segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Cigarro eletrônico mata

Se antes era uma suspeita, agora é realidade. Sucessivos casos confirmados de mortes decorrentes do uso de vaporizadores de óleo ligam o alerta para quem tem o hábito de fumar com este tipo de aparelho — muito popular entre os jovens

Crédito: Pixabay
O cigarro eletrônico já não é mais novidade. Apresentado como uma alternativa menos cancerígena ao consumo de nicotina, principalmente por não funcionar com a combustão de substâncias nocivas como o alcatrão, eles são de aspecto moderno, tem grande apelo juvenil, não deixam cheiro ruim e oferecem essências com sabores diversificados. Mas, como agora se sabe, eles também podem ser letais.O centro de controle de doenças dos EUA, onde os vapes — como também são conhecidos — são muito populares, já confirmou 530 casos de doenças respiratórias graves associadas ao hábito, além de onze mortes. Esta doença ainda não tem nome e sequer há um mapeamento completo de como ela se instala no corpo e provoca os sintomas. Num primeiro momento, existia a hipótese de que a misteriosa enfermidade estivesse ligada ao consumo de vapes com THC, principal substância psicoativa encontrada na maconha, e que fosse mais perigosa para jovens. A suspeita se deu por causa de um estudo da Universidade de Saúde de Utah, que identificou a doença em um homem de 21 anos que usava cigarros eletrônicos para fumar óleos de nicotina e de THC. Foi a primeira empreitada que conseguiu identificar parte do problema, encontrando células com grande quantidade de gordura dentro do pulmão do paciente. Até o momento, dois terços dos acometidos pela doença pulmonar estão na faixa dos 18 aos 34 anos
Com a confirmação de mais mortes, incluindo a de um homem de mais de 40 anos, a suspeita se dissipou, expandindo o alerta para todos que usam vapes, com todo tipo de essência ou sabor. Sean Callahan, professor assistente da Universidade de Saúde de Utah e um dos que assinou o estudo, diz a ISTOÉ que os resultados de pesquisas sobre o uso de cigarros eletrônicos é bem claro: “simplesmente é melhor não usar vapes por enquanto.” Ele afirma, do ponto de vista de sua experiência no setor de cuidados pulmonares na universidade, que há um percentual grande de usuários de óleos que não contém THC sendo identificados com a doença. O médico também avalia que o grande número de jovens afetados está relacionado com o fato dos e-cigars serem muito populares entre os mais novos. ”Nós médicos precisamos melhorar nossa capacidade de diagnóstico do problema, além dos que estão fora da divisão pulmonar, principalmente nas áreas de primeiros cuidados e de emergência”, diz.
Jovens e vapes
A preocupação com a letalidade do cigarro eletrônico está principalmente no crescimento do uso entre a população mais jovem. Enquanto o departamento de Saúde dos EUA aponta que apenas 5,8% dos colegiais do país fumam cigarros (número decrescente), a agência de alimentos e drogas mostra que em 2019, 27,5% dos estudantes dessa faixa etária experimentaram um vape ao menos uma vez no mês anterior à pesquisa. Os dispositivos são portáteis, existindo até capas para smartphones com alça para transportá-los juntos. É algo atraente e descolado. Há marcas desenvolvendo adesivos de estampas como “Supreme” ou “Marvel” para customizar o próprio cigarro eletrônico.
Muito da popularização do dispositivo tem a ver com a empresa por trás disso: a Juul, uma startup fundada por dois ex-alunos de Stanford, Jame Monsees e Adam Bowen, que controla mais da metade do mercado norte-americano de vapes. Embora ela tenha assumido uma postura de apresentar o produto como “uma alternativa para fumantes”, a marca é a preferida entre os adolescentes, principalmente para consumir os óleos de sabor, como mentolados e de manga. A empresa chegou a ter programa de representantes que visitavam escolas para informar os benefícios de trocar do cigarro convencional para o eletrônico, colocando os jovens em contato direto com o produto da marca – iniciativa já interrompida pela Juul. Ela já chegou a ser avaliada em US$ 38 bilhões e faturou aproximadamente US$ 1.2 bilhões no primeiro semestre de 2019. No último balanço divulgado pela empresa, em 2017, foram vendidos mais de 16 milhões de dispositivos.
A Juul deve acusar o golpe após a multiplicação dos casos de doenças ligadas ao cigarro eletrônico. O presidente dos EUA, Donald Trump, já se posicionou afirmando que “não podemos permitir que nossos jovens adoeçam”, indicando que alguma regulação ao acesso de tais produtos deve acontecer. Os estados de Nova York e de Michigan proibiram a comercialização de cigarros eletrônicos de sabor (que representam cerca de 80% do total consumido) e a rede de lojas de departamento Walmart, uma das maiores do mundo, afirmou que irá deixar de vendê-los. O caminho é bastante claro: o império da nicotina eletrônica construído pela Juul pode ruir, principalmente com a população adoecendo pelo consumo da substância. No Brasil, apesar dos cigarros eletrônicos serem proibidos por lei desde 2009, não é difícil encontrar alguém vaporizando nicotina pelas ruas. Um dispositivo desses pode ser comprado por meio de sites especializados, bem como os diferentes tipos essências, ou até mesmo em perfis do Instagram. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária informa que desde 2017 já retirou da internet mais de 700 anúncios de dispositivos eletrônicos para fumar e que já realizou duas audiências públicas para debater o tema.
A situação no Brasil
O Brasil é referência mundial no combate ao tabagismo. Na segunda 23, o País recebeu o prêmio da Força-Tarefa Interagências da ONU pela redução do percentual de fumantes de 15,6% em 2006 para 9% em 2018. Mesmo assim, mediante aos expressivos números do mercado, há a ameaça da legalização, apesar dela ainda não ser formalmente discutida, principalmente pelos incipientes dados no ambiente brasileiro. Uma pesquisa do Programa Nacional de Tabagismo do SUS revelou que 30% dos fumantes menores de 30 anos já experimentou o vape alguma vez, indicando a propensão também da sociedade brasileira em aderir ao hábito. Os jovens cresceram num Brasil em que fumar cigarro é mal visto. Há imagens repulsivas nos maços de cigarro e não se pode fumar em locais fechados. Os cigarros eletrônicos ainda não estão associados a tais imagens ruins, pelo contrário, são quase vistos como desejáveis. Se foram necessárias décadas para arruinar a imagem do cigarro, as mortes decorrentes do uso de vape podem fazer isso em muito menos tempo.

