segunda-feira, 30 de abril de 2012

Vacina para doença cardíaca

Cientistas testam novas substâncias que agem de forma inédita para evitar ataques cardíacos e o acidente vascular cerebral 

Mônica Tarantino
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PROMESSA
O cardiologista Bruno Caramelli acredita no potencial dessa
nova linha de tratamento, mas espera confirmação de eficácia
nos testes em humanos
Novas estratégias para combater as doenças do coração, como uma vacina e anticorpos monoclonais, podem mudar o panorama do tratamento em um período estimado de quatro a dez anos. As duas iniciativas pertencem ao campo da imunologia, uma frente de batalha que começa a ser explorada no enfrentamento dos males cardiovasculares. “A vacina e os anticorpos monoclonais podem ser considerados inovadores, pois, pela primeira vez, estão atacando as causas subjacentes às doenças cardíacas”, disse à ISTOÉ o cientista sueco Jan Nilsson, da área de Pesquisa Cardiovascular Experimental da Universidade de Lund, e líder dos estudos com a vacina. Ele é um pesquisador renomado na criação de tratamentos imunológicos.
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Os testes realizados até agora, exclusivamente com camundongos, mostraram que a vacina reduziu os depósitos de placas de gordura nas artérias em até 70%. A proposta do imunizante é modificar a maneira como o sistema imunológico responde à formação de placas nas artérias, que estão na origem de problemas como o infarto e o acidente vascular cerebral (AVC). Ambos ocorrem quando as placas ateroscleróticas (de gordura) se rompem no interior das artérias. No coração, é o infarto. No cérebro, dá lugar ao AVC. Um dos processos envolvidos no rompimento dessas placas é a oxidação dos depósitos de gordura nas artérias. Quando isso acontece com as moléculas de gordura infiltradas no endotélio (membrana que reveste as artérias), o corpo passa a identificá-las como agente agressor e dispara anticorpos para se defender do ataque, causando inflamação e elevando o risco de ruptura.

O imunizante é feito com partes de aminoácidos (os tijolinhos que formam as proteínas) tirados da molécula de colesterol oxidado presente nas placas. No estágio atual, aguarda aprovação do FDA, agência americana que regulamenta medicamentos, para ser testado em humanos. Será ministrado por via subcutânea, por injeção. Porém, está sendo examinada uma segunda vacina na forma de spray nasal. “Minha expectativa é de que esteja disponível para ser usado em cinco anos”, diz o cientista Nilsson.
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O cardiologista e pesquisador Bruno Caramelli, diretor da Unidade Clínica de Medicina Interdisciplinar do Instituto do Coração (InCor), da Universidade de São Paulo, acha que a vacina será um grande avanço. “Mas não se pode dizer que vá mudar todo o tratamento porque ainda não foi testada em seres humanos. Muitas promessas falham nessa etapa”, ressalva o especialista. “Além disso, provavelmente será muito cara e terá de ser tomada repetidas vezes”, afirma o cardiologista. O próprio Nilsson reconhece que o preço poderá ser alto e prediz que, por isso, as pessoas com risco elevado de infarto do miocárdio provavelmente serão as primeiras candidatas às abordagens imunológicas.

Há mais perspectivas. Uma delas é uma das substâncias usadas na composição dessa vacina que demonstrou uma inesperada capacidade de reduzir a formação das placas de gordura e fazer a doença regredir.  Por isso, está sendo testada separadamente em 114 pacientes com doença arterial em 20 centros nos Estados Unidos e no Canadá. Os primeiros resultados serão divulgados este ano. “É uma abordagem interessante e há mais estudos nessa direção”, diz o professor e pesquisador Francisco Laurindo, diretor do Laboratório de Biologia Vascular do InCor. “A vantagem é que ambos os tratamentos, a vacina e os anticorpos monoclonais, têm mecanismos diferentes de ação e podem ser usados em conjunto com as terapias atuais, que reduzem o risco de doença cardiovascular em 40%”, afirma o sueco Nilsson. Ele acredita que a vacina poderá também ser usada em crianças. Outros avanços estão a caminho. “O futuro do tratamento das doenças cardiovasculares está na aplicação dos recursos da genética para buscar novos alvos e criar terapias dirigidas. Muita gente está trabalhando nisso”, disse à ISTOÉ o renomado pesquisador Peter Libby, da Universidade de Harvard.
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domingo, 29 de abril de 2012

Mais de 50% dos maiores de 55 anos são hipertensosl

JOHANNA NUBLAT
DE BRASÍLIA
A hipertensão atinge mais da metade das pessoas com 55 anos ou mais no Brasil, indica o Vigitel 2011, pesquisa telefônica anual que questionou 54 mil adultos em todas as capitais do país.
Entre os entrevistados em geral, 22,7% são hipertensos, taxa ligeiramente inferior à medida pela mesma pesquisa em 2010 (23,3%).
"Esses dados mostram a importância da hipertensão como um dos principais problemas de saúde pública do novo Brasil, que envelheceu mais e ficou mais obeso", afirmou o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
A pressão alta eleva o risco de infarto, problemas renais e derrame, que é a maior causa de morte no país.
Os dados do inquérito indicam, como é esperado, que a hipertensão do brasileiro avança com a idade.
Têm pressão alta 5,4% dos jovens de 18 a 24 anos. Já entre as pessoas com 55 a 64 anos, essa taxa chega a 50,5% e, entre pessoas com 65 anos ou mais, a 59,7%.

