quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Vítimas podem ter sofrido intoxicação em Campinas

Causa mais provável, ainda sem comprovação, é que tenha ocorrido um quadro toxicológico, por conta de algum produto administrado junto com o contraste

Ressonância magnética: Três pessoas morreram após serem submetidas ao exame em Campinas
Ressonância magnética: Três pessoas morreram após serem submetidas ao exame em Campinas (Thinkstock)
Técnicos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do Ministério da Saúde, e a Secretaria de Saúde de Campinas (SP) investigam a possibilidade de uma substância química, ainda não identificada, ter provocado a morte dos três pacientes nesta segunda-feira, após a realização de exames de ressonância magnética no Hospital Vera Cruz. "“A causa mais provável, mas ainda sem embasamento, é que tenha ocorrido um quadro toxicológico que provocou a morte dessas pessoas”", afirmou a gerente de Regulação e Controle Sanitário em Serviço de Saúde da Anvisa, Maria Ângela da Paz. Ela e outros dois técnicos do órgão chegaram na cidade nesta quarta-feira para auxiliar nas investigações.
Segundo as investigações iniciais, as vítimas podem ter sofrido uma intoxicação por algum produto administrado no organismo na hora da aplicação do contraste (composto químico, a base de gadolínio, usado no exame para melhorar a qualidade das imagens e do diagnóstico). A diretora do Departamento de Vigilância em Saúde, Brigina Kemp, explicou que essa substância química injetada provocou uma reação hepática aguda, levando os pacientes à morte. As vítimas — dois homens, de 36 e 39 anos, e uma mulher de 25 — tiveram parada cardiorrespiratória.
Nenhuma das vítimas apresentava problemas de saúde e todas fizeram ressonância magnética do crânio, segundo o hospital. Os homens passaram mal minutos depois do exame e a mulher chegou a deixar a unidade médica, mas retornou após sentir dores. “"Não descartamos nenhuma outra linha de investigação, mas os resultados dos exames, como o de hemograma, sugerem que houve uma reação química"”, diz Brigina. Apenas os resultados dos exames do Instituto Médico-Legal, nos corpos, e as análises do Instituto Adolfo Lutz, nos materiais e produtos utilizados nos procedimentos, poderão apontar a causa das mortes.
Intoxicação — A especialista da Anvisa afirmou que o agente toxicológico investigado pode estar presente na seringa, no soro, no medicamento aplicado no contraste ou pode ser o próprio gadolínio (contraste) utilizado em quantidade superior à permitida. Não está descartada a possibilidade de falha humana, de equipamento ou contaminação proposital.
Segundo Brigina, a evolução clínica dos pacientes é um forte indicativo de intoxicação. “"Não descartamos uma reação a um agente microbiológico, como um vírus ou bactéria, mas o quadro de evolução não sugere isso.” Se a causa das mortes fosse uma infecção por esses agentes, os pacientes teriam apresentado outro quadro, com febre e evolução mais lenta", afirma.

Interdição — Por conta das suspeitas de que as mortes podem ter relação com o contraste usado, as Secretarias de Saúde de Campinas e do Estado interditaram cautelarmente os lotes de produtos utilizados nos exames de ressonância magnética usados no hospital de Campinas. São quatro marcas de soro e duas de gadolínio. De acordo com a Anvisa, há no País seis marcas em circulação e todas têm certificado de segurança e eficácia obtido após uma série de estudos e testes exigidos para liberação de medicamentos sensíveis.
Nacionalmente, a Anvisa entendeu não ser necessária a suspensão dos produtos. Segundo a agência, são realizados milhares de exames diariamente no País e, embora o caso requeira uma investigação rigorosa, a situação é localizada e não caracteriza uma onda de problemas que justifique retirar os produtos do mercado nacional.
Em Campinas, os exames de ressonância magnética com contraste, que haviam sido suspensos nas demais clínicas e hospitais na terça-feira, foram liberados nesta quart pela Secretaria Estadual de Saúde. Os locais podem fazer os exames sem utilizar os lotes e as marcas embargados sanitariamente.
(Com Estadão Conteúdo)

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Fogo em boate produziu o mesmo gás usado por nazistas, diz médico

Um pedido de doação de medicamento, feito pela diretora de enfermagem do Hospital Universitário de Santa Maria, Soeli Terezinha Guerra, 50, ajudou a esclarecer a natureza dos sofrimentos impostos aos jovens feridos e mortos no incêndio da boate Kiss.
Veja lista completa de mortos no incêndio
Hidroxocobalamina é o nome do medicamento solicitado. Serve para combater a intoxicação causada pelo gás cianeto, o mesmo usado nas câmaras de gás nazistas, durante a Segunda Guerra Mundial.
Era o princípio ativo do tristemente famoso Zyklon B dos campos de extermínio.
Segundo o pesquisador Anthony Wong, diretor médico do Ceatox (Centro de Assistência Toxicológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP) trata-se de um dos venenos mais letais, por sua capacidade de paralisar os mecanismos de produção de energia das células, matando-as.
Pois o cianeto apareceu junto com a fuligem e o monóxido de carbono dentro da Kiss, como consequência da combustão dos materiais usados no revestimento acústico.
"Não tem cheiro nem cor e é capaz de matar em um prazo curtíssimo, de quatro a cinco minutos", explica Wong.

Tragédia em Santa Maria

Adriano Lima - 29.jan.13/Brazil Photo Press/Folhapress
 
Enterro de Rafael Paulo Nunes Carvalho, 32 anos, em São Caetano do Sul, em SP, uma das vítimas da tragédia de Santa Maria
A detecção do cianeto é feita por análises químicas. Mas essa suspeita já existia mesmo antes da confirmação laboratorial. "É que o gás é subproduto da combustão de materiais como espuma de poliuretano, usada em revestimentos baratos com finalidades acústicas", diz Wong.
Revestimentos acústicos de boa qualidade são antichamas e não inflamáveis, portanto não produzem o cianeto.
A enfermeira Soeli disse ontem à Folha que o Hospital Universitário de Santa Maria já recebeu doações da hidroxocobalamina em quantidade suficiente para o tratamento dos pacientes lá internados (até ontem em número de 11).
Mas o toxicologista da USP considera inaceitável que o principal hospital público da cidade tenha de ter contado com doações. "Na França, todos os serviços de pronto-socorro estão equipados com a hidroxocobalamina para tratar intoxicações por cianeto."
Ele explica que, no Brasil, o medicamento (comercializado sob o nome de Rubranova) é de difícil acesso porque o laboratório que importava o sal parou de fazê-lo, e o país não o produz. Nas farmácias, o sal também não é vendido.
No Hospital Universitário, três pacientes ainda necessitam de ventilação mecânica, para conseguir respirar. E ainda há o risco de sequelas causadas por lesões nas células nervosas, fruto da falta de oxigênio. Esse é um resultado possível da intoxicação por cianeto, uma vez que o veneno mata as células que entram em contato com ele.
O mais cruel d veneno é que, sem cheiro nem cor, muitos jovens acabaram intoxicados, achando que estavam protegidos por máscaras improvisadas com roupas molhadas enroladas no rosto. Se conseguiu barrar boa parte das partículas de fuligem, diz Wong, esse expediente foi absolutamente inútil contra o cianeto.

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terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Lipoaspiração volta a ser cirurgia plástica mais realizada no Brasil

CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO
A lipoaspiração desbancou a prótese de silicone e voltou a ser a cirurgia plástica mais popular no Brasil. Ela já tinha ocupado o posto de campeã em 2004, caiu em 2007 e voltou a liderar em 2011.
Em quatro anos, o número de cirurgias plásticas no país quase dobrou: passou de 629.287, em 2008, para 905.124, em 2011 --um aumento de 43,9%.
Os dados, obtidos com exclusividade pela Folha, são de pesquisa da Isaps (Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética), em conjunto com a SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica), que será divulgada hoje.