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

É comendo de tudo que se emagrece

Restringir demais a dieta leva a um processo chamado de monotonia alimentar, que pode favorecer o ganho de peso

A minha esposa, Luciana Lancha, e eu temos o costume de comer comida japonesa uma vez por semana. A cidade de São Paulo é fabulosa para isso: temos quase tantos restaurantes japoneses quanto pizzarias. Aliás, eu adoro pizza e até agora estou aguardando para dividir uma com meu amigo Theo, jornalista da SAÚDE que edita os textos desta coluna (recado dado!).
Pois bem: outro dia, estávamos sentados em um desses restaurantes quando escutamos, na mesa ao lado, a seguinte frase: “salmão é supersaudável”. De fato, o salmão é bastante nutritivo. Ele fornece boa quantidade de proteínas e gorduras poli-insaturadas na forma de ômega-3.
Eis que o sujeito faz o seu pedido: “Como o salmão é saudável, vou querer dez sashimis de salmão, cinco sushis de salmão e um temaki de salmão com ovas de salmão por cima”.
Ao basearmos nossa dieta em um único alimento — com suas mais variadas formas de consumo —, teremos um padrão de nutrientes homogêneo. A falta de variedade, além de monótona, deixa diversas substâncias importantes para o organismo de fora do cardápio, por mais que o alimento escolhido seja muito nutritivo.
E isso, além de não ser saudável, pode sabotar seu projeto de emagrecimento. Nosso corpo possui mecanismos extremamente elaborados no controle do consumo de alimentos, que contemplam a variedade de nutrientes ingerida nas refeições.
A monotonia alimentar predispõe o organismo a buscar todos os nutrientes que faltaram nas ingestões anteriores. Na prática, ele não vai disparar uma forte sensação de saciedade na expectativa de que você passe a comer outros alimentos, com outros nutrientes que abasteçam suas necessidades fisiológicas. Conclusão: ao ficar só no salmão em um rodízio japonês, você tende a ingerir mais calorias do que se variasse nas escolhas.
Diversifique suas opções à mesa! A saciedade surgirá mais efetivamente com um leque variado de nutrientes. E lembre-se: não existe alimento saudável e alimento não saudável. Existe alimentação saudável — e é ela que o levará rumo ao seu melhor exemplar.

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

A vacina que previne o câncer: eficiente e segura, mas subutilizada

A imunização contra HPV ainda enfrenta resistência na América Latina, apesar de proteger contra um vírus que causa tumores de colo de útero, entre outros

Os programas de vacinação contra o HPV na América Latina correm o risco de repetir a trajetória do exame preventivo de Papanicolaou: uma ferramenta muito eficiente, mas que, subutilizada, não atinge o seu potencial. Embora a região tenha um histórico de sólidos programas nacionais de imunização, com alta cobertura vacinal, as doses contra o HPV esbarram em falta de conhecimento, na associação infundada com a iniciação sexual precoce e na dificuldade de alcançar crianças e adolescentes que já não frequentam os postos de saúde regularmente, como é comum na primeira infância.
O alerta é importante em um cenário em que os tumores relacionados ao HPV continuam a ser uma das principais causas de câncer na América Latina, principalmente o do colo do útero, terceiro tipo mais frequente no Brasil. A prevalência de infecção pelo vírus na região é duas vezes maior que a da média mundial e está associada a mais de 68 mil novos casos de tumor cervical por ano.
Como a doença afeta, em sua maioria, mulheres jovens, ela representa a maior causa de anos de vida perdidos como resultado do câncer em países de baixa e média renda.
A falta de conhecimento sobre a relação entre o vírus e os tumores está entre as principais barreiras para a vacinação contra o HPV. Vários estudos já mostraram que, uma vez informados de que essa injeção evita a doença, pais e profissionais de saúde são mais propensos a indicá-la. A adesão à imunização também tem sido menor do que a esperada pelo pouco conhecimento da população sobre a comprovada segurança da vacina.
Os aspectos culturais são outro fator que influenciam os programas contra o HPV, assim como impactaram as iniciativas voltadas para os exames de Papanicolaou na América Latina. O conservadorismo e a natureza desse vírus como uma infecção sexualmente transmissível prejudicaram a comunicação e a educação sobre ele.
Ora, há um desconforto geral de falar sobre sexo e existe a crença, infundada, de que essa vacina adiantaria a atividade sexual dos adolescentes. Mas um estudo da Sociedade Americana de Pediatria confirmou que a vacinação contra o HPV não está associada à iniciação precoce da vida sexual, tampouco ao aumento da atividade sexual na adolescência.
Por fim, a dificuldade em garantir o cumprimento do esquema vacinal completo e a falta de revisão das estratégias de implementação de programas públicos de imunização são outros fatores que influenciam a aderência à vacinação contra o HPV. A necessidade de políticas que ampliem a cobertura vacinal é evidente.
Em países onde altas taxas de adesão foram atingidas, a infecção por alguns subtipos de HPV mais relacionados ao câncer caiu quase 70% a partir do primeiro ano após a introdução da vacina. Como ocorreu no início da imunização contra o HPV no Brasil, em 2014, a vacinação nas escolas, junto ao endosso de sociedades médicas de que a vacina é segura e eficaz, parecem ser o melhor caminho a ser seguido para a redução dos índices de câncer cervical.
*Angélica Nogueira Rodrigues é doutora em oncologia pelo INCA, com pós doutorado em Oncologia Global pela Harvard University. É presidente do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Hormonioterapia para prevenir o câncer de mama: vale a pena?

Entidade americana atesta benefícios desse grupo de remédios para mulheres em alto risco de ter a doença no futuro. Mas quem deveria tomar?

Recentemente, a Força-Tarefa de Saúde Preventiva dos Estados Unidos, organização voluntária que reúne experts daquele país para delinear recomendações médicas baseadas em evidências científicas, publicou um artigo apoiando o uso da hormonioterapia em mulheres com alto risco de desenvolver câncer de mama no futuro. Você entendeu direito: a proposta seria dar remédios para prevenir a doença em um subgrupo da ala feminina.
O texto leva em consideração estudos robustos e foi publicado no respeitado periódico científico JAMA (Journal of American Medical Association). Os autores destacam três medicamentos: tamoxifeno, raloxifeno e inibidores da aromatase. São drogas já usadas para combater tumores e diminuir a probabilidade de eles voltarem.
Pois bem: engolir comprimidos antes de uma enfermidade aparecer soa um pouco estranho, mas essa estratégia já é conhecida pelos especialistas. “O relevante aqui é que essa força-tarefa, geralmente conservadora, foi bem enfática na recomendação”, destaca Gilberto Amorim, oncologista da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (Sboc). “Isso é um estímulo para que o assunto seja mais discutido nos consultórios”, completa.

Quem se beneficia da hormonioterapia preventiva

Ela tem um alvo específico. “Basicamente, são as mulheres acima de 35 anos com histórico familiar e lesões que aumentam o risco de câncer, como as hiperplasias atípicas ou lobulares”, explica Marcelo Bello, mastologista e diretor do Hospital do Câncer III, do Instituto Nacional de Câncer (Inca).
Se a mulher já teve um carcinoma de mama in situ — uma forma muito inicial do tumor —, também pode considerar a tática. Por outro lado, quem apresenta uma mutação nos genes BRCA 1 e 2 (como a atriz Angelina Jolie), ligados ao aparecimento da doença, não se beneficiaria da prevenção com hormonioterapia.
Há, enfim, modelos matemáticos e questionários a serem aplicados pelos médicos que definem a magnitude dos benefícios para cada mulher. É uma questão de conversar abertamente sobre o assunto.

Como funcionam os remédios

Tamoxifeno e raloxifeno bloqueiam a ação do estrogênio, um hormônio muitas vezes envolvido no surgimento do câncer nos seios. “Os medicamentos impedem a proliferação de células tumorais no tecido mamário”, comenta Maria Del Pilar Estevez Diz, coordenadora de oncologia clínica do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp).
Já os inibidores da aromatase reduzem o estrogênio em circulação no corpo. “Eles não impedem o ovário de produzir o hormônio, apenas diminuem seus níveis. Por isso, devem ser usados preferencialmente em mulheres na menopausa”, pontua Bello.

