quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Dilma demite Chioro por telefone

A conversa, que ocorreu pela manhã, foi telegráfica; a presidente apenas informou ao ministro que precisava do cargo

Estadão Conteúdo
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O ministro da Saúde, Arthur Chioro, foi demitido nesta terça-feira, 29, por telefone, pela presidente Dilma Rousseff. A conversa, que ocorreu pela manhã, fo telegráfica. A presidente apenas informou ao ministro que precisava do cargo.

Em entrevista dada ao Estado na segunda, Chioro havia afirmado que, qualquer pessoa que ficar à frente da pasta enfrentará, no próximo ano, uma situação difícil caso a proposta de Orçamento seja aprovada no Congresso da maneira que foi enviada. De acordo com ele, os recursos reservados para a área de média e alta complexidade pagam as despesas somente até setembro. O cargo de Chioro deverá ser ocupado por um integrante do PMDB. A mudança é um arranjo para o governo obter maior apoio no Congresso.

Menos de 12 horas depois de desembarcar em Brasília, Dilma já teve um primeiro encontro com seu vice, Michel Temer, na manhã desta terça-feira, 29. Os dois tiveram uma rápida reunião no Palácio do Planalto para conversar sobre a reforma ministerial.

Para superar o impasse com o PMDB, a presidente sinalizou que estaria disposta a dar sete ministérios à sigla. Até agora, ela trabalhava com o número de seis pastas. Assim, ficaria mais fácil atender à demanda dos deputados peemedebistas, que exigem comandar dois ministérios, além da bancada do partido no Senado e do grupo do vice.

No encontro, Dilma garantiu a Temer que quer prestigiar todas as alas do PMDB na reforma e disse que foi aconselhada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e outros aliados a ampliar o espaço da legenda no governo.

Segundo auxiliares de Temer, ele saiu convencido de que a presidente está disposta a resolver o problema com o PMDB e a contemplar todo o partido na reforma ministerial.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Ministro aponta possível colapso no sistema de Saúde

Arthur Chioro falou ao jornal 'O Estado de S. Paulo' sobre as negociações de seu cargo e da atual situação financeira da pasta
"Essa é uma situação que nunca foi vivida pelo Sistema Único de Saúde nos seus 25 anos", disse Chioro ( Valter Campanato/Agência Brasil )
Em entrevista concedida ao jornal 'O Estado de S. Paulo', o atual ministro da Saúde, Arthur Chioro, falou sobre sua possível saída da pasta e alertou para um provável colapso no atendimento público.
"Não temos nesse momento, da maneira como o Projeto de Lei Orçamentária foi encaminhada para o Congresso, recursos suficientes para financiar ações de média e alta complexidade", disse Chioro e afirmou que esse tipo de situação nunca foi vivida no Ministério da Saúde.
De acordo com o ministro, o problema pode afetar os pronto-socorros, as Unidades de Pronto Atendimento (UPA) e os transplantes, por exemplo, tudo por conta da falta de repasses durante três meses, que deverá ocorrer em 2016. Questionado sobre a negociação de seu cargo entre o governo e o PMDB, Chioro afirmou que só deverá conversar com a presidente quando for chamado.
"O cargo de ministro é delegação que pertence à presidente Dilma Rousseff. Vou continuar como ministro até o último segundo, exercendo da melhor forma possível minhas funções", afirmou. Para ele, o principal problema enfrentado pela área da Saúde é o subfinanciamento estrutural, o qual ele teria alertado desde que ficou no comando da pasta.
Chioro também voltou a reiterar que atual situação do Ministério é inadministrável. "Os problemas vão aparecer a partir de outubro do ano que vem", alertou.

sábado, 26 de setembro de 2015

Depois de tentar vários métodos, jovem recorre a cirurgia e perde 82 kg

Ao emagrecer, Maryane Coan, que tinha 154 kg, se livrou da hipertensão.
No início, sonhava com comida e chorava de vontade de comer.

Mariana Lenharo Do G1, em São Paulo
Pesando 154 kg, Maryane Coan já tinha experimentado vários métodos para tentar emagrecer: dietas recomendadas por nutricionistas, remédios receitados por médicos, prática de exercícios físicos e terapia. Nenhum deles foi bem sucedido e a obesidade passou a prejudicar a saúde da jovem de 24 anos, que desenvolveu um quadro de hipertensão.
Maryane se enquadrava no perfil de pacientes com indicação para a cirurgia bariátrica: com índice de massa corpórea (IMC) acima de 50, a bacharel em direito já era considerada obesa mórbida. Desde julho de 2013, quando atingiu seu peso máximo, até fevereiro de 2015, ela emagreceu 82 kg com a ajuda do procedimento, feito em dezembro de 2013.
A jovem de Santa Catarina chegou a pesar 154 kg; hoje, atingiu sua meta e pesa 72 kg (Foto: Maryane Coan/Arquivo pessoal)A jovem de Santa Catarina chegou a pesar 154 kg; hoje, atingiu sua meta e pesa 72 kg (Foto: Maryane Coan/Arquivo pessoal)
Raio-X Maryane Coan (Foto: G1)Dificuldades iniciais
Mas não foi nada fácil, segundo a jovem de Braço do Norte, em Santa Catarina.  Nos primeiros dias depois do procedimento, só podia tomar líquidos em quantidades muito pequenas de cada vez. “No período da dieta líquida, cheguei a ligar para a psicóloga porque sonhava que estava comendo, mas não podia comer, então chorava. Não era fome, era vontade de comer”, conta.
Como fez a cirurgia em dezembro, também sofreu com o calor e passou muita sede, pois o consumo de água tinha de ser fracionado. Na época do Natal, foi difícil ver a família degustando pratos natalinos enquanto ela tinha que se contentar com uma sopinha.
Cirurgia não é para todos
O endocrinologista Márcio Mancini, especialista da Regional São Paulo da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM-SP), explica que nem todos os pacientes obesos podem se submeter à cirurgia bariátrica. Primeiro, o paciente precisa ter IMC maior ou igual a 40 ou IMC maior ou igual a 35 no caso de pessoas que tenham doenças associadas que podem melhorar com a perda de peso, como hipertensão, diabete, apneia, entre outras.
A pessoa também tem de ter experimentado todas as alternativas de tratamento menos invasivas. “Não faz sentido uma pessoa que nunca tentou tratar a obesidade clinicamente com dieta, atividades físicas e medicamentos, partir direto para a cirurgia”, diz Mancini.

Dieta, remédio e terapia
Maryane – que sempre esteve acima do peso desde a infância e começou a engordar mais a partir dos 15 anos – já tinha experimentado dieta, remédio e terapia antes da decisão pelo procedimento cirúrgico. A dieta, indicada por uma nutricionista, levou à perda de 5 kg, mas ela não conseguiu levar a mudança alimentar adiante.
Ela teve a indicação de sibutramina, remédio para emagrecer que atua no sistema nervoso, mas não se adaptou. “Não cheguei a tomar nem a primeira caixa porque dava palpitação”, diz. Nem o tratamento com uma psicóloga a ajudou a perder peso, por isso decidiu se submeter à cirurgia bariátrica.
Maryane Cohen, de 24 anos, emagreceu 82 kg com ajuda de cirurgia bariátrica (Foto: Maryane Cohen/Arquivo Pessoal)Maryane, de 24 anos, emagreceu 82 kg com ajuda de cirurgia (Foto: Maryane Coan/Arquivo Pessoal)
Mas antes de passar pelo procedimento, se esforçou para fazer uma reeducação alimentar e chegou a emagrecer 23 kg em 6 meses. Por isso, estava pesando 131 kg quando entrou na sala de cirurgia.
Paladar mudou
Maryane já gostava de comer saladas, legumes, frutas e alimentos integrais. Seus pontos fracos eram as quantidades excessivas e o gosto por comidas não tão saudáveis como pizzas, salgados, lanches e doces. Depois da cirurgia, o paladar mudou e ela deixou de ter vontade de comer itens muito calóricos. Quando pensa em um doce, por exemplo, se contenta com um iogurte natural com granola e fruta.
Hoje, refeições de Maryane são leves e variadas: verduras, legumes, frutas e alimentos integrais fazem parte de sua rotina (Foto: Maryane Coan/Arquivo pessoal)Hoje, refeições de Maryane são leves e variadas: verduras, legumes, frutas e alimentos integrais fazem parte de sua rotina (Foto: Maryane Coan/Arquivo pessoal)
  