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Veja qual foi o aumento de cirurgias plásticas realizadas no Brasil
Em 2011, foram feitas 211.108 lipos contra 91.800 em 2007--um aumento de 130%. No mesmo período, foram 148.962 cirurgias de aumento de mama (um crescimento de 54,5%).
Segundo Carlos Oscar Uebel, presidente da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica, uma das razões pelas quais a lipo ultrapassou as cirurgias de mama foi a preocupação gerada pelos implantes de silicone rompidos das marcas PIP e Rofil.
"Essa retração aconteceu não só no Brasil mas também na França, Itália e Espanha, países onde essas próteses eram bastante usadas. As mulheres ficaram reticentes."
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Segundo dados do Ministério da Saúde, 88 mulheres tiveram que trocar as próteses no SUS no ano passado.
MORTES
Ao mesmo tempo em que se populariza, a lipo também acumula mortes, muitas vezes atribuídas à imperícia profissional ou à falta de condições do local onde é feita.
Por ano, oito pessoas morrem no país durante o procedimento, segundo a Isaps. A SBCP ainda prepara um levantamento do número de mortes e das possíveis causas associadas a elas.
Para José Horácio Aboudib, presidente da SBCP, a banalização do procedimento é a principal responsável por mortes e outros problemas.
"A lipo é feita por muitos médicos que não são cirurgiões plásticos e que não receberam treinamento adequado. O local também é negligenciado. Você não vê paciente morrendo no Einstein, no Sírio ou em outros hospitais de ponta."
Para Carlos Uebel, as mortes preocupam mas são poucas em relação ao número de procedimentos realizados.
"Temos um dos menores índices do mundo, mas é um problema sério: 85% das denúncias [de mortes ou intercorrências] que chegam ao Cremesp [Conselho Regional de Medicina] são de médicos que não têm especialidade em cirurgia plástica."
Ele explica que a lipo tem limitações nem sempre respeitadas. "Eles podem ultrapassar os 5% [de retirada de gordura] do peso corporal, operam fora do ambiente hospitalar e sem a presença do anestesista. É uma técnica muito segura, desde que feita adequadamente."
VICE-CAMPEÃO
Em números absolutos, o Brasil é vice-campeão mundial em cirurgia plástica. Só perde para os Estados Unidos, que realizou 1,1 milhão de procedimentos em 2011.
"Se levarmos em consideração a população total dos dois países, veremos que o número de cirurgias per capita em ambos é muito próximo, apesar do poder aquisitivo dos americanos ser muito superior", afirma Aboudib.
Outra novidade da pesquisa ficou por conta da blefaroplastia (correção das pálpebras), que teve um aumento de 120%. "Os homens também têm feito muitas cirurgias de pálpebras. Elas começam a pesar e isso dificulta a leitura", diz Aboudib.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Cientistas identificam espécie de bactéria ligada à obesidade

SALVADOR NOGUEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Um estudo chinês apresentou a confirmação de que uma espécie de bactéria está ligada à obesidade.
O trabalho, que envolveu humanos e camundongos, conseguiu levar um obeso de 26 anos a perder 51,4 kg em 23 semanas. O indivíduo, com 1,72 m de altura, começou o tratamento com 174,8 kg.
Ele se alimentava quatro vezes ao dia, com direito a 1.344 calorias diárias. Mas, além da restrição calórica, a alimentação foi planejada para cortar a multiplicação de bactérias enterobacter no intestino do sujeito.
Exames mostraram que ela representava 35% das bactérias no intestino dele antes do estudo. Após nove semanas com o mingau especialmente preparado para o experimento, essa proporção caiu para 1,8% (com perda de peso de 30,1 kg). Em 23 semanas, a bactéria passou a níveis indetectáveis.
Até aí, no entanto, havia apenas uma correlação entre a bactéria e a perda de peso. Para tirar a prova, os cientistas usaram camundongos. Em alguns, eles introduziram a enterobacter do paciente, em outros, não.
Então, passaram a alimentar os animais com uma dieta de alta caloria. Os que tinham a bactéria logo desenvolveram obesidade e resistência à insulina. Os que estavam livres do micro-organismo, não.
O resultado vem a corroborar estudos recentes, conduzidos inclusive no Brasil, que já indicavam que a composição da flora intestinal é determinante no desenvolvimento da obesidade.
E agora há um tipo específico de bactéria a culpar: a cepa Enterobacter cloacae B29, isolada pelos cientistas.
"Nossa pesquisa não para aqui", disse à Folha Liping Zhao, da Universidade Jiao Tong de Xangai, um dos autores do estudo. "A B29 não é a única com esse efeito na obesidade.
Nosso trabalho estabeleceu um protocolo para descobrir mais delas."
Espera-se que o conhecimento das bactérias maléficas à digestão ajude a moldar as dietas. Além disso, o resultado pode explicar por que há pessoas que comem bastante mas engordam muito menos que outras.
Zhao admite que o trabalho também pode levar a novas drogas antiobesidade, mas sugere que a melhor solução é eliminar as bactérias ruins por meio da alimentação. "A dieta é a ferramenta mais poderosa para moldar a saúde, parcialmente pela forma como muda a composição da microbiota intestinal."
O trabalho foi publicado no periódico da Sociedade Internacional para Ecologia Microbiana, o "Isme Journal".

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Entenda como o corpo reage à fumaça de um incêndio


Mais de 90% das vítimas morreram por intoxicação respiratória. 
Médicos dizem que, além do fator tóxico, outro agravante é o calor.

Mais de 90% das vítimas morreram por intoxicação respiratória, segundo os bombeiros. Os médicos explicam o que a inalação de uma grande quantidade de fumaça provoca no corpo humano.
O fogo se espalhou rapidamente, e não demorou muito para a fumaça também se alastrar. A boate lotada dificultou ainda mais a circulação de ar, que é tão importante para a respiração das pessoas.
O ar entra pela boca ou nariz, passa pela traqueias, vai para os brônquios e chega aos alvéolos, que ficam no final do pulmão. É através dessas células que ocorrem as trocas gasosas: o oxigênio entra no sangue e o gás carbônico é retirado. Esse processo respiratório é muito rápido, dura menos de um segundo.
Quando inalamos fumaça, ela faz o mesmo caminho do oxigênio e demora o mesmo tempo para chegar aos pulmões. A primeira reação do nosso corpo é combater essas substâncias tóxicas. As células de defesa começam a liberar enzimas, só que elas atacam as próprias células do pulmão, onde estão as substâncias tóxicas. A parede do alvéolo se rompe e, onde deveria haver ar, passa a haver sangue. A consequência disso é que não entra mais oxigênio e a pessoa morre.
“Dificilmente alguém resistiria mais do que alguns minutos. Três, quatro, cinco minutos já deve gerar uma asfixia, dependendo da quantidade e da temperatura da fumaça já pode ser suficiente para a pessoa perder o sentido e vir a falecer”, explica Carlos Carvalho, diretor da divisão de pneumologia do Incor.
Os médicos de São Paulo dizem que, além do fator tóxico, outro agravante é o calor. A fumaça quente aumenta os danos nas vias respiratórias. Eles dizem que os sobreviventes que não foram hospitalizados devem ficar atentos com os sinais de irritação. Essas pessoas podem desenvolver, em até cinco dias, doenças perigosas como a bronquiolite e a pneumonia.
“O pulmão demora dias, talvez semanas, para poder sair desse quadro respiratório. A fase aguda demora de uma a três semanas para o organismo se recuperar. Enquanto isso, o organismo precisa ser ventilado muitas vezes de forma artificial na terapia intensiva”, acrescenta Carlos Carvalho.
Assim que ficou sabendo das notícias em Santa Maria, o supervisor tráfego de cargas Valdiney Muricy relembrou outra tragédia. Ele estava no prédio que foi atingido pelo avião da TAM em 2007. Inalou muita fumaça e, desesperado, pulou do terceiro andar.
“A fumaça é uma coisa que vou sempre lembrar, porque mesmo depois do acidente, no próprio hospital, eu fazia um tratamento fisiorrespiratório. Até na saliva você percebia que tinha resíduo daquilo ali que inalei. E a fumaça te leva ao desespero, e juntou com a palavra fogo, te faz tomar decisão daquela de pular 15 metros sem você ter ideia do que realmente é pular de 15 metros”, lembra Valdiney.

domingo, 27 de janeiro de 2013

Atividade física pode desacelerar a perda de memória em pessoas com Alzheimer

Novo estudo concluiu que exercícios regulam a ação de um hormônio que, em quantidades adequadas, protege as células nervosas

cérebro
Proteção: Atividade física pode regular ação de hormônio que ajuda na sobrevivência de células nervosas e reduz o processo de perda de memória (Thinkstock)
Uma série de pesquisas já apontou para a relação entre a prática de atividade física e um menor risco de Alzheimer ou então sintomas menos severos da doença.  Agora, um novo estudo da Universidade de Nottingham, na Grã-Bretanha, descobriu um dos mecanismos que podem ser responsáveis por essa relação. De acordo com o trabalho, um hormônio produzido em quantidades saudáveis durante o exercício moderado, como ao longo de uma caminhada rápida, por exemplo, tem um efeito protetor sobre as células nervosas e pode proteger a memória de um paciente com Alzheimer. As conclusões foram publicadas na edição deste mês do periódico Journal of Alzheimer's Disease.
O hormônio apontado pelos autores desse estudo como um possível aliado das pessoas que têm doença de Alzheimer é o hormônio liberador de corticotrofina (CRF, sigla em inglês). Essa substância é responsável por desencadear o processo de stress no organismo de um indivíduo e é encontrada em grandes quantidades em pessoas que têm problemas como ansiedade ou depressão. No entanto, níveis normais do hormônio são benéficos à saúde, já que, de acordo com os pesquisadores, ajudam na sobrevivência das células nervosas e na atividade cerebral. Pessoas com Alzheimer, porém, apresentam baixos níveis da substância.
Testes - A equipe responsável por essa nova pesquisa testou, em camundongos com Alzheimer, uma droga experimental que impede o hormônio liberador de corticotrofina de ligar-se ao receptor CRFR1, o que acaba bloqueando a ação do hormônio. Com isso, os pesquisadores observaram que os animais apresentaram uma resposta anormal ao stress.
Os autores, então, submeteram parte dos camundongos a uma rotina de exercícios físicos moderados. Esses animais, segundo o estudo, conseguiram restaurar a atividade normal do hormônio liberador de corticotrofina, permitindo que ele surtisse um efeito protetor sobre a memória. Isso aconteceu porque as atividades físicas aumentaram a densidade das sinapses, os pontos de contato entre os neurônios que permitem a comunicação entre eles e cuja redução está associada aos sintomas do Alzheimer.
De acordo com Marie-Christine Pardon, que coordenou o estudo, esses resultados mostram que a atividade física não só pode desacelerar o processo de perda de memória em pessoas com Alzheimer, mas também é capaz de melhorar a resposta desses indivíduos ao stress.

