terça-feira, 31 de julho de 2018

Ceará- 61 cidades têm risco alto para retorno do vírus do sarampo

Outras 67 apresentam médio risco e 56 possuem baixas chances de voltarem a ser afetadas pela doença
por Vanessa Madeira - Repórter
A campanha de imunização de 2018 contra a doença terá início no próximo dia 6. A coordenadora da Sesa destaca que a vacinação é a medida mais eficaz para evitar a reintrodução do vírus e o surgimento de novos casos ( FOTO: JOSÉ LEOMAR )
Com casos confirmados em seis estados brasileiros neste ano, o sarampo continua representando ameaça ao Ceará. Mesmo sem ocorrências da enfermidade desde 2015, quando chegou ao fim o surto de dois anos registrado no Estado, mais de 30% dos municípios cearenses apresentam risco alto ou muito alto para a reintrodução do vírus da doença, conforme revela análise da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa).
Segundo o órgão, sete cidades possuem risco considerado muito alto e 54 têm risco alto de registrarem novos casos da doença caso o vírus volte a circular no Ceará. Outras 67 apresentam médio risco e 56 possuem baixas chances de voltarem a ser afetadas pelo sarampo.
A análise leva em conta indicadores relacionados à qualidade do programa de imunização e da vigilância epidemiológica, como a taxa de abandono entre as duas doses da vacina contra a infecção, e características intrínsecas dos municípios, como densidade populacional e presença de zonas vulneráveis. A estrutura organizacional para resposta na rede de saúde pública também é avaliada a partir de dados sobre a cobertura da Estratégia de Saúde da Família (ESF) e também dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS).
Conforme explica a coordenadora de Vigilância e Saúde da Sesa, Daniele Queiroz, o Ceará foi o único estado do País cuja cobertura vacinal contra o sarampo atingiu, no ano passado, a meta de 95% estipulada pelo Ministério da Saúde. O grande alcance da imunização garante maior proteção da população contra um novo surto. No entanto, aspectos próprios de determinados municípios, a exemplo do nível de urbanização e de adensamento populacional, são favoráveis à proliferação do vírus.
"Esses estudos começaram a ser realizados depois da epidemia e servem para nortear as ações do período seguinte. Como nós não temos sarampo, não podemos avaliar o resultado da vigilância pelos casos. Por isso, utilizamos esses indicadores", afirma Daniele. "Municípios com alta taxa de urbanização têm maior risco, assim como os de maior densidade demográfica, porque a aglomeração de pessoas aumenta o risco de disseminação caso o vírus chegue", completa a coordenadora.
A Sesa fez visitas técnicas a 48 municípios com classificação de risco entre alto e muito alto para planejar estratégias de vacinação de públicos mais vulneráveis. A campanha de imunização de 2018 contra a doença terá início no próximo dia 6. Daniele Queiroz destaca que a vacinação é a medida mais eficaz para evitar a reintrodução do vírus e o surgimento de novos casos. A cobertura de 95% do público-alvo, segundo a coordenadora da Sesa, assegura que o vírus não volte a circular no Estado.
Para atingir a meta, contudo, é preciso combater a taxa de abandono vacinal. Por se tratar de uma imunização com duas doses, é comum que parte da população inicie o esquema vacinal, mas não o finalize. "A estratégia que será lançada em agosto é justamente para corrigir qualquer falha que exista na cobertura vacinal. É a oportunidade de colocar em dia a caderneta de vacinação de crianças de 1 ano até menores de 5 anos e de adultos", afirma Daniele.
A coordenadora ressalta que a vacinação contra o sarampo também abrange a população de 12 a 49 anos de idade. Pessoas na faixa etária de 12 a 29 anos precisam receber duas doses da vacina para serem consideradas protegidas contra o sarampo. Já aquelas com idade entre 30 e 49 anos precisam apenas de uma dose.
Fique por dentro
Fim do surto completa três anos
Este mês de julho marca três anos do fim do último surto de sarampo registrado no Ceará. A epidemia ocorreu entre 2013 e 2015, quando foram contabilizados 916 casos da doença. Na época, o Estado se encontrava há 15 anos sem ocorrências. A cadeia de transmissão do vírus só foi interrompida em julho de 2015, após intensificação da vacinação nos municípios cearenses, com a realização de buscativas de pessoas não imunizadas. No ano seguinte, a Organização Pan-americana de Saúde (Opas) deu por encerrado o surto.

segunda-feira, 30 de julho de 2018

Poliomielite: vacina é única ação contra reintrodução do vírus

Ministério da Saúde chama atenção para coberturas vacinais abaixo de 50% no País. No Ceará, pessoas que tiveram a doença relatam vida de dificuldades em decorrência das sequelas
por Renato Bezerra - Repórter
pólio
Benvinda Sá contraiu a pólio e hoje enfrenta diversas dificuldades no dia a dia ( FOTO: HELENE SANTOS )
Para a nutricionista Eveline Silva, 52, ter deixado de tomar apenas uma dose do esquema vacinal contra a poliomielite, doença infectocontagiosa viral aguda conhecida como paralisia infantil, foi o suficiente para resultar numa vida inteira de limitações e dificuldades. Após contrair a doença aos 11 meses de idade, acabou ficando com quadro paralítico irreversível dos membros inferiores, o que a faz depender, hoje, de uma cadeira de rodas para locomoção.
Para que casos assim não voltem a acontecer no País, o Ministério da Saúde reforça a necessidade de manter a prevenção, pois, embora erradicado no Brasil desde o início dos anos 90, para que o País permaneça com a Certificação de Área Livre de Circulação do Poliovírus Selvagem é importante manter coberturas vacinais acima dos 95%. Um alerta lançado pelo órgão no início de julho, contudo, chamou atenção para coberturas abaixo de 50% em mais de 300 cidades brasileiras, trazendo o risco de reintrodução do vírus.
Barreira, no Ceará, foi citada na lista do Ministério com cobertura vacinal de apenas 38,51% em crianças menores de um ano, mas o baixo resultado foi atribuído pela gestão municipal a uma falha no lançamento dos dados, estando o Município, na verdade, com 95% de cobertura.
No Estado, a meta de vacinação tem sido alcançada nos últimos dez anos, segundo destaca a coordenadora de Imunização da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), Ana Vilma Leite, havendo, no entanto, a necessidade constante de se trabalhar município por município, orientando-os quanto a uma cobertura mínima homogênea. "Como Estado estamos sempre nos fóruns com os secretários de saúde, pedindo o apoio para que trabalhem juntos aos profissionais, apontando a importância da prevenção, mostrando como as doenças foram combatidas com as vacinas, e o impacto delas", afirma.
info
Além disso, um trabalho realizado de quatro em quatro meses nas macrorregiões, explica ela, também vem discutindo estratégias de prevenção às coberturas baixas, estabelecendo planos de ação que mantenham o Estado longe de qualquer doença imunoprevenível.
A vacina antipólio faz parte do calendário básico de vacinação brasileiro, sendo necessária a aplicação de três doses no esquema primário: aos dois, quatro e seis meses de idade; além de dois reforços, sendo o primeiro dado aos 15 meses e o segundo aos quatro anos.
Mesmo com a caderneta em dia, crianças entre um e quatro anos de idade devem ser imunizadas nas campanhas anuais, que em 2018 acontece de 6 a 31 de agosto. No Ceará, a meta é imunizar 95% das 509.183 crianças nessa faixa etária. A campanha reforça o objetivo de barrar a circulação do vírus novamente nos estados brasileiros, sendo esse um risco real frente a baixos índices de imunização, segundo avalia Ana Vilma Leite.
Apesar de confirmar a existência de grupos antivacina, a coordenadora garante se tratar de números tímidos, incapazes de interferir na cobertura vacinal desejada. "Alguns falam ter medo das reações, mas o que a gente tem que destacar é que a vacina serve para estimular o sistema imunológico a produzir os anticorpos para proteger da doença. A vacina é incapaz de matar uma pessoa e não se proteger é muito grave. Só podemos erradicar uma doença se estivermos vacinando", destaca.
Embora de maior incidência nas crianças, os adultos também podem ser contaminados com o vírus. Para esse grupo, ainda segundo esclarece Ana Vilma Leite, se faz necessário se vacinar no caso de viagens ao Afeganistão, Nigéria e Paquistão, países onde ainda existe a circulação endêmica do poliovírus selvagem.
Pós-pólio
A aposentada Benvinda Sá, 62, sabe o quanto uma simples vacina teria feito diferença na sua vida. Não imunizada e tendo contraído o vírus aos seis anos de idade, acabou adquirindo sequelas permanentes no braço direito e na perna esquerda.
Segundo ela - que também depende de uma cadeira de rodas para se locomover - além das limitações diárias enfrentadas na cidade por pessoas com alguma deficiência física, os desafios para quem teve a doença do tipo paralisante são maiores, uma vez se tratar de uma condição que se agrava com o tempo. Entre os sintomas pós-doença mais comuns relatados, estão as dores no corpo, fadiga muscular, cansaço e dificuldade de respirar. "Sequela de pólio não tem cura, ela é uma doença agravante e com a idade você vai se debilitando mais ainda", esclarece.
Por esse motivo, acrescenta Benvinda, pessoas nessa condição carecem, hoje, de um equipamento público com atendimento específico a elas. "Gostaria de um local que tivéssemos tratamentos especializados. No meu caso, por exemplo, se eu tomar um Dorflex a minha pressão cai, a musculatura fragiliza e eu caio. Precisamos de tratamento com fisioterapeutas, ortopedistas e neurologistas, voltados para a síndrome pós-pólio", diz.
Transmissão
A poliomielite é transmitida pela via fecal-oral, por objetos, alimentos e água contaminados com fezes de doentes ou portadores. Falta de higiene pessoal e más condições de saneamento são fatores de risco a essa contaminação, segundo alerta o médico infectologista Robério Leite.
A princípio se tratando de uma infecção viral inexpressiva, explica ele, pode gerar um quadro de febre acompanhada de diarreia, vômitos e dores nos membros, geralmente inferiores, com perda de força progressiva. "Mas essa paralisia pode ser mais grave e envolver a musculatura respiratória, que pode ser um risco para a própria sobrevida do indivíduo", destaca.
O médico reforça não existir nenhum anti-viral existente para a doença, sendo a vacina a única forma de combate. E não havendo a imunização necessária, conforme aponta, o risco de reintrodução do vírus no contexto global existe. "Se você tem muito fluxo migratório do Oriente, migrações da África, existe a possibilidade de implantação do pólio vírus em regiões onde ele está controlado", comenta.
No Ceará, o ultimo caso registrado da doença foi em 1988, segundo a Sesa. Sobre o aparecimento dos casos de síndrome pós-pólio (SPP), a pasta diz haver "um grupo técnico avaliando o atual cenário e estudando a criação de um protocolo de tratamento, conforme a necessidade da demanda que surge. A Sesa ressalta ainda que, na rede pública estadual, há serviços especializados, como neurologia e fisioterapia, por exemplo, os quais podem atender também pacientes que desenvolveram SPP".