Outras coisas também mudaram com a perda de peso impulsionada pela cirurgia. Hoje, ela tem mais disposição para fazer atividades físicas e arrumar a casa por exemplo. A autoestima também é outra. “É muito bom chegar a algum lugar e a pessoa dizer o quanto você está bonita. Melhor ainda é chegar a uma loja de roupa. Agora tem muito mais opções. Tinha chegado a um ponto em que não tinha opção: se servisse, tinha que comprar. Agora quero comprar tudo”, relata.
A jovem conta que tomou a decisão de fazer a cirurgia sozinha, sob a orientação do médico. O pai, a princípio, era contra o procedimento. A mãe e o marido acreditavam que a decisão deveria ser dela. Mas, pouco antes do procedimento, a família toda foi à consulta médica com Maryane e todos se sentiram mais confiantes no procedimento. Hoje, eles têm orgulho de sua mudança.
Maryane tem mais disposição e autoestima depois de ter emagrecido 82 kg (Foto: Maryane Coan/Arquivo pessoal)Maryane tem mais disposição e autoestima depois de ter emagrecido 82 kg (Foto: Maryane Coan/Arquivo pessoal)
Acompanhamento médico
Apenas 15 dias depois da cirurgia, ela pôde deixar de tomar seus remédios diários para hipertensão, pois sua pressão voltou a níveis saudáveis.
Mancini observa que, depois de uma cirurgia bariátrica, o paciente tem que continuar sendo acompanhado por uma equipe multidisciplinar. “Ele troca um acompanhamento de um estado de má nutrição, que é a obesidade, onde os problemas são as doenças associadas à obesidade, por um outro acompanhamento que é a vigilância de desnutrição, que pode ser proteico-calórica ou de micronutrientes (de minerais e vitaminas).”
Com 72 kg, Maryane já atingiu sua meta e agora está economizando dinheiro para fazer as cirurgias plásticas necessárias para tirar o excesso de pele.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Mamografia deve ser feita a partir dos 40 anos, indica estudo

Nova pesquisa realizada por cientistas britânicos mostrou que iniciar o rastreamento nessa idade reduz em 12% o risco de morrer por câncer de mama

Exames de imagem: silicone pode ser um empecilho para o diagnóstico, segundo revisão de estudos.
Após dez anos de acompanhamento, as pacientes que começaram a fazer mamografia a partir dos 40 anos tiveram uma redução 25% no ricos de morte, em comparação com aquelas que começaram aos 50 anos(Thinkstock/VEJA)
Mulheres saudáveis que começaram a fazer a mamografia anualmente a partir dos 40 anos tiveram 12% de redução no risco de morrer por câncer de mama. É o que diz um estudo publicado recentemente na revista científica The Lancet.
A pesquisa, realizada por cientistas britânicos, avaliou dados epidemiológicos de 160.000 mulheres da Grã-Bretanha. Destas, 53.883 (grupo de intervenção) começaram a fazer o exame anualmente, a partir dos 40 anos. As outras 106.953 (grupo de controle) receberam a indicação padrão, ou seja, fizeram sua primeira mamografia aos 50 anos e repetiram o exame a cada três anos. Durante o estudo, foram registradas as ocorrências de câncer e as estatísticas de sobrevivência.
Após 17 anos de acompanhamento, os resultados mostraram que menos mulheres do grupo de intervenção morreram de câncer de mama em comparação com as do grupo de controle. As pacientes que fizeram a mamografia a partir dos 40 anos tiveram uma redução de 12% no risco de morte. Nos primeiros 10 anos de acompanhamento, essa redução foi ainda maior: 25%, em comparação com o grupo de controle.
Na Grã-Bretanha, onde o estudo foi realizado, a recomendação é que o monitoramento comece aos 50 anos, e seja refeito a cada três anos, devido a uma associação entre a doença e os efeitos da menopausa. Já no Brasil, a recomendação padrão do Instituto Nacional do Câncer (Inca) é que as brasileiras realizem a mamografia também a partir dos 50 anos, porém que o repitam com uma periodicidade de dois anos. Começar a realizar o exame na faixa etária entre 40 e 49 anos é indicado somente em casos de risco aumentado ou de exame clínico alterado.
Entretanto, Fernando Maluf, oncologista e diretor do Instituto Vencer o Câncer e chefe do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Moraes, da Beneficência Portuguesa de São Paulo, afirma que as diretrizes atuais são heterogêneas. "Muitos centros no mundo e inclusive no Brasil sugerem que o exame seja realizado a partir dos 40 anos. Essa revisão britânica comprova isso.", afirma.
"Este estudo mostrou que, para cada 1400 mulheres que fazem mamografia anualmente a partir dos 40 anos, uma morte é evitada. Estes resultados podem mudar a recomendação de vários lugares, incluindo do Inca já que essas mulheres terão uma diminuição do risco de morte por câncer, caso comecem essa avaliação mais precocemente", diz o oncologista.
(Da redação)

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Reprodução assistida CFM suspende limite de idade


Mulheres acima de 50 anos podem fazer o procedimento, desde que a paciente esteja ciente dos "riscos envolvidos" ( FOTO: VALDECIR GALOR/SMCS )
Brasília. O Conselho Federal de Medicina (CFM) suspendeu a idade limite para uma mulher ser submetida a técnicas de reprodução assistida. Agora, mulheres acima de 50 anos podem fazer o procedimento, desde que a paciente esteja ciente dos "riscos envolvidos".
O texto permite o procedimento para este público, se estiver embasado pelo médico responsável a partir de "fundamentos técnicos e científicos". Antes, cada caso deveria ser avaliado individualmente pelos Conselhos Regionais de Medicina.
A decisão altera regra de 2013, quando a idade foi fixada. De toda forma, a nova resolução aponta 50 anos como "idade máxima das candidatas", diante do aumento de riscos como hipertensão e diabetes.
"Tem uma demanda muito grande aos (conselhos) regionais. E aí ficamos sensibilizados", reconheceu Hiran Gallo, coordenador da câmara técnica de ginecologia e obstetrícia do Conselho.
Ele afirmou ainda que o grupo decidiu preservar a autonomia da paciente, "um dos princípios básicos da bioética". "Você não pode proibir esse direito", declarou. "A saúde reprodutiva tem um limite".
Divulgado ontem, o documento também permite que mulheres acima de 50 anos possam atuar como "barriga de aluguel" - prática que não pode ser comercializada. A doação temporária do útero só pode ocorrer entre familiares que tenham até o quarto grau (primos), mas prevê que "demais casos estão sujeitos à autorização do Conselho Regional de Medicina".
A nova resolução explicita ainda que casais gays femininos podem ter "gestação compartilhada" (uma mulher pode implantar o embrião gerado a partir da inseminação de um óvulo da parceira). No documento anterior, já estava expresso que a utilização da técnica era permitida em relacionamentos homoafetivos, respeitado o direito de objeção do médico.
Ficam mantidas regras como descarte de embriões congelados por mais de cinco anos e o impedimento do uso de técnicas de reprodução assistida para selecionar o sexo do bebê.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Guevedoces: o estranho caso das 'meninas' que ganham pênis aos 12 anos

Por causa de deficiência genética, homens nascem parecendo mulheres e só desenvolvem pênis na puberdade; caso levou ao desenvolvimento de medicamento que já ajudou milhões.