sábado, 26 de janeiro de 2013

MPF quer anular norma do CFM que liberou ortotanásia

Procurador de Goiás alega que Conselho Federal de Medicina ultrapassou suas atribuições legais ao permitir a prática no país

Gabriel Castro, de Brasília

O Ministério Público Federal em Goiás apresentou uma ação contrária à resolução 1.995/2012 do Conselho Federal de Medicina (CFM), chamada de Diretiva Antecipada de Vontade, que dá ao paciente o direito de escolher os procedimentos aos quais não quer ser submetido quando estiver em estado terminal.
O MPF alega que o conselho ultrapassou seus limites legais ao tratar do assunto e que a Justiça suspenda a norma imediatamente, em caráter liminar, enquanto uma decisão definitiva não é proferida.
"Conquanto se pudessem  compreender  as motivações que  teriam levado o réu a baixar a resolução, certo é que, ao editá-la, desbordou dos limites de sua função regulamentar, vindo a afrontar, formal e materialmente, normas constitucionais e legais pertinentes", diz o procurador Ailton Benedito na ação.
Outra observação feita pelo procurador diz respeito à autoridade do médico para interpretar e validar o chamado testamento vital do paciente. "A  normativa  aqui  combatida  nem sequer  exige  capacidade  civil  para  que  o  paciente manifeste sua vontade, deixando ao alvedrio da criatividade do médico — profissional cuja  formação não requer conhecimentos técnico-jurídicos — definir a validade dessa manifestação."
A resolução, critica Benedito, também erra ao não estabelecer uma validade temporal para o testamento vital e subestimar o papel da família na decisão. O procurador ainda classifica a norma do CFM de "lacônica e defeituosa". Ailton Benedito solicita à Justiça que aplique multa de 100.000 reais por dia ao CFM caso descumpra uma eventual ordem judicial resultante da ação.
A legislação brasileira não trata diretamente da ortotanásia, mas o Senado discute a liberação da prática no âmbito da reforma do Código Penal. A ortotanásia é diferente da eutanásia. No primeiro caso, os cuidados médicos são retirados; no segundo, há uma intervenção direta para causar a morte do paciente considerado recuperável.
Outro lado — O CFM afirmou ao site de VEJA que ainda não foi formalmente citado sobre a ação proposta pelo Ministério Público Federal em Goiás. "Quando isso ocorrer, apresentará sua argumentação técnica, ética e legal à Justiça para responder aos questionamentos feitos."
Regra – A resolução do CFM que trata da ortotanásia entrou em vigor em agosto do ano passado. De acordo com o CFM, a nova medida é uma maneira de oferecer ao paciente a chance de expressar sua vontade em ser submetido ou não a tratamentos extenuantes, quando já não há chances de recuperação. A pessoa que optar pelo documento poderá, por exemplo, escolher se quer ser submetida a procedimentos como ventilação mecânica, tratamentos com medicamentos ou cirúrgicos que sejam dolorosos e à reanimação em casos de parada cardiorrespiratória.

Testamento vital

Confira os principais pontos da Diretiva Antecipada de Vontade, nova Resolução do Conselho Federal de Medicina

  1. • O médico registrará no prontuário as diretivas antecipadas de vontade que lhes foram diretamente comunicadas pelo paciente
  2. • Não há necessidade de registro em cartório, apenas se esse for o desejo do paciente
  3. • O testamento pode ser cancelado, desde que o paciente esteja lúcido. Ele deve procurar o médico para manifestar a mudança, bem como alterar no cartório, caso seja registrado
  4. • Não é necessário a presença ou assinatura de testemunhas
    1. • É possível eleger um procurador, que pode ser qualquer pessoa de confiança.
    2. • O médico deixará de levar em consideração as diretivas antecipadas de vontade que, em sua análise, estiverem em desacordo com os preceitos ditados pelo Código de Ética Médica

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Consumo de calorias aumenta em época de dificuldade financeira

Em pesquisa, pessoas que foram subconscientemente preparadas para pensar sobre conflitos comeram 70% a mais

Terra
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Quem nunca ficou triste e decidiu atacar uma barra chocolate ou pote de sorvete? Muitas pessoas encontram conforto em comida quando estão passando por um momento difícil, mas uma nova pesquisa mostra que esse comportamento também acontece em épocas de dificuldade financeira. As informações são do Daily Mail.

A pesquisa publicada na revista Psychological Science descobriu que, nessas fases, pessoas que foram subconscientemente preparadas com mensagens como “viver por hoje” consumiram até 40% mais alimentos em comparação com as que ouviram mensagem neutras.

Indo mais além, quando os voluntários recebiam mensagens indicando que eram épocas difíceis, mas eram avisados que a comida era de baixa caloria, comiam até 25% menos. Segundo pesquisadores, isso acontece porque, durante a crise financeira, nós procuramos comer alimentos com maior teor de calorias.

De acordo com Juliano Laran, professor de marketing da Universidade de Miami, notícias deprimentes também causam o mesmo efeito, inclusive nos noticiários de televisão. "Agora que sabemos que este tipo de mensagens leva as pessoas a consumirem mais calorias como instinto de sobrevivência, seria sábio deixar de ver essas notícias por um tempo”, indicou.

Vários estudos foram realizados como parte da pesquisa. No primeiro, os pesquisadores convidaram voluntários para um teste de gosto do novo tipo M & M. Metade dos participantes recebeu uma amostra do doce e foi informada que o ingrediente secreto era chocolate de alto teor calórico. O outro grupo recebeu o mesmo pote de doce, mas foi informado de que o chocolate era de baixa caloria.

Em seguida, pesquisadores entregaram cartazes contendo frases neutras e frases sobre conflitos para os grupos. Por fim, descobriram que pessoas que foram subconscientemente preparadas para pensar sobre conflitos comeram 70% a mais que os demais.

"Estas descobertas podem ter implicações positivas para os indivíduos em cuidados com a saúde , campanhas de campo do governo sobre nutrição e empresas promotoras de bem-estar”, disse Laran.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Brasil passará a produzir insulina, diz Ministério da Saúde

Medicamento utilizado no tratamento da diabetes será fabricado pela Fiocruz

Injeções de insulina
Injeções de insulina são aplicadas para tratar o diabetes (Thinkstock)
O Ministério da Saúde anunciou nesta quarta-feira que, a partir deste ano, o Brasil passará a produzir cristais de insulina, que é o principio ativo do medicamento utilizado para tratar pacientes com diabetes. A fabricação será feita no Laboratório Farmanguinhos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e, de acordo com o Ministério, espera-se que dentro de três anos a produção de insulina no país atinja escala industrial.
A produção de insulina no Brasil será feita a partir de um acordo de transferência de tecnologia entre o Ministério da Saúde e o laboratório ucraniano Indar, um dos três do mundo que produzem o medicamento. O acordo também aumentou a oferta de insulina aos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) — cerca de 3,5 milhões de frascos do remédio deverão chegar ao país até abril deste ano e, se necessário, esse número poderá chegar a 10 milhões até dezembro, segundo o Ministério.
Cronograma — O acordo com o laboratório alemão prevê que o início da produção de cristais de insulina no Brasil comece neste ano e que, em 2014, a fábrica de produção da substância esteja estruturada. Assim, em 2015, serão feitos os primeiros testes que irão qualificar e propor ajustes técnicos para a validação das instalações e, em 2016, o Brasil deverá estar apto a produzir insulina em escala industrial. Estima-se que a produção do medicamento em território nacional gere uma economia de 1,3 bilhão de reais aos cofres públicos.
“Nosso esforço é para que os pacientes tenham a segurança de receber um medicamento de alta qualidade, produzido aqui no país. Além disso, queremos reduzir a vulnerabilidade do país no mercado internacional de medicamentos, incentivar a produção nacional de ciência e tecnologia e fortalecer a indústria farmacêutica brasileira”, disse o ministro da saúde Alexandre Padilha. De acordo com ele, cerca de 7,6 milhões de brasileiros têm diabetes, sendo que 900.000 deles dependem exclusivamente do SUS para terem acesso à insulina.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Mortes por calazar triplicam em Fortaleza

Em dez anos, a maior incidência da doença ocorreu em 2010, com 262 casos, segundo dados da SMS
O número de óbitos por leishmaniose visceral, doença conhecida como calazar, mais que triplicou no ano passado, se comparado ao ano anterior. Foram 19 mortes em 2012, contra seis em 2011. Um dado controverso, já que, em relação ao número de confirmação de casos, houve melhora significativa de um ano para outro. Em 2011, 241 pessoas foram infectadas pela doença, enquanto em 2012, esse número caiu para 148.