terça-feira, 24 de julho de 2018

Mutirão contra o câncer de cabeça e pescoço


Celebrado oficialmente em todo o mundo em 27 de julho, o Dia Mundial de Conscientização e Combate ao Câncer de Cabeça e Pescoço já recebeu atenção especial dos profissionais de saúde do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC). Na manhã de ontem, o hospital realizou um mutirão com atendimento de triagem para diagnosticar precocemente ocorrências de câncer de cabeça e pescoço. Na ocasião, 220 pessoas de diferentes idades foram atendidas; destas, 70 foram encaminhadas para o Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do HUWC pois apresentaram possíveis sintomas de câncer.
A ação foi feita por cerca de 20 profissionais de saúde, que além de realizar diagnóstico fizeram campanha de prevenção e orientação do câncer. Segundo o médico cirurgião de cabeça e pescoço do HUWC Wellington Alves, o câncer de cabeça e pescoço é o segundo mais comum entre homens, ficando atrás apenas do câncer de próstata. Ele abrange uma série de vários cânceres, como os de garganta, língua, boca e tireoide. O grande vilão dessas doenças, conforme afirmou Wellington Alves, é o tabagismo. "É o principal fator de risco para o câncer de cabeça e pescoço. Já são detectados mais de 300 substâncias no cigarro que podem ser promotoras ou indutoras do câncer, e, associado a bebida alcoólica, os riscos aumentam em 20 vezes", afirma o médico, informando, ainda, que a carga tabágica de 10 a 15 anos tem forte influência com o surgimento de lesões cancerosas ou pré cancerosas. Os mais atingidos são adultos a partir de 40 anos.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), estimam-se 11.200 casos novos de câncer da cavidade oral em homens e 3.500 em mulheres para cada ano do biênio 2018-2019. De acordo com Alves, esse aumento ocorre por vários motivos além do tabagismo, inclusive pela melhora dos métodos de diagnóstico, como a infecção pelo Papiloma Vírus Humano (HPV), que é transmitido sexualmente e causa cânceres como o de garganta. Para a prevenção, o médico indica a vacina do HPV e o uso de protetor solar para evitar câncer de pele nas regiões da cabeça e pescoço.
O exame físico das regiões da cabeça e pescoço, que estava sendo realizado no mutirão de ontem no HUWC, é considerado simples e pode ser feito pelo próprio paciente. Os principais sinais que devem ser observados, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço (SBCCP) são lesões na cavidade oral ou nos lábios, como aftas, que não cicatrizam por mais de 15 dias, além de nódulos no pescoço e rouquidão persistente. Ao apresentar esses sintomas, é importante consultar um médico.
Dagmar Lourenço, técnica em enfermagem, saiu do atendimento sorrindo, dizendo "graças a Deus, não tenho nada!". Ela afirmou que não apresentou nenhum dos sintomas, mas que é sempre bom prevenir-se. "O procedimento foi bem simples e nós mesmos podemos fazer, é só apalpar como se fosse fazer o exame da mama", conta.
Atendimento
O Centro Regional Integrado de Oncologia (Crio), em parceria com a Associação Nossa Casa de Apoio a Pessoas com Câncer, promoverá no próximo sábado (28), das 8h às 11h, o 3º Mutirão de atendimento gratuito com orientações à população sobre doenças da região da cabeça e pescoço.

segunda-feira, 23 de julho de 2018

Em favor da vacina

Grupos que pregam contra os imunizantes e a falta de informação até entre profissionais da saúde são fatores que trazem de volta ao País doenças que haviam desaparecido, como o sarampo, e o risco da poliomielite. É preciso impedir esse inaceitável retrocesso na saúde pública

Crédito: Divulgação
SEGURANÇA É direito das crianças serem vacinadas (Crédito: Divulgação)
Até quarta-feira 18, o Brasil registrou 677 casos de sarampo. A doença costuma ser encarada como algo leve, típica da infância, sem maiores consequências e, desta forma, aceitável. Está errado pensar assim. A volta dos casos ao País representa uma derrota no âmbito da saúde pública. A enfermidade estava erradicada aqui desde 2016, graças a uma política de vacinação bem-sucedida que até então havia garantido a proteção de crianças e adultos contra o vírus responsável pela doença. Somada à informação de que 312 cidades brasileiras — 44 em São Paulo, o estado mais rico da nação — encontram-se sob risco para o aparecimento de casos de poliomielite, a situação traça um panorama preocupante. A polio está erradicada no Brasil desde 1990 e, assim como o sarampo, é prevenível por vacina. Ambos os imunizantes estão disponíveis gratuitamente na rede pública de saúde e apresentam riscos baixíssimos de causarem efeitos colaterais mais sérios. Não é admissível, portanto, que o Brasil depare-se agora com a ameaça de ver a volta de doenças contra as quais a medicina obteve uma de suas principais vitórias. Foi em 1796 que o médico inglês Edward Jenner descobriu que inocular pessoas com o conteúdo tirado de pústulas de varíola assegurava imunização contra o vírus causador da enfermidade que, àquela altura, matava milhares de pessoas. Desde então, as vacinas servem para impedir que males assim dizimem populações.
PROTEGIDA Júlia Goretti leva a filha, Luiza, para receber as doses necessárias (Crédito: Marco Ankosqui)
No entanto, desde 2011 observa-se no Brasil a queda na cobertura vacinal relativa a várias enfermidades. Naquele ano, o índice de crianças vacinadas com a tríplice viral, que imuniza contra o sarampo, a caxumba e a rubéola, alcançou 100%. Em 2017, parou nos 83%. Neste ano, há um esforço de vacinação em Roraima, numa tentativa de evitar a disseminação do vírus trazido com a chegada maciça de crianças venezuelanas infectadas. A cobertura relativa à polio também era total no início da década. No ano passado, ficou em 77%. Em 15% das cidades da Bahia, menos da metade das crianças foi vacinada. Ao todo, 800 mil crianças estão vulneráveis à infecção.
O País patina ainda na prevenção de doenças como a febre amarela e a gripe, as duas também evitadas por meio de vacinas. A forma urbana da febre amarela está erradicada desde 1942, mas os casos silvestres (em áreas de matas) avançaram nos últimos anos. Entre julho de 2017 e maio de 2018, foram 1.266
“O Estado precisa assumir seu papel de gestor e a população entender a importância da vacinação” Carla Domingues, epidemiologista (Crédito:Mateus Bonomi/Futura Press)
pessoas atingidas, com 415 óbitos. No início do ano, com a explosão do surto no Sudeste, o pânico tomou conta da população e postos de saúde foram invadidos por pessoas desesperadas pela vacina. Semanas depois, a notícia de mortes por causa de reações ao imunizante fez com que o medo se instalasse, desta vez ao contrário. Mesmo pessoas que precisariam ser imunizadas por viver em áreas de risco pararam de buscar a proteção. O resultado é que, hoje, a cobertura vacinal de febre amarela mal passa da metade, com índice de 52,45%.
Quanto à gripe, o Ministério da Saúde conseguiu atingir, na semana passada, cobertura para 90% do grupo prioritário, formado por pessoas a partir de 60 anos, crianças de seis meses a cinco anos, trabalhadores de saúde, professores das redes pública e privada, povos indígenas, gestantes, mães até 45 dias após o parto, detentos e funcionários do sistema prisional. Porém, entre as grávidas e os com menos de cinco anos, a cobertura foi de 77% e 76%, respectivamente. Os estados com menores taxas de vacinação foram Roraima (67%) e Rio de Janeiro (77%) . Enquanto isso, o total de óbitos subiu de 285, no ano passado, para 839 em 2018.