Editoria de Arte/Folhapress
A hipertensão se mostra mais presente entre as mulheres em todas as faixas etárias medidas (a partir de 18 anos). Enquanto 52,4% dos homens com 65 anos ou mais são hipertensos, o percentual chega a 64,3% entre as mulheres da mesma idade.
Outra influência sobre a incidência do problema é a escolaridade: quanto menor, maior é a taxa.
De novo, as mulheres são as mais atingidas. A taxa de hipertensão entre a população feminina com até oito anos de estudo (34,4%) é mais que o dobro do percentual entre mulheres com 12 anos ou mais de escolaridade (14,2%).
O ministro citou ações já anunciadas pelo governo federal para tentar reduzir o percentual de hipertensos, como o acordo para que a indústria reduza a quantidade de sódio nos alimentos.
"A previsão é que, até 2014, reduza-se em 4.000 toneladas o sódio em produtos industrializados."
De acordo com o cardiologista Luiz Bortolotto, diretor da unidade de hipertensão do Incor (Instituto do Coração do HC de São Paulo), mesmo pessoas que já estão em tratamento contra pressão alta e acham que estão controlando o consumo de sal estão passando dos limites.
Nesta semana, o Incor divulgou um estudo envolvendo mais de 900 pessoas que detectou o problema. "O máximo deve ser de 5 g por dia, sendo 2 g de produtos industrializados e 3 g de sal adicionado à comida."
Segundo Bortolotto, o pão francês e os temperos prontos são as maiores fontes de sal na dieta dos pacientes.
Para ele, é preciso criar o hábito de ler os rótulos dos alimentos industrializados.
A presidente da Sociedade Brasileira de Hipertensão, Maria Cláudia Irigoyen, lembra que a pesquisa usou dados relatados pelos próprios entrevistados. "Não estão incluídas aí as pessoas que nunca fizeram um exame."
MEDIÇÃO NA RUA
Uma campanha da Sociedade Brasileira de Hipertensão, ontem, em São Paulo, atendeu 450 pessoas no Conjunto Nacional.
Segundo a presidente da entidade, Maria Cláudia Irigoyen, foram tiradas medidas de pressão, peso e massa corporal. "Muitos estavam com sobrepeso e alguns nunca tinha medido a pressão antes."
O atendimento continua hoje, das 10h às 17h, na av. Paulista, 2.073.

sábado, 28 de abril de 2012

Mais uma pesquisa confirma benefícios do consumo de ovo

Pessoas que consumiram ovos no café da manhã sentiram menos fome durante o dia e aumentaram as taxas de 'colesterol bom' no organismo

O consumo de ovo no café da manhã pode ajudar a melhorar os níveis de HDL e a controlar a fome durante o dia O consumo de ovo no café da manhã pode ajudar a melhorar os níveis de HDL e a controlar a fome durante o dia (Thinkstock)
O consumo do ovo inteiro (gema e clara) no café da manhã pode ser saudável em pessoas com síndrome metabólica. De acordo com um estudo da Universidade de Connecticut, dos Estados Unidos, apresentado nesta semana durante o congresso Biologia Experimental 2012, realizado durante esta semana em San Diego, Califórnia, o ovo pode ser eficiente em melhorar os níveis do HDL ('colesterol bom') em circulação na corrente sanguínea de pessoas com síndrome metabólica.

Saiba mais:

POR QUE O HDL FAZ BEM?
O colesterol é importante para o organismo para sintetizar vitaminas e hormônios, mas eles não circulam livremente pelo sangue. Para fazer isso, é preciso que se juntem às lipoproteínas, como a HDL (sigla para high density lipoproteins, ou lipoproteínas de alta densidade) e a LDL (low density lipoprotein, lipoproteínas de baixa densidade). A HDL impede que a LDL forme placas de gordura nas artérias que dão origem à ateroesclerose, diminuindo ou obstruindo o fluxo sanguíneo, provocando infartos ou derrames. As pessoas podem aumentar seus níveis de HDL alterando o estilo de vida: é preciso se manter dentro do peso ideal, consumir alimentos saudáveis, abandonar ou evitar o tabagismo e praticar exercícios. Segundo a American Diabetes Association, os níveis de HDL devem ser de pelo menos 50 miligramas por decilitro de sangue nas mulheres e de 40 nos homens. Níveis acima de 60 protegem contra doenças cardíacas.
Durante o estudo, os voluntários fizeram uma dieta com restrição de carboidratos e foram divididos em dois grupos: aqueles que consumiam três ovos inteiros por dia e aqueles que comiam um substituto ao ovo. Depois de 12 semanas houve uma melhora nos níveis de HDL do grupo que consumiu os ovos. O HDL é responsável por retirar a gordura do sangue e levá-la de volta ao fígado. Assim, evita-se que se formem depósitos de gordura nos vasos sanguíneos – o que pode causar aterosclerose.
Descobertas relacionadas foram apresentadas em sessões separadas do evento. Há, por exemplo, a sugestão de que o consumo de ovos inteiros, dentro de uma dieta restritiva em carboidratos, pode ajudar a melhorar os marcadores que indicam uma inflamação em indivíduos com síndrome metabólica.
Café da manhã – Um estudo da Universidade de Missouri, nos Estados Unidos, descobriu ainda que garotas relatavam sensação de saciedade, além de terem uma melhora na resposta hormonal relacionada à fome, após um café da manhã altamente proteico – com cerca de 35 gramas de proteína de ovo e carne. Essas jovens também comeram menos lanches, especialmente os gordurosos, durante o dia. Pesquisas anteriores já haviam demonstrado os benefícios da proteína na saciedade.
Colesterol – De acordo com os pesquisadores, há pesquisas cientificas o suficiente demonstrando que o consumo do ovo é saudável. Além disso, uma análise feita pelo Departamento de Agricultura dos EUA mostrou que o ovo tem 14% menos colesterol do que a estimativa anterior – passando de 215 miligramas para 185 miligramas. O consumo de gordura saturada pode ainda ser mais propensa a elevar o colesterol, do que o consumo do colesterol propriamente dito. Os ovos, por sua vez, contêm relativamente pouca gordura saturada.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Frutas vermelhas retardam processo de declínio cognitivo em até 2,5 anos