Infectologista aponta a elaboração de políticas públicas para criar condições para a criação correta de cachorros como uma das ações necessárias para se reduzir o número de casos da doença na Capital Foto: José Leomar

As informações são do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) da Secretária Municipal de Saúde (SMS) de Fortaleza, e revelam ainda que, em dez anos, a maior incidência da doença ocorreu em 2010, com 262 casos registrados na Capital, ocasionando a morte de 11 pessoas.

O médico infectologista Anastácio Queiroz, diretor do Hospital São José, explica que os óbitos geralmente ocorrem nos casos mais graves da doença e quando acomete pessoas acima de 60 anos ou crianças pequenas, com menos de seis meses de vida. No entanto, o contraste entre o número elevado de mortes com o número reduzido de confirmações da doença chama atenção e merece uma análise por parte das autoridades para que seja investigado o que ocorreu e estabelecer medidas que visem a redução desse número. "Pode ter sido por atendimento tardio, falha no sistema ou até mesmo descuido da família do paciente", alerta Queiroz.

Para saber se houve falha no sistema de saúde, o médico diz que é preciso verificar o perfil das pessoas que morreram e comparar com o dos anos anteriores. "Não acredito que o sistema tenha piorado tanto", destaca. Ele ressalta que Fortaleza aparece como uma das cidades mais endêmicas do Brasil, o que se dá em virtude da urbanização da doença, que antes se concentrava no ambiente rural, mas que, atualmente, se desenvolve facilmente nas grandes cidades.

Ações

Para o médico, é preciso fazer mais para reduzir a incidência da doença em Fortaleza, como, por exemplo, um programa de captura de animais soltos e elaborar políticas públicas no sentido de criar condições para uma criação correta do cão. "A cada ano, os casos aumentam proporcionalmente em números absolutos e relativos", acrescenta o especialista.

Sobre os cães, Queiroz destaca o uso de coleiras repelentes, que impedem os animais de serem contaminados pelo mosquito transmissor, o flebototímeno e, por consequência, de repassar a doença aos humanos.

Diagnóstico

No Hospital São José, informa Anastácio Queiroz, existem nove pacientes internados vítimas do calazar. Número que o gestor considerado alto, em se tratando de uma doença que muitas vezes é tratada em ambulatório.

Para chegar a um diagnóstico, o médico esclarece alguns sintomas que devem ser observados, como febre por mais de duas semanas, volume do abdômen aumentado, anemia ou índice de plaquetas baixas. "Em todas essas situações, já é para se pensar em calazar", ressalta.

O diretor do Hospital São José informa, ainda, que 90% dos casos em que se faz necessário a internação, o tratamento dura menos de um mês, com exceção de casos adversos, como o de crianças que já chegam em estado grave ao hospital, paciente com HIV ou que esteja em tratamento quimioterápico.

O especialista acrescenta que todos os hospitais da rede estadual de saúde apresentam condições adequadas para tratamento a esses casos, assim como os frotinhas e gonzaguinhas, seguindo as condições estabelecidas pelo Ministério da Saúde.

Internação
9 pessoas encontram-se internadas, no Hospital São José, vítimas de calazar. Para Anastácio Queiroz, diretor da unidade, o número é considerado alto

Cães poderão ser tratados com remédios de humanos
A quantidade de cães sacrificados por conta do calazar na Capital chegou a 2.464 em 2012, segundo dados do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ). Mas esse número pode mudar nos próximos anos. No último dia 16, o Tribunal Regional Federal da 3ª Região autorizou o uso de medicamentos humanos para tratar a leishmaniose em todo o País, proibido desde 2008 pelo Ministério da Agricultura.

Para o veterinário Ricardo Henz, eliminar cães infectados nunca foi a melhor forma de evitar a proliferação da doença. "Nos últimos 12 anos, o calazar tem se expandido. Os dados mostram que essa prática de caçar os cães é fracassada", avalia.

Conforme ele, o tratamento promove a cura clínica do animal, ou seja, retira os sintomas, mas não elimina totalmente o parasita. Apesar disso, Ricardo destaca que, após o uso da medicação, o cão não representa mais um risco às pessoas.

Resistência
Segundo Sérgio Franco, coordenador do Programa de Controle do Calazar do CCZ, a eutanásia é adotada devido à possibilidade de o cão, mesmo após o tratamento, continuar a ser um reservatório da doença.

De acordo com ele, a comunidade científica também teme que a utilização dos remédios acarrete a adaptação e resistência d o protozoário Leishmania, tornando as drogas ineficazes.

Franco acredita que a procura pelos remédios não deve aumentar. Conforme ele, poucos cães terão acesso ao tratamento devido aos custos elevados e à complexidade da terapia. No entanto, o coordenador do CCZ alerta que, com a liberação, podem surgir práticas irresponsáveis de tratamento que acabem prejudicando ainda mais a saúde do cão.

Para a advogada Geuza Leitão, presidente da União Internacional Protetora dos Animais (Uipa), a medida representa uma vitória, mas é preciso haver ressalvas. "Se o dono tiver condições financeiras de tratar, ele deve fazer. Mas, infelizmente, o animal que não tem dono e possui calazar em estágio avançado tem que ser sacrificado", afirma.

RENATO BEZERRA/VANESSA MADEIRAESPECIAL PARA CIDADE

Chinês doente renal sobrevive há 13 anos com máquina caseira de diálise

Homem fez aparelho com itens de cozinha e instrumentos médicos antigos.
Governo chegou a oferecer ajuda a Hu Songwen, mas ele recusou.

Do G1, em São Paulo
Chinês cria máquina caseira de hemodiálise (Foto: AP)Chinês usa máquina caseira em banheiro
(Foto: AP)
Um chinês se mantém vivo há 13 anos graças a uma máquina caseira de hemodiálise que ele mesmo fez. Hu Songwen construiu o aparelho com utensílios de cozinha e instrumentos médicos antigos, após não poder mais pagar as contas do hospital. As informações são do site do jornal britânico "Daily Mail".
Segundo Songwen, que sofre de insuficiência renal, dois de seus amigos morreram após montar e usar equipamentos semelhantes. Depois que a história ganhou repercussão nacional, o governo chinês chegou a oferecer ajuda, mas o paciente recusou sob a alegação de que o hospital mais próximo de sua casa era muito longe e lotado.
Três vezes por semana, o homem passa pela sessão de diálise em um pequeno banheiro de casa, onde ele vive com a mãe de 81 anos em uma cidade rural do condado de Hai'an, no leste da China.
Songwen foi diagnosticado em 1993, quando ainda estava na faculdade. Durante seis anos, ele gastou todas as economias que tinha no hospital, até que resolveu criar a própria máquina de diálise, que funciona como um "rim externo", capaz de filtrar e remover as impurezas do sangue.
O custo do atual tratamento é de R$ 19,40 por sessão, o que representa 12% do valor cobrado no hospital, segundo o chinês. A máquina tem dois compartimentos ligados por uma membrana – uma estrutura como um filme que permite que apenas algumas partículas passem por ela.
Chinês cria máquina caseira de hemodiálise (Foto: AP)Tratamento caseiro sai por R$ 19,40 cada sessão, 12% do valor cobrado por um hospital local (Foto: AP)
O sangue do homem é bombeado em metade do aparelho, por um tubo, enquanto o líquido da diálise (uma mistura de água com cloreto de sódio, bicarbonato de sódio e cloreto de potássio) é bombeado na outra parte, por outro tubo.
Como o sangue de Songwen tem altas concentrações de potássio e sódio, essa solução ajuda a controlar os níveis dos minerais, deixando-o em um patamar equivalente ao de uma pessoa saudável.
Médicos acreditam que o paciente corre risco de contrair uma infecção grave e complicações a longo prazo, por não usar água esterilizada para produzir o fluido.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

A gripe que assusta os EUA

Uma das mais graves epidemias nos Estados Unidos leva o governo brasileiro a orientar turistas a tomar precauções na viagem