Michael Mosley Da BBC*
Catherine e sua prima Carla, Guevedoces da República Dominicana  (Foto: Da BBC)Catherine e sua prima Carla, Guevedoces da República Dominicana (Foto: Da BBC)
Johnny vive em uma pequena cidade na República Dominicana onde ele, assim como outros meninos, é conhecido como "guevedoce" - ou "pênis aos doze".
Como outros guevedoces, Johnny foi criado como menina porque, em vez de ter testículos ou pênis visíveis, tinha o que parecia ser uma vagina. Apenas quando ele chegou à puberdade seu pênis se desenvolveu e os testículos desceram.
Johnny, que era conhecido como Felicita, lembra de ir à escola com um pequeno vestido vermelho, apesar de dizer que nunca foi feliz fazendo coisas de menina.
"Nunca gostei de me vestir de menina e quando me davam brinquedos de menina eu nem brincava. Quando via um grupo de meninos, ia jogar bola com eles."
Quando ele se tornou claramente uma pessoa do sexo masculino, passaram a implicar com ele na escola.
"Eles diziam que eu era o diabo, coisas ruins, palavrões, e eu não tive escolha a não ser brigar com eles, porque eles estavam passando da linha."
De Carla a Carlos
Já Carla, aos sete anos, está prestes a se tornar Carlos. A mãe dele antecipou a mudança.
"Quando ela fez cinco anos percebi que, sempre que via um de seus amigos homens, queria brigar com eles. Os músculos e o peitoral dela começaram a crescer. Dava para ver que ela seria menino. Eu a amo, não importa quem seja. Menina ou menino, não faz diferença", diz a mãe.
Mas por que isso acontece?
Uma das primeiras pessoas a estudar esta condição incomum foi Julianne Imperato-McGinley, do Cornell Medical College, em Nova York.
Nos anos 1970, ela partiu para esta parte longínqua da República Dominicana, levada por relatos extraordinários de meninas que estavam virando meninos.
Ao chegar, ela descobriu que os boatos eram verdadeiros. Fez diversas pesquisas com os guevedoces (inclusive biópsias provavelmente dolorosas nos testículos deles) antes de descobrir a causa do mistério.
Quando uma pessoa é concebida, ela normalmente tem um par de cromossomos X se for virar uma menina e um par de cromossomos XY se for ser homem.
Nas primeiras semanas da vida uterina ela não é nem homem nem mulher, embora em ambos os sexos os mamilos comecem a crescer.
Então, cerca de oito semanas após a concepção, os hormônios sexuais aparecem. Se você é geneticamente homem, o cromossomo Y instrui suas gônadas a virar testículos e envia testosterona para uma estrutura chamada tubérculo, onde ela é convertida em um hormônio mais potente chamado dihidrotestosterona. Este hormônio transforma o tubérculo em um pênis.
Se você é mulher e não produz dihidrotestosterona, o tubérculo vira o clitóris.
Quando Imperato-McGinley pesquisou os guevedoces, descobriu que o fato de não terem genitália masculina ao nascer se deve à deficiência de uma enzima chamada 5-alfarredutase, que normalmente converte a testosterona em dihidrotestosterona.
Esse problema parece estar ligado a uma deficiência genética comum em parte da República Dominicana, mas rara em outros locais. Então os meninos, apesar de terem cromossomos XY, parecem mulheres quando nascem.
Na puberdade, como outros meninos, eles recebem uma segunda onda de testosterona. Desta vez o corpo responde e nascem músculos, testículos e pênis.
As pesquisas de Imperato-McGinley mostraram que, na maioria dos casos, os novos órgãos masculinos funcionam bem e a maioria dos guevedoces passa a viver como homem. Alguns, no entanto, passam por cirurgia e continuam sendo mulheres.
Medicina
Outra descoberta de Imperato-McGinley, que pode ter profundas implicações para muitos homens ao redor do mundo, foi que os guevedoces tendem a ter próstatas pequenas.
Essa observação, feita em 1974, foi aproveitada por Roy Vagelos, chefe de pesquisa da gigante farmacêutica Merck. Ele deu início a uma pesquisa que levou ao desenvolvimento do que virou um medicamente campeão de vendas, finasterida, que bloqueia a ação da 5-alfarredutase, imitando a falta de dihidrotestosterona nos guevedoces.
A finasterida é prescrita com frequência como um modo eficaz de tratar hiperplasia prostática benigna, o aumento da próstata, um problema enfrentado por muitos homens à medida que envelhecem. Também é usada para tratar calvície masculina.
Uma última observação que Imperato-McGinley fez foi que esses meninos, apesar de serem criados como meninas, em sua maioria demonstraram preferências sexuais heterossexuais. Em seu artigo, ela concluiu que os hormônios no útero tem um papel mais decisivo sobre a orientação sexual do que o tipo de criação recebido.
Esse ainda é um tópico controverso. Entre os guevedoces que encontrei, a orientação não se mostra muito definida.
Johnny teve vários casos com meninas desde que desenvolveu genitália masculina, mas ainda está procurando amor. "Queria casar e ter filhos, com uma parceira que ficasse comigo em tempos bons e ruins", diz ele.
Outro guevedoce, Mati, decidiu desde nova que, apesar de parecer menino, era menina.
*médico e jornalista. A reportagem foi feita para a série 'Countdown to Life', do canal BBC Two , que analisa como nos desenvolvemos no útero e como essas mudanças, normais e anormais, têm impacto na vida futura.

sábado, 19 de setembro de 2015

Tratamento gratuito de endometriose é realizado no Ceará

O procedimento é minimamente invasivo, preservando nervos, vasos e vias urinárias
O setor de endometriose e cirurgia minimamente invasiva da MEAC realiza de 12 a 15 cirurgias de alta complexidade por mês ( Foto: Jason Shivers/ Pixabay )
Doença caracterizada por nódulos grandes, causados por menstruação retrógrada - com fluxo que não desce normalmente, voltando para as trompas - a endometriose afeta 1 em cada 10 brasileiras. Muitas delas descobrem a doença apenas quando associam as dores à dificuldade de engravidar.
Ao ultrapassar o útero, atingindo o intestino ou a bexiga, o fluxo representa a endometriose profunda. Para o tratamento deste quadro, o primeiro serviço gratuito de atendimento multidisciplinar é realizado pela Maternidade Escola Assis Chateubriand (MEAC - UFC).
Doença pode afetar a rotina
De acordo com a ginecologista do Setor de Endometriose da MEAC, Kathiane Lustosa, a endometriose profunda não tem causa definida. “É provável que seja multifatorial, incluindo fatores genéticos com possíveis influências imunológicas”, explica.
O professor de Ginecologia e Obstetrícia do curso de medicina da Universidade Federal do Ceará, Dr. Leonardo Bezerra, comenta que, além da dor - que chega a ser incapacitante - a endometriose afeta diretamente a rotina da mulher. "No caso da endometriose profunda, como chega a atingir outros órgãos, não só os genitais, o apoio de especialistas de outras áreas é necessário”, afirma o médico.
Cirurgia minimamente invasiva
A cirurgia realizada na MEAC é videolaparoscópica. A câmera entra pelo umbigo e, com duas pequenas incisões laterais, os cirurgiões operam, visualizando tudo por dois monitores full HD.
De alta precisão, esse procedimento preserva nervos, vasos e vias urinárias, pois corta e cauteriza com energia ultrassônica, atingindo as menores áreas necessárias.
A fisioterapia complementa o tratamento porque a endometriose leva a alterações músculo-esqueléticas, causando muita dor e tensão, mesmo após a cirurgia.
“É o mesmo mecanismo da dor do membro amputado, quando a paciente tem uma memória da dor mesmo após a remoção da causa”, explica Simony Lira, fisioterapeuta da MEAC.
O ideal é começar a fisioterapia no mês seguinte à cirurgia e que o tempo de tratamento, em geral, é de 3 meses, podendo ser prolongado.
Recursos como a eletroestimulação, reeducação postural e da função dos músculos da região pélvica são os mais utilizados pela equipe de fisioterapia. Além disso, algumas medicações, também subsidiadas pelo Governo, são administradas por até 9 meses.
O setor de endometriose e cirurgia minimamente invasiva da MEAC realiza de 30 a 40 atendimentos ambulatoriais por semana e de 12 a 15 cirurgias de alta complexidade por mês.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Casos de difteria em PE deixam Ceará em alerta para a doença

Quatro diagnosticados com a doença em Pernambuco; Secretaria da Saúde pede que médicos fiquem alertas
Vanessa Madeira - Repórter
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Mais uma doença considerada erradicada na maior parte do País voltou registrar casos, neste mês, no Nordeste e colocou em alerta toda a região, inclusive o Ceará. Quatro pessoas foram diagnosticadas no Estado de Pernambuco, na última semana, com difteria, infecção bacteriana grave de transmissão respiratória que atinge principalmente crianças. Outras três notificações e um óbito estão sendo investigados. Diante do quadro, a Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) divulgou nota técnica solicitando que os profissionais de saúde fiquem atentos a possíveis sinais da doença em pacientes das unidades de atendimento a fim de prevenir ocorrências.
De acordo com o documento, o caso mais recente de difteria registrado no Ceará ocorreu em 1999 e foi o único do ano. Na época, conforme o órgão, a doença ocorria de forma endêmica. Antes disso, em 1994, 1995 e 1996, foram confirmados seis, três e quatro casos, respectivamente. A Sesa não informou se algum óbito em decorrência da infecção chegou a ser contabilizado. A nota técnica informa, ainda, que, com o aumento da cobertura vacinal de rotina, a doença foi eliminada no Estado. Neste ano, até o dia 11 de setembro, a cobertura em todos os municípios totalizou 94%.
Dentre as medidas de prevenção orientadas pela Secretaria, está a manutenção da imunização, realizada de forma sistemática nos postos de saúde. A aplicação da vacina é feita em três doses nas crianças, aos dois, quatro e seis meses de idade. Com 1 ano e três meses e 4 anos, são aplicadas as duas doses de reforço. Após essa faixa etária, deve haver reforço a cada 10 anos, pois a proteção não é definitiva.
Controle
Como forma de controle em possíveis ocorrências, o órgão recomenda a checagem da situação vacinal do paciente, a administração do soro antidiftérico com finalidade profilática, e o bloqueio vacinal nas áreas de convívio da pessoa em observação.
A reportagem solicitou à Sesa uma entrevista com representantes do órgão para falar sobre a nota, mas foi informada que o coordenador da área responsável estava viajando e não poderia se pronunciar.
Entre especialistas, a confirmação de casos de difteria em Pernambuco é vista com receio. Robério Leite, infectologista pediátrico do Hospital São José, em Fortaleza, afirma que a doença é grave e facilmente transmitida, o que pode potencializar sua disseminação. Segundo ele, algumas manifestações da enfermidade são semelhantes às de outras, por isso é necessária a atenção redobrada dos profissionais de saúde.
"O principal sintoma é a formação de placas de pus nas amígdalas. É uma doença que engana um pouco, porque o médico pode olhar, pensar que é amidalite e passar apenas um antibiótico. Mas essas placas podem invadir os tecidos e provocar uma inflamação grande, obstruindo as vias áreas", explica o médico.
Para Leite, outro fator que causa preocupação é a situação de imunização dos cearenses. Ele afirma que o surto de sarampo registrado no Estado desde 2013, após 15 anos sem casos da doença, revelou uma falha da cobertura vacinal no Ceará, que pode ter se estendido para outras infecções.
"O nosso temor é que a difteria venha na sequência, porque se falha para sarampo, falha para as outras", alerta o infectologista. "Podem existir muitas pessoas desprotegidas, porque a vacina não proporciona imunidade duradoura e precisa do reforço. E, com exceção de algumas mulheres, que, quando gestantes, tomam a vacina para proteger o bebê, muita gente, principalmente os homens, não costumam procurar o posto de saúde para prevenção", completa.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Consumo de azeite extra virgem reduz risco de câncer de mama