Pesquisa feita com mais de 120.000 mulheres mostrou que composto presente no alimento protege as pessoas da perda de memória e capacidade de raciocínio

morangos
Morangos: rica em flavonoides, fruta pode proteger o cérebro do comprometimento cognitivo (John Foxx/ThinkStock)
De acordo com pesquisadores do Hospital Brigham and Women, instituição afiliada à Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, comer frutas vermelhas, como amora e morango, pode ajudar a reduzir as taxas de declínio cognitivo. Segundo o estudo feito pela equipe, o consumo desse tipo de alimento pode adiar a perda de memória e raciocínio em até 2,5 anos. O trabalho completo foi publicado nesta quarta-feira no periódico Annals of Neurology, revista médica da Associação Americana de Neurologia.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Dietary intakes of berries and flavonoids in relation to cognitive decline

Onde foi divulgada: periódico Annals of Neurology

Quem fez: Elizabeth Devore, Jae Hee Kang ScD1, Monique Breteler e Francine Grodstein

Instituição: Hospital Brigham and Women, Estados Unidos

Dados de amostragem: 121.700 mulheres que tinham de 30 a 55 anos no início do estudo

Resultado: Consumir frutas vermelhas ou outras fontes de flavonoides, como chás e laranja, pode retardar processo de declínio cognitivo em até 2,5 anos
As frutas vermelhas, assim como chás, vinho tinto e laranja, são importantes fontes de flavonoide, um composto com propriedades antioxidantes, ou seja, previnem o envelhecimento das células, e anti-inflamatórias. Os especialistas acreditam que fatores como stress e quadros de inflamação contribuem para o comprometimento cognitivo que ocorre com a idade e que, portanto, o consumo de alimentos ricos em flavonoides podem minimizar os efeitos do problema. Como os estudos anteriores sobre o assunto foram de pequena dimensão ou realizados apenas em animais, os especialistas do Hospital Brigham and Women realizaram um levantamento com mais de 120.000 participantes para estabelecer os reais benefícios do composto.
A pesquisa — Os pesquisadores se basearam em dados de 121.700 mulheres, que tinham entre 30 e 55 anos quando o estudo começou. Entre 1980 e 2001, elas responderam a questionários a cada quatro anos sobre hábitos alimentares e estilo de vida. A partir de 1995, aquelas que já haviam completado 70 anos ou mais realizaram testes anuais que avaliaram a capacidade cognitiva de cada uma.

Saiba mais

COGNIÇÃO
Conjunto de processos mentais usados no pensamento, na percepção, na classificação, no reconhecimento, na memória, no juízo, na imaginação e na linguagem. O comprometimento cognitivo é uma das características mais importantes da demência, como na doença de Alzheimer
Os resultados mostraram que o maior consumo de frutas vermelhas, assim como uma maior ingestão de quantidades de flavonoides em geral (ou seja, obtidas por meio de outros alimentos) retardaram o declínio cognitivo entre as participantes idosas. As mulheres que mais consumiram essas frutas enfrentaram comprometimento cognitivo, em média, 2,5 anos depois do que aquelas que menos ingeriram o alimento. Segundo os autores do estudo, é importante lembrar que essas conclusões estão relacionadas a outros fatores, já que o indivíduo que come muita fruta deve também ter um estilo de vida mais saudável, por exemplo.
"Nós fornecemos a primeira evidência epidemiológica de que as frutas vermelhas podem retardar a progressão do declínio cognitivo em mulheres idosas", diz Elizabeth Devore, coordenadora da pesquisa. "Nossos resultados podem interferir significativamente na saúde pública, já que o consumo desses alimentos pode ser uma proteção simples para a cognição em adultos mais velhos."
*O conteúdo destes vídeos é um serviço de informação e não pode substituir uma consulta médica. Em caso de problemas de saúde, procure um médico.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Projeto com medidas simples e baratas pode reduzir em 20% mortes por infarto

MARIANA VERSOLATO
DE SÃO PAULO
Um projeto que testou medidas simples e baratas para atender pessoas com infarto em hospitais do SUS aumentou o uso de tratamentos corretos e reduziu em 20% as mortes pela doença.
O programa Bridge (Brazilian Intervention to Increase Evidence Usage in Practice), desenvolvido pelo HCor (Hospital do Coração) em parceria com o Instituto Brasileiro de Pesquisa Clínica, definiu e testou maneiras de aumentar o seguimento, por parte de médicos e enfermeiros, das recomendações de tratamento para o infarto.
Os resultados do projeto foram apresentados em março na sessão principal do congresso do American College of Cardiology, em Chicago, nos EUA. No mesmo dia, a pesquisa foi publicada no "Journal of the American Medical Association".
O objetivo era fazer com que a equipe médica prescrevesse todos os remédios que devem ser dados nas primeiras 24 horas após o infarto.
HIATO
"Em um mundo perfeito, todo paciente que chega com infarto no hospital deve receber uma série de remédios, como aspirina e anticoagulantes. Mas há hiatos entre a diretriz e a prática", afirma Otávio Berwanger, diretor do projeto e do Instituto de Pesquisas do HCor.
Segundo ele, a taxa de pacientes que recebem todas as terapias necessárias era de 49% nos hospitais observados. Com o projeto, essa fatia aumentou para 67,9%.
"Não é que os médicos não conheçam as diretrizes ou sejam mal-intencionados. Também não é por falta de medicamentos. Mas a emergência pode estar lotada e isso torna muito fácil deixar passar algum procedimento."
A equipe do projeto acompanhou 34 hospitais do SUS e 1.150 pacientes (com média de 62 anos) por oito meses.
Os hospitais foram divididos em dois grupos: 17 foram só observados, para ver como tratavam a doença e, nos outros 17, houve treinamento para usar o programa.