O que considerar antes de recorrer a essa estratégia

Primeiro, a hormonioterapia não garante uma proteção completa contra o câncer de mama. “Estamos falando apenas de redução de risco”, pontua Pilar. Até porque existem versões da doença que não são estimuladas pelos hormônios — logo, de pouco adianta bloqueá-los nesses casos.
Como estamos falando de medicamentos, há também efeitos colaterais que pesam na decisão. E eles não são desprezíveis.
O tamoxifeno e o raloxifeno elevam ligeiramente a probabilidade de tromboembolismo, por exemplo. Os inibidores da aromatase, por sua vez, estão associados ao surgimento da osteoporose. “Esses fatores precisam ser avaliados e monitorados durante o uso da medicação”, orienta Bello.
Na consulta, o médico investiga se essas reações adversas são mais ou menos relevantes para cada caso. Se a paciente já tiver um risco aumentado de trombose, talvez o tamoxifeno e o ralofixeno não sejam boas opções, por exemplo.
“A mulher precisa ser bem informada para tomar a decisão de uma maneira consciente e compartilhada com o profissional de saúde”, orienta Pilar.
Outro ponto que dificulta a adesão a esse método é uma possível indução precoce da menopausa. “Algumas mulheres param de menstruar e manifestam sintomas como ondas de calor, insônia e ressecamento vaginal”, aponta Amorim. “Mas é difícil que isso aconteça”, emenda.
Para os especialistas ouvidos pela reportagem, a estratégia é válida quando bem indicada. “Creio que seja até subutilizada, porque ela reduz o risco de morte e evita cirurgias e tratamentos agressivos. Mas, hoje, é difícil convencer alguém a tomar remédio sem estar doente”, afirma Amorim.

sexta-feira, 13 de setembro de 2019

5 ações para reverter a epidemia de hipertensão

A Sociedade Brasileira de Hipertensão divulgou orientações para reduzir a prevalência de pressão alta. Listamos as que você pode seguir para se proteger

A pressão alta está presente na vida de um a cada quatro brasileiros, segundo pesquisa recente do Ministério da Saúde. Para reverter esse quadro e controlar melhor a doença, que leva à morte por problemas cardiovasculares, a Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH) divulgou uma série de orientações.
Chamado de “Call to Action” (chamado à ação, em tradução livre), o documento foi feito originalmente para os médicos e apresenta recomendações práticas a serem aplicadas no atendimento. No entanto, várias das medidas também se encaixam no dia a dia da população e dos hipertensos. Afinal, para enfrentar esse problema, todo mundo precisa trabalhar em conjunto.
SAÚDE separou cinco pontos do documento aplicáveis à sua rotina. Veja abaixo:

1. Dar prioridade à pressão arterial em todas as consultas clínicas

Em teoria, o doutor — de qualquer especialidade — deveria checar esse índice toda vez que entrar em contato com o paciente. E você pode cobrar por isso, tanto para fazer um diagnóstico precoce como para acompanhar a evolução da hipertensão, caso sofra com ela.
O uso de monitores validados pelo Inmetro para uma medida mais precisa também tem que ser incentivado.

2. Checar a adesão ao tratamento

Faz parte da função do médico ajudar o paciente a tomar seus medicamentos direitinho. Converse com ele sobre as melhores formas de ajustar o tratamento ao seu dia a dia, além de checar como abandonar hábitos nocivos, a exemplo de fumar ou abusar de bebidas alcoólicas.

3. Envolver outros profissionais

Um dos pontos mais enfatizados pela SBH é o trabalho em equipe. Com a ajuda de profissionais não-médicos, como enfermeiros e agentes da saúde, é possível controlar melhor a enfermidade e aperfeiçoar os cuidados com quem está doente.

4. Empoderar os pacientes

Para domar a pressão, o hipertenso precisa conhecer sua condição com detalhes e participar ativamente das decisões a respeito do tratamento. Nesse sentido, vale incentivá-lo a:
  • Seguir um estilo de vida saudável
  • Ter a pressão medida regularmente e entender o significado dos números
  • Criar uma rotina e monitorar a medicação
  • Manter-se conectado com os profissionais de saúde, inclusive por meio de tecnologias, se for o caso
  • Participar de redes de apoio — estratégia que até melhora a eficácia do tratamento

5. Apoiar políticas e projetos de combate à doença

Os médicos e todos nós devemos defender políticas públicas que assegurem o acesso a métodos de diagnóstico e acompanhamento do quadro, além de remédios de boa qualidade. Outra medida é defender projetos de incentivo a dietas saudáveis, prática de atividade física e por aí vai.

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Crianças e adultos com sarampo devem tomar vitamina A?

O governo distribuiu suplementos de vitamina A para bebês com casos suspeitos de sarampo. Checamos se isso evita complicações neles e em outros grupos

O Ministério da Saúde anunciou o envio de cápsulas de vitamina A aos estados que enfrentam surtos de sarampo. Segundo o boletim oficial, elas são destinadas aos bebês com menos de 6 meses de vida e que têm suspeita da doença.
A medida pegou de surpresa muitos brasileiros que desconheciam o uso de suplementos desse nutriente no tratamento do sarampo. Mas os médicos encaram a recomendação como positiva.
“A deficiência de vitamina A é um fator de risco para internações, problemas nos olhos e morte decorrente do sarampo entre crianças. Há muitos estudos comprovando o benefício da suplementação”, explica Marco Aurélio Safadi Palazzi, presidente do Departamento Científico de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
Os baixos níveis da substância são mais comuns em regiões pobres, que lidam com a desnutrição infantil. Só que o sarampo em si também diminui a concentração de vitamina A no sangue — ou seja, uma criança infectada de qualquer lugar do país está sujeita a essa deficiência. “Essa é a maior preocupação, porque a vitamina protege a pele e mucosas, dois tecidos agredidos pelo vírus”, destaca Regina Célia de Menezes Succi, pediatra da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Embora o governo tenha se concentrado nos pequenos com menos de 6 meses por causa dos surtos de 2019, crianças mais velhas com suspeita de sarampo também se beneficiam dos comprimidos de vitamina A. De acordo com o boletim do Ministério da Saúde, há evidências robustas de redução na mortalidade com esse tratamento em pequenos de até 2 anos.
Em meninos e meninas acima dessa faixa etária, as pesquisas são menos contundentes, mas também sugerem uma queda no risco de complicações com os suplementos.

O que a vitamina A tem a ver com o sarampo

Ela está em diversos alimentos, como folhas verde-escuras, cenoura, ovos e frutas. “Não conhecemos muito bem os motivos para a relação específica com o sarampo, mas se sabe que a vitamina A tem um papel no sistema imune, além de atuar na manutenção da saúde ocular”, aponta Palazzi.
Entre outras coisas, o nutriente é anti-inflamatório e participa da fabricação da mucina, um tipo de proteína que impede a entrada de micro-organismos nocivos na pele e nas mucosas. Por isso que sua carência, quando provocada pelo vírus do sarampo, deixa essas estruturas vulneráveis.