Mônica Tarantino
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PROTEÇÃO
Em Nova York, houve filas na porta das farmácias para tomar o imunizante
contra a gripe depois que o governo liberou a vacinação nesses locais
A população americana enfrenta a mais agressiva epidemia de gripe dos últimos quatro anos. Na semana passada, o registro de cinco vezes mais casos nas primeiras semanas de 2013 do que no ano anterior levou à declaração de estado de emergência em saúde pública no Estado de Nova York. Foram 20 mil casos entre o final de dezembro e 5 de janeiro deste ano. Outras cidades, como Boston, também reconheceram a gravidade da situação. A medida liberou a vacinação em farmácias, o que não era permitido. A grave situação em um dos principais destinos de férias dos brasileiros levou o Ministério da Saúde a divulgar orientações àqueles que planejam embarcar para as cidades americanas e regiões onde a doença se expande, como o Canadá. O órgão não recomenda o cancelamento de viagens, mas indica cuidados a serem adotados por todos os turistas, como evitar locais com grande aglomeração. Devem-se precaver especialmente as pessoas que apresentam condições que favorecem a ocorrência de casos mais graves – idosos, crianças menores de 2 anos, grávidas e quem está com a imunidade afetada (em tratamento oncológico ou com sintomas associados a Aids, por exemplo).
Na opinião do infectologista David Uip, diretor do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, referência no País, essas pessoas com maior risco de sofrer com as complicações da gripe e que não têm urgência de ir aos Estados Unidos devem adiar a viagem. Segundo ele, não adianta tomar a vacina de 2012, embora a epidemia estrangeira tenha provocado grande procura nas clínicas de imunização e hospitais do País por turistas rumo ao Exterior. “Eu não recomendo. A vacina de 2012 imuniza contra cepas de vírus que podem ter variações em relação às que estão circulando no Hemisfério Norte. Por isso sua proteção é muito pequena”, diz o médico. O infectologista Jessé Reis, do serviço de Consulta do Viajante do Fleury Medicina e Saúde segue a mesma linha. “A vacina protege contra 14,5% dos vírus que circulam lá. Além disso, os efeitos só aparecem a partir de um período de sete a 14 dias”, afirma Reis. Uma das empresas fabricantes do medicamento estima a chegada dos novos imunizantes às clínicas privadas em fevereiro. A vacinação pública está prevista para abril. Essa posição não é consenso entre os médicos. O infectologista Artur Timerman, do Hospital Edmundo Vasconcelos, em São Paulo, diz que quem não se vacinou em 2012 deve tomar o imunizante antes de entrar no avião. “A vacina confere uma proteção parcial que pode ajudar”, afirma. Quem optar pela vacina deve também observar o prazo de validade do medicamento, pois o imunizante disponível é o que foi dado em 2012 e foi preparado apenas para uso durante a temporada de gripe daquele ano. De acordo com nota da Secretaria de Vigilância da Saúde (SVS), até mesmo pessoas que tomaram a vacina e apresentam sintomas devem procurar o médico. Segundo a SVS, os efeitos protetores sofrem redução significativa após seis meses da aplicação da vacina.
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A apresentadora Solange Frazão, 50 anos, foi uma das turistas brasileiras acometidas pela gripe americana. Na volta dos EUA, ela foi internada no sábado 12 no Hospital São Luiz, em São Paulo, com febre alta, tosse e dificuldade de respirar por culpa do vírus influenza B. Outras quatro pessoas do grupo de dez que a acompanhavam adoeceram. “Meu caso foi o mais grave. Sou resistente, mas passei muito mal”, conta Solange. Ela tomou o antiviral oseltamivir (o Tamiflu), antibióticos e faz fisioterapia respiratória. Teve alta na quarta 16 e se recupera em casa.
Um fator que ajuda a explicar o alto número de casos nos Estados Unidos e também no Canadá é a predominância do vírus influenza A (H3N2) entre os micro-organismos em circulação, informou o CDC à ISTOÉ. Segundo o CDC, as temporadas em que prevalece o H3N2 são mais graves, com aumento das hospitalizações e mortes. Outro motivo é a circulação de vários sorotipos do vírus da gripe ao mesmo tempo. “Essa associação é incomum”, diz o infectologista Timerman. Além do H3N2, registram-se nos EUA casos por influenza B, por um influenza A que não foi tipificado (e não faz parte da vacina atual dada no Hemisfério Norte) e pelo H1N1, causador da pandemia de 2009, mas que agora responde por apenas 1% dos casos. Até agora 20 crianças e 60 adultos morreram por gripe, conforme o CDC.
Para reforçar seu arsenal, na semana passada a agência reguladora americana FDA aprovou uma nova vacina contra a doença produzida por engenharia molecular, o que elimina o cultivo do vírus em ovos, como é a técnica tradicional. O método já é usado na produção de outras vacinas.
Foto: Andrew Kelly/ REUTERS

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Quando deixar de tomar remédios se torna um problema de saúde pública

Segundo a Organização Mundial da Saúde, somente 50% dos doentes crônicos seguem o tratamento. Em pacientes com diabetes, a baixa aderência pode aumentar em 125% os custos com a doença. O problema é tão grave que grandes companhias já contratam empresas para garantir que seus funcionários tomem religiosamente seus medicamentos

Aretha Yarak
Adesão ao tratamento: de acordo com o Banco Mundial, para cada um dólar gasto em prevenção, há a economia de sete dólares em futuras complicações
Adesão ao tratamento: de acordo com estudo americano, o abandono dos medicamentos resulta em 125.000 mortes todos os anos nos Estados Unidos (Thinkstock)
Um dos maiores problemas de saúde pública mundial é que boa parte dos portadores de doenças crônicas não tem acesso aos medicamentos necessários para o tratamento. Entre os que têm acesso, porém, a baixa adesão ao tratamento é preocupante e constitui uma questão igualmente grave. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), apenas metade dos pacientes com doenças crônicas faz o tratamento corretamente. Estima-se que apenas nos Estados Unidos esse comportamento resulte em 125.000 mortes todos os anos. Os baixos índices de aderência não prejudicam apenas a saúde do próprio paciente. A descontinuidade terapêutica também pesa nos cofres públicos e no bolso do contribuinte. Segundo pesquisa publicada no Journal of Managed Care Pharmacy, uma publicação da Academia de Assistência Farmacêutica Gerenciada dos EUA, a baixa adesão de pacientes diabéticos aumenta em 125% os custos médicos com a doença. No Brasil, as pesquisas sobre o assunto ainda são incipientes, e sabe-se muito pouco sobre como os baixos índices de aderência afetam os cofres públicos.
Por definição, as doenças crônicas são silenciosas e se desenvolvem lenta e progressivamente. Isso significa que nos primeiros anos seus portadores não costumam apresentar sintomas ou complicações. Os sinais iniciais da doença tendem a surgir mais tarde, quando os órgãos já estão comprometidos. Essas doenças, a exemplo do diabetes, da asma e da hipertensão, não têm cura, mas podem ser prevenidas e controladas com a adoção de tratamentos adequados. É aí que entra um dos grandes problemas atuais da saúde pública: cerca de 50% dos pacientes não consegue cumprir com as recomendações médicas, sejam elas apenas a ingestão de remédios ou ainda mudanças nos hábitos de vida.