Segundo novo estudo, mulheres que seguem a dieta mediterrânea enriquecida com azeite de oliva extra virgem correm um risco 68% menor de desenvolver tumores nas mamas


Dieta do mediterrâneo é baseada nos alimentos característicos de alguns dos países banhados pelo mar Mediterrâneo
Seguir uma dieta mediterrânea com ingestão adicional de azeite extra virgem ou nozes também contribuiu para o aumento da expectativa de vida e redução de 30% no risco de doenças cardiovasculares nas mulheres participantes do estudo(Thinkstock/VEJA)
Seguir uma dieta mediterrânea rica em azeite de oliva extra virgem ajuda a reduzir o risco de câncer de mama. É o que diz um estudo publicado na última edição da revista científica JAMA Internal Medicine.
O novo estudo, realizado por pesquisadores da Universidade de Navarra, na Espanha, foi realizado com 4 282 mulheres, com idade média de 68 anos. Durante a pesquisa, as participantes foram divididas em três grupos que receberam as seguintes orientações: o primeiro deveria seguir a dieta mediterrânea, com consumo de uma quantidade maior de azeite extra virgem; o segundo seguiria a mesma alimentação mas, em vez do azeite, deveria consumir uma quantidade adicional de nozes; e o terceiro, denominado grupo de controle, recebeu a indicação de seguir uma dieta com baixo consumo de gordura.
Durante a pesquisa, as participantes do primeiro grupo receberam um litro de azeite de oliva por semana e as do segundo receberam 7,5 gramas de nozes e 7,5 gramas de amêndoas, também por semana. Após cinco anos, os resultados mostraram que as voluntárias do grupo do azeite reduziram em 68% seus riscos de desenvolver câncer de mama, em comparação com as participantes do grupo de controle. No entanto, não houve redução nos riscos da doença nas participantes do grupo das nozes, em comparação com aquelas que seguiram uma dieta com baixo consumo de gordura.
O estudo, que tinha como objetivo analisar os efeitos da dieta mediterrânea no risco de doenças cardiovasculares, já havia mostrado que ambas as dietas - com ingestão adicional de azeite extra virgem ou nozes - contribuíram para o aumento da expectativa de vida e da redução de 30% no risco de doenças cardiovasculares nas voluntárias.
Os pesquisadores ressaltam que todas as participantes do estudo viviam na Espanha, onde a dieta mediterrânea já faz parte da alimentação da população. Além disso, as pacientes tinham um risco aumentado de doenças cardiovasculares (foco principal do estudo) e não de câncer de mama. Por isso, eles não conseguiram determinar com certeza se os efeitos preventivos foram proveniente do consumo adicional de azeite extra virgem ou da dieta mediterrânea em si.
"Os resultados da pesquisa sugerem que há um efeito benéfico em seguir a dieta mediterrânea com um consumo adicional de azeite extra virgem na prevenção primária do câncer de mama. No entanto, estes resultados têm de ser confirmados por estudos de longo prazo com um número maior de casos incidentes", afirmou Miguel A Martínez-González, principal autor do estudo.
Dieta mediterrânea - A dieta mediterrânea é rica em frutas, verduras, legumes, nozes e castanhas, peixes, carne magra, azeite e vinho. A diferença entre o azeite de oliva extra virgem e o azeite comum é que o primeiro é extraído das azeitonas de forma mecânica, sem o uso de calor ou produtos químicos adicionais que podem alterar suas propriedades.
(Da redação)

domingo, 13 de setembro de 2015

Pesadelo sem fim

Um ano após a prisão definitiva de Roger Abdelmassih, ex-médico condenado por estuprar pacientes, suas vítimas tentam curar as cicatrizes do abuso e retomar a vida, mas ainda convivem com a dúvida sobre o paradeiro dos seus embriões

Camila Brandalise (camila@istoe.com.br)
Ao ser procurada para participar desta reportagem, a psicóloga Viviane H., 43 anos, levou três dias para responder se aceitaria posar para uma foto, como as que ilustram essas páginas. Com a negativa, veio o pedido para não divulgar nem o sobrenome e uma explicação: “Não estou pronta para me expor. Essa história me incomoda demais. Mesmo já tendo passado tantos anos, ainda ficaram muitas marcas.” O drama de Viviane começou em 1998, quando ela e o marido procuraram a clínica de reprodução de Roger Abdelmassih, então a mais famosa da América Latina, para terem um filho. Por quatro anos, Viviane se submeteu a torturantes tentativas para engravidar. Na segunda, houve sangramento e dores na região vaginal. Na terceira, hiperestimulação do ovário por excesso de hormônio. Na quarta, perfuração da uretra provocada pelas agulhas de aspiração dos óvulos. Na sexta e última, quando se levantava para ir embora, Viviane foi empurrada por Abdelmassih, que a beijou e esfregou seu órgão genital nela. A psicóloga fugiu, com medo, e nunca mais voltou à clínica. Antes do abuso, ainda, ouviu a proposta de pegar espermatozóides de outro homem para fecundar seus óvulos, pois os do marido seriam de baixa qualidade. “Vivi um pesadelo no lugar onde fui buscar um sonho e ele parece voltar sempre, em forma de pensamentos que me assombram”, diz. Desde 2014, o ex-médico celebridade está na prisão, cumprindo pena de 278 anos por estuprar mais de 50 mulheres em seu consultório. As dezenas de pacientes que viveram o horror dos abusos tentam esquecer o passado e seguir adiante. Mas as cicatrizes teimam em voltar.
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MONSTRO
Roger Abdelmassih, condenado a 278 anos de prisão
por estuprar 50 pacientes em seu consultório
O trauma que Viviane carrega é compartilhado por outras 18 vítimas de Abdelmassih, que se uniram em uma ação contra o Brasil protocolada no dia 17 de agosto na Corte Interamericana de Direitos Humanos. Elas exigem que o País crie uma legislação específica para manipulação genética e também pretendem pressionar o Estado para que se investigue o paradeiro dos embriões congelados das ex-pacientes. À frente do processo estão os advogados Eduardo de Almeida Sampaio e Martim Sampaio, diretor de direitos humanos da Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo, e Vana Lopes, 55 anos, vítima de Abdelmassih em 1993 e a primeira a denunciá-lo publicamente, cuja história deu origem ao livro “Bem-Vindo ao Inferno”, no qual relata sua caçada para encontrá-lo quando estava foragido no Paraguai. “Essas vítimas ficaram sem atendimento e nada foi feito pelo Brasil para evitar que surja um novo Roger Abdelmassih”, afirma Martim Sampaio. “Tenho um documento assinado atestando a existência de dez embriões meus, mas ninguém diz o que foi feito com eles”, diz Vana. “As outras vítimas e eu não podemos ficar sem saber o que aconteceu. É o nosso DNA que está espalhado por aí.” Em entrevista ao programa “Fantástico”, em dezembro de 2014, o filho de Abdelmassih, Vicente Ghilardi, que também trabalhava na clínica, afirmou que dois mil embriões congelados entre 1999 a 2009 estão com ele, mas alguns podem ter se perdido. Com mais 31 mulheres, Vana também assina uma carta que será enviada ao papa Francisco pedindo uma audiência para chamar atenção para os “crimes de abortos científicos cometidos contra vontade, quando em tratamento para engravidar na clínica do ex-médico estuprador Roger Abdelmassih”.
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Além das histórias envolvendo traumas por abuso sexual e das dúvidas sobre se os embriões foram descartados ou usados em outros casais, há outros casos vindo à tona marcados pela tragédia de ter passado pelas mãos de uma das maiores vergonhas da história da medicina brasileira. Em um relato surpreendente, a oficial militar M. revela ter saído da clínica após a retirada de óvulos com imagens perturbadoras em sua memória. Lembrava-se de Roger passando a mão em seu corpo e a impedindo de abrir a porta do quarto de recuperação. “Pensei na possibilidade de estupro, mas achei que seria absurdo, afinal ele era um médico altamente conceituado e procurado por políticos e artistas.” Mas outro drama ainda estava por vir. M. ficou grávida de gêmeos. Após o parto, ao acordar, perguntou ao marido como estavam as crianças, que haviam sido levadas ao Centro de Tratamento Intensivo do hospital. “Ele estava pálido e com ar preocupado. Disse que os filhos não eram seus. Perguntei como tinha certeza e ele me disse que o tipo sanguíneo era incompatível com o dele. Daquele dia em diante, ele se distanciou de mim e das crianças.” Graças a Roger Abdelmassih, a reprodução não foi só de pessoas, mas também de sofrimentos.
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Fotos: Bruno Poppe; João Castellano/Ag. Istoé; Airam Abel, FABLICIO RODRIGUES 