Histórico de uso

Nos anos 1970 e 1980, quando o Brasil enfrentava epidemias constantes de sarampo, a desnutrição infantil era mais comum. Não à toa, o vírus provocava mais estragos.
“Desde essa época começamos a administrar vitamina A para evitar complicações, e verificamos que isso diminuía a mortalidade em crianças”, comenta Regina.

Quando tomar a vitamina A contra o sarampo?

Somente em casos de suspeita da doença, mesmo que ainda não exista a confirmação por meio do exame de sangue. As doses são consideradas seguras e até fazem parte da rotina do Sistema Único de Saúde (SUS) onde a desnutrição é uma realidade.
Para o uso específico contra o sarampo, os postos dos estados em surto estão oferecendo cápsulas de 50 mil UI para os bebês com menos de 6 meses. Contudo, a quantidade a ser ingerida varia conforme a idade.
De acordo com o informe do ministério, em crianças de 6 meses a 1 ano, a concentração sobe para 100 mil UI. Acima dessa faixa etária, a orientação é administrar 200 mil UI.
A aplicação envolve duas doses. Uma no momento em que surge a suspeita e a outra no dia seguinte.
Atenção: os especialistas ainda não sabem se adultos infectados se beneficiariam da suplementação. Os médicos ouvidos pela SAÚDE especulam que o efeito positivo até pode ser o mesmo, mas destacam que ainda não há provas concretas disso.
Fora o uso da vitamina A nas crianças, não há tratamento específico para o sarampo. O melhor mesmo é prevenir.

Posso tomar vitamina A para evitar o sarampo?

Não existem evidências de que tomar comprimidos com o nutriente previne contra a doença. Até porque sua deficiência não é comum nas regiões mais afetadas pelo sarampo — e suas fontes alimentares são amplamente consumidas na maioria do país.
“A única coisa que realmente diminui o risco de infecção é a vacina”, enfatiza Regina.

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

O abacate arrasa! Veja os benefícios e como inclui-lo nas refeições

Cremosa que só, a fruta mostra, no mercado, na cozinha e nos centros de pesquisa, por que não para de angariar fãs e distribuir saúde

“Abacateiro / Acataremos teu ato / Nós também somos do mato / Como o pato e o leão.” Os clássicos versos de Gilberto Gil, da música Refazenda, surgiram no tempo em que, por aqui, o abacate era saboreado dentro de sua própria casca junto de colheradas de açúcar ou, no máximo, batido com leite. Naquela época, em meados dos anos 1970, as frondosas árvores, com até 20 metros de altura, também costumavam enfeitar os quintais brasileiros e faziam a alegria da molecada que se empoleirava entre os galhos.
Hoje, é mais raro ver abacateiros no fundo das casas. Em compensação, o fruto tem se multiplicado no hortifrúti e aparecido em tudo quanto é receita, passeando muito além da cozinha mexicana: vai em torradas, canapés, saladas, sanduíches, molhos, sobremesas… Seja no doce, seja no salgado, o fruto ganha espaço nos cardápios saudáveis, invade as redes sociais e conquista o paladar dos brasileiros.
Claro que a consistência cremosa explica parte da fama, mas é graças a um empurrãozinho dos estudos que ele figura entre os alimentos mais badalados atualmente. Seus benefícios contra o ganho de peso está entre os principais motivos dessa crescente popularidade. Não faltam experimentos atestando esse elo.
Um dos mais robustos, estampado no periódico Nutrients, vem da Universidade Loma Linda, nos Estados Unidos. Os pesquisadores avaliaram hábitos de 55 407 pessoas durante 11 anos. Entre as conclusões, notaram que os consumidores habituais do fruto tendiam a ganhar menos peso do que aqueles que não eram tão fãs.
Embora a nutricionista Maristela Strufaldi, do Departamento de Nutrição da Sociedade Brasileira de Diabetes, elogie a magnitude de tal pesquisa, ela também chama a atenção para a idade dos participantes, já que a média era de 56 anos. “Há uma tendência de perda de massa magra entre os mais velhos, e o estudo não avaliou a composição corporal dessa população”, sinaliza a expert. Os próprios cientistas sugerem que novas análises precisam ser feitas, e com voluntários jovens.
Ainda que exista a necessidade de mais investigações, algo que é praxe na ciência, não faltam pistas sobre o que há por trás desse efeito muito bem-vindo em um mundo cada vez mais inflado. Uma das explicações tem tudo a ver com a alta concentração de gordura do alimento, que, inclusive, lhe garante a cremosidade. Quem diria! Afinal, trata-se justamente do nutriente mais calórico — oferece 9 calorias por grama, enquanto carboidrato e proteína somam 4 cada um.
Pois a união do montante gorduroso com grandes doses de fibras é a chave para o aumento da saciedade. “O esvaziamento gástrico costuma ser mais lento, o que favorece o controle do apetite”, explica Maristela. Ocorre, assim, toda uma modulação de hormônios envolvidos com a fome, brecando o movimento de abrir e fechar a geladeira o tempo inteiro atrás de comida.
Mas um aviso para quem já está pensando em viver só de abacate para manter a forma: não existe milagre. Só funciona dentro de um contexto baseado em equilíbrio, com o devido espaço para todos os grupos alimentares, sem monotonia e considerando o prazer à mesa.

A demanda de produção do abacate aqui e lá fora

Mundo: aparecemos entre os dez maiores produtores de abacate do planeta. No topo do ranking está o México, terra natal da fruta.
Brasil: os últimos dados apontam para uma produção de 213 041 toneladas distribuídas em uma área total de mais de 13 mil hectares.
Os maiores produtores no Brasil, em toneladas:
  • 1º São Paulo: 121 216
  • 2º Minas Gerais: 50 751
  • 3º Paraná: 20 003
  • 4º Espírito Santo: 4 992
  • 5º Rio Grande do Sul: 4 520
As 10 mais: o abacate ocupa o sétimo lugar no grupo de frutas frescas produzidas no Brasil. Perde para laranja, banana, limão, uva, tangerina e manga.
Consumo: ainda que o fruto esteja em ascensão, o brasileiro não come mais de 1 quilo ao ano. Os maiores fãs estão em outros cantos da América: em terceiro lugar, Chile, Estados Unidos em segundo e México na liderança.

Os nutrientes do abacate

(Em 100 gramas do fruto)
Energia: 96 calorias
Proteínas: 1,2 g
Carboidratos: 6 g
Fibras: 6,3 g
Potássio: 206 mg
Magnésio: 15 mg
Gordura monoinsaturada: 4,3 g

O abacate no Brasil

Historiadores acreditam que o abacate chegou ao Brasil no século 16. “Relatos apontam os intercâmbios alimentares promovidos pelos europeus como os responsáveis pela disseminação do fruto, que é nativo do México e da América Central”, diz o engenheiro agrônomo Tadeu Graciolli Guimarães, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a Embrapa Cerrados.
Naquelas bandas, o abacateiro era árvore sagrada e entrava em antigos rituais indígenas de iniciação, como símbolo de virilidade. Foi descendo pelas colônias espanholas, conquistou todo o continente e, a partir daí, se espalhou pelo mundo. Conta-se até que dom João VI (1767-1826) chegou a plantar umas mudas no Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
“As variedades que conhecemos derivam de três raças, a mexicana, a guatemalense e a antilhana”, afirma o engenheiro agrônomo Adelson Francisco de Oliveira, da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig). Os teores de gordura são reflexos da origem, porque mudam conforme a altitude e o clima.
Entre os descendentes mexicanos, caso do avocado (ou Hass), há maior quantidade de óleos. Já os tipos tropicais chamados de manteiga, como o fortuna, costumam ser um pouco mais aquosos. Em comum, todos apresentam excelente proporção de ácidos graxos — nome que os cientistas dão às gorduras. São ricos sobretudo na versão monoinsaturada, assim como o afamado azeite de oliva.