A falta de adesão da população em relação às vacinas no Brasil não pode ser explicada por um viés somente. Há a combinação de obstáculos que envolvem basicamente dificuldade de acesso, falta de senso de responsabilidade individual e muita desinformação. Em referência ao primeiro ponto, é fato que os imunizantes estão disponíveis nos postos de saúde, mas em grande parte das cidades eles funcionam em horário comercial, quando pais e responsáveis estão no trabalho e, as crianças, na escola. O ideal seria ter horários maleáveis.
CONTENÇÃO Em Roraima, crianças venezuelanas recebem cuidados médicos para não se infectarem pelo sarampo (Crédito:Nacho Doce)
Porém, é preciso que cada um dos adultos cumpra a sua parte como responsável pelo cuidado com as crianças e as levem para serem vacinadas, respeitando o calendário vacinal. Assim como o casal Vagner Rubini e Suhianh Kill, em São Paulo, com os filhos Lorena e Nicoli. “Cumprimos as datas”, dizem. E também os pais de Anne Carolinne, de sete meses. “Obedecemos as orientações do pediatra”, diz Sirlene Tamaki, ao lado do marido, Rodrigo.
Erro de avaliação
O combate à desinformação exige esforços extras. Há três grandes desafios neste sentido. É um paradoxo, mas o controle das doenças por meio das vacinas alcançado nas últimas décadas levou à sensação de que as enfermidades não representam mais ameaça. “O fato de as doenças terem desaparecido fez com que muita gente ache que a vacina é desnecessária”, afirma a epidemiologista Carla Domingues, coordenadora do Programa Nacional de Imunizações. Pensar assim é um equívoco que pode fazer com que as enfermidades readquiram força de transmissão. A mesma percepção é observada entre profissionais de saúde. Muitos nunca viram vítimas de poliomielite ou com sarampo porque cresceram em tempos nos quais elas não ocorriam. Por isso, não estão alertas quanto à sua prevenção.
DOSES EM DIA Anne Caroline com os pais Sirlene e Rodrigo Tamaki: eles seguem a orientação do pediatra (Crédito:Marco Ankosqui)
Também enfrenta-se a praga das notícias falsas. Elas se propagam pelas redes sociais e têm impacto impressionante em quem as lê. Durante o surto de febre amarela do início do ano os estragos foram estarrecedores, tanto para espalhar o pânico que levou à invasão de postos quanto para afastar a população das doses. Primeiro, correntes incitavam todos a exigir a vacina, quando se sabe que há casos nos quais ela é contraindicada (transplantados e pacientes em quimioterapia, por exemplo). Depois, com a profusão de informações infundadas de que o imunizante faz mais mal do que bem. Como toda medicação, as vacinas apresentam efeitos adversos, mas em sua maioria em escala muito menor do que o benefício que produzem (leia quadro)
Esses dois fatores funcionam como combustível para fortalecer o movimento antivacinação, formado por pessoas que se dedicam a transmitir dados falsos sobre os imunizantes — entre elas até profissionais de saúde que se recusam a aceitar a ciência de qualidade — e que se negam a levar os filhos a serem protegidos. É um fenômeno mundial e que está por trás, inclusive, do crescimento do número de casos de sarampo observado na Europa em 2017. Segundo a Organização Mundial de Saúde, o total de infectados no continente cresceu 300%, atingindo mais de 21 mil pessoas, com 35 mortes. Em 2016, foram 5.273 casos.

Os ativistas fazem barulho nas redes sociais, onde proliferam tolices como a ideia de que os imunizantes são ineficazes ou que apresentam risco maior do que os benefícios. É mentira. Assim como também é falsa a tese de que a vacina tríplice viral (imuniza contra sarampo, caxumba e rubéola) está associada ao autismo. Em 1998, um trabalho realizado por Andrew Wakefield sugeriu o vínculo, mas ficou provado que ele não existe. O autor, inclusive, foi condenado por fraude. A pesquisa foi retirada da literatura científica.
Tolices na rede
Nada do que diz quem condena as vacinas tem embasamento científico. Tampouco cada um deles traz indícios de consistência intelectual que os avalize a falar do assunto. Uma atitude registrada durante o levantamento de informações para esta reportagem deixa claro de como agem os integrantes do movimento. Gerusa Monzo, mãe de dois filhos, e militante antivacina nas redes sociais, foi procurada por ISTOÉ. Ela perguntou quanto seria o valor do cachê que a revista pagaria pela entrevista. Ao ser indagada quanto cobraria, respondeu: “O mínimo de R$ 3 mil. Por menos do que isso não tenho nenhum interesse.” O que Gerusa e outros indivíduos como ela fazem é uma irresponsabilidade para com seus filhos, em primeiro lugar. Tanto que a ação está passível de punição segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente. Na semana passada, o Ministério Público do Rio Grande do Sul anunciou que agirá contra os pais que não imunizarem as crianças. As denúncias serão apuradas e, se confirmadas, os responsáveis serão notificados e o órgão dará um prazo de quinze dias para a vacinação. Caso não seja feita, o MP poderá aplicar multa de três a vinte salários mínimos e adotar medidas como busca e apreensão do menor. Ele será levado ao posto de vacinação e os pais responderão a processo.
Há uma ameaça também à coletividade. Quando se deixa de vacinar uma criança, outra, eventualmente ainda não protegida, é colocada em risco. E toda a sociedade também, jogando por terra uma das principais conquistas da ciência para a humanidade. A saúde de todos é ameaçada.
“Não tenham filhos se não querem vaciná-los. Eles não merecem sofrer nas mãos de quem acha que está certo” Xuxa Meneghel, apresentadora (Crédito:Aline Massuca)
“Vacinar é cuidar”
Por essas razões impedir o avanço das informações contra as vacinas é urgente. “As pessoas que são contra a imunização fazem mal para si e para os outros”, afirma a advogada Julia Goretti, mãe de Luiza, devidamente vacinada. O mesmo pensamento é defendido pela apresentadora Xuxa, chamada para ser a madrinha da campanha de vacinação deste ano, antecipada de setembro para agosto. Não é a primeira vez que ela participa da chamada geral para necessidade de imunizar os pequenos. “Fui convidada para fazer a campanha contra a paralisia infantil nos anos 90 e pude fazer parte da conquista que foi vacinar 94% das crianças”, disse. “Não sei como ainda temos que fazer campanhas para lembrar os responsáveis que precisamos cuidar dos nossos filhos vacinando-os. Simplesmente é inadmissível termos que lembrar um responsável que não seja irresponsável. Que vacinar é cuidar.” Xuxa critica os integrantes dos grupos anti-vacina. “Não tenham filhos se não querem vaciná-los. Eles não merecem sofrer na mão de gente que acha que está certo.” Apesar da redução progressiva da cobertura vacinal, o País ainda não atingiu um ponto sem volta rumo ao retrocesso nesta área. “É um panorama sombrio, mas contornável”, diz a médica Isabela Ballalai, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações. Para enfrentá-lo, é necessário compreender que se trata de uma questão de Estado, e não de governo, e que a situação é complexa. Todos têm responsabilidade, de autoridades públicas aos pais, de profissionais de saúde aos que transmitem informações por redes sociais. “Sem esse entendimento, vamos sucumbir. O Estado precisa assumir seu papel de gestor e a população entender a importância da sua participação”, diz a epidemiologista Carla Domingues.
Revolta contra a vacina