sábado, 12 de setembro de 2015

Um médico sem fronteiras

O paulistano Antonio Luiz de Vasconcellos Macedo faz 750 cirurgias por ano, marca imbatível no Brasil. Por zelar por seu corpo como zela pelo de seus pacientes, ele desenvolveu uma dieta e um programa de atividades físicas que o mantêm forte — e com mãos seguríssimas — em longas jornadas nas salas de operação

Por: Natalia Cuminale 
NESSUN DORMA - A ária de Puccini é a trilha sonora escolhida por Macedo (em primeiro plano) como método de concentração antes das cirurgias
NESSUN DORMA - A ária de Puccini é a trilha sonora escolhida por Macedo (em primeiro plano) como método de concentração antes das cirurgias(Egberto Nogueira/IMA Foto Galeria/VEJA)
Opera como um Deus", dizem dele os melhores médicos do Brasil. Acusam-no de operar demais, em casos desnecessários, mas é puro despeito, dito quase em tom de brincadeira, para tentar explicar os recordes do cirurgião paulistano Antonio Luiz de Vasconcellos Macedo, de 65 anos, do Hospital Albert Einstein. São 750 cirurgias por ano, portanto sessenta mensais, duas por dia. Ele calcula já ter realizado pelo menos 20 000 operações. São números quase inacreditáveis, que o próprio Macedo, avesso a qualquer celebração pública, homem discreto e calado, compara a feitos dos esportes. Diz ele: "O cirurgião não é um atleta, mas é solicitado como se fosse". Para, pensa e busca no ar uma metáfora ainda mais esclarecedora de sua rotina: "A cirurgia exige esforço semelhante ao de uma maratona". Macedo se comporta como um campeão olímpico para fazer jus à sua fama de craque dos bisturis, especializado em aparelho digestivo. Para Ben-Hur Ferraz Neto, cirurgião de fígado e pâncreas lotado na Universidade de Birmingham, na Inglaterra, outro que não descansa, Macedo "tem uma força de trabalho tão espetacular que é difícil para qualquer jovem acompanhá-lo".
Por considerar sua atividade como a de um esportista, Macedo faz do cotidiano uma travessia espartana. Um único toque de alarme do despertador, às 6h30, de segunda a segunda, o tira da cama. Uma xícara grande de café puro e amargo é a primeira refeição. A caminho do hospital, ouve no carro alguma peça para piano de Mozart ("calma", descreve) ou preferencialmente Nessun Dorma, ária de Puccini, na voz de Luciano Pavarotti, porque dali em diante nada de dormir. Mentalmente desenha o que fará durante o dia. A depender da técnica utilizada na cirurgia, ele terá de ficar sentado, praticamente imóvel, ao longo de seis horas. É assim no caso dos procedimentos robóticos, quando manipula um equipamento com 3 metros de altura e quatro braços compridos de metal que farão as vezes das mãos humanas sobre o corpo do paciente, o que é comum na extração de tumores no pâncreas, nos rins e nos intestinos. Em operações convencionais, não é raro ele permanecer por nove horas em pé, manipulando o doente.
Meticuloso, preciso, cuidadoso, Macedo trata de seu corpo como se fosse o de seus pacientes. Ao se aproximar dos 60 anos, sentiu uma natural queda no vigor. Sofria com gripes constantes, que chegavam a incomodar durante vinte dias. O pequeno sinal de debilidade dificilmente afetaria a qualidade do trabalho. Mas foi o suficiente para que o médico mudasse o estilo de vida de maneira drástica. Passou a devorar artigos científicos sobre alimentação, atividade física e taxas sanguíneas. Estudioso compulsivo, leu 25 pesquisas científicas. O objetivo era criar um programa de saúde personalizado que lhe permitisse recuperar a disposição para as longas e duras jornadas de trabalho. Como não havia um Macedo que tratasse dele, fez tudo solitariamente.
Um dos maiores desafios era permanecer por horas a fio em jejum sem ficar com fome nem se sentir fraco. A questão foi resolvida da seguinte forma: passou a seguir a ferro e fogo o jejum, sem concessão nem mesmo à badalada barrinha de cereal. A medida teve como base o princípio fisiológico de que em longos períodos de privação alimentar perde-se a fome. Há uma lógica - o hábito do jejum faz com que o organismo fabrique um produto químico chamado corpo cetônico. Esse composto, feito de gordura corporal, tem duas funções primordiais. Uma delas é dar energia ao coração e ao cérebro ante a carência alimentar. A outra é inibir a ação do hipotálamo, região cerebral administradora da fome. Macedo ainda queria evitar mais uma condição resultante do consumo de alimentos durante a cirurgia. Comer estimula a liberação de serotonina no cérebro, substância do relaxamento, atalho para a perigosa desatenção.
A alimentação do cirurgião é regradíssima. Macedo adotou um programa inspirado na chamada "dieta paleolítica". Criado em 1975 pelo gastroenterologista americano Walter L. Voegtlin, o regime prega um retorno à alimentação dos homens pré-históricos. Dez anos depois, os médicos americanos Melvin Konner e Boyd Eaton consolidaram o modelo em artigo na revista The New England Journal of Medicine: só se devem ingerir os alimentos que nossos ancestrais consumiam. Incluem-se carnes magras, frutas, raízes e vegetais. Excluem-se os produtos industrializados. Macedo faz raras exceções. Vez ou outra come quatro quadradinhos de chocolate amargo e degusta duas taças de vinho. Evita ao máximo o sabor dos alimentos feitos com farinha branca, os chamados carboidratos simples. Os compostos aumentam subitamente a taxa de insulina, o hormônio que carrega a glicose para dentro das células. O pico da substância no organismo estimula a fome.
O médico ainda precisava ganhar músculos na medida certa para um cirurgião. Sem exageros, portanto. Braços pesados demais podem atrapalhar o manejo dos instrumentos. Para isso, Macedo passou a seguir um programa específico de exercícios. Praticada em uma academia montada no porão de casa, a musculação não vai além de meia hora. Períodos mais longos estimulam no organismo a produção de hormônios que prejudicam a formação do tecido muscular. A ginástica é feita sempre à noite. O esforço pela manhã causa pequenos tremores temporários nas mãos, algo inimaginável para um cirurgião.
Macedo está habituado aos desafios, e às tentativas de superá-los, desde os tempos de menino. Aos 12 anos, ao cair de um cavalo, sofreu uma paralisia do lado direito do rosto. Logo depois do acidente, seus pais acharam que o "sorriso de lado" era uma imitação de John Wayne, o ator predileto do filho. Des­co­briu-se mais tarde ser uma lesão incontornável, diagnosticada por um médico amigo da família. O acidente fez Macedo seguir a medicina, para entender como funciona o organismo humano e que há poesia entre sangue e músculos. A correção associada à timidez faz de sua agenda um livro fechado - e, ao contrário de um mau hábito disseminado, ele se recusa a citar o nome de famosos que passaram por suas mãos (Silvio Santos, Fausto Silva, Dercy Gonçalves e Ana Maria Braga, entre tantos outros). Ele apenas aceitou aparecer em fotografia ao lado de Hebe Camargo, em 2012, a quem operara para a extração de um tumor cancerígeno na região abdominal, porque a força de persuasão da apresentadora era lendária - e só ela mesmo poderia quebrar o gelo de um homem incapaz de brilharecos, mas sinônimo de certeza e segurança. Nas palavras do prêmio Nobel de Literatura Saul Bellow (1915-2005), mestre em entender os desvãos do ser humano: "Com um romancista, como com um cirurgião, você tem de ter a sensação de ter caído em boas mãos - alguém de quem você pode aceitar o anestésico com confiança".