William Mur/Editoria de arte/Folhapress
PASSO A PASSO
O primeiro passo do programa é identificar e atender rapidamente os pacientes com sintomas de infarto.
Depois, cada um é classificado de acordo com a gravidade. E, com um "check list" nas mãos, o médico indica os remédios necessários para cada uma das classes.
Uma enfermeira foi treinada como gerente de casos para ver se todos os procedimentos foram seguidos.
Berwanger compara essa checagem com a que ocorre em um avião: "Os comissários avisam que as poltronas precisam voltar à posição original no pouso, mas alguém verifica se isso foi feito por todos os passageiros".
Renato Lopes, que dirigiu o estudo com Berwanger e é professor-adjunto de cardiologia da Universidade Duke (EUA), diz que, apesar da queda da mortalidade e de novos infartos em um período de 30 dias, o estudo não foi desenhado para ver esse tipo de desfecho clínico nem tem poder estatístico para isso devido ao número de pacientes.
"Mas os resultados apontaram o sucesso da adesão aos tratamentos", afirma.
Além disso, como dizem os autores no estudo, medir a melhora do atendimento de infarto envolve outros indicadores que não foram englobados, como avaliação da função ventricular, aconselhamento para parar de fumar e encaminhamento para reabilitação cardíaca.
O projeto Bridge faz parte do Proad (Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde) do Ministério da Saúde, uma parceria do governo com hospitais privados considerados de excelência.
Segundo Helvécio Magalhães, secretário de Atenção à Saúde do ministério, o conceito do Bridge deverá ser adaptado pelo SUS.
"O estudo mostrou que precisamos reforçar o treinamento de pessoal e monitorar a adesão aos tratamentos. Só ter o protocolo e os remédios não quer dizer que a equipe médica aderiu."
Magalhães disse que o mesmo deve ser feito para tratar derrame e traumas.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

EUA confirmam quarto caso da doença da vaca louca

Doença foi detectada em uma vaca leiteira da Califórnia. A carne do animal não foi enviada para consumo humano

A doença da vaca louca é um problema neurológico normalmente fatal, com sintomas como postura anormal, dificuldade motora, agressividade, perda de peso e queda na produção de leite A doença da vaca louca é um problema neurológico normalmente fatal, com sintomas como postura anormal, dificuldade motora, agressividade, perda de peso e queda na produção de leite (Thinkstock)
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, sigla em inglês) confirmou, nesta terça-feira, o quarto caso de encefalopatia espongiforme bovina – popularmente conhecida como doença da vaca louca – no país na história. A doença foi encontrada em uma vaca leiteira na Califórnia.

Saiba mais

ENCEFALOPATIA ESPONGIFORME BOVINA
A doença, descoberta em 1986, na Grã-Bretanha, afeta o gado (por isso também é conhecida como doença da vaca louca). É causada pela produção descontrolada de uma forma anormal da proteína príon. Apesar de se acumular em todo o corpo, os príons atingem principalmente as células do sistema nervoso, provocando pequenas bolhas. Quando essas células morrem, o cérebro fica cheio de pequenos 'buracos', como uma esponja. A encefalopatia espongiforme também se manifesta em humanos. Normalmente, a tendência a acumular príons é hereditária, mas a proteína também pode ser transmitida à humanos por meio de carne bovina contaminada, dando origem a uma variante da Doença de Creutzfeldt-Jakob (tipo de encefalopatia espongiforme), que leva entre 4 e 5 anos para ser incubada. Depois disso, o mal causa, no intervalo de um ano, demência grave ou morte.
Segundo o órgão, o animal foi infectado por uma forma "atípica" da doença - um tipo muito raro que, normalmente, não está associado ao consumo de alimentos contaminados. A carcaça do animal será destruída. Nenhuma parte havia sido enviada para consumo humano. A doença não é transmitida pelo leite.
"O USDA mantém a confiança na saúde do rebanho nacional e na segurança da carne e dos produtos lácteos. À medida que o inquérito epidemiológico avançar, o USDA continuará a comunicar os resultados de forma oportuna e transparente", afirmou o órgão em comunicado oficial.
Em 2011, foram notificados apenas 29 casos no mundo de encefalopatia espongiforme bovina. Dado que representa um declínio de 99% em relação a 1992, quando foram registrados 37.311 casos. A doença foi detectada pela primeira vez em 1986 na Grã-Bretanha, onde houve uma epidemia que durou até 2002. Neste período, 181.376 casos de encefalopatia espongiforme bovina foram confirmados no local, segundo a Organização Mundial da Saúde. Transmitida pela carne contaminada, infectou 129 britânicos, seis franceses, um canadense, um americano, um italiano e um irlandês, entre 1996 e 2002.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Ortopedistas adotam técnica japonesa que congela osso para tratar câncer