Os tipos de abacate populares por aqui

Breda: tem entre 400 e 600 gramas e exibe casca bem lustrosa. Acumula 12% de gorduras.
Fortuna: é um dos maiores, chegando a pesar até 1 quilo. Oferece quase 7% de óleos.
Geada: há quem o aponte como um tipo meio amargo. Reúne cerca de 3% de gorduras.
Avocado (hass): pequenino, com 150 a 200 gramas de peso, concentra mais de 20% de gordura.
Margarida: é redondo e de polpa fibrosa. Pesa até 800 gramas e fornece uns 10% de gordura.
Ouro Verde: com cerca de 8% de gordura, tem tamanho médio e casca de um verde intenso.
Quintal: grandão, chega a 900 gramas. Seu verde é o menos escuro da turma. Contém 10% de gordura.

Os benefícios do abacate para a saúde

Além da já mencionada habilidade de ampliar a sensação de saciedade, esse grupo engordurado é festejado por contribuir para a saúde cardiovascular.
“O consumo do abacate favorece o equilíbrio das taxas de colesterol“, justifica o nutrólogo e cientista de alimentos Edson Credidio, que pesquisou o fruto na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Nesse quesito, o médico observou excelentes resultados em uma experiência com a participação de 200 voluntários.
Na polpa cremosa há outros amigos do coração: antioxidantes, vitaminas e, ainda, uma turma conhecida como fitosteróis. Esse combo, inclusive, está entre os grandes benfeitores em um trabalho realizado pela nutricionista Cibele Furlan, na Unicamp.
Junto de cientistas da Universidade de Lund, na Suécia, a pesquisadora avaliou o impacto do consumo do azeite extraído da variedade Hass em um grupo de 13 adultos com sobrepeso. “Exames mostraram bons efeitos nos níveis de glicose, colesterol, triglicérides, além de marcadores de inflamações pelo corpo”, descreve.
É possível afirmar que a junção de compostos do óleo, com destaque para as gorduras monoinsaturadas e os fitosteróis, protege contra processos inflamatórios e resguarda as artérias. Há ainda indícios de seu papel na redução do risco de diabetes do tipo 2, já que combate a resistência à insulina, o hormônio que coloca o açúcar para dentro das células com a finalidade de gerar energia.

Como o abacate pode ser incluído nas refeições

“De sabor neutro, o azeite incrementa diversos pratos, especialmente na finalização”, sugere a chef de cozinha e química Conceição Trucom, parceira da Associação Brasileira de Produtores de Abacate, e que também aprecia o fruto na versão integral desde pequena. “Aprendi a gostar na infância, quando meus pais o ofereciam combinado com opções doces como a banana”, lembra.
Outro fã do abacate é o chef Renato Caleffi, do restaurante Le Manjue Organic, na capital paulista. “Como é muito versátil, ele aparece das mais variadas formas no meu dia a dia, desde o café da manhã até o jantar”, conta.
Aliás, comê-lo à noite tem lá suas vantagens. É que a fruta concentra glutationa, uma substância envolvida com o relaxamento. A dica é saboreá-lo na hora da ceia com um pouco de mel. “Ou meia hora antes de ir para a cama”, indica a nutricionista Maristela Strufaldi.
Só faz comprovar que mestre Gil está coberto de razão quando diz “Abacateiro, serás meu parceiro solitário nesse itinerário da leveza pelo ar”.

Dicas para acertar na escolha

A cor: para o avocado (Hass), tons quase negros indicam que o fruto está no ponto. Já os tropicais (mais comuns) exibem um verde intenso quando maduros.
O brilho: cascas muito luminosas sugerem que o abacate ainda não está bom para o consumo. Os maduros tendem a ser mais opacos.
O toque: tem que apalpar suavemente. O ideal é que o fruto não esteja mole nem duro demais. Molenga, é sinal de que passou do ponto. Duro, ainda não amadureceu.
A textura: nesse aspecto, atente para sutilezas em todas as partes do alimento. Opte pelos mais homogêneos, que amadurecem por inteiro.
O teste do cabo: sabe o talinho da extremidade? Tente tirá-lo com delicadeza. Se soltar fácil, o fruto está maduro. Quando muito preso, não force: é sinal de que não amadureceu.
A armazenagem: se o alimento não for consumido inteiro, leve o que sobrou à geladeira com o caroço e algumas gotas de limão. Isso atenua a oxidação e o escurecimento.

Abacate para além da cozinha

Cosméticos: graças ao alto teor de óleo no fruto, a indústria da beleza faz a festa. Não faltam opções de itens para atenuar o ressecamento da pele e dos cabelos. Há sabonetes, xampus, condicionadores…
Medicamentos: conta-se que povos indígenas milenares faziam o uso medicinal tanto do fruto quanto das folhas do abacateiro. Hoje, o extrato surge na fórmula de remédios para males como a artrite.
Biocombustível: da sua polpa pode se extrair óleo, e, do caroço, álcool etílico — as principais matérias-primas do biodiesel. O produto ainda está em fase de pesquisa, mas parece ter futuro promissor.

Receitas com abacate, do café ao jantar

Opções sugeridas pelos chefs de cozinha Conceição Trucom e Renato Caleffi
Café da manhã: uma sugestão é retirar o caroço do abacate, quebrar um ovo por cima e levar ao forno por alguns minutos. Também vale amassar a polpa, até formar um patê, e misturar com ricota ou outros ingredientes para cobrir pães, torradas e afins.
Almoço e jantar: adicione os tipos mais firmes a saladas. Antes, é legal dar uma rápida grelhada. Para envolver o macarrão, que tal recorrer a um creme de abacate misturado com alho, cebola e tomatinhos? Prove ainda versões de sopas frias ou quentes.
Lanches: prepare uma maionese batendo o fruto no liquidificador com limão, sal, salsinha e cebolinha. Os sanduíches vão ficar mais nutritivos. Abuse da criatividade para preparar as receitas de vitaminas. Adicione outros frutos mais doces e, se precisar, lance mão de um tiquinho de mel.
Sobremesas: até um creme clássico pode ficar muito mais gostoso se você salpicar nibs de cacau por cima, por exemplo – a vantagem é turbinar ainda mais o doce com antioxidantes. O abacate também fica perfeito em brownies, musses e sorvetes. Deixe a imaginação correr solta.
FONTES: Jonas Octávio, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Abacate (ABPA); Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA); Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); Instituto de Economia Agrícola do Governo do Estado de São Paulo (IEA); Conceição Trucom, chefe de cozinha e química; Lígia Carvalho, diretora da Jaguacy Brasil; Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (Taco).

terça-feira, 10 de setembro de 2019

Força, campeão! Michael Schumacher é levado para fazer tratamento secreto na França

Desde que sofreu um trágico acidente há seis anos atrás, o ex-piloto não é visto em público

Por O Dia
Schumacher
Schumacher -
França - O ex-piloto heptacampeão da Fórmula 1, Michael Schumacher foi levado nesta segunda feira para Hospital Europeu Georges-Pompidou, em Paris. Segundo informações do jornal Le Parisien, da França, o alemão passará um tratamento mantido sob sigilo.