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Suíça é o melhor país para idosos viverem. Brasil está em 56º lugar

É o que revela o novo levantamento da Global AgeWatch Index 2015, realizado pela organização HelpAge International, em parceria com a Universidade de Southampton, nos Estados Unidos

O cérebro dos idosos não perde para o dos jovens em velocidade em algumas tarefas
Os autores atribuíram a liderança da Suíça às suas políticas e programas nacionais que promovem a saúde e um ambiente favorável aos idosos(Thinkstock/VEJA)
A Suíça foi avaliada como o melhor país no mundo para os idosos viverem, seguido pela Noruega, Suécia e o Canadá. O Brasil ficou em 56º lugar no ranking, subindo duas posições em relação ao ano anterior. O Afeganistão foi avaliado como o pior país para pessoas com mais de 60 anos. Os dados são do levantamento anual Global AgeWatch Index 2015, realizado pela organização HelpAge International, em parceria com a Universidade de Southampton, nos Estados Unidos.
O relatório incluiu 96 países e representou 91% das pessoas com mais de 60 anos no mundo. O indicador avaliou o bem-estar social e econômico dos idosos por meio de critérios como renda, saúde, educação, emprego e ambiente favorável.
"O indicador nos permite comparar não apenas a renda e a saúde, mas também os ambientes em que vivem os idosos", disse Asghar Zaidi, pesquisador da Universidade de Southampton.
Os autores atribuíram a liderança da Suíça às políticas e programas nacionais do país. Com o Afeganistão é o oposto. O país conta com poucas políticas que visam promover o bem-estar dessa faixa etária da população.
Além disso, o estudo também revelou dados importantes sobre o envelhecimento da população mundial. A comparação do ranking atual com os mais antigos mostrou que houve um aumento na desigualdade da qualidade de vida da população idosa em diferentes países. A diferença entre a maior e a menor expectativa de vida aos 60 anos passou de 5,7 anos em 1990, para 7,3 anos em 2012. O relatório também apontou que as mulheres são mais vulneráveis à pobreza na terceira idade. Os autores atribuem este fato à discriminação de gênero e à desigualdade.
Brasil - O setor em que o Brasil foi melhor avaliado foi o da garantia de renda para os idosos: o Brasil ficou em 13º entre os 96 países avaliados pela pesquisa. Em compensação, o país ficou na 87ª posição no ranking no quesito "ambiente favorável para os idosos". Alguns dos fatores que contribuíram para essa avaliação foram baixa satisfação em relação à segurança e ao transporte público.
Em comparação com os outros países da América Latina presentes no relatório, o Brasil ficou a frente apenas do Paraguai (69º lugar). Os países melhor posicionados foram: Panamá (20º), Chile (21º), Uruguai (27º), Costa Rica (28º), Argentina (31º), México (33º), Colômbia (36º), Equador (44º), Peru (48º), El Salvador (54º) e Bolívia (55º).
(Da redação)

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Novo exame de sangue consegue revelar a idade biológica do corpo

método, desenvolvido por pesquisadores britânicos, identifica o ritmo do envelhecimento. O achado poderá ser utilizado tanto na medicina como nos cálculos dos seguros de saúde

Videogame: treinamento ajudou a melhorar o desempenho da função cognitiva de idosos
De acordo com os cientistas, há uma marca de idade comum a todos os nossos tecidos, e isso parece ser um prognóstico para diversas coisas, incluindo longevidade e declínio cognitivo(Thinkstock/VEJA)
Cientistas britânicos desenvolveram um exame de sangue que pode identificar a idade biológica de uma pessoa e revelar se seu corpo está envelhecendo bem ou mal. É o que diz um estudo publicado nesta terça-feira, no periódico científico Genome Biology.
O novo teste, desenvolvido por pesquisadores do King's College de Londres, na Inglaterra, procura por uma "marca de idade" nas células do corpo ao comparar o comportamento de 150 genes. De acordo com os autores, a idade biológica pode ajudar a identificar os riscos de uma pessoa desenvolver doenças como o Alzheimer e até mesmo prever quando ela irá morrer.
Pesquisa - Para o desenvolvimento do teste, os pesquisadores compararam, inicialmente, 54 mil marcadores de atividade de genes em pessoas saudáveis, mas sedentárias, entre 25 e 65 anos. Eles identificaram um padrão de ativação em 150 genes que precisavam "estar no lugar certo" para um envelhecimento saudável.
"Há uma marca de idade comum a todos os nossos tecidos, e isso parece ser um prognóstico para diversas coisas, incluindo longevidade e declínio cognitivo. Aparentemente, a partir dos 40 anos isso pode ser usado como indicativo do envelhecimento", disse Jamie Timmons, pesquisador do King's College London e um dos autores do estudo.
De acordo com os autores, "saúde" e "idade" são duas coisas diferentes. Por exemplo, os resultados mostraram grandes diferenças nas pontuações de pessoas com apenas um ano de idade de diferença entre si, sugerindo que a "idade biológica" difere consideravelmente da "idade cronológica".
Aqueles com as piores pontuações também estavam muito mais propensos a sofrer de declínio mental e saúde precária, como a perda da função renal. Em particular, os pacientes diagnosticados com doença de Alzheimer tinham pontuações muito baixas, em comparação com os que não tinham a doença, o que sugere uma associação significativa entre a "idade biológica" e a doença.
Em uma segunda fase da pesquisa, os cientistas realizaram o novo exame em um grupo de homens suecos de 70 anos. Com os resultados, eles conseguiram identificar quem estava envelhecendo bem e quem estava envelhecendo muito rápido.
"Conseguimos, de fato, selecionar pessoas com risco maior de morte", disse Timmons.
A equipe acredita que o exame possa ser útil nas áreas de medicina, já que pode ser uma ferramenta útil na previsão do início da demência; de aposentadoria e seguros, para o cálculo e concessão de benefícios.
(Da redação)

domingo, 6 de setembro de 2015

Teste usa 10 indicadores para detectar sinais de Alzheimer em 5 minutos

Questionário de múltipla escolha foi desenvolvido por médico americano e pode ser conduzido por pessoas sem especialização, mas não substitui diagnóstico formal.

Alejandra Martins BBC Mundo
Galvin e sua equipe desenvolveram o Sistema Rápido de Avaliação da Demência (Foto: Florida Atlantic University/ BBC)Galvin e sua equipe desenvolveram o Sistema Rápido de Avaliação da Demência (Foto: Florida Atlantic University/ BBC)
Um neurologista dos Estados Unidos desenvolveu um teste de apenas dez perguntas que pode detectar, em cerca de cinco minutos, os primeiros sinais do Mal de Alzheimer.
Segundo o pesquisador, o teste não é um diagnóstico de Alzheimer ou outras formas de demência, mas pode "identificar cedo mudanças cognitivas associadas a demências comuns como Alzheimer (...) ou outros problemas como depressão, traumas cerebrais e disfunções causadas por medicamentos".
O estudo do médico foi publicado na Alzheimer's and Dementia, revista da Associação de Alzheimer dos EUA.
O teste foi distribuído a clínicas nos EUA e está disponível no final deste texto.
A combinação de provas cognitivas mais usada atualmente para diagnosticar a demência - conhecida como "regra de ouro", ou "gold standard" - pode levar cerca de duas horas se for realizada por um médico experiente. O novo teste pode ser conduzido por não especialistas como parentes e cuidadores.
James E. Galvin, ex-professor da Universidade de Nova York, é atualmente pesquisador do Colégio de Medicina da Universidade Florida Atlantic, em Boca Ratón.
Galvin e sua equipe usaram seu teste, chamado "Sistema Rápido de Avaliação da Demência" (QDRS, na sigla em inglês), em cerca de 300 pacientes, que também foram avaliados pelo método tradicional.
"Análises estatísticas rigorosas demonstram a validade do QDRS não apenas para distinguir indivíduos com ou sem demência, mas para determinar em que fase da doença eles estão", disse Galvin à BBC Mundo, site da BBC em espanhol.
Dez perguntas e suas limitações
A demência é um termo genérico que descreve uma perda progressiva de funções e capacidades cognitivas que interferem com a habilidade de uma pessoa em ser independente, explicou o cientista.
"O Alzheimer é a causa mais comum da demência, mas há mais de cem causas", disse. "Neste estudo também incluímos demências por outras causas, como a demência vascular, a degeneração lobar frontotemporal (doença degenerativa marcada por mudanças no comportamento e personalidade) e a demência com Corpos de Lewy (doença degenerativa que inclui sintomas do mal de Parkinson)."
O questionário do médico inclui dez perguntas de múltipla escolha, com cinco opções de resposta cada, descrevendo sintomas que vão desde envelhecimento normal até demência severa (veja abaixo).
Cada pergunta cobre áreas diferentes - de memória a comunicação, orientação, higiene, atenção e concentração, entre outras.
 