Entre 10 a 16 de novembro de 1904, a população do Rio de Janeiro se rebelou. O povo não queria ser obrigado a se vacinar contra a varíola, como havia sido determinado pelo governo do estado diante da epidemia da doença que tomava conta da cidade. O argumento, calcado na falta de informação registrada à época, era o de que o remédio, feito a partir de fragmentos do vírus, levaria ao desenvolvimento da doença. Amparados pela lei, equipes sanitaristas entravam nas casas das pessoas e as vacinavam à força. Civis montaram barricadas e o confronto entre a população e a polícia se deu nas ruas.
Colaborou Fernando Lavieri

sexta-feira, 20 de julho de 2018

IJF registrou quase 7 mil casos de acidentes domésticos com crianças em 2018

Especialistas alertam para o período de férias, quando aumenta o risco de traumas
criança
O risco de incidentes cresce durante o mês de julho, quando os pequenos passam mais tempo em casa ( Foto: Arquivo )
Correr, pular, brincar, jogar... Essas são as principais atividades que marcam o cotidiano das crianças durante o período de férias. Contudo, a permanência em casa nesta época sem aulas pode ocasionar sérios problemas.
No primeiro semestre de 2018, o Instituto Doutor José Frota (IJF) registrou 6.960 casos de acidentes envolvendo crianças entre 0 e 14 anos. O risco de incidentes cresce durante o mês de julho, quando os pequenos passam mais tempo em casa.
acidentes
Super-herói, jogador de futebol, e até médico. A criatividade que transforma crianças em protagonistas pode levá-las a enfrentar alguns vilões do dia a dia. Entre quedas, intoxicações, picadas de animais peçonhentos, e queimaduras, os “pequenos heróis” precisam do principal auxílio nessa aventura: a vigilância dos pais e responsáveis.
“Não pode esquecer que aquela criança precisa de atenção porque ela não mede a situação de perigo. Não se pode confiar no fato de a criança estar em casa e deixá-la solta”, alerta a pediatra Márcia Lima Verde.
“O que a gente tem observado é que as mães se entretém muito nas redes sociais e esquecem da criança pelo simples fato de estar em casa. Porém, em casa tem muitas regiões de perigo. A cozinha, por exemplo, é uma bomba relógio, porque tem fogão, tem panela no fogo, fósforo, água fervendo. As queimaduras, depois das quedas, são as principais vilãs das crianças nas férias”, completa a especialista.
Além de quedas e queimaduras, as crianças sofrem com outros malefícios. “Uma coisa que muitos não se atentam é às escadas. Dependendo da altura também precisa ter rede de proteção nelas. Eu também recebo muito na emergência criança com intoxicação. Até uma inalação que pode parecer inofensiva, pode resultar em algo pior. Então, é correr para emergência mesmo", é o que aconselha Isa Xavier, pediatra.
Os brinquedos e controles remotos contém partes que também podem apresentar perigos para as crianças, como por exemplo, as baterias. “Elas botam as baterias na boca e engolem. E essa bateria vai soltando substâncias altamente corrosivas, tanto para a mucosa do esôfago quanto para a mucosa do estômago”, aponta Lima Verde sobre o perigo das pequenas peças.
Andajá
A pediatra Márcia Lima Verde alertou sobre o uso de um objeto, que para ela, deveria ser abolido: o “andajá”, como é popularmente conhecido o andador utilizado em crianças, na fase onde elas ainda ensaiam os primeiros passos.
“('O andajá') é altamente contraindicado hoje em dia, mas infelizmente ainda existem cantos que vendem e os pais compram. Às vezes, uma rodinha daquela escorrega na escada e o acidente pode causar um traumatismo craniano muito severo”, alerta Márcia Lima Verde sobre o aparelho.
“Os pais colocam os filhos no 'andajá' muito precocemente e causa má formação até no próprio osso na perna da criança”, completa a médica ao pontuar outro malefício causado pelo objeto.
Jornada dupla
Rafaella Aragão é mãe e odontopediatra, então, para conciliar as duas funções, ela precisa praticamente de “super poderes”. Com a experiência dentro da formação profissional, ela revela que se preocupa ainda mais com os filhos. “Onde eu trabalho, eu atendo muitos casos. Já atendi criança que se furou com espeto enquanto estava comendo churrasco; criança que se cortou bebendo água em copo de vidro”, conta.
Arthur, 8, é um dos filhos de Rafaella, e a odontopediatrarevela que redobra a atenção pois ele está na “fase de Super-Herói”. “Ele subiu na minha cama, que é alta, e pulou (imitando o Super-Homem). Com a queda, ele quase quebra o nariz. Saiu muito sangue”, revela Rafaella.
O período de férias escolares muitas vezes não coincide com o recesso trabalhista dos pais. Por isso, a dificuldade em observar as crianças torna-se ainda maior. “Uma solução pode ser arranjar uma pessoa como avó ou tia para cuidar dessas crianças que não estão na escola, porque ficar sozinho é um grande perigo”, completa a pediatra Márcia Lima Verde.

quinta-feira, 19 de julho de 2018

Anvisa aprova regras para suplementos

O marco regulatório diz respeito à composição, qualidade, segurança e também rotulagem dos itens
por Vanessa Madeira - Repórter
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O carro-chefe das lojas de suplementos é o chamado Whey protein, feito à base da proteína extraída do soro do leite e aminoácidos ( FOTO: THIAGO GADELHA )
Suplementos alimentares passaram a contar, desde a última terça-feira (17), com regulamentação própria no País. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou um novo conjunto de normas para a fabricação dos produtos, utilizados para complementar a alimentação de pessoas com deficiências na absorção ou com demanda aumentada de nutrientes. As regras dizem respeito à composição, qualidade, segurança e rotulagem dos itens. Um dos principais pontos é a obrigatoriedade dos fabricantes de incluir, nas embalagens, informações sobre a eficácia dos suplementos.
De acordo com a Anvisa, será publicada, nos próximos dias, uma Instrução Normativa (IN) com a lista de ingredientes permitidos na fabricação dos produtos, com a determinação de limites mínimos e máximos para cada substância de acordo com o público a que se destina. Também haverá uma relação de "alegações" de funcionalidades que poderão ser atribuídas aos suplementos. Cada alegação exigirá a realização de testes específicos. As empresas terão cinco anos para adequarem os produtos que já estão no mercado às normas.
Ainda segundo a Agência, o marco regulatório estabelece quais são os aditivos e coadjuvantes de tecnologia que poderão ser usados na produção dos itens, além de definir os estudos necessários para comprovar a segurança e a eficácia dos chamados probióticos, microorganismos cuja ingestão traz benefícios à saúde.
Segurança
O nutricionista clínico e professor da Universidade de Fortaleza (Unifor) Filipe Brito explica que, embora já existam normas para suplementos no País, as novas regras unem todas as categorias de produtos em uma mesma regulamentação, além de abranger itens que não eram cobertos por outras legislações. "Os suplementos ligados a dietas enterais, por exemplo, tinham uma legislação específica. Os suplementos esportivos também. Mas aqueles que não se encaixavam nessas legislações acabavam descobertos", explica. "A importância dessa regulamentação é garantir que o que está no mercado seja de fato seguro e efetivo para o paciente", acrescenta Brito.
Dentre as mudanças do novo marco regulatório, o nutricionista ressalta a exigência de testes de eficácia, diante da grande quantidade de produtos disponíveis no mercado. "Muitos dos suplementos que temos no mercado não têm eficiência comprovada", diz o nutricionista.
Mercado
No mercado especializado de Fortaleza, a demanda é crescente, em grande parte motivada pela disseminação de estilos de vida saudáveis. O carro-chefe das lojas de suplementos é o Whey protein, feito à base da proteína extraída do soro do leite e aminoácidos, e geralmente utilizado por praticantes de exercícios físicos para a reparação das fibras musculares. Ômega 3, colágeno e probióticos também estão na lista dos produtos mais procurados.
Gerente de uma cadeia de lojas de suplementos da cidade, Jonas Siqueira afirma que, além dos que se exercitam, os produtos também são buscados por pacientes cirúrgicos. Os produtos não necessitam de prescrição médica para serem adquiridos, uma vez que não são considerados medicamentos. Segundo Siqueira, apenas metade dos clientes apresenta orientações de um profissional de saúde. A loja oferece atendimento com colaboradores da área de Nutrição.
O nutricionista clínico Filipe Brito destaca que, mesmo não sendo obrigatória, a orientação de um profissional de saúde é fundamental para a utilização de suplementos.

quarta-feira, 18 de julho de 2018

Controle da glicemia sem picadas estimula maior controle do diabetes

Uma tecnologia que mede o nível de glicose com um sensor na pele está ajudando pacientes a manejar melhor essa doença na vida real, segundo estudos

Desde seu lançamento, o equipamento FreeStyle Libre, da farmacêutica Abbott, destacou-se por dispensar a necessidade de picar o dedo para controlar a glicemia de pacientes com diabetes. Sua tecnologia, que permite medir o açúcar no sangue passando um leitor por cima de um pequeno sensor no braço, foi corroborada por estudos controlados e já é utilizada por 650 mil pessoas no mundo. Mas e aí: como esse pessoal está lidando agora com a doença?
“Uma coisa é comprovar a eficiência de um teste em pesquisas controladas, com pacientes acompanhados de perto pelos profissionais. Outra é avaliar seu uso no dia a dia, com todos os desafios da vida”, compara o endocrinologista Luís Eduardo Calliari, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
Eis que, no 78º congresso da Sociedade Americana de Diabetes, foram apresentados estudos que visam justamente responder aquela pergunta. A partir de dados de mais de 250 mil leitores do FreeStyle Libre – a maioria vindos da Europa –, notou-se que os usuários passaram, em média, a mensurar a própria glicemia 13 vezes ao dia.
“É uma média muito superior à observada com os métodos tradicionais, em que o paciente faz um pequeno furo no dedo, coloca uma gota de sangue em uma fitinha e então a insere em um aparelho”, diferencia Calliari.
Mais: o número de vezes em que um indivíduo checa seus níveis de glicose foi diretamente relacionado ao melhor controle do diabetes. Dito de outra forma, quanto mais medições, maior a probabilidade de se manter dentro de índices considerados normais e menor o risco de hipoglicemia.
Calliari inclusive conduziu um estudo semelhante no nosso país, com dados de quase 8 mil brasileiros, que foi exibido naquele congresso americano. “E, no geral, também observamos que os pacientes verificavam a glicemia por volta de 13 vezes ao dia”, reitera.
Conclusão: o FreeStyle Libre parece agradar a população brasileira. O desafio é oferecer esse tipo de dispositivo às camadas menos favorecidas da sociedade.