De acordo com a publicação, Schumacher será submetido a transfusões de células-tronco, com o objetivo de se obter uma ação "anti-inflamatória sistêmica". Ele teria chegado ao hospital por volta das 15h40 locais (10h40 de Brasília), em uma ambulância com placas de Genebra, cidade da Suíça.

Com 50 anos de idade, Michael não é visto em público desde o trágico acidente nos Alpes franceses, há quase seis anos atrás, que o deixou com múltiplos ferimentos graves na cabeça e em coma induzido.

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Toda dieta saudável, não importa o nutriente que foque, protege o coração

Independentemente de valorizar carboidrato, proteína ou gordura, uma alimentação saudável reduz o risco de problemas cardiovasculares, segundo pesquisa

Qual a melhor dieta para perder peso e prevenir ou controlar doenças? Eis um dos principais debates atuais da saúde. Pois um novo estudo, conduzido pela Universidade Harvard, nos Estados Unidos, indica que se concentrar em gordura, proteína ou carboidrato não faz diferença quando o cardápio como um todo é saudável (pelo menos do ponto de vista do coração).
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores compararam os efeitos de três dietas populares e balanceadas, mas que privilegiam um ou outro desses macronutrientes:
• Uma valorizava os carboidratos, de maneira semelhante à DASH.
• Outra trocava 10% das calorias provenientes de carboidratos por proteínas.
• A última também substituía 10% das calorias vindas de carboidratos, mas com fontes de gordura insaturada (considerada benéfica quando ingerida em moderação). Abacates, peixes e oleaginosas possuem essa substância.
Todos os esquemas tinham baixos níveis de gordura saturada, maneiravam no sódio e incluíam entre quatro e seis porções de vegetais ao dia. Eles então foram distribuídos a 150 participantes com idade média de 53,6 anos e níveis elevados de pressão alta. Contudo, nenhum tomava medicamentos para hipertensão ou colesterol alto. Os voluntários passaram por um período de seis semanas em cada dieta, com intervalos entre duas e quatro semanas entre elas.
O efeito na saúde foi medido com exames de sangue, que verificavam marcadores relacionados ao risco de uma pane cardíaca antes do experimento e durante os períodos de “descanso” entre um plano alimentar e outro.
No fim das contas, a simples adesão a um menu mais equilibrado acarretou resultados positivos nos testes sanguíneos, independentemente do macronutriente privilegiado. Os especialistas observaram menores concentrações de moléculas por trás da insuficiência cardíaca, por exemplo.
Para os autores, o trabalho é importante por dois motivos. Primeiro porque mostra que o perigo ao coração pode ser amenizado em pouco tempo com ajustes no cardápio. Ora, seis semanas não é um período tão longo assim. Só um detalhe: se após esse mês e meio você voltar a comer de maneira desregulada, provavelmente o risco cardiovascular voltará a subir.
Outro ponto importante é que, pelo bem do peito, talvez seja melhor focar na qualidade da dieta do que em um ou outro macronutriente. “Uma alimentação rica em vegetais, carnes magras e fibras e com menos carnes vermelhas, bebidas açucaradas e doces não só diminui fatores de risco cardiovascular como pode reduzir danos diretos ao coração”, comentou, em comunicado para a imprensa, Stephen Juraschek, médico e um dos autores da investigação.
A descoberta reforça ainda que é possível flexibilizar a composição do prato de quem está em maior risco de acordo com as preferências individuais. Até porque os regimes avaliados, embora focassem um pouco mais em um ou outro nutriente, não propunham cortes radicais de carboidratos, gorduras ou proteínas.
Os achados foram publicados recentemente no International Journal of Cardiology, um periódico científico reconhecido internacionalmente.

sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Exame à base de cera de ouvido ajudaria no diagnóstico de câncer

Para surpresa da comunidade científica, estudo brasileiro mostra que uma análise laboratorial do cerume seria uma forma simples de detectar tumores

A cera de ouvido, tão atacada por cotonetes (e por alguns dedinhos), na verdade merece respeito. Além de proteger as estruturas responsáveis pela audição, o chamado cerume poderia inclusive facilitar o diagnóstico do câncer, segundo um novo estudo da Universidade Federal de Goiás (UFG).
A pesquisa foi realizada dentro do Laboratório de Métodos de Extração e Separação (Lames), ligado ao Instituto de Química da universidade. Os resultados, promissores, foram publicados no periódico Scientific Reports.
Os cientistas coletaram amostras de cera de ouvido de 52 portadores de câncer de diferentes tipos e estágios, que poderiam ou não ter passado por tratamento, e de 50 voluntários sem tumores. Em um primeiro passo, o cerume foi congelado e mantido em um recipiente a 20 graus negativos. A partir daí, passou por um processo de aquecimento, o que faz substâncias batizadas de metabólitos orgânicos voláteis virarem um gás — da mesma forma que a água evapora quando ferve.
Esse vapor, então, foi recolhido por meio de uma seringa e colocado em um equipamento chamado cromatógrafo a gás, capaz de separar diferentes moléculas.
Já divididas, elas foram inseridas em um outro dispositivo, o espectrômetro de massas, que revela qual a composição exata de cada amostra.
“Nós observamos que esses perfis [de substâncias] eram diferentes entre os voluntários. Com base nessas diferenças, conseguimos dizer se uma pessoa está ou não com câncer, inclusive em estágio inicial. Isso é importante, já que há maiores chances de cura quando a doença é diagnosticada nas fases iniciais”, explica, em comunicado à imprensa, o químico Nelson Roberto Antoniosi Filho, coordenador geral do Lames.
Na pesquisa brasileira, 100% dos indivíduos com câncer foram reconhecidos pelo exame de cera de ouvido. Embora ainda longe dos hospitais e consultórios, a técnica chamou a atenção dos especialistas pela inovação e praticidade.

O que a cera de ouvido tem a ver com câncer

A bioquímica Vilma Martins, superintendente de Pesquisas do Hospital A.C.Camargo Cancer Center, em São Paulo, explica que os tais metabólitos orgânicos voláteis — aqueles retirados da cera durante o processo de aquecimento — indicam a presença de radicais livres e defeitos no DNA em células do organismo. E essas alterações são indícios de um tumor maligno.
Dito de outra forma, os metabólitos serviriam como biomarcadores (moléculas que mostram a situação da nossa saúde). Isso não é uma novidade: atualmente, os profissionais de saúde já recorrem a biomarcadores sanguíneos para tentar captar células cancerosas em circulação. A esse procedimento se dá o nome de biópsia líquida.
“Essa abordagem com sangue já é empregada na prática clínica para acompanhar o tratamento de alguns tipos de câncer”, informa Vilma Martins. A novidade foi usar a cera — e usá-la para fazer o diagnóstico primário da enfermidade.
Aliás, Vilma conta que existe uma corrida científica em busca de formas de identificar biomarcadores no corpo para substituir técnicas mais invasivas, como a biópsia tradicional. “A detecção de biomarcadores que denunciam doenças está sendo explorada em suor, lágrimas, fezes, urina, ar exalado e, agora, no cerume”, exemplifica a bioquímica do A.C.Camargo.
De acordo com a especialista, é possível que cada uma dessas secreções contenha biomarcadores que ajudem na identificação de diferentes tumores. Por isso, é necessário explorar todas as possibilidades.
“Especificamente com relação ao cerume, existem poucos dados na literatura ligados ao câncer. Daí o interesse nesse trabalho brasileiro”, comenta Vilma.