Tuberculose

Quando vale a pena pagar para o paciente se tratar

A doença é causada bactéria Mycobacterium tuberculosis, que se propaga pelo ar. A tuberculose afeta normalmente os pulmões, mas pode atingir quase todos os órgãos do corpo. O tratamento é feito com o uso de antibióticos, que devem ser tomados por, no mínimo, seis meses. O abandono ou a irregularidade no tratamento reduz as chances de cura, agravando a doença e podendo levar o paciente à morte. O doente sem tratamento é um risco à saúde pública, já que é uma fonte permanente de bacilos e pode transmitir a doença a outras pessoas.
De acordo com o Ministério da Saúde, em 2010 foram detectados 88% das ocorrências da doença, com um indicador de cura de 73,2%. Atualmente são detectados 70.000 novos casos por ano. Um dos maiores problemas no tratamento da tuberculose é a adesão do paciente ao tratamento. Após os primeiros meses, quando o paciente já se sente saudável, há grande risco de abandono — a terapia exige a ingestão de mais de um antibiótico diariamente pelo prazo determinado pelo médico. O abandono e o tratamento irregular são as principais causas da tuberculose drogarresistente. Em geral, ela exige terapias mais prolongadas (de 18 a 24 meses), muito mais caras e que apresentam taxas de cura bem inferiores às observadas no tratamento básico.
A adesão é tão importante para sanar a doença, que alguns governos têm investido em programas de estímulo ao paciente. De acordo com a Secretaria de Saúde da cidade de São Paulo, por exemplo, o tratamento na capital segue a estratégia recomendada pela OMS, o Tratamento Diretamente Observado (TDO). Nele, o paciente é atendido diariamente, com o medicamento ingerido na presença do profissional da saúde. São Paulo incentiva o tratamento com a entrega de uma cesta básica mensal para os doentes em TDO e com o fornecimento de vale transporte. Estima-se que 6.000 novos casos apareçam todos os anos na capital paulista, e outros 1.000 passem por retratamento.
A Organização Mundial de Saúde estipulou para 2015 a redução nas taxas de abandono no tratamento da tuberculose para menos de 5%. Atualmente, as taxas no Brasil são de 10%.
"Pagando para se sentir mal" — De acordo com os especialistas ouvidos pelo site de VEJA, as causas da baixa adesão podem variar muito, mas há três pontos essenciais: o paciente não compreende corretamente a doença (e, por consequência, a necessidade de se medicar), sofre algum efeito adverso ao tomar o remédio ou não simplesmente não tem acesso às drogas necessárias. De acordo com Elias Knobel, cardiologista clínico e vice-presidente da Mesa Diretora do Hospital Albert Einstein, há casos de pacientes com hipertensão que ainda não apresentam sintomas, por exemplo, mas que, com o início das medicações, podem começar a ter perda de libido. "Em uma visão imediata e errônea, o paciente, que ainda não sentia nada, se vê pagando para se sentir mal", diz. Como consequência, ele acaba abandonando o tratamento.
Pesquisa publicada no The New England Journal of Medicine, em 2005, aponta ainda que os médicos também têm sua parcela de culpa pela baixa adesão ao tratamento. Segundo o estudo, eles falham quando há a prescrição de terapias complexas, não conseguem explicar corretamente os benefícios e os efeitos colaterais da medicação, desconsideram o estilo de vida do paciente ou o custo dos remédios e mantêm uma relação terapêutica pobre com o paciente. "Por isso, bato na tecla: o médico precisa ter tempo para falar com o paciente. Só assim ele vai conseguir explicar e entender as necessidades dele", diz Knobel. A medicina praticada no Brasil hoje, no entanto, caminha pela contramão: as consultas tendem a durar, em média, somente 15 minutos.
Impacto econômico — Estima-se que, nos Estados Unidos, de todas as admissões hospitalares relacionadas com o uso de remédios, de 33% a 69% se devem à baixa adesão aos tratamentos medicamentosos. Essas internações custam aproximadamente 100 bilhões de dólares por ano. De acordo com o Instituto IMS Health, do total de custos que poderiam ser evitados, a não adesão corresponde a 57%. No Brasil, não há levantamentos que apontem quais os prejuízos que o problema acarreta aos cofres públicos. Se os resultados americanos fossem extrapolados para o Brasil, considerando que em 2012 o orçamento do programa Saúde Não Tem Preço, do Ministério da Saúde, foi de 1,3 bilhão de reais, 650 milhões de reais teriam sido gastos com pacientes crônicos que não tiveram adesão ao tratamento — e, portanto, terão complicações futuras, engrossando a conta de hospitais.
Já um estudo publicado em 2008 no Journal of Managed Care Pharmacy aponta que, em pacientes com diabetes, quando a adesão ao tratamento é de 80% a 100%, os custos médicos totais são de 4.000 dólares. Mas quando essa adesão cai para níveis de 1% a 19%, os custos saltam para 9.000 dólares — um crescimento de 125%. Levantamento brasileiro feito na cidade de Passos, em Minas Gerais, como tese de doutorado apresentada em 2011 na Universidade de São Paulo, demonstra que apenas 1,4% dos pacientes com diabetes conseguiu aderir completamente ao tratamento — que inclui medicação, atividade física e planejamento alimentar. De acordo com a OMS, no continente europeu o desenvolvimento de complicações vasculares por diabetes respondeu por um aumento de 2 a 3,5 vezes com os gastos totais com a doença. "Os custos diretos com complicações atribuídas ao baixo controle do diabetes são de três a quatro vezes maiores, quando comparado a situações nas quais há o controle da doença", afirma o relatório do órgão.
Na hipertensão, doença que atinge cerca de 600 milhões de pessoas no mundo, a tendência é basicamente a mesma. Uma pesquisa de 2010 publicada no periódico Circulation mostra que a não adesão ao tratamento acontece com mais de 60% dos pacientes com problemas cardiovasculares. No caso específico da hipertensão, dos pacientes que conseguem manter o tratamento nas fases iniciais, mais de 50% tendem a parar com a medicação dentro de seis a 12 meses — período que coincide com a estabilização da pressão. "Como os remédios para hipertensão são distribuídos gratuitamente pela rede pública, acredita-se que o problema de adesão esteja resolvido no Brasil. A verdade é que a adesão continua ruim, porque ela não depende só do preço", diz Decio Mion, chefe da Unidade de Hipertensão do Hospital das Clínicas de São Paulo e coautor do livro Adesão ao Tratamento — O Grande Desafio da Hipertensão.
Pílula monitorada — A falta de adesão ao tratamento é um mau negócio não apenas sob o aspecto de saúde, mas também sob o financeiro. Hoje existem empresas que lucram fazendo com que funcionários de grandes companhias sigam religiosamente seus tratamentos. Fundada em setembro de 1999, a empresa paulista ePharma atua em um nicho de negócios promissor no Brasil o do chamado Pharmacy Benefit Management, ou PBM (os brasileiros, para manter a sigla, batizaram essa política empresarial de "programa de benefício de medicamento"),  Sua função é organizar um benefício extra aos funcionários de empresas terceirizadas: desconto em farmácia e acompanhamento das terapias. A empresa é responsável por gerir as listas de medicamentos subsidiados e, em alguns casos, ligar para o paciente para dar esclarecimentos e apoio no tratamento. Com mais de 150 clientes, 18.000 farmácias conveniadas e presente em mais de 2.000 municípios, a empresa nacional espera movimentar 45 milhões de reais em 2013.
"Nossos clientes são grandes corporações que já conseguem entender a importância de prover ao doente crônico o acesso aos remédios e, principalmente, promover sua adesão ao tratamento", diz Luiz Monteiro, médico e presidente da Associação Brasileira das Empresas Operadoras de PBM (PBMa). Segundo ele, quase 3 milhões de brasileiros já recebem esse tipo de benefício no Brasil, atendidos por alguma das quatro empresas do setor. Entre os clientes da ePharma está a Petrobras, que subsidia medicamentos — com descontos de 100% a 50% — há cinco anos para todos os seus colaboradores e dependentes. "Os medicamentos de alto custo, como os oncológicos, que não podem ser encontrados em farmácia, são entregues em domicílio", diz Pedro Oliveira, médico e gerente clínico do Programa de Gestão de Risco em Saúde da ePharma.
A empresa atende ainda planos de saúde, como a operadora baiana Promédica. Nesse caso, no entanto, o serviço é mais especializado: de 10% a 15% dos 120.000 conveniados recebem periodicamente ligações de uma equipe multidisciplinar para conversar sobre o tratamento. "A periodicidade com que essas ligações são feitas depende da gravidade estado do paciente. Elas podem ser feitas de duas vezes por semana a uma vez a cada três meses", diz Oliveira. As ligações duram, em média, 20 minutos e podem ser feitas por nutricionistas, psicólogos, farmacêuticos ou médicos, dependendo da necessidade do paciente. A preocupação faz sentido. Levantamento de coautoria de Décio Mion, feito no Hospital das Clínicas de São Paulo com 354 pacientes hipertensos e publicado no periódico Clinics, mostrou que as orientações multidisciplinares via telefone foram efetivas para conseguir a adesão ao tratamento. "Para uma boa resposta no tratamento, é preciso que se façam ações conjuntas, que se adotem medidas que abordem todos os aspectos da terapia", diz.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Viagra pode ajudar a combater obesidade

Pesquisa realizada por cientistas da universidade alemã de Bonn descobriu que o medicamento transforma células de gordura e aumenta o gasto calórico

Viagra, medicamento da Pfizer
Viagra, medicamento da Pfizer (Divulgação)
O medicamento Viagra é indicado para disfunção sexual masculina, mas também pode servir para ajudar a perder peso. Segundo pesquisa realizada pela universidade alemã de Bonn, as pílulas azuis contêm substâncias capazes de transformar as células de gordura e acelerar o gasto calórico.
A equipe do professor Alexander Pfeifer, responsável pela pesquisa, constatou o efeito emagrecedor ao perceber que ratos tratados com Viagra ficaram imunes à obesidade, apesar de serem alimentados com uma dieta hipercalórica. A transformação das células também reduz o risco de doenças cardíacas pois ajuda a frear processos inflamatórios que podem desencadeá-las.
Em entrevista ao tabloide britânico Daily Mail, o professor Pfeifer desaconselhou o uso do medicamento por pessoas que querem emagrecer. "O estudo está em um estágio muito inicial e foram realizados testes apenas em ratos."

sábado, 19 de janeiro de 2013

Os riscos da moda dos seios fartos

Cresce a procura por implantes de silicone cada vez maiores e aumenta o número de adolescentes que desejam fazer essa cirurgia plástica. Especialistas indicam como evitar problemas