A questão do preço e as alternativas

Segundo Calliari, o uso de sensores para controlar o diabetes é uma tendência tão forte que, com o tempo, dificilmente não será incorporado na rede pública, ao menos para parte dos diabéticos. Ainda assim, hoje a tecnologia não chegou ao Sistema Único de Saúde e seu custo é considerável.
Veja: a cada 14 dias, você precisa trocar o sensor no braço. Trata-se de uma prática simples, em que o sujeito remove o dispositivo com a mão mesmo, eventualmente aplicando um pouco de óleo de amêndoa, por exemplo. Já para inserir o novo sensor, você usa uma espécie de carimbo. Tudo pode ser feito em casa e o procedimento é quase indolor.
A questão é que cada sensor custa, segundo o site do FreeStyle Libre, 239,90 reais. Simplificando um pouco a conta, o paciente gastaria quase 500 reais por mês, sem considerar o preço do leitor.
“Agora, quem não pode fazer esse investimento também não precisa se desesperar. As fitas são bastante confiáveis”, pondera Calliari. Segundo ele, o que os estudos recentes com as novas tecnologias nos mostram é a importância de medir a glicemia frequentemente – seja no dedo, seja no braço.

terça-feira, 17 de julho de 2018

STF suspende resolução da ANS sobre franquia e coparticipação, publicada em junho

Crédito: Divulgação
A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, suspendeu nesta segunda-feira, 16, a resolução da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) que prevê que operadoras de planos de saúde poderão cobrar de clientes até 40% do valor de cada procedimento realizado. A novidade foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) no dia 28 de junho.
A ministra atendeu liminarmente o pedido do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (CFOAB), que entrou com a ação no STF na última sexta-feira, 13. O mérito da ação ainda será julgado.
A resolução define regras para duas modalidades de convênios médicos: a coparticipação (quando o cliente arca com uma parte dos custos do atendimento toda vez que usa o plano de saúde) e a franquia (similar à de seguros de veículos). De acordo com a OAB, a ANS invadiu as competências do Poder Executivo e do Poder Legislativo ao regulamentar a matéria.
“A referida Resolução institui severa restrição a um direito constitucionalmente assegurado (o direito à saúde) por ato reservado à lei em sentido estrito, não a simples regulamento expedido por agência reguladora”, afirma a petição da OAB.
A OAB chama de abusivo o porcentual de 40% que os beneficiários dos planos de assistência à saúde poderão pagar.
Antes da resolução não havia a definição de um porcentual máximo para a coparticipação em cada atendimento, mas a diretoria de fiscalização da ANS orientava as operadoras a não praticarem valores superiores a 30% – na prática, portanto, a nova regra amplia o valor máximo que as operadoras podem cobrar dos usuários.
O texto da nova resolução, prevê, porém, que todas as cobranças com franquia e coparticipação estejam sujeitas a um valor máximo por ano.
Esse limite poderá ser aumentado em 50% no caso de planos coletivos empresariais (que representam 67% do mercado de convênios médicos), caso isso seja acordado em convenção coletiva, de acordo com a resolução agora suspensa.
A franquia é o valor estabelecido no contrato de plano, até o qual a operadora de plano privado de assistência à saúde não tem responsabilidade de cobertura, quer nos casos de reembolso ou nos casos de pagamento à rede credenciada, referenciada ou cooperada.
A OAB critica o modelo de franquia e assinala que a escolha de um procedimento, de acordo com a franquia contratada, “pode significar limitação do atendimento e retardo do diagnóstico, resultando dessas escolhas ‘trágicas’ que consumidores vão procurar o sistema já doentes e com diagnósticos incompletos, anulando, portanto, quaisquer medidas preventivas”.

segunda-feira, 16 de julho de 2018

O que é bronquiolite? Veja seus sintomas e tratamentos em bebês

Essa infecção contagiosa geralmente causada pelo vírus sincicial respiratório (VSR) abala a saúde principalmente dos menores de 2 anos. Saiba o que fazer

A bronquiolite é uma infecção nos bronquíolos, ramificações dos brônquios que levam oxigênio aos pulmões. Em geral, sua causa é o vírus sincicial respiratório (VSR), que ataca principalmente crianças até os 2 anos de idade. Essa invasão propicia um excesso de muco nos tubinhos por onde o ar passa, comprometendo a captação de oxigênio. Entre os sintomas, o bebê fica com dificuldade para respirar.
Os pequenos são as vítimas preferenciais da bronquiolite, porque seu sistema imune ainda não está maduro para combater direito o agente viral. O VSR é altamente contagioso – ele é transmitido pelo ar, por toque e mesmo por objetos contaminados.
Estima-se que, até os 3 anos, 90% das crianças já terão entrado em contato com o vírus sincicial respiratório. Ainda bem que nem sempre ele provoca estragos. Prematuros e bebês com menos de seis semanas de vida ou com doenças crônicas pulmonares ou cardíacas devem ter cuidado especial. Aqueles com deficiência imunológicas também.
Essa infecção, aliás, é uma das principais causas de internação entre crianças que ainda mamam. Se a bronquiolite não for tratada, pode provocar desidratação, insuficiência respiratória e evoluir para pneumonias, quando outras áreas dos pulmões são afetadas por micro-organismos.

Sinais e sintomas

– Chiado no peito
– Respiração ofegante
– Nariz congestionado
– Tosse, sobretudo na hora de dormir
– Febre
– Tórax inflado (com aspecto semelhante a uma sanfona)
– Vômito

Fatores de risco

– Ser criança com idade inferior a 2 anos
– Entrar em contato com adultos infectados
– Ter deficiências imunológicas

Prevenção

Ainda não existe vacina contra o vírus sincicial respiratório (VSR). Como se espalha pelo ar com facilidade, o ideal é evitar situações que expõem o bebê a grandes aglomerações, em especial nas primeiras seis semanas de vida.
Também se deve evitar o contato da criança com adultos com sintomas de gripe ou resfriado — nada de colo ou carinho nessas ocasiões. Esses cuidados merecem ser redobrados no inverno, quando o vírus se dissemina com maior facilidade.
Não é preciso, obviamente, deixar seu filho confinado durante essa estação, mas vale a pena priorizar a estada em ambientes ventilados. Outra medida indicada para a prevenção é que os pais caprichem na limpeza das mãos, usando sabão ou álcool em gel.
Há um medicamento chamado palivizumabe que age preventivamente por um mecanismo de imunização passiva. Embora não seja uma vacina – ele não estimula o organismo a produzir anticorpos contra o VSR –, o remédio oferece, digamos, anticorpos artificiais, que protegem o paciente por algum tempo. As doses são mensais e costumam ser dadas no período de maior circulação do vírus.
Mas atenção: ele é indicado somente para os bebês mais vulneráveis aos danos do vírus sincicial respiratório. E só uma avaliação médica criteriosa é capaz de estabelecer isso.

Diagnóstico

Quando mais cedo for detectada a infecção nos bronquíolos, mais rápido e eficaz será o tratamento. Ao surgirem os primeiros sintomas, é importante levar a criança ao pediatra ou hospital. O exame físico, somado a testes complementares como raio x do tórax, confirma o diagnóstico.