Fernanda Bassette - O Estado de S.Paulo
Médicos brasileiros estão usando uma técnica de congelamento para tratar câncer nos ossos. Ainda pouco usado no Brasil, o método foi desenvolvido no Japão, onde é aplicado como rotina há 13 anos.
Funciona da seguinte maneira: o médico corta o osso doente, "descasca" o tumor que está por fora, raspa o tumor que está por dentro do osso e manda o material para análise patológica.
Em seguida, o osso "limpo" é mergulhado em um tanque com nitrogênio líquido, onde permanece por 25 minutos a uma temperatura de -193ºC. Depois disso, o osso é retirado e mergulhado em água destilada, em temperatura ambiente, para descongelar e ser reimplantado no paciente. O congelamento mata as células doentes e as sadias.
O tratamento convencional do câncer ósseo geralmente inclui sessões de quimioterapia e a realização de cirurgia para remoção do osso doente. Depois, no lugar, o paciente recebe uma prótese metálica ou um osso de doador (vindo de banco de ossos).
"O mais comum é usarmos próteses porque há poucos bancos de ossos no País. A vantagem dessa técnica do congelamento é que ela usa o osso do próprio paciente, com encaixe anatômico perfeito", afirmou Walter Meohas, oncologista do Instituto Nacional de Câncer (Inca) e chefe do serviço de oncologia do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into).
Pouco usado. Aqui, por enquanto, poucos centros conhecem e usam a técnica do congelamento. O pioneiro foi o ortopedista oncológico Márcio Moura, de Curitiba, que realizou a primeira cirurgia do tipo em 2003, no Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Desde então, ele já operou 67 pacientes e nenhum teve recidiva do tumor no osso - apenas um teve recidiva em tecidos moles. Ao menos 12 desses pacientes operaram há mais de cinco anos, nunca mais tiveram problemas, voltaram a caminhar normalmente e, portanto, são considerados curados do câncer ósseo.
Os resultados positivos do uso da técnica foram apresentados na quinta-feira no 8.º Congresso de Oncologia Ortopédica, em Tiradentes (MG). Ao menos 250 médicos se inscreveram para fazer o curso preparatório para aprender mais a técnica e poder usá-la em seus pacientes.
"Os resultados que temos são bastante promissores em relação ao uso da prótese. Estamos observando que o congelamento produz uma proteína que facilita a consolidação do osso, que se reintegra, ao contrário do enxerto de doador", diz Moura.
Vantagens. Uma das vantagens do congelamento do osso, segundo Moura, é que o paciente recebe de volta o próprio osso, não tem risco de rejeição e, em cerca de seis meses, o local volta a ser repovoado por células - o que não acontece quando ele coloca um enxerto de doador.
Além disso, diz Moura, as próteses metálicas têm uma sobrevida média de dez anos - quando precisam ser trocadas e o paciente tem de se submeter a outra cirurgia - e também são mais suscetíveis a infecções.
Segundo Moura, o congelamento também custa mais barato do que uma prótese. Ele diz que o preço de uma prótese metálica varia de R$ 5 mil a R$ 25 mil, enquanto o tonel com 20 litros de nitrogênio (o suficiente para a realização de duas cirurgias do tipo) custa R$ 200.
"Sai muito mais barato para o SUS e para os planos de saúde. Além disso, como se trata de osso do paciente, o risco de complicações ao longo do tempo é reduzido", afirmou o oncologista.
Meohas, do Inca, não concorda com o custo e diz que o osso reimplantado depois de ser congelado precisa de uma placa para se estabilizar - e essa placa também custa caro.
"Ela pode custar o valor da prótese. Além disso, uma desvantagem dessa técnica é que o osso reimplantado é um osso doente e desgastado, portanto, mais sujeito a fraturas. No Inca, usamos preferencialmente ossos de doadores", afirma.
Rodrigo de Andrade Gandra Peixoto, ortopedista oncológico e presidente do congresso em que a técnica foi apresentada, diz que essa será mais uma alternativa para o tratamento desse tipo de câncer. "Essa é uma técnica amplamente aceita e difundida. Os resultados são muito bons. Nosso objetivo é difundir seu uso para todo o País", diz.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Casos de demência mental podem triplicar até 2050

Doenças que afetam a capacidade do cérebro geram gastos de aproximadamente US$ 604 bilhões por ano no mundo

Agência Brasil
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Pelo menos 35,6 milhões de pessoas no mundo sofrem com problemas decorrentes de demência mental, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). A estimativa é que até 2030 esse número aumente para 65,7 milhões e até 2050 para mais que o triplo - 115,4 milhões. Os especialistas dizem que a demência afeta pessoas em todos os países, sendo que nas regiões mais pobres as principais vítimas são as que têm mais de 50 anos.
A demência é uma síndrome de natureza crônica causada por uma diversidade de doenças mentais, que afetam em geral a memória, o raciocínio, o comportamento e a capacidade de fazer atividades cotidianas. O Mal de Alzheimer é apontado como a causa mais comum de demência, registrando 70% dos casos.
As doenças caracterizadas por demência mental geram gastos de aproximadamente US$ 604 bilhões por ano no mundo. Para a OMS, o tratamento da demência deve ser prioridade de saúde pública. Apenas oito países desenvolvem programas públicos de tratamento desses problemas.
A recomendação da OMS é incentivar o diagnóstico precoce, sensibilizar a opinião pública sobre as doenças referentes à demência, reduzir o estigma e proporcionar melhor atendimento e mais apoio aos cuidadores.
"Precisamos aumentar nossa capacidade de detectar demência precoce e fornecer cuidados de saúde e sociais necessários. Muito pode ser feito”, disse o diretor-geral adjunto da área de Doenças Não Transmissíveis e Saúde Mental da OMS, Oleg Chestnov. "Os profissionais de saúde muitas vezes não são adequadamente treinados para reconhecer a demência. "

domingo, 22 de abril de 2012

Beleza em cápsulas

Pílulas contendo nutrientes consagram-se como o mais novo fenômeno da beleza e são indicadas por médicos para atenuar rugas, melhorar o viço da pele, combater a celulite e fortalecer unhas e cabelos, entre outros efeitos