Mônica Tarantino e Rachel Costa

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As brasileiras estão redefinindo seu padrão de beleza corporal. Querem seios cada vez mais fartos – e desejam isso cada vez mais cedo. A constatação emerge de números obtidos por entidades que representam a área da cirurgia plástica e também da observação dos mais experientes e renomados cirurgiões plásticos do País do que acontece no dia a dia de seus consultórios. “Há uma década, as mulheres do Brasil queriam ser retas e musculosas. Agora buscam um corpo torneado e com mamas mais projetadas”, afirma o médico José Horácio Aboudib, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. O especialista, assim como a maioria de seus colegas, também não se surpreende mais ao encontrar na sala de espera de sua clínica meninas de 14, 15 anos, querendo saber como aumentar o número do sutiã. “Antes, elas queriam mudar o nariz, corrigir a orelha ou tirar uma pinta. Agora, vêm para aumentar os seios”, diz o cirurgião plástico Alexandre Senra, de São Paulo, referência em cirurgia plástica de mama. No consultório do mineiro Sebastião Guerra, chefe da Cirurgia Plástica do Hospital Mater Dei, de Belo Horizonte, 10% das consultas com jovens menores de 18 anos. “Em vez de festas ou viagens, muitas pedem aos pais uma prótese de silicone como presente de 15 anos”, conta o médico.
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O fenômeno agora registrado no Brasil é muito parecido com o que ocorre em outros países, em especial nos Estados Unidos. Lá, como aqui, a colocação de implantes para dar mais volume aos seios é a cirurgia preferida no campo dos procedimentos estéticos. A mais recente pesquisa sobre o tema, realizada em 25 países e divulgada na semana passada pela International Society for Aesthetic Plastic Surgery (Isaps), revelou que os EUA continuam puxando a fila dos países onde o procedimento é mais realizado. Em 2011, foram 284.351 procedimentos. Depois vem o Brasil, com 148.962 cirurgias para colocação de implantes de silicone. Em terceiro lugar está o México, com 72.712 procedimentos.
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TAMANHO
A advogada Veridiana trocou a prótese de 190 mililitros (ml) por uma de 255 ml
A procura por próteses maiores começou nos Estados Unidos, mas desembarcou no Brasil trazida por um movimento de padronização de beleza que se espalha pelo mundo. “A partir dos anos 2000, os padrões começaram a ser mais universais”, afirma o cirurgião plástico Alexandre Munhoz, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, e consultor de uma das marcas de implantes. “Há uma década, a brasileira usava implantes em torno de 180 mililitros (ml). Agora, a média fica entre 200 ml e 340 ml”, observa. Na clínica do cirurgião plástico Aboudib, no Rio de Janeiro, a média varia entre 255 ml e 315 ml. Seu colega mineiro Sebastião Guerra lembra que não há mais no mercado próteses de 120 ml. “O volume começa em 140 ml”, diz. “Há 25 anos, eu colocava 60 ml, 80 ml e até 120 ml. Minha média atual chega a 280 ml”, afirma ele, que já colocou implantes de 375 ml. Um levantamento da Allergan, fabricante de próteses, dá uma ideia de como está ocorrendo a mudança. Segundo a empresa, 31% das cirurgias feitas com próteses da marca no ano passado usaram modelos de 300 ml, seguidas pelas de 340 ml. Os médicos afirmam que os preços não diferem em relação aos implantes menores.
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PACIÊNCIA
Thaissa queria colocar o implante desde os 15 anos. Mas seus
pais não permitiram. Ela só fez a cirurgia seis anos depois
A advogada Veridiana Olinésio, de São Paulo, e a atriz Franciely Freduzeski, 33 anos, do Rio de Janeiro, estão entre as mulheres que aumentaram o volume das próteses. Veridiana colocou a primeira prótese aos 27 anos, de 190 ml, e aos 33 anos, após a gravidez, optou por uma de 255 ml. “Eu pareço mais bem-disposta”, conta. Franciely também trocou após o nascimento do filho. “Coloquei 285 ml. Estou mais bonita.”
Assim como o tamanho mais avantajado dos seios, a idade cada vez mais precoce de quem busca esse efeito obedece a uma tendência mundial. Quando começou a ser realizado, o implante de silicone era quase restrito a mulheres mais velhas, por volta dos 45 anos, que desejavam recuperar as formas da juventude. Hoje, não se trata mais de restaurar algo que foi perdido, mas simplesmente de tornar os seios mais atraentes e bonitos para as próprias jovens. O médico Sebastião Guerra, por exemplo, atendeu uma menina de 13 anos que insistia em aumentar o peito porque tinha certeza de que isso mudaria sua vida. Queria tanto que convenceu os pais. “Ela não saía de casa, não ia à piscina, não vestia uma blusa mais decotada”, lembra o cirurgião.
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O desejo de ficar mais bonita é absolutamente legítimo. Os especialistas alertam, no entanto, para a necessidade de ter bom-senso e fazer as devidas ponderações na hora de escolher como e quando se submeter à cirurgia. Aumentar demais o tamanho dos seios e colocar próteses muito cedo traz riscos que não devem ser ignorados. No que diz respeito ao volume, há chance de o contorno da prótese ficar destacado na região do colo quando o diâmetro da mama não é respeitado. “Pode haver também uma extensão não harmoniosa na direção lateral ou a possibilidade de as próteses se encostarem, o que dá um efeito muito artificial”, observa o cirurgião plástico Renato Saltz, radicado em Salt Lake City, nos Estados Unidos, e ex-presidente da American Society of Aesthetic Plastic Surgery. “Por isso é fundamental respeitar a anatomia original da mama e seus limites”, diz.
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DESEJO
Orientada pelos pais, a paulistana Julia Spinardi esperou quatro
anos antes de colocar a prótese. Está feliz com o resultado
Mais um desdobramento possível é a queda da mama se a pele da paciente não der sustentação ao volume inserido. Também pode ser que a mulher não goste do resultado. Aí, o jeito é enfrentar uma nova operação. “Tenho feito muitas trocas de implantes maiores por menores em jovens que querem parecer mais elegantes”, diz o cirurgião plástico Marcelo Sampaio, do Núcleo de Mastologia do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
Em relação à idade, o estágio de desenvolvimento do corpo da adolescente é decisivo. A menarca, ou primeira menstruação, por exemplo, é um dos critérios de seleção usados por alguns médicos. Outros só realizam a cirurgia se a paciente concluiu o processo de maturação sexual e suas mamas alcançaram o que se chama de estágio 4, do tamanho do de uma mulher adulta. “Para os endocrinologistas, a conclusão do desenvolvimento corporal só ocorre por volta dos 17 anos. Pode ser que se dê antes, mas também pode ser que as mamas não tenham chegado ao seu tamanho definitivo. É preciso examinar a adolescente muito bem”, explica a endocrinologista Cláudia Cozer, coordenadora do Núcleo de Obesidade e Transtornos Alimentares do Hospital Sírio-Libanês. Depois dessa etapa, a glândula mamária não cresce mais, ainda que possa ganhar volume por causa da distribuição de gordura corporal. “Médicos mais conscienciosos não deveriam colocar implantes antes dessa idade, a não ser em situações muito sérias de alterações do desenvolvimento”, afirma a médica.
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* Alexandre Senra, Alexandre Munhoz e Renato Saltz
É consenso que a colocação de implantes de silicone em jovens mal selecionadas para o procedimento pode provocar grandes estragos. “Se a prótese esticar demais a pele, pode comprimir a glândula mamária da adolescente e atrapalhar o crescimento”, explica o cirurgião Sebastião Guerra. Outro risco é o surgimento de estrias, um dos principais efeitos colaterais desse tipo de cirurgia quando feita na adolescência. “Em geral, elas aparecem quando o implante é maior e faz os tecidos de sustentação se romper, abrindo caminho para a flacidez futura”, explica o cirurgião plástico Carlos Uebel, presidente da International Society for Aesthetic Plastic Surgery.
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Para evitar erros tanto na escolha do tamanho como na definição da idade para colocar a prótese de silicone, a cirurgia plástica oferece novidades e, principalmente, muito conhecimento. Em relação ao tamanho, por exemplo, novos recursos dão uma noção antecipada dos resultados da colocação do implante. Isso é possibilitado por programas de computador que, a partir de imagens digitais das pacientes, fazem uma simulação em 3D de como ficará o corpo após a cirurgia. “O objetivo é ter uma ideia mais realista do resultado”, explica o cirurgião plástico Ricardo Cavalcanti, de São Paulo. O instrumento está sendo usado por especialistas como Cavalcanti e o médico Alexandre Senra, de São Paulo, entre outros.
Também é possível transpor as medidas do seio original para os sites dos fabricantes e avaliar diversos tamanhos sugeridos. Além disso, durante a cirurgia, os especialistas costumam testar alguns modelos pré-selecionados antes de inserir o implante definitivo. “São tentativas de aproximar o resultado final daquilo que a paciente espera. As chances de isso acontecer são maiores se o cirurgião for experiente e a mulher não alimentar falsas expectativas. Por isso deve-se conversar muito antes”, afirma o cirurgião Renato Saltz. A apresentadora de televisão Monica Apor, 31 anos, seguiu esse roteiro de recomendações e colocou uma de 250 ml. “Queria um corpo mais harmonioso e consegui”, diz.
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MUDANÇAS
Franciely (acima) colocou prótese de 285 ml após o nascimento
do filho. Monica (abaixo) seguiu as recomendações do
médico e está satisfeita com o implante de 250 ml
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Quanto à idade certa, há alguns parâmetros disponíveis. Nos Estados Unidos, a recomendação da American Society of Aesthetic Plastic Surgery é não fazer procedimentos cirúrgicos estéticos em menores de 21 anos. No entanto, conforme pesquisa da entidade, até 1,5% das cirurgias de aumento de mama nos EUA é feita em garotas com menos de 18 anos. A sociedade internacional sugere não realizar o procedimento antes dos 16 anos.
Nessa questão, é preciso considerar ainda a maturidade emocional das garotas. “Algumas meninas se sentem muito sedutoras e poderosas com seus implantes. Podem precisar de apoio psicológico para pensar sobre o que está acontecendo com elas”, diz o psiquiatra Bruno Raffa, do Hospital São Lucas, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. O papel dos pais é decisivo nessa situação. “Eles, que geralmente pagam pelo procedimento, precisam participar da discussão e colocar limites. Faz parte do crescimento”, diz o médico. Raffa aconselha os cirurgiões a se certificarem de que a adolescente conseguiu entender todas as etapas do procedimento e as mudanças pelas quais seu corpo passará. O médico precisa também avaliar o grau de expectativa da menina. “Se ela tiver prognósticos irreais, continuará insatisfeita”, diz o especialista. Alguns médicos encaminham as pacientes mais jovens para uma avaliação psicológica antes de decidir se fazem ou não a cirurgia.
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PROJEÇÃO
O cirurgião plástico Senra usa aparelho que simula como será o resultado
Quando os passos são dados a seu tempo, a satisfação aparece. Foi assim com a estudante de direito carioca Thaissa Rodrigues, 23 anos, que colocou 230 ml há dois anos. A vontade começou aos 15 anos, mas seus pais conseguiram adiar a realização do desejo. “Ainda bem que eles fizeram isso, porque agora o resultado ficou muito bom e mais proporcional”, diz. A paulistana Julia Spinardi, 19 anos, viveu um processo parecido. “Queria aumentar os seios desde os 15, mas meus pais não deixaram e só pude fazer a cirurgia recentemente”, conta. “Agora estou contente.”
Fotos: David Falk/gettyimages, João Castellano e Orestes Locatel/ag. Istoé, Pedro Dias, Kelsen Fernandes

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Transplante de fezes é usado para tratar infecção intestinal

Estudo holandês diz que técnica é melhor que tomar apenas antibiótico.
Bactéria resistente 'Clostridium difficile' causa diarreia, vômito e febre.