Tratamento

Normalmente, o tratamento da bronquiolite pode ser feito em casa. Inalações com soro e medicamentos anticongestionantes tendem a fazer o muco se desgrudar das vias aéreas, melhorando a respiração — tudo, claro, tem de ser prescrito pelo médico. Nem pense em adotar antibióticos por conta própria. Essa classe de remédios se presta a enfrentar bactérias, e a infecção aqui é disparada por vírus.
A hidratação e a amamentação fecham o plano de recuperação do bebê. Nos episódios mais graves, em que ocorre desidratação ou insuficiência respiratória, a criança precisa ser hospitalizada.

sábado, 14 de julho de 2018

Hidrocarbolipoclasia Procedimento elimina gordura sem cirurgia

A evolução na área da estética é uma aliada para os que buscam a boa forma de maneira menos invasiva

estética
As novidades no campo da estética têm possibilitado ao público mais cuidadoso com a imagem a manter o corpo em forma sem o uso de cirurgia ( Fotos: Patrícia Moreira )
procedimento
Quem se submete ao tratamento corporal realizado com a técnica hidrocarbolipoclasia deve evitar a utilização de anti-inflamatórios no período de recuperação. Isso porque a medicação pode reduzir o resultado do procedimento
Apesar de a nomeclatura ser um pouco complicada, a hidrocarbolipoclasia não aspirativa é um recurso bastante utilizado por profissionais da estética.
Conhecida também como hidrolipo ou lipo sem cortes, a técnica tem como objetivo eliminar os pneuzinhos que resistem, mesmo quando a pessoa pratica atividade física e mantém hábitos alimentares regulares.
Para a fisioterapeuta dermatofuncional Melina Baquit, o segredo da terapia está na ruptura das células de gordura, que acontece com a combinação do soro fisiológico e da ultrassom.
O sódio presente no soro, quando aplicado na camada hipodérmica, incha os adipócitos, e o aquecimento provocado pelo calor da ultrassom leva a explosão dessas células, gerando um fenômeno chamado de liquefação da gordura.
O tratamento, segundo a dermato, é finalizado com a aplicação da carboxiterapia. "Esse é um procedimento que injeta gás carbônico medicinal com uma agulha de insulina para matar mais gordura por meio da acidez", revela.
Indicações
A hidrocarbolipoclasia é bastante recomendada para reduzir a gordura nas regiões do abdômen, dos braços, das costas, da parte interna das coxas e da papada. De acordo com Melina Baquit, o procedimento é concluindo entre 3 a 6 sessões apenas e sem a necessidade de associá-lo a outros tratamentos estéticos.
A sessão da hidrolipo dura em média 1 hora e 30 minutos. Na análise da dermatofuncional, dependendo do processo inflamatório gerado por conta das aplicações, em cada paciente, o intervalo para a realização de um novo protocolo varia entre 7 a 10 dias.
Porém, nos casos em que a gordura é mais densa, é preciso ampliar a quantidade de sessões. "Isso porque, conforme a especialista, o tratamento deve ser reforçado com métodos específicos para amolecer a gordura".
Na maioria das pacientes, o resultado é visível logo após a primeira sessão. Geralmente, a partir do segundo dia. No entanto, as mudanças estéticas mais avançadas serão percebidas após o período inflamatório da região trabalhada, que demora em média de 7 a 10 dias do protocolo.
"Após a sessão da hidrocarbolipoclasia, na região do abdômen, o uso de calcinhas e cintas adequadas, auxiliam na recuperação e potencializam o resultado do procedimento".
Alerta
É importante lembrar que, antes de se submeter ao tratamento, a pessoa precisa ser minuciosamente avaliada para que haja uma concordância sobre suas reais necessidades. "Isso porque o êxito de qualquer tratamento estético depende da avaliação detalhada de um profissional capacitado e experiente", destaca a dermatofuncional Melina Baquit.

Saiba Mais

Apesar de ser um procedimento simples e minimamente invasivo, assim como outras práticas estéticas, no método da hidrocarbolipoclasia o profissional tem o cuidado de avaliar e respeitar as restrições identificadas em cada paciente;
Por isso, o procedimento não deve ser realizada em gestantes ou em pessoas diagnosticadas com alterações que possam comprometer alguns órgãos ou os resultados do tratamento;
Nas contraindicações estão pacientes com angina instável; hipertensão não tratada; disfunção renal; imunodepressivos , esteatose hepática e distúrbios de circulação.

sexta-feira, 13 de julho de 2018

Suplementos multivitamínicos não evitam infarto e AVC

Ao menos para a população geral, ficar tomando pílulas de vitaminas e minerais não evita problemas cardiovasculares, segundo estudo gigantesco

“Tem sido bastante difícil convencer as pessoas, incluindo pesquisadores de nutrição, a aceitar que suplementos multivitamínicos e de minerais não previnem doenças cardiovasculares, como AVC e infarto”, sentencia o cardiologista Joonseok Kim, da Universidade do Alabama em Birmingham, nos Estados Unidos. “Esperamos que nosso estudo reduza o entusiasmo sobre esses produtos”, completa o cientista, em comunicado.
Mas, afinal, que experimento é esse? Trata-se, na verdade, de uma revisão de 18 estudos, que somam mais de 12 milhões de voluntários. Enquanto uma parte dessa gente consumia os multivitamínicos com frequência, a outra dispensava as pílulas – em média, eles foram acompanhados por 12 anos.
Resultado: não houve qualquer diferença significativa na mortalidade por doenças cardiovasculares entre as duas turmas. A ingestão desse tipo de suplemento também não evitou infartos ou derrames.
“Embora os multivitamínicos, quando tomados em moderação, dificilmente causem danos, suplicamos para que as pessoas protejam o próprio coração entendendo seus riscos individuais e conversando com um profissional sobre medidas comprovadamente eficazes. Elas incluem alimentação saudável, exercício físico, cessação do tabagismo […] e, se necessário, tratamento”, defende Kim. Além disso, os multivitamínicos não costumam ser baratos.
O que esse levantamento conclui, em resumo, é que a população em geral deveria parar de recorrer a supostas pílulas mágicas (e isso não inclui apenas suplementos) ao invés de apostar em táticas já consagradas. Só que aqui cabe uma ponderação.
A revisão foi feita com a população em geral. Ou seja, é possível que indivíduos com carência comprovada de algum nutriente se beneficiem de um aporte extra dele – e isso não seria identificado em trabalho científico desse tipo. No entanto, os especialistas sempre defendem que abastecer o corpo de substâncias benéficas por meio da alimentação. E nunca comprar suplementos por conta própria.

quinta-feira, 12 de julho de 2018

5 mitos e verdades sobre como o celular afeta a saúde

Algumas histórias sobre os efeitos do celular circulam pelas redes. Descubra se elas são verdadeiras ou só mais um caso de fake news

Se os cães ainda podem ser considerados os melhores amigos do homem, os celulares entram na disputa pelo segundo lugar. Apesar de serem considerado até indispensáveis hoje em dia, esses aparelhos podem atingir a saúde de diversas maneiras.
Problemas de visão e postura, piora da ansiedade e dificuldades para dormir são alguns exemplos. Porém, nem tudo que circula pela internet é verdade. Confira se alguns desses efeitos são reais ou apenas mitos:

1) Causa câncer?

Não há evidências. O mais recente estudo a respeito, feito na Austrália com dados de 34 mil cidadãos, sinaliza que a radiação do aparelho não é capaz de causar tumor no cérebro.

2) Afeta os testículos?

Melhor os homens não deixarem o celular sempre no bolso da frente. Existem indícios de que o aumento da temperatura e a radiação podem impactar na qualidade dos espermatozoides.

3) Envelhece a pele?

Sim! A presença de alguns minerais como níquel e cromo e a luz azul emitida pelo aparelho parecem contribuir com rugas e manchas. Mais um motivo para passar protetor solar.

4) Afeta aprendizado?

Pesquisa inglesa com 125 mil crianças e adolescentes detectou que o uso do aparelho no período noturno atrapalha o sono, compromete a memória e prejudica o desempenho na escola.

5) Dá dor de cabeça?

Não há dados conclusivos. Mas um estudo dinamarquês observou que celulares podem aumentar em 20% o risco de uma enxaqueca, caso já haja propensão às crises.

terça-feira, 10 de julho de 2018

Sob a ameaça da polio

Erradicada no Brasil desde 1990, a doença pode voltar ao País devido à baixa cobertura vacinal. Há a ideia de que ela não seja mais perigo. É um erro grave