Luciani Gomes e Mônica Tarantino

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Nutricosméticos. Já ouviu falar disso? Não adianta buscar no dicionário.
A rigor, a palavra não existe em português, mas tem sido empregada rotineiramente no balcão da farmácia, nos consultórios e em encontros internacionais de dermatologia para descrever o mais recente fenômeno mundial no campo da beleza. São pílulas multicoloridas que contêm uma associação de vitaminas, minerais, carotenoides e flavonoides, entre outras substâncias, com a missão de combater as carências nutricionais, a oxidação dos tecidos e estimular as funções da pele para restaurar a beleza do corpo e do rosto. “Esse conceito surgiu da necessidade de nutrir internamente a pele, o que nem sempre pode ser feito pelos cremes de forma tópica”, disse à ISTOÉ a dermatologista americana Zoe Draelos, professora de dermatologia da Universidade Duke, nos Estados Unidos. Ela é considerada uma referência mundial nesse tema. Por isso, sua palestra no último encontro da Academia Americana de Dermatologia, realizado no mês passado em San Diego, na Califórnia, estava com lotação esgotada semanas antes do evento. “Só agora estamos entendendo melhor a importância da dieta para uma pele saudável e bonita”, complementou.

O sinal mais claro da força de atração exercida pelos nutricosméticos é sua crescente expansão no mercado mundial. Em 2010, esses artigos movimentaram US$ 2,4 bilhões, segundo o IMS Health, instituto que registra números e índices do mercado da saúde. E a previsão é de que dentro de cinco anos esse montante duplique, atingindo a marca dos US$ 4,24 bilhões em 2017, de acordo com a Global Industry Analysts, outra empresa de dados de mercado. No Brasil, os produtos pertencem à categoria dos suplementos alimentares, um setor estimado em US$ 400 milhões, segundo a Euromonitor International, empresa que acompanha a evolução do segmento. Por enquanto, os chamados cosméticos orais representam US$ 13 milhões desse volume total de vendas. “Mas há um longo caminho a ser conquistado pelos nutricosméticos no Brasil”, observa a analista Carrie Leonard, do Euromonitor International. A líder do mercado no País foi a L’Oréal, com sua marca Innéov. Neste ano, ela terá que concorrer com a Sanofi-Aventis, que adquiriu as cápsulas Oenobiol, e a Pfizer, que comprou o laboratório Ferrosan e a sua pílula Imedeen. Dados divulgados pelo IMS Health dão uma ideia de como será essa multiplicação de mercado. Segundo a agência, a estimativa de crescimento do setor por aqui é de 220% até 2015. “O Brasil é um excelente mercado”, diz Délio de Oliveira, diretor-geral da Divisão Cosmética Ativa da L’Oréal, empresa que tem centros de pesquisa voltados para a criação dessas pílulas.

Os números são expressivos, mas a questão central é o que realmente se pode esperar desses comprimidos. Boa parte dos especialistas considera os nutricosméticos um recurso interessante. “Trata-se de um conceito de beleza de dentro para fora, que associa a boa condição da pele com a saúde”, afirma a dermatologista Mônica Aribi, de São Paulo. “É um avanço”, diz. Ela indica os produtos a uma clientela mais predisposta a aceitar novas soluções para melhorar a aparência.
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CAUTELA
A dermatologista Mônica Aribi indica os produtos se houver carência de nutrientes
Mas os nutricosméticos seriam, de fato, diferentes dos já bem conhecidos suplementos vitamínicos ou representam apenas uma roupinha nova para uma ideia antiga? “Em geral, eles oferecem minerais e vitaminas em uma forma química que permite a melhor absorção pelo organismo”, diz a nutricionista, farmacêutica e bioquímica Lucyanna Kalluf, do Instituto de Prevenção Personalizada, em São Paulo. “Muitas vezes, os suplementos contêm vitaminas e minerais em um formato de metabolização mais difícil, e por isso muito se perde”, complementa a especialista. Ela costuma indicar também outros minerais e fitoterápicos para complementar o tratamento. “Prefiro selecionar os nutrientes de forma mais personalizada”, explica.

A maioria dos nutricosméticos possui em sua composição as chamadas substâncias antioxidantes. São compostos como as vitaminas A, C e E, o licopeno (presente no tomate em maior quantidade), os bioflavonoides (encontrados nas frutas cítricas e uvas escuras), as catequinas (presentes no chá-verde, e em frutas como uvas e morango, entre outras), o ácido fenólico (está no brócolis, na cenoura e nos grãos integrais) e a quercetina (nas cascas das uvas e nos vinhos). Na literatura científica, eles aparecem como recursos capazes de prevenir o envelhecimento precoce das células por meio de um mecanismo razoavelmente complexo. “Eles combatem a oxidação dos tecidos, o que leva ao envelhecimento”, resume a dermatologista Mônica Aribi.