A pontuação final vai de 0 a 30, e números mais elevados indicam um maior impedimento cognitivo.
"A grande limitação é a confiabilidade de quem preenche o questionário, de ser alguém que não prestou atenção aos detalhes, ou não conhece bem o paciente, nega-se a aceitar a presença da doença ou tem algum interesse pessoal de que o paciente seja declarado incapaz", explicou Galvin à BBC.
Já a vantagem do novo teste, acrescentou, é sua rapidez.
"Ele permite detectar a doença em suas primeiras etapas, quando é mais provável que as intervenções sejam mais eficientes."
Ele advertiu que uma pontuação alta no teste deve ser seguida por uma visita a um especialista.
"Mas em lugares onde há poucos especialistas, o teste pode ajudar o paciente a ter acesso rápido a diferentes serviços ou determinar, de forma sucinta, como o paciente está respondendo à terapia, se a doença está progredindo ou não", prosseguiu Galvin.
Brasil
A América Latina é uma das regiões que serão mais impactadas pelo aumento dos casos de demência, segundo o relatório Demência na América, publicado em 2013 pela ONG Alzheimer's International.
A publicação diz que o número de pessoas com a doença "subirá na América Latina dos 7,8 milhões atuais para mais de 27 milhões em 2050".
No Brasil, estima-se que haja 1,2 milhão de pessoas com Alzheimer - menos da metade delas diagnosticada -, diz à BBC Brasil o neurologista Rodrigo Schultz, coordenador do ambulatório de demência grave da Unifesp e diretor científico da Associação Brasileira de Alzheimer.
Ele diz que, embora o novo teste americano não possa ser considerado um diagnóstico preciso - que requer uma análise mais detalhada de por que o paciente pode estar tendo perda de memória -, trata-se de uma ferramenta importante para alcançar um público mais amplo.
"Pode ser um grande benefício em um país em que muitos não tenham acesso a neurologistas. Um médico de família pode fazer as perguntas (do teste) e, dependendo das respostas, encaminhar o paciente para um serviço de referência."
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PERGUNTAS E PONTUAÇÕES DO SISTEMA RÁPIDO DE AVALIAÇÃO DA DEMÊNCIA:
O teste avalia mudanças nas habilidades cognitivas e funcionais do paciente. Você deve comparar o paciente agora com como ele costumava ser - a questão central é a mudança. Em cada categoria, escolha a frase que melhor descreve o paciente e anote quantos pontos ela vale. Some os pontos de cada questão e veja, ao final do teste, o que essa pontuação significa.
Nem todas as características precisam estar presentes para que a resposta seja escolhida.
MEMÓRIA
0 ponto - Não há perda de memória óbvia. Esquecimentos irregulares que não interferem com as atividades diárias
0,5 ponto - Esquecimento leve e regular ou parcial de eventos, que pode interferir com atividades diárias; repete perguntas e frases, coloca objetos em lugares incomuns; esquece compromissos
1 ponto - Perda de memória leve a moderada, mais perceptível quando se trata de eventos recentes; interfere com as atividades diárias
2 pontos - Perda de memória moderada a severa; novas informações são rapidamente esquecidas; só lembra de informações aprendidas com muito esforço
3 pontos - Perda de memória severa; quase impossível recordar novas informações; memória de longo prazo pode estar afetada
ORIENTAÇÃO
0 - Plenamente orientado quanto a pessoas, espaço e tempo praticamente sempre
0,5 - Leve dificuldade em manter controle do tempo; pode esquecer datas com mais frequência do que no passado
1 - Dificuldade leve a moderada em acompanhar o tempo e sequências de eventos; esquece o mês do ano; orientado em locais familiares, mas fica confuso fora de espaços conhecidos; perde-se e fica vagando
2 - Dificuldade moderada a severa; geralmente desorientado quanto a tempo e espaço (familiar ou não); frequentemente tem dificuldade em lembrar do passado
3 - Orientado apenas quanto ao próprio nome, ainda que possa reconhecer parentes
TOMADA DE DECISÕES E RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS
0 - Resolve problemas cotidianos sem dificuldades; lida bem com questões pessoais e financeiras; habilidades de tomada de decisões consistentes com seu histórico
0,5 - Leve debilidade (ou maior demora) na resolução de problemas; dificuldade com conceitos abstratos; decisões ainda coerentes
1 - Dificuldades moderadas em lidar com problemas e tomar decisões; delega muitas decisões a terceiros; percepção e comportamento sociais podem estar levemente comprometidos; perda de discernimento
2 - Gravemente debilitado em lidar com problemas, tomando apenas decisões pessoais simples; percepção e comportamento sociais frequentemente debilitados; sem discernimento
3 - Incapaz de tomar decisões ou resolver problemas; terceiros tomam quase todas as decisões para ele ou ela
ATIVIDADES FORA DE CASA
0 - Leva adiante sua profissão de forma independente, realiza compras, atividades comunitárias e religiosas, voluntárias e em grupos sociais
0,5 - Leve debilidade nessas atividades se comparado a desempenhos prévios; leve mudança nas habilidades como motorista; ainda capaz de lidar com situações de emergência
1 - Incapaz de funcionar de modo independente, mas ainda capaz de acompanhar compromissos sociais; parece "normal" a terceiros; mudanças perceptíveis nas habilidades como motorista; preocupações quanto à habilidade dela de lidar com situações de emergência
2 - Sem habilidade de praticar atividades fora de casa de forma independente; parece bem o suficiente para ser levado para atividades exteriores, mas geralmente precisa estar acompanhado
3 - Incapaz de praticar atividades de forma independente; parece muito doente para ser levado a atividades fora de casa
HABILIDADES EM CASA E HOBBIES
0 - Atividades em casa, hobbies e interesses pessoais mantidos em relação ao comportamento prévio
0,5 - Leve debilidade ou perda de interesse nessas atividades; dificuldade em operar equipamentos (sobretudo os mais novos)
1 - Debilidade leve porém definitiva em casa e em hobbies; abandonou tarefas de maior dificuldade, bem como hobbies e interesses mais complexos
2 - Preservadas apenas as atividades diárias mais simples; interesse muito restrito em hobbies, cumprido com pouco rigor
3 - Sem habilidade significativa em tarefas domésticas ou em hobbies prévios
HÁBITOS DE HIGIENE PESSOAL
0 - Totalmente capaz de se cuidar, vestir, lavar, tomar banho, usar o banheiro
0,5 - Mudanças leves nas habilidades com essas atividades
1 - Precisa ser lembrado de ir ao banheiro, mas consegue fazê-lo de forma independente
2 - Precisa de ajuda para se vestir e limpar; ocasionalmente incontinente
3 - Requer considerável ajuda com a higiene e cuidado pessoal; incontinência frequente
MUDANÇAS DE COMPORTAMENTO E PERSONALIDADE
0 - Comportamento social apropriado, nas esferas pública e privada; nenhuma mudança na personalidade
0,5 - Mudanças questionáveis ou muito leves em comportamento, personalidade, controle emocional, pertinência das escolhas
1 - Mudanças leves em comportamento ou personalidade
2 - Mudanças moderadas em comportamento ou personalidade, afetando a interação com as pessoas; pode ser evitado por amigos, vizinhos ou parentes distantes
3 - Severas mudanças de comportamento ou personalidade, tornando inviáveis ou desagradáveis as interações com terceiros
HABILIDADES DE LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO
0 - Nenhuma dificuldade de linguagem ou esquecimento de palavras; lê e escreve tão bem quanto no passado
0,5 - Dificuldade leve porém mostra consistência em encontrar as palavras ou termos descritivos; pode levar mais tempo para completar raciocínio; leves problemas de compreensão; conversação debilitada; pode haver efeitos sobre leitura e escrita
1 - Dificuldade moderada em encontrar as palavras certas; incapaz de nomear objetos; notável redução em vocabulário; compreensão, conversação, leitura e escrita reduzidas
2 - Debilidades moderadas ou severas na fala ou na compreensão; dificuldade em comunicar pensamentos aos demais; habilidade limitada em leitura e escrita
3 - Deficits severos em linguagem e comunicação; pouca ou nenhuma fala compreensível
HUMOR
0 - Nenhuma mudança de humor, interesse ou motivação
0,5 - Ocasionais momentos de tristeza, depressão, ansiedade, nervosismo ou perda de interesse/motivação
1 - Questões moderadas porém diárias com tristeza, depressão, ansiedade, nervosismo ou perda de interesse/motivação
2 - Questões moderadas com tristeza, depressão, ansiedade, nervosismo ou perda de interesse/motivação
3- Questões severas com tristeza, depressão, ansiedade, nervosismo ou perda de interesse/motivação
ATENÇÃO E CONCENTRAÇÃO
0 - Atenção normal, concentração e interação com o meio que o rodeia
0,5 - Problemas leves de atenção, concentração ou interação com o ambiente; pode parecer sonolento durante o dia
1 - Problemas moderados de atenção e concentração; pode ficar olhando fixamente para um ponto no espaço ou de olhos fechados durante alguns períodos; crescente sonolência durante o dia
2 - Passa parte considerável do dia dormindo; não presta atenção ao seu redor; quando conversa diz coisas sem lógica ou que não têm relação ao tema
3 - Habilidade limitada ou inexistente para prestar atenção ao ambiente externo.
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PONTUAÇÃO: O teste não equivale a um diagnóstico médico. A pontuação final vai de zero a 30, e pontuações mais altas sugerem maior perda cognitiva. Os padrões de avaliação, a partir da aplicação do teste em 267 pacientes, indicam que:
Normal: 0-1 pontos
Leve debilidade cognitiva: 2 a 5 pontos
Demência leve: 6 a 12 pontos
Demência moderada: 13 a 20 pontos
Demência severa: 20 a 30 pontos
Pontuações altas indicam que o paciente deve passar por uma avaliação médica para um diagnóstico formal. Pontuações "normais" sugerem que é improvável que o paciente sofra de demência, mas é possível também que a doença esteja em estágios muito iniciais. Caso haja suspeitas de demência por outros motivos, é bom buscar ajuda profissional.
(O teste é de autoria de James E Galvin e New York University Langone Medical Center)