Crédito: Sidney de Almeida
Depois da febre amarela, a poliomielite, sem casos registrados no Brasil desde 1990 e erradicada das Américas quatro anos depois, pode voltar ao País. Na semana passada, o Ministério da Saúde anunciou que 312 cidades, 44 em São Paulo, apresentaram alto risco para o surgimento de casos, significando que ao menos 800 mil crianças estão sob ameaça de contrair o vírus causador da doença. A polio pode apresentar sintomas que vão desde febre, náuseas e vômito até paralisia, insuficiência respiratória e levar à morte.
Desastre para a saúde
A Organização Mundial de Saúde recomenda que a cobetura vacinal contra a polio seja superior a 95%. O panorama brasileiro está longe disso. Em 2017, 22 estados não atingiram a cobertura mínima. Na Bahia, 15% dos municípios imunizaram menos da metade das crianças. “É uma situação muito grave”, afirma Carla Domingues, coordenadora do Programa de Imunizações do Ministério da Saúde. “Um estado com esses indicadores tem toda a condição de voltar a registrar a transmissão da doença no nosso País. Será um desastre para a saúde como um todo.” Por causa da urgência, a campanha nacional de vacinação deve ter seu início antecipado de setembro para agosto. Na semana passada, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão solicitou ao Ministério da Saúde informações sobre o problema. O órgão quer saber suas causas e as providências que estão sendo tomadas.
Vários fatores explicam a situação. As vacinas estão disponíveis na rede pública, mas questões como o horário de funcionamento dificultam a ida das crianças aos postos. A maioria abre em horário comercial, quando boa parte dos pais está no trabalho. Aliado a isso, cresce a ideia de que a doença não é mais perigo. É um equívoco registrado entre a população e profissionais de saúde. “Não podemos deixar que a situação avance. Não se pode desvalorizar a prevenção”, afirma a médica Isabella Ballalai, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações. Na opinião da especialista, é preciso rever o acesso aos postos e fazer com que a população entenda que cada um tem sua responsabilidade. “É preciso ser pró-ativo”, diz. O caso da polio evidencia um problema amplo que ocorre no Brasil em relação à vacinação. O País apresenta baixa cobertura para todas as vacinas infantis — em 2017, 26% dos 5.570 municípios não atingiram a cobertura recomendada — e registra casos de sarampo (leia quadro), doença que também estava sob controle.
AÇÃO A médica Isabella alerta: não se pode descuidar da prevenção (Crédito:Fábio Motta)
Sarampo de volta
Nos seis primeiros meses de 2018, o Brasil registrou 1.891 casos suspeitos de sarampo, com 472 confirmações. Do total, sete casos foram notificados no Rio Grande do Sul. O restante, no Amazonas e em Roraima. O vírus chegou à região Norte com a chegada maciça de venezuelanos em busca de oportunidades, fugindo da crise que devasta o país vizinho. Porém, encontrou por aqui boas condições de disseminação, uma vez que a cobertura vacinal também está abaixo do que o recomendado. Segundo o Ministério da Saúde, a cobertura para a segunda dose do imunizante em 2017 foi de 71%. No ano anterior, foi de 79%.

segunda-feira, 9 de julho de 2018

Guardar a cebola cortada é um veneno para a saúde? Checamos essa história

Um áudio que circula pelo Whatsapp apresenta os potenciais perigos de deixar esse tempero na geladeira por algum tempo. Será que a informação procede?

Nas últimas semanas, uma mensagem de voz com 5 minutos de duração está pipocando nos celulares dos brasileiros. Nela, uma mulher não identificada diz que a cebola cortada é capaz de atrair bactérias e, assim, provocar uma série de doenças. Quem nos alertou sobre o assunto foi nosso assinante Altair Gomes, que mandou um e-mail e pediu que fizéssemos uma avaliação sobre o assunto e informássemos se a acusação é verdadeira ou falsa. Agradecemos o seu contato e a sugestão, Altair! 
Para averiguar essa história direitinho, procuramos referências nos estudos científicos e entrevistamos dois profissionais envolvidos com a área: a nutróloga Nayara Almeida, do Rede D’Or Hospital São Luiz, em São Paulo, e o engenheiro de alimentos Edison Triboli, do Instituto Mauá de Tecnologia, em São Caetano do Sul. Os dois especialistas foram unânimes em afirmar que a alegação é totalmente falsa.
Para desmontar a farsa, nós transcrevemos o áudio do Whatsapp e vamos mostrar, ponto a ponto, todos os seus erros:

“[…] hoje eu descobri por que a cebola cortada e deixada de canto não pode ser reutilizada. Preste atenção. Cuidado com as cebolas. Em 1919, a gripe matou 40 milhões de pessoas…”

A autora do áudio se refere à gripe espanhola que, na verdade, começou em 1918 e matou de 50 a 100 milhões de indivíduos. Ela é considerada a pior pandemia da história da humanidade. Desinformações assim já levantam a suspeita de um conteúdo falso.

“…um médico visitou os agricultores que tiveram o ataque e para ver se poderia ajudá-los a combater a gripe. Muitos dos agricultores e suas famílias que contraíram a gripe morreram. No entanto, o médico conheceu um fazendeiro cuja família era saudável e ninguém na casa pegou gripe. O médico perguntou ao agricultor o que ele estava fazendo que era diferente dos outros. A esposa do fazendeiro respondeu que ela cortou uma cebola com casca em um prato e colocou em todos os cômodos de sua casa.…”

Repare nas mancadas cometidas aqui: não é citado o nome do médico nem sua especialidade, qual país ou cidade em que ele atuava, quem eram esses agricultores… Sempre desconfie quando os dados não são exatos e nem é possível conferir a informação por meio de outras fontes. 

“…ele pediu uma dessas cebolas, achando que era da plantação diferente. Quando colocou sob microscópio, encontrou nela o vírus da gripe. As cebolas obviamente absorveram todas as bactérias e, portanto, mantiveram a família saudável.”

Dois erros crassos nesse trecho. Primeiro, não dá para visualizar um vírus no microscópio comum. Esse agente infeccioso só pode ser visto num microscópio eletrônico, que  foi inventado no ano de 1931, bem depois da gripe espanhola. Em segundo lugar, a voz feminina diz que as cebolas “absorveram todas as bactérias”. Ora, a gripe é causada por um vírus, o influenza! As bactérias nada tem a ver com a doença.

“…enviei essa história para um amigo no Oregon que sempre me dá material sobre a questão da saúde. Ele me respondeu com essa interessante experiência com as cebolas. Ele disse: obrigado pelo lembrete. Eu não conheço a história do agricultor mas sei que também tive pneumonia e fiquei muito doente. Do meu conhecimento anterior de cebolas, cortei as duas pontas de uma cebola e coloquei em um jarro vazio e coloquei ao meu lado durante a noite. De manhã, comecei a me sentir melhor enquanto a cebola ficava preta…”

Sim, a cebola pode até ficar preta se exposta no ambiente, pois entra em decomposição. Mas esse processo não acontece de uma noite para a outra e nem pela invasão de bactérias causadoras de pneumonia. Aliás, não tem como todos esses micro-organismos saírem dos pulmões de um indivíduo doente e migrarem, como num passe de mágica, para uma cebola. Veja só, até os antibióticos, remédios potentes fabricados para combater esse tipo de infecção, demoram alguns dias para trazer resultado.

“…muitas vezes, quando temos problemas de estômago, não sabemos a quem culpar. Talvez as cebolas que comemos antes sejam as culpadas. Cebola absorve bactéria. E essa é a razão pela qual elas são tão boas em nos impedir de pegar gripes e resfriados. Por essa razão, não devemos devemos comer uma cebola que esteja descansando por um tempo depois de cortada. Restos de cebola são venenosos. Quando uma intoxicação alimentar é relatada, a primeira coisa que as autoridades procuram é se a vítima comeu cebolas e de onde vieram …”

O erro se repete: gripes e resfriados são provocados por vírus, não por bactérias. A nutróloga Mayra Almeida nos ajuda no trecho seguinte: “As infecções gastrointestinais podem ser causadas por vírus e bactérias. O contágio se dá majoritariamente por alimentos e água contaminados, em ambientes onde a higiene é precária ou há falta de saneamento básico. Não é adequado dizer que a cebola seria a causa única desses problemas.”

“…as cebolas são enormes imãs de bactérias, especialmente as cruas. Nunca guarde uma porção de cebola em fatias por um período de tempo e depois use-a na preparação de alimentos. Não é seguro nem mesmo se você armazenar em um saco com zíper e armazenar na geladeira…”

Baboseira pura. Se essa acusação fosse verdadeira, muita gente já teria morrido por aí. Não há nenhum relato na ciência sobre algum caso em que isso ocorreu.
Na verdade, não existe problema em utilizar um pedaço de cebola que restou de uma receita feita anteriormente. É importante, claro, usar sempre o bom senso: fique de olho no aspecto da hortaliça e descarte-a se perceber qualquer sinal de decomposição, como mudança na cor, na textura e no aroma. “Como ela tem um cheiro muito forte depois de aberta, o ideal é guardá-la na geladeira dentro de um pote com tampa de borracha, para impedir que o odor se espalhe para outros alimentos”, sugere o professor Edison. 

“…além disso, não dê cebola para os cães. Seus estômagos não podem metabolizar as cebolas…”

Finalmente um trecho com uma dica bacana! Tanto o alho quanto a cebola contêm uma substância chamada alicina. Em cães e gatos, ela pode levar a um tipo de anemia conhecido como hemolítica. Em suma, trata-se da destruição dos glóbulos vermelhos no sangue. A intoxicação pode aparecer gradativamente e, para isso, é necessário que o animal consuma uma grande quantidade desses ingredientes.
Só que isso não tem nada a ver com bactérias. Na dúvida, converse com o veterinário de seu pet.

