sugere uma relação entre caminhar mais rápido após os 65 anos e viver mais.

Na última pesquisa, coordenada pela especialista Erica Camargo, do Boston Medical Center, os pesquisadores registraram imagens do cérebro, a velocidade da caminhada e a firmeza da empunhadura de 2.410 pessoas com idade média de 62 anos.

Ao cabo de 11 anos, 34 haviam desenvolvido demência e 79 haviam tido ataque cardíaco.

De acordo com os pesquisadores, as velocidades mais baixas de caminhada estavam relacionadas a um maior risco de demência, enquanto uma empunhadura mais forte coincidiu com chances mais baixas de ataque cardíaco.

Camargo indicou que o estudo pode servir de base para testes simples para prever o risco de demência ou ataque cardíaco, que podem ser feitos por médicos no próprio consultório.

"Precisamos de mais estudos para entender por que isto acontece e para saber se alguma doença preexistente pode ter causado a lentidão da caminhada ou a diminuição da força física", afirmou.

REAÇÕES

As conclusões foram apresentadas no encontro anual da Academia de Neurologia e ainda precisam ser publicada sob o selo de uma revista acadêmica, após a revisão da comunidade científica.

O estudo foi bem recebido por dois especialistas britânicos ouvidos pela BBC. Entretanto, ambos enfatizaram a necessidade de mais estudos para encontrar uma explicação para estas relações.

"Antes que as pessoas comecem a prestar atenção em um apertar de mãos ou a velocidade de cruzar a rua, precisamos de outras pesquisas para entender as razões e os fatores envolvidos", disse Anne Corbett, diretora de Pesquisas da organização britânica Alzheimer Society.

"A boa notícia é que há muitas que podem ser feitas para evitar o risco de desenvolver demência: adotar uma dieta equilibrada, não fumar, manter o peso, se exercitar regularmente e checar regularmente a pressão sanguínea o nível de colesterol."

Para Sharlin Ahmed, diretor da organização Stroke Association, para o estudo de ataques cardíacos, trata-se de um "estudo interessante", mas ainda são necessários mais dados.

"Cerca de um terço das pessoas que sofrem ataque cardíaco ficam com algum tipo de sequela física, incluindo fraqueza nas mãos e dificuldades de andar. Mas é a primeira vez que vimos uma pesquisa que analisa a presença de sintomas relacionados antes de um ataque", afirmou.

"É um estudo interessante, mas precisamos de mais pesquisas antes de concluir que a força de uma empunhadura ou a velocidade de uma caminhada possam determinar os riscos de ataque."

domingo, 19 de fevereiro de 2012

As novas armas contra a cegueira

Terapia genética, uso de células-tronco e até olho digital começam a ser usados com sucesso para restaurar a visão

Monique Oliveira

img.jpg
BELEZA
A ex-modelo Katie Piper foi uma das que recuperaram
a visão após tratamento com células-tronco

Três estudos anunciados recentemente trazem opções reais de tratamento contra a cegueira a partir da correção de mutações genéticas e da regeneração de células da visão. Além disso, até um olho digital capaz de fazer o cérebro interpretar cores foi produzido. Com eles, a medicina promete reverter cegueiras provocadas por doenças genéticas, acidente e a resultante do processo de envelhecimento.

Dois dos trabalhos recuperaram a visão de pacientes usando células-tronco. Um deles foi o que fez a ex-modelo Katie Piper, 29 anos, voltar a enxergar após um ataque de ácido sulfúrico sofrido a mando do ex-namorado, em 2008. A lesão causou perda de células-tronco localizadas no limbus, região onde o olho externo encontra a córnea. Sem essas estruturas, a visão fica extremamente prejudicada. No Queen Victoria Hospital, na Inglaterra, a modelo recebeu novas células de um doador.

O outro, orquestrado na Universidade da Califórnia (EUA), tratou a cegueira causada pela degeneração da mácula com células-tronco embrionárias. Essa degeneração é resultado do envelhecimento ou de doenças genéticas. “As células-tronco embrionárias têm crescimento difícil de manipular”, disse à ISTOÉ Robert Lanza, um dos autores do estudo. “Elas podem se diferenciar em tumores. O estudo conseguiu um feito ao impedir isso e restaurar a visão”, diz Ricardo Ribeiro dos Santos, coordenador de investigações com células-tronco da Fundação Oswaldo Cruz, na Bahia.

img1.jpg
CONSERTO
A cientista Jean Bennett coordenou a experiência
que mostrou a eficácia da terapia genética

A terceira façanha foi obtida por meio de terapia gênica. Três pessoas que sofrem de amaurose congênita de Leber (doença que prejudica gravemente a visão) recuperaram a capacidade de enxergar após a inserção, no olho, de um vírus inofensivo carregando um DNA capaz de corrigir o defeito no gene RPE65, responsável pela enfermidade. “Ele leva uma cópia idêntica do gene que determina a produção da proteína necessária à formação da imagem na retina”, explicou à ISTOÉ Jean Bennett, da Universidade da Pensilvânia e coordenadora do trabalho. “Falta apenas uma fase de estudo para que o método seja usado em larga escala.”