O que falta para a descoberta chegar aos hospitais

Com o novo teste, daria para verificar em cinco horas se o paciente tem câncer ou não. “É bastante vantajoso, porque, além de não ser invasivo, praticamente todas as universidades brasileiras possuem a tecnologia adequada e a instrumentação necessária para fazer esse tipo de análise”, pontua o coordenador geral do Lames, ainda em comunicado.
Para o químico, outra vantagem da cera de ouvido é que, em uma pequena quantidade de amostra, há uma alta concentração de compostos. “A análise do cerume consegue identificar 158 substâncias metabólicas. Dessas, 27 discriminam a ocorrência de câncer”, completa.
Na contramão, Vilma Martins lembra que a cera não foi capaz de apontar o tipo de tumor e em qual órgão ele se encontrava. Ou seja, outros exames seriam necessários para confirmar o local de origem do câncer e outras particularidades que influenciam no tratamento.
“Outra crítica importante é a falta de comparação entre o material obtido de pacientes com câncer e o de indivíduos com algum processo inflamatório, que também aumenta a concentração de vários metabólitos orgânicos”, acrescenta.
É por essas e outras que mais pesquisas são necessárias. “Os estudos ainda são preliminares e necessitam de validação”, pondera a bioquímica. Mesmo que tudo dê certo, o uso de um teste à base de cera de ouvido deve demorar alguns anos para chegar aos centros médicos, dependendo do investimento.
Mas, ao que tudo indica, ajuda é o que não vai faltar. Em Goiás, o Hospital Araújo Jorge deseja firmar parceria com a UFG para ampliar as investigações. Em São Paulo, o próprio A.C.Camargo deseja se unir ao trabalho da universidade.

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Molho pesto ou bolonhesa: qual é mais nutritivo?

Uma comparação entre dois tipos de molho que combinam muito bem com massas

Molho bolonhesa ou pesto? Para quem não come carne, não tem papo: o molho pesto é opção certeira de complemento para uma massa. A receita leva manjericão, alho, azeite, pinoli e queijo parmesão ou pecorino. Mas o pinoli (uma semente) pode ser trocado por nozes ou castanhas, e, se você for vegano, basta tirar o queijo.
“Os ingredientes do pesto têm alto valor nutricional”, diz a nutricionista Roseli Ueno, de São Paulo. Ela cita as vitaminas A e C, que são antioxidantes e reforçam a imunidade, além de gorduras poli-insaturadas e monoinsaturadas, protetoras do coração. Só não abuse por causa das calorias.
Já o bolonhesa se destaca pela presença do tomate, que oferta licopeno, antioxidante poderoso, e carne moída, que reúne proteína, vitamina B12 e ferro. “O ideal é usar cortes magros, como fraldinha e alcatra”, indica Roseli.
Com tantas peculiaridades, ela acha difícil eleger o melhor. O conselho é, acima de tudo, saborear versões caseiras. Confira abaixo uma comparação de nutrientes entre um molho e outro:

Energia

Pesto – 70 calorias
Bolonhesa – 70 calorias

Gorduras

Bolonhesa – 4 g
Pesto – 7,5 g

Proteínas

Bolonhesa – 4 g
Pesto – 2,7 g

Gordura saturada

Bolonhesa – 0,3 g
Pesto – 1 g

Carboidratos

Pesto – 0,7 g
Bolonhesa – 5 g

Sódio

Pesto – 32 mg
Bolonhesa – 75 mg

Placar Saúde

Pesto 3 X 3 Bolonhesa
Os valores se referem a 1 colher de sopa de cada um dos molhos. Fonte: Roseli Ueno, nutricionista clínica de São Paulo (SP)

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Pacientes com doenças crônicas têm novo calendário de vacinação no Brasil

Um guia atualizado traz orientações sobre quais vacinas as pessoas devem tomar quando têm diabetes, aids, artrite reumatoide ou outros problemas

O Calendário de Vacinação de Pacientes Especiais, da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), ganhou uma versão atualizada para 2019 e 2020. Uma das responsáveis, a diretora da SBIm Mônica Levi explica que esse grupo de “pessoas especiais” é amplo, indo além dos imunodeprimidos – indivíduos cujas defesas do organismo estão debilitadas. Diabéticos, por exemplo, são considerados pacientes especiais.
“O paciente com diabetes deve receber vacina de gripe anualmente, porque tem um risco aumentado de complicações dessa infecção ou de descompensar a glicemia”, informa Mônica Levi. Ela cita outros exemplos. “Um cardiopata ou um pneumopata crônico possui um risco aumentado de morrer, por exemplo, de uma pneumonia. Ele tem recomendações diferentes da população normal”.
O calendário, lançado durante a Jornada Nacional de Imunizações, já está disponível no site da SBIm. É só clicar aqui para ter acesso ao material completo.
Mônica acrescenta que as novidades do calendário não decorrem da descoberta de novas vacinas. “São outros enfoques para as mesmas vacinas. São mudanças em termos de orientações e reforços que foram incluídos”.
Um dos maiores desafios na elaboração do calendário foi criar uma tabela capaz de dar conta de pacientes que utilizam medicamentos que interferem na imunidade. Pessoas com doenças reumatológicas e câncer fazem parte da lista.
Um exemplo é a vacina para hepatite B. Na população em geral, ela é administrada em três doses. Nos imunodeprimidos, são aplicadas quatro, com a quantidade dobrada de antígeno em cada uma. Ao final da vacinação, ainda é necessário realizar um exame de sorologia para verificar se foram produzidos os anticorpos que evitam a instalação da doença.
Apesar de pacientes especiais muitas vezes estarem sob acompanhamento de um médico especialista, Mônica Levi lamenta que isso nem sempre significa que os calendários de vacinação são devidamente cumpridos. “A vacina é uma coisa que muitas vezes passa batida na consulta”, atesta. Ela diz que o problema inclui até mesmo imunizantes disponíveis gratuitamente.
A diretora da SBIm avalia que é preciso aumentar o destaque dado à vacinação na formação médica e engajar também as sociedades de cada especialidade. Com o envelhecimento da população, a tendência é que cada vez mais pessoas sejam diagnosticadas com doenças crônicas e entrem no calendário de pacientes especiais.
Só é importante ressaltar que o calendário da SBim não necessariamente precisa ser seguido pelo Ministério da Saúde. Trata-se, na verdade, de uma recomendação feita por especialistas na área.
Este conteúdo foi produzido pela Agência Brasil.

terça-feira, 3 de setembro de 2019

Andar ajudaria os idosos a viver mais

Estudo revela que as pessoas mais velhas que caminham por aí têm menor risco de morrer precocemente. E nem é preciso dar uma grande quantidade de passos

Especialistas da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, recrutaram 16 mil mulheres com idade média de 70 anos e disponibilizaram a elas acelerômetros, dispositivos que medem a quantidade de passos dados.
Após um acompanhamento de quatro anos, período em que ocorreram cerca de 500 mortes, o cruzamento dos dados mostrou uma taxa significativamente menor de óbitos entre as voluntárias que davam 4 400 passos por dia, na comparação com as que ficavam em 2 700 no mesmo período. O índice de mortalidade foi caindo progressivamente até os 7 500 passos, quando se estabilizou.
Para I-Min Lee, epidemiologista que encabeça a pesquisa, não existe um número mágico para assegurar menor risco de mortalidade — como os 10 mil passos às vezes pregados por aí.
“A principal mensagem que queremos registrar com esse estudo é: caminhe sempre. Por poucos que sejam os passos, já serão úteis para a sua saúde”, incentiva a professora de Harvard.