“[…] sempre que cortar uma cebola e usar somente metade, coloque a outra metade em algum outro ponto de sua casa, preferencialmente nos quartos, para que absorvam possíveis bactérias…”

Uma atitude dessas não vai adiantar em nada e só vai deixar sua casa com um cheirinho, digamos, peculiar. Para evitar infecções, o melhor mesmo é adotar outras medidas que têm comprovação científica, como lavar as mãos com frequência (especialmente ao chegar em casa, no trabalho ou na escola) e tomar as vacinas disponíveis para a sua faixa etária.

sábado, 7 de julho de 2018

Exercícios aeróbicos melhoram os sintomas

A panturrilha é o principal local de bombeamento de sangue. Sua contração deve ser fortalecida
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Djalma Melo foi submetido ao procedimento não invasivo (injeção de espuma) para tratar as varizes na região da panturrilha ( Foto: Kleber A. Gonçalves )
Ativo por natureza e adepto da prática regular de futsal, corrida e caminhada, o bancário Djalma Alcântara Melo, 57 anos, foi surpreendido com dores na região da panturrilha, também conhecida como 'batata' ou 'barriga' da perna. "Ao praticar atividade física, percebi a saliência de varizes (veias) na perna direita. Estava diminuindo meu rendimento devido a dor", explica.
A ocorrência de varizes causadas por esforço físico não é algo frequente, muito menos em homens, cuja incidência de insuficiência venosa crônica é sempre menor que em mulheres. Mesmo assim, segundo o médico cirurgião vascular Frederico Augusto de Carvalho Linhares Filho, cerca de 25% dos homens são acometidos.
"Na prática clínica, o que percebemos é que eles retardam mais em procurar o angiologista ou o cirurgião vascular. Já chegam ao consultório em uma fase mais avançada da doença, fato pode dificultar o tratamento e levar a uma recuperação mais prolongada", admite o presidente da SBACV - Ceará.
Felizmente esse não foi o caso de Djalma Melo que buscou ajuda médica e está satisfeito com o resultado da aplicação do procedimento com espuma. "Faço revisões quando necessário e voltei com mais autoestima devido a nova estética da panturrilha. Retornei às atividades físicas sem problemas", relata.
'Coração' da perna
Os músculos da região da panturrilha são muito exigidos no dia a dia, uma vez que fazem as vezes de apoio e de sustentação para o corpo como um todo. A contração da musculatura leva ao bombeamento do sangue na perna e a redução da pressão venosa.
Assim, os exercícios aeróbicos (que promovem a contração da panturrilha) são os mais indicados para a melhora dos sintomas relacionados às varizes. Dr. Frederico Linhares indica como exemplo corrida, ciclismo, natação, futebol, vôlei, tênis e hidroginástica, entre outros. "Todas as pessoas com varizes nos membros inferiores (e que não possuem limitações) devem ser estimuladas a realizar exercícios físicos regularmente. Segundo ele, "a musculação e o crossfit não costumam estar relacionada ao surgimento de varizes, não havendo a necessidade de suspensão dos mesmos. Orientamos apenas que exercícios aeróbicos sejam associados".
Questão de postura
A questão postural é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de varizes. Professores, vendedores, seguranças e outros profissionais que permanecem grande parte do dia em pé estão sob risco de apresentar dilatação dos vasos dos membros inferiores.
"Sempre que possível deve-se alternar períodos sentados (com as pernas elevadas em cima de um banquinho) com o tempo que permanecem em pé". Nesses casos, "o uso da meia elástica é extremamente importante para o alívio dos sintomas e para ajudar a diminuir a dilatação das veias".
A insuficiência venosa é uma doença evolutiva, crônica e que não tem cura. "Daí ser tão comum escutarmos alguém falar que não irá mais tratar as varizes pois elas voltam a aparecer".
O médico compara tratar as varizes como o que é feito com quem tem hipertensão arterial, ou seja, o cuidado deve ser constante. "Se as orientações não forem seguidas os fatores de risco permanecerão atuando e surgirão novas varizes", destaca.
Outro detalhe importante. "Não há uma idade específica para o surgimento de varizes, embora sejam mais frequentes em idosos. Tal fato provavelmente se justifica pelo maior tempo de exposição aos fatores de risco".
Dor na perna, sensação de peso, coceira, cãimbras, inchaço e alteração na coloração da pele (na região do tornozelo), com o surgimento de manchas marrons estão entre os principais sintomas, que costumam piorar no fim do dia.
Fique por dentro
Campanha alerta sobre possíveis negligências
Apesar de poder resultar em complicações graves, como a trombose, é comum a insuficiência venosa crônica ser associada apenas a aspectos estéticos e, assim, é significativo o números de pessoas que busca profissionais não especializados para procedimentos de escleroterapia.
Devido a essa negligência, a SBACV lançou a Campanha Nacional de Escleroterapia (www.Sbacvce.Com.Br) cujo objetivo é o de conscientizar a população sobre a relevância da intervenção médica adequada. .
"Quando o paciente recorre a uma solução equivocada para as varizes, ele se expõe a um enorme risco. Apesar de parecer simples a princípio, o método de escleroterapia quando mal executado pode causar úlceras graves, manchas escuras, inflamação de veias e até trombose profunda", diz o presidente da SBACV - Ceará, Dr. Frederico Linhares.
Somente o médico - com treinamento específico - está habilitado a indicar o melhor tratamento, identificar os possíveis efeitos adversos e evitá-los prontamente. "E também tratar as complicações e assim reduzir os desfechos dramáticos que cada vez mais temos presenciado", conclui o médico

Evite problemas de circulação

Permanecer por mais de cinco horas seguidas sentado pode aumentar em até 70% o risco de embolia pulmonar, conforme estudo publicado no periódico científico Circulation, realizado por pesquisadores da Universidade de Osaka, no Japão,
Para tanto, a Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular faz algumas recomendações. A primeira é não ficar parado, uma vez que o sistema circulatório (coração e vasos sanguíneos) precisa da movimentação para se manter com um bom condicionamento físico. A segunda é não ficar estressado, pois a tensão contínua e exagerada causa desequilíbrios no organismo. O sono reparador é vital para a saúde do indivíduo e não deve ser desconsiderado.
Alimentar-se corretamente antes e durante a viagem, assim como evitar o sal e produtos refinados. O sódio retém líquido, aumenta o trabalho cardíaco e favorece doenças cardiovasculares e renais.
As meias elásticas são boas aliadas (antes de iniciar uma viagem mais longa). Ajudam a comprimir a musculatura da panturrilha e fazem uma ação imediata sobre os músculos que atuam no sistema venoso. Também auxiliam na circulação sanguínea.

sexta-feira, 6 de julho de 2018

Epidemia de chikungunya faz prefeitura fluminense decretar emergência

Até terça-feira, Campos dos Goytacazes registrava mais de 2 mil casos

Por O Dia
Aedes aegypti, transmissor do vírus da chikungunya
Aedes aegypti, transmissor do vírus da chikungunya -
Rio - A prefeitura de Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, decretou estado de emergência devido à situação de epidemia da chikungunya. O município tem notificados, até esta terça-feira, 2.365 mil casos de chikungunya confirmados por meio de análises clínicas, epidemiológicas e sorológicas. Foram registrados também 95 casos de dengue, mas não há casos de zika e febre amarela.
Publicado no Diário Oficial desta quinta-feira, o decreto do prefeito Rafael Diniz autoriza a entrada de agentes do Centro de Controle de Zoonoses em imóveis cujos proprietários estejam ausentes ou recusem o serviço e o remanejamento de servidores para atuar no combate ao Aedes aegypti, transmissor também da dengue, zika e febre amarela. Desde maio, em vários mutirões, foram percorridos 33 bairros com ações em cerca de 27 mil imóveis, mas 18 mil foram encontrados fechados.
O decreto leva em consideração a proliferação do mosquito no interior do estado do Rio de Janeiro, o resultado do Levantamento de Índice Rápido do Aedes Aegypti (LIRAa), que foi de 6,1% e é considerado de alto risco, a localização geográfica do município, próximo à divisa e a regiões de mata, que facilita a circulação do vírus, além da baixa imunidade da população do país ao vírus chikungunya.
Além disso, o decreto destaca que a entrada forçada em algum imóvel deve ser considerada "fundamental no trabalho de contenção da doença com oferta de risco à saúde dos vizinhos". Nesse caso, os agentes estarão acompanhados de funcionários da Vigilância Sanitária, Guarda Civil Municipal ou da Polícia Militar. A ação deverá ser registrada com fotos e vídeos que constarão no chamado "auto de ingresso forçado”.
Medidas
Desde o mês de maio, quando foi constatada infestação do Aedes aegypti no município, a prefeitura de Campos vem adotando medidas como reforço dos mutirões nas regiões com alto índice do mosquito, descentralização do atendimento primário na rede de saúde e aumento da atuação dos carros do tipo fumacê. Também aumentaram o número de testes laboratoriais feitos na rede básica de saúde e o de mutirões de identificação de proprietários de terrenos para que façam a limpeza da área.
Com informações da Agência Brasil