Luna D'Alama Do G1, em São Paulo
Um estudo holandês publicado esta semana é o primeiro a testar a eficácia de um transplante de fezes para tratar pacientes com infecção intestinal, em comparação com o uso de antibióticos normais. Os resultados aparecem na revista científica "The New England Journal of Medicine".
Os pesquisadores analisaram três grupos diferentes. O primeiro incluía 16 pessoas doentes – com diarreia causada pela bactéria Clostridium difficile – que receberam um antibiótico chamado vancomicina, lavagem intestinal e fezes de indivíduos normais, por meio de uma sonda que ia do nariz até o estômago ou o intestino delgado. Os outros dois grupos reuniam 13 voluntários cada – um tratado com vancomicina e lavagem, e o outro, apenas com o remédio.
No primeiro caso, 15 participantes ficaram livres do problema, e nos demais, três e quatro pessoas se curaram, respectivamente.
Transplante de fezes (Foto: Gretchen Ertl/The New York Times)Americana Melissa Cabral fez transplante de fezes no ano passado (Foto: Gretchen Ertl/The New York Times)
Segundo os autores, o transplante de fezes de um indivíduo saudável para outro com infecção intestinal grave pode reequilibrar rapidamente a flora bacteriana, o que muitas vezes não é controlado com antibióticos, já que a Clostridium difficile é bastante resistente.
De acordo com o coloproctologista Carlos Frederico Marques, do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) e do Hospital Sírio-Libânes, esse tratamento pode levar até dois ou três meses, e idosos são um grupo mais suscetível.
A técnica já foi usada em 500 pessoas em todo o mundo, como último recurso para combater esse tipo de infecção. Nela, a diarreia costuma ter longa duração – de cinco a dez dias –, o risco de recorrência é de 20% a 50% e a pessoa fica muito debilitada, com risco de desidratação pela perda de líquidos e, às vezes, vômitos e febre.
(...) não adianta só falar em eficácia, precisamos saber a segurança disso"
Carlos Frederico Marques,
coloproctologista
Segundo o jornal "The New York Times", 300 mil americanos ficam doentes em hospitais por ano em decorrência do Clostridium difficile e 14 mil morrem anualmente. Isso porque cepas cada vez mais tóxicas têm surgido, e os custos de tratamento ultrapassam os R$ 2 bilhões a cada ano.
O que não se sabe ainda é quais bactérias do intestino têm poderes "curativos", já que o órgão contém centenas ou até milhares de tipos de micro-organismos. Por essa razão, as fezes têm sido transplantadas praticamente intactas, apenas diluídas em líquido (como água salgada).
"O transplante ainda está em estudo, e não adianta só falar em eficácia, precisamos saber a segurança disso. Acho que a pesquisa deve ser vista com ânimo, mas também com cautela", diz Marques.
Infecção incomum
Segundo o coloproctologista Fábio Guilherme Campos, do Hospital Sírio-Libanês, a infecção por essa bactéria não é comum no Brasil – ele vê um ou dois casos por ano – e ocorre geralmente em ambiente hospitalar, quando o paciente é tratado com antibióticos, o que não precisa ser em altas doses ou por um período prolongado.
Isso porque os medicamentos matam os micro-organismos invasores, mas também aqueles que vivem e fazem bem ao corpo, como a Escherichia coli no intestino grosso, que protege a região dos ataques do Clostridium difficile.
"Essa é uma bactéria oportunista, capaz de viver sem oxigênio e sobreviver aos antibióticos. Ela, então, cresce de forma desordenada", explica Campos, que também é professor livre docente da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). O diagnóstico, de acordo com ele, é feito por um exame de fezes.
Uma proposta melhor, mais fácil e efetiva seria usar probióticos"
Fábio Guilherme Campos,
coloproctologista
O médico diz que raramente esse quadro é grave. Portanto, fazer um transplante de fezes seria como "matar uma formiga com um tiro de canhão", em vez de simplesmente pisar em cima dela.
"Uma proposta melhor, mais fácil e efetiva seria usar probióticos, medicamentos em pó ou cápsulas que contêm bactérias fracas e modificadas, como os lactobacilos, para restabelecer o equilíbrio do intestino", afirma Campos.
Sobre a nova técnica, o coloproctologista acredita que ela não deva "pegar", por ser muito invasiva e oferecer risco de contaminação pela sonda, o que poderia piorar a situação.
"Apesar disso, muitas dessas pesquisas acabam servindo para tratar outras situações. Se ficar comprovado que o transplante consegue estabilizar a flora e recuperar a parede do intestino, tornando-a mais espessa, ele poderia ser usado, por exemplo, para impedir que bactérias fossem parar no sangue e causassem uma infecção generalizada", destaca Campos.
Paciente tratada
Uma das pacientes que já passaram por um transplante fecal é a americana Melissa Cabral, de 34 anos, que não participou do estudo holandês. Segundo "The New York Times", ela contraiu a bactéria Clostridium difficile em julho do ano passado, após tomar antibiótico para tratamento dentário.
A mulher teve crises frequentes de diarreia, vômito e febre alta, e acabou perdendo 12 quilos e seis meses de trabalho. Inicialmente, ela rejeitou a ideia de fazer um transplante de fezes, por sentir nojo, mas acabou ficando desesperada e testou o método em novembro. Em um dia, segundo Melissa, todos os sintomas desapareceram.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Estudo australiano aponta para cura potencial da Aids

Técnica faz com que vírus ataque a si mesmo

AFP
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Um cientista australiano anunciou esta quarta-feira ter descoberto como fazer o vírus da Aids se voltar contra si próprio para evitar o progresso da Aids e descreveu seu feito como um grande avanço na descoberta da cura para a doença.

David Harrich, do Instituto de Pesquisa Médica de Queensland, disse ter conseguido modificar uma proteína no HIV que o vírus precisava replicar e, ao contrário, fez inibir "potencialmente" seu crescimento.

"Eu nunca vi nada igual. A proteína modificada funciona sempre", comemorou Harrich. "Se este estudo se mantiver firme em seu caminho, tendo em mente de que há muitos obstáculos a superar, estamos olhando para a cura da Aids", emendou.

Harrich explicou que a proteína modificada, que ele batizou de Nullbasic, demonstrou ter uma habilidade "notável" para conter o crescimento do HIV em laboratório e pode ter implicações animadoras tanto em conter a Aids quanto em tratar os infectados com HIV.
O estudioso descreveu a técnica como "combater fogo com fogo".

"O vírus poderia infectar uma célula, mas não se disseminaria", disse Harrich a respeito deste estudo, publicado na última edição do periódico Human Gene Therapy. "O indivíduo ainda estaria infectado com HIV - não se trata de uma cura para o vírus -, mas o vírus permaneceria latente, não despertaria, portanto o paciente não desenvolveria a Aids", acrescentou. "Com um tratamento como este, seria possível manter saudável o sistema imunológico."

Uma pessoa com HIV desenvolve a Aids quando sua contagem de células imunológicas CD4 cai abaixo de 200 por microlitro de sangue ou desenvolve algumas das chamadas doenças definidoras da Aids, quaisquer uma das 22 infecções oportunistas ou cânceres vinculados ao HIV.

Sem tratamento, a maioria das pessoas infectadas pode não desenvolver a Aids por 10 a 15 anos ou até mais, segundo a ONU. Mas o uso de medicamentos antirretrovirais pode prolongar sua vida ainda mais. Se for comprovada, a terapia genética Nullbasic pode causar uma interrupção indefinida da escalada do HIV para Aids, pondo um fim à letalidade da doença.

Além disso, segundo Harrich, o potencial de uma única proteína ser tão eficaz para combater a doença representaria o fim de onerosas terapias com múltiplos medicamentos, o que significaria uma qualidade de vida melhor e custos menores para as pessoas e os governos.

Testes da proteína em animais estão previstos para começar este ano, mas ainda deve levar alguns anos para que se desenvolva um tratamento a partir dela.

Segundo os números mais recentes das Nações Unidas, o número de pessoas infectadas com HIV em todo o mundo subiu de 33,5 milhões em 2010 para 34 milhões em 2011. A maioria dos infectados, 23,5 milhões de pessoas, vive na África subsaariana e outros 4,2 milhões no sul e no sudeste asiáticos.