A oxidação é atribuída aos radicais livres, moléculas que se formam por uma reação natural do organismo ao processo de queima do oxigênio pelas células. Como são instáveis, rapidamente se associam às moléculas próximas, o que pode levar a danos em células sadias. Em 99% dos casos, o corpo repara esses estragos. Mas, se a produção de radicais livres aumentar muito, incentivada por doenças, alimentação ruim, radiação ultravioleta do sol ou fumo, entre outros agressores, fica difícil neutralizar as consequências de seu acúmulo – manchas na pele, rugas, falta de hidratação, entre outras. Aí é que entram em cena as doses adicionais de substâncias antioxidantes: “As vitaminas, minerais como o selênio e compostos como o licopeno, entre outros com funções antioxidantes, se ligam aos radicais livres, anulando sua ação”, explica Lucyanna.
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Até agora, no entanto, ainda não são definitivos os trabalhos científicos para comprovar a ação dos produtos que contêm substâncias do gênero. “Existem estudos em ciência básica de excelente qualidade metodológica, mas há pouquíssimos trabalhos em seres humanos feitos com grupos para comparação. Isso é necessário para demonstrar a real eficácia”, diz Ediléia Bagatin, pesquisadora e especialista em cosmiatria, da Universidade Federal de São Paulo. “E é fundamental que sejam realizadas pesquisas independentes, que não sejam financiadas pelos fabricantes, evitando-se o conflito de interesses, para se chegar a alguma conclusão”, afirma.

Além disso, os cientistas estão se deparando com desafios científicos para apurar a intensidade do desempenho desses produtos. “Ainda não temos bons métodos para avaliar a presença e a redução dos radicais livres na pele humana”, afirma a especialista Zoe Draelos.
Para embasar suas indicações, os dermatologistas que recomendam esses produtos associam as evidências oferecidas pelos estudos disponíveis às suas observações feitas em consultório. “Há cápsulas que ajudam, por exemplo, a estabilizar a flora da pele, o que auxilia o combate à dermatite. Os efeitos são maravilhosos”, diz a dermatologista Mônica Aribi, que também aposta nos protetores solares. “São muito bons para pessoas com manchas na pele resistentes aos tratamentos, como os melasmas.” Ela adverte que tomar essas substâncias por via oral para atenuar o fotoenvelhecimento não dispensa a aplicação do filtro sobre a pele. “O filtro bloqueia a ação dos raios, o nutricosmético reduz o ataque dos radicais livres”, diz.

Com a expansão dos nutricosméticos, cresce também entre os médicos a preocupação em alertar para aspectos que não podem ser ignorados. “Os efeitos só começam a aparecer depois de pelo menos três meses de uso regular”, esclarece a dermatologista Carolina Marçon, de São Paulo. Além disso, é sabido entre os especialistas que esses produtos só agem se a pessoa apresentar uma deficiência nutricional. Num padrão ideal, os antioxidantes que o organismo requer para a batalha contra os radicais livres seriam fornecidos por uma dieta equilibrada. “Mas é muito difícil obter tudo o que precisamos da alimentação”, afirma a nutricionista funcional Patrícia Davidson, do Rio de Janeiro.

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Um erro comum no consumo desses produtos é ignorar as contra-indicações. “É essencial averiguar se o paciente é alérgico a algum alimento”, orienta a dermatologista Juliana Neiva, do Rio de Janeiro. “Há cápsulas que contêm ômega 3 e componentes tirados de frutos do mar aos quais algumas pessoas são alérgicas”, diz. Os produtos da linha Imedeen, por exemplo, trazem um composto de proteínas de origem marinha. A dermatologista Adriana Vilarinho, de São Paulo, diz que também é indispensável conhecer o perfil da saúde do paciente e saber se é diabético, por exemplo. “Há açúcares contidos no material de algumas cápsulas que podem causar alterações nas taxas de glicemia no sangue. Isso precisa ser considerado.”

É verdade. Tomar os cosméticos orais por conta própria é uma conduta criticada por médicos e nutricionistas. “Há muitos casos de pessoas que recorrem a mais de um suplemento ao mesmo tempo porque querem tratar a celulite e o cabelo. Isso pode ter efeitos indesejados”, alerta a dermatologista Adriana Vilarinho.

É por essa razão que nos consultórios mais estrelados de São Paulo e do Rio de Janeiro, por exemplo, a indicação de um nutricosmético passa por várias etapas. “É preciso descartar causas de queda de cabelo como doenças e carências de minerais como o ferro, que não estão presentes nessas fórmulas”, diz a dermatologista Carolina Marçon, de São Paulo. A nutricionista Lucyanna Kalluf também não dispensa exames para avaliar quais são realmente os minerais em carência. “Não se pode indicar cápsulas de nutricosméticos sem solicitar um teste de sangue para saber do que e de quanto o paciente precisa”, diz ela.

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Esses cuidados são importantes também para evitar a ingestão excessiva de vitaminas e minerais. “Quem ingere vitamina A demais, por exemplo, por alimentação ou suplementação, pode ter sintomas como pele seca, áspera e descamativa, dores de cabeça e náuseas”, diz a especialista Lucyanna.

Também é preciso ter em mente, quando se recorre aos nutricosméticos, que eles são parte de um tratamento mais amplo. Não realizam milagres sozinhos. Por isso, não se pode esperar que apenas uma pílula acabe com as rugas do rosto ou faça desaparecer os furinhos da celulite. “A celulite, por exemplo, é causada por diversos fatores. Quem se decide a enfrentá-la precisa também modificar diversos padrões. O nutricosmético será mais um item. Senão, não vai adiantar nada”, explica a dermatologista Carolina. No tratamento de linhas de expressão, é o mesmo processo. Os produtos não substituem o creme anti-idade. “Mas potencializam seu efeito”, afirma a farmacêutica carioca Talita Pizza, que defendeu tese de mestrado sobre os nutricosméticos na Universidade de São Paulo.