Os números do estudo

  • 41% foi a redução de mortes com 4 400 passos diários
  • 53% foi a baixa no risco entre quem deu 5 900 passos
  • 65% foi a queda da taxa a partir de 7 500 passos por dia

A inatividade provoca ou agrava muitos problemas de saúde

Obesidade: sem o gasto calórico da atividade física e uma dieta fora de controle, os quilos se acumulam perigosamente.
Colesterol alto: a falta de exercícios dificulta também a queima de gordura acumulada na corrente sanguínea.
Câncer: ficar parado contribui para o ganho de peso e a inflamação crônica, fator de risco para diversos tumores.
Hipertensão: o sedentarismo propicia o enrijecimento das artérias, o que complica a passagem do sangue e eleva a pressão.
Diabetes: o corpo parado pode desregular o balanço entre glicose e insulina, desencadeando a doença.
Apneia do sono: os roncos e engasgos noturnos tendem a piorar com a inatividade, até em razão dos quilos extras.

Como medir os passos?

A contagem varia de acordo com o ritmo e o tamanho da perna, claro, mas são cerca de 2 mil passos em marcha acelerada para cobrir 1 quilômetro. Pulseiras e relógios inteligentes facilitam essa medição e ainda coletam dados de cadência, velocidade e distância percorrida.
Da mesma forma, diferentes aplicativos de celular registram o movimento, associando a contagem de passos com recursos como cálculo de calorias queimadas. Versões mais atuais de smartphones, tanto Android quanto iOS, já trazem contadores de passo em seus aplicativos nativos de saúde.

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

A ameaça dos cigarros eletrônicos

Forma moderna de consumir nicotina atrai cada vez mais pessoas e pode ressuscitar a indústria do tabaco. Apesar de menos nocivos que os cigarros de papel, a extensão completa de seus malefícios ainda é desconhecida

Crédito: Divulgação
Está ficando cada vez mais comum encontrar pessoas nas ruas fumando cigarros eletrônicos. Eles também são conhecidos como E-cigar ou vape. Podem ser de diferentes tipos, alguns até se assemelham a pen-drives: emitem um belo vapor branco que não cheira mal como o cigarro de papel convencional e se dissipa muito mais fácil. No Brasil, eles são oficialmente proibidos, mas podem ser facilmente comprados pela internet em sites de importados. O funcionamento desses dispositivos não usa fogo. São à base de bateria, que deve ser recarregada após algum tempo de uso. Basta que o usuário puxe o ar pelo cartucho para que ele ative um atomizador, aquecendo o líquido eletrônico e o vaporize, permitindo que a substância seja aspirada. Esse composto pode ter sabores mentolados, gelados e até com cannabis, mas em quase todos está presente a nicotina, substância característica dos cigarros e responsável pela dependência química dos usuários.
Um dos grandes trunfos do cigarro eletrônico é oferecer a nicotina sem outros compostos mais abrasivos que existem nos cigarros comuns, como substâncias cancerígenas e alcatrão. O estudante de engenharia ambiental Lucas Magno foi um que migrou do papel para o eletrônico pela ausência de cheiro e por não deixar mau hálito. Ele argumenta: “se a humanidade consome nicotina há tanto tempo, por que não usar a tecnologia para fazer disso o menos nocivo possível?” Leonardo, também engenheiro, pesquisou bastante antes de comprar seu gadget de nicotina e o fez como um substituto para o uso contínuo de cigarro convencional. “Coloquei na balança a composição do cigarro eletrônico contra os montes de substâncias que fazem mal do de papel e fiquei com o primeiro”, explica.
Ambos entendem o impacto da nicotina no organismo, e contam que os dispositivos eletrônicos chamam bastante atenção no ciclo de amigos. Lucas, inclusive, evita iniciar curiosos na substância através do E-cigar. “Geralmente quem pede é fumante, quem não é, eu não deixo”. A consciência dos problemas do consumo dessas substâncias que há entre eles não é observada em muitos jovens. Nos Estados Unidos, o cigarro eletrônico já foi declarado como epidemia. No Brasil, um estudo do Programa Nacional de Tabagismo do SUS apurou que 30% dos usuários menores de 30 anos já experimentaram um vape. Muito do apelo ao uso vem de questões estéticas, além dos diferentes sabores, e há também a crença de que o cigarro eletrônico “é mais saudável”, o que não é necessariamente verdade. O presidente da comissão de tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, Luiz Fernando Pereira, é categórico quanto aos novos dispositivos: “não há dúvidas que há menos substâncias que fazem mal à saúde do que nos cigarros normais”. Segundo ele, o problema está nos efeitos ainda desconhecidos a médio e longo prazo do uso desses gadgets de nicotina. Ele cita casos de convulsões, de baterias que podem explodir e até de mortes. Na sexta-feira 23, o Centro de Controle de Doenças dos EUA reportou o primeiro óbito decorrente de doenças respiratórias adquiridas pelo uso de cigarros eletrônicos, e há outros 193 casos sob as mesmas suspeitas.
Interesses financeiros
A preocupação de Pereira com o uso prolongado dos E-cigars vem no momento em que há o interesse de legalizá-los no Brasil. “Sigo com a opinião da Organização Mundial de Saúde: não devemos legalizar, pois não sabemos todos os seus efeitos, mas se isso acontecer, que seja sob as mesmas regras do tabaco”, afirma. Dessa forma, existiriam restrições de uso em ambientes fechados e na publicidade. O Brasil diminui anualmente o número de fumantes, hoje em 9,4% da população – chegou a ser 35% nos anos 1980. A taxa pode voltar a crescer com a expansão dos dispostivos eletrônicos. Essa é a grande aposta das gigantes do tabaco. A Phillip Morris, líder mundial do segmento, informou que pode se unir a Altria Group, que resultaria numa gigante de mais de US$ 200 bilhões. A estratégia faz parte de um projeto de migrar os usuários de cigarro convencional para os gadgets de nicotina. Para os agentes do lucro, pouco importa se faz mal: basta que a população ignore os efeitos nocivos. Décadas foram necessárias para convencer dos problemas que o cigarro traz a saúde, mas, com os avanços da medicina, talvez provar cientificamente o problema dos cigarros eletrônicos não demore tanto.