Até abordagens individuais estão sendo feitas. O artista visual inglês Neil Harbisson, que sofre de acromatopsia – ele só enxerga em tons de cinza – inventou o eyeborg. O aparelho registra as imagens, capta a frequência de onda de cada cor e a transforma em som. “Nunca vejo em cores, mas consigo interpretá-las por meio de ondas sonoras”, disse à ISTOÉ. “São pesquisas promissoras”, afirma Érika Yazaki, do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. “Mas é preciso mais tempo para ver como a visão de cada um será estabilizada.”

img2.jpg

Mais um inquérito contra o Hospital Santa Lúcia

Volta ao noticiário policial o Hospital Santa Lúcia, em Brasília. A primeira aparição foi quando o secretário de Recursos Humanos do

Ministério do Planejamento, Duvanier Ferreira, morreu após ter atendimento negado porque seu plano de saúde não era aceito. Isso foi no mês passado. Agora, na segunda-feira 13, deu entrada no Santa Lúcia com crise de asma o estudante Marcelo Dino (foto), 13 anos, filho do presidente da Embratur, Flávio Dino. O garoto foi atendido e acordou bem na UTI às cinco da manhã do dia seguinte. Meia hora depois a equipe médica aplicou-lhe um anti-inflamatório esteroide de administração intramuscular ou intravenosa. Em seguida Marcelo passou mal e, segundo familiares, só foi socorrido às seis horas. Entrou em coma e morreu após 15 minutos. A polícia abriu inquérito: quer saber se houve negligência ou erro médico. “O que o paciente necessitava estava à sua disposição na UTI”, diz a diretoria jurídica do Santa Lúcia.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Droga ineficaz contra câncer leva juiz a manter condenação a laboratório

CAMPINAS - Nove famílias que processam o laboratório farmacêutico Eli Lilly do Brasil desde a década de 1980 conseguiram mais uma vitória na Justiça. O Tribunal Regional Federal da 3.ª Região em São Paulo negou recurso apresentado pela empresa e manteve a sentença que obriga o laboratório a ressarcir os pais cujos filhos morreram durante tratamento de câncer. Elas foram tratadas com lotes ineficazes do medicamento Oncovin.

“Eu, como juiz, me impressiono, e muito, com a morte dessas crianças. Tenho convicção da responsabilidade do laboratório nesses óbitos”, afirmou o juiz federal Leonel Ferreira. A sentença, de novembro de 2011, deve ser publicada em 15 dias.

Os valores da indenização não foram definidos, pois a sentença prevê que as pessoas que se sentiram lesadas devem entrar com processos individuais.

A ação foi movida pelo Ministério Público Federal após a oncologista Sílvia Brandalise - que era chefe do Serviço de Hematologia e Oncologia do Departamento de Pediatria da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) - denunciar à Associação Paulista de Medicina reduções substanciais do princípio ativo vincristina na composição de dois lotes do Oncovin.

O medicamento, comprado pela extinta Central de Medicamentos (Ceme) para o SUS, foi usado entre setembro e dezembro de 1983 - época em que os pacientes tinham entre 3 e 5 anos. Sílvia ainda chefia o serviço da Unicamp e também preside o Centro Infantil Boldrini, em Campinas, referência no tratamento de câncer infantil.

Segundo a oncologista, o medicamento, usado nas quatro primeiras semanas do tratamento da leucemia linfoide aguda, promove um índice de remissão de 96%. “Nessas crianças, a taxa variou de 20% a zero”, afirmou.

Quando identificou os resultados dos tratamentos, Sílvia pediu a interdição do uso das três medicações utilizadas (corticoide, Daunoblastina e Oncovin) e levou amostras para testes em institutos no Brasil e no exterior: “Compramos as medicações do mercado, de outros lotes, para continuar o tratamento, mas fui investigar o que tinha ocorrido”.

Um laudo do St. Jude Children’s Research Hospital, reconhecido pelo tratamento de câncer infantil nos EUA, apontou menos de 1% do princípio ativo nas amostras de Oncovin. Outro laudo, do Instituto Nacional de Saúde dos EUA, também mostrou redução substancial do princípio ativo.

Na Justiça. A oncologista levou os documentos às Associações Brasileira e Paulista de Medicina, ao Ministério Público Federal, ao Ministério da Saúde e à reitoria da Unicamp. Além dos resultados internacionais, foram elaborados laudo e contraprovas pelo Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde, da Fundação Oswaldo Cruz. Foi constada a ineficácia dos lotes do medicamento distribuídos à Ceme. O Ministério da Saúde suspendeu sua comercialização em 1984.

A ação contra o laboratório foi movida em 1986 e em março de 2000 a Justiça Federal julgou o caso em primeira instância, condenando a empresa ao ressarcimento. Em 2001, o laboratório recorreu. Os autos chegaram à Procuradoria Regional da República em 2011. Em agosto, o procurador Walter Claudius Rothengurg emitiu seu parecer, contra a Lilly - que sustentava não ter ocorrido alteração na composição do medicamento.

O procurador, porém, aponta em seu parecer que “o laudo do Instituto Adolfo Lutz - de que o réu tenta se valer para isentar-se de responsabilidade - revela-se inconclusivo”. A análise constatou “a presença da vincristina sem, contudo, pronunciar-se sobre sua potencialidade”.

Em novembro, o tribunal acompanhou o parecer do procurador e negou recurso à empresa. Sílvia lamentou o fato de as vítimas terem de buscar seus direitos individualmente, quando o processo acabar. “O cidadão comumfica sem suporte, sem ter a defesa que a Constituição nos garante.”

Segundo o juiz, o laboratório ainda pode recorrer ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e ao Supremo Tribunal Federal (STF). Por meio de assessoria de imprensa, a Eli Lilly do Brasil informou que não teve acesso ao acórdão da decisão no TRF e não se pronuncia a respeito de processos ainda em julgamento.