Atentos ao interesse manifestado por esses produtos, pesquisadores da Universidade de Saint Andrews, no Reino Unido, estão aproveitando a onda para incentivar o consumo de nutrientes in natura. Recentemente, eles publicaram um estudo na revista “American Journal of Public Health” comprovando que comer mais frutas e vegetais pode mudar o tom da pele, dando-lhe mais brilho. “Nossa mais recente pesquisa constata que as melhorias na dieta produzem benefícios visíveis para a pele”, disse Ross Whitehead, autor do estudo que envolveu 35 estudantes, acompanhados por seis semanas. “As pessoas que comem mais frutas e verduras têm um tom dourado na pele que dá uma aparência mais saudável e atraente”, complementou. A grande sacada desses pesquisadores, porém, é que a vaidade pode ser um excelente motivador para melhorar a nutrição. O estudo acabou estimulando o grupo a seguir uma alimentação mais saudável.
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PESQUISA
Na L’Oréal, há centros de estudo para criar nutricosméticos
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sábado, 21 de abril de 2012

Terapia do século XIX se mostra útil contra Parkinson


Efeitos benéficos de cadeira vibratória, porém, podem vir do efeito placebo

Parkinson
Pacientes tratados com a tecnologia sentiram melhorias em sua função motora (Thinkstock)
O francês Jean-Martin Charcot é considerado um dos pais da neurologia moderna. No final do século XIX, ele desenvolveu uma cadeira vibratória para tratar a doença de Parkinson. A tecnologia alcançou bons resultados na época e conseguiu aliviar os sintomas de diversos pacientes. No entanto, Charcot morreu pouco depois, e não realizou estudos mais detalhados sobre como ela funcionava. Agora, um grupo de cientistas do Centro Médico da Universidade Rush, nos Estados Unidos, replicou o experimento e testou seus benefícios usando os parâmetros científicos atuais. 

Opinião do especialista

Erich FonoffNeurocirurgião da Divisão de Neurocirurgia Funcional do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP

“Charcot foi um dos fundadores da neurologia como disciplina da medicina. Ele estudava várias doenças, entre elas o Parkinson. Como ele era muito conhecido, os pacientes vinham de longe para se consultar com ele. Eles iam de carroça ou trem, meios de transporte que tinham uma vibração. O que o médico percebeu é que os pacientes chegavam melhor, e depois de alguns dias pioravam. Ele atribuía isso a algo que tinha acontecido na viagem”
“Os pesquisadores usaram uma cadeira vibratória, dessas usadas para massagem. Como os dois grupos de voluntários apresentaram melhoras, eles concluíram que a vibração não era significativa. No entanto, a pesquisa mostrou que as pessoas que sentaram na cadeira vibratória tiveram um benefício um pouco maior. Podemos traçar duas hipóteses a partir disso. Ou as melhoras foram efeito de placebo ou o grupo de pessoas estudadas não era suficientemente grande para provar um pequeno efeito da vibração. Se esse efeito existir, ele deve ser menor que o de um remédio.
"O Parkinson é uma doença que afeta a sintonia dos circuitos neuronais. Uma das teorias que existe é que a falta de dopamina causa uma alteração nessa sintonia, e a informação não é carregada de modo efetivo entre os neurônios. Por isso acontecem os tremores. Quando você aplica uma vibração no corpo da pessoa, seus neurônios sensitivos capturam isso. É possível que, para cada paciente, exista uma frequência de vibração que melhore a sintonia entre seus neurônios. Isso é uma teoria, que também pode explicar porque os resultados dessa pesquisa não foram tão satisfatórios, já que foi aplicada a mesma frequência a todos os voluntários.” 
A pesquisa, que foi publicada na edição deste mês do Journal of Parkinson's Disease, mostrou que a cadeira de fato aliviava os sintomas da doença. No entanto, os cientistas descobriram que as melhoras não necessariamente vinham das vibrações do aparelho, mas podiam ser resultado do efeito placebo.
A tecnologia foi desenvolvida por Charcot depois de conversar com seus pacientes que sofriam de Parkinson, e ouvir que os sintomas desconfortáveis e dolorosos da doença passavam após longas viagens de trem ou carruagem. Foi aí que ele teve a ideia de construir uma cadeira que copiava o chacoalho constante dos veículos. 
Para testar os benefícios da tecnologia, a equipe da universidade selecionou 23 pacientes com a doença, e os colocou aleatoriamente para sentar ou em cadeiras normais ou em cadeiras vibratórias que emulavam a invenção do século XIX. "Nós tentamos copiar o protocolo de Charcot com equipamentos modernos, para confirmar ou refutar sua observação histórica", disse Christopher Goetz, coordenador do estudo. Durante cada sessão de 30 minutos na cadeira, os voluntários ouviram um CD com sons da natureza, para ajudá-los a relaxar. O tratamento, diário, durou um mês. 
Como resultado, os pacientes que sentaram na cadeira vibratória apresentaram uma grande melhoria em suas funções motoras. Já os pacientes que sentaram nas cadeiras normais mostraram um grau um pouco menor de melhora, mas ela ainda foi significativa. Os dois grupos sentiram benefícios em relação à depressão, ansiedade, fadiga e horas de sono, além de terem se mostrado satisfeitos com o tratamento.
A conclusão dos pesquisadores foi que as melhorias não foram causadas pela vibração em si, mas por algum outro fator presente no experimento, como o efeito placebo. "Nossos dados sugerem que tanto os estímulos sensoriais auditivos somados ao relaxamento numa cadeira, como a simples participação na pesquisa podem ter benefícios equivalentes à vibração na função motora dos voluntários", disse Goetz. 
Saiba mais sobre a doença de Parkinson nos vídeos abaixo:
*O conteúdo destes vídeos é um serviço de informação e não pode substituir uma consulta médica. Em caso de problemas de saúde, procure um médico.