sábado, 5 de setembro de 2015

Cresce número de homens que retiram as mamas para evitar câncer

De acordo com novo estudo, o índice de homens optam pela dupla mastectomia preventiva para evitar câncer de mama aumentou de 3% para 5,6%

Tórax masculino
De acordo com os pesquisadores, a dupla mastectomia só é recomendada para uma pequena proporção de homens e a taxa observada no estudo supera essa proporção(Istock/Getty Images)
O número de homens americanos com câncer de mama que optam pela dupla mastectomia aumentou de 3%, em 2004, para 5,6% em 2011. É o que diz um estudo publicado na última edição da revista científica JAMA Surgery.
A pesquisa, conduzida pela Sociedade Americana de Câncer e o Instituto Dana Faber para o Câncer, incluiu dados de 6 332 homens. Embora os pesquisadores não saibam afirmar os motivos dessa tendência, eles acreditam que seja uma combinação de fatores: garantir a prevenção máxima para evitar o surgimento da doença, o aumento da disponibilidade de testes genéticos e o "efeito Angelina Jolie", que retirou as mamas de forma preventiva.
De acordo com os autores, o mesmo padrão de comportamento já havia sido observado em mulheres. Eles ressaltam, contudo, que esse tipo de procedimento - retirar uma mama que está saudável - nem sempre é necessário.
"A operação só é recomendada para uma pequena proporção de homens (que tem a mutação no gene BRCA) e a taxa observada no estudo é maior que essa proporção. Além disso, há uma falta de evidências que sugerem que tais mastectomias ajudam os pacientes a viver mais tempo", afirmou Ahmedin Jemal, vice presidente de vigilância e serviços pesquisa de saúde da Sociedade Americana de Câncer e principal autor do estudo, ao site especializado Live Science.
Os pesquisadores descobriram que, em média, os homens que optaram pelo procedimento, eram mais jovens do que aqueles que não o fizeram. A taxa de dupla mastectomia também foi diminuindo conforme a idade dos pacientes aumentava.
De acordo com a Sociedade Americana de Câncer, o tumor de mama é 100 vezes mais comum em mulheres do que em homens, mas não é exclusivo delas como o câncer de ovário. Nos Estados Unidos, são estimados cerca de 2 350 novos casos de câncer de mama em homens, em 2015.
(Da redação)

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Ser obeso aos 50 anos pode antecipar surgimento de Alzheimer, diz estudo

Pesquisa monitorou 1.400 pessoas durante 14 anos.
Os que desenvolveram Alzheimer tinham um peso maior aos 50 anos.

Da France Presse
Sobrepeso (Foto: Roos Koole/ANP MAG/ANP/Arquivo AFP)Ser obeso aos 50 anos pode acelerar surgimento do Alzheimer, segundo estudo (Foto: Roos Koole/ANP MAG/ANP/Arquivo AFP)
  
Ser obeso ou ter sobrepeso aos 50 anos pode antecipar o surgimento da doença de Alzheimer, segundo um estudo publicado nesta terça-feira (1º) na revista médica "Molecular Psychiatry", publicação do grupo Nature.
A aceleração seria de 6,7 meses a cada aumento de um ponto do índice de massa corporal (IMC), calculou uma equipe de pesquisadores americanos, canadenses e taiwaneses.
A equipe estudou durante 14 anos cerca de 1.400 pessoas normais no plano cognitivo que viviam na região de Baltimore, no estado de Maryland, nos Estados Unidos. Elas foram submetidas regularmente a avaliações neuropsicológicas.
Entre elas, 142 desenvolveram a doença de Alzheimer e os pesquisadores demonstraram que tinham um IMC mais elevado quando tinham 50 anos, e que isso se associava ao surgimento mais precoce da doença.
O IMC é a relação entre a altura e o peso. Um índice superior a 30 é considerado como índice de obesidade no adulto. Para um índice situado entre 25 e 30, fala-se de sobrepeso.
O envelhecimento é o principal fator de risco das doenças neurodegenerativas como o Alzheimer. Também influenciam a diabetes, a hipertensão e a falta de exercício.
Segundo a OMS, há 47,5 milhões de pessoas afetadas por demência senil no mundo, com 7,7 milhões de novos casos todos os anos.

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Estudo desvenda como veneno de vespa brasileira mata célula de câncer

oxina leva à formação de 'buracos' na membrana de células cancerígenas.
Mecanismo pode levar ao desenvolvimento de novas drogas contra câncer.

Do G1, em São Paulo
Vespa Polybia paulista tem veneno que contém toxina anticancerígena  (Foto: Mario Palma/Unesp)Vespa Polybia paulista tem veneno que contém toxina anticancerígena (Foto: Mario Palma/Unesp)
A ciência já conhecia as propriedades anticancerígenas do veneno da vespa brasileira Polybia paulista, que se mostrou eficaz em coibir a proliferação de células de câncer de próstata e bexiga, bem como de leucemia. O que não se sabia era como a toxina presente no veneno conseguia atacar seletivamente determinadas células de câncer, deixando intactas as células normais.
  
Uma pesquisa desenvolvida a partir de uma parceria entre a Universidade Estadual Paulista (Unesp) e a Universidade de Leeds, no Reino Unido, descobriu o mecanismo de ação da toxina, abrindo o caminho para o desenvolvimento de uma nova classe de drogas para tratamento de câncer. Os resultados foram publicados na revista científica “Biophysical Journal” nesta terça-feira (1º).
Nas células cancerígenas, existem dois tipos de lipídios que ficam do lado de fora da membrana das células. Em células normais, esses lipídios ficam localizados do lado de dentro da membrana. O que a toxina MP1 faz é interagir com esses lipídios que por acaso só estão "acessíveis" nas células cancerígenas.
O resultado dessa interação é a formação de “buracos” na membrana da célula cancerígena, mecanismo que acaba levando à morte das células.
“Uma terapia de câncer que ataque a composição lipídica da membrana da célula seria uma classe completamente nova de drogas anticancerígenas”, disse um dos autores do estudo, Paul Beales, da Universidade de Leeds. “Isso poderia ser útil no desenvolvimento de novas combinações de terapias, onde múltiplas drogas são usadas simultaneamente para tratar câncer ao atacar diferentes partes das células de câncer simultaneamente.”
Os pesquisadores puderam testar esse mecanismo de ação em modelos de membranas criadas em laboratório, que continham esses tipos de lipídio. A exposição dessa membrana à ação da toxina MP1, do veneno da vespa, revelou à formação de poros que, em uma célula de verdade, levaria à sua morte.
Segundo os autores, a toxina tem o potencial para ser um tratamento seguro contra câncer, mas mais pesquisas são necessárias para desenvolver um